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Testemunhas de Jeová e a obra de evangelização em Sobral-Ce 1960-1986

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INTRODUÇÃO.
A Historiografia em analisado e discutido de forma sistemática a questão da religião enquanto aspecto político, social e econômico e sua influencia no individuo.
Como o indivíduo e sua noção de grupo se funde num ideal comum e na busca de um único objetivo?A noção de grupo é presente fortemente nas religiões Neo protestantes e de cunho milenarista.Como funciona esse doutrinamento que possibilitou o surgimento de novos adeptos?
Tendo as Testemunhas de Jeová como base nesta pesquisa analisaremos como esse grupo em especial se agregou a cidade de Sobral e quais suas praticas para conquista de adeptos. 
Com a abertura que os Annales proporcionaram para a historiografia contemporânea, um campo vasto de possibilidades históricas foi descoberto. A história das Religiões passou de simplesmente uma história de personagens santificados (hagiografias) e de um compêndio de história geral, para uma análise de discursos sobre o poder, imaginário e a cultura no campo religioso,evidenciando mais experiências.
As várias possibilidades que se nos apresentam possibilitam um estudo das relações entre os indivíduos e o ethos religioso que os compõem e como funcionam as relações entre a dualidade sagrada, profana, o poder terrestre e celestial. Esse novo olhar que a história das religiões vem ganhando é algo continuo, embora caminhando a passos lentos no Brasil, não deixa de ser significativo.
Ao analisar justamente a importância da religiosidade na historiografia essa pesquisa entra nas questões políticas e sociais da introdução das Testemunhas de Jeová como grupo em Sobral. Tendo como base esse grupo especifico, analisaremos as mudanças e permanência de discursos e adaptações necessárias para proliferação do grupo e como o imaginário milenar afeta as relações individuais e coletivas dos indivíduos. Entendemos que essa análise se faz necessária porque a abordagem atual da história das religiões é muito mais do que uma demonstração de fatos e discurso, mas o lado cultural e social que permeia o meio religioso.
Ao discutir justamente sobre a Historiografia e Religião, Eduardo Bastos em seu artigo fala sobre o papel da religião e da história como a maneira de encara a religião foi sendo modificada no meio acadêmico e como as discussões sobre esse tema se tornaram muito mais abrangentes dando ao historiador a possibilidade de campo vasto de analises e discussões.
Frente aos enfoques tradicionais, a religião deixou de estar isolada dos outros campos de saber e perdeu nitidez, mas ganhou em complexidade, porque novas relações históricas vieram a tona.[1: ALBUQUERQUE,Eduardo Bastos de,Religião e religiosidade. Revista Nunes n°5-Janeiro/Abril2007-http://www.pucsp.br/revistanunes Núcleo de Estudos Religião e Sociedade-Pontificia Universidade Católica-SP]
Tais mudanças abriu possibilidades para novos olhares sobre esse universo e suas nuances. Uma prática de análise num contexto maior cujas relações dos indivíduos e os discursos são analisadas e discutidas. Como se porta o indivíduo diante de sua conversão a um novo discurso e como a quebra de tradições religiosas afeta o meio onde este indivíduo está inserido?
Essas questões se fazem necessárias devido o advento das religiões neoprotestante em Sobral. A quebra da hegemonia católica principalmente após a morte de Dom José Tupinambá da Frota e a proliferação da influencia estrangeira no Brasil no campo político, econômico e cultural.[2: Dom José Tupinambá da Frota, filho de Manoel Artur da Frota e Raimunda Artemísia Rodrigues Lima, nasceu em 10 de setembro de 1882. Em 1916, criado o bispado da cidade de Sobral, foi eleito o primeiro bispo, permanecendo no cargo até 1923, quando foi transferido para diocese mineira de Uberaba. No ano seguinte, porém, foi nomeado novamente bispo de Sobral, diocese na qual permaneceu até falecer em 1959.]
No primeiro capítulo além de falar sobre a introdução dos protestantes em Sobral é necessário discorrer sobre a formação da própria cidade como ela esta ligada a religião.
O leque de possibilidades que o tema proporciona mostra a complexidade que o estudo das religiões apresenta, por isso, o foco da pesquisa se faz na obra de evangelização das Testemunhas de Jeová em Sobral.
Como o ideal das Boas Novas do Reino influencia as ações políticas e sociais do grupo na busca da propagação de suas crenças na localidade? O que esse Reino simboliza no imaginário Testemunha de Jeová?
O próprio tema da pesquisa, baseada no texto bíblico cuja tradução é utilizada e produzida pelas Testemunhas de Jeová chamada de Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, mostra alguns pontos importantes:
E estas Boas Novas do Reino serão pregadas em toda terra habitada, em testemunho a todas as nações;e então vira o fim.[3: BIBLÍA.Sinal dos últimos dias. Português.Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.Reed Versão inglesa de1984.São Paulo:Ed.Associação Torre de vigia de Bíblias e tratados,1986.Cap.24,vers.14.]
O caráter proselitista motivado pelo ideal milenarista do Reino ou Governo de Deus e o senso de missão arraigado no grupo é discutido no segundo capítulo. A discussão é feita por meio de instrumentos de propagação da crença do grupo como capas de revistas do periódico A Sentinela anunciando o reino de Jeová e alguns livros publicados nas décadas de 1960 á 1970.
A possibilidade de análise dos livros, seus tópicos e ilustrações, é possível devido ao novo uso que a história do livro nos possibilitou com o Annales. Uma história muito além da interpretação da escrita e da linguagem. Uma história cultural, social e política que se escreve além das linhas dos livros. Essa história cultural é um história voltada para o indivíduo como ele é afetado pelas relações que o compõem.
Uma nova lógica se nos apresenta nessa interpretação de símbolos, dialética e discursos de uma “nova história”. Baseado nessa nova visão do livro e da história e do papel dele que Roger Chartier e Daniel Roche analisam o papel que o livro desempenha na história.
De um inventário superficial sobre o livro ressalta um certo número de sinais que remete a tantos outros usos:o título, a ilustração, a tipografia.Cada um serve de boa avaliação para uma história do livro que não tema aventurar-se ás fronteiras de outra disciplinas.O título,inicialmente é suscetível de múltiplas interrogações.[4: LE GOFF,NORA.Jaques, Pierre.História Novos Objetos:o Livro.uma mudança de perspectiva. In CHARTIER Rocher,ROCHE Daniel.4°edição Coleção Ciências sociais.editora S.A19995.pág109.]
Essas questões são importantes para análise dos conflitos sociais que surgiram na introdução do grupo em Sobral, porque, os discursos divergem entre si no que diz respeito a doutrina e praticas do grupo em relação as outras denominações protestantes.
Se os conflitos existiram e os embates se fizeram visíveis tanto pelos meios escritos como pelas falas de seus agentes, isso nós dá a dimensão da problemática da pesquisa que é muito além da análise dos discursos e permanecias, mas a complexidade que envolve o próprio estudo da religião e dos sentimentos que permeiam o indivíduo tanto coletivamente como pessoalmente.
Como as opiniões religiosas não tem incidência unicamente sobre a busca de sentido para a existência,mas a têm igualmente sobre os comportamentos,ordenando toda ávida do homem crente,inclusive suas práticas sociais,as religiões são também lugares relevantes dos conflitos sociais. Assim sendo,o campo religioso é simultaneamente lugar,produto e fator ativo daqueles conflitos.[5: GOMES,Francisco José Silva, História & Religião Conferências Universidade Federal do Rio de janeiroURFJ 2002 .A Religião como objeto da História.pág15.]
Os conflitos mostram a complexidade que é a análise da religião e dos discursos. As questões políticas, sociais, econômicas e culturais do meio e das crenças nas vidas das pessoas.
Para fazer essa análise foi utilizado tanto depoimentos de alguns membros do grupo como seus documentos escritos de divulgação de suas crenças como livrose revistas. A história oral foi utilizada para dar voz a essas pessoas e para dar uma perspectiva do que é ser Testemunha de Jeová e a importância da pregação das Boas Novas do Reino e Deus e o que isso representa no imaginário desses agentes.
Essa abordagem pelo viés metodológico da história oral se faz necessária, devido a produção de memória(s) desse grupo, que por meio de suas falas, nos leva a observar não só os discursos e conflitos, mas a força matriz da obra de evangelização.
Uma história “oficial” de heróis foi deixada a segundo plano e uma história de vivências, experiências, imaginário e cultura vem sendo cada fez mais valorizada mundialmente. A história oral cumpre, pois, justamente essa função, articular e dar voz a novos personagens e novas maneiras de vivenciar a história refazer discursos e questionar acontecimentos.
A História Oral fornece documentação para reconstruir o passado recente,pois o contemporâneo é também história.A História Oral legitima a história do presente,pois a história foi, durante muito tempo, relegada ao passado.[6: FREITAS,Sônia Maria de.História Oral:Possibilidades e Procedimentos 2Ed.São Paulo Associação Editorial Humanitas 2006.pág26.]
Essa releitura do presente do grupo das Testemunhas de Jeová em Sobral se faz necessária para entendermos as mudanças de posicionamento que elas tomaram em especial nas décadas de 1970 consolidando-se em 1986 com a construção do primeiro Salão do Reino das Testemunhas de Jeová em Sobral. Mudanças na organização do grupo e na centralização das unidades ao redor do mundo que passaram a seguir um discurso unificado e um maior controle dos indivíduos e da própria obra de evangelização que passou a ser centrada não apenas na conquista de mais adeptos, mas no melhoramento dos grupos já instalados .
