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Março 2015 Volume 14 | Número 1 Relatório de Estabilidade Financeira Março 2015 Volume 14 | Número 1 Relatório de Estabilidade Financeira Brasília v. 14 nº 1 mar. 2015 p. 1-68 ISSN 2176-8102 CNPJ 00.038.166/0001-05 Relatório de Estabilidade Financeira Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 14, nº 1. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos. Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Divisão de Atendimento ao Cidadão Banco Central do Brasil Deati/Diate SBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo 70074-900 Brasília – DF DDG: 0800 9792345 Fax: (61) 3414-2553 Internet: <http://www.bcb.gov.br/?FALECONOSCO> Sumário Prefácio 5 Sumário executivo 6 1 Ambiente macroeconômico e financeiro 8 1.1 Introdução ___________________________________________________________________ 8 1.2 Mercados financeiros internacionais _______________________________________________ 8 1.3 Mercado financeiro nacional ____________________________________________________ 13 2 Sistema bancário 17 2.1 Introdução __________________________________________________________________ 17 2.2 Liquidez ____________________________________________________________________ 17 2.3 Crédito _____________________________________________________________________ 19 2.4 Rentabilidade ________________________________________________________________ 25 2.5 Solvência ___________________________________________________________________ 28 2.6 Testes de estresse de capital _____________________________________________________ 30 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ____________ 30 2.6.2 Análise de sensibilidade ___________________________________________________ 31 3 Sistema de Pagamentos Brasileiro 41 3.1 Desempenho do sistema de transferência de fundos sistemicamente importante ____________ 41 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio nos quais há uma entidade atuando como contraparte central __________ 42 4 Organização do Sistema Financeiro Nacional 48 4.1 Introdução __________________________________________________________________ 48 4.2 Instituições bancárias __________________________________________________________ 48 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 50 4.4 Instituições não bancárias ______________________________________________________ 51 4.5 Participações estrangeiras no Sistema Financeiro Nacional ____________________________ 51 4.6 Participações de instituições financeiras brasileiras no exterior _________________________ 52 5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional 53 5.1 Introdução ________________________________________________________________ 53 5.2 Prestação de informações referentes ao registro de títulos e valores mobiliários ____________ 53 5.3 Registro de operações de cessão de créditos relativas a empréstimos pessoais sem consignação e de financiamentos para a aquisição de bens móveis __________________ 54 5.4 Emissão de letra financeira por cooperativas de crédito _______________________________ 54 5.5 Evolução das regras prudenciais _________________________________________________ 55 5.6 Regulamentação sobre aplicações no Brasil de investidor não residente __________________ 56 Boxes Shadow Banking no Brasil _________________________________________________________ 33 Câmara BM&FBovespa ___________________________________________________________ 46 Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade financeira _________________________ 57 Apêndice 58 Anexo 63 Conceitos e metodologias __________________________________________________________ 63 Conceitos e metodologias – Estresse de capital _________________________________________ 65 Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 5 Prefácio O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito a sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos ocorridos no segundo semestre de 2014. O relatório é constituído por cinco capítulos. No primeiro – Ambiente macroeconômico e financeiro –, é realizada a análise dos principais mercados internacionais e o seu reflexo no mercado financeiro nacional. O segundo capítulo – Sistema bancário – apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que compõem o sistema bancário brasileiro. Os testes de estresse de risco de mercado e de crédito e seus reflexos sobre a situação de solvência das instituições estão incluídos nesse capítulo. No terceiro capítulo – Sistema de Pagamentos Brasileiro –, são descritos os resultados da avaliação acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, as principais atividades e os avanços ocorridos no período, o comportamento da liquidez intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário. O quarto capítulo – Organização do Sistema Financeiro Nacional – analisa as principais alterações ocorridas no controle acionário de instituições financeiras. O quinto capítulo – Regulação do Sistema Financeiro Nacional – trata das principais normas aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN. Esta edição apresenta, também, boxes tratando do shadow banking no Brasil e da integração das câmaras da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), além dos trabalhos para discussão publicados no semestre que versam sobre estabilidade financeira. O relatório em PDF está disponível no endereço eletrônico <www.bcb.gov.br/?relestab>. Também está disponível nesse mesmo endereço a base de dados utilizada para a elaboração dos gráficos e tabelas do capítulo 2, além de outros dados de interesse, como a matriz de migração de classificação de crédito e comparativos internacionais dos principais Financial Soundness Indicators (FSIs). Adicionalmente, as séries temporais relacionadas à estabilidade financeira podem ser encontradas em <www4.bcb.gov.br/pec/series/port/aviso.asp>. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 6 Sumário executivo O ambiente externo permaneceu complexo, com a atividade econômica global crescendo de forma gradual e desigual – e, em importantes economias, abaixo do que se antecipava – no segundo semestre de 2014. Enquanto as autoridades monetárias da Área do Euro e do Japão explicitaram o compromisso de adotar políticas consideradas necessárias para a promoção do crescimento e para a minimização do risco de deflação, de maneira distinta, o banco central dos Estados Unidos da América (EUA) – Federal Reserve – encerrou em outubro seu programa de compra de ativos, ainda que sinalizando a continuidade de política monetária acomodatícia por tempo considerável. Nos mercados emergentes, permaneceu o foco na desaceleração econômica da China, e outras importantes economias seguiram apresentando moderação no ritmo de atividade. Ressalte-se que, no período analisado, cresceram as incertezas associadasao declínio acentuado dos preços do petróleo, contribuindo para um cenário desinflacionário e com impactos assimétricos na atividade econômica de distintos países. Adicionalmente, as crises geopolíticas na Rússia e na Ucrânia e no Oriente Médio seguiram como fontes de risco. Nesse contexto, os riscos à estabilidade financeira global permanecem elevados, apesar da baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais. Internamente, somaram-se os desafios impostos pelos resultados fiscais, pela persistência de elevadas expectativas de inflação, pelo baixo crescimento econômico e pelas incertezas associadas às eleições presidenciais. Com a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres – o balanço de riscos para a inflação tornou- se menos favorável. Nesse cenário, o BCB, depois de ter aumentado a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais (p.p.) entre abril de 2013 e abril de 2014, para 11,0%, voltou a elevar a taxa Selic a partir do final de outubro de 2014, atingindo 11,75% em dezembro. Em dezembro, o BCB anunciou a extensão, com ajustes, do programa de leilões de câmbio. Diante desses condicionantes externos e internos, as taxas de juros domésticas apresentaram grande volatilidade; a partir de setembro, a taxa de câmbio registrou desvalorização, e o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) reverteu a tendência de alta. Não obstante esse cenário, o sistema bancário brasileiro continua apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência, análise essa corroborada pelo incremento dos ativos líquidos detidos pelas instituições financeiras, pelos resultados dos testes de estresse e pelas simulações de adoção dos requerimentos de Basileia III, prevista para conclusão em 2019. O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, inclusive com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permaneceu baixo, uma vez que os recursos estáveis mantiveram-se suficientes para suportar o estoque de crédito. Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores, relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência. A elevação das taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 7 A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou de forma eficiente e segura no segundo semestre de 2014. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garantiu que as liquidações ocorressem com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR). Conforme tratado em um boxe, entrou em operação a Câmara BM&FBovespa, concluindo a primeira etapa da integração dos sistemas de pós-negociação operados pela BM&FBovespa, proporcionando economias de liquidez para alguns participantes da câmara. A análise realizada pelo BCB constatou que tal redução na exigência de garantias individuais não resultaria em maior exposição da contraparte central, ou dos demais participantes da infraestrutura, aos riscos originados das posições individuais, uma vez que decorreu do aumento da eficiência do novo modelo de gerenciamento de riscos. Outro boxe deste relatório, que aborda a questão do shadow banking no Brasil, conclui que, até o momento, não foram identificados riscos relevantes relativos ao shadow banking brasileiro, em especial no que se refere à avaliação de riscos das entidades e de contágio para o restante do sistema financeiro. Ainda assim, as autoridades reguladoras nacionais continuam atuando para minimizar o risco sistêmico do shadow banking, sem prejudicar eventuais benefícios do setor para a economia doméstica e para o bom funcionamento do SFN. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 8 1Ambiente macroeconômico e financeiro 1.1 Introdução O ambiente externo permanece complexo, apesar da baixa probabilidade de ocorrência de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais. A economia global segue crescendo de forma gradual e desigual. O ritmo de atividade cresceu mais rapidamente nos Estados Unidos da América (EUA), foi menor que o antecipado na Área do Euro e decresceu no Japão, marcando período recessivo. Do ponto de vista dos preços, a inflação, que já estava em patamar reduzido, recuou ainda mais nas economias avançadas, parcialmente refletindo a redução no preço do petróleo. Em dezembro, registrou-se deflação interanual de 0,2% na Área do Euro. As autoridades monetárias das principais economias avançadas adotaram decisões de política monetária de caráter distinto: enquanto o Federal Reserve (Fed) encerrou, em outubro, seu programa de compra de ativos, ainda que sinalizando a continuidade da sua política monetária acomodatícia por tempo considerável, o Banco Central Europeu (BCE)1 e o Banco do Japão (BoJ)2 explicitaram o compromisso de adotar políticas consideradas necessárias para a promoção do crescimento e minimização do risco de deflação. Em relação aos mercados emergentes, o foco permanece na intensidade da desaceleração econômica chinesa. Outras importantes economias emergentes seguem apresentando moderação 1/ O BCE anunciou, em setembro, dois novos programas de compra de ativos, e, no mês seguinte, o terceiro programa de compra de obrigações cobertas (covered bonds). Além disso, sinalizou sua intenção de expandir significativamente seu balanço, se necessário, para combater a persistência da baixa inflação ou mesmo a deflação. Nesse sentido, em janeiro de 2015, o BCE anunciou a expansão dos programas de compras de ativos, com a inclusão da compra de títulos públicos e de compartilhamento de risco. 2/ O Japão apresentou recessão técnica no terceiro trimestre de 2014. Em outubro, o BoJ elevou o volume e o prazo de seu programa de compra de ativos. O Institute for International Finance (IIF), no Global Economic Monitor (novembro de 2014), estima que o total de ativos adquiridos pelo BoJ atinja 60% do PIB e 76% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 e 2015,na ordem. no ritmo de atividade, parcialmente explicada por recuo nos preços de commodities, impedimentos estruturais, condições de financiamento mais apertadas, incertezas de ordem política e desequilíbrios macroeconômicos. Ressalte-se que, ao longo do semestre, cresceram as incertezas associadas ao declínio acentuado dos preços do petróleo em cenário de oferta global abundante e arrefecimento da demanda. No campo geopolítico, os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio também adicionaram incerteza aos mercados financeiros. Nesse contexto, permanecem elevados os riscos à estabilidade financeira global, fato corroborado pela percepção de recuperação da economia mundial mais lenta que a antecipada e, em grande medida, ainda sustentada pela ampla liquidez internacional, o que também estimula a subprecificação do risco e o aumento da alavancagem financeira. Adicionalmente, intensificaram-se os alertas de acumulação de riscos no shadow banking system (sistema bancário paralelo). 1.2 Mercados financeiros internacionais Os mercados financeiros se caracterizaram pelo aumento da volatilidade ao longo do segundo semestre de 2014. Esse comportamento refletiu, por um lado, aspectos macroeconômicos, tais como a recorrente frustração das expectativas de crescimento de importantes economias maduras (em especial, o Japão e a Área do Euro) e emergentes, bem como o crescente risco de deflação em algumas economias – notadamente na Área do Euro. No campo geopolítico, os conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu também adicionaram incerteza aos mercados financeiros, com os indicadores macroeconômicos e financeiros da Rússia sendo impactados pelo embargo econômico imposto ao país. As incertezas associadas ao processo eleitoral na Grécia, Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 9 que culminaram com a eleição do partido de oposição, também contribuíram para o aumento da volatilidade nos mercados financeiros, sobretudo na Europa. Figurou, ainda, como fonte de tensão, o rápido declínio no preço do barril de petróleo – refletindo o crescimento da oferta em ambiente de demanda reprimida, juntamente com a negativa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de reduzir a sua produção – fato que resultou, no setor privado, na perda de valor acionário e no aumento do risco de crédito de empresas do setor energético e também precipitou a elevação do risco soberano e a desvalorização de moedas de países exportadores de petróleo. Os preços das demais commodities também recuaram,3 em especial os das metálicas, o que favoreceu a desvalorização das moedas de países exportadores de matérias-primas. Nesse cenário, ao longo do semestre, ocorreram diversos picos de aversão ao risco, afetando negativamente ativos de economias percebidas como mais vulneráveis a esse novo ambiente e aumentando a demanda por instrumentos considerados mais seguros, tais como os papéis soberanos de dez anos de economias maduras. Ressalte-se que, no caso da Alemanha e do Japão, a redução nos rendimentos também foi favorecida pelo aprofundamento da postura expansionista das políticas monetárias da Área do Euro e do Japão, respectivamente. Dessa forma, os rendimentos anuais dos títulos dos EUA, do Reino Unido, do Japão e da Alemanha recuaram, na ordem, 14 pontos-base (p.b.), 34 p.b., 42 p.b. e 57 p.b., para 2,17%, 1,76%, 0,33% e 0,54% (gráfico 1.2.1). O ambiente de maior aversão a risco e de desconfiança em relação à sustentabilidade da retomada da atividade 3/ Com exceção dos preços da carne bovina. econômica na Área do Euro refletiu-se no aumento acentuado dos prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos (expressos em p.b.) das economias periféricas da Europa, com os prêmios associados à Itália e à Espanha aumentando, na ordem, de 95 e 66 para 137 e 97, no semestre (gráfico 1.2.2). Na mesma base de comparação, os prêmios dos CDS de economias emergentes relevantes aumentaram, com destaque para o da Rússia, de 184 para 476 (+159%) (gráfico 1.2.3), reflexo do impacto do declínio dos preços internacionais do petróleo e da intensificação de sanções econômicas. Também registraram elevações os CDS de Brasil, de 145 para 201 (+39%); México, de 67 para 103 (+54%); Chile, de 64 para 94 (+48%); e África do Sul, de 177 para 192 (+9%). Ressalve-se que, na Turquia, beneficiada pelo ambiente de maior acomodação monetária na Europa e pela redução nos preços do petróleo, a elevação foi mais moderada, de 177 para 184 (+4%). 