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ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/3.2_magnetosfera.pdf 1 No tópico anterior do curso, você aprendeu um pouco sobre o Sol e os fenômenos que ele causa na Terra. Mas você sabe sobre o que conecta o Sol à Terra? O Sol é tão quente que o gás se transforma em PLASMA (Figura 1), fazendo com que a maior parte das partículas energéticas escape da gravidade do Sol e seja liberada no espaço. Esse plasma é o chamado vento solar que estudamos um pouco no item anterior do curso. O vento solar, além de partículas ionizadas, também carrega campos magnéticos que envolvem a Terra e que chegam até Netuno e Plutão. Partículas carregadas e campos magnéticos influenciam uns aos outros. As partículas carregadas possuem energia na faixa de poucos milhares de elétron-volts e campos magnéticos na ordem de dezenas de nanoteslas que ocupam o espaço entre as atmosferas superiores do Sol e da Terra. A interação dos campos magnéticos originados no Sol e na Terra estruturam o geo- espaço por centenas de raios da Terra, direcionando e contendo partículas carregadas, também de origens solar e terrestre. O contínuo vento solar expande a atmosfera externa do Sol. Este campo de origem solar é chamado de campo magnético interplanetário (em inglês: Interplanetary Magnetic Field- IMF), e varia consideravelmente próximo a Terra com uma intensidade de cerca de 5 nT. Com a rotação do Sol, o campo magnético que é gerado e toma uma forma espiral (Figura 2). As partículas carregadas do Sol, ou o vento solar, atingem a Terra em cerca de quatro dias. A forma do campo magnético original, ou seja, MÓDULO 3.2: MAGNETOSFERA TERRESTRE E CINTURÕES DE VAN ALLEN PLASMA: é o quarto estado físico da matéria. O primeiro é o sólido, mais frio. Quando aquecemos o sólido, o transformamos no estado líquido. Já quando aquecemos o líquido ele se transforma em gás. Quando aquecemos o gás, os átomos se “quebram” em partículas carregadas, transformando o gás em plasma. Figura 1. Estrutura do átomo e estados da matéria: sólido, líquido, gasoso e plasma. Figura 2. Campo magnético interplanetário, originado no Sol e deformado pelos efeitos da rotação solar e vento solar. 2 aproximadamente dipolar (Figura 3A), é modificada. O plasma solar arrasta as linhas do campo magnético interno da Terra e o formato das linhas do campo fica desigual no lado do dia e da noite. Essa forma das linhas de campo demarca a magnetosfera (Figura 3B) que é a região ocupada pelas linhas do campo magnético terrestre. A interação entre o plasma do vento solar e a magnetosfera é conhecida como “Conexão Sol- Terra”. Apesar do vento solar transportar menos do que um milionésimo da energia eletromagnética do Sol, ele transfere para a magnetosfera e ionosfera centenas de bilhões de watts por dia, um valor comparável a geração de energia pelos humanos nesse mesmo período de tempo. A magnetosfera terrestre estende-se em cerca de 500 km de altitude e possui uma forma assimétrica: comprimida no lado do Sol (lado do dia) devido a pressão exercida pelo vento solar, e alongada no lado oposto (lado da noite) que não sofre esta pressão (Figura 2B). A magnetopausa é a região que limita a magnetosfera no lado do dia e está a cerca de 10 raios da Terra. A aproximadamente 13 raios da Terra uma onda de choque é formada pelo vento solar. No lado da noite a magnetosfera é alongada, chamada de cauda magnetosférica, e atinge até 1000 vezes o raio da Terra. Chegando mais próximo a Terra, existe uma região chamada de ionosfera, onde o “íon” é um átomo ou grupo de átomos que se tornou carregado pela perda ou ganho de um ou mais elétrons de carga negativa; já a “esfera” está relacionada a forma esférica da terra. A ionosfera é a região fracamente ionizada na camada superior, acima de 60 km de altitude atingindo até 1000 km. Nesta camada, elétrons livres e íons formam um plasma que influencia a propagação de ondas de rádio e que conduz correntes elétricas. A ionosfera reflete, retarda, dispersa e absorve ondas de rádio, dependendo da frequência desta onda. Esse tipo de comunicação é possível pela utilização da ionosfera e reflexão dessas ondas em frequências abaixo de ~3-30 MHz (100 a 10 m de comprimento de onda). A dinâmica da ionosfera depende do balanço entre produção e remoção de ionização da camada da atmosfera superior. Nossa atmosfera se torna menos densa e muda a sua composição com a altitude. Com isso a radiação solar encontra poucos átomos para ionizar. Já próximo a superfície, a atmosfera é tão densa que há pouca radiação solar sobrando que não foi absorvida altas latitudes. Há mudanças diárias e sazonais na Figura 3. Em “A” a forma aproximada do campo magnético interno dipolar e em “B” o formato das linhas de campo, mostrando a magnetosfera A B 3 ionosfera que são registradas nos observatórios magnéticos, como os dias “Sq” (veja no tópico 3.1. deste curso). Cinturões de Van Allen Em janeiro de 1958, a primeira missão da sonda americana “Explorer 1” foi lançada, contendo um experimento de raios cósmicos elaborado por um cientista americano, James Van Allen e seus estudantes de graduação. Dados do “Explorer 1” (Figura 4) e “Explorer 3” (lançado em março de 1958) foram estudados e os cientistas fizeram uma grande descoberta: a existência de uma região com formato de rosca com partículas carregadas que foram aprisionadas pelo campo magnético terrestre. Esta região foi batizada com o nome de “Cinturão de Van Allen”, em homenagem ao seu descobridor. Nos cinturões de Van Allen existem dois anéis (Figura 5): observações mostram que o anel interno contém uma quantidade estável de prótons e elétrons. Já o anel externo é composto principalmente de elétrons e varia consideravelmente. A região interna está a cerca de 3.000 km acima da superfície da Terra e com uma espessura de 5.000 km. Já a região externa está entre 15.000 e 20.000 km acima da superfície terrestre e possui uma espessura que varia entre 6.000 e 10.000 km. Alguns dos elétrons do anel externo podem ser acelerados. Esses elétrons podem provocar danos aos satélites artificiais, já que provocam descargas elétricas internas na eletrônica desses satélites. Essas descargas podem perturbar ou danificar permanentemente qualquer satélite que atravesse pelos cinturões, podendo afetar a transmissão de sinais de TV e telefone, sinal de GPS e navegação por rádio. Esse ambiente espacial de intensa radiação é também perigoso para os astronautas. Durante uma tempestade magnética, a quantidade de elétrons podem aumentar cerca de mil vezes. A atividade solar intensa pode também empurrar o cinturão externo aproximando-o da Terra, fazendo com que satélites de baixas altitudes sejam submetidos a um ambiente espacial muito severo. Uma melhor compreensão sobre os processos de geração desses elétrons é de grande importância prática e acadêmica. Figura 4. Foto do lançamento do “Explorer 1”. Figura 5. Ilustração dos cinturões de Van Allen, mostrando os anéis interno e externo. 4 Referências Bibliográficas Lanza, R. & Meloni, A., 2006. The Earth´s Magnetism. An Introduction for Geologists. Springer, 278 páginas. Merril, R. T., Mcelhinny, M. W.; McFadden, P. L. (1996). The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core and the deep mantle. Academic Press. Volume 63. Moore, T. E., Ring Current. Encyclopedia of Geomagnetism and Paleomagnetism, Editores: Gubbins, D. & Herrero-Bervera, E., Springer, p. 863 – 865. Fontes das Figuras Figura 1: Homepage da Nasa http://www.nasa.gov/images/content/147515main _phases_large.jpg Figura 2A: Homepage da Nasa http://www.nasa.gov/mission_pages/themis/auror as/magnetosphere.html Figura 2B: Homepage da Nasa http://www.nasa.gov/mission_pages/themis/auror as/sun_earth_connect.html Figura 3: Homepage da Caltech http://ned.ipac.caltech.edu/level5/March03/Vallee2 /Figures/figure5.jpg Figura 4: Homepage Educacional sobre física, astronomia e magnetismo da Terra http://www.phy6.org/Education/Iradbelt.html Figura 5: Homepage da Agência Espacial Européia http://sci.esa.int/science- e/www/object/index.cfm?fobjectid=38475 ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/3_as_observacoes_atuais.pdf 1 As observações atuais são aqui consideradas desde o ano de 1840, quando os primeiros observatórios foram instalados, até os dias atuais, chegando até os avanços das medições do campo magnético por satélites. Para a navegação havia a necessidade de atualizar os mapas de declinação magnética, já que o campo varia no tempo. Essa atualização incentivou a realização de medidas sistemáticas no mar, em terra e a instalação de observatórios magnéticos. Essas observações diretas iniciaram há aproximadamente quatro séculos atrás e até hoje os mapas magnéticos são atualizados. A variação do campo no tempo pode ser observada pelas suas componentes (veja Fig. 8 do módulo 1.1): norte (X), leste (Y), vertical (Z), horizontal (H), pelos seus ângulos de declinação (D), inclinação (I) e pela sua intensidade total (F). Existem alguns pontos específicos na Terra, onde o campo é totalmente horizontal. Esse local é chamado de equador magnético (Figura 1). Neste caso, a componente horizontal (H) é igual à intensidade total (F) e a inclinação I é mínima (I=0°). Os chamados pólos geomagnéticos são os locais onde o campo total (F) é igual à componente vertical (Z), ou seja, a inclinação magnética é máxima (I=90º). Atualmente o pólo norte magnético está localizado na Ilha de Ellesmere no Canadá (Figura 2A) e o pólo sul magnético na Antártica (Figura 2B). A Figura 3 mostra a intensidade do campo de 2010, onde são indicados os locais aproximados dos pólos magnéticos e a região onde o campo é mais fraco (Anomalia Magnética do Atlântico Sul- AMAS). MÓDULO 1.3: AS OBSERVAÇÕES ATUAIS Figura 2: Localização geográfica aproximada dos pólos norte (A) e sul(B) magnéticos. A B Figura 1. Mapa da inclinação (I) do campo magnético em 2010, onde a linha verde mostra o equador magnético. 2 Tantos os valores da inclinação magnética e do campo total mostrados nas figuras 1 e 3 foram calculados a partir de um modelo matemático chamado IGRF (International Geomagnetic Reference Field), que é um modelo global do campo magnético de referência internacional. Este modelo é baseado nos dados obtidos nos observatórios e nos satélites. O IGRF é capaz de prever as mudanças do campo para os cinco anos seguintes. Por isso, pelo último modelo IGRF lançado em 2010, podemos prever onde estarão os pólos magnéticos em 2015 (Figura 4). Para construir um modelo global do campo geomagnético, como o IGRF, são necessárias medições do campo que podem ser realizadas em observatórios magnéticos, estações móveis e satélites. O instrumento que mede o campo magnético da Terra é chamado de magnetômetro. Há vários tipos de magnetômetros: o fluxgate mede as componentes do campo (exemplo: X, Y, Z) continuamente em intervalos de segundos, já o fluxgate acoplado a um teodolito (DI-flux teodolito) é responsável pelas medidas absolutas da declinação e inclinação magnéticas. As medições do campo magnético total (F) são feitas pelo magnetômetro de prótons (ou pelo overhauser). A Figura 5 mostra alguns exemplos. A Pólo sul magnético Pólo norte magnético AMAS Figura 3. Mapa do campo magnético total (F) em 2010, com a indicação dos locais aproximados dos pólos magnéticos e da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS). Figura 4: Deslocamento da posição dos pólos norte (A) e sul (B) magnéticos de 1900 até 2015, usando o modelo internacional de referência do campo geomagnético (IGRF). A B Figura 5: Magnetômetro DI-flux.teodolito para a medição da declinação e inclinação magnéticas.O esquema mostra as partes principais deste instrumento. 3 Os observatórios magnéticos são locais fixos na superfície da Terra onde o campo é medido continuamente, normalmente em intervalos de poucos segundos. Somente observatórios podem garantir um registro de dezenas de anos e com grande precisão, que são essenciais para descrever a variação secular e construir modelos globais do campo geomagnético. Outra vantagem dos dados gerados pelos observatórios é a possibilidade de separação entre as fontes internas (do núcleo e crosta) e externas (magnetosfera e ionosfera). Essa separação é feita usando um método matemático chamado “análise por harmônicos esféricos”, desenvolvido por Gauss em 1838. Existem cerca de 180 observatórios na Terra (Figura 6) e os mais antigos datam de 1840. Entretanto, a distribuição global é extremamente desigual, especialmente na região dos oceanos e no Hemisfério Sul onde existem poucos observatórios. Os observatórios magnéticos são operados por diferentes instituições e a qualidade dos dados pode variar consideravelmente. A Associação Internacional de Geomagnetismo e Aeronomia (IAGA) e o INTERMAGNET (“International Real-time Magnetic Observatory Network”) coordenam atividades dos observatórios distribuídos no globo, definindo padrões de qualidade, formatos para transmissão dos dados e aconselhando sobre instrumentação e aquisição dos dados. Atualmente há 113 observatórios participando do INTERMAGNET, que seguem estes padrões de qualidade. No Brasil, há somente um observatório INTERMAGNET, que é o observatório de Vassouras, no Rio de Janeiro que funciona desde 1915. O Observatório Nacional (ON) também é responsável pelo Observatório Magnético de Tatuoca (TTC- Pará) e Observatório Magnético do Pantanal (PNL- Mato Grosso). O ON tem como meta a instalação de sete novos observatórios INTERMAGNET no Brasil. A desigual distribuição dos observatórios é complementada pelos dados de satélites. A principal vantagem da medição do campo magnético por satélite é a capacidade de proporcionar uma distribuição global de dados. Entretanto, há algumas desvantagens, como: os satélites têm uma vida útil menor do que a de um observatório; eles estão em uma altitude entre 300 à 800 km, o que resulta em cálculos extras para correção dessas diferenças; maior dificuldade para tratar os dados dos satélites do que dos observatórios, já que o campo magnético está variando continuamente e ao mesmo tempo o satélite está em movimento. O satélite POGO foi o primeiro a medir o campo entre 1965 a 1971. Já o satélite MAGSAT foi lançado (outubro de 1979) e permaneceu até junho de 1980. Por muitos anos o MAGSAT forneceu os dados de satélite de melhor qualidade para o estudo do campo principal. Nesta época, os SAIBA MAIS SOBRE OBSERVATÓRIOS MAGNÉTICOS NO BRASIL! Figura 6. Distribuição espacial de todos os observatórios magnéticos no globo. 4 cientistas notaram que era possível estudar o campo crustal usando satélites. Depois do grande sucesso do MAGSAT, houve uma época, de quase vinte anos, sem lançamentos de novos satélites com a finalidade de estudar o campo geomagnético. Somente em fevereiro de 1999 um novo satélite, chamado Oersted foi lançado. Em 2000, foram lançados os satélites CHAMP e SACC. Os principais satélites para estudar o campo magnético e suas durações são mostradas na Figura 7. O futuro da era dos satélites é promissor. A Agência Europeia Espacial (ESA- European Space Agency) planeja o lançamento da chamada missão SWARM, incluindo pela primeira vez três satélites para o estudo do campo geomagnético: dois em uma mesma altitude de 450 km, medindo gradientes leste-oeste, e outro em uma altitude de 550 km medindo gradientes verticais (Figura 8). A missão SWARM tornará possível muitos avanços em pesquisa de geomagnetismo, como mapa global de anomalia magnética crustal de alta resolução, melhor visão sobre os estudos de dinâmica do núcleo terrestre e novos conhecimentos sobre a AMAS. Referências Bibliográficas Finlay, C. C., Maus, S., Beggan, C. D., Bondar4, T. N., Chambodut, A., Chernova, T. A., Chulliat, A., Golovkov, V. P., Hamilton, B., Hamoudi, M., Holme, R., Hulot, G., Kuang, W., Langlais, B., Lesur7, V., Lowes, F. J., Lühr, H., Macmillan, S., Mandea, M., McLean, S., Manoj, C., Menvielle, M., Michaelis, I., Olsen, N., Rauberg, J., Rother, M., Sabaka, T. J., Tangborn, A., Tøffner-Clausen, L.., Thébault, E., Thomson, A. W. P., Wardinski, I., Wei, Z., Zvereva, T. I. 2010. International Geomagnetic Reference Field: the eleventh generation (2010). Geophys. J. Int., 183, 1216-1230 Friis-Christensen,, E., Lühr,, H., Hulot, G., 2006. Swarm: A constellation to study the Earth’s magnetic field. Earth Planets Space 58, 351–358. Jackson, A., Jonkers, A.R.T., and Walker, M.R., 2000. Four centuries of geomagnetic secular variation from historical records. Philosophical Transactions of the Royal Society of London A, 358: 957– 990. Lanza, R. & Meloni, A., 2006. The Earth’s magnetism- an introduction for geologists. Springer. Figura 8. Ilustração da missão SWARM, mostrando os três satélites (A, B e C) e suas trajetórias em torno da Terra. Figura 7. Duração dos satélites POGO, Magsat, Oersted, CHAMP, SAC-C e o planejamento para a nova missão de satélite chamada SWARM. 