O terceiro capítulo faz justamente uma análise das práticas e métodos proselitistas do grupo e mudanças nos sermões utilizado pelo grupo, além das entrevistas realizadas com pessoas que ingressaram no grupo na década de 1970, momento de embates entre as Testemunhas de Jeová e os protestantes, como a mudança de atitude com relação a obra de pregação que favoreceu o aumento do grupo. 
O posicionamento para uma pregação voltada mais para o cunho social e de um afastamento no enfrentamento direto com outras religiões podem ser observadas pelas capas do periódico A Sentinela anunciando o reino de Jeová principalmente nos anos de 1977 á 1986. O mesmo capítulo analisa a consolidação do grupo representada pela construção do primeiro templo ou Salão do Reino das Testemunhas de Jeová em Sobral e a transformação do grupo em Congregação Sobral e atualmente em Congregação Central de Sobral.
Como a construção desse prédio contribuiu para unificação e propagação do grupo na região, atualmente a própria reforma do prédio representa uma nova mudança no padrão de construção de novos templos do grupo e de um maior controle e distribuição de recursos da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados·.[7: Essa é uma sociedade jurídica das Testemunhas de Jeová que funciona para a utilização dos recursos financeiros do grupo mundialmente. Ela é utilizada também como meio para a isenção de imposto em determinados países onde instituições religiosas tem isenção fiscal.]
O papel jurídico que a Sociedade representa no grupo não é retratado na pesquisa. Esse aprofundamento será possível futuramente em outros momentos, por que a pesquisa continuara em uma pós- graduação ou em uma especialização.
O tema em si abre um leque vasto para outros vieses além da obra de evangelização. A pesquisa poderá continuar no mesmo tema sob outros olhares tanto por um viés político, social e econômico.
Por que a religião e a religiosidade produz um efeito de “sedução” e de questionamento que não escapa do olhar do historiador? Os questionamentos, a intriga que o tema desperta são propícios às análises que a historiografia nos apresenta. O espaço é amplo para os embates que a história pode travar nesse campo, juntamente a outras ciências, como a filosofia, sociologia, psicologia. Porque a problemática da religião e suas consequências, discursos e formas de controle estão presentes no nosso dia a dia e seus efeitos podem ser sentidos e problematizados?
A Historiografia atual nos favorece e possibilita a pesquisa e a problematização dessas questões por vários ângulos e nos dá oportunidade de aprofundar as discussões mesclando com outras ciências o papel desempenhado pela religião e sua influencia na sociedade e nos indivíduos tanto como receptores, como produtores o discurso religioso. 
1CAPÍTULO : A RELIGIÃO E O SERTÃO
A Religião e mais especificamente a religiosidade é um campo que vem sendo estudado ao longo dos anos por diferentes ciências da sociologia, filosofia, psicologia passando pela história, ela vem sendo problematizada, pois, ao discutir sobre religião não podemos restringi-la apenas a um campo das ciências humanas ou da ciência das religiões devido a sua complexidade, mas,abordar amplamente vários aspectos abrindo uma infinita gama de problemáticas e análises.
 O homem, em suas diferentes culturas e ao longo de sua trajetória tem uma relação profunda e complexa com o divino, o sagrado, o perfeito, assim como seus oposto, o que é demoníaco, profano, mundano, pecaminoso, gerando conflitos entre esses aspectos demonstrando a complexidade do próprio ser humano e da sociedade que cria suas regras envolta do divino, estipulando as regras para vivência entre a salvação e a perdição, entre o dualismo do bem e do mal que inundou diferentes culturas em diferente continentes.
Estabelecendo barreiras entre o sagrado e o profano, muitas vezes as crenças religiosas deixam a linha de separação entre estes dois polos algo muito tênue. Não seria necessário um conjunto de regras e ritos pré-estabelecidos que controlassem muitas vezes as ações em sociedade?
Emílle Durkheim, em seu estudo sobre as formas elementares da vida religiosa tendo como base as religiões e ritos definiu esta relação entre profano e sagrado e como ela se constitui.
As coisas sagradas são aquelas que as proibições protegem e isolam; as coisas profanas, aquelas a que se aplicam essas proibições e que devem permanecer a distância das primeiras. As crenças religiosas são representações que exprimem a natureza das coisas sagradas e as relações que elas mantêm, seja entre si, seja com as coisas profanas.Enfim, os ritos são regras de conduta que prescrevem como o homem deve se comportar com as coisas sagradas.[8: DURKHEIM,Émile.As formas elementares da vida religiosa.São Paulo:Martins Fontes.pág24]
Observamos com esta afirmação, como se formam o conjunto de ações em torno do sagrado e como funciona essa diferenciação entre o sagrado e profano; sendo, pois, algo tão enraizado nos cultos e religiões. Tornando-se uma parte fundamental da religião essa dualidade entre esses polos que se fundem, exprimindo a religiosidade e seus vários aspectos. 
Entendemos que a religião e a discussão sobre ela vão além de simples definição, mas,aprofunda-se muito mais na função que ela desempenha na vida do indivíduo e na sociedade e o que o homem faz com suas crenças religiosas e o poder que essas exercem sobre ele.
O homem cria várias interpretações ao que não compreende, fazendo surgir desde formas simples a complexa de rituais, crenças, doutrinas criando uma teia de atitudes muitas vezes baseadas em suas crenças que os influenciam não apenas culturalmente e socialmente, mas, também, economicamente e politicamente.
... A Religião nasce com o poder que os homens têm de dar nome às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundaria e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte dependuram. E esta é a razão porque, fazendo abstração dos seus sentimentos e experiências pessoais que acompanham o encontro com o sagrado, a religião se nos apresenta como certo tipo de fala, umdiscurso, uma rede de símbolos....”[9: ALVES,Rubens.O que é Religião.2ed.São Paulo:Coleção Primeiros Passos.pág93]
 Esta rede de símbolos e teia de crenças vem sendo analisada pela sociologia e até pela psicologia com vigor. Sendo que a história abriu-se a essa possibilidade de análise da religião e o meio em que ela se propaga com seus diferentes discursos nas décadas recentes na historiografia brasileira.
As Religiões são instituições organizadas que são compostas de ritos e hierarquias bem estabelecidas entre si. Observamos que a religiosidade é muito mais abrangente ela não é obrigatoriamente estabelecida de maneira hierarquizada em instituições e é composta de ações individualizadas ou não.
Deve-se também observar a crença que se propagou durante um bom tempo no meio acadêmico que a religiosidade em suas práticas como objeto de estudo não era algo de real significância e nem de discussão da história, porém, essa mentalidade foi modificada, porque, a religiosidade como objeto historiográfico detém um leque de possibilidade de análise e está presente fortemente na sociedade atual criando espaços de pesquisa para todas as áreas das ciências humanas.
Embora a religião tenha tomado aspectos diferentes ao longo dos séculos e em diferentes culturas ela foi não apenas objeto unificador, mas, também divisor gerando conflitos entre nações. Observa-se que ela permanece nas diferentes formas de sociedade humana. Devemos levar em conta que essa permanência deve-se ao fato de que a religião foi modificando e sendo modificada, caminhando lado a lado com a história e formação da sociedade humana.
Entender essa “mutação” que a religião e o homo religiosus passou no decurso da sua trajetória nos ajuda a entender os desafios que é ao historiador discutir sobre o espaço da religião e de como ela influencia e é influenciada pela sociedade. Porque a religião e a religiosidade como objetos historiográficos não são algo imutáveis, definido e concreto, mas,um conjunto que se forma como um quebra cabeças onde suas diferentes peças se aglutinam para desencadear as várias manifestações religiosas e suas consequências na sociedade.
Essa complexidade que é a religião deve-se a sua própria essência por entendermos ser ela um meio de escape, como, também, meio no qual o homem busca uma transcendência do seu ser como objetivo maior para sua existência e uma jornada quase que eterna de uma felicidade paradisíaca e de uma sociedade unificada em torno do divino com barreiras bem definidas do que seria esse divino e esse sagrado para a própria essência da humanidade.
Ao discutirmos religião temos de observar o espaço onde ela se desenvolve e prolifera, se transformando de acordo com o meio onde ela é implanta. O meio em questão gera outra problemática. O sertão e o que ele representa? A relação entre a religiosidade e o espaço de cada indivíduo.
O sertão não esta distante de nós, pois ele, geograficamente, representa e agrega o interior do Ceará, convencionando-se a pensar que, onde não é litoral, é Sertão. Observa-se, contudo que defini-lo geograficamente é algo simplista para a complexidade que nos apresenta. 
O sertão é representado no imaginário de muitos como um lugar distante, rústico e atrasado. Um ambiente de secas, misérias, superstições ligadas ao caráter religioso do povo. O espaço é, porém, muito mais do que o meio físico ou geográfico, mas, todo o conjunto que o forma e o molda de tal jeito que defini-lo se torna complexo ao historiador devido a visão que se projeta como meio físico e social.
...É de certo modo animada pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar como unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais....[10: CERTEAU,Michel.A invenção do cotidiano:artes do fazer2ªed;Petrópolis:Vozes,1996,pág.202.]
O espaço se faz e se desfaz de acordo com os acontecimentos. As pessoas formam o espaço em que vivem através de suas experiências criando todo um imaginário, uma visão de si mesmo e do meio em que estão inseridas. Modificando ou reafirmando a imagem e o significado do sertão em que vivem ou que pensam estar distante.
Ao analisarmos o aspecto religião como um meio de escape, uma abertura diante das situações do espaço onde ela se desenvolveu, podemos considerar a influência do meio sobre o indivíduo e os movimentos religiosos que se desenvolveram. Um meio pelo qual o indivíduo se identifica com sua realidade quer social, econômica ou física com relação ao meio onde vive.
... A religiosidade, entendida como manifestação pessoal de fé em uma busca por experiências e valores que transcendem a dimensão material e corporal, dá sentido á existência do individuo no mundo e equilíbrio pra os diferentes aspectos da vida (social, afetivo, emocional, espiritual), determinando dessa forma, o comportamento e as ações deste individuo e mesmo de uma coletividade.”[11: SILVA,Claudia Neves,O Movimento Pentecostal:Um tema de estudo para a história das Religiões.Texto integrante do Anais do XIX.Encontro regional de história:Poder,violência e exclusão.São Paulo o8 a12 de Setembro de 2008, pág2.]
Desta forma o sertão com suas peculiaridades seus ritos religiosos, cultos populares deve ser abordado, por nos proporcionar uma visão ampla entre espaço e religião. Questionamos como a religião foi formadora da sociedade e ao mesmo tempo se adequou a vida do sertanejo desde aquele de vida rústica da roça e aquele pertencente ao meio urbano da cidade e Sobral.
Visto que o meio influência o desenvolvimento do indivíduo quer fisicamente, quer psicologicamente, podemos analisar o desenvolvimento da religião no interior do Ceará, em relação a proliferação de movimentos pentecostais e de seitas menores, assim como a importação de religiões de caráter norte americano que se proliferaram através do proselitismo. O interior cearense foi desde sua povoação um lugar de fortes traços religiosos onde se instalaram desde padres jesuítas a franceses protestantes na Serra da Ibiapaba gerando conflitos e semelhanças na busca da “salvação da alma” do povo que aqui habitava antes mesmo do português.
A imposição religiosa esta intrínseca na formação da nossa própria história onde o europeu com sua “cultura superior” tentou a todo custo impor a religião cristã no continente e onde os conflitos em torno do sagrado e o profano foram objeto de luta e controvérsia desde a colonização e esta presente na sociedade. Isso porque a religião não é algo novo, mas, existe em diferentes culturas se adequando as sociedades que fazem uso dela como objeto de unificação entre os seus membros ou distanciamento de outros povos.
Vemos isso desde no cristianismo como nas diferentes manifestações religiosos de várias tribos e de várias culturas que habitavam a região do Ceará com seus mitos e rituais que foram combatidos pelos povos europeus que adentraram nos sertões e nas serras. O sentimento de propagação da fé cristã no novo mundo foi um aspecto motivador de adentrar no interior do país além da busca de riquezas e isso era forte na mente do colonizador no Brasil.
Observa-se, contudo que conceituar sertão e religião levando em conta o objeto de estudo desse trabalho caminhando em direção ao proselitismo que veio ocorrendo de maneira intensa em Sobral nas décadas de 1960 á 1986 se faz um desafio, porque, muitas vezes ocorre um silênciamento dos conflitos e adaptações que tiveram de ocorrer para uma aculturação das crenças Protestantes e Neoprotestantes ao meio.
Porque os choques entre diferentes formas religiosas e diferentes formas de dominação é algo inevitável numa sociedade onde a religiosidade tem traços marcantes e profundos na própria história de sua formação desde o espaço físico ao meio social.
Como ocorreu o processo em uma cidade de predominância católica como Sobral ao surgimento das primeiras religiões Protestantes? Os conflitos e atitudes da sociedade sobralense arraigadasnas crenças e padrões da Igreja Católica formadora da sociedade Sobralense? Como o Protestantismo era encarado pelos representantes da comunidade sobralenses num recorte temporal anterior ao trabalho visto que os primeiros focos do Protestantismo são anteriores as décadas de 1960 quando aqui ainda predominava o catolicismo? Pensarmos nesses aspectos se faz necessário juntamente com a questão da própria formação de Sobral que esta ligada ao papel da Igreja Católica isto será abordada nos próximos tópicos.
1.SOBRAL SUA FORMAÇÃO.
A Formação do espaço a ser estudado deve ser levado em consideração para entendermos o papel da religião na formação física e cultural do meio em que os indivíduos estão inseridos.
 A localidade onde iremos analisar o objeto de estudo tem nas suas raízes uma ligação fortíssima com a religião Católica e sua influencia sendo isto bastante visível na história da localidade.
 Sobral está situada no interior do Ceará foi formada a partir de sesmaria doadas ao português Antônio da Costa Peixoto, vereador de Aquiraz, sendo esta sesmaria compreendida da margem esquerda do Rio Acaraú, até o sopé da Serra da Meruoca sendo passada como herança para sua filha Apolônia, casada com Antônio Marques Leitão. Depois com a morte de Antônio Marques e de sua esposa Apolônia a posse das terras foi passada para, Quitéria Marques de Jesus, casada com Antônio Rodrigues Magalhães vendo eles habitar na fazenda Caiçara.
O desenvolvimento da Fazenda Caiçara tem uma ligação fortíssima com a Igreja Católica não apenas na formação do povoado, mas praticamente em todo o sertão. Podemos comprovar isso com base na pesquisa de alguns historiadores locais que se debruçaram na pesquisa sobre Sobral entre eles Glória Mont´t Alverne.
...Desde 1742,quando o Pare Lino Gomes Correia escolheu a Fazenda Caiçara para ser a sede do Curato do Acaraú, iniciou-se a implantação do povoado. A presença de padres com certa assiduidade e,depois, a construção da Capela na Fazenda em terreno doado pelos proprietários Quitéria e Antônio contribuíram para o desenvolvimento do povoado tendo como principal atração as funções religiosas...[12: GIRÃO,Glória Mont´Alverne,SOARES,Maria Norma Maia.Sobral História e Vida,Sobral, Edições UVA,19971-Sobral o começo,pág20.BibliotecaCCH,981.3g433S1997ex1.]
Com isso podemos analisar o poder preponderante da Igreja Católica no interior. Ela exercia o poder local como o centro de influência política e social tendo sido responsável pela criação de um povoado na região. Sendo que depois o povoado acabou tornando-se um importante pólo comercial devido ao gado e ao couro que como em outras regiões do sertão acabou se desenvolvendo. Sobral se tornou importante devido ser a rota do gado e do couro e sendo também importante na produção do algodão se tornando no século XIX tão importante como Fortaleza.
Ao pensarmos nessa mudança que foi da cultura de criação e gado para o algodão temos de levar em conta aspectos que possibilitaram essa implementação da cultura do algodoeiro na região. Um desses aspectos foi a maior demanda por algodão devido ao fato de os Estados Unidos, anterior maior exportador de algodão para a Europa ter passado nessa época pela guerra de secessão entre os estados do norte e do sul produtor de algodão.
Fortaleceu com isso a posição de Sobral possibilitando depois a criação de fábricas como a fábrica de Tecidos de Sobral, porém,alguns pesquisadores como Nilson Almino reforça em suas pesquisas que o algodão possibilitou a modernização da região.
...Com o fortalecimento comercial da cultura do algodão no contexto do Ceará, houve algumas mudanças,principalmente do ponto de vista do transporte.A nova cultura necessitava de uma modernização” na mala viária.E foi o que aconteceu na região Norte do Estado.Mas uma coisa não mudou com a entrada do algodão na economia o norte do estado;a hegemonia que Sobral tinha no comércio,na política e na religião.Isso já estava consolidado,principalmente,depois do ano de 1799,quando a Província do Ceará se torna independente de Pernambuco,e da abertura dos portos brasileiros para o estrangeiro no ano de 1810..[13: FREITAS,Nilson Almino.Sobral Opulência e Tradição,Edições UVA,2000-A construção sócio-histórica da sobralida de triunfante”,pág67. Biblioteca CCH,306.098131F936s2000ex.5]
Essa importância foi desenvolvida também devido a ligação com Camocim através da Estrada de Ferro que possibilitou a ligação comercial com a Europa, trazendo o progresso pelas “linhas férreas do trem”, possibilitando o comércio entre os polos e fortalecendo a cidade de Sobral em relação ás outras cidades da região.
 As relações fortaleciam não apenas o comércio, mas as relações culturais, formando uma elite ligada aos padrões culturais europeus à moda Europeia. Ao analisar essa parte da história de Sobral podemos ver claramente como foi se desenvolvendo a memória urbana de uma cidade mais evoluída de uma “superioridade” cultural e econômica tão presente no imaginário Sobralense gerando um bairrismo presente na sociedade.
...O acesso fácil ao que de melhor e mais atual tinha no Velho Mundo em matéria de moda, costumes e literatura, através de jornais,livros e revistas,fez com que a sociedade sobralense fosse culturalmente mais avançada em relação ás demais...[14: GIRÃO,Glória Mont´Alverne,SOARES,Maria Norma Maia.Sobral História e Vida,Sobral, Edições UVA,19971-As bases o desenvolvimento sócio-econômico e cultural,pág29,.Biblioteca CCH,981.3g433S1997ex1..Biblioteca CCH,981.3g433S1997ex1.]
Com o trem e a formação da estrada de ferro ligando o sertão ao litoral, a movimentação de mercadorias, de pessoas, de bens de consumo também influenciou as entradas no sertão através das missões protestantes no interior do Ceará. A missão protestante principalmente a ligada a Igreja Presbiterianaganhou impulso com a criação da estrada de ferro. Os primeiros relatos do protestantismo no Ceará datam de 1882 por meio da Igreja Presbiteriana. Robério Souza faz esse relato em sua pesquisa.[15: Igreja Presbiteriana localizada em Fortaleza foi estabelecida em 1882 por meio do casal De Lacey e Mary Wardlaw. ]
A divulgação da fé reformada no Ceará deu seus primeiros passos em setembro de 1882,quando se estabeleceu em Fortaleza o casal De Lacey e Mary Wardlaw,missionários do Board of Nashville da Southem Presbyterian Church,centro missionário estadunidense que,no século XIX,enviou centenas de pregadores presbiterianos para América Latina,num esforço por expandir a fé protestante no sul do continente americano.[16: SOUZA.Robério Américo do Carmo.Tese de Doutorado “Vaqueiros de Deus”:a expansão do protestantismo pelo sertão cearense,nas primeiras décadas do século XX.Niterói 2008pág9]
Com essa primeira introdução do protestantismo na região passou-se a ter um efeito positivo na propagação do protestantismo. Observa-se que com a chegada desse casal, em relativo espaço de tempo, alguns naturais a terra já haviam se convertido a “nova crença”.