0 120 240 360 480 600 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez África do Sul Rússia Turquia Brasil México Chile Fonte: Bloomberg Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos) p.b. 64 0 64 128 192 256 320 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Alemanha França Espanha Itália Fonte: Bloomberg Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos) p.b. 0,00 0,75 1,50 2,25 3,00 3,75 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez EUA Alemanha Reino Unido Japão Fonte: Bloomberg Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos) % a.a. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 10 semestre, com destaque para as altas no S&P 500 (EUA) e Nikkei (Japão), respectivamente, de 5% e 15,1%.6 Na Europa, enquanto o índice DAX (Alemanha) estabilizou-se, os índices CAC 40 (França) e FTSE 100 (Reino Unido) recuaram, na ordem, 3,4% e 2,6% (gráfico 1.2.6). Os mercados acionários de importantes economias emergentes também registraram comportamentos díspares, com os índices do México, da Índia, da Turquia e da China em altas respectivas de 1%, 8,2%, 9% e 57,9%,7 enquanto os índices de África do Sul e do Brasil recuaram, na mesma sequência, 2,3% e 5,9% (gráfico 1.2.7). 6/ Nos EUA, a alta no S&P 500 foi impulsionada pelas evidências de vigor na economia do país. No Japão, a desvalorização do iene, com reflexos positivos nas companhias exportadoras, e também no direcionamento de recursos para a compra de ações pelo fundo governamental previdenciário, impulsionou o mercado acionário. 7/ O índice Xangai Composto (China) subiu 57,9% no semestre, refletindo a evolução positiva do processo de abertura financeira e, especialmente, a vinculação efetiva entre as bolsas de valores de Xangai e de Hong Kong, o que permitiu investimentos estrangeiros em ações do mercado chinês. No segundo semestre de 2014, o dólar dos EUA apreciou-se acentuadamente,4 fruto de perspectivas mais favoráveis de crescimento dos EUA em comparação com outras importantes áreas econômicas e do aumento da divergência entre a orientação de política monetária do Federal Reserve vis-à-vis a do BCE e do BoJ. Nesse contexto, o dólar valorizou-se perante o iene, o euro e a libra esterlina, respectivamente, 18,2%, 13,2% e 9,8% (gráfico 1.2.4). Em relação às economias emergentes e/ ou exportadoras de commodities, o dólar valorizou-se em relação ao rublo russo5 (78,7%), real (20%), dólar australiano (15,5%), peso mexicano (13,8%) e peso chileno (9,7%) (gráfico 1.2.5). Os índices acionários de economias desenvolvidas registraram movimentos díspares ao longo do segundo 4/ O Dollar Index (índice cambial do dólar ante as divisas de seus principais parceiros) elevou-se 13,2% no segundo semestre e 12,8% no ano. 5/ A queda nos preços dos ativos russos e do rublo refletiu a restrição de liquidez no respectivo sistema bancário e a elevada demanda por divisas para o pagamento de dívida externa. Após a perda de US$100 bilhões de suas reservas internacionais, o banco central russo permitiu a flutuação cambial. 90 102 114 126 138 150 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago OutDez Fonte: Bloomberg Euro/dólar Iene/dólar Libra/dólar Gráfico 1.2.4 – Taxas de câmbio de economias avançadas 31.12.2012 = 100 90 120 150 180 210 240 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Fonte: Bloomberg Real brasileiro Dólar australiano Peso chileno Peso mexicano Rublo russo 31.12.2012 = 100 Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio EMEs e/ou países exportadores de commodities versus dólar dos EUA 90 108 126 144 162 180 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valores Economias desenvolvidas EUA – S&P 500 Reino Unido – FTSE 100 Alemanha – DAX Japão – NIKKEI 225 Fonte: Bloomberg 31.12.2012 = 100 70 86 102 118 134 150 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez 31.12.2012 = 100 Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valores Economias emergentes Brasil África do Sul China Índia México Turquia Fonte: Bloomberg Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 11 O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX), que afere o sentimento dos investidores a partir da volatilidade implícita de curto prazo dos preços das opções do índice S&P 500, subiu de 11,6 pontos (em 30 de junho) para 19,2 pontos no final do semestre, tendo alcançado, em meados de outubro, o patamar de 26,3 pontos (nível mais alto desde 1º de junho de 2012, quando atingiu 26,7 pontos), em razão de incertezas sobre a sustentabilidade da retomada do crescimento mundial (gráfico 1.2.8). Os índices Morgan Stanley Capital International (MSCI)8 para bancos da Europa e de economias emergentes recuaram 4,4% e 4,7%, na ordem, no segundo semestre de 2014, comparativamente à estabilidade e ao decréscimo de 4,7%, respectivamente, no semestre anterior. Esse comportamento está em linha com os desempenhos econômicos abaixo do esperado na Europa e nas economias emergentes. O índice MSCI para bancos dos EUA, por sua vez, elevou-se 8,8% no segundo semestre (alta de 4,4% no semestre anterior), em linha com o melhor desempenho da economia estadunidense (gráfico 1.2.9). 8/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das respectivas indústrias bancárias. Após significativo declínio no primeiro semestre, os custos médios de proteção contra default (CDS) de bancos relevantes9 voltaram a subir na Alemanha (1,8%), na França (2,2%), na Itália (12%) e nos EUA (4,2%). De forma contrária, houve recuo nos prêmios dos CDS de bancos do Reino Unido (15,7%) e da Espanha (11,5%) (gráfico 1.2.10). De forma prospectiva, os riscos para a estabilidade financeira global permanecem elevados, em que pesem as diversas medidas de caráter regulatório que vêm sendo tomadas desde a crise de 2008,10 com o intuito de criar ambiente em que os mercados estejam mais preparados para enfrentar eventuais aumentos de volatilidade. Contribuem para essa perspectiva, entre outros, as sucessivas revisões para baixo nas perspectivas de crescimento econômico global; os crescentes riscos de deflação em importantes economias; os conflitos geopolíticos (no Leste Europeu e no Oriente Médio) e, mais recentemente, as incertezas associadas ao processo eleitoral grego, que culminou com a eleição do partido oposicionista, e o forte recuo no preço do petróleo. Eventual elevação abrupta da percepção de risco ou do ritmo esperado para a normalização da política monetária (em especial nos EUA) elevaria risco de desequilíbrios financeiros associados à sensibilidade dos portfolios dos agentes econômicos aos riscos de variações nas taxas de câmbio ou de juros globais. Esses riscos são tanto maiores quanto mais alavancados estiverem os agentes econômicos. Ressalte-se que se, por um lado, os 9/ Média aritmética dos dois maiores bancos de cada país pelo critério de capitalização de mercado. 10/ Entre as medidas, incluem-se o aumento do capital mínimo e a criação de mecanismos para garantir a liquidez (ex post) mesmo em momentos de maior aversão ao risco. gráfico para apresentação do diretor 10 14 18 22 26 30 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Fonte: Bloomberg pontos Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIX Índice de volatilidade 12/jul/11 80 94 108 122 136 150 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez Gráfico 1.2.9 – MSCI bancos EUA Europa Economias emergentes Fonte: Bloomberg 31.12.2012 = 100 Lembrar aqui se vamos manter a nota de rodapé no texto, que explica a mesma nota de rodapé do gráfico. Se tirarmos do Gráfico, ele vai ficar mais limpo. Por outro lado, o gráfico sem o texto é totalmente explicativo. 0 90 180 270 360 450 Dez 2012 Mar 2013 Mai Ago Out Dez Mar 2014 Mai Ago Out Dez p.b. Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – Bancos Prêmios médios de países selecionados1/ Espanha França Alemanha Reino Unido EUA Itália Fonte: Bloomberg 1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção nos EUA: JPM Chase e Bank of America. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 12 elevados níveis de alavancagem em alguns segmentos do mercado reduzem a capacidade de novos endividamentos para a sustentação de crescimento econômico mais vigoroso, por outro, a permanência de taxas de juros em patamares excessivamente baixos por longo período segue encorajando a subprecificação do risco e o aumento da alavancagem em alguns segmentos. No período pós-crise, enquanto o setor financeiro global reduziu seu endividamento total (como proporção do Produto Interno Bruto [PIB]), o setor não financeiro (que inclui governo, famílias e corporações não financeiras) aumentou seu nível de endividamento.11 Nas economias avançadas, enquanto o setor público aumentou o nível de endividamento, os demais segmentos reduziram-no (com destaque para as reduções nos endividamentos das famílias e do segmento financeiro ocorridas nos EUA). Em relação às economias emergentes, houve significativa aceleração da alavancagem – embora a partir de base mais baixa – das corporações não financeiras com altas taxas de retorno (high yields), notadamente por meio da emissão recorde de títulos (tanto em moeda doméstica quanto estrangeira) em adição aos empréstimos bancários. Em menor proporção, o endividamento das famílias também aumentou nos mercados emergentes. Na agenda regulatória internacional, há pontos ainda em aberto, como a questão do shadow banking.12 De acordo com a estimativa mais ampla fornecida pelo Comitê de Estabilidade Financeira (FSB – sigla em inglês) a partir de informações dos ativos de outros intermediários financeiros, a intermediação financeira não bancária alcançou US$63,8 trilhões em 2013 (US$60,2 trilhões em 2012).13 Desde 2007, observou-se relativa redução na participação dos EUA e ligeiro incremento na da Área do Euro e do Reino Unido no shadow banking global, além de elevação mais acentuada na das economias emergentes (especialmente na China). Nesse grupo, a intermediação cresceu mais de 10% em 2013, mas sobre base relativamente 11/ Vide o relatório Capital Markets Monitor, de dezembro de 2014, do Institute of International Finance (IIF). Os dados incluem Área do Euro, EUA, Reino Unido, Japão, África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Hungria, Índia, Indonésia, México, Polônia, República Tcheca, Tailândia e Turquia. As informações vão do primeiro trimestre de 2009 ao segundo trimestre de 2014 (<https://www.iif.com/publication/capital-markets-monitor/december- 2014-capital-markets-monitor-deleveraging-mixed-picture>).12/ Vide o boxe Shadow Banking no Brasil. 13/ Engloba informações de 25 jurisdições nacionais. Enquanto os ativos do sistema bancário representavam 46% do total do sistema financeiro em 2013, os ativos dos intermediários financeiros não bancários, monitorados pelo FSB, situavam-se em 25% do total, equivalentes a 120% do PIB das economias. Vide Global Shadow Banking Monitoring Report 2014, FSB, de 30 de outubro de 2014. pequena.14 O Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu Global Financial Stability Report (GFSR) de outubro de 2014, examinou o crescimento global do shadow banking e concluiu que sua contribuição para os riscos sistêmicos (basicamente domésticos) é maior nos EUA que na Europa. Entretanto, existem limitações na disponibilização de dados de shadow banking, o que, por si só, consiste em risco para o adequado monitoramento dessa atividade.15 Ressalte-se que, desde a crise, houve grande esforço internacional – envolvendo, entre outros, o FSB e o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (BCBS – sigla em inglês) – para melhor compreender esse segmento e identificar os potenciais riscos para a estabilidade financeira.16 O desafio atual é adotar medidas práticas, seja pela via da regulamentação, seja pela da intensificação do monitoramento desse segmento. Na Área do Euro, a despeito do compromisso das autoridades com o aprofundamento da união bancária, importantes avanços ainda são necessários para a desvinculação entre os riscos do sistema bancário e o risco soberano e para a contenção da fragmentação financeira.17 Nesse contexto, desde 14 de novembro de 2014, o BCE assumiu as funções de supervisão bancária18 no âmbito do Mecanismo Único de Supervisão, após a finalização da avaliação abrangente dos sistemas bancários da região realizada com o objetivo de verificar a solidez de 130 bancos nos dezenove países do bloco econômico, cobrindo aproximadamente 82% dos 14/ Com base em contas financeiras nacionais, o FSB estima o volume de intermediações financeiras não bancárias (excluindo-se companhias seguradoras, fundos de pensão e instituições financeiras públicas) (<http:// www.financialstabilityboard.org/wp-content/uploads/r_141030.pdf>). 15/ Vide Shadow banking around the globe: how large, and how risky. GFSR, outubro de 2014. Disponível em <http://www.imf.org/external/pubs/ft/ gfsr/2014/02/pdf/c2.pdf>. 16/ Para lista dos desenvolvimentos recentes de caráter regulatório nessa área, vide o capítulo 2, anexo 2.4., p. 99-101, de outubro de 2014. 17/ A fragmentação financeira se manifesta pela migração de fluxos de não residentes dos países mais vulneráveis da Área do Euro (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) para seus mercados domésticos, assim como pela transferência de depósitos de residentes dessas economias para outras consideradas mais seguras. 18/ Destaque-se que, no início de 2015, parecer inicial da Corte de Justiça da União Europeia confirmou a legalidade da compra definitiva de títulos soberanos no mercado secundário pelo BCE (Outright Monetary Transactions [OMT]), no âmbito de programa de ajuste macrofinanceiro da Área do Euro, fortalecendo o papel do BCE como guardião da estabilidade financeira do bloco. A decisão final do plenário da corte está prevista para o fim do primeiro semestre de 2015. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13 ativos bancários (€22 trilhões).19 Com o aumento da transparência sobre a situação dos sistemas bancários, o BCE espera, entre outros efeitos, reduzir a fragmentação financeira e favorecer, em última instância, a elevação do crédito bancário e o aquecimento da atividade econômica no bloco. Em síntese, os principais fatores de risco para a estabilidade financeira internacional são surtos de volatilidade20 e ajustes abruptos na inclinação da curva de juros em economias maduras associados à publicação de novos indicadores e/ou sinalizações feitas por autoridades que apontem aceleração do processo de normalização das condições monetárias em grandes economias, em particular nos EUA. Na pauta de riscos relevantes, destacam-se ainda pronunciada deterioração nas condições de crescimento econômico de importantes áreas econômicas, com eventuais riscos de deflação prolongada em economias maduras, em especial na Europa. Adicionalmente, o recuo abrupto nos preços do petróleo, ainda que possa beneficiar o crescimento econômico de países importadores, pode agravar desequilíbrios nas economias com alto grau de dependência das exportações da commodity, com desdobramentos financeiros adversos, em especial nos mercados de câmbio e de dívida soberana, em economias mais vulneráveis, bem como potencializar os riscos de deflação presentes em algumas economias. Nesse sentido, o desempenho das principais áreas econômicas será determinado por sua capacidade de enfrentar esses novos desafios domésticos e externos. A conjunção desses fatores, em contexto de mudanças estruturais nos mercados de crédito (crescimento do shadow banking), tem elevado os riscos de mercado e de crédito nos sistemas financeiros. Tais condições seguem demandando monitoramento contínuo e coordenado por parte das autoridades reguladoras em nível mundial. 