5 Macmillan, S., 2007. Observatories, Overview. Em: Encyclopedia of Geomagnetism and Paleomagnetism, Editores: Gubbins, D. & Herrero- Bervera, E., Springer, p. 66 – 68. Merril, R. T., Mcelhinny, M. W.; McFadden, P. L., 1996. The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core and the deep mantle. Academic Press. Volume 63. Olsen, N., Holme, R., Hulot, G.,, Sabaka, T., Neubert, T., Tøffner-Clausen, L., Primdahl, G., Jørgensen, J., Léger, J., Barraclough, D., Bloxham, J. , Cain, J., Constable, C., Golovkov, V., Jackson, A., Kotze, P., Langlais, B., Macmillan, S., Mandea, M., Merayo, J., Newitt, L., Purucker, M., Risbo, T., Stampe, M., Thomson, A., Voorhies, C., 2000. Ørsted initial field model. Geophys. Res. Lett. 27(22), 3607–3610. Olsen, N., G. Hulot and T. J. Sabaka, 2010. Measuring the Earth's magnetic field from space: Concepts of past, present and future missions, Space Sci. Rev., 155, 65-93. Siqueira, F., 2012. Tese de Mestrado defendida no Observatório Nacional em março de 2012: Métodos para Instalação e Processamento de Dados do Novo Observatório Magnético no Pantanal. Fontes das Figuras Figuras 1 e 3: Artigo científico “International Geomagnetic Reference Field: the eleventh generetion. Finlay et al., 2000 Figura 2: Google Maps Figura 4: Homepage do Centro de Pesquisas Geológicas da Inglaterra: “British Geological Survey”:http://www.geomag.bgs.ac.uk/education/ poles.html Figura 5: Tese de doutorado de Fillipe Siqueira (Siqueira, 2012) e homepage: http://terraplus.ca/products/magnetometers/over hauser-magnetometer-version6.aspx Figura 6: Artigo científico: Observatories, Overview. Macmillan, 2007. Figura 7: Artigo científico: Measuring the Earth's magnetic field from space: Concepts of past, present and future missions. Olsen et . al., 2010. Figura 8: Homepage da Agência Espacial Européia- ESA: European Space Agency: http://www.esa.int/esaLP/LPswarm.html ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/cetificado do curso.pdf ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/4.3.2.na_industria.pdf 1 Na geofísica há duas áreas distintas: a geofísica básica, ou da Terra sólida e a geofísica aplicada. A geofísica da Terra sólida está mais conectada ao conhecimento acadêmico. Neste caso o nosso planeta é analisado em uma ampla escala espacial e as camadas mais profundas da Terra são estudadas. Já a geofísica aplicada, como o próprio nome diz, busca princípios da geofísica que podem ser aplicados em prospecção mineral, petróleo, água subterrânea, problemas de engenharia e monitoramento ambiental, como contaminação, por exemplo. No setor da mineração, a geofísica ganha um aspecto financeiro muito forte. Você já parou pra se perguntar como é possível encontrar novos locais para desenvolvimento de mineração? Nos antigos processos essas jazidas de mineral eram encontradas fazendo-se a análise diferencial de sua cor em relação as demais rochas que estavam a sua volta. Seu valor financeiro dependia da capacidade de avaliação por parte dos exploradores. Quando encontravam um possível local de mineração, eles avaliavam o custo/benefício de minerar aquele local. Porém, mineração é um investimento muito alto, pois é preciso contratar trabalhadores, equipamentos e transportar tudo para o local a ser explorado. Com o avanço da tecnologia, hoje as empresas podem contar com métodos muito mais eficientes do que apenas uma avaliação visual. Há duas vertentes do estudo do campo magnético da Terra: uma que faz parte da geofísica da Terra sólida, que foi apresentada em mais detalhes neste curso. A outra parte dos estudos podem ser aplicados na indústria do petróleo e mineração. Para tais aplicações as empresas necessitam de levantamentos magnéticos, dados de observatórios magnéticos ou estações magnéticas e dados de correntes induzidas. Cada uma destas aplicações será discutida com detalhes abaixo. Levantamentos magnéticos Diferentes objetos abaixo da superfície terrestre podem causar anomalias magnéticas, como é o caso de materiais metálicos e concentrações de minério. Se suspeitarmos existir, por exemplo, um minério em uma área, podemos fazer um levantamento magnético. Ou seja, é possível realizar levantamentos magnéticos em pouco tempo e com menor custo para detectar possíveis locais de jazidas de minério em uma grande área. Existem três métodos para realizar levantamentos magnéticos em grandes áreas: terrestres, aéreas e marinhas. Em um levantamento terrestre, medidas do campo magnético são feitas em intervalos pré-determinados. Por exemplo, no levantamento do novo observatório da Amazônia, foram feitas medidas do campo geomagnético a cada 2 metros. A área que estudamos foi de 24 x 20 m2. MÓDULO 4.3.2: MAGNETISMO NA INDÚSTRIA Figura 1: Esquema do levantamento magnético terrestre realizado na Amazônia. A malha é mostrada pelas linhas pretas e as setas indicam qual foi a direção das medidas realizadas. 2 Mas se fosse preciso realizar um levantamento rápido e em uma área bem maior, por exemplo na escala de quilômetros, seria necessário planejar um levantamento magnético aéreo. Neste caso, o magnetômetro deve ser colocado a vários metros abaixo do avião (Figura 2a) para que a sua massa e equipamentos eletrônicos que estão a bordo, não causem interferência magnética. Por exemplo, com a possibilidade da identificação de uma jazida, o avião sobrevoa o local, mapeando a área de interesse. Com isso, é possível estipular quais recursos serão necessários para a exploração. Já no levantamento marinho (Figura 2B) o campo magnético em alto mar é registrado. O procedimento é semelhante ao do levantamento aéreo: o magnetômetro é puxado pelo navio por meio de um cabo. Esse equipamento deve permanecer distante do navio cerca de 200 metros, pois o mesmo também causaria uma grande interferência no equipamento. Dados de observatórios e estações magnéticas Talvez você já tenha se perguntado… mas quando medimos o campo magnético, medimos todas as fontes: núcleo, externo, induzido e da crosta (que inclui a anomalia). Então, como fazemos para “excluir” dos dados as fontes do núcleo e do campo externo, para analisarmos somente a fonte de interesse (anomalia magnética)? É neste ponto que um observatório ou uma estação magnética próxima ao levantamento é importante. Este observatório ou estação tem que medir o campo magnético no mesmo instante que o registro do levantamento. O registro do observatório será contínuo no tempo e fixo em um único ponto, próximo ao levantamento, não sofrendo assim, a influência da anomalia magnética. Já no caso da malha do levantamento, ele conterá a informação sobre a anomalia, já que passará por cima dela. Note que tanto no registro magnético do levantamento quanto no registro do observatório os campos interno e externo estão presentes. O ideal é que a distância entre o observatório e o levantamento seja muito pequena, assim é minimizada uma possível variação drástica dos campos interno e externo em ambos os registros. Então, se subtrairmos o registro magnético do levantamento, daquele registro do observatório, estaremos excluindo os campos interno e externo. Ficaremos somente com a influência do campo produzido pela anomalia. Esse procedimento, comumente chamado de “correção” na geofísica, é ilustrado na Figura 3. Mas quando não existe estações ou observatórios próximos à região do levantamento, essa correção deve ser feita usando- se algum modelo global que simule como o campo Figura 2: Em (a) é mostrado um levantamento aéreo e em (b) um levantamento marítmo. ANOMALIA MAGNÉTICA = CAMPO MEDIDO - (CAMPO INTERNO+CAMPO EXTERNO) 3 variou naquele instante e região. Correntes geomagneticamente induzidas Outro efeito que deve ser considerado pelos pesquisadores é o que conhecemos como GIC’s (do inglês Geomagnetically Incuced Currents) ou correntes geomagnéticas induzidas. As GIC’s são correntes induzidas em fios e cabos de transmissão de energia feitos pelo homem. Durante as tempestades magnéticas, correntes induzidas podem fluir nos fios de alta tensão podendo destruir transformadores elétricos. As GIC’s podem ser explicadas através da Lei de Faraday, que prevê surgimento de corrente elétrica em um condutor quando há variação do campo magnético. E essa variação de campo