Em 13 de junho de 1883, menos de um ano depois da chegada dos primeiros missionários, foram batizados os primeiros 16 cearenses convertidos ao protestantismo. Naquele mesmo dia foi organizada a Congregação Presbiteriana de Fortaleza, que,com a liberdade de culto garantida pela Constituição da República, se tronaria, em abril de 1892, a Igreja Presbiteriana de Fortaleza(IPF), primeira instituição de confissão protestante oficialmente organizada no Estado do Ceará.[17: Idempág10 ]
Embora de acordo com Souza já na década de 1890 já estivesse começado esse processo de entrada ao sertão, com a estrada de ferro esse processo foi fortalecido e expandido, possibilitando não apenas a movimentação desses agentes, como também de suas publicações e de sua obra proselitista.
Essa atuação maior os pregadores protestantes pelo sertão cearense coincidiu com a expansão da produção algodoeira,que, na segunda metade do oitocentos,tornou-se a atividade econômica mais importante do Ceará.Com o objetivode melhorar as condições e aumentar velocidade do escoamento do algodão para o porto de Fortaleza,de onde era comercializado para o mundo,foi criada, em 1870,a Companhia Cearense da Estrada de Ferro de Baurité,conhecida popularmente apenas como estrada de ferro de Baturité(EFB),que mais tarde foi rebatizada,em1910,como rede de viação cearense(RVC).[18: SOUZA.Robério Américo do Carmo.Tese de Doutorado Vaqueiros de Deus:a expansão do protestantismo pelo sertão cearense,nas primeiras décadas do século XX.Niterói 2008pág91 ]
Com a proclamação a república foi possível as mudanças que favoreceram a chegada de outras denominações religiosas incentivadas muitas vezes a prosperarem no país devido ao senso de progresso vindo de fora que se instalou no imaginário das pessoas.
O Brasil estava se modificando em vários aspectos, pessoas de várias localidades entravam em solo brasileiro com objetivos comercias, religiosos e até políticos a noção de progresso impetrava pelo menos no imaginário das pessoas dos grandes centros urbanos.
“ As imigrações transoceânicas com destino á América ganharam incentivo com a expansão das redes ferroviárias,dos sistemas de navegação a vapor,do telégrafo,do telefone e do rádio.”[19: SCHWARCZ,Lilia Moritz. A Abertura para o mundo 1889-1930.População e Sociedade Editora Objetiva 2012 Rio de Janeiro pág66 .]
Gerando não apenas o desenvolvimento econômico, mas,também uma mudança no ambiente religioso e social, porém, com relação ao desenvolvimento sabemos que ele não chega à totalidade da população, mas, se restringe a uma pequena elite da burguesia sobralense que surgiu na região com os sobrenomes de famílias aristocráticas,como Ferreira Gomes, Mont´Alverne, Prado, Barreto dentre outras que gozavam do lucro e prosperidade de uma Sobral a moda Francesa.
Essas mudanças que favoreceram o progresso econômico, cultural e social foram embutidas no imaginário da república brasileira principalmente na primeira república. As ideias do Brasil império no que tange a religião e a sociedade eram consideradas ultrapassadas e arcaicas.
O novo Brasil deveria ser repleto de ideias novas de progresso e prosperidade aos moldes europeus.
“O suposto era que a jovem república representava a modernidade que se instalava no país, tirando-o da “letargia da monarquia”ou da “barbárie da escravidão”. Uma verdadeira batalha simbólica foi travada, quando nomes, símbolos, hinos, bandeiras, heróis nacionais foram substituídos,com o intuito de impor novas versões mais coadunadas com os tempos modernos.”[20: SCHWARCZ,Lilia Moritz.Livro A Abertura para o mundo 1889-1930.População e Sociedade Editora Objetiva 2012 Rio de Janeiro pág44 .]
Devemos pensar então como entra a Igreja Católica nesse espaço? Como a Igreja conseguiu lidar com as mudanças trazidas pelo advento da república e do ideal de modernidade que ela levava consigo. Como esse progresso que a estrada de ferro trouxe ao interior na cidade de Sobral especificamente foi incentivado pelo papel dúbio da Igreja na figura de Dom José Tupinambá da Frota considerado como uma figura emblemática do progresso de Sobral mostrando o grande poder da Igreja Católica?
Observamos na figura de Dom José Tupinambá da Frota criou-se o mito não de apenas um líder espiritual, mas, um líder político de influência régia sendo esta imagem preponderante no imaginário da população sobralense mesmo depois de sua morte.
“Tal foi a influencia exercida por Dom José nos setores sócio-religioso-cultural e político que o crescimento da Cidade ressentiu-se em decorrência de sua morte ocorria 1959.”...[21: GIRÃO,Glória Mont’ Alverne,SOARES,Maria Norma Maia.Sobral história e Vida,Sobral,Edições UVA,1997-]
 Devemos analisar como o papel desse homem foi importante na imagem da Igreja e como essa mesma Igreja reagiu diante das mudanças sociais, econômicas e religiosas em Sobral no inicio do século XX e com a instituição da primeira república.
Nos espaços de Sobral vê-se várias expressões que demonstram o poder que o mito da figura de Dom José projeta no imaginário Sobralense, considerado por muitos o “segundo fundador de Sobral”. Nos monumentos a sua pessoa e nas criações da Diocese de Sobral pode se observar à figura do primeiro Bispo de Sobral
 Um dos aspectos da religião é a criação de mitos e de figuras emblemáticas que exteriorizam as suas crenças e que formam uma estruturam hierarquizada, complexa para melhor controle do indivíduo e da sociedade. Solidificando muitas vezes esses mitos e essas figuras através de uma historiografia dita como oficial que dignifica muitas vezes o papel desses homens.
Embora a pesquisa não tenha como pretensão de adentrar na figura central de Dom José como representante da Igreja Católica na localidade, é importante para estabelecermos os conflitos que surgiram entre o catolicismo e o protestantismo em Sobral exteriorizados na figura de Dom José e no Jornal Correio da Semana.
Porque, para entendermos o tema central desse trabalho que é a obra de evangelização das Testemunhas de Jeová em Sobral temos de traçar o caminho aberto pelas Igrejas protestantes na região e como o surgimento delas foi combatido por Dom José Tupinambá da Frota no Jornal Correio da Semana que foi o instrumento usado para transmitir aos Sobralenses as ideias da Igreja na figura de seu representante maior na região e como esse combate foi realizado deve ser cuidadosamente averiguado.
Estes aspectos são importantes para mostrar que a predominância da Igreja católica e a sua unificação na região de Sobral não foi absoluta no decorrer do desenvolvimento que cidade sofreu como polo da região nordeste.
Os conflitos entre o tradicionalismo Católico e o protestantismo e o proselitismo na sociedade sobralense foi sentido com intensidade já nas décadas de 1930 e no combate que a Igreja fazia diante da propaganda protestante e diante de suas publicações como meio de proselitismo. Se por lado a Igreja se incomodava com presença protestante na região por outro lado a Igreja Católica se fortalecia por meio das ações de Dom José Tupinambá da Frota no meio político e social da região criando desde escolas para a elite, como instituições de caridade como Santa casa de Misericórdia .
Essas ações eram também formas de combater a presença protestante na região, além de se usar os meios de comunicação presente na cidade para a defesa do território católico diante da ameaça protestante de difusão de suas ideologias e da política protestante.
Esse combate entre as primeiras sementes do protestantismo e das “raízes sólidas” do catolicismo em Sobral devem ser levadas em consideração para entendermos as divergências de opiniões e o papel desempenhado pelo proselitismo protestante para a abertura da sociedade sobralense para o protestantismo e consequentemente mais tarde para as Testemunhas de Jeová.
1.1.A Igreja Católica e o combate ao Protestantismo.
“A Unidade Religiosa no Brasil”
Não pode haver um organismo humano ou social perfeito se não vibrar ao mesmo movimento de sentir único e nada há que se possa comparar á vibração religiosa.
São profundos conhecedores de tudo isso os pastores de vários credos que estão infestando o Brasil, numa obra daninha de desagregação por que,repetimos, o trabalho desses Diabólicos agentes é mais do <<contra>> a Igreja Católica do que <<a favor>> dos credos dos que se dizem propugadores(...)” (Do Jornal do Brasil)Oto Prazeres[22: FROTA,Dom José Tupinnambá da, Unidade religiosa no Brasil.Jornal Correio da Semana,Sobral 7 de Agosto de 1942.Caderno3 N18 XXV.pág2 1parag retirado do Jornal do Brasil outro jornal da época]
Este texto mostra claramente a influencia dos protestantes no Brasil que eles estavam sendo introduzidos no país e que isso era considerado perigoso para a Influência da Igreja Católica no país e em Sobral. Sendo que não apenas nessa edição, mas,em outras existe um ataque feroz a chegada do protestantismo em Sobral.
O meio utilizado para tentar acabar com a chamada propagandaprotestante foi o uso de instrumentos textuais, como jornais de cunho conservador, tanto os ligados diretamente à igreja católica como o Correio da Semana como outros que embora não fossem comandados pela Igreja, no entanto compartilhavam a ideologia católica. Esses instrumentos conservadores visavam não apenas barrar o protestantismo, como também ,tratava com ressalvas a onda de modernidade que estava surgindo devido a república .
“Ao órgão sobralense “Correio da Semana”, de propriedade da Dioceses de Sobral, cabia o controle da família que se modernizava. Por isso, procurava reafirmar os valores morais e religiosos,incentivando nas mulheres a pureza,a simplicidade,a naturalidade, a maternidade, em oposição ás modernidades da época, do início do século XX.”[23: GIRÃO,Glória Mont’Alverne.]
O ataque desferido pela Igreja Católica era com o objetivo de mostra que o protestantismo era um perigo para a própria unidade do país e que isso causariam uma desagregação não apenas no meio religioso, mas, em toda a sociedade sendo os protestantes muitas vezes considerados agentes do Diabo e desagregadores .
A Utilização desse instrumento que é o Jornal como meio de combate a ideologia Protestante deve também ao fato que um dos principais meio de proselitismo protestante também foi o uso e instrumentos textuais como livros, revistas, Bíblias. Porque, isso atingia as camadas consideradas mais cultas as pessoas letradas, mas,também atingiam camadas das populações que não estavam ligadas a elite da Igreja aqueles cujo catolicismo estava mais intrinsecamente ligado a crenças populares do que ao rigor hierarquizado das práticas católicas.
Entender essa disputa entre o Catolicismo e o Protestantismo se faz essencial para entendermos como abertura causada pelo protestantismo possibilitou a chegada de outros grupos religiosos como o das Testemunhas de Jeová no final da década de 1950.
Devemos levar em consideração as próprias mudanças que a Igreja Católica como instituição passou. Como as mudanças políticas e sociais afetaram a Igreja que teve seu papel mudado e teve e se adequar? Por exemplo, com o fim do Império e a Constituição de 1824 o Estado passou a ser laico a Igreja e o Estado se separaram teoricamente.
Essa perda pelo menos nominal da Igreja se fortaleceu com a implantação da república principalmente no caso da primeira república onde o Estado passou a se fortalecer com a criação do registro civil de casamento, o registro de nascimento a separação do Estado e da Igreja criou um cenário propicio para conflitos.
Porque a introdução da república no Brasil foi feita de cima para baixo com maior influencia das elites, mas não foi um período de calmaria, sim de conflitos políticos, ideológicos e religiosos.
Embora o estado não estivesse mais ligado a Igreja, mas,ela exercia principalmente no Sertão grande influencia no meio social, econômico e político.Não podendo abrir mão dessa influencia a igreja considerou o protestantismo uma ameaça e as pessoas que se deixaram influenciar por essas novas ideologias como pessoas desviadas por falsos cristãos e descrentes sendo criticadas abertamente pelo Jornal Correio da Semana.
“Esses Protestantes são patuscos...
Achava-se gravemente doente no Bairro do Junco, nesta cidade, uma pobre creatura(sic),que, de católico que era, fez-se <<crente>>
Crente,para não dizes descrente,pois os protestantes são geralmente descrentes.
Pessoa piedosa foi visital(sic) a e aconselal-a(sic) a receber os Santos sacramentos,reconciliando-se com Deus e com a sua única e verdadeira Igreja...”[24: FROTA,Dom José Tupinambá da,Esses protestantes são patuscos.Jornal Correio da Semana,Sobral 10 de julho de 1942Nº14XXVCaderno3, pág 2.]
Ao analisar essa critica que se faz ao protestantismo em Sobral nessa edição do Jornal correio da Semana podemos observar dois aspectos importantes para entendermos o combate da Igreja Católica ao protestantismo. Primeiro é que quem se torna crente na verdade se faz um descrente, porque, quem não acreditava que a verdadeira religião estava ligada a Igreja católica e que ela que era a detentora do verdadeiro cristianismo era um descrente, porque, a única e verdadeira Igreja era a Católica e outro aspecto importante é com relação à própria obra de proselitismo dos protestantes que iremos discutir agora.
Visto que o proselitismo protestante buscou primeiramente as camadas afastadas do eixo principal da igreja católica podemos confirmar isso pelo próprio relato passado de onde se localizava o senhor que “de católico que era se fez crente” no bairro do Junco. O lugar quanto mais afastado do centro da cidade e dos templos católicos, parecia mais propícios para a penetração das crenças protestantes,visto que a presença mais marcante da Igreja localizava-se nos bairros mais centrais no seio da elite com suas tradições e influencia política,social e cultural do catolicismo. 
O Porquê da proliferação do protestantismo nesses espaços deve-se além o afastamento do eixo da igreja a outros fatores. Como uma menor inteiração com a estrutura hierarquizada da Igreja e com um catolicismo mais popular do que oficial, ligado ao catolicismo medieval com o apego a santos populares e superstições que a própria Igreja Católica tentava coibir.
O espaço mais afastado dos grandes centros também eram propícios não apenas para os protestantes, mas também para um catolicismo voltado para movimentos milenarista e messiânicos.Esses movimentos eram tanto combatidos pela igreja católica oficial como pelo governo. Não era interessante á república que movimentos religiosos infestassem o interior do país com propagandas imperialista e com o desejo de volta aos padrões anteriores onde a igreja exercia maior influencia.
O progresso que Sobral e outras regiões estavam sentido não era difundido para todas as regiões do Nordeste. O imaginário do sertanejo era que essa república não os ira beneficiar em nada é que era necessário uma volta aos antigos padrões para ter a aprovação divina. Isso ilustra bem que esse período de progresso da república também foi um período de conflitos religiosos, sócias e políticas no interior do país.
“Foram movimentos sociais,os levantes messiânicos e milenaristas-como Contestado,Juazeiro e Canudos,que estouraram em distintas regiões do país que parecem expressar esse lado mais sombreado da lua.Resultados de um processo de modernização a qualquer custo e da desatenção diante de populações deixada á míngua diante de tantas novidades(...)”[25: SCHWARCZ,Lilia Moritz. Abertura para o mundo 1889-1930.População e Sociedade Editora Objetiva 2012 Rio de Janeiro pág54 .]
O Brasil nesse período estava passando por essas transformações sociais, políticas, religiosas. A Igreja perdera muito de seu poder desde a instituição da república,tinha de lidar com esse catolicismo popular e com os protestantes que se utilizavam de vários meios para se proliferarem no país.
A propaganda protestante com seus discursos não se limitou a apenas uma camada da sociedade, havendo também, a tentativa de atingir as camadas da classe média letrada que era influenciada por ideias liberais de modernização e progresso que estavam sendo introduzias como já dito nos sertões, principalmente com o comércio com a Europa e Estados Unidos, onde fervilhava pensamentos que iam de encontro com o tradicionalismo católico.
Essa influencia estrangeira no país foi vista com desconfiança. Visto que os Estados Unidos principalmente era o mais interessado em introduzir sua influencia no restante da América não só política, mas, religiosa e cultural. Sendo que essa aproximação dos Estados Unidos com os outros países da América já estava sendo discutida pelos meios religiosos com cautela desde a década de 1930 não sendo considerada como algo desejável para o país, mas, como um meio de Imperialismo comercial e político.
O objetivo Norte americano não era da criação de um projeto estatal religioso propriamente dito envolvia, porém um jogo de interesse na propagação doideal social americano que englobava o exemplo de uma sociedade perfeita e estruturada um exemplo de progresso que era a visão “vendida” para outros países.
“A Desmoralização do Protestantismo
Os missionários, ou mercenários, protestantes que se multiplicam como cogumelos na vastidão do continente Sul-Americano,deveriam comprehender(sic) quão inexplicável e suspeito é esse espírito de proselytismo(sic).
(....)Os Norte-americanos são demasiado práticos para empenharem em pura perda os seus immensos(sic) capitães em paiz(sic) extrangeiro(sic), e é opinião geral,cada vez mais diffusa(sic), que sob pretextos religiosos e humanitarios(sic), esconde-se um sonho ambicioso de conquista commercial(sic) e política.(....)E aqui vem a pello(sic) externar o nosso pasmo ante a attitude(sic) de algumas auctoridades(sic) civis que mandam garantir pela força policial, embalada e aguerrida, a pregação insolente dos ministros protestantes da enxurrada norte americana,para que possam impunemente insultar as crenças respeitáveis e justificadas dos Brasileiros,o elo mais forte e resistente da unidade nacional.E tanto mais é para extranhar(sic) essa attitude(sic),quanto o momento está a exigir a arregimentação de todas as energias sociais e políticas do povo Brasileiro e não comporta desagregações oriundas de qualquer parte que seja.(....)O bom senso dos nossos patricios(sic) deve comprehender(sic) que uma doutrina contradictoria(sic),qual a da heresia protestante,não pode informar uma alma sinceramente religiosa e Christã(sic)(continua)”[26: FROTA,Dom José Tupinambá da.A Desmoralização do protestantismo.Jornal Correio da Semana,Sobral, 13 de maio de 1938 Nº4,Caderno3,pág2.]
Observa-se, contudo, que por meio das autoridades políticas do país havia certa simpatia dessa aproximação entre os países e com os pensamentos que estavam proliferando nele. Os Estados Unidos ganhavam espaço no mundo devido sua influencia na primeira guerra mundial e ao aquecimento de sua economia buscando novos mercados consumidores.
O Fascínio pelo novo e pelo estrangeiro é algo inerente em nossa sociedade. Por isso, o que os Estados Unidos e a Europa introduziam em nosso país era visto como algo desejável para os setores da sociedade.
“A preocupação em ser moderno,acompanhando o último “grito da moda” lançada em Paris,era constante entre os sobralenses.A beleza era relacionada á saúde,á moda e ao comportamento,como representação da modernidade.”[27: GIRÃO Glória Mont’Alverne]
Observa-se que a influencia francesa foi predominante no século XIX, mas, perdeu espaço diante da influencia americana que estava surgindo e que se consolidou depois da segunda guerra mundial, porém, isso foi combatido pela igreja não apenas com relação as ideias oriundas desses lugares principalmente as relacionadas com o proselitismo protestante que estava sendo fortemente difundido principalmente depois do avivamento religioso que a Europa e principalmente os Estados Unidos presenciaram em sua sociedade predominantemente puritana.[28: Conhecido como Avivamento nos séculos XVIII e mais fortemente no século XIX esse movimento caracterizou-se pela ploriferação de movimentos de cunho religioso que buscavam uma maior integração com Deus e com as Escrituras .Sendo criado nesse período várias denominações religiosas cujas principais características eram o proselitismo,o uso de sermões públicos com demonstrações de fé com exageradas demonstrações emocionais.Enquanto que o primeiro avivamento teve influencia calvinista,enfatizando a incapacidade humana e a soberania de Deus,o segundo dava mais destaque ao potencial de escolha e decisão humana.]
Esse Aviamento proporcionou uma obra de proselitismo que se instalou em vários países e também possibilitou a formação de um grande número de movimentos de natureza religiosa e social às sociedades voluntárias, voltadas para causas como educação religiosa, o abolicionismo, a distribuição das Escrituras, missões nacionais e estrangeiras.
Nesse período de efervescência religiosa que surgiu o grupo das Testemunhas de Jeová com características desses movimentos de avivamento religioso e com aspectos de sociedade cultural e religiosa. Podemos com isso concluir porque a Igreja combatia tão fortemente a presença protestante. Não eram apenas ideais religiosos em jogo, mas, políticos e culturais que incomodavam a Igreja. Se por um lado a Igreja combatia os protestantes e seu proselitismo, o outro grupo também o fazia. A Igreja sob o olhar protestante era vista como uma instituição que ludibriava as pessoas com ensinamentos errados e que as inundava com superstições e que muitas vezes era considerada como atraso para o progresso do país.
Sendo que as divergências entre esses dois polos de agregação religiosa podem ser objeto de pesquisa do historiador para analise em diversas perspectivas que marcam as relações religiosas onde a esferas de poder se confundem.
Pensarmos na introdução do Protestantismo em Sobral e nesse confronto, nos leva a analisar não apenas as questões políticas e sociais, mas,todo um universo que dimensiona os acontecimentos de uma época. Os protestantes de acordo com os estudos realizados por Júlio Marçal em sua pesquisa sobre o protestantismo em Sobral teve suas primeiras sementes da propaganda protestante com missionários fixos foi em 1932, na figura de O.S Boyer, pentecostal e que não foi visto com bons olhos pela Igreja da época, que era baseada em uma doutrina ultramontano,cujas bases se solidificavam na forte influencia e controle de Roma.[29: MARÇAL,Júlio César Sousa,Protestantismo em Sobral:subversão da ordem religiosa(1932-1937).Monografia do curso de graduação em História,Sobral.2001.]
Entender isso nos ajudara nos capítulos seguintes quando discutiremos o surgimento e formação do grupo das Testemunhas de Jeová, suas bases fundadoras e as influencias que a afetaram durante sua criação e proliferação de maneira geral. Os confrontos surgidos entre os protestantes em Sobral e a Igreja abriu caminho para a entrada das Testemunhas de Jeová na região sendo que segundo relatos orais elas só se consolidaram no final da década de 1950, embora publicações coma propaganda do grupo já circulavam no aís,principalmente na comunidade americana localizada em São Paulo,desde o ano de 1889.
Sendo que achegada de publicações com a propaganda do grupo já circulavam no país principalmente na comunidade americana localizada em São Paulo,desde o ano de 1889.Segundo as fontes do próprio grupo.
“Foi em 1899 que Sarah Bellona Ferguson,de São Paulo,recebeu pela primeira vez dos Estados Unidos,por correio,algumas publicações da Sociedade Torre de Vigia.Ao passo que aprendia as preciosas verdades bíblicas,fazia o possível para transmiti-las a outros.Quando surgiu a oportunidade para isso,ela foi batizada,depois de uns 25anos.”[30: WATCH Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania Anuário das Testemunhas de Jeová. 1997.São Paulo.Sociedade Torre de vigia de bíblias e tratados.]
O Grupo já estava sendo introduzido por meio de suas publicações principalmente a Revista Torre de vigia arauto da presença de Cristo e por meio de discursos produzidos pelo seu primeiro organizador, na figura de Charles teze Russel, porém,como veremos no próximo capítulo a introdução das Testemunhas de Jeová no Brasil e em Sobral sofreu alguns revéses tanto por parte de grupos católicos como de protestantes.
2 CAPÍTULO:AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E SUA FORMAÇÃO
As Testemunhas de Jeová se apresentam como uma religião cristã não trinitária que tem suas raízes baseadas nos movimentos de avivamento religioso que se espalharam pelos Estados Unidos principalmente no final do século XIX e inicio do século XX.
O Chamado Avivamento Religioso nos Estados Unidos não pode ser classificado apenas em um curto período de tempo, tão pouco tendo afetado apenas um grupo religioso, mas passou por vários momentos que culminou com a formação de diversos grupos religiosos.
Tendo característicasdistintas, dependendo do momento histórico e da facção que era afetada por esse movimento, buscava uma restauração das caraterísticas puritanas dos primeiros colonizadores que se instalaram no Novo Mundo.
As Testemunhas de Jeová foram criadas no contexto de um segundo Avivamento Religiosos que ocorreu nos Estados Unidos mantendo ainda características fortes na atualidade, principalmente com relação a obra missionária e o desejo da propagação da “verdade” que permeia todo o coletivo do grupo e que afeta individualmente cada membro. 
“(...)O Segundo Grande despertamento começou por volta de 1800,novamente entre os presbiterianos, na localidade de Cane Ridge,em Kentuck(...)este atingiu todas as denominações, especialmente os batistas e os metodistas, que tiveram um crescimento vertiginosos e tornaram-se os maiores protestantes da América do Norte(....)Além do crescimento das igrejas,um dos frutos mais valiosos e duradouros do Segundo Grande Despertamento foi o surgimento de um grande número de movimentos de natureza religiosoa e social ,as “sociedades voluntarias”.Essas organizações estavam voltadas para causas como educação religiosa,abolicionismo,temperança,distribuição das escrituras e, acima de tudo,missões nacionais e estrangeiras.[31: MATOS,Alderi Souza de.Os Avivamentos Norte-Americanos.Disponível em:http://old.thirdmill.org/files/portuguese/35260~11_1_01_10-22-22 acessado no dia 6/4/2011.]
Os Estados Unidos, desde sua formação original como Colônia Inglesa, possuía fortes traços religiosos e foi constituído por muitas denominações religiosas oriundas da Europa que criaram no imaginário o ideal de uma nova Canaã no território e essas denominações foram se fortalecendo e se espalhando.
A análise desse aspecto de uma Nova Canaã e do ideal de civilização e de missão perdura no imaginário americano e em certos momentos oscila entre o extremismo, formando uma sociedade religiosa e puritana, impulsionando o aspecto missionário e o discurso messiânico presente em muitas denominações religiosas.
“O Paradigma bíblico traçado pelos puritanos continuou impregnando o universo político norte-americano,podendo ser flagrado a partir da Guerra Civil,justificada,por ambos os lados,em termos religiosos.Com a virada do século XIX para o XX,passoua prevalecer nos Estados Unidos a idéia de que sua condição excepcional como nação deveria justificar não o seu isolamento com relação ao mundo,mas uma atitude inversa,de intervenção ativa.Os Estados Unidos teriam,pois,que assumir sua visão(sic)de redimir e civilizar regiões e os povos do mundo,desprovidos das qualidades sacras outorgadas pela providencia aos norte americanos.”[32: CASTRO,Eduardo Góes de .A Torre Sob Vigia: As Testemunhas de Jeová em São Paulo(1930-1954).Dissertação de Mestrado em História Social.São Paulo 2007.]
Nesse contexto que as Testemunhas de Jeová no inicio chamadas de Estudantes da Bíblia, surgiram tendo seu primeiro organizador o empresário Charles Taze Russel, nascido na Pensilvânia, em 16 de Fevereiro de 1852, filho de uma família presbiteriana e influenciado pela Igreja Congregacional a qual se filiou, logo depois se afastando por não concordar com todos seus ensinamentos. 
Como os Estados Unidos era um território propício para novas denominações religiosas onde o caráter fundamentalista, milenarista, messiânico e apocalíptico teve amplo espaço principalmente em momentos de crise nacionais como após a Guerra de Secessão(1861-1865), houve um fortalecimento na propagação desses ideais por todo seu território.Denominações ligadas ao milenarismo como a Igreja Cristã do Advento tiveram forte influencia nos primeiros momentos da formação das Testemunhas de Jeová na figura de Charles Taze Russel.
No ano de 1869, Charles Taze Russel teve seu primeiro contado com os Adventistas na pessoa de Jonas Wendell e suas pregações intimamente ligadas ao Advento ou volta de Cristo e a ascensão da Igreja verdadeira.
Os Estudantes da Bíblia acabaram por filiarem-se ao grupo de Nelson H.Barbour de Rochester, na cidade de Nova Yorque sendo que esse grupo de Barbour era formado por dissidentes dos Adventistas e o grupo de Russel passou a apoiar a publicação do periódico religioso de Baurbour chamado Herald of the Morning(Arauto da Aurora).
O Uso de periódicos religiosos teve influencia forte na formação do que viria a ser as Testemunhas de Jeová após o rompimento de Charles Taze Russel com Nelsom Baurbom por divergências doutrinarias.
Charles Taze Russel e seus associados criaram em julho de 1879 revista Zion’s Watch Tower and Herald of Crist’s Presence(Torre de Vigia e Arauto da Presença de Cristo) atualmente a revista A Sentinela anunciando o reino de Jeová.
O Contexto tanto desse rompimento como a criação desse periódico religioso tem a ver com a própria estrutura do grupo baseada fortemente em raízes milenaristas e messiânicas na esperança de um governo de mil anos e da volta invisível de Cristo.Como a maioria dos movimentos milenaristas o uso de interpretações bíblicas e de cronologias com a formação de datas para o tão esperado milênio pode ser observado.
Os Estudiosos do Grupo concordam na estrutura milenarista tão presente tanto no primeiro momento da formação do grupo como em períodos atuais, sendo a base principal de suas crenças e de sua obra proselitista.
“(...)Essa espera ansiosa pela vinda do reino de Jeová nos faz crer que as Testemunhas de Jeová podem ser consideradas em muitos aspectos como um grupo milenarista,na medida em que organizam suas ações a partir da iminência da instauração do reino de Jeová!’(...)[33: BORNHOLDT,Suzana Ramos Coutinho. Proclamadores do Reino de Deus:Missão e as Testemunhas de Jeová Tese de Mestrado em Antropologia Social .Florianópolis,2004]
Esse milenarismo presente nas Testemunhas de Jeová forma a base solida para sua crença em um Governo único para toda a humanidade e para uma volta invisível de Cristo.As Testemunhas de Jeová passaram por vários períodos de transição. A primeira fase do grupo na figura de seu organizador Chareles Taze Russel, estava preocupada com a formação das primeiras células dos estudantes da Bíblia composta por assinantes da Revista Torre de Vigia Arauto da presença de Cristo e esses grupos eram incentivados a se reunirem semanalmente e estudarem o periódico e a Bíblia juntos.
Esta fase do grupo esta ligada tanto a iminência do fim como ao caráter prosélito, mas a ênfase era na propagação dos livros e da revista escritas pelo “Pastor” Russel. O Uso de meios impressos mostrou ser o principal meio de doutrinação do grupo de estudantes da Bíblia, sendo inicialmente feito por firmas comercias, mas, com a criação da Sociedade de Tratados da Torre de Vigia de Sião, na Pensilvânia e depois transferida posteriormente em Nova York a obra ser tornou mais abrangente e dirigida e comandada pelo grupo de Estudantes da Bíblia.
Nesse primeiro momento dos Estudantes da Bíblia a obra girava em torno da figura de Charles Taze Russel e da divulgação da volta de Cristo para o ano de 1914 e como os movimentos milenaristas essa restauração de uma nova ordem é procedida de um período de turbulência social, político e religiosa.
Os acontecimentos que convergiram para a primeira Guerra mundial fortaleceram a idéia da instauração do governo de Cristo na Terra e do fim dos governos humanos com a salvação dos escolhidos que seriam os que se sujeitassem ao governo de Cristo.
“(...)o milenaismo ou quiliasmo se refere a qualquer movimento politico religioso que a idéia do milênio exerce papel relevante e se dá a ocorrência de catástrofes que antecedem o fim da ordem vigente e anunciam a instauração de uma era de justiça e felicidade;ao passo que o messianismo se reporta mais especificamente a um movimento do memso gênero,porém, baseado na crença de um enviado divino,presente ou cuja vinda está próxima, e que anuncia e prepara a abolição das condições vigentes ,para enfim instaurar,ou reinstaurar,uma era de abundancia,felicidade e justiça.Ambos costumam ocorrer comgrupos ou populações em situação de crise e dominação,como no caso do domínio colonial”.[34: MENEZES,Eduardo Diatahyb de.Fantasmas e Sonhos Milenaristas.Trajetos Revista de História da UFC Dossiê Religiosidade VOL.4Nº8.2006]
Esse momento do grupo foi extinto por um momento de crise com a morte de Charles Taze Russel em 1916 num acidente de trem e com a frustração de 1914 que foi superada aos poucos. A Figura emblemática do “Pastor” Russel teve uma influencia nos seus seguidores que se mantiveram unidos após o ano de 1914 em que estava esperada a volta de Cristo e a restauração de seu Governo para a humanidade.
O ano de 1914 representou um divisor de Águas na estrutura doutrinaria dos então estudantes da Bíblia que tiveram de reformular suas crenças na presença de Cristo, cronologicamente datada de acordo com a interpretação da profecia de Daniel 2:32-44 e Daniel 4:10-16, que falam respectivamente de uma grande estátua que simbolizaria os governos humanos precedentes do Reino de Cristo e de uma grande Árvore que representaria o governo de Deus que estaria subjugado durante um tempo chamado de Tempo dos Gentis até poder ser restabelecido ao seu esplendor.
A Própria formação das Testemunhas de Jeová esta intimamente ligada a essa cronologia Bíblica e ao teor das profecias ligadas ao Governo de Deus que permeia o imaginário fortemente passando por períodos turbulentos e solidificando a própria estrutura proselitista e doutrinaria.
Essa ligação com profecias Bíblicas que levam a acontecimentos políticos, sociais e econômicos esta enraizado com a própria estrutura dos então Estudantes da Bíblia sendo o principal discurso de seu primeiro organizador.
“Quando dizemos nossa cronologia, referimo-nos meramente áquela que nós usamos, á cronologia da Bíblia, que pertence a todos os do povo de Deus que a aprovam. De fato ,muito antes do nossos dias, foi usado praticamente na forma em que a apresentamos, assim como várias profecias que usamos foram usadas para um propósito diferente pelos adventistas, e diversas doutrinas, que sustentamos e que parecem tão novas, atuais e diferentes, foram sustentadas de alguma forma a muito tempo atrás:por exemplo- a Eleição, a Graça Gratuita ,a Restauração, a Justificação, a Santificação, a Glorificação, a Ressurreição.”[35: WATCH Tower Bible and tract society of Pensylvania.,Proclamadores do Reino de Deus,Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.pág49.]
Observamos no discurso referente à cronologia e a própria crença do grupo uma forma de legitimar a atuação e propagação dos conceitos religiosos e um conceito pertinente ao caráter messiânico, o conceito de aprovação divina. O povo de Deus deveria aprovar a cronologia que vem não de uma interpretação de Charles Taze Russel, mas da própria Bíblia.
O uso de tabelas, simbolismos e de uma legitimação dos discursos ainda se faz presente no imaginário Testemunha de Jeová tendo tomado outra forma no segundo momento do grupo. A ênfase passou não apenas para a cronologia Bíblica, mas, para uma reformulação de conceitos e organização estrutural do grupo, o que trouxe mudanças bruscas de posicionamento .
A segunda fase do grupo após o não cumprimento da volta de Cristo para 1914 foi marcado por uma nova interpretação desse ano. A volta de Cristo de fato não ocorrera visivelmente em 1914, mas esse ano era marcante, porque,Cristo se tornou Rei não na terra, mas no Céu ou seja embora as pessoas não tenham visto Cristo se tornar rei de forma visível mas espiritualmente ele se tornara rei só que apenas no domínio celeste o terrestre ainda ocorreria.
A característica principal do grupo com relação ao senso de urgência na pregação das “Boas Novas do Reino” permanece mesmo sem ênfase a datas. Considera-se, porém muito mais significativo o senso de missão do que a datação para o aguardo fim do sistema de coisas.
A ênfase política teve um aspecto importante na segunda fase das Testemunhas de Jeová e trouxe modificações nas relações políticas. Na visão que muitos governos passaram a ter de outras denominações americanas que estavam se espalhando por meio de obras missionárias tanto na Europa, Ásia e América latina.
A então Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados seria composta por uma comissão de três membros A.I Ritchie,W.E.Vam Amburgh e J.F Rutherford.
Esse período de transição foi um período de turbulência, tendo um grupo de dissidentes que não aceitaram que J.F Rutherford assumisse a comissão como presidente.
Os Estudantes da Bíblia se dividiram entre aqueles que aceitaram a presidência de Joseph Franklin Rutherfod, formado em direito e que atuou como juiz especial no tribunal de Missouri, atuando fortemente no setor da edição e supervisão dos interesses jurídicos da Sociedade Torre de Vigia. Nessa fase do grupo eles assumiram uma posição de extremo ataque ao clero católico e aos governos totalitários que estavam assumindo o poder na Europa e isso causou perseguição e processos jurídicos contra a Sociedade Torre de Vigia nos Estados Unidos e em muitos países da Europa.
A sua atuação como presidente da Sociedade de 1917 á 1942 coincidiu com um período de turbulência política, social e econômica na maioria dos países e o impulso de influencia dos Estados Unidos nos países da América, sendo os Estudantes da Bíblia encarados com desconfiança por muitos países latino-americanos.
Entendermos isso nos ajuda a perceber a dificuldade de atuação do grupo em Sobral porque eles enfrentavam no seu berço, os Estados Unidos processo federais instigados pela elite religiosas tanto católica como protestantes, o que culminou, em 1918, com a prisão dos principais organizadores do grupo e a condenação de 20 anos de prisão.
A liberação ocorreu três anos depois com o pagamento de fiança para todos os membros. Num congresso em 1931, em Columbus, o grupo dos Estudantes da Bíblia assumiram o nome de Testemunhas de Jeová, distanciando-se da propaganda negativa ligada ao grupo em anos anteriores. 
Ao reformular a denominação do grupo e expandir a obra de evangelização como característica principal das Testemunhas de Jeová, possibilitou uma disseminação de suas práticas e ideias pelo continente americano. A anterior imagem negativa gerada por processos e por crises internas foi sendo desfeitas aos poucos.
Os efeitos da propaganda negativa que os Estudantes da Bíblia tiveram de enfrentar nos anos seguintes ao assumiram o nome Testemunhas de Jeová foi influenciado pelas ações anteriores do grupo e por sua posição política de ataque a Igreja Católica, aos governos totalitários e ao sistema nacionalista que predominava na Europa e na América Latina pós primeira Guerra Mundial.Essa propaganda negativa de que as Testemunhas de Jeová eram subversivas e uma denominação religiosa perigosa causou certa dificuldade no fortalecimento da religião no Brasil.
Ao analisar esse período de turbulência devemos observar que o fervor religioso do grupo ultrapassava até mesmo o ferver patriótico tão arraigado na sociedade dos Estados Unidos da América e na visão nacionalista que se fortalecia dentro dos Estados Unidos tanto após a Primeira Guerra mundial como após a Segunda Guerra.
“Em alguns casos,o fervor religioso típico dos norte-americanos acabou, inclusive, prevalecendo sobre a identidade nacional e o sentimento patriótico. Foi o caso dos mórmos que, no século XIX, enfrentaram a repressão federal por suas pretensões de autonomia e incentivo a poligamia, e o das Testemunhas de Jeová, no século XX que, por manter sua tradição pacifista, recusaram-se a se alistar no Exército e a jurar a bandeira norte-ameicana, enfrentaram perseguições e prisões por conta de sua fidelidade estrita ao principio religioso(...) Assim, muitas Testemunhas de Jeová foram presas e acusadas, paradoxalmente, de lutar em favor do comunismo dentro dos Estados Unidos ou de serem “quinta-colunistas” infiltrados no país.”[36: CASTRO,De Góes Eduardo,A Torre sob Vigia As Testemunhas de Jeová em São Paulo(1930-1954).Dissertação de Mestrado em História Socialdo Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo2007]
As Testemunhas de Jeová no Brasil enfrentaram períodos de proibição, perseguição e desconfiança por parte do Governo que principalmente sob a liderança de Getúlio Vargas, não tolerava manifestações contra seu governo e contra a Igreja Católica,embates que as Testemunhas de Jeová, principalmente em São Paulo, por meio de suas publicações, expunham abertamente.
Esses fatos serão analisados para entendermos a própria proliferação da religião em Sobral e no Brasil, assim como as dificuldades e adaptações que foram feitas para que os embates fossem minimizados e a obra realizada pelo grupo na divulgação de suas crenças continuassem mesmo sob proibição. Embora a posição política e social do grupo fosse contra o nacionalismo que ganhava força na década de 1920 a 1941, foram abertas possibilidades de divulgação de suas crenças de maneiras diversas além do uso de publicações escritas e de discursos fonográficos. Essa foi a saída para driblar a censura em alguns países o uso de outros meios de comunicação como o rádio
Com a diligência de Ruterford, os Estudantes da Bíblia se expandiram grandemente com a propagação de suas crenças por outros meios além dos escritos. Foram utilizados uma cadeia de rádio da organização chamada“WBBR” , que passou a transmitir os discursos e sermões bíblicos.
Joseph Franklin Rutherford com seu caráter expansionista deixou de lado algumas questões cronológicas com relação a datação do fim, mas ,a ênfase de um governo milenar permaneceu e suas publicações mostram claramente isso.
O impulso do caráter proselitista das Testemunhas de Jeová gira em torno do Reino de Deus e das promessas pertinentes a esse Novo Governo, suas publicações, discursos e pregação nas suas diferentes fases tanto de seu primeiro organizador como nos períodos posteriores enfatiza isso como uma forma de incentivo a propagação de suas crenças e de suas publicações, porque, a pregação das Boas Novas do Reino de Deus é visto como um requisito.
Sendo a iminência do Reino de Deus algo amplamente divulgado pelos livros escritos por Ruterford. A Terceira fase do grupo observa-se pelo livro escrito por seu terceiro presidente Nathan Knorr a continuação de características milenaristas destacadas tanto na capa como no índice que observamos na página que se segue.
FIGURA1- capa de livro
Fonte:
Í
ndice do Livro escrito por 
Knorr
.
FIGURA2-
Índice do Livro
Fonte:
Escritor por 
Knorr
 em Inglês 1944 e em Português 1953.
 Observa-se no índice do livro e na gravura presente o forte apelo a propagação das crenças do grupo num contexto milenarista e messiânico.
Onde a palavra Reino, Rei, Teocracia, está presente no tópico de todos os capítulos fielmente elaborados para a divulgação desse Reino.
As Testemunhas de Jeová se apegam a esse padrão em suas publicações escritas, buscando tópicos e índices que sempre tragam o ideal do Reino variando na década de 1949 com algumas questões sociais e políticas num ataque as formas vigentes de poder tanto do lado Ocidental como Oriental acarretando perseguições em muitos países totalitários.
Ao analisarmos essa fase do grupo podemos entender as dificuldades de penetração deles em Sobral que era ligada as elites políticas e ao clero Católico, sendo possível as primeiras células se consolidarem apenas na década de 1958.
A terceira fase das Testemunhas de Jeová começou com a presidência de Nathan Knorr, que assumiu após a morte de Rutherford em 1942. Ele teve uma grande influencia nas reformas organizacionais das Testemunhas de Jeová e na expansão organizacional mundial do grupo e na consolidação de um maior controle individual sob cada célula do grupo presente em diversos países.
Nathan Knorr apresentava características diversas de seu antecessor, era ex-membro da Igreja reformista Holandesa, criou diversas “Escolas de Treinamento” como a Escola do Ministério Teocrático, onde eram treinados os novos publicadores. Em 1943, inaugurou a “Escola Bíblica de Gileade”, que treinava de forma intensiva os que participariam no serviço missionário. Sua principal contribuição no campo doutrinário foi a iniciativa de tradução da Bíblia a partir de escritos originais em Grego e Hebraico, resultando na Bíblia utilizada pelas Testemunhas de Jeová intitulada Tradução das Escrituras Sagradas do Novo Mundo, que ainda hoje é utilizada pelo grupo como principal meio doutrinário em auxilio de suas outras publicações.
Como meio de divulgar a obra das Testemunhas de Jeová ele percorreu diversos países entre eles o Brasil, para analisar o progresso nesses países e proferir discursos bíblicos. Mudou a então estrutura organizacional das Testemunhas de Jeová que após a sua morte não ficaria na direção de apenas um presidente, mas de um corpo de supervisão mundial composto de 12 homens que revezariam entre si o cargo de presidente e a formação de comissões que serviriam para uma melhor supervisão da obra em caráter mundial.
No contexto local de cada Congregação foi introduzida a figura do ancião congregacional e do servo ministerial, porque anteriormente as congregação possuíam apenas um servo de congregação que se responsabilizava por todos os aspectos locais de cada congregação o que gerava algumas divergências locais. Tais mudanças foram essenciais para um controle mais efetivo sobre cada célula do grupo tanto nos Estados Unidos como nos outros países que passaram a adotar a mesma estrutura organizacional.
Com a estrutura mais centralizadas os discursos do grupo se tornaram mais unificados e a supervisão da obra proselitista se tornou intensa, sendo possível um aumento tanto na quantidade quanto na qualificação dos membros. Nos aspectos doutrinários houve permanência em alguns discursos, principalmente na iminência do Reino de Deus e na visão política de que os governos Humanos não eram aptos para governarem a Humanidade.
A medida em que as divergências políticas entre o Ocidente e o Oriente se intensificavam, a visão apocalíptica das Testemunhas de Jeová com relação aos governos e a sociedade refletindo os próprios temores da sociedade mundial; de uma iminente Terceira Guerra Mundial e do uso de armas nucleares que devastariam a humanidade.
 Suas publicações refletem não apenas doutrinas e preceitos religiosos, mas preceitos políticos numa visão de antipartidarismo e aversão a governos humanos, no anseio de uma vida comum sem classes sociais ou barreiras nacionais. As publicações produzidas pelo grupo nesse período refletem essas duas preocupações principais a de propagar suas crenças religiosas e políticas de uma visão de uma Nova Ordem tanto religiosa, social, econômica e política na figura emblemática de Jesus e de um Governo unificado.
A capa do Livro que se segue ilustra bem a continuidade do discurso de um Governo espiritual como único meio de livrar a humanidade de uma iminente destruição e de aflições que as formas de governo vigentes causavam.
O Milenarismo esta arraigado desde a formação inicial das Testemunhas de Jeová é responsável pela sua proliferação tanto no passado como na atualidade, porquê a sociedade do século XXI ainda esta impregnada de divergências políticas, conflitos mundiais, econômicos e sociais. 
O auto questionamento da humanidade permanece sendo um campo vasto para movimentos milenarista cuja visão de um Novo Mundo com uma estrutura política, social que acabara com os males da sociedade atual é presente no imaginário humano.
Entender isso nos ajuda a discutir a permanência desse discurso nas Testemunhas de Jeová na espera desse iminente Novo Mundo e de um Novo Governo que quebra as estruturas da sociedade atual vista com entrave para a prosperidade humana e para o retorno de uma condição aprovada perante Deus.
FIGURA3
-
Capa do Livro
FIGURA 4-
Ìndice
 do Livro.
Fonte:
Livro escrito por 
Knorr

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