19/ Principais resultados da avaliação completa dos 130 bancos de maior dimensão da Área do Euro: deficit de fundos próprios no montante de €25 bilhões, em 25 dos bancos abrangidos; necessidade de os valores dos ativos dos bancos necessitam serem ajustados em €48 bilhões, dos quais €37 bilhões não geraram deficit de fundos próprios; deficit de €25 bilhões e ajustamento do valor dos ativos em €37 bilhões implicam impacto global de €62 bilhões; detectou-se saldo adicional de €136 bilhões de inadimplência; cenário adverso do teste de esforço erodiria os fundos próprios dos bancos em €263 bilhões, reduzindo a relação média de fundos próprios principais de nível 1 (CET1) de 12,4% para 8,3% (<http://www. ecb.europa.eu/press/pr/date/2014/html/pr141026.pt.html>). 20/ A alta sensibilidade dos mercados financeiros internacionais pode ser mensurada pelo impacto expressivo da decisão do banco central da Suíça de, em 15 de janeiro de 2015, abolir o piso cambial de CHF1,2/EUR, provocando intensa volatilidade nos mercados cambiais e acionários, com valorização intradia histórica do franco suíço ante o euro e o dólar dos EUA. 1.3 Mercado financeiro nacional O Banco Central do Brasil (BCB) voltou a elevar a taxa básica de juros no final de outubro de 2014, após mantê-la em 11,0% desde abril. Essa taxa já havia sido aumentada em 3,75 p.p. entre abril de 2013 e abril de 2014. Em outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou que o balanço de riscos para a inflação havia se tornado menos favorável em função da intensificação do realinhamento de preços relativos – tanto domésticos em relação aos internacionais, como administrados em relação aos livres – e elevou em 0,25 p.p. a taxa Selic. A despeito do recuo dos índices mensais de inflação no início do semestre, as expectativas para a inflação21 e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em doze meses não só permaneciam acima da meta de 4,5%22, bem como continuavam em ascensão.23 No início de dezembro, o Copom elevou novamente a taxa Selic, agora em 0,50 p.p., para 11,75%. No mercado futuro de taxas de juros, houve reversão da trajetória de queda registrada no semestre anterior. As taxas referentes aos prazos mais curtos parcialmente anteciparam o movimento e em seguida acompanharam a alta da taxa básica, enquanto as taxas para prazos mais longos apresentaram maiores oscilações, que se refletiram em alterações expressivas na inclinação da curva de juros ao longo do semestre (gráfico 1.3.1). 21/ A mediana das expectativas de inflação (IPCA) acumulada para os próximos dozemeses (suavizada) subiu mês a mês, de 5,90% em junho para 6,61% em dezembro de 2014. 22/ As resoluções nº 4.095, de 28 de junho de 2012, nº 4.237, de 28 de junho de 2013, e nº 4.345, de 25 de junho de 2014, do Conselho Monetário Nacional (CMN), fixaram, respectivamente, as metas de inflação para 2014, 2015 e 2016 em 4,5%, e os intervalos de tolerância em 2,0 p.p. abaixo e acima da meta. 23/ O IPCA foi de apenas 0,01% em julho e 0,25% em agosto, mas atingiu 0,78% em dezembro. O acumulado em doze meses, entretanto, após atingir 6,75% em setembro, encerrou o ano em 6,41%. 9,5 10,3 11,1 11,9 12,7 13,5 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez % a.a. Taxa Selic 3 meses 6 meses 1 ano 2 anos 5 anos Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de juros Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano, 2 e 5 anos Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14 desvalorização do real, o resultado fiscal26 e a persistência da inflação em níveis elevados constituíram, até o final do semestre, fatores subjacentes a esse movimento de elevação das taxas de juros. Por sua vez, a complexidade que envolve a política monetária do Fed, diante da postura expansionista do BCE e do BoJ, acompanhado da desaceleração da economia chinesa27 e das revisões em baixa do crescimento mundial, bem como as incertezas decorrentes das eleições presidenciais, explicam as grandes oscilações das taxas de juros de prazos mais longos no mercado futuro de juros no Brasil. As taxas de juros domésticas apresentaram maior volatilidade no segundo semestre de 2014, porém ainda inferior ao nível alcançado em junho de 2013. A volatilidade das taxas de médio e de longo prazo foi resultado dos bruscos movimentos das taxas de juros de prazos mais longos, com flattenings da curva seguidos de steepenings. Os desafios impostos pelo decrescente resultado primário do setor público consolidado, acumulado em 12 meses, a partir de maio, bem como a persistência de elevadas expectativas de inflação e o baixo crescimento econômico, colocaram em foco os possíveis rumos da política econômica do próximo governo. Nesse ambiente, a acirrada disputa eleitoral 26/ O impacto de uma atividade econômica mais moderada, as medidas para os problemas do setor elétrico e a defasagem acumulada dos preços administrados adicionaram incertezas à condução da política fiscal. No ano, o resultado fiscal acumulado do setor público consolidado alcançou deficit de R$32,5 bilhões (-0,63% do PIB), ante superavit de R$91,3 bilhões (1,90% do PIB) no ano anterior. A meta de superavit fiscal de 2014 foi alterada para meta de resultado pela Lei n° 13.053, de 15 de dezembro de 2014. A dedução prevista de até R$67 bilhões, relativas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi ampliada para considerar até o montante das desonerações de tributos e dos gastos relativos a esse programa. 27/ Em 21 de outubro, o Banco Central chinês (PBoC) se colocou ao lado do BCE e do BoJ ao adotar medidas de estímulo, como a redução da taxa de juros de empréstimo de um ano em 0,4 ponto porcentual, para 5,6%, e da taxa de depósito de um ano em 0,25 p.p., para 2,75%. As oscilações nas taxas longas no mercado futuro de juros no Brasil durante o segundo semestre de 2014 foram influenciadas pelos acontecimentos nos mercados internacional e doméstico. No cenário externo, o principal fator que explica esse comportamento foi a iminência do fim do programa de compra de ativos por parte do Fed, confirmado no final de outubro, acompanhada das expectativas quanto à elevação de sua taxa básica de juros e o consequente movimento sobre a curva dos treasuries. Além desse fator, as tensões geopolíticas, a acentuada queda no preço das commodities, particularmente o petróleo, acompanhada da expressiva desvalorização da moeda russa (rublo) em dezembro, complementaram a caracterização do cenário de complexidade e de maior incerteza no qual operou a política monetária. Já no cenário doméstico, os principais fatores foram a desaceleração da atividade econômica; a depreciação cambial, a partir de setembro; o decrescente resultado primário do setor público consolidado, acumulado em 12 meses, a partir de maio; e as incertezas tanto do cenário das eleições presidenciais quanto, subsequentemente, da indefinição da nova equipe econômica. No início do segundo semestre, mediante alteração de compulsórios e das regras macroprudenciais de requerimento de capital, o BCB buscou melhorar a distribuição da liquidez na economia e adequar a uma realidade diferente da vigente quando da adoção original dessas medidas.24 Concomitantemente, as taxas de juros no mercado futuro apresentavam trajetória declinante, num cenário de manutenção da taxa básica de juros e de enfraquecimento do nível de atividade econômica. Esse declínio foi interrompido pontualmente ao final de julho, acompanhando o movimento, também pontual, de abertura da curva dos treasuries, apreciação do dólar e maior aversão ao risco. Somente no início de setembro25 as taxas do mercado futuro de juros no Brasil exibiram uma trajetória claramente ascendente, embora as de longo prazo apresentassem oscilações mais acentuadas. A 24/ A Circular BCB nº 3.712, de 24 de julho de 2014, reduziu os depósitos compulsórios, enquanto a Circular BCB no 3.715, de 20 de agosto de 2014, aumentou em 10 p.p., para 60%, o recolhimento compulsório relativo a depósitos a prazo que podem ser cumpridos com operações de crédito. A Circular nº 3.714, de 20 de agosto de 2014, alterou os critérios relativos ao requerimento mínimo de capital para risco de crédito, dando continuidade ao processo de convergência da regulação brasileira aos parâmetros internacionais de Basileia. 25/ Em 9 de setembro, a agência de classificação de risco Moody´s rebaixou a perspectiva da nota de Baa2 de rating soberano do Brasil de estável para negativa. 0,0 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros Curto Médio Longo Fontes: BM&FBovespa e BCB % a.a. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15 demanda por hedge, o BCB anunciou a continuidade do programa de leilões cambiais.30 No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial tradicional31 no valor nocional equivalente a US$75,5 bilhões (incluídas as rolagens de vencimentos), terminando o ano com uma posição líquida em swap passiva em câmbio de US$109,6 bilhões, ante US$89,9 bilhões em junho. O BCB também realizou leilões de linha com recompra no valor de US$10,3 bilhões em dezembro. Frente ao euro, no mesmo período, a desvalorização do real foi de apenas 7,0%, principalmente em razão da expectativa quanto ao início do programa de compra de ativos pelo BCE (gráfico 1.3.3). O saldo de câmbio contratado registrou fluxo negativo de US$13,4 bilhões no segundo semestre de 2014 e foi composto por entrada de US$1,2 bilhão no comercial e por saída de US$14,7 bilhões no financeiro. O volume líquido de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$33,2 bilhões. Já as reservas internacionais, no conceito de caixa, encerraram o semestre em US$363,6 bilhões, com decréscimo de 2,7% em relação ao final de junho de 2014, fundamentalmente em decorrência dos leilões de venda de dólares com compromisso de recompra. 30/ Em 30 de dezembro de 2014, o BCB formalizou a extensão do programa de leilões de câmbio até pelo menos 31 de março de 2015 nas seguintes condições: realização de leilões de swap de segunda-feira a sexta-feira, com oferta de US$100 milhões por dia; realização de leilões de venda de dólares com compromisso de recompra em função das condições de liquidez do mercado de câmbio; e, sempre que necessário, realizaçãode operações adicionais de venda de dólares por meio dos instrumentos ao alcance do BCB. 31/ Operação de swap cambial na qual o Banco Central assume posição passiva em câmbio mais cupom cambial e posição ativa na taxa de juros doméstica (taxa Selic). de outubro pela presidência da República adicionou incerteza ao mercado futuro de taxa de juros e se refletiu em fortes oscilações da curva de juros. Também contribuíram para maior volatilidade as flutuações nas taxas dos treasuries, a depreciação do real e o aumento de volatilidade da taxa de câmbio R$/US$. O anúncio da nova equipe econômica reduziu as incertezas, mas, ainda assim, em 16 de dezembro houve novo repique da volatilidade, decorrente da alta de 6,50 p.p. da taxa de juros russa e do movimento de aversão a risco em âmbito global.28 Esse movimento de maior volatilidade, entretanto, logo arrefeceu, principalmente devido às medidas de contenção de gastos anunciadas pela nova equipe econômica e pelo discurso mais ortodoxo do ministro da Fazenda. Quanto à volatilidade das taxas de juros de prazo mais curto, o repique ocorrido no final de outubro espelhou a surpresa com que o mercado recebeu o início no novo ciclo de aperto monetário, rapidamente incorporado nas previsões subsequentes (gráfico 1.3.2). A taxa de câmbio iniciou o semestre relativamente estável, apresentando, entretanto, forte desvalorização a partir de setembro. O real encerrou o ano cotado a R$2,66/US$,29 com desvalorização de 20,6% no semestre. No cenário externo, as incertezas em relação às recuperações das economias norte-americana e europeias, a perspectiva de desaceleração do crescimento da economia chinesa, o aumento das tensões geopolíticas ligadas à Rússia e a incerteza quanto ao início do ciclo de elevação de juros nos EUA aumentaram a aversão global ao risco, o que ocasionou a valorização do dólar norte-americano em relação a maioria das moedas. A volatilidade do câmbio aumentou a partir de setembro e, refletindo as incertezas do período de disputa eleitoral, só recuou após seu término, permanecendo, entretanto em patamar superior ao registrado no primeiro semestre. Parte da volatilidade observada pode ser atribuída às incertezas em relação à continuidade do programa de leilões de câmbio, mas, em dezembro, a maior parte dos agentes de mercado já esperava que o programa de leilão de câmbio não fosse prorrogado novamente, encerrando-se ao final do mês. Em 16 de dezembro, entretanto, diante da forte desvalorização do rublo e sua repercussão sobre as moedas dos países emergentes e, principalmente, devido ao seu impacto no aumento da 28/ Alguns vértices, como o Jan/16 e o Jan/17 chegaram a atingir o limite diário de oscilação imposto pela BM&F (80 p.b.). 29/ Cotação da taxa de câmbio R$/US$ divulgada pelo BCB (PTAX) calculada segundo metodologia divulgada pela Circular BCB n° 3.506, de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme Circular BCB n° 3.537, de 25 de maio de 2011. 0,71 0,73 0,75 0,77 0,79 0,81 0,83 2,15 2,27 2,39 2,51 2,63 2,75 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez EUR/US$R$/US$ Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio R$/US$ EUR/US$ Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16 No mercado acionário, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) continuou a trajetória de alta iniciada no semestre anterior até 2 de setembro, acumulando ganhos de 16,4% em dois meses. A partir de então, houve reversão dessa tendência, e o Ibovespa fechou o semestre com queda de 5,9% (gráfico 1.3.4), influenciada pela queda de 41% no valor das ações da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras).32 A volatilidade do Ibovespa foi influenciada, principalmente, pelas incertezas quanto à disputa eleitoral. Em novembro, a bolsa ensaiou uma recuperação na expectativa da nomeação de uma nova equipe econômica. No entanto, a persistente queda do preço do petróleo no semestre e os adiamentos na publicação do balanço da Petrobrás33, juntamente com as repercussões da desvalorização do rublo, fizeram com que o Ibovespa acumulasse perdas de 11,6% até 16 de dezembro. Quanto ao fluxo de investimentos estrangeiros, houve ingresso líquido de R$9,6 bilhões no terceiro trimestre. Entretanto, o aumento das volatilidades externa e interna provocou uma reversão parcial desse fluxo, encerrando o semestre em R$8,1 bilhões. Em síntese, os condicionantes externos e internos foram mais favoráveis nos meses de julho e agosto, resultando em flattening da curva de juros doméstica, relativa estabilidade da taxa de câmbio e das volatilidades das taxas de juros, além de expressiva alta do Ibovespa. Desde então, houve reversão desse quadro. 32/ Como a nova metodologia de cálculo do Ibovespa, adotada em maio de 2014, que considera o valor de mercado das empresas, a participação relativa da Petrobras caiu de 14,2% (quarto trimestre de 2014) para 7,9% (primeiro trimestre de 2015), menor nível desde 1998. 33/ Em 12 de dezembro, após o encerramento das negociações, a Petrobras adiou novamente a divulgação do balanço não auditado do terceiro trimestre. Assim, no dia seguinte, o preço das ações da empresa chegou a cair mais de 10% em relação ao preço inicial, o que fez com que as ações da empresa fossem levadas a leilão. No último quadrimestre, o ambiente externo mostrou-se complexo: os bancos centrais das principais economias desenvolvidas adotaram políticas monetárias distintas; os preços das commodities caíram de forma significativa, com destaque para o do petróleo; e os conflitos geopolíticos no Oriente Médio e no Leste Europeu se acirraram. Internamente, o nível da atividade desacelerou e houve piora dos indicadores fiscais. Ainda assim, os índices de preços domésticos e as expectativas para a inflação continuaram em patamares elevados. Em outubro, o BCB avaliou que o balanço de riscos para inflação havia se tornado menos favorável e começou a elevar novamente a taxa Selic. O processo eleitoral colocou em foco os possíveis rumos da política econômica do próximo governo, adicionando incertezas que contribuíram para o aumento das taxas de juros bem como para a elevação das volatilidades do câmbio e dos juros e para a reversão da trajetória de alta do Ibovespa, que encerrou o semestre em queda. 44 48 52 56 60 64 Jan 2014 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Pontos (mil) Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa Fonte: BM&FBovespa Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17 2Sistema bancário 2.1 Introdução No segundo semestre de 2014, o sistema bancário brasileiro continuou apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência. O risco de liquidez de curto prazo manteve-se baixo, com elevação do estoque de ativos líquidos das instituições financeiras. Além disso, o risco de liquidez estrutural também permanece baixo, uma vez que os recursos estáveis mantêm-se suficientes para suportar o estoque de crédito. Acerca do mercado de crédito, destaca-se a continuidade das principais tendências observadas no primeiro semestre: crescimento do estoque em ritmo menor, elevação das taxas de juros aos tomadores e relativa estabilidade do nível de inadimplência e do índice de cobertura da inadimplência (ICI)34. Entretanto, há distinções entre as tendências quando segmentadas por tipo de controle (público ou privado), porte de tomador e produto. Em particular, destaca-se o aumento da inadimplência das pequenas e médias empresas e a elevação das renegociações de créditos habitacionais em bancos públicos. Aspectos adicionais que podem afetar as tendências futuras do crescimento do crédito e da inadimplência incluem a evolução do ambiente econômico nacional e internacional, os efeitos na capacidade de pagamento das empresasinvestigadas na Operação Lava Jato e em sua cadeia de fornecedores, bem como o cenário de incerteza sobre as condições e custos da oferta de energia elétrica e de água. A elevação nas taxas de juros aos tomadores começou a produzir efeito positivo na rentabilidade da carteira de crédito e contribuiu para impulsionar o resultado. O avanço do resultado de crédito e a significativa ampliação 34/ O índice de cobertura da inadimplência mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias. dos ganhos em participações societárias favoreceram o incremento no retorno sobre o patrimônio líquido. A solvência do sistema bancário permaneceu estável no semestre e as métricas utilizadas para a sua mensuração continuaram em patamar elevado. Os índices de capitalização seguiram em níveis superiores aos dos requerimentos regulatórios, o que, associado aos resultados da simulação da plena implementação do arcabouço de Basileia III e da introdução do futuro requerimento de razão de alavancagem, confirmaram a confortável situação de solvência do sistema. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários adversos, bem como mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio, na inadimplência ou nos preços dos imóveis residenciais. Destaque-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é constituído pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica, banco de câmbio e banco de investimento, e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 Crédito, na qual as análises envolvem todo o Sistema Financeiro Nacional (SFN). 2.2 Liquidez O risco de liquidez de curto prazo do sistema bancário brasileiro, que já se apresentava em baixo patamar, reduziu-se ainda mais no segundo semestre de 2014, evento fortemente influenciado pela elevação do estoque de ativos líquidos35 nas instituições financeiras (IF). O 35/ Para definição de ativos líquidos e de fluxo de caixa estressado, vide “Conceitos e Metodologias”, itens a e d. Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18 risco de liquidez estrutural36 também permaneceu baixo, pois o estoque de recursos estáveis37 manteve-se em montante suficiente para suportar o estoque do crédito. No semestre, o montante de ativos líquidos das IF aumentou em cerca de R$82 bilhões, influenciado principalmente pela mudança no mix das captações, que inclusive reduziu o volume das exigibilidades de compulsório. Apesar do crescimento do estoque das captações, o fluxo de caixa estressado (de curto prazo) manteve-se praticamente inalterado no período, efeito do ganho de estabilidade proporcionado pela mudança no mix de captações. Esses movimentos resultaram na elevação do índice de liquidez (IL)38 do sistema de 1,71 para 2,02 no semestre (gráfico 2.2.1). 36/ Liquidez estrutural de uma IF refere-se à relação entre operações ativas de prazos mais longos e as fontes de recursos suficientemente estáveis para suportá-las. Quanto maior a estabilidade dos recursos, menor o risco futuro de insuficiência de recursos. 37/ Recursos estáveis são aqueles com risco reduzido de corrida bancária em situação de estresse: a) primeiramente pela perspectiva do aplicador (principal) são estáveis as captações de varejo (detentores não institucionais) e b) de forma complementar, pela perspectiva do prazo efetivo do instrumento de captação, são estáveis quando maior que um ano. Indicador modificado e adaptado do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Detalhes da definição, ver “Conceitos e Metodologias”, item b. 38/ O IL relaciona o volume de ativos líquidos disponíveis para a instituição com o fluxo de caixa estressado (desembolso dos 30 dias/21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). O fluxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III. No Brasil, o LCR deve ser calculado e divulgado a partir de 2016, conforme Resolução CMN nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular BCB nº 3.749, de 5 de março de 2015. A elevação foi acompanhada de melhora na distribuição do risco de liquidez das instituições, caracterizada pela redução da representatividade no sistema das IFs com IL abaixo de um e também pelo aumento da participação das IFs com IL acima de dois (gráfico 2.2.2). Com variações equiparadas dos estoques de captação e de crédito domésticos, a menor proporção do compulsório em relação ao estoque de recursos captados resultou no aumento dos ativos líquidos no semestre e consequente redução do risco de liquidez (gráfico 2.2.3). O crescimento do funding estável permaneceu compatível com o aumento de prazo médio e do volume da carteira de crédito, mantendo o risco de liquidez estrutural baixo. Entre os instrumentos de captação de maior estabilidade, destacam-se a poupança, a letra financeira (LF) e a letra de crédito imobiliário (LCI) (gráfico 2.2.4). 0 160 320 480 640 800 0,00 0,42 0,84 1,26 1,68 2,10 Jan 2012 Jul Jan 2013 Jul Jan 2014 Jul Dez R$ bilhões un. Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez Ativos líquidos Fluxo de caixa estressado Índice de liquidez Base de dados IF BB ITAU CAIXA ECONOMICA FEDERAL BRADESCO SANTANDER Total HSBC VOTORANTIM SAFRA BTG PACTUAL CITIBANK 22 6 6 7 9 10 8 63 18 3 11 4 8 7 9 72 0 11 22 33 44 55 <0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,4 1,4-1,6 1,6-1,8 1,8-2,0 ≥2,0 Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o índice de liquidez1/ Junho 2014 Dezembro 2014 Índice de liquidez 1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições % dos ativos do sistema financeiras com índice de liquidez pertencente ao intervalo correspondente. Base de dados 0 4 8 12 16 20 Jan 2012 Jul Jan 2013 Jul Jan 2014 Jun Dez % Relação compulsório versus captações domésticas Variação semestral do estoque de captações domésticas Variação semestral da carteira de crédito doméstica Gráfico 2.2.3 – Relação compulsório versus captações domésticas e variações semestrais dos estoques domésticos de captações e crédito Base de dados Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19 Permanece baixa a dependência por funding externo. A captação externa total reduziu-se em US$8 bilhões no semestre, com destaque para a diminuição em aproximadamente US$16 bilhões dos recursos captados e mantidos no exterior39. Essa redução, entretanto, não é verificada nos estoques em reais devido à depreciação frente ao dólar verificada no período (gráfico 2.2.5). Em suma, o risco de liquidez permanece baixo tanto em perspectiva de curto quanto de médio prazo. O volume de ativos líquidos do sistema mostra-se compatível com a estrutura de passivos, bem como o funding estável com a carteira de crédito. Ademais, a desaceleração do crescimento dessa carteira tende a reforçar essa constatação. 39/ Além dos recursos captados emantidos no exterior, ainda compõem as captações externas aquelas que ingressam no país. Subdividem-se em: 1) recursos externos vinculados a operações de comércio exterior ou empréstimos e; 2) recursos externos livres: demais recursos que ingressam no país. 2.3 Crédito Os principais destaques sobre o crédito40 no segundo semestre de 2014 referem-se à continuidade de tendências observadas no primeiro semestre, especialmente o ritmo menor de crescimento do estoque, a elevação das taxas de juros aos tomadores e a manutenção relativa do nível de inadimplência,41 oscilando em torno de 3,0%. O ICI também permaneceu relativamente estável, próximo a 1,7, o que, em conjunto com o menor crescimento das carteiras e a inadimplência estável até o momento, aponta para a manutenção da resiliência do sistema de crédito na perspectiva agregada. Há, no entanto, diferenças entre esses indicadores e suas tendências quando segmentados por tipo de controle, porte de tomador ou produto de crédito. Acesso mais restrito a financiamentos pelas empresas investigadas no contexto da Operação Lava Jato e seus fornecedores, bem como indefinições quanto às condições e custos de oferta de energia elétrica e de água, ensejam atenção relativamente aos seus impactos potenciais sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito. Analisando especificamente a variação do estoque do crédito doméstico, no segundo semestre manteve-se a tendência de redução no ritmo de crescimento das carteiras, encerrando o ano com aumento de 11,3% em relação a dezembro de 2013. Além disso, esse crescimento teria sido ainda menor em relação ao observado, se não fosse pelos efeitos da desvalorização cambial sobre as operações referenciadas em moeda estrangeira.42 Essa redução advém essencialmente dos bancos públicos, que continuaram a diminuir suas taxas de crescimento de carteira. Essa queda, no entanto, foi menos significativa que nos dois semestres anteriores, encerrando o ano com crescimento de 16,5% nas carteiras domésticas.43 Diferentemente, os bancos privados não retomaram o ritmo de crescimento do estoque de crédito, mantendo suas taxas de crescimento levemente abaixo de 6% ao ano (a.a.) ao longo da maior parte do segundo semestre (gráfico 2.3.1). Com isso, observou-se aumento da 40/ Refere-se ao crédito bancário doméstico. 41/ Inadimplência mensurada pela relação do saldo total de operações de crédito com parcelas vencidas há mais de noventa dias, com o valor total da carteira de crédito. 42/ Do total de operações de crédito, 7,9% eram representadas por operações referenciadas em moeda estrangeira em dezembro de 2014, basicamente o dólar dos EUA. A desvalorização de 13,4% do real frente ao dólar dos EUA no ano foi responsável por 0,4 p.p. do crescimento anual das operações de crédito. 43/ Em junho, o crescimento anual dos bancos públicos foi de 17,1%, enquanto em dezembro de 2013 havia sido de 22,6%. 0 3 6 9 12 15 Dez 2010 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez % Captações externas mantidas no exterior versus captações totais Captações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totais Captações externas que ingressam (livres) versus captações totais Gráfico 2.2.5 – Perfil das captações externas como percentual da captação total Base de dados 20 24 28 32 36 40 0 26 52 78 104 130 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez meses % Gráfico 2.2.4 – Captações de recursos estáveis sobre crédito e seu prazo médio Captação estável versus crédito (%) Prazo médio da carteira de crédito doméstica (meses) Base de dados Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20 participação das instituições públicas no crédito doméstico total, atingindo 53,6% em dezembro de 2014. As taxas de juros para o crédito livre se elevaram no semestre (gráfico 2.3.2), influenciadas pela continuidade dos aumentos da taxa Selic.44 Foram observados aumentos nas principais modalidades de crédito, com mais intensidade naquelas que apresentam maior nível de inadimplência, como o cheque especial e o capital de giro. O início de 2015 tende a apresentar continuidade dos aumentos do custo para o tomador de crédito livre, em razão do aumento do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF) ocorrido em janeiro de 2014 e do provável repasse para o crédito dos aumentos da meta da taxa Selic. A inadimplência da carteira de crédito doméstico oscilou entre 3,0% e 3,1% entre junho e novembro, atingindo 2,9% em dezembro de 2014. Entretanto, a inadimplência 44/ No primeiro semestre de 2014, a meta para a taxa Selic variou de 10,00% para 11,00%. No segundo semestre, variou de 11,00% para 11,75%. apresentou comportamentos diferentes nas instituições financeiras quando consideradas por tipo de controle: enquanto nos bancos privados houve melhora, com diminuição de 0,2 p.p. no semestre, nos bancos públicos houve aumentos de julho a novembro e queda apenas no mês de dezembro (gráfico 2.3.3). Ressalte-se, porém, que essa redução está associada a cessões de crédito45 e renegociações de operações inadimplentes, e não a mudanças efetivas no perfil da carteira. Sem esses eventos, a inadimplência nos bancos públicos teria mantido sua tendência e a do SFN teria encerrado o semestre estável. O ICI apresentou aumento de 0,07 p.p. de junho a dezembro de 2014 (gráfico 2.3.4), decorrente da diminuição da inadimplência nos bancos privados. Nos bancos públicos, o ICI praticamente não variou, em que pesem as cessões de crédito e renegociações realizadas. De qualquer modo, em ambos os casos o indicador continua em nível adequado, mesmo levando-se em conta os eventos citados no parágrafo anterior, permanecendo em patamar superior ao mantido pelas instituições financeiras da maioria dos países.46 A existência de volume suficiente de provisões é, como no semestre anterior, corroborada por outras métricas, tais como a relação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou as provisões constituídas e o total da carteira de maior 45/ Houve volume relevante de cessões de operações inadimplentes para fora do SFN, sem retenção de risco, nos meses de setembro e dezembro. A cessão de créditos inadimplentes sem retenção de riscos implica a baixa contábil desses ativos, reduzindo o índice de inadimplência da instituição cedente. Note-se que a cessão e a renegociação de créditos são práticas usuais para gestão de riscos da carteira de crédito, mas o objetivo em ressaltar esses eventos é seu efeito na redução do indicador de inadimplência. 46/ Dados disponíveis no sítio do FMI, reproduzidos no Anexo Estatístico. 0,0 1,2 2,4 3,6 4,8 6,0 Jun 2011 Set Dez Mar Jun 2012 Set Dez Mar Jun 2013 Set Dez Mar Jun 2014 Set Dez Público Privado Total % Gráfico 2.3.3 – Inadimplência por controle Base de dados 0 10 20 30 40 50 Jun 2011 Set Dez Mar Jun 2012 Set Dez Mar Jun 2013 Set Dez Mar Jun 2014 Set Dez Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF Gráfico 2.3.2 – Evolução das taxas de juros Recursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a. Base de dados 0 10 20 30 40 50 Dez 2008 Jun 2009 Dez Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez % Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual do crédito por controle Público Privado Total Base de dados Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21 risco,47 composta pelas operações de crédito classificadas nos níveis de E a H (gráfico2.3.5).48 A análise da dispersão do ICI por banco49 (gráfico 2.3.6) nas posições de junho e de dezembro de 2014 evidencia que o movimento mais expressivo no período foi o aumento das instituições com cobertura de provisões maiores do que 1,6, tanto em quantidade quanto em volume de carteira, reforçando a avaliação de que o SFN, em geral, encontra-se com adequado nível de provisões. Na faixa de ICI inferior a 1,0, embora tenha havido aumento 47/ Os percentuais do gráfico 2.3.5 representam o valor de cada métrica dividido pelo valor total da carteira de crédito doméstico. 48/ O volume de provisões constituídas superior às baixas a prejuízo indica que as perdas materializadas são inferiores às perdas esperadas, denotando margem de segurança relevante nesse quesito. Também reforça esse entendimento o fato de a carteira E-H, que pode ser entendida como a fração da carteira mais sujeita à materialização de perdas esperadas, ter nível compatível com as provisões. 49/ Nesse teste, as cooperativas de crédito e as instituições financeiras não bancárias não foram consideradas, pois, apesar de seu grande número, respondiam somente por 3,2% do crédito doméstico total em dezembro de 2014. Além disso, só são considerados os bancos que têm carteira de crédito. no número de bancos, a relevância dessa carteira sobