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Paradigmas estruturalistas e pós-
estruturalistas
Os fundamentos teóricos das ciências humanas e as características singulares de sua epistemologia.
Prof. Rodrigo Perez
1. Itens iniciais
Propósito
Instrumentalizar analistas dos movimentos intelectuais do século XX, demonstrando como se pode discutir e
utilizar em seu trabalho.
Objetivos
Identificar a modernidade epistemológica e a matriz dos paradigmas teóricos estruturalistas.
Listar as principais características conceituais dos paradigmas teóricos estruturalistas.
Reconhecer como a crise dos valores racionalistas do século XX é a matriz dos paradigmas teóricos 
pós-estruturalistas.
Introdução
As ciências sociais e humanas possuem suas particularidades epistemológicas quando comparadas às
ciências exatas e biológicas. Uma dessas particularidades aponta para o jeito de observar o objeto estudado:
a aproximação com o objeto acontece de forma mediada pelo que costumamos chamar de paradigmas
teóricos –as formas de pensar a realidade que possuem dimensão não apenas epistêmica, mas também
política. 
Toda teoria é também um projeto político e, por isso, são tão comuns os conflitos teóricos/políticos nas
ciências sociais e humanas. É como se o paradigma teórico fosse o pressuposto da análise, as premissas
existenciais, um tipo de lente que o cientista aciona, consciente ou inconscientemente, em seus esforços de
visualização do objeto. 
Se observamos o objeto a partir de determinado paradigma teórico, visualizamos a realidade de um jeito. Se o
fazemos à luz de outro paradigma teórico, a realidade é diferente. 
São os paradigmas teóricos estruturalistas e pós-estruturalistas. Neste estudo, estamos interessados em
compreender as diferenças entre duas racionalidades teóricas distintas que marcam a história das ciências
sociais e humanas desde o final do século XIX. 
Dividimos nossa reflexão em quatro partes: compreendemos como a modernidade epistemológica que se
afirmou ao longo do século XVIII serviu como contexto para o surgimento da racionalidade teórica
estruturalista. Em seguida, estudamos as principais características conceituais dos paradigmas teóricos
estruturalistas, como a sociologia durkheimiana, a antropologia lévi-straussiana, o materialismo histórico e a
linguística de Ferdinand Saussure. Depois, examinamos a crise do cientificismo ao longo do século XX, que
levou ao colapso a racionalidade teórica estruturalista, servindo como matriz para a racionalidade teórica pós-
estruturalista. Por último, analisamos as principais características conceituais dos paradigmas pós-
estruturalistas. 
• 
• 
• 
Frontispício da Encyclopédie (1772) demonstra, pela
figura do centro, a verdade — rodeada por luz intensa
(o símbolo central do iluminismo).
1. Paradigmas teóricos estruturalistas
Definindo a modernidade
O conceito
“A filosofia da história, mediante a qual o burguês antecipa o fim da crise, garantia que a decisão esperada
expressava um juízo moral, pois ‘a razão prática reinante’, como dizia Kant, era capaz de fornecer a
interpretação ‘autêntica da história’ – uma história como processo moralmente legal” (KOSELLECK, 1999, p.
138).
No livro Crítica e crise, o historiador alemão Reinhart Koselleck apresenta uma sofisticada interpretação
daquilo que aprendemos a chamar de modernidade. À luz das considerações de Koselleck, podemos definir a
modernidade como uma condição geral de existência (envolvendo aspectos sociais, políticos, culturais e
econômicos), que começa a se afirmar na Europa ocidental no século XVI e se consolida plenamente no século
XVIII.
Um selo impresso no Quirguistão mostra cena do filme "Tempos Modernos", de
Charles Chaplin, que satiriza a industrialização mostrando a adequação da
sociedade americana diante da nova realidade social.
Segundo Koselleck, a principal característica da modernidade foi a construção de uma forma de tratar o tempo
histórico segundo a qual a história é um processo em eterno movimento progressivo, impulsionado para o
futuro entendido como o lugar da utopia e do progresso. 
Esse seria o fundamento da filosofia da história
moderna, que costumamos chamar de 
iluminismo, de que Koselleck fala na citação e
que encontrou no filósofo alemão Immanuel
Kant (1724-1804) seu principal representante.
A força propulsora desse movimento do
processo histórico seria a razão, entendida
como algo intrínseco à natureza humana, o que
fica claro no termo que o iluminismo inventou
para definir a biologia do ser humano: Homo
sapiens, que, apesar de aparentemente
pertencer ao vocabulário biológico, é categoria
filosófica, que trata o humano como um ser
naturalmente dotado de capacidade racional.
Evolução, Razão e Progresso estão entre as
categorias que expressam os valores de
modernidade eufórica com a capacidade humana de dominar racionalmente a realidade.
Friedrich Nietzsche, por volta de 1875.
Retrato do óleo de René Descartes sobre tela 75,5 cm x
68,5 cm Musée du Louvre, Paris.
A modernidade, portanto, trata a razão e a ciência como vetores do progresso e da evolução. Era esse
otimismo que Friederich Nietzsche (1844-1900) tinha em mente quando, em sua avaliação irônica e crítica da
modernidade, escreveu no livro Além do bem e do mal, publicado em 1886, que nos tempos modernos
significa “Deus estava morto”.
Esse aforismo costuma ser mal compreendido,
como se Nietzsche estivesse decretando a
morte de Deus como ser existente. O
significado da frase é bastante diferente, pois
indica que a modernidade, rompendo com a
cosmovisão medieval, “matou Deus” na medida
em que não mais pensava a realidade a partir
da vontade e do arbítrio divinos.
No lugar antes ocupado por Deus, como
organizador e pleno conhecedor do mundo, a
modernidade colocou a racionalidade científica.
É como se tivesse acontecido, ainda segundo
as considerações de Nietzsche, um
“desencantamento” do mundo, seguido de um
“reencantamento”.
Diante deste novo cenário, observe a seguir algumas características que lhe são devidas:
O desencantamento seria a laicização do
pensamento, que tirou de Deus o
monopólio da potência cognitiva,
transferindo-o ao método científico.
O reencantamento teria acontecido pela
canonização da ciência como nova
detentora do saber perfeito, algo que
chegou ao limite na filosofia positivista
formulada por Auguste Comte
(1798-1857), que fundou uma igreja
ateia, na qual o objeto de culto era a
ciência.
Foi nesse clima de euforia e de crença no potencial progressista da razão que se formulou a ciência como hoje
a conhecemos. 
O filósofo francês René Descartes (1596-1650)
verbalizou com precisão essa atmosfera de
crença na ciência no livro Discurso sobre o
método, publicado em 1650. No texto, o autor
opera o deslocamento da autoridade
epistemológica da qual falamos há pouco.
A possibilidade do conhecimento perfeito foi
deslocada de Deus para o método. O cientista,
então, seria o operador do método e, se o
procedimento for realizado da mesma forma
por cientistas distintos, a ideia é que os
resultados alcançados sejam os mesmos.
É nesse sentido que Descartes idealiza um
cientista pretensamente universal, incorpóreo,
pois independentemente de gênero, raça,
latitude e longitude, o sujeito do conhecimento é o operador do método. Qualquer impossibilidade de
conhecer determinado objeto não é mais explicada pelo mistério divino, mas sim pela insuficiência
metodológica. 
A promessa da ciência cartesiana, portanto, apontava para a possibilidade do conhecimento
perfeito, desde que os cientistas controlassem os procedimentos metodológicos adequados. 
É aqui, neste ponto, que a formulação cartesiana se encontra com a ideia de processo histórico progressivo: o
avanço da história é o avanço da ciência, sendo a utopia o futuro no qual a ciência é tão desenvolvida a ponto
de ser capaz de planificar racionalmente a totalidade da existência humana. 
Escola de Atenas, de Rafael (1483-1520).
A racionalidade estruturalista é um dos produtos dessa atmosfera de euforia com a ciência e crença no
potencial ilimitado da racionalidade humana,como afirmou François Dosse, autor de um trabalho
paradigmático sobre a história dos estruturalismos. Para o autor:
As razões desse êxito espetacular dependeram essencialmente do fato de que o estruturalismo se
apresentou como método rigoroso que podia ocasionar esperanças a respeito de certos progressos
decisivos no rumo da ciência. [...] O triunfo do paradigma estruturalista resulta, em primeiro lugar, de um
contexto histórico marcado, desde o século XIX, pela tendência do ocidente a uma temporalidade
progressiva.
(DOSSE, 1993, p. 13)
A articulação, portanto, entre temporalidade progressista e euforia racionalista criou um tipo de demanda para
os estudos sociais que a racionalidade estruturalista atendeu perfeitamente: um método capaz de justificar o
ingresso dessas disciplinas no concerto das ciências estabelecidas, todas fundadas, em alguma medida, na
lógica cartesiana. 
Características da racionalidade estruturalista
Definição
A racionalidade estruturalista pode ser definida a partir das seguintes características:
Primeira característica
A premissa de que as sociedades humanas funcionam como sistemas
estruturais cuja mecânica é impulsionada por leis orgânicas. Caberia,
então, às ciências interesses nos estudos das sociedades trazerem à luz
a dinâmica de funcionamento estrutural. 
Segunda característica
São consideradas como estruturadas e estruturantes. 
São estruturadas na medida em que existem como estruturas,
construídas lentamente em um processo de longuíssima temporalidade.
São estruturantes porque são capazes de condicionar o comportamento
e a ação dos atores sociais, mesmo que seja à revelia de suas
consciências. As pessoas, portanto, em suas vidas cotidianas,
reproduziriam inconscientemente os valores estruturais, como aqueles
veiculados pela linguagem, pelas crenças religiosas, pelas normas de
conduta moral, pelo senso estético. 
Terceira característica
Os indivíduos não são considerados em suas singularidades. Ou seja, a
racionalidade estruturalista não está interessada naquilo que as pessoas
têm de específico, mas sim naquilo que possuem em comum. Em última
instância, a racionalidade estruturalista trata os indivíduos como
epifenômenos, como reflexos dessas estruturas. Por isso, o recorte de
análise da abordagem da análise científica estruturalista é sempre
macrossocial, jamais se restringindo aos indivíduos ou a grupos sociais
pequenos. A escrita biográfica, por exemplo, é um gênero de saber
considerado de menor importância científica pela racionalidade
estruturalista.
Quarta característica
A ciência de ambição estruturalista é dotada de grande pretensão a
respeito da capacidade da razão em produzir conhecimento sobre
objetos complexos. Por isso, o estruturalismo nasce como racionalidade
científica hegemônica no contexto de afirmação da modernidade
iluminista que, como sabemos, é eufórica em relação ao potencial do
conhecimento científico em desvelar os mistérios do mundo e promover o
progresso.
Essa racionalidade estruturalista se manifestou entre o final do século XIX
e o fim do século XX em diversos paradigmas teóricos, nas mais variadas
disciplinas dos estudos sociais, tais como a sociologia, a história, a
antropologia e a linguística. No próximo módulo, estudaremos esses
paradigmas.
Vamos praticar?
Antes de praticar, vamos ouvir o professor Rodrigo Perez falando sobre a construção da modernidade
epistemológica e a racionalidade estruturalista. 
A modernidade e o estruturalismo
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Atividade discursiva
Agora, vamos praticar a escrita. Lembre-se de que é fundamental que você procure praticar, pois a
competência escritora é importante para consolidar o papel assumido pelas reflexões teóricas.
 
Segundo François Dosse, o êxito da racionalidade estruturalista se explica pela dinâmica da própria
modernidade. À luz da consideração de Dosse, discuta as principais características da racionalidade
estruturalista.
Chave de resposta
Você deve compreender que o fundamento da reflexão de Dosse associa o estruturalismo à temporalidade
progressista e à euforia moderna com a racionalidade científica. Sendo assim, o estruturalismo opera com
as premissas do funcionamento social sistêmico, da existência de estruturas estruturadas e estruturantes,
que condicionam o comportamento social à revelia da consciência dos atores sociais.
Vamos ouvir o professor Rodrigo Rainha comentando essa questão.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para ouvir o áudio.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Conceito de estruturalismo
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Racionalidade estruturalista
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Assinale entre as alternativas a seguir a que melhor define o lugar ocupado pela racionalidade científica nos
valores modernos.
A
Nos valores modernos, a ciência é definida como a manifestação da onisciência divina, o que fez com que a
modernidade tenha mantido os valores epistemológicos herdados da Idade Média.
B
Nos valores modernos, a ciência é definida como a manifestação da revolução dos trabalhadores, o que fez
com que a modernidade tenha aderido à orientação ideológica comunista formulada no século XIX.
C
Nos valores modernos, a ciência é tratada como a ofensa aos valores tradicionais, tais como eram pregados
pela Igreja Católica, o que demonstra o apego da modernidade à religiosidade cristã.
D
Nos valores modernos, a ciência é tratada como vetor do progresso, o que fez com que o conhecimento
científico tenha se tornado objeto de grande euforia e expectativa de progresso.
E
Nos valores modernos, a ciência é tratada como vetor do atraso rumo ao obscurantismo medieval, já que na
modernidade o esoterismo fomentou forte sentimento anticientífico.
A alternativa D está correta.
A ciência e a razão se tornaram os grandes valores modernos, compreendidos como vetores do progresso
e evolução humana.
Questão 2
 
No livro Discurso sobre o método, publicado em 1650, o filósofo francês René Descartes verbalizou a grande
característica da cultura científica moderna. Assinale, entre as alternativas a seguir, a que melhor apresenta o
argumento de Descartes.
 
A
Para Descartes, o método, entendido como procedimento objetivo, é o detentor da autoridade cognitiva.
B
Para Descartes, o cientista, entendido como sujeito dotado de subjetividade, é o detentor da autoridade
cognitiva.
C
Para Descartes, Deus, entendido como potência onisciente, é o detentor da autoridade cognitiva.
D
Para Descartes, o povo, entendido como potência de soberania política, é o detentor da autoridade cognitiva.
E
Para Descartes, a Igreja Católica, entendida como instituição autorizada para interpretar os desígnios divinos,
é a detentora da autoridade cognitiva.
A alternativa A está correta.
Em Descartes, o procedimento metodológico é o detentor da autoridade cognitiva, o que sugere que o
método, independentemente da subjetividade do cientista, é o caminho para a verdade do objeto.
2. Paradigmas teóricos estruturalistas
Em busca dos paradigmas
Durkheim
“É preciso que nossa sociedade retome a consciência de sua unidade orgânica. Muito bem, senhores, creio
que a sociologia está, mais do que qualquer outra ciência, em condições de restaurar essas ideias”
(DURKHEIM, 1888, p. 48).
Em 1895, Émile Durkheim (1858-1917) escreveu o livro As regras do método sociológico, texto que ficou
conhecido como o tratado de fundação da sociologia científica.
Émile Durkheim.
Capa da edição francesa de As regras do método sociológico.
O projeto durkheimiano de transformar a sociologia em uma disciplina autônoma bebe na fonte das
discussões teóricas desenvolvidas inicialmente na filosofia positivista de Auguste Comte (1798-1857).
O sistema filosófico desenvolvido por Auguste Comte é um dos principais dos tempos modernos e traduzo
otimismo científico característico da modernidade. O ponto de partida do pensamento comtiano foi uma
reflexão sobre a contradição interna da sociedade do seu tempo. 
O lema Ordem e Progresso brasileiro é inspirado no lema do positivismo de Auguste
Comte: “Amor como princípio e ordem como base; Progresso como meta".
Auguste Comte, por Tony Touillon.
Como esse momento histórico é caracterizado pela generalização do pensamento científico e da atividade
industrial, Comte acredita que o único meio de pôr fim à crise é acelerar o devir, criando o sistema de ideias
científicas que presidirá a ordem social vigente. 
Atenção
Em virtude do grande sucesso que as ciências naturais como a física, a química e a biologia tiveram na
época, o positivismo apresentou uma primeira tendência de definir as ciências sociais como um
desdobramento das ciências naturais. 
Antes de criar o termo “sociologia”, o próprio Comte chamou de “física social” as suas análises da sociedade.
Porém, em um segundo momento, o positivismo estabeleceu diferenças entre os fatos sociais, que dizem
respeito às questões humanas, e os fatos naturais, que dizem respeito aos acontecimentos exteriores aos
homens. 
Na esteira das reflexões de Comte, portanto, Durkheim formulou pela primeira vez os termos de um
paradigma estruturalista. 
Como ocorre em uma torcida, os fatos sociais atingem
um grupo social e, portanto, são coletivos e não
individuais.
A premissa fundamental dizia que a sociedade é uma “unidade orgânica”, cujo funcionamento deveria ser
compreendido pela razão. Tratava-se de um tipo de método científico, portanto, com grande potencial
heurístico, capaz de debruçar sobre realidades sociais ampliadas.
A partir do século XIX, em diversos campos das ciências sociais, paradigmas estruturais diferentes
propuseram esse tipo de ambição epistemológica. Nosso objetivo aqui é estudar as particularidades de cada
um deles, começando pela sociologia durkheimiana.
A sociologia durkheimiana
Toda a discussão teórica proposta por Durkheim está fundada na concepção de “fato social”, que seria o
objeto do novo campo científico que estava se afirmando na época. É, justamente, na definição de “fato
social” que podemos perceber os fundamentos da racionalidade estruturalista delineados pelo autor. 
Para Durkheim, existe “[...] uma ordem de fatos
que apresentam características muito
especiais: consistem em maneiras de agir, de
pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e
que são dotadas de um poder de coerção em
virtude do qual esses fatos se impõem a ele.
Por conseguinte, eles não poderiam se
confundir com os fenômenos orgânicos, já que
consistem em representações e em ações; nem
com os fenômenos psíquicos, os quais só têm
existência na consciência individual e através
dela. Esses fatos constituem portanto uma
espécie nova, e é a eles que deve ser dada e
reservada a qualificação de sociais”
(DURKHEIM, 2007 [1895], p. 03-04).
Na reflexão de Durkheim, o fato social é
diferente de outros, dos “fatos orgânicos”,
inerentes à biologia humana, e dos “fatos
psíquicos”, pertencentes à esfera da subjetividade individual. Ao delimitar a especificidade do “fato social”,
Durkheim está querendo demarcar as particularidades do método científico que seria adequado ao estudo
desse objeto.
Queremos, especialmente, entender como o “fato social” durkheimiano traduz a racionalidade estruturalista,
podendo mesmo ser considerada sua inauguração em termos teórico/metodológicos mais sistematizados. 
Saiba mais
A primeira característica do fato social afirma o seu poder sobre os indivíduos, coagindo-os a seguirem,
ainda que inconsciente e independentemente de suas escolhas, as regras da sociedade em que vivem.
Essa força se manifesta, por exemplo, quando um indivíduo aprende na infância a falar, a ler e a escrever
em seu idioma nativo, quando é criado e se submete a um determinado tipo de formação familiar ou
quando está subordinado a certo código de leis ou regras morais. Nessas circunstâncias, o ser humano
experimenta a força da sociedade sobre si. 
A força coercitiva dos fatos sociais torna-se evidente pelas sanções legais ou espontâneas a que o indivíduo
está sujeito quando tenta rebelar-se contra ela. Observe a seguir a minúcia de cada um.
Legais
São as sanções prescritas pela sociedade sob a
forma da lei, na qual se define a infração e se
estabelece a penalidade correspondente.
Espontâneas
São as que afloram como resposta a uma
conduta considerada inadequada por um grupo
ou sociedade.
Outra característica do fato social é a sua externalidade. Durkheim afirma que é externa porque é coletiva,
como a religião ou o sistema econômico, por exemplo, independentes dos indivíduos, que já os encontram
prontos quando nascem e que morrerão antes que esses deixem de existir. Ou seja, existem fora dos
indivíduos e são internalizados pelo processo de socialização.
Atenção
Essas maneiras de agir e pensar são, além de externas, capazes, pelo seu poder coercitivo, de obrigar
um indivíduo a adotar um comportamento determinado. A coerção pode se manifestar direta ou
indiretamente. 
A racionalidade estruturalista desenhada por Durkheim influenciou muitos nomes importantes dos estudos
sociais desenvolvidos ao longo do século XX, tais como Claude Lévi-Strauss (1908-2009) e Pierre Bourdieu
(1930-2022).
Lévi-Strauss e Bourdieu
Antropologia estruturalista
Tanto nos escritos de Lévi-Strauss como nos de Pierre Bourdieu, podemos perceber as heranças do
estruturalismo durkheimiano. 
Claude Lévi-Strauss em 2010.
Pierre Bourdieu em 1969.
Na vasta obra de Lévi-Strauss, percebemos, talvez, a que tenha sido a mais sofisticada formulação da
racionalidade estruturalista já conhecida. Priorizamos as críticas que o antropólogo fez à ciência histórica,
sobretudo, nos textos História e etnologia, de 1949, Raça e História, de 1952, As descontinuidades culturais e
o desenvolvimento econômico, de 1960, as entrevistas com Georges Charbonnier (1961), e os dois últimos
capítulos de O pensamento selvagem, de 1962.
Nas palavras do próprio Lévi-Strauss: 
Pois tudo indica que, ao menos desde o Iluminismo, a história exerça um certo imperialismo entre nós,
apoiado sobre a suposta certeza de que a única forma de compreensão dos fatos humanos passa
necessariamente pela recuperação do processo que fez com que chegassem a ser como são. E como
acreditamos, nós próprios, apreender nosso devir pessoal como uma mudança contínua, parece-nos que
o conhecimento histórico vem ao encontro da evidência mais íntima. [...] O evolucionismo não é bem
uma "teoria", mas uma "ideologia", ou seja, "um modo de organizar o conhecimento do mundo […], uma
visão de mundo, mais geral, que […] permeou todas as disciplinas nos últimos duzentos anos”
(STRAUSS, 1962, p. 292)
Segundo Lévi-Strauss, os historiadores analisam as sociedades humanas pela lógica da transformação. Já que
a história seria um processo em constante movimento, as sociedades deveriam ser estudadas pela premissa
da mudança.
A perspectiva de Lévi-Strauss é bem diferente, pois ele parte do princípio de que existem estruturas que
organizam a vida social e se transformam muito lentamente, na medida em que essa estruturação se daria à
revelia da vontade e da consciência dos atores sociais. 
Comentário
A história seria, então, mais de permanências do que de transformações, sendo o objetivo do cientista
da sociedade mostrar como essas estruturas têm grande capacidade de sobrevivência no tempo e no
espaço, podendo ser encontradas em grupos que viveram em diferentes épocas e que vivem em
diferentes territórios. 
Por isso, o tema preferido para Lévi-Strauss é a religião, também largamente estudada por Durkheim, que
afirmou que as religiões primitivas estabeleceram estruturas que podem ser encontradas, com poucas
variações, em todos os sistemas religiosos. 
O estruturalismo, nesse sentido, está
preocupado em compreender aquilo que a
sociedades humanas possuem em comum, pois
entendem que as eventuais transformações são
superficiais, pois as“estruturas profundas”,
para usar as palavras do próprio Lévi-Strauss,
seriam mantidas relativamente inalteradas. 
O habitus de Pierre Bourdieu
O sociólogo francês Pierre Bourdieu é outro
importante nome dos estudos sociais
desenvolvidos ao longo do século XX. Tendo produzido ampla e diversificada obra, explorando temas desde o
funcionamento dos campos científico e artístico até o sistema educacional e a dimensão sociológica da mídia
televisiva na sociedade moderna de massa, Bourdieu é um dos mais sofisticados herdeiros da racionalidade
estruturalista.
As marcas do estruturalismo na obra de Bourdieu se manifestam especialmente no conceito habitus, presente
em praticamente todos os trabalhos do sociólogo:
O habitus preenche uma função que, em uma outra filosofia, confiamos à consciência transcendental: é
um corpo socializado, um corpo estruturado, um corpo que incorporou as estruturas imanentes de um
mundo ou de um setor particular desse mundo, de um campo, e que estrutura tanto a percepção desse
mundo como a ação nesse mundo. [...] E quando as estruturas incorporadas e as estruturas objetivas
estão de acordo, quando a percepção é constituída de acordo com as estruturas do que é percebido,
tudo parece evidente, tudo parece dado. É a experiência dóxica pela qual atribuímos ao mundo uma
crença mais profunda do que todas as crenças (no sentido comum) já que ela não se pensa como uma
crença.
(BOURDIEU, 1996, p. 144)
O habitus seria a estrutura “incorporada” na materialidade da vida social por todos os indivíduos, mesmo que
eles não se deem conta.
Observe a seguir o habitus, que é uma subjetividade socializada, por um mesmo sujeito em diferentes espaços
sociais.
A incorporação é tão profunda que o habitus chega a ser tratado por Bourdieu como uma espécie de
“segunda natureza”, ou uma “natureza socializada”, pois os indivíduos não se dão conta de que aqueles
valores e as convicções tão arraigados são elaborações e representações sociais.
Atenção
O habitus, portanto, é a estrutura estruturada e estruturante que condiciona e prefigura o
comportamento social. 
A racionalidade estruturalista se manifestou, ainda, em outros modelos teóricos nos estudos sociais, como o
materialismo histórico de dimensões marxistas representado por Louis Althusser (1918-1990) e na teoria da
linguagem desenvolvida por Ferdinand de Saussure (1857-1913).
O estruturalismo do materialismo histórico
Althusser
Althusser afirma que todas as sociedades humanas são estruturalmente organizadas naquilo que o autor,
ecoando Marx e Engels, chama de “modo de produção”, que é a forma como se organiza a produção e a
distribuição da riqueza material. Na modernidade, essa estrutura é caracterizada pela dominação de uma
classe sobre a outra, da burguesia sobre o proletariado, o que faz com que a riqueza material seja
desigualmente distribuída.
Nas palavras do autor:
Toda formação social concreta depende de um modo de produção
dominante. Esta afirmação implica que se existe um modo de produção
dominante, existem outros modos de produção que não são dominantes,
modos de produção dominados. Destes denominados “dominados” uns são
subsistentes da formação social anterior, outros são os novos modos que
nascem da formação atual em forma germinal. É possível observar nas
formações sociais uma complexidade contraditória de seus fatos empíricos
e, também, um enfrentamento de tendências igualmente contraditórias,
todas evidenciadas pela sua história (transformações políticas, econômicas
etc.). Isso é devido, justamente, à pluralidade nos modos de produção, a
dominância de um modo de produção presente sobre os antigos
(reabsorvidos) e os novos.
(ALTHUSSER, 1999, p. 44)
Para que essa estrutura continue existindo, ela precisa de aparelhos de dominação que mantenham os
explorados sob controle, em seu lugar na estrutura capitalista. Althusser fala em dois tipos de aparelhos de
dominação: 
Aparelhos Repressivos do Estado (ARE)
Agem massivamente pela força e
secundariamente pela ideologia, são eles:
governo, exército e prisões.
Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE)
Agem massivamente pela ideologia e
secundariamente pela força, são eles: religioso,
familiar, escolar, jurídico, político, sindical, da
informação e cultural.
Para Althusser, a ideologia tem uma existência material, ou seja, ela existe a partir de determinadas práticas
materiais reguladas por instituições materiais. 
Saussure
Entre 1906 e 19011, Saussure ministrou na Universidade de Paris o seu Curso de Linguística Geral, que viria a
ser publicado postumamente em 1916. No curso, o professor tratou das regras da linguística, campo
disciplinar ainda em consolidação na época. Segundo Saussure, “língua” e “fala” estão em oposição uma à
outra:
Língua
É a estrutura comum, cuja função é mediar a
relação dos seres humanos com a realidade,
fazendo-se presente em toda e qualquer
cultura.
Fala
É a expressão singular de cada cultura, é a
variável no uso prático da linguagem.
Caberia à ciência da linguagem, então, estudar a língua, em perspectiva diacrônica (em sua historicidade) e
em perspectiva sincrônica (seu funcionamento sistêmico). Segundo Saussure:
A língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros. Ela está
depositada como produto social na mente de cada falante de uma
comunidade e possui homogeneidade. Por isto é o objeto da linguística
propriamente dita. Diferente da fala que é um ato individual e está sujeito a
fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis
de análise.
(SAUSSURE, 1993, p. 23)
Também na ciência histórica, a racionalidade estruturalista foi hegemônica ao longo do século XX, com o
movimento historiográfico que ficou conhecido como Escola dos Annales. 
A história social francesa
Escola dos Annales
Em 1929, os jovens historiadores medievalistas franceses Marc Bloch (1886-1944) e Lucien Febvre
(1878-1956) fundaram uma revista acadêmica especializada nos estudos históricos, intitulada Annales
d’histoire économique et sociale.
Marc Bloch.
Lucien Febvre.
A revista reuniu diversos pesquisadores de outros campos disciplinares, incluindo o sociólogo durkheimiano
Maurice Halbwachs. Com o tempo, o periódico se fortaleceu, ganhou prestígio e se tornou símbolo do mais
importante movimento historiográfico da historiografia moderna, conhecido como Escola dos Annales. 
Comentário
A proposta era formular uma historiografia interdisciplinar e que priorizasse os aspectos sociais e
econômicos das experiências humanas. Os Annales recusavam produzir uma análise centrada apenas
nos fatos passados, pois consideravam o evento a “espuma da história”, na formulação bastante
conhecida de Fernand Braudel, um dos mais destacados membros da Escola dos Annales. 
Tratava-se, então, de uma “história total” capaz de conectar os diversos aspectos das experiências humanas
no tempo e lançava luz sobre a dinâmica dos processos históricos de longa temporalidade. 
No livro Apologia da história, o texto mais emblemático de toda a bibliografia produzida pela Escola dos
Annales, Marc Bloch deixou clara a influência durkheimiana nesse projeto historiográfico:
Ilustração do senso sistêmico e abstrato de
comunidade.
Diz-se algumas vezes: "A história é a ciência do passado." É [no meu modo de ver] falar errado. [Pois, em
primeiro lugar,] a própria ideia de que o passado, enquanto tal, possa ser objeto de ciência é absurda.
[...] o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular,
favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da
diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas,] por
trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas
daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será
apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde
fareja carne humana, sabe que ali estáa sua caça.
(BLOCH, 2001, p. 53-54)
Segundo Bloch, o objeto de estudos da história não é o passado, nem o homem, no singular. Trata-se de um
estudo sobre os “homens no tempo”, da coletividade humana em seu processo histórico de longa
temporalidade. 
Os Annales são herdeiros da teoria sociológica durkheimiana, que chegou aos historiadores por
intermédio de sociólogos como o já citado Maurice Halbwachs e François Simiand.
Como percebemos, a racionalidade estruturalista teorizada por Émile Durkheim, a partir de seu diálogo com a
filosofia positivista de Auguste Comte, teve vida longa nos estudos sociais ao longo do século XX. 
Tratava-se de uma orientação teórica
ambiciosa em relação ao potencial da ciência
em conhecer o funcionamento total e sistêmico
das sociedades humanas. O estruturalismo,
portanto, é um dos produtos da euforia
racionalista moderna, que se esgotou na
segunda metade do século XX, levando a
própria racionalidade estruturalista à situação
de crise. É isso que estudaremos no próximo
módulo.
Vamos praticar?
Antes de praticar, vamos ver como o professor Rodrigo Perez lida com a complexa lista de autores que nos
ajudam a entender o estruturalismo.
Os pensadores estruturalistas
O professor Rodrigo Perez dialoga com os autores do estruturalismo, costurando o centro dos debates que
observamos até aqui.
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Atividade discursiva
Agora, vamos praticar a escrita. Lembre-se de que é fundamental que você procure praticar, pois a
competência escritora é importante para consolidar o papel assumido pelas reflexões teóricas.
 
A concepção durkheimiana de “fato social” traduz a racionalidade estruturalista. Por outro lado, foi no diálogo
crítico com os historiadores que Claude Lévi-Strauss desenvolveu uma das principais marcas teóricas da
racionalidade estruturalista. Já Aa obra do sociólogo francês Pierre Bourdieu, trata a racionalidade
estruturalista se manifestou conceito habitus. Relacione os conceitos desenvolvidos pelos três autores e
discuta os paradigmas do estruturalismo.
Chave de resposta
A concepção durkheimiana de “fato social” está baseada na ideia de que o comportamento individual é
estruturado por forças que independem da agência e da vontade dos sujeitos, e que agem à revelia de
suas consciências. Lévi-Strauss, criticando os historiadores, propôs que as sociedades humanas fossem
estudadas mais pelas suas permanências do que pelas mudanças. Habitus significa a estrutura estruturada
e capaz de estruturar o comportamento individual de uma forma tão profunda, que é percebida pelos
atores sociais como se fosse parte da natureza.
Vamos agora ouvir o professor Rodrigo Rainha comentando essa questão.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Estruturalismo de Lévi-Strauss e Bourdieu
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Estruturalismo de Althusser
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Verificando o aprendizado
Questão 1
Tanto Émile Durkheim como Claude Lévi-Strauss dedicaram bastante atenção às religiões. Assinale entre as
alternativas a seguir a que explica essa afirmação.
A
Os autores partem da premissa de que as religiões traduzem a vocação humana para o apego emocional ao
sagrado.
B
Os autores afirmam que as religiões mostram como, ao longo da história, as sociedades humanas jamais
saíram da posição do atraso.
C
Os autores afirmam que as religiões mostram como, ao longo da história, as sociedades humanas sempre
foram politeístas.
D
Os autores afirmam que as religiões primitivistas estabeleceram estruturas simbólicas que se mantiveram
relativamente inalteradas em outros sistemas religiosos.
E
Os autores afirmam que as religiões mostram a vocação humana para a transformação, na medida em que os
sistemas religiosos seriam profundamente diferentes entre si.
A alternativa D está correta.
Tanto Durkheim como Lévi-Strauss viram nos sistemas religiosos a sobrevivência de estruturas comuns
estabelecidas pelas religiões primitivas.
Questão 2
Tanto Louis Althusser como Ferdinand de Saussure se apropriaram da racionalidade estruturalista, mas
fizeram de modos distintos. Assinale entre as alternativas a seguir a que melhor define essa diferença.
A
Enquanto Althusser trata a cultura como estrutura estruturante da vida social, Saussure define a linguagem.
B
Enquanto Althusser trata a linguagem como estrutura estruturante da vida social, Saussure define a cultura.
C
Enquanto Althusser trata o modo de produção como estrutura estruturante da vida social, Saussure define a
linguagem.
D
Enquanto Althusser trata a linguagem como estrutura estruturante da vida social, Saussure define o modo de
produção.
E
Enquanto Althusser trata a cultura como estrutura estruturante da vida social, Saussure define o modo de
produção.
A alternativa C está correta.
Há uma diferença fundamental entre as teorizações de Althusser e Saussure no que se refere à estrutura
que é capaz de condicionar a vida social. Para Althusser, essa estrutura é o modo de produção e para
Saussure é a linguagem.
3. Crise do estruturalismo
A crise da racionalidade estruturalista
O fim do estruturalismo?
Na utopia iluminista formulada no século XVIII, o século XX era o futuro, o momento da consagração do
processo histórico evolutivo impulsionado pela razão. O século XX seria o momento em que o
desenvolvimento da ciência chegaria em sua plenitude, e sua máxima capacidade de promover o progresso da
humanidade. 
A vida prometida era o conforto material, o aprimoramento dos meios de comunicação e transporte e a paz
universal. O século XX não apenas deixou de cumprir a promessa. Representou mesmo a sua negação.
Observe a seguir a descrição dos porquês:
1
Duas guerras de dimensões mundiais em um período de apenas trinta anos.
2
Criação de multiplicação de armas de destruição em massa com potencial nunca antes visto.
3
Ataque nuclear sobre cidades, ocasionando a morte de milhares de civis.
4
Possibilidade de conflito direto entre duas potências nucleares.
A ciência que prometia progresso e felicidade mundial se tornou a indutora da barbárie e da destruição. Esse
ambiente provocou certo desencantamento em relação às promessas da modernidade, dando origem, em fins
do século XX, ao que alguns autores passariam a chamar de “pós-modernidade”. 
Imagens da Primeira Guerra Mundial. De cima para baixo, da esquerda para a direita:
trincheiras na Frente Ocidental, avião bi-planador Albatros D.III, Tanque britânico
Mark I cruza uma trincheira, metralhadora comandada por um soldado usando
máscara contra gases e o fundamento do navio de guerra HMS Irresistible após
bater em mina.
Esse clima de frustração e desencantamento foi alegorizado em diversas manifestações artísticas, como
demonstra o historiador Albuquerque Júnior: 
Jean-Francois Lyotard.
Em Rapsódia de Agosto, filme de Akira Kurosawa, ao olhar no horizonte e ver o cogumelo atômico, uma
japonesa pensa ver um grande olho vermelho, cheio de raios de sangue, a piscar pra ela. Essa talvez
tenha sido a primeira piscadela da pós-modernidade. Neste acontecimento simbólico, se condena todo o
fracasso da modernidade, a falência do humanismo e o fim do sonho iluminista. Todas as promessas da
filosofia da história no século XIX, de uma história teleológica, atravessada pela razão, em direção à
civilização, ao progresso, à liberdade, à igualdade e à fraternidade são calcinadas junto com milhões de
japoneses. A validade destas metanarrativas que tentaram unificar a totalidade da experiência histórica
da modernidade, dentro de um projeto de emancipação humana global, é contestado violentamente.
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2007, p. 56)
Se nos séculos XVIII e XIX, a modernidade iluminista havia “matado Deus e promovido um desencantamento
total do mundo”, como disse Nietzsche, o século XXmatou o “Deus ciência” e desencantou o mundo pela
segunda vez. 
Saiba mais
É esse segundo desencantamento que está alegorizado no filme dirigido por Akira Kurosawa e analisado
por Durval Muniz. O cogumelo atômico simboliza a racionalidade científica que a modernidade iluminista
definiu como provedora do progresso e da felicidade e o século XX mostrou ser o promotor da morte e
da destruição. 
Como argumentou o historiador inglês Keith Jenkins, “após as proclamações oitocentistas da morte de Deus
(a metanarrativa teológica), ocorre também a morte dos substitutos temporais dele. O final do século XIX e o
século XX assistiram a um solapamento da razão e da ciência. O fenômeno que tornou problemáticos todos
aqueles discursos, que se fundamentavam nelas e tinham pretensão à verdade; todo o projeto do iluminismo”
(JENKINS, 2007, p. 95).
O filósofo francês François Lyotard examinou os
impactos dessa crise da modernidade científica
na esfera da produção de saberes.
Segundo Lyotard, a história do conhecimento é
marcada pelo funcionamento de “jogos de
linguagem” (conceito que o autor busca no
filósofo alemão Wittgenstein), cujo objetivo é
legitimar politicamente os dispositivos
epistêmicos que regem cognitivamente as
sociedades humanas.
Observe o esquema a seguir:
Antiguidade
Na Antiguidade Clássica, por exemplo, a legitimação do conhecimento
acontecia deliberadamente pelos valores políticos da vida em
comunidade, na aristocracia de letrados de Platão, ou na ética
circunstanciada de Aristóteles (phronesis).
Idade Média
Na Idade Média, a legitimação era garantida pela promessa do domínio
do conhecimento autorizado por Deus.
Modernidade
Na modernidade cartesiano/ iluminista, a legitimação era garantida pela
afirmação da viabilidade do conhecimento metodologicamente balizado,
dominado por experts, e comprometido com o progresso.
Contemporaneidade
A contemporaneidade, a partir da segunda metade do século XX com os
impactos da Segunda Guerra Mundial, teria inaugurado outra lógica
linguística de legitimação, garantida pelas ideias de desempenho,
eficiência e informação. O valor do conhecimento, então, passa a ser
definido por sua capacidade em oferecer informações para os
“tomadores de decisão”, que não mais a classe política tradicional, mas
sim os chefes das grandes corporações.
Pós-modernidadeee
Pós-modernidade, portanto, para François Lyotard, significa a lógica
contemporânea, marcada pela rejeição ao valores que fundaram a
modernidade, especialmente das filosofias progressistas da história
como discursos de legitimação do conhecimento.
Segundo Lyotard (2009, p. 05), nesta transformação, a natureza do saber não permanece intacta. Ele não
pode submeter-se aos novos canais, e manter-se operacional, a não ser que o conhecimento possa ser
traduzido em quantidade de informação. Pode-se então prever que tudo o que no saber constituído não é
traduzível será abandonado e que a orientação das novas pesquisas se subordinará à condição de
tradutibilidade dos resultados eventuais em linguagem de máquina. [...] O antigo princípio segundo o qual o
saber é indissociável da formação (bildung) do espírito, e mesmo da pessoa, cai e cairá cada vez mais em
desuso.
Ceticismo entre a população.
As ruínas de Guernica, Espanha, após os bombardeios.
Assembleia da Liga das Nações em Genebra, Suíça,
1930. Durante o conflito, o Eixo teve planos de invadir o
território suíço.
Aquele conjunto de valores que, como vimos há
pouco, sustentou a viabilidade da racionalidade
estruturalista, foram implodidos pela história do
século XX. Não mais existia a euforia
progressista, a convicção de que a ciência
fosse capaz de iluminar o funcionamento total e
sistêmico das sociedades humanas. A
atmosfera era outra, marcada pelo ceticismo,
pela dúvida e pela drástica redução das
expectativas envolvendo a real capacidade do
método científico em desvelar as verdades da
realidade. Foi nesse contexto que aconteceu
uma profunda reorientação teórica nas ciências
humanas e sociais, como surgimento de novos
paradigmas, que costumamos chamar de “pós-
estruturalistas”. Na próxima seção, estudamos
com cuidado esses modelos.
Pós-estruturalismo
Paradigmas pós-estruturalistas
O uso da aviação como arma militar na Primeira
Guerra Mundial (1914-1918). O colapso do
liberalismo político e a ascensão do
nazifascismo na década de 1930. O uso ciência
para fins de destruição em massa na Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). A queda do muro
de Berlim, nos anos 1980.
Uma por uma, as utopias modernistas
colapsaram ao longo do século XX, levando o
Ocidente, como sabemos, à atmosfera de
desilusão com as promessas derivadas do
iluminismo.
Esse desencantamento atingiu em cheio as expectativas depositadas em diversos campos da atividade
científica, especialmente aqueles dedicados ao estudo das sociedades humanas. 
A partir da segunda metade do século XX, portanto, as
ciências sociais e humanas redimensionaram suas
ambições, abdicando da pretensão estruturalista de
compreender a totalidade do funcionamento sistêmico das
coletividades sociais. Assim, surgiu uma nova modalidade
de racionalidade teórica nas ciências sociais e humanas,
que costumamos chamar de “pós-estruturalismos”.
A antropologia simbólica do antropólogo norte-americano
Clifford Geertz (1926-2006) foi a primeira manifestação
teórica dessa racionalidade pós-estruturalista, que trouxe a
experiência para o primeiro plano das preocupações dos
estudos sociais, em detrimento da estrutura, prioridade
para a tradição durkheimiana.
Para Geertz “[...], esse padrão se confirma no caso do conceito de cultura, em torno do qual surgiu todo o
estudo da antropologia e cujo âmbito essa matéria tem se preocupado cada vez mais em limitar, especificar,
enfocar e conter. É justamente a essa redução do conceito de cultura a uma dimensão justa, que realmente
assegure a sua importância continuada em vez de debilitá-lo, que os ensaios abaixo são dedicados, em suas
diferentes formas e direções” (GEERTZ, 2008, p. 04).
Atenção
Geertz está criticando diretamente o conceito de cultura formulado por Lévi-Strauss, um dos
desdobramentos da teoria sociológica durkheimiana, a fundadora da racionalidade estruturalista. 
Em um ambiente científico menos pretensioso, Clifford Geertz propôs a limitação, a redução e a contenção do
conceito de cultura a uma dimensão mais justa que permitisse seu estudo por uma ciência social
comprometida com as experiências e que não mais acha viável o projeto de uma análise total do
funcionamento das sociedades humanas, como era a ambição dos paradigmas estruturalistas. 
Mas que conceito é esse que Geertz propõe? 
“O conceito de cultura que eu defendo, e cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar, é
essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de
significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto, não como
uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à procura de significado”
(GEERTZ, 2008, p. 4).
Geertz 
Em 1989, Geertz publicou o livro A
interpretação das culturas, no qual se
apropriou do conceito de cultura tal como
havia sido definido pela sociologia
weberiana.
Posicionamento filosófico 
Criticou a tradição antropológica lévi-
straussiana e, portanto, afastando-se
completamente da abordagem
característica da racionalidade
estruturalista.
Antropologia Hermenêutica - Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci.
Caboclo por Jean-Baptiste Debret 1834.
Antropologia Simbólica - Rinha de galo.
Buscando inspiração na tradição weberiana, que em diversos aspectos tensiona com a tradição durkheimiana,
Geertz nega que o estatuto de estrutura possa ser atribuído à cultura. 
Cultura, então, seria uma rede de sentidos na qual os atores sociais estão emaranhados.
Esse conceito possui desdobramentos teóricos importantes para a racionalidade científica, como o próprio
Geertz evidencia: 
“A teoria precisa conservar-se mais próxima do
terreno do que pareceser o caso em ciências
mais capazes de se abandonarem a uma
abstração imaginativa. Somente pequenos voos
de raciocínio tendem a ser efetivos em
antropologia: voos mais longos tendem a se
perder em sonhos lógicos, e embrutecimentos
acadêmicos com simetria formal. O pontal
global da abordagem semiótica da cultura, é,
como já disse, auxiliar-nos a ganhar acesso ao
mundo conceitual no qual vivem os nossos
sujeitos, de forma, a podermos, num sentido um
tanto mais amplo, conversar com eles”
(GEERTZ, 2008, p. 17).
Ferramenta de madeira para tecer.
Quaderni storici é um periódico de pesquisa histórica
fundado em 1966 e publicado pela editora il Mulino.
À luz do conceito de cultura proposto pelo autor, a abordagem científica adequada seria aquela mais modesta
em suas pretensões, que ambicionasse estudar os significados simbólicos da especificidade dos fenômenos
sociais, das experiências circunscritas, como no exemplo das “piscadelas”, citado por Geertz. 
Comentário
Se toda experiência social é dotada de sentido simbólico, argumenta o autor, até mesmo uma simples
piscadela pode ser objeto de uma ciência da sociedade, que, em perspectiva microssocial, deveria se
debruçar sobre o evento, buscando situá-lo na rede simbólica dentro da qual possui significado
específico. Se é chiste, paquera ou tique nervoso, a priori nenhuma explicação meramente abstrata e
teórica poderia dar conta do significado de uma piscadela específica. Apenas a reconstrução empírica,
detida e contida nas particularidades daquele fenômeno seria capaz de fazê-lo. 
Assim, Geertz propõe uma ciência social empírica, fenomenológica, que desconfia dos “grandes voos de
raciocínio”, cuja teoria esteja sempre próxima do plano no qual, de fato, desenrolam-se as experiências
sociais. 
Trata-se de uma proposta científica modesta
que se não abre completamente do desejo
cartesiano em conhecer metodologicamente a
realidade, abandona de todo as grandes
ambições da ciência total estruturalista.
A racionalidade pós-estruturalista de Geertz foi
bastante influente nas ciências sociais humanas
na virada do século XX para o século XXI, em
especial na historiografia, com a micro-história
e a nova história cultural.
Micro-história e a nova
história cultural
A historiografia pós-estruturalista
A micro-história italiana nasceu dos debates
desenvolvidos por um pequeno grupo de
historiadores reunidos em torno da revista 
Quaderni Storici, que questionaram o
rendimento das macroanálises historiográficas.
Desafiava-se, assim, a hegemonia da história
social francesa, propondo o
redimensionamento das escalas de análise,
observando os atores históricos em suas redes
microssociais, partindo da premissa de que
gestos cotidianos são dotados de sentido e
devem ser examinados pela historiografia.
O giro ao concreto, às subjetividades, mudou o
estatuto do indivíduo na historiografia. Se nas
abordagens estruturalistas, o indivíduo era
anônimo, epifenômeno, cujas particularidades
eram secundárias em relação às totalidades
Carlo Ginzburg.
Galileu Galilei, por Justus Sustermans 1636.
sociais, agora passa a ser o objeto a ser explorado pela razão historiográfica, capaz de agência própria e
dotado de subjetividade. 
Em 1986, o historiador italiano Carlo Ginzburg sistematizou
um método histórico que contrariava os preceitos do
estruturalismo historiográfico característico da história
social francesa desenvolvida pela Escola dos Annales.
O tema do ensaio é o fortalecimento, no âmbito das
ciências humanas, de um modelo epistemológico que,
segundo o autor, ainda não havia sido alvo da atenção dos
cientistas. Trata-se do “paradigma indiciário”, que Ginzburg
afirma ser o mais adequado para o atual estágio da
historiografia pós-estruturalista.
Carlo Ginzburg afirma que “a análise desse paradigma,
amplamente operante de fato, ainda que não teorizado
explicitamente, talvez possa ajudar a sair dos incômodos da
contraposição entre ‘racionalismo’ e ‘irracionalismo’” (GINZBURG; 1989, p. 143).
Atenção
Em contraposição ao modelo indiciário, o autor apresenta outro modelo científico, que ele chama de
galileana: “a ciência galileana tinha uma natureza totalmente diversa, que poderia adotar o lema
escolástico do individuum est ineffabile, do que é individual não se pode falar. O emprego da matemática
e o método experimental, de fato, implicavam respectivamente a quantificação e a repetibilidade dos
fenômenos” (GINZBURG, 1989, p. 156). 
Ginzburg chama de ciência galileana o que aqui chamamos de estruturalismos. O argumento do autor é que
ambos os modelos, o galileano e o indiciário, fazem parte do repertório científico ocidental. 
Porém, o modelo galileano, ou estruturalista,
seria inadequado à história por ela ser “uma
disciplina eminentemente qualitativa, que tem
por objeto casos, situações e documentos
individuais, enquanto individuais, e justamente
por isso alcançam resultados que têm uma
margem ineliminável de casualidade. [...] Tudo
isso explica por que a história nunca conseguiu
se tornar uma ciência galileana” (GINZBURG,
2018, p. 157).
De modo semelhante à micro-história, a nova
história cultural tem como objeto o indivíduo em
suas relações sociais, agente de suas vontades,
movido por representações coletivamente
compartilhadas, e capaz de produzir
representações relativamente autônomas.
A nova história cultural, portanto, é uma manifestação no campo da historiografia da racionalidade pós-
estruturalista, fundada, justamente, nas ideais de experiência, agência e subjetividades. As reflexões
desenvolvidas pela historiadora norte-americana Lynn Hunt e pelo historiador francês Roger Chartier foram
fundamentais para o desenvolvimento dos pressupostos teórico-metodológicos da nova história cultural.
Roger Chartier.
Certamente, a noção de que existe uma nova forma de história cultural deve-se ao livro A nova cultura
histórica, escrito por Lynn Hunt e publicado em 1989. A partir de então, cada vez mais os historiadores
interessados nesse tipo de temática passaram a se distanciar da proposta analítica das mentalidades e a se
aproximar dos estudos mais atentos às práticas e representações específicas.
Para Roger Chartier, as proposições de Lynn
Hunt, de fato, eram inovadoras em relação aos
estudos desenvolvidos nos quadros da história
das mentalidades: “essa nova história cultural
se faz mais de estudos de caso do que de
teorização global, levou os historiadores a
refletir sobre as suas próprias práticas e, em
particular, sobre as escolhas conscientes ou as
determinações ignoradas que comandavam o
seu modo de construir as narrativas e as
análises históricas” (CHARTIER, 1990, p. 30).
Novamente, estamos diante daquela que é a
principal característica da historiografia pós-
estruturalista: a dimensão monográfica do
recorte nos objetos de pesquisa.
Para Lynn Hunt, essa “nova” história cultural possui uma característica fundamental: “centrar a sua atenção
sobre as linguagens, as representações e as práticas, a nova história cultural propõe um modo inédito de
compreender as relações entre as formas simbólicas e o mundo social. A uma abordagem clássica, ligada à
localização objetiva das divisões e das diferenças sociais, ela opõe a sua construção móvel, instável,
conflitual, a partir das práticas sem discurso, das lutas de representação e dos efeitos performativos dos
discursos” (HUNT, 1989, p. 45).
Como percebemos, a nova história cultural está fundada nos conceitos de discurso, prática e
representação, tratados em perspectiva bastante distinta da marxista, que definiu a ideologia como
representação. 
Para a nova história cultural, representação não é o falseamento da realidade produzido deliberadamente pela
estrutura do poder, mas sim como os indivíduos, em suas vidas práticas, constroem sentidos para significar
suas ações, também práticas. 
Atenção
Toda a representação, nesse sentido, seria sociologicamente verdadeira, na medida em que teria razões
práticas para existir. O que está em questão para a nova história cultural não é a dicotomia “verdade X
mentira”, comose verdade e mentira fossem dados objetivos da realidade e externos às representações.
O objetivo, em vez disso, é compreender o sentido prático das representações culturais, como
respondem às urgências da prática social, que mudam de acordo com conjunturas específicas. 
O declínio da racionalidade estruturalista e a afirmação da racionalista pós-estruturalista provocou mudanças
profundas no marxismo, um dos principais sistemas de pensamento criados na modernidade.
Marxismo pós-estruturalista
Edward Thompson
Edward Thompson discursando durante uma
manifestação antinuclear em Oxford, 1980.
No âmbito do pensamento marxista, a racionalidade pós-estruturalista foi representada pelo historiador inglês
Edward Palmer Thompson (1924-1993), que no livro A miséria da Teoria, de 1967, criticou o estruturalismo
materialista de Louis Althusser.
A crítica de Thompson não pode ser deslocada da atmosfera científica que afirmou a racionalidade
pós-estruturalista. 
Ao criticar o estruturalismo althusseriano, Thompson formou as bases daquilo que se convencionou chamar
de “nova esquerda”, caracterizada insatisfação com a dimensão universal do conceito de “classe operária” da
esquerda marxista tradicional, que seria insensível a outros marcadores de violência e exploração, como
gênero e raça.
”A classe se delineia segundo o modo como os
homens e mulheres vivem suas relações de
produção e segundo a experiência de suas
situações determinadas, no interior do conjunto
de suas relações pessoais, com a cultura e as
expectativas a eles transmitidas e com base no
modo pelo qual se valeram dessas experiências
em nível cultural. Em uma análise comparativa,
o modelo tem apenas valor heurístico, passível
de geralmente redundar em perigo dada sua
tendência em direção e uma estase conceitual.
Na história, nenhuma formação de classe
específica é mais autêntica ou mais real que a
outra. As classes se definem de acordo com o
modo como tal formação acontece
efetivamente” (THOMPSON, 2013, p. 310).
A exemplo do que fizeram os outros
paradigmas pós-estruturalistas, o marxismo revisado de Thompson traz as experiências ao primeiro plano das
suas preocupações analíticas. Antes de ser um conceito formulado pelo analista, a classe é uma experiencia
social concreta, que envolve diversos aspectos da existência humana, como trabalho, cultura, família e
religião. 
Vamos praticar?
Antes de praticar, o professor Rodrigo Perez apresenta algumas visões importantes do pós-estruturalismo e
suas tendências.
Caminhos da história
Confira agora um resumo do tema.
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Atividade discursiva
Agora, vamos praticar a escrita. É essencial que você tente praticar, pois a competência escritora é muito
importante para consolidar os conceitos aprendidos.
 
Na segunda metade do século XX, a racionalidade estruturalista entrou em crise. Por outro lado, novas
concepções epistemológicas entraram em jogo. Podemos pensar, por exemplo, na antropologia simbólica
formulada por Clifford Geertz, que criticou tradições teóricas estabelecidas dentro das ciências sociais e
humanas. Ou, na abordagem historiográfica da micro-história italiana, bem como a nova história cultural foram
inspiradas pela racionalidade pós-estruturalista sistematizada por Clifford Geertz. À luz dessas
considerações, discorra sobre a crise da racionalidade estruturalista e relacione-a com as novas
epistemologias e abordagens historiográficas.
Chave de resposta
Você deve compreender que o uso da ciência com finalidade de destruição em massa ao longo do século
XX levou ao desencantamento em relação à promessa iluminista, que definia o conhecimento científico
como promotor do progresso. Essa atmosfera levou à crise da racionalista estruturalista. Ao buscar
inspiração da tradição weberiana, que define a cultura como “rede de sentidos”, Geertz se afastou da
tradição francesa de Durkheim e Lévi-Strauss, trazendo as experiências sociais para o primeiro plano da
reflexão científica. A bibliografia da historiografia pós-estruturalista mostra como tanto a micro história
quanto a nova história cultural propuseram estudos de caso de objetos rigidamente delimitados, em uma
lógica científica empírica e fenomenológica, que em diversos aspectos se distanciou da racionalidade
estruturalista.
Vamos agora ouvir o professor Rodrigo Rainha comentando essa questão.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Clifford Geertz e a história
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A micro-história e a nova história cultural
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Verificando o aprendizado
Questão 1
A crise do racionalismo moderno ao longo do século XX impactou diretamente o funcionamento dos diversos
campos científicos destinados ao estudo das sociedades humanas. Assinale, entre as alternativas a seguir, a
que melhor explica essa afirmação.
A
O impacto se deu na forma do desaparecimento das ciências sociais, restando à atividade científica apenas o
estudo dos fenômenos naturais e biológicos.
B
O impacto se deu na forma do fortalecimento das ciências sociais, que se apropriaram dos estudos dos
fenômenos naturais e biológicos.
C
O impacto se deu no fortalecimento da racionalista estruturalista, o que aumentou ainda mais as ambições
epistemológicas das ciências sociais e humanas.
D
O impacto se deu no fortalecimento da teoria marxista, que se tornou hegemônica no campo das ciências
sociais e humanas.
E
O impacto se deu no colapso da racionalidade estruturalista, o que redimensionou as pretensões
epistemológicas das ciências sociais e humanas.
A alternativa E está correta.
A crise do racionalismo no século XX diminuiu as ambições das ciências sociais e humanas, trazendo as
experiências ao primeiro plano da análise em detrimento das estruturas.
Questão 2
A racionalidade pós-estruturalista formulada por Geertz influenciou paradigmas dentro da historiografia.
Assinale entre as alternativas a seguir a que melhor cita exemplos dessa influência.
A
A historiografia marxista inspirada na teoria sociológica de Louis Althusser.
B
A história social francesa desenvolvida pelos Annales de Marc Bloch e Lucien Febvre.
C
A história social francesa desenvolvida por Louis Althusser.
D
A micro-história italiana e a nova história cultural francesa.
E
A micro-história italiana e a história social francesa desenvolvida pelos Annales de Marc Bloch e Lucien
Febvre.
A alternativa D está correta.
Tanto a micro-história italiana como a nova história cultural rejeitaram a abordagem estruturalista, propondo
que a perspectiva monográfica de estudo das experiências fosse trazida ao primeiro plano da racionalidade
científica.
4. Conclusão
Considerações finais
Em nosso estudo, vimos como a produção científica é sempre o produto do seu próprio tempo. A ciência
traduz, portanto, as expectativas e ambições dos seres humanos dedicados ao estudo metodológico da
realidade. Por isso, a ciência moderna, que nasce em um contexto de avanços tecnológicos e grandes
descobertas pelas sociedades ocidentais entre os séculos XVII e XIX, era muito pretensiosa e considerava a si
mesmo como a viabilizadora do progresso. A partir dessa pretensão, surgiu a racionalidade estruturalista, que,
sistematizada pela primeira vez por Émile Durkheim, influenciou os estudos sociais por quase cem anos.
Mas o século XX mostrou a dura realidade da desilusão. O colapso das utopias modernistas impactou
diretamente o funcionamento das disciplinas voltadas aos estudos das sociedades humanas. Ambições foram
redimensionadas e uma nova racionalidade cientifica, pós-estruturalista, ganhou forma, estimulando o
desenvolvido de abordagens de dimensão empírica e fenomenológica em diversos campos das ciências
sociais e humanas. 
Nossos estudos tentaram mostrar como a transição da racionalidadeestruturalista para a racionalidade pós-
estruturalista dialogam diretamente com a própria história moderna, em suas tensões entre as utopias
progressistas e o desalento pós-moderno. 
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Ouça agora um bate-papo com o professor Rodrigo Rainha sobre os principais pontos sobre o
estruturalismo e pós-estruturalismo.
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Leia o livro Além do bem e do mal, de Friedrich Nietzsche, publicado pela Companhia das Letras (2008).
 
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Leia o artigo O que é paradigma estruturalista? Disponível na biblioteca do portal Fazer pergunta.
 
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Assista ao vídeo Tempo Histórico e modernidade em Reinhart Koselleck, disponível no canal Diacrônico no
YouTube.
 
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Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. de. História: a arte de inventar o passado. Rio de Janeiro: Autêntica, 2013.
 
ALTHUSSER, L. Sobre a reprodução. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
 
BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
 
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996.
 
CHARTIER, R. et al. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa: Difel, v. 1, p. 12, 1990.
 
DESCARTES, R. Discurso sobre o método. São Paulo: Ed 34, 2001.
 
DOSSE, F. A história do estruturalismo. São Paulo: Unicamp, 1993.
 
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
 
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
 
GINZBURG, C. Mitos, emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
 
HUNT, L. A nova história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
 
JENKINS, K. A história repensada. São Paulo: Contexto, 2007.
 
KOSELLECK, R. Crítica e Crise. Rio de Janeiro: UERJ, 1999.
 
LYOTARD, F. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
 
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. São Paulo: USP, 1993.
 
STRAUSS, C. L. Raça e História. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1952.
 
STRAUSS, C. L. Voltas ao Passado. Mana, Estudos de Antropologia Social, v. 4, n. 2, p. 107-17, 1998.
 
THOMPSON, E. Miséria da teoria. São Paulo: USP, 2013.
	Paradigmas estruturalistas e pós-estruturalistas
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Paradigmas teóricos estruturalistas
	Definindo a modernidade
	O conceito
	O desencantamento seria a laicização do pensamento, que tirou de Deus o monopólio da potência cognitiva, transferindo-o ao método científico.
	O reencantamento teria acontecido pela canonização da ciência como nova detentora do saber perfeito, algo que chegou ao limite na filosofia positivista formulada por Auguste Comte (1798-1857), que fundou uma igreja ateia, na qual o objeto de culto era a ciência.
	Características da racionalidade estruturalista
	Definição
	Primeira característica
	Segunda característica
	Terceira característica
	Quarta característica
	Vamos praticar?
	A modernidade e o estruturalismo
	Conteúdo interativo
	Atividade discursiva
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Conceito de estruturalismo
	Conteúdo interativo
	Racionalidade estruturalista
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Paradigmas teóricos estruturalistas
	Em busca dos paradigmas
	Durkheim
	Atenção
	A sociologia durkheimiana
	Saiba mais
	Legais
	Espontâneas
	Atenção
	Lévi-Strauss e Bourdieu
	Antropologia estruturalista
	Comentário
	O habitus de Pierre Bourdieu
	Atenção
	O estruturalismo do materialismo histórico
	Althusser
	Aparelhos Repressivos do Estado (ARE)
	Aparelhos Ideológicos do Estado (AIE)
	Saussure
	Língua
	Fala
	A história social francesa
	Escola dos Annales
	Comentário
	Vamos praticar?
	Os pensadores estruturalistas
	Conteúdo interativo
	Atividade discursiva
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Estruturalismo de Lévi-Strauss e Bourdieu
	Conteúdo interativo
	Estruturalismo de Althusser
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Crise do estruturalismo
	A crise da racionalidade estruturalista
	O fim do estruturalismo?
	1
	2
	3
	4
	Saiba mais
	Antiguidade
	Idade Média
	Modernidade
	Contemporaneidade
	Pós-modernidadeee
	Pós-estruturalismo
	Paradigmas pós-estruturalistas
	Atenção
	Comentário
	Micro-história e a nova história cultural
	A historiografia pós-estruturalista
	Atenção
	Atenção
	Marxismo pós-estruturalista
	Edward Thompson
	Vamos praticar?
	Caminhos da história
	Conteúdo interativo
	Atividade discursiva
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Clifford Geertz e a história
	Conteúdo interativo
	A micro-história e a nova história cultural
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
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	Referências

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