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Geografia e a filosofia estruturalista formatado final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ 
 
 
 
 
 
 
ANTONIO ALCIR DA SILVA ARRUDA 
 
 
 
 
A RELAÇÃO DO ESTRUTURALISMO E DA FENOMENOLOGIA 
NA GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2015 
2 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ 
 
 
 
 
 
ANTONIO ALCIR DA SILVA ARRUDA 
 
 
 
 
 
 
A RELAÇÃO DO ESTRUTURALISMO E DA FENOMENOLOGIA 
 NA GEOGRAFIA 
 
 
 
Trabalho apresentado no curso de graduação do curso 
de Geografia 
Disciplina: Filosofia da Geografia – Turma A 
Setor de Ciências da Terra, da 
Universidade Federal do Paraná. 
Professor: Sylvio Fausto Gil Filho 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2015 
 
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RESUMO 
O objetivo neste trabalho é dissertar sobre a Fenomenologia e o 
Estruturalismo e suas aplicações na Geografia. Este trabalho procura distinguir a 
relação que a geografia exerce sobre o estruturalismo e suas vertentes junto ao 
socialismo clássico e sua escola francesa, bem como a fenomenologia aplicada à 
geografia humanista. Falar das formas que cada vertente exerce ate hoje e onde 
elas são aplicadas para podermos ter uma noção mais clara do saber geográfico em 
cada um destes conceitos. A fenomenologia está presente na geografia desde os 
tempos remotos a cultura grega, vindo a passar por mudanças durante os séculos e 
que mais tarde se torna destaque na busca de novos paradigmas na metade do 
século XX. 
Também será dissertado o pensamento estruturalista e suas vertentes ao 
socialismo gráfico e sua escola francesa, que com os pensamentos de seus vários 
seguidores que tinham como fundamento as relações de justiça, com a renegação 
da ética e da moral entre outras características. O estruturalismo é uma teoria que 
se desenvolveu no âmbito das ciências sociais a partir da década de 1960. A teoria 
estruturalista é originária da ciência linguística e foi incorporada às ciências sociais 
inicialmente por influência dos trabalhos de cientistas sociais franceses. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Conforme a revista Geografia em Questão volume 6, número 2, de 2013, são 
definidos os parâmetros das geografias humanistas que seráo tratados neste 
trabalho em diferentes abordagens: 
“As geografias humanistas basicamente surgiram em reação ao racionalismo 
das geografias neopositivistas, recolocando o homem no centro dos estudos 
geográficos, mas marcadamente sob um caráter subjetivista, festejando, 
inclusive, a retomada de discussões clássicas da Geografia, como a do gênero 
de vidalablacheano. Constituiu-se em diversas tendências, não tão próximas 
umas das outras, mas que possuía em comum a análise do espaço a partir da 
experiência dos homens e mulheres, positivas ou negativas, no lugar vivido 
(Lebenswelt); e um consenso crítico quanto às “geografias” racionalistas e 
objetivistas. A adoção do método fenomenológico não foi unânime, apesar 
de muitos geógrafos humanistas levantarem esta bandeira.” 
“O surgimento das ‘geografias’ humanistas, assim como das 
correntes mais críticas da Geografia, teve em comum a insatisfação com a 
Nova Geografia ou Geografia Quantitativa, em todos os âmbitos. De 
acordo com Campos, a insatisfação dos geógrafos com esta corrente se 
deu [...] devido à sua reificação dos problemas sociais, supressão das 
dimensões éticas e ideológicas das decisões, omissão das contradições, 
idealização das condições reais através de modelos, crença de que a 
quantificação fornecia objetividade, proximidade dos princípios do 
darwinismo social, exclusão do processo histórico, fragmentação do real e a 
não inclusão da vida real como objeto de estudos, [e] provocou a busca de 
novos caminhos. Ao mesmo tempo, nas décadas de 1960 e 1970 ficaram 
patentes que o crescimento capitalista desordenado e cada vez mais 
globalizado, gerava grandes custos sociais e políticos, agravando os 
problemas sociais e ambientais, notadamente no Terceiro Mundo. Alguns 
geógrafos irão investir no estudo das causas da crise, vão procurar as raízes 
dos problemas; outros contornarão a discussão mais profunda, retornando, 
de modo marcadamente subjetivista, a discussões clássicas da Geografia, 
como a relação entre o homem e o meio natural. (CAMPOS, 2010, p. 01)” 
“Os geógrafos que fazem referências à fenomenologia não pouparam 
críticas e questionamentos ao mundo racionalista. Para esta corrente, o 
comportamento das pessoas não está fundamentado no conhecimento 
objetivo do mundo real, e sim na base das imagens subjetivas deste mundo 
(LENCIONI, 2003). A corrente da percepção apresenta interação entre 
Geografia, Psicologia e Sociologia que buscam uma nova análise espacial, 
resgatando a totalidade do homem, evitando o seu reducionismo.” 
 
 
 
 
 
 
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2 DESENVOLVIMENTO 
 
O termo fenomenologia foi popularizado na tradição filosófica em função de 
Hegel (ZILLES, 2008). Hegel também foi o primeiro pensador a utilizar a palavra 
fenomenologia como indicador do conhecimento que a consciência tem de si mesma 
através dos fenômenos que lhe aparecem e Husserl além de manter o conceito 
kantiano e hegeliano fez ainda uma ampliação da noção de fenômeno 
(CHAUI,2010). 
Ainda sobre o conceito de fenomenologia existe o conceito de 
intencionalidade definido na obra, Dicionário Básico de Filosofia. 
“O projeto fenomenológico se define como uma “volta às coisas mesmas’’, 
isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como seu 
objeto intencional. O conceito de intencionalidade ocupa um lugar central na 
fenomenologia, definindo a própria consciência como intencional, como 
voltada para o mundo: “toda consciência é consciência de alguma coisa” 
(Husserl). Dessa forma, a fenomenologia pretende ao mesmo tempo 
combater o empirismo e o psicologismo e superar a oposição tradicional 
entre realismo e idealismo. Fenomenologia pode ser considerada uma das 
principais correntes filosóficas deste século [século XX], sobretudo na 
Alemanha e na França, tendo influenciado fortemente o pensamento de 
Heidegger e o existencialismo de Sartre, e dando origem a importantes 
desdobramentos na obra de autores como Merleau-Ponty e Ricouer”. 
(JAPIASSU; MARCONDES, 2001, p. 101) 
O caráter fenomenológico esteve e está presente, mesmo que timidamente no 
decurso histórico da Geografia desde a Antiguidade com os gregos, passando pelos 
clássicos da sistematização da Geografia vindo a ganhar destaque com a 
efervescência pela busca de novos paradigmas na segunda metade do século XX. 
Nogueira (2007). Nogueira afirma ainda que, de início, estas pesquisas se resumem 
em entender certas formas de percepção do meio ambiente e sua significação 
geográfica, passando posteriormente a demonstrar como o espaço era sentido e 
como era dividido. Ainda segundo a autora, com os diálogos das escolas 
deterministas e possibilitas os debates de percepção começaram a ganhar maior 
destaque. Não menosprezando a influência francesa os melhores avanços na 
perspectiva fenomenológica ocorreram nos países anglo-saxões que a valorizavam 
como sendo uma “contraproposta” às perspectivas da “revolução qualitativa”. 
Cabe uma ressalva à diferença entre a Geografia da Percepção [Nogueira 
(2007) traz outros nomes como Geopsicologia, Geosofia, etc. interpretados como 
desdobramentos dessa proposta e às perspectivas fenomenológicas. Ao se avaliar a 
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relação homem X meio com “olhares positivistas”, se estabelece, uma relação causal 
entre a percepção e o mundo real tendo nossos comportamentos definidos pela 
maneira como percebemos a realidade. Sendo que dessa forma o conhecimento 
produzido pela relação vivida é simplesmente ignorado. O que diferencia 
basicamente as novas teorias fenomenológicasdo pós-renovação geográfica é 
justamente essa ligação com filosofias orientadas à prática humanista, não 
aceitando um mundo objetivo independente da existência humana. 
A mesma interpretação acaba não ocorrendo em CORREA (2006 p.183) que 
incorpora a Geografia com base fenomenológica como sendo um desdobramento 
da perspectiva da Geografia da percepção. Segundo ele, a Geografia da Percepção 
faz parte de uma escola de pensamento com bases inspiradas no kantismo e 
positivismo e têm alguns de seus integrantes altamente comprometidos com um 
“humanismo subjetivista”. Ainda segundo o mesmo autor, os geógrafos radicais, 
sobretudo os Neomarxistas, combatem essa perspectiva, “alegando que ela foge da 
análise da realidade e conduz a reflexão a teorias alienadas e comprometidas com o 
psicologismo” dificultando qualquer ação social. 
É de se inferir que tal fato, é contraposto (com relação ao emprego do 
Neopositivismo) na perspectiva fenomenológica ao se trazer o conceito de 
“intencionalidade” que pressupõe que todo problema de consciência é intencional, 
não existindo uma consciência pura, separada do mundo real (Camargo & Elesbão, 
2004, p. 9). 
Esse aprisionamento no subjetivismo é apontado por uma série de Geógrafos. 
Nogueira (2007) tece uma crítica no sentido de que a geografia ao absorver a 
discussão da psicologia, priorizaria a mente e acabaria por omitir a realidade dada 
através da experimentação, da convivência entre homem e o lugar. Realiza-se uma 
crítica interessante ao afirmar que a Geografia da Percepção (acreditamos poder 
incluir nessa proposição também a fundamentada na fenomenologia) conforme o 
autor explica, ANDRADE (2006) (p. 184) “...apesar de encontrar divergências 
internas, encontra-se em ascensão, isto por que ela não contesta a ordem 
estabelecida e transfere ao individual, ao pessoal, muitos problemas considerados 
por outros grupos como sociais, não sendo contestatória à ordem dominante”. 
 
 
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Geografia e a filosofia estruturalista 
Inicialmente iremos compreender a filosofia estruturalista entendendo que se 
trata de uma das principais abordagens filosóficas nos envolvendo a entender a 
noção de Estrutura que teve alterações ao longo da história. 
Bastide (1971) nos apresenta uma história sobre o termo, iniciando com a sua 
origem etimológica que deriva do latim structura, um desdobramento do verbo 
struere, construir. Nesse primeiro momento, “estrutura” faz referência a um sentido 
arquitetônico, sendo o “modo pelo qual está construído um edifício”. No século XVII, 
a utilização da palavra se expande para dois sentidos. No primeiro sentido, o 
homem, estabelecendo semelhanças entre o corpo humano e sua constituição física 
(por exemplo, a disposição dos órgãos) e num segundo sentido, para as línguas, 
estabelece-se paralelos com a “distribuição das palavras na oração, ou na 
composição de um estilo poético”. A partir do século XIX este termo ultrapassa 
fronteiras e é, ampliado o entendimento para os interessados das ciências exatas, 
da natureza e dos homens em que, nesta última, a compreensão se deu como 
generalização das ciências da natureza. Somente na segunda metade deste século 
é que o termo ganha novos delineamentos, aproximando-se à compreensão de que 
temos atualmente. 
Nesse desenrolar, Bastide reconheceu que as outras influências como a 
escola de Chicago e pensamento da escola alemã não marxista, também 
contribuíram para a constituição do entendimento do termo sobre “estrutura”; porém, 
o autor marca o ano de 1930 como a data base de ruptura com a compreensão 
atrelada às morfologias sociais, para um entendimento que constituirá a filosofia 
estruturalista. 
O ano da publicação do livro de Freyer – 1930 – é uma data capital. Ela 
marca o término de uma etapa em nossa história e o início de outra, ou seja, a da 
inversão – praticamente que explosiva – da preocupação estruturalista em todas as 
ciências, e simultaneamente, a da mudança de sentido que a palavra iria sofrer sob 
a influência dos novos conhecimentos adquiridos no campo da lógica e da 
matemática. 
(BASTIDE, 1971, p. 05) Dosse (1994), “sistemas de relações”, “conjunto de 
elementos não redutíveis à sua soma”, “dependência das partes quanto ao todo” 
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Dois conflitos se evidenciam no desenrolar da filosofia estruturalista, que se 
desdobrarão na Geografia. O primeiro, determina o que é Estrutura, que pode ser 
vista como algo que está presente na “realidade concreta, um sistema de relações, 
[…] sintaxe das transformações possíveis”. O segundo se refere à compreensão de 
modelo: uma abstração da realidade, ou uma dedução mental em que se deseja 
fazer a contenção da realidade. 
O entendimento de Lévi-Strauss somado as primeiras compreensões de modelos 
foram as proposições que prevaleceram. Cabe, então, verificarmos algumas 
influências que este autor teve para entendermos seus desdobramentos no 
pensamento estruturalista. Lévi-Strauss recebeu fortes influências do Positivismo de 
Auguste Comte em que duas características chamariam sua atenção: 
A primeira, a necessidade de garantir o estatuto de Ciência para os estudos 
sobre a sociedade; e a visão holística, que se contrapunha ao pensamento da 
filosofia tradicional. Outro autor que o influenciou foi Emilie Durkheim com a 
construção da sociologia no início do século XX. Herdeiro da ambição globalizante 
comtiana, Durkheim dedicou parte de seu tempo ao campo das ciências do Homem, 
constituindo uma concepção de sociedade em que “um todo irredutível é à soma das 
partes” (DOSSE, 1994, p. 34). 
A segunda, a noção de sistemas e modelos obteve um êxito crescente, assim 
como a compreensão de estruturas, nas circunstâncias de constituição das ciências 
humanas na virada do século XIX para o XX. 
Essa afeição a Comte e Durkheim, autores influenciadores de Lévi-Strauss, nos 
servem para evidenciar a ambição que este autor teve em estabelecer uma 
metodologia inovadora às ciências humanas, que garantisse seu caráter científico, 
através da filosofia estruturalista. Por estas questões, é reconhecido o interesse na 
construção de leis gerais e formação de predileções, elementos constitutivos da 
ciência moderna, que busquem o dimensionamento da totalidade social. A partir 
dessa descrição sobre a adesão da teoria dos modelos na filosofia estruturalista, 
vemos que os modelos correspondem a representações aproximadas da realidade – 
esta constituída de uma essência contraditória – através do processo de abstração 
do real, objetivando a construção de um modelo que viabilize a manipulação da 
realidade. 
 
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Uma crítica à filosofia estruturalista 
Para o estruturalismo, a realidade é composta por diferentes estruturas onde, 
nos marcos do cientificismo, se expressam por meio de abstrações do real concreto 
pelos sistemas e modelos. A adoção da teoria dos modelos, recurso utilizado por 
Lévi-Strauss, foi a forma encontrada para garantir o status de ciência aos estudos 
estruturalistas. 
“Fato que se evidência ao nos referir ao período de 
surgimento do estruturalismo moderno que buscava esta 
fundamentação para os estudos sobre a sociedade, sem se 
utilizar dos métodos das ciências naturais, mas mantendo os 
preceitos da ciência moderna” (DOSSE, 1994). 
 “Os Modelos correspondem a generalizações 
resultantes da abstração da realidade empírica, sem que 
desconsidere as determinações estruturais do real que, para 
esta compreensão correspondem: a dimensão de totalidade, 
a noção de solidariedade entre os elementos componentes da 
Estrutura e o processo de autorregulação” (LEPARGNEUR, 
1972, p. 08). 
Oferecendo assim, condições que garantam a manipulação do realpara fins 
práticos pela modelagem. A fim de conquistar este objetivo, necessariamente alguns 
elementos que compõem a realidade devem ser abstraídos no processo de 
construção do modelo, sendo somente assim possível se obter, de maneira plena, a 
realização dele. Dessa forma ocorre um processo de escamoteamento de 
determinados elementos da realidade, Constitui-se, deste modo, uma falsa -ideia de 
equilíbrio da realidade – própria de uma análise sistêmica que tem sua noção 
originada nas ciências naturais, especificamente na Biologia, diante do processo de 
rompimento com a perspectiva mecanicista e inserção da noção de homeostasia. 
Concluímos que no momento em que a filosofia estruturalista se estabelece 
enquanto abordagem científica aos estudos da sociedade, se utilizando de 
protótipos mentais (sistemas e modelos), ela se ocupa “em 'estruturar' a sociedade 
moderna para conservar sua ordem”, comportando-se como uma “ideologia do 
status quo”, por atuar como força estabelecedora da ideologia do equilíbrio e da 
imobilidade. Além disto, a presença de elementos de abordagem biológica na 
análise social e cultural, impede-nos de realizar uma interpretação crítica da 
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realidade, fazendo com que valorizemos as aparências fenomênicas, 
desconsiderando a sua essência contraditória. 
Lefebvre considera o estruturalismo enquanto um “novo eleatismo” por 
negligenciar as análises sociais a mobilidade histórica, colocando no âmbito do 
impossível a modificação das condições postas. Estas opiniões exacerbam-se 
através dos estudos particularizados, se desvinculando da dimensão de totalidade, 
contribuindo para a constituição de uma ciência regular, aplicada para a manutenção 
da ordem estabelecida – já que a mudança não se põe enquanto possibilidade. O 
que visa, portanto, o novo eleatismo? Ele não quer mais contestar, como o antigo, o 
movimento sensível, negá-lo e rejeitá-lo para o aparente. Ele contesta o movimento 
na história. Ele não se contenta mais em negar a história como ciência; contesta a 
historicidade fundamental concedida por Marx ao considerá-la como uma ideologia 
desvalorizada. Este repúdio constitui a nova ideologia, apresentada com o 
vocabulário do rigor, da precisão, da ciência. Com a historicidade, caem a procura 
do sentido, a contradição dialética e o trágico. (LEFEBVRE, 1968, pp. 17-8) 
A Geografia e o estruturalismo 
A constituição da filosofia estruturalista se objetivava também em fornecer 
uma metodologia científica aos ramos que se dedicavam aos estudos das 
sociedades; onde, a utilização das Teorias dos Modelos (e dos Sistemas) 
correspondeu aos instrumentais definidores para esta finalidade. Porém, devemos 
analisar que as condições históricas desse processo, vinculadas com as alterações 
na produção de mercadorias, foram determinantes para que se utilizassem 
instrumentais que obtivessem “novas” explicações das condições postas, mantendo-
as ao invés de questioná-las. 
Da mesma maneira na Geografia, as transformações que ocorreram em seu 
interior não podem estar desvinculadas dessas mudanças nos modos de produção. 
A formatação de teorias geográficas que almejam alcançar certo “progresso” às 
sociedades, através de políticas de planejamento e ordenamentos territoriais, se deu 
no bojo dessas “enormes transformações ocorridas em todos os domínios 
científicos, após a Segunda Guerra Mundial.”; teorias que caracterizamos não sendo 
questionadoras da essência contraditória do capital. Observamos que a Geografia 
percorreu percurso análogo ao do estruturalismo: a busca pelo caráter científico por 
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meio das modelagens as análises sistêmicas, e a utilização de leituras sobre essa 
realidade reestabelecedora do status quo. 
Silva (1978) p87 “reitera que são a partir das alterações no âmbito 
das infraestruturas sociais do período pós 2ªGuerra que reacenderam, 
incisivamente, às discussões a cerca dos métodos e dos objetos da ciência 
geográfica, chegando a evidenciar uma crise contemporânea das ciências em 
geral; de um lado, o problema da renovação tecnológica, sob o foco da 
chamada 'terceira revolução industrial', cujas perspectivas estão sendo 
abertas, simbolicamente, pelas descobertas relacionadas ao átomo e pela 
cibernética; de outro, como consequência, ao impacto dessa 'revolução' sobre 
os campos dos conhecimentos científicos, tem acelerado o processo de 
maturação da crise contemporânea das ciências, crise essa que apresenta 
problemas específicos na área da Geografia”. 
 
Esta renovação tecnológica, citada por Silva, se apresentou na Geografia 
como sendo a revolução quantitativa (uma nova geografia), que teve um 
comportamento de contrapor a posição a Geografia tradicional questionando se esta 
não seria uma não geografia (SANTOS, 2002, p. 60). Através do aporte da 
matemática, o quantitativismo buscou dar força “a descrição, a objetividade e a 
predileção”(CHRISTOFOLLETI & OLIVEIRA, 1971, p. 07) através dos Sistemas e 
Modelos que já estavam sendo usados; sendo este o movimento de construção de 
uma Nova Geografia. 
Nos anos 50, quando ouve a unificação da teoria dos sistemas com o método 
quantitativo dentro da geografia, recebendo a alcunha de (Nova Geografia). “Essa 
unificação só foi possível graças à aplicação também das teorias dos modelos, a 
modelização”. (MENDONÇA, 1989, p. 45) Notamos, ainda que de forma indicativa, 
existe a presença de uma inconsistência em estudarmos a história do pensamento 
geográfico de maneira retilínea ou linear. Tendo em vista que a comunidade 
geográfica de maneira geral tinha como o objetivo, principalmente na década de 
1950, encontrar algo que indicasse o patamar de ciência à Geografia, todas as 
adesões metodológicas buscavam essa finalidade. Com a incorporação dos 
Modelos utilizados pela filosofia estruturalista e com o entendimento, desta 
abordagem, da realidade enquanto uma estrutura social dimensionando-a em 
subsistemas; a utilização da teoria geral dos sistemas (de von Bertalanffi) e a 
adesão de uma perspectiva matematizante na análise do geográfico, evidenciam 
que a história do pensamento geográfico não se processou de maneira evolutiva ou 
linearmente, mas sim de maneira catastrófica. 
Hartshorne, que possui grande relevância para história da Geografia, inovou 
incorporando em suas análises aspectos da filosofia neokantista que teve como 
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desdobramento uma perspectiva funcionalista, em outros autores. Algumas 
características do pensamento hartshorniano, nos possibilita reconhecer a presença 
de certos elementos citados anteriormente, demonstrando que o desenrolar histórico 
da Geografia se deu de forma entrelaçada a diferentes posturas teórico-
metodológicas e que não se opunham. A partir desta descrição feita por Andrade 
(1977) sobre alguns problemas da incorporação da teoria geral dos sistemas à 
Geografia, podemos observar algumas características que se assemelham em 
diferentes abordagens, como a noção de equilíbrio para as análises sociais que 
partem da visão organicista, assim como, o entendimento de que a realidade se 
comporta de maneira imóvel: A visão sistêmica, a aplicação da teoria geral dos 
sistemas à Geografia, apresenta vários aspectos positivos ao lado de muitos outros 
negativos. Primeiramente, não existe certa uniformidade nesta teoria, e em segundo 
lugar, ela tem uma base organicista, tendendo a confundir o sistema social com um 
organismo e em terceiro lugar ela procura fazer um diagnóstico do que e existente e 
estabelecer a meta do desejado, procurando estabelecer mostrar caminho para 
atingir esta meta. (CHURCHMON, 1972). 
 Assim, o desejado pelas classes dominantes pode se contrapor de forma 
radical, ou ao menos se diferenciar do que é desejadopelas classes dominadas pelo 
proletariado. Também devemos observar que a Geografia, sendo considerada pelos 
seus principais líderes como uma ciência de síntese, já encarava os fatos como 
complexos e procurava analisa-los como um sistema, embora não usasse esta 
expressão antes dos trabalhos de Bertalanfy (1973). 
(ANDRADE, 1977, p. 15,) “A teoria aos sistemas leva a um 
raciocínio dentro de uma lógica formal, que encara os fatos como 
estáticos e não como resultado de um processo que está em 
permanentemente evolução, e em transformação. Talvez fosse 
mais interessante analisar e estudar os fatos geográficos e 
econômico-sociais dentro de uma lógica dialética, como o faz a 
escola hegeliana”. 
 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
Podemos inferir que o entendimento é de que na incessante busca da ciência 
geográfica em se afirmar enquanto uma Ciência, a utilização de recursos da 
matematização, modelagens e teoria dos sistemas construíram uma análise 
geográfica que se concentrou em reconhecer as estruturas formadoras do real 
empírico e, diante disto, aperfeiçoá-las a fim de obter um avanço melhor. Dessa 
maneira, não se tinha como preocupação a realização de uma análise crítica a 
lógica contraditória da estruturação da realidade social, a lógica do capital, e assim 
motivar sua transformação; ao contrário, permaneciam no âmbito do 
reconhecimento, descrição e melhoramento das estruturas. Com isto, reconhecemos 
a necessidade de acatar a sugestão feita por Andrade que aponta para a 
importância da utilização, como fundamento de uma metodologia geográfica, a 
lógica da mobilidade, a lógica dialética. Sem perder de vista que boas partes das 
análises geográficas ainda se encontram delimitadas, pelo que Silva (1988, p. 06) 
chamou de “impasse aristotélico-kantiano”. Ou almejemos uma Geografia que 
subverta a ordem da mercadoria, ou permaneceremos enquanto reguladores do 
capital. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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