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* * Adam Smith HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO PROF. BRUNO AIDAR * * Aula 1: A sociedade civil entre o Estado e o mercado Onde estudar? Rosanvallon, Liberalismo econômico, caps. 1 e 2 * * * * Paraíso (c.1360) - Nardo di Cione Capela de Strozzi di Mantova – Igreja Santa Maria Novella (Florença, Itália) * * * Detalhe de Inferno (c.1350-55) Nardo di Cione Capela de Strozzi di Mantova – Igreja Santa Maria Novella (Florença, Itália) * * Como criar e regular a sociedade a partir do homem? Passagem da sociedade como criação divina (centrada em Deus) para sociedade laica como criação do homem (centrada no indivíduo). Se a ordem social não é mais baseada em Deus, como a ordem social e a sociedade podem ser criadas? É preciso direcionar as paixões dos homens (não adianta tentar suprimi-las ou moderá-las pela fé ou pela razão). Indivíduo como novo ponto de partida para pensar a construção da sociedade. Mas o que é esse ser humano? Necessidade de criar uma análise empírica e científica do ser humano, seus afetos e sentimentos (ciência das paixões). Não se deve buscar aquilo que o homem deve fazer (moral), mas compreender o que ele é. * * * Diferentes respostas Fundação/instituição da sociedade depende do conhecimento das paixões dos homens. Século XVII: preocupação central com a passagem e distinção do estado de natureza e sociedade civil. Século XVIII: teoria do pacto fundador deixa de ser a questão principal, preocupações se voltam para a regulação da sociedade civil e a busca da harmonia social. Diferentes respostas à crise da ordem tradicional: Estado como resposta política (Hobbes, Leviatã, 1651) Mercado como resposta econômica (Smith, Riqueza das nações, 1776). * * * Hobbes: o Estado como solução Pensador do absolutismo inglês. Defensor da monarquia. Concepção realista do ser humano, abandono das virtudes morais, primado da paixão sobre a razão. Estado de natureza como estado de guerra, homem é o lobo do homem (experiência da guerra civil inglesa, Shakespeare, filmes Rainha Margot e Elizabeth). Sociedade civil como paz. Medo da morte ou o desejo de conservação permite fundar a sociedade, a sociedade civil/Estado. Paz não pode ser garantida somente pelo desejo de conservação de cada um, depende de um poder superior e geral que garanta a paz. Por meio do pacto social, há um associação e uma submissão que permite confiar todo o poder a um homem ou uma assembleia. Poder absoluto como necessário para instituição da sociedade, por isso a defesa do absolutismo * * * * * * Críticas a Hobbes Locke: crítica ao pacto de submissão, monarquia absoluta como falsa solução. Soberano coloca-se acima da lei, fora da sociedade civil, não há barreira contra violência e opressão do chefe absoluto. A busca da conservação leva Locke à teoria da propriedade. Propriedade é fruto do trabalho. A conservação dos homens conduz à conservação da propriedade. Instituição da sociedade civil e o poder soberano servem para garantir a paz e a propriedade. Novo sentido à instituição da sociedade civil/Estado. * * * Críticas a Hobbes Rousseau: crítica ao despotismo de Hobbes e à concepção de estado de natureza. Inverte ideias anteriores sobre estado de natureza, ele passa a ser estado de solidão, autonomia e liberdade. Guerra não é o estado natural dos homens. Ao contrário de Hobbes, Rousseau vê o estado de natureza como algo positivo, que permite criticar a ideia de sociedade civil. Soberania reside no povo e deve continuar no povo, não pode ser delegada ao rei. Contrato permite regular e aprimorar uma ordem já existente, não é pensado para criar uma nova ordem. Apesar das críticas, continuidade de Hobbes a Rousseu, política institui o social. * * * Adam Smith (1723-1790) Filósofo e economista escocês Professor de filosofia moral na Universidade de Glasgow Principais obras: The Theory of Moral Sentiments (1759) Lectures on Jurisprudence (1762/66) An Inquiry into the Nature and the Causes of the Wealth of Nations - A Riqueza das Nações (1776) * * * Smith: o mercado como solução Como conciliar o interesse privado e o interesse público sem ser pela via hobbesiana do Estado? Como regular as paixões? Mercado como resposta ao problema da regulação da sociedade civil e aos dilemas da filosofia política e moral dos séculos XVII e XVIII. Economia não surge em um sentido contrário ao pensamento moderno, mas como solução concreta aos problemas decisivos da instituição e da regulação do social nos séculos XVII e XVIII. Ideia de mercado permite resolver a questão da guerra e da paz entre as nações e do fundamento da obrigação no pacto social. * * * Para Smith, ideia de “mão invisível” permite superar dificuldade do fundamento da obrigação do pacto social sem retornar à Hobbes. M. Coutinho: Economia reconcilia liberdade (impulso aquisitivo, desejo de progredir e obter riqueza) e bem comum (crescente bem-estar material, opulência da sociedade e do Estado). O mercado constitui uma lei reguladora da ordem social sem legislador e sem soberano. Relações entre pessoas são entendidas como relações entre mercadorias, sem nenhuma intervenção exterior. Liberdade moderna como consequência da independência econômica, da produção para o mercado. * * * Ideia de que os homens devem ser governados pelo interesse (Mandeville e Hume). Problema da composição dos interesses privados com o interesse público. Influência de Mandeville e Hume sobre a Teoria dos Sentimentos Morais de Smith. Pergunta de Smith: por que sociedade civil não se rompe se os laços do amor e da benevolência são tão fracos? Como é possível que a sociedade exista sem nenhum vínculo de afeição? Porque os homens vinculam-se pelo sentimento de sua utilidade, pela troca interessada de serviços mútuos!! * * * “Ela (a sociedade) pode então subsistir entre os homens, como subsiste entre os mercadores, pelo sentimento de sua utilidade, sem nenhum vínculo de afeição; ainda que nenhum homem conte com o outro pelos deveres ou pelos laços de gratidão, a sociedade poderá ainda se sustentar pelo concurso da troca interessada, aos quais se atribui um valor convencionado” (Smith, Teoria dos Sentimentos Morais, 2ª parte). “Não é da benevolência do açougueiro, do merceeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas sim do cuidado que dispensam aos seus interesses. Não nos dirigimos à humanidade, mas ao egoísmo deles” (Smith, Riqueza das nações, livro I, cap. 2). * * * Originalidade de Smith Smith torna-se economista por uma necessidade filosófica. Continuidade entre Teoria dos Sentimentos Morais e Riqueza das Nações, pois para Smith economia é a essência da sociedade, onde a harmonia social pode ser pensada e praticada. Fundamentos da sociedade estão na economia e não na política, anatomia da sociedade civil está na economia política. Originalidade de Smith: transpor a realização da filosofia e da política para a economia. Pensa a sociedade de uma forma econômica. * * * A sociedade civil como mercado Ideologia econômica não é justificação moral do enriquecimento mas a compreensão unidimensional das relações entre os homens como relações mercantis. Problema central da ideologia econômica não é o mecanismo de equilíbrio das paixões (interesses contra paixões políticas), mas mercado torna-se único espaço possível da realização da harmonia social. Para Smith, a economia resolve nela mesmo a questão do político e da regulação do social. Ao compreender a sociedade civil como mercado, Smith revoluciona o pensamento moderno. Assim, a sociedade de mercado precede a economia de mercado e não o inverso. Solução econômica triunfa como filosofia e sociologia. * *
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