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ANÁLISE COM BASE NOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CONTO uns braço

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ANÁLISE COM BASE NOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO CONTO “UNS BRAÇOS”, DE MACHADO DE ASSIS¹
Katryne Victória Ribas do NASCIMENTO²
 
Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar a estrutura do conto Uns Braços, de Machado de Assis, mais especificamente analisar mais a fundo os personagens, o espaço, que é importante para o desenvolvimento da história, fazer uma análise do tempo, tendo em vista que os personagens passam a maior parte do tempo em seus monólogos interiores; ainda se analisará a temática do conto, considerando-se a época em que foi escrito, observando-se o fato de porque alguém se apaixonaria pelos braços de uma mulher.
Palavras-chaves: Uns Braços. Machado de Assis. Personagens. Espaço. Tempo. Sedução Feminina.
Conto publicado originalmente no jornal A Gazeta de Notícias, em 1885, e que faz parte do livro Várias histórias (1896), Uns braços, conta a história do menino Inácio, um jovem de 15 anos recém feitos; seu pai é um barbeiro na Cidade Nova; Inácio trabalha com Borges, um homem grosso, solicitador, que tem como esposa Dona Severina, uma mulher com 27 anos, dona de casa. Inácio trabalha com Borges a pedido de seu pai, pois achava que os procuradores de causas ganhavam muito. Dona Severina, esposa de Borges, andava somente com vestidos sem manga em casa e Inácio, por nunca ter tido um amor, ficava olhando para os braços nus de D. Severina, não por maldade, mesmo porque ela não andava com os braços de fora porque queria, mas, por ter gasto os vestidos de manga. Devemos lembrar que para a época em que a história se passa não era comum que mulheres andassem com os braços de fora, nem em casa.
Inácio, cansado das grosserias de Borges, diz a si mesmo todos os dias que irá embora, mas quando chega em casa e vê D. Severina, com seus braços à mostra, desiste de ir. Morando com eles há cinco semanas afirma que são semanas de solidão, trabalho sem gosto, longe da família e semanas de silêncio, já que falava pouco na rua e nada em casa, pois Borges não dava liberdade para ele se aproximar de sua família.
¹ Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é o maior escritor do Brasil, na opinião unânime dos estudiosos da literatura brasileira.
² Acadêmica de Letras – Português e suas literaturas, da UNIR – Campus Vilhena, Turma XXIV
Certa noite D. Severina recapitulava um episódio acontecido no jantar em que Inácio demorou mais que o necessário para tomar seu café e ir para seu quarto e ficava passando os olhos pelos quadros da sala; lembrou que às vezes desviava o olhar para seus braços e pela primeira vez D. Severina começou a desconfiar de alguma coisa, mas logo rejeitou a ideia, pois era só uma criança. Como Borges não era um esposo bondoso e mal lhe dava atenção, ficava lembrando de todos os episódios e concluiu que sim, ele ficava olhando-a.
Certo domingo Inácio estava em seu quarto, deitado na rede, como fazia todos os domingos, e lia alguns folhetos; nesse dia pegou o folheto da Princesa Magalona; em um dado momento, por estar muito cansado de ter andado muito no dia anterior e não ter dormido direito durante a noite, dormiu na rede. D. Severina na sala ouve quando Borges desce as escadas e sai de casa; então vai até a janela e o vê saindo; inquieta foi até o aparador e pega uma jarra mas deixa no mesmo lugar, foi até a porta e voltou, ficou mais uns dez minutos por ali, e lembrou-se que Inácio pouco tinha comido no almoço, então foi a seu quarto ver se não estava doente. Chegando lá viu que o menino estava deitado na rede com os braços caído para fora, e ficou espiando o menino dormir, por certo tempo. D. Severina sentiu que seu coração acelerou e recuou, pois lembrara que tinha sonhado com ele na noite anterior e pensava se ele também estava a sonhar com ela, mas a todo tempo repetia para si mesma que ele era só uma criança, e ainda assim observava como ele era bonito. Saiu do quarto e voltara para a sala onde estava; depois voltou devagarinho espiando o garoto mais uma vez. Após um tempo ali pegou o braço do menino e colocou cruzado sobre seu peito, aproximou-se um pouco mais, “ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca”. Mal sabia que o sonho coincidia com a realidade.
D. Severina fugiu do quarto, sentindo-se vexada e medrosa. Passou para a sala e não olhava para nada. Às vezes ia devagarinho até o corredor para tentar escutar se o garoto havia acordado, mas toda a preocupação fora desnecessária, pois o garoto acordou somente no jantar. Inácio não conseguia esquecer de seu sonho em que D. Severina beijava-o; no entanto, não reparara que ela usava um xale cobrindo seus braços; veio reparar este detalhe somente na segunda-feira, fato que se repetiu até o sábado, dia em que Borges mandou que Inácio avisasse seu pai que não podia mais ficar com ele, mas não fez da forma como sempre agia, zangado, mas tratou-o relativamente bem. Foi embora sem despedir-se de D. Severina, pois estava com dor de cabeça. Com o passar dos anos, ele nunca pode compreender porque ela começou a tratá-lo com cara fechada e a usar xale, mas nada disso passou a importar, pois ficava sempre lembrando do sonho daquele domingo, quando ele tinha quinze anos.
Percebe-se que no enredo há três personagens; Inácio, o protagonista da história é jovem de quinze anos, recém feitos, tinha cabeça inculta, mas bela, olhos de rapaz que sonha, que adivinha, que indaga, filho de um barbeiro; D. Severina, esposa de Borges, tinha vinte e sete anos, usava mangas curtas em todos os vestidos, “[...] seus braços eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar [...]”, “[...] de pé, era muito vistosa; andando, tinha meneios engraçados [...]”; o narrador deixa uma ambiguidade quando diz: “Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia” (ASSIS, 1998. p. 14). Borges é um solicitador, casado com D. Severina, “[...] pois era antes grosseiro que mau. ” (ASSIS, 1998. p. 16)
Os personagens planos segundo Brait são construídos ao redor de uma única ideia ou qualidade e durante a narrativa não se desenvolvem muito e têm pouca descrição. Com essa definição e a descrição dos personagens assimilando as duas informações observa-se que os personagens são planos; um exemplo disso é Borges, que durante todo o conto se mostra um homem grosso, principalmente com Inácio, mas ao final ele o trata bem; esse comportamento não quer dizer que tenha ficado bondoso, continua sim sendo um homem grosseiro; D. Severina é uma boa esposa mas, apesar do beijo que dera em Inácio não mudou seu comportamento; e Inácio, que da mesma forma que chegou na casa de Borges continuou, não falava nada, vivia em seu canto, até o dia em que foi embora. Os personagens ainda são descritos em poucas palavras, que é também uma característica do gênero conto e ainda dos personagens planos.
Partindo assim para a análise do narrador, vê-se que ele é um narrador onisciente, mais especificamente narrador onisciente seletivo múltiplo, que para Schutt (2016) é “quando expressa onisciência em relação a vários personagens, tendo acesso aos pensamentos e emoções de todos eles, focado em compartilhar diferentes pontos de vista sobre os acontecimentos da história”; isso aparece na narração de Uns Braços quando o narrador mostra os pensamentos de Inácio em relação a D. Severina; por ele ser onisciente sabe de tudo dos personagens e também mostra os pensamentos de D. Severina em relação a Inácio, observando assim em um trecho:
Que não possamos ver os sonhos uns dos outros! D. Severina, ter-se-ia visto a si mesma na imaginação do rapaz; ter-se-ia visto diante da rede, risonha e parada; depois inclinar-se, pegar-lhe nas mãos, levá-las ao peito, cruzando ali os braços, os famosos braços. Inácio, namorado deles, ainda assim ouvia as palavras dela, que eram lindas cálidas, principalmente novas, - ou, pelo menos, pertenciam a algum idioma que ele não conhecia, posto que o entendesse. Duas três e quatro vezes a figura esvaía-se, para tornar logo, vindo do mar ou de outraparte, entre gaivotas, ou atravessando o corredor com toda a graça robusta de que era capaz. E tornando, inclinava-se, pegava-lhe outra vez das mãos e cruzava ao peito os braços, até que inclinando-se, ainda mais, muito mais, abrochou os lábios e deixou-lhe um beijo na boca.
O trecho anterior relata o sonho de Inácio e no mesmo momento D. Severina em seu quarto, visto assim que o momento é o mesmo, mas está sendo mostrado dos dois pontos de vista, evidenciando assim o narrador onisciente seletivo múltiplo.
O foco narrativo presente no conto é em terceira pessoa; é o melhor ângulo para o narrador onisciente, aquele que vê tudo e sabe de tudo que se passa na história; e há ainda o foco externo subjetivo, mesmo que o narrador esteja fora da história, ele pode identificar-se intimamente com uma personagem ou várias, e é de onde seu ângulo de visão passa a ser visto. Esta característica é percebida no conto quando o autor mostra o acontecimento pela visão de cada personagem. 
Analisando o espaço do conto, percebemos que há dois espaços; o macro espaço, aquele espaço maior onde se passa a trama e os micro espaços que são aqueles espaços menores onde ocorre a história. O macro espaço é a cidade do Rio de Janeiro, especificamente a Rua da Lapa. Há somente um micro espaço presente no conto, que é onde toda essa trama acontece, a casa de Borges e D. Severina; dentro da casa os espaços mais importantes são: a sala de jantar, sala em frente o quarto de Inácio, o corredor que dá para o quarto e o quarto de Inácio. A sala de jantar é o espaço mais importante, já que é lá onde Inácio passa a maior parte do tempo olhando os braços descobertos de D. Severina; este espaço é assim caracterizado “[...] passava os olhos pelos quadros da sala de jantar, que eram dois, um S. Pedro e um S. João, registros trazidos de festas encaixilhados em casa” (ASSIS, 1998. p. 15); o quarto de Inácio que também é um espaço importante, por ser lá que D. Severina o beija e ele sonha com ela ao mesmo tempo, e é assim caracterizado “[...] o seu quarto, nos fundos da casa [...]”, “[...] duas janelas que davam para o mar [...]” (ASSIS, 1998. p. 15), “[...] enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama)” (ASSIS, 1998. p. 16). A sala de estar é um ambiente que D. Severina, fica inquieta sem saber se ia até o quarto de Inácio; este espaço é descrito como dava para ver o “[...] clarão dele nas janelas da casa fronteira [...]”, (p. 17), “Então entrou e foi sentar-se no canapé. Parecia fora do natural, inquieta, quase maluca; levantando-se, foi pegar na jarra que estava em cima do aparador e deixou-a no mesmo lugar [...]” (p. 29). Da sala para o quarto de Inácio há um corredor; pelo motivo de ver no topo da escada a porta do quarto, ele se caracteriza como sendo um local de encontro: “Ao entrar no corredor da casa, voltando do trabalho, sentia sempre algum alvoroço, às vezes grande, quando dava com ela no topo da escada, olhando através das grades de pau da cancela, como tendo acudido a ver quem era. ” (ASSIS, 1998. p. 18)
Há o tempo cronológico no presente, no conto Uns Braços, que é o tempo que pode ser medido por relógios e calendários; no conto esse tempo cronológico é medido de duas formas, pelo calendário, quando diz: “Passava-se isto na Rua da Lapa, em 1870” (ASSIS, 1998. p. 14); ainda sobre o tempo cronológico, pode ser medido através de “Um domingo, - nunca ele esqueceu esse domingo, - estava só no quarto, à janela [...]” (ASSIS, 1998. p. 19); “Não reparou que D. Severina tinha um xale que lhe cobria os braços; reparou depois, na segunda-feira, e na terça-feira, também, e até sábado, que foi o dia em que Borges mandou dizer ao pai que não podia ficar com ele [...]” (ASSIS, 1998. p. 22); a última forma cronológica da história se dá pelos turnos do dia, já que Inácio via D. Severina somente nos horários das refeições, o que se comprova nos trechos “De manhã é o que se vê; primeiro que acorde é preciso quebrar-lhe os ossos [...]” (p. 13) e, 
Tinha vontade de ir embora e de ficar. Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. Voltava à tarde, jantava e recolhia-se ao quarto, até a hora da ceia; ceava e ia dormir. (ASSIS, 1998. p. 15).
Acredita-se que o conto tenha por duração, aproximadamente, duas semanas. Inácio conta, “Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma [...]”, “No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. (p. 16)” Assim observa-se que as três primeiras semanas não são contadas, mas as duas últimas, quando acontece toda a história.
Outro aspecto do tempo de duração, presente no conto é a elipse, através da qual o narrador dá um salto no tempo/história, como no trecho em que Inácio diz que faz cinco semanas que está lá, mas só são contadas as duas últimas semanas. Outro aspecto temporal é a pausa descritiva que é uma espécie de desaceleração do ritmo da narração. Vemos isso nos trechos em que Inácio olha para os braços nus de D. Severina, um olhar de instantes, mas que possui uma descrição maior, no trecho:
Inácio demorou o café o mais que pôde. Entre um e outro gole alisava a toalha, arrancava dos dedos pedacinhos de pele imaginários ou passava os olhos pelos quadros da sala de jantar, que eram dois, um S. Pedro e um S. João, registros trazidos de festas encaixilhados em casa. Vá que disfarçasse com S. João, cuja cabeça moça alegra as imaginações católicas, mas com o austero S. Pedro era demais. A única defesa do moço Inácio é que ele não via nem um nem outro; passava os olhos por ali como por nada. Via só os braços de D. Severina, - ou porque sorrateiramente olhasse para eles, ou porque andasse com eles impressos na memória.
Um aspecto importante a ser observado é a sedução feminina; os braços nus representam a sensualidade; na época em que o conto foi escrito as mulheres usavam somente roupas que não deixavam os braços à mostra, por isso Inácio ficou tão apaixonado pelos braços de Dona Severina. Há também uma crítica ao casamento, pois D. Severina é uma mulher fragilizada, por certa falta de atenção e carinho do marido, mas ela não se apaixona pela ideia de ser desejada e amada novamente por um amor “adolescente e virgem”, ainda com essa ideia na cabeça ela ficava repetindo para si mesma que ele era só uma criança, mas não pensava no fato de ser casada com Borges. 
	Uma das características realistas do conto é o desejo entre duas pessoas e isso é transmitido quando D. Severina começa a ter certo tipo de desejo pelo rapaz Inácio, bem mais jovem que ela: “D. Severina sentiu bater-lhe o coração com veemência e recuou. Sonhara de noite com ele; pode ser que ele estivesse sonhando com ela. Desde madrugada que a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação diabólica. ” (ASSIS, 1998. p. 20)
	No conto há algumas características machadianas explícitas, como a utilização da ambiguidade para com a descrição de D. Severina, demonstrando assim o caráter ambíguo dela:
Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia. Nenhum adorno; o próprio penteado consta de mui pouco; alisou os cabelos, apanhou-os, atou-os e fixou-os no alto da cabeça com o pente de tartaruga que a mãe lhe deixou. Ao pescoço, um lenço escuro, nas orelhas, nada. Tudo isso com vinte e sete anos floridos e sólidos. (ASSIS, 1998. p. 14)
	O desfecho contém uma característica marcante machadiana que é o final inacabado, e não um final feliz. Isso ocorre quando ela o beija na realidade e ele a beija em sonho; portanto, como ela sentiu-se “vexada e medrosa” e Inácio, na semana seguinte foi embora, não é possível afirmar que foi um final feliz, mas inacabado.
Uns braços traz algumas figuras de linguagem que podem caracterizar o conto, como as metáforas nos trechos: “[...] vai a um escrivão em vez de ir a outro, troca os advogados: é o diabo! ”, “É o tal sono pesado e contínuo.” (ASSIS, 1998. p. 13); ainda há hipérbole nos trechos “Borges abarrotava-se de alface e vaca [...]”, “Aceso o charuto, fincou os cotovelos na mesa e falou a D. Severina mil cousas que não interessavam nada a Inácio.”, “[...] recebeu o prato que este lhe apresentava e tratou de comer, debaixo de uma trovoada de nomes, malandro, cabeça de vento, estúpido, maluco.”
Considerando-se todos os aspectos observados conclui-se que o conto de Machado de Assis apresenta uma riqueza de detalhes; apesar dos personagens não serem tão complexos, a história em si traz alguns contextos históricos tendo em vista que na época em que fora escrito, ver braços de mulheres não era comum, o que causa certa estranheza hoje em dia; o olhar do jovem Inácio para D. Severina mostra um amor “virgem”, como ela mesma diz, um amor puro, tanto que ele nunca conseguiu esquecer daquele sonho, mesmo não sabendo que fora realidade também. É possível observar, também, que a forma como o narrador, por ser múltiplo, narra a partir de vários focos, o que favorece maior riqueza de detalhes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ASSIS, Machado de. Contos. 5. ed. São Paulo: Objetivo, 1998.
BRAIT, Beth. A personagem. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987.
CALDAS, Helena. Enredo, tempo e espaço. 2013. Disponível em: <http://helenaconectada.blogspot.com.br/2013/01/um-pouquinho-de-mario-lago.html>. Acesso em: 23/06/2016
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. 10. ed. São Paulo: Ática.
NUNES, Benedito. O tempo na narrativa. 2. ed. São Paulo: Ática, 1995.
SÉRGIO, Ricardo. O tempo na narrativa de ficção. 2007. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/410685>. Acesso em: 23/06/2016
STRAUSZ, Rosa Amanda (org.) 13 melhores contos de amor da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2013.

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