acontece exatamente durante uma tempestade magnética. Campos elétricos são induzidos em condutores na superfície da Terra ou próximo a superfície, por variações na intensidade e direção do campo geomagnético. Estes campos elétricos controlam correntes chamadas de correntes geomagneticamente induzidas (CGI). As CGI tem sido estudadas desde a metade o século 19 quando foram observados seus efeitos em cabos de telecomunicação de longa distância. Estas correntes podem afetar as redes de transmissão de energia, saturando transformadores. Recentemente os efeitos das CGIs em redes de transmissão têm sido exaustivamente estudadas. Esses estudos vêm se intensificando desde a catastrófica falha da rede de transmissão de energia em Quebec, durante uma tempestade magnética severa, na noite entre 13 e 14 de março de 1989. Essa tempestade magnética destruiu o sistema de transmissão de energia da hidroelétrica de Québec. Também causou um apagão de 9 horas em um condado dos EUA. Um apagão pode provocar consequências desastrosas para a sociedade. Imagine que um apagão de 9 horas atinja um hospital onde existam pacientes que dependam da ajuda de aparelhos elétricos para Figura 3: Em (a) é mostrado um esquema das anomalias magnéticas superimpostas com o campo externo e interno (linha em verde). Em (b) é mostrado dois supostos corpos que estariam causando estas anomalias. Já (c) mostra como ficaria o registro se fosse subtraído de um registro de um observatório magnético próximo. Veja que neste caso, somente a tendência da linha verde em (a) está sendo retirada e as anomalias aparecem de forma mais clara, constando somente o valor da intensidade da anomalia (neste esquema seria da ordem de ±10.000 nT). (a) (c) (b) 4 sobreviver. Fica evidente a importância de estudar e compreender as GIC’s para evitar situações como essa. ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/1_a_terra_e_magnetica.pdf 1 A descoberta de que a Terra possui um campo magnético próprio ocorreu em 1600 por um cientista chamado William Gilbert. Ele chegou a conclusão de que a Terra se comportava como um grande imã. O estudo do campo magnético da Terra (ou geomagnético) sempre foi de grande importância histórica, tanto para a orientação nas navegações quanto para um melhor conhecimento sobre o planeta Terra. Nos dias atuais há muita pesquisa sendo desenvolvida sobre geomagnetismo. Alguns tópicos ainda estão em plena discussão, como por exemplo, os processos que originam este campo magnético e as suas consequências para a Terra. Neste curso discutiremos desde os tópicos fundamentais até as questões mais complexas que atualmente estão sendo estudadas. Como o campo magnético é uma grandeza vetorial, com intensidade e direção, podemos medi-lo por seus componentes (Figura 1): norte (X), leste (Y), vertical (Z) e por seus ângulos de declinação magnética (D) e inclinação magnética (I). A componente horizontal do campo é representada por H e a intensidade total por F (ou por B). A componente horizontal (H) aponta para o norte magnético. A declinação magnética é o ângulo entre o norte magnético e o geográfico. A intensidade do campo magnético é medida em uma unidade chamada Tesla. O campo geomagnético é expresso em nano-tesla (nT) que é igual a 10-9 tesla. A intensidade do campo na superfície da Terra é da ordem de 70.000 nT próximo aos pólos e cerca da metade deste valor próximo ao equador (Figura 2). Mas há uma região da Terra onde o campo é mais fraco e essa área é chamada de Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS). Grande parte da AMAS está localizada no Brasil e será um tópico de importante discussão no decorrer deste curso. O campo magnético observado é resultado da contribuição de diferentes fontes: o campo do núcleo, o campo externo, campo induzido e o campo crustal. Os campos do núcleo, crustal e induzido serão abordados em detalhes no módulo 2, já o campo externo será descrito no módulo 3. Entretanto, para uma visão geral do campo geomagnético, explicamos as principais características em seguida. MÓDULO 1.1: A TERRA É MAGNÉTICA Figura 1: Componentes do campo geomagnético: “X” é a componente norte, “Y” é a componente leste e “Z” a vertical. O ângulo “D” é a declinação magnética: desvio da bússola em relação ao norte geográfico e a inclinação “I” é o ângulo entre a componente horizontal (“H”) e o campo total (“F”). Figura 2: Mapa do campo magnético em 2005 calculado por um modelo internacional de referência do campo geomagnético (IGRF). AMAS 2 Campo do núcleo (ou campo principal): o campo geomagnético gerado no núcleo possui uma geometria aproximadamente dipolar. Este campo corresponde a cerca de 90% do campo observado, por isso o campo do núcleo também é chamado de principal. Esse campo dipolar funciona como um “escudo protetor” para as partículas que vêm do Sol e de raios cósmicos que se propagam na direção do nosso planeta. O termo dipolar significa dois pólos, norte e sul, como por exemplo, em um imã. As LINHAS DE FORÇA DO CAMPO MAGNÉTICO em um imã saem do pólo norte para o pólo sul (Figura 3). Entretanto esta convenção do imã não é adotada pelos geofísicos no caso da Terra. Note que em nosso planeta atualmente as linhas de força saem do sul geográfico para o norte geográfico (Figura 4). Entretanto, os geofísicos consideram os pólos magnéticos de acordo com os pólos geográficos. Por isso, a configuração atual do campo magnético indica que o pólo sul magnético está próximo ao pólo sul geográfico e vice-versa (Figura 4). Essa associação não é permanente, já que devido às reversões do campo, os pólos invertem o sentido. Mas você imagina como é o interior da Terra? O interior da Terra possui quatro camadas principais: a crosta, o manto, o núcleo externo e o núcleo interno (Figura 5). Cada camada possui características específicas de composição, pressão e temperatura. Figura 3. Linhas de força do campo magnético de um imã. As LINHAS DE FORÇA DO CAMPO MAGNÉTICO descrevem a estrutura do campo magnético. A agulha da bússola aponta ao longo de uma linha de campo. Quanto mais próximas as linhas de campo, maior será a intensidade do mesmo (como nos pólos magnéticos da Terra ou de um imã). Já as linhas de campo afastadas representam campos magnéticos mais fracos. Figura 4: Representação atual do campo dipolar da Terra, mostrando as linhas do campo magnético, os pólos magnéticos e geográficos. Figura 5: Principais camadas da Terra: crosta, manto e núcleo (interno e externo). 3 A crosta possui espessuras diferentes nos continentes e nos oceanos: poucas dezenas de quilômetros nos continentes e menos do que dez quilômetros nos oceanos. Abaixo da crosta, existe o manto que atinge uma profundidade de aproximadamente 2891 quilômetros. O núcleo externo é a única camada liquida da Terra e atinge uma profundidade de 5150 quilômetros. Já o núcleo interno é sólido e se estende até 6371 km (raio da Terra). Mas como sabemos sobre a existência destas camadas e das divisões entre elas? Para responder esta pergunta consulte o: Entretanto, na realidade, não há um imã no núcleo terrestre. O que existe é fluido composto principalmente de ferro (Fe) e níquel (Ni) com uma alta CONDUTIVIDADE ELÉTRICA (σ = 5x105 S/m). Este fluido está em constante movimento na presença de um campo magnético pré-existente. Consequentemente, o fluido induz correntes elétricas que ampliam o campo magnético. Campo Externo: é gerado pelo VENTO SOLAR ao atingir a magnetosfera terrestre, que é a região em volta da Terra onde o campo magnético está confinado. A parte da magnetosfera voltada para o Sol é comprimida pelo vento solar e atinge 10 Raios da Terra (Re=6371km). Já a parte oposta ao Sol, fica alongada e é chamada de cauda magnética, atingindo 60 Re (Figura 6). Outra região onde o campo externo é produzido é chamada de ionosfera e estende-se de 60 km até 1500 km. A ionosfera é dividida em camadas com espessuras e ionizações diferentes. Campo Crustal: é gerado pelas rochas magnéticas que existem na camada mais superficial da Terra. A primeira observação da existência do campo magnético da Terra ocorreu devido à propriedade de atração de uma rocha magnética, o imã natural. O campo magnético antigo é registrado por rochas, Figura 6: Esquema mostrando o efeito do vento solar no campo magnético da Terra. A magnetosfera é a região de existência do campo geomagnético. Terra Magnetosfera A CONDUTIVIDADE ELÉTRICA mede a capacidade de um material conduzir uma corrente elétrica. É normalmente representado pela letra grega sigma (σ) e sua unidade é Siemens/metro (S/m). Metais, por exemplo, possuem uma alta condutividade elétrica e por isso são chamados de condutores. Alguns exemplos da condutividade elétrica de materiais encontram-se abaixo (para uma temperatura de 20ºC): SAIBA MAIS SOBRE SISMOLOGIA O VENTO SOLAR é composto por partículas energizadas e ionizadas, basicamente elétrons e prótons que fluem do Sol para todas as direções. O vento solar é originado na camada mais externa do Sol, chamada corona. A sua velocidade é de aproximadamente 400 km/s, mas pode chegar até 800 km/s. 4 que contém minerais magnéticos. Estes minerais funcionam como pequenos imãs e orientam-se de acordo com o campo magnético natural naquela época em que as rochas foram formadas. Este tipo de magnetização é chamada de permanente. Quando medimos o campo magnético em um determinado local, a influência de todas as fontes está contida no registro. A Figura 7 mostra a localização dessas diferentes fontes. Não há uma forma automática de se separar o campo do núcleo do campo externo no momento em que estamos fazendo medições. Isso é feito posteriormente usando métodos matemáticos. As primeiras observações do campo geomagnético mostraram que o campo magnético da Terra não é estático, mas varia no tempo em uma ampla escala temporal: de milissegundos até milhões de anos. A Figura 8 mostra um registro da declinação magnética na China do ano de 720 até 1829. De modo geral, podemos dividir a variação temporal do campo geomagnético em duas faixas: as variações mais longas, de milhões de anos a dezenas de anos, são geradas pelo núcleo e as variações de mais curto período, como as tempestades magnéticas, são geradas pelo campo externo. São as rochas magnéticas que registram as variações paleomagnéticas, na escala de milhões de anos. Um fato bem conhecido é que o campo magnético reverteu sua polaridade muitas vezes no tempo geológico. No presente, o dipolo magnético aponta do hemisfério sul para o hemisfério norte (veja Figura 4), mas no passado essa direção já foi invertida muitas vezes. Já as mudanças do campo magnético na escala de centenas de anos são chamadas de variação secular. Desde o início das observações contínuas do campo geomagnético, a cerca de 170 anos atrás, a intensidade do campo magnético global vem decaindo em uma taxa de 6% em 100 anos. Entretanto, o decréscimo da intensidade do campo não é igual em todas as regiões do globo; especialmente na região da AMAS esta diminuição está ocorrendo mais rapidamente. Outra característica interessante da variação secular é o deslocamento do campo para oeste. Assista o vídeo BfS.mov e note que a AMAS estava na África por volta de 1600 e se deslocou para a direção do Brasil, onde encontra-se atualmente. Existem outras variações temporais mais curtas devido à atividade solar, que vão de dezenas de anos até milissegundos. Por exemplo, há Figura 8: Declinação magnética registrada na China. Figura 7: Esquema mostrando as diferentes fontes do campo magnético da Terra. 5 variações no decorrer de 1 dia (chamada variação diurna). Quando a atividade solar não está muito ativa, o dia é chamado de “dia geomagneticamente calmo” ou Sq (do inglês: “Solar-quiet”). Já quando a atividade solar encontra-se muito ativa, ocorrem tempestades magnéticas, que duram horas. Durante tempestades magnéticas, podem ocorrer problemas em satélites, sistemas de navegação e rádio-comunicação. Estes distúrbios ocorrem mais frequentemente nas áreas onde a intensidade do campo é mais fraca (AMAS), ou seja, onde o “escudo protetor” da Terra (campo principal) é mais fraco. Todos estes tópicos serão abordados em detalhes nos próximos módulos do curso. Referências Bibliográficas Merril, R. T.; McElhinny, M. W.; McFadden, P. L. (1996). The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core, and the deep mantle. Academic Press. Olsen, N; Hulot , G.; Sabaka, T.J. (2010). Measuring the Earth’s Magnetic Field from Space: Concepts of Past, Present and Future Missions. Space Sci Rev. 155: 65–93, DOI 10.1007/s11214-010-9676-5. Pawar, S. D.; Murugavel, P.; Lal, D. M. (2009). Effect of relative humidity and sea level pressure on electrical conductivity of air over Indian Ocean. Journal of Geophysical Research 114: D02205. Raymond Jeanloz (1990). The nature of the Earth´s core. Annu. Rev. Earth Planet. Sci., 18:357-86. Serway, Raymond A. (1998). Principles of Physics (2nd ed.). Fort Worth, Texas; London: Saunders College Pub. p. 602. Fontes das Figuras Figura 1: Modificado do livro “The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core, and the deep mantle” Merril, R. T. et. al. (1996) Figura 3: Homepage da NASA sobre campos magnéticos “Magnetic Fields” http://helios.gsfc.nasa.gov/magfield.html Figura 4: Homepage da Agência Espacial Européia. Autor: Peter Reid (2003) http://sci.esa.int/science- e/www/object/index.cfm?fobjectid=41209 Figura 5: Homepage sobre as camadas da Terra “Into the dephts of the Earth” http://sprg.ssl.berkeley.edu/~ateste/AlexandraTest e/Earth_layers.html Figura 6: Homepage da NASA http://sohowww.nascom.nasa.gov/gallery/images/ magfield.html Figura 7: Artigo científico N. Olsen · G. Hulot · T.J. Sabaka (2010). Figura 8: Homepage sobre paleomagnetismo Autora: Lisa Tauxe http://magician.ucsd.edu/essentials/WebBookch14 .html#WebBookse89.html ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/4.2.1_centros_exterior.pdf 1 No mundo existem diversos centros de pesquisa dedicados ao estudo do campo magnético da Terra. Nesse módulo vamos listar alguns destes institutos e seus principais pesquisadores. É claro que muitos outros importantes centros de pesquisa existem e você pode pesquisar mais sobre isso. Começaremos descrevendo alguns centros de pesquisa no exterior até chegar aos institutos do Brasil. ETH – Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (Instituto Federal Suiço de Tecnologia de Zurique) Homepage: http://www.epm.ethz.ch/ Essa instituição foi fundada em 1855, oferece um excelente ambiente de estudo para pesquisadores em tempo integral. É uma das principais universidades internacionais de tecnologia e das ciências naturais. O ETH tem mais de 17 mil estudantes de aproximadamente 80 países diferentes, dos quais 3.700 cursam o doutorado. Possuem um quadro com 400 professores que ensinam e realizam pesquisas nas áreas de geomagnetismo, arquitetura, engenharia, matemática, ciências naturais e ciências sociais. Esse instituto aparece regularmente no topo de rankings internacionais como uma das melhores universidades do mundo. Vinte e um dos ganhadores do prêmio Nobel estudaram, ensinaram ou realizaram pesquisas no ETH. Um dos principais pesquisadores na área da geofísica do ETH é o Dr. Andrew Jackson, que iniciou sua pesquisa neste instituto em janeiro de 2006. Ele atualmente dirige o grupo de magnetismo terrestre e planetário no Instituto de Geofísica. O Dr. Jackson realizou seu doutorado em Cambridge e fez seu pós-doutorado na Universidade de Harvard. O modelo global “gufm1” foi desenvolvido por Jackson. Outro pesquisador importante no ETH é o Dr. Alexei Kuvshinov que trabalha principalmente com modelagem da condutividade elétrica do manto por estudos de indução eletromagnética. Figura 1: Diferença entre um campo magnético induzido por uma condutividade elétrica 1D do manto e um outro modelo de condutividade 3D para a tempestade magnética de 5-6 de novembro de 2001. Em geral o grupo de geomagnetismo do ETH desenvolve as seguintes pesquisas baseadas em observações do campo magnético da Terra: Evolução histórica do campo magnético terrestre; Condutividade elétrica do manto usando dados de indução magnética e impulsos da variação secular; Estudos de geomagnetismo por satélites; Dinâmica do núcleo terrestre e acoplamento núcleo-manto; Observatórios magnéticos em locais remotos. O ETH também realiza estudos de modelagem numérica e pesquisas teóricas em: Modelos numéricos do geodínamo, focando em mecanismos de reversão magnética; Convecção no núcleo terrestre e em outros planetas; MÓDULO 4.2.1: PRINCIPAIS CENTROS DE PESQUISA NO EXTERIOR 2 Métodos numéricos, especialmente em geometria esférica. Este grupo desenvolve estudos experimentais sobre magnetismo natural de materiais e dínamos com metais líquidos. IPGP - Institut de Physique du Globe de Paris (Instituto de Física do Globo de Paris) Homepage: http://www.ipgp.fr/ O IPGP é uma instituição educacional e de pesquisa. A sua missão é realizar pesquisa e promover educação nas áreas de geociências. O IPGP é também encarregado de monitorar os fenômenos naturais. O instituto realiza pesquisas em todos os campos de estudos da Terra sólida (geofísica, geoquímica e geologia) pela combinação de observações em terra e no mar e análise de laboratório. O IPGP realiza estudos dos riscos naturais incluindo pesquisas de vulcanologia sobre três vulcões ativos. O IPGP coordena a rede mundial de estações sismológicas (GEOSCOPE) e fornece uma importante contribuição para a rede mundial de observatórios magnéticos (INTERMAGNET). O IPGP foi criado com objetivo de entender os processos que ocorrem na Terra, desde o núcleo até a sua superfície. Usa métodos de física e química e ferramentas da matemática e processamento de dados. Os pesquisadores do IPGP estudam as variações temporais (de segundos até bilhões de anos) e espaciais (de nanômetros até dezenas de milhares de quilômetros) do campo magnético da Terra. Há quatorze grupos de pesquisa no IPGP que trabalham nas seguintes áreas de pesquisa de geomagnetismo: Variação secular; Difusão magnética no núcleo; Deslocamento do polo norte magnético; Dinâmica do núcleo e geodínamo; Observatórios magnéticos e satélites- técnicas de processamento; Modelagem global do campo interno- IGRF Modelagem global do campo Sq e eletrojato equatorial. Em geomagnetismo citaremos dois pesquisadores: Dr. Alexandre Fournier e Dr. Arnaud Chulliat. O Dr. Fournier trabalha com modelos de dinâmica do núcleo com ênfase em um tipo de modelagem usado primeiramente em meteorologia - assimilação de dados. O Dr. Chulliat é um especialista na instalação e processamento de dados de observatórios magnéticos, assim como modelagem do campo interno e externo. GFZ Deutsches GeoForschungsZentrum (Centro de Pesquisa de Geociências da Alemanha) Homepage: http://www.gfz-potsdam.de/ Localizada na Alemanha, o centro de pesquisa GFZ concentra-se no estudo do planeta Terra. O instituto desenvolve pesquisas sobre a história da Terra, suas propriedades, os processos que ocorrem no seu interior e na superfície. O GFZ Investiga as interações que existem entre os seus subsistemas, o geológico, o hidrológico, a atmosfera e a biosfera. O Centro Nacional de Pesquisa de Geociências na Alemanha atualmente conta com 1.082 funcionários, incluindo 375 pesquisadores e 125 alunos de pós-graduação. O GFZ trabalha intensamente na aplicação e desenvolvimento da tecnologia de satélites, métodos de medição em uso geodésico e geofísico e em tomografia sísmica. Um dos trabalhos mais importantes do grupo de geomagnetismo no GFZ é a instalação de novos observatórios magnéticos no mundo. O mapa mostrado na Figura 2 indica os 14 observatórios magnéticos que o GFZ cooperou na instalação, incluindo o novo Observatório Magnético do Pantanal. A pesquisadora Dra. Monika Korte trabalha com geomagnetismo e paleomagnetismo, variação secular recente e de longo período, modelos globais do campo magnético regional e global, levantamentos geomagnéticos e métodos para separação das diferentes fontes do campo. Já o pesquisador Dr. Joachim Linthe trabalha principalmente com a instalação de novos observatórios magnéticos e processamento desses dados. Tanto a Dra. Korte quanto o Dr. Linthe trabalharam com o grupo do Observatório Nacional 3 na instalação do novo Observatório do Pantanal em outubro de 2012 e atualmente na construção do novo Observatório da Amazônia. Figura 2: Mapa mostrando os observatórios existentes no mundo (círculos em preto). Aqueles que o GFZ contribuiu na instalação estão assinalados por estrelas vermelhas. Université de Nantes: Laboratoire de Planetologie et Geodynamique de Nantes- LPGN (Universidade de Nantes- Laboratório de Planetologia e Geodinâmica de Nantes) Homepage: http://www.sciences.univ-nantes.fr/lpgnantes/ O Laboratório de Planetologia e Geodinâmica de Nantes (LPGN), na França, é dedicado ao estudo da Terra e planetas. O LPGN inclui mais de 35 pesquisadores, cerca de 10 técnicos e entre 15 a 20 estudantes de doutorado e pós-doutorados. A cada ano, cinquenta publicações são de autoria ou coautoria dos membros deste laboratório. As principais missões do LPGN são: pesquisa e observação de fenômenos naturais, assim como ensino. A missão da pesquisa é estudar a complexidade da Terra e planetas em uma ampla escala espacial e temporal. Os estudos começam do detalhamento das observações de fenômenos naturais até a aplicação de uma grande variedade de ferramentas e métodos avançados. O objetivo principal dos pesquisadores deste laboratório é expandir os conhecimentos sobre a Terra e planetas e melhorar nosso conhecimento sobre os processos físicos que ocorrem no interior e na superfície dos planetas. A missão de ensino do LPGN é realizada por programas de mestrado e doutorado. Este é um dos raros laboratórios no mundo que une geólogos, geofísicos e astrofísicos. Esta união permite a execução de projetos para o estudo do interior de planetas e da Lua, caracterizando a estrutura e evolução dos mesmos, usando técnicas matemáticas aplicadas à observações geofísicas. Alguns temas estudados no LPGN são: Controle do manto no geodínamo; Mudanças do dipolo da Terra e efeitos de difusão; Dinâmica interna de planetas sólidos; Tomografia sísmica global e regional; Campo magnético da litosfera atual e o dínamo no passado de Marte; Campo magnético litosférico da Terra (exemplo na Figura 3); Modelagem da temperatura e composição no interior de planetas. Figura 3: Mapa aeromagnético na região chamada Champtoceaux, na França. Estudo realizado pelo LPGN. As regiões A, B e C foram as regiões estudadas em detalhe. Um dos pesquisadores que realizam pesquisa de ponta no LPGN é o Dr. Hagay Amit. 4 Uma das linhas de pesquisa do Dr. Amit é sobre o controle do manto no geodínamo. As anomalias sísmicas no manto inferior da Terra sugerem que o fluxo de calor na interface núcleo-manto contém heterogeneidades laterais. O Dr. Amit estuda como estas heterogeneidades podem influenciar o geodínamo, que é gerado por movimentos convectivos no núcleo externo. Institut for Rumforskning og-teknologi - DTU Space (Instituto Nacional Espacial da Dinamarca) Homepage: https://space.dtu.dk/English.aspx Fundada em 1829 na Dinamarca, é uma universidade que oferece cursos na maioria das disciplinas de engenharia com níveis de mestrado e doutorado. A universidade tem um alto padrão internacional no âmbito das ciências técnico- naturais, com base em 19 departamentos individuais, bem como um número de centros de pesquisa no campus em Lyngby, ao norte de Copenhague. Os departamentos oferecem atividades na área de biotecnologia, tecnologia de comunicações, gestão de energia eólica, tecnologia espacial e de nanotecnologia, entre outras áreas. O DTU é uma das principais universidades técnicas no Norte da Europa, com mais de 180 anos de experiência em pesquisa de alto nível e educação. A universidade é caracterizada por ter um ambiente internacional com estudantes e pesquisadores de todo o mundo, e um grande número de cursos e programas ministrados em Inglês. Dr. Nils Olsen é um dos principais pesquisadores em geomagnetismo do DTU com mais de 100 artigos publicados em revistas científicas importantes. Ele trabalha nas seguintes áreas de pesquisa: Modelagem das variações do campo magnético da Terra; Modelagem do fluido no núcleo terrestre; Indução eletromagnética no manto; Análise do campo magnético da Terra por satélites; Campo magnético de Marte e da Lua, com ênfase na separação dos campos interno e externo. National Aeronautics and Space Administration- NASA (Administração Espacial e Aeronáutica Nacional dos Estados Unidos) Homepage Geral da NASA: http://www.nasa.gov/ Homepage de geomagnetismo da NASA: http://denali.gsfc.nasa.gov/geomag.html No dia 01 de outubro de 1958 a NASA foi fundada. O nascimento da NASA estava diretamente relacionado às pressões de defesa nacional. Durante a Guerra Fria, a exploração do espaço surgiu como uma importante área de competição e tornou-se conhecida como a “corrida espacial”. Durante a década de 1940, o Departamento de Defesa investia em pesquisas e foguetes, como meio de assegurar a liderança americana em tecnologia. O presidente Eisenhower deu um importante passo quando aprovou um plano para colocar em órbita um satélite científico, como parte do Ano Geofísico Internacional (AGI) para o período de primeiro de julho de 1957 a 31 de dezembro de 1958. Foi um esforço cooperativo para reunir dados científicos sobre a Terra. Desde a sua criação em 1958, a NASA tem realizado grandes feitos científicos e tecnológicos no espaço. Continua a ser uma força de liderança na pesquisa científica e estimula o interesse público na exploração aeroespacial, bem como a ciência e tecnologia em geral. A NASA atua em diversos setores científicos e contribui fortemente para descobertas em todas as áreas da ciência, incluindo a geofísica. O grupo de geomagnetismo da NASA trabalha principalmente com modelos chamados de “compreensivos” (de comprehensive model) que separam fontes internas e externas do campo magnético, anomalias crustais e apoio a missões espaciais que objetivam o estudo do campo geomagnético, como a missão SWARM (Figura 4). 5 Figura 4: Ilustração da missão de satélite SWARM, dedicada ao estudo do campo magnético terrestre. Um dos pesquisadores mais importantes da NASA em geomagnetismo é o Dr. Terence Sabaka. Ele desenvolveu um modelo muito famoso, chamado de CM4, no qual conseguiu modelar as diferentes fontes do campo geomagnético: àquelas geradas no núcleo, magnetosfera, ionosfera e campos induzidos. University of California, Los Angeles- UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) Homepage do Instituto de Geofísica e Física Planetária: http://www.igpp.ucla.edu/ Homepage do Departamento de Matemática: http://www.math.ucla.edu/ O Instituto de Geofísica e Física Planetária da Universidade da Califórnia é interdisciplinar que gera novas ideias e métodos das ciências físicas para pesquisas e educação nas geociências e para suas aplicações. O Instituto foi fundado em 1946, com aplicações pioneiras na física e química nas ciências da Terra. Atualmente participa em projetos de aplicação da paleontologia e microbiologia no estudo da origem e evolução da vida. Também nas aplicações em satélites, cálculos e visualização do ambiente espacial, além de desenvolvimentos experimentais e teóricos sobre a química e física do interior da Terra e outros planetas. Eles se preocupam ainda com aplicações da ciência em questões sócio-econômicas. Atualmente são três centros dentro deste instituto, cada um com seu próprio programa de pesquisa e ensino: Ciências Planetárias: astrônomos, cosmo- químicos e astro-biólogos se unem para compreender a origem e evolução de outros planetas. Eles também estudam as condições que favoreceram a vida na Terra e exploram outras zonas de possível habitação. Sistemas da Terra: unem estudos observacionais, teóricos, numéricos e experimentais (laboratório) para investigar a Terra e sua interação com o meio interplanetário. Física Espacial: analisam o vento solar, magnetosferas, ionosferas e atmosferas da Terra e outros planetas através de simulações, física de plasma e física espacial. Desenvolvem tecnologias para pesquisas espaciais e educação. Entretanto um dos pesquisadores de maior destaque encontra-se no Departamento de Matemática da UCLA, chamado Paul Roberts. Se você lembrar das aulas sobre o geodínamo, ele foi citado como um dos criadores dos modelos tridimensionais do dínamo terrestre. Dr. Paul Roberts trabalha em áreas como: mecânica dos fluidos, magnetohidrodinâmica e ondas não- lineares. Estes temas são aplicados em problemas relacionados ao planeta Terra e contribuem muito para esclarecer questões sobre o geodínamo. Há muitos outros institutos no exterior que devem ser citados na área de geomagnetismo, como a Universidade de Harvard, a Universidade de Liverpool, a Universidade de Leeds, entre outras. Deixamos para vocês o trabalho de procurar novos pesquisadores e importantes instituições de pesquisa que realizam trabalhos atuais sobre o campo magnético da Terra. A pesquisa sobre novas informações é muito importante para seu aprendizado! ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/4_magnetismo_das_rochas.pdf 1 A crosta terrestre é composta por rochas que contém alguma quantidade de minerais magnéticos. Esses minerais adquirem uma magnetização remanente, ou seja, eles registram o campo magnético de um determinado local e época. Quando as rochas se formam, normalmente os minerais “magnéticos” constituintes adquirem uma magnetização paralela ao campo magnético ambiente da época, também chamada de magnetização remanente primária. Esta magnetização primária fornece a informação sobre a direção e intensidade do campo magnético na época em que a rocha foi formada. Mas as rochas também podem adquirir magnetizações posteriores a sua formação em virtude de processos físicos e químicos. Esse tipo de magnetização é chamado de magnetização remanente secundária. Mas você sabe como as rochas adquirem magnetização? Há várias formas nas quais rochas e artefatos arqueológicos podem gravar a magnetização. A mais comum é chamada de magnetização termo-remanente Nesta magnetização os grãos magnéticos presentes nas rochas ígneas se orientam na direção do campo magnético da época. Em resumo, esta rocha grava a magnetização daquele local na época em que ela foi formada. Quando a temperatura está muito alta, a agitação térmica não possibilita que a rocha registre o campo magnético do ambiente. Mas quando a rocha começa a esfriar, ela passa por uma temperatura crítica, chamada temperatura de Curie. Abaixo da temperatura de Curie, a energia magnética supera a energia térmica e a rocha adquire uma magnetização. A temperatura de Curie varia de acordo com o tipo de mineral magnético; para a magnetita esta temperatura é de 578ºC e para a hematita de 675ºC. Cada camada de rocha mais profunda representa um período mais antigo. Estas idades são determinadas por métodos de datação. Além das idades, estas camadas registram o campo magnético daquela época. Então, obtêm-se uma sequência de idades das rochas e as suas respectivas magnetizações. Também, como vocês viram no módulo 1, o assoalho oceânico registra o campo magnético no passado e da mesma forma, por datação, conhecemos a sequência de idades das rochas e de suas magnetizações. Por esse motivo, sabemos quando o campo reverteu a sua polaridade no tempo geológico. Já as rochas sedimentares formam-se quando partículas de sedimento que se depositaram no assoalho oceânico, lagos ou rios são compactadas. Mas antes desta compactação, existem partículas magnéticas entre os grãos que se alinham na direção do campo magnético. Estas partículas são como pequenos imãs magnetizados na direção do campo da época da deposição. Depois que a rocha é compactada ela incorpora a orientação destas pequenas partículas (Figura 1). Este tipo de magnetização é chamada de remanente deposicional. MÓDULO 2.4: MAGNETISMO DAS ROCHAS Figura 1. Grãos de minerais magnéticos transportados no oceano com outros sedimentos (A). Estes grãos ficam alinhados com o campo magnético da época enquanto decantam (B). Esta orientação é preservada na compactação dos sedimentos quando a rocha sedimentar se forma. 2 Para estudarmos os tipos de magnetização em sólidos, precisamos primeiro aprender alguns conceitos fundamentais. O elétron, além de possuir carga elétrica, ele gira em torno de si mesmo (Figura 2A). Podemos comparar seu movimento com o de um pião (brinquedo infantil). O elétron possui uma orientação magnética bem parecida como um imã, tendo pólos norte e sul. Essa orientação que é definida como spin. Para fins didáticos, o spin pode ser representado por uma simples seta (Figura 2B). Se o elétron girar de oeste para leste, representamos o spin com uma seta para cima. Já se o elétron apresentar um giro de leste para oeste representamos o elétron com a seta para abaixo. Quando os elétrons estão sob influência de um campo magnético externo, os spins tendem a se alinhar de acordo com a orientação desse campo. O momento magnético de um corpo é a soma dos momentos magnéticos de seus átomos (Figura 3). A magnetização de um corpo (M) é a soma dos momentos magnéticos (m) por unidade de volume (V). O fator de proporcionalidade entre o campo magnético indutor (H) e a magnetização (M) é chamado de susceptibilidade magnética (k): M = k H A susceptibilidade magnética é uma medida da capacidade do material adquirir magnetização. Quanto maior a susceptibilidade, maior será a magnetização do material. Alguns exemplos de susceptibilidade magnética em rochas e minerais são mostrados na Figura 4. Há três classes principais de comportamento magnético que podem ser distinguidas em termos de susceptibilidade magnética: diamagnetismo, paramagnetismo e ferromagnetismo. Materiais diamagnéticos têm uma suscetibilidade negativa (Figura 5). Isso significa que sob influência de um campo magnético, os materiais diamagnéticos adquirem uma magnetização com a orientação oposta ao campo ambiente. Um exemplo de mineral diamagnético é o quartzo. Já os materiais paramagnéticos possuem Figura 2. Representação de um spin (A) e representação simplificada (B). A B Figura 3. Representação de momentos magnéticos em um sólido. A e B mostram a orientação aleatória em dois instantes diferentes. Já C uma parte dos momentos magnéticos está alinhada com o campo H e o sólido adquire uma magnetização induzida Ji. Figura 4. Faixas de valores de susceptibilidade magnética de algumas rochas (A) e minerais (B). 3 características opostas aos materiais diamagnéticos; eles apresentam como característica principal uma suscetibilidade positiva (Figura 5). Como consequência, eles adquirem uma magnetização com o mesmo sentido ao do campo magnético que está sob influência. Nos materiais paramagnéticos e diamagnéticos a interação entre os momentos magnéticos dos átomos é pequena e normalmente desprezível. Entretanto, em alguns metais (ex. ferro, níquel e cobalto) os átomos ocupam posições próximas o suficiente para permitir troca de elétrons entre átomos vizinhos. Esta troca faz com que os momentos magnéticos dos átomos fiquem alinhados paralelamente ao campo magnético externo e produzam uma magnetização espontânea (Figura 6A), ou seja, uma magnetização própria mesmo quando não há um campo magnético externo. Esses materiais são chamados de ferromagnéticos e apresentam uma forte magnetização. Quando o material ferromagnético é aquecido, a sua magnetização espontânea desaparece acima da temperatura de Curie e o material se torna paramagnético. Materiais antiferromagnéticos (Figura 6B) possuem momentos magnéticos antiparalelos. Isto resulta em uma susceptibilidade fraca e positiva. Porém, esses materiais podem adquirir magnetização remanente, como por exemplo, a hematita. Já os materiais ferrimagnéticos (Figura 6C) também apresentam alinhamentos antiparalelos, porém, com intensidades diferentes. Os materiais ferrimagnéticos adquirem uma magnetização espontânea. A magnetita é o mineral ferrimagnético mais importante na composição das rochas magnéticas. O estudo das ANOMALIAS MAGNÉTICAS da crosta terrestre requer levantamentos de grande escala que podem ser realizados por satélites, em altitudes de algumas centenas de quilômetros, assim como por navios e aviões. Dados de satélites possibilitam o estudo de feições magnéticas na escala de milhares de quilômetros, já levantamentos aéreos e marinhos possibilitam observar feições de dezenas e centenas de quilômetros que normalmente estão relacionados a estruturas geológicas. Figura 6. Representações esquemáticas dos alinhamentos dos momentos magnéticos atômicos e suas respectivas magnetizações espontâneas. Em A, ferromagnetismo, em B, anti- ferromagnetismo e em C ferrimagnetismo. A B C Magnetização espontânea As ANOMALIAS MAGNÉTICAS são geradas por contrates de magnetização entre rochas com diferentes propriedades magnéticas. A anomalia magnética depende da forma, profundidade e orientação do corpo fonte. Figura 5. Variações da magnetização (M) com um campo magnético aplicado (H) em materiais paramagnéticos e diamagnéticos. 4 As características magnéticas da crosta são diferentes nos continentes e nos oceanos. As diferentes estruturas, composições e histórias de evolução das crostas continental e oceânica, refletem nas anomalias magnéticas que são produzidas. As anomalias oceânicas possuem um padrão geral regular com bandas de magnetização positivas e negativas, da ordem de dezenas de quilômetros. O paralelismo entre as anomalias e o eixo da cadeia oceânica e a simetria entre as sequências de máximos e mínimos, são as bases do modelo proposto por Vine e Matthews e independentemente por Morley, em 1963. Este é o efeito combinado da expansão dos oceanos e reversões de polaridade do campo geomagnético (Figura 7). Já na crosta continental não há um padrão geral de magnetização. A crosta continental é formada por diversos tipos de rochas com propriedades magnéticas diferentes. As anomalias locais e regionais podem ser relacionadas a estruturas geológicas. O estudo do magnetismo das rochas é essencial para o desenvolvimento de pesquisas em paleomagnetismo e arqueomagnetismo (veja tópico 1.4), na reconstrução do passado magnético da Terra. Mas o conhecimento sobre o magnetismo das rochas se estende a aplicações nas indústrias. O objetivo de levantamentos magnéticos é identificar e descrever regiões da crosta terrestre que possuam magnetizações anômalas. Estas anomalias podem estar associadas a minerações locais de interesse comercial ou podem ocorrer devido a estruturas de sub-superfície relacionadas a depósitos de petróleo. Esse assunto será discutido no módulo 4 deste curso. Figura 7.Anomalias magnéticas na crosta oceânica: exemplo da cadeia de Juan de Fuca (na costa do Canadá no oceano Pacífico).Em A, o espalhamento e magnetização do fundo oceânico (preto significa magnetização normal e branco, a magnetização reversa) no modelo de Vine-Matthews-Morley. Em B, o mapa de anomalias magnéticas: preto significa anomalias positivas e em branco as anomalias negativas. C mostra o perfil observado da anomalia do campo magnético total (intensidade do campo magnético) medida ao longo da porção central do mapa (1 gamma = 1nT). 5 Referências Bibliográficas Hamed-Arkani, J. Magnetic anomalies, modeling. Encyclopedia of Geomagnetism and Paleomagnetism, Editores: Gubbins, D. & Herrero- Bervera, E., Springer, p. 485 – 490. Lanza, R. & Meloni, A., 2006. The Earth´s Magnetism. An Introduction for Geologists. Springer, 278 páginas. Lowrie, W., 2004. Fundamentals of Geophysics. Cambridge University Press. ISBN 0- 521-46164-2. Merril, R. T., Mcelhinny, M. W.; McFadden, P. L. (1996). The Magnetic Field of the Earth- Paleomagnetism, the core and the deep mantle. Academic Press. Volume 63. Press, F., Siever, R., Grotzinger, J., Jordan, T. H., 2006. Para entender a Terra. 4ª edição. Versão traduzida do livro. 656 páginas. Teixeira, W., Toledo, M. C. M., Fairchild, T. R. and Taioli, F., 2009. Decifrando a Terra. 557 páginas. Fontes das Figuras Figura 1: Press, F., Siever, R., Grotzinger, J., Jordan, T. H., 2006. Para entender a Terra. Figura 2: Elaborada por Rômulo Ferreira. Figuras 3, 5 e 7: Lanza, R. & Meloni, A., 2006. The Earth´s Magnetism. Figuras 4 e 6: Lowrie, W., 2004. Fundamentals of Geophysics. ON - Curso de Mangetísmo Terrestres - 2012/3_as_reversoes_do_campo.pdf 1 A primeira aproximação do campo geomagnético é de um dipolo magnético cujo eixo está bem próximo ao eixo de rotação da Terra. Em outras palavras, os pólos magnéticos estão normalmente muito próximos aos pólos geográficos. Entretanto, ocasionalmente os pólos magnéticos revertem a sua polaridade. Este processo de reversão é observado em registros paleomagnéticos, em rochas no fundo dos oceanos e em lavas vulcânicas. Veja mais sobre como as rochas e artefatos arqueológicos conseguem registrar o campo magnético no módulo 2.4. O campo geomagnético já reverteu a sua polaridade centenas de vezes durante toda a história da Terra (variações paleomagnéticas). As reversões não são periódicas, ou seja, não ocorrem com períodos bem determinados. O tempo médio entre reversões é de aproximadamente 250.000 anos. A última mudança de polaridade ocorreu há 780.000 anos, ou seja, muito mais do que o tempo médio das reversões. Isso não quer dizer, porém que uma reversão ocorrerá em breve, já que períodos muito maiores com a mesma polaridade já ocorreram na história da Terra. Épocas com a mesma polaridade magnética que a atual são chamadas de polaridade normal e épocas com a polaridade oposta são chamadas de polaridade reversa. Os chamados crons são períodos nos quais o campo magnético manteve a mesma polaridade de modo razoavelmente estável, geralmente de 50.000 anos até 5.000.000 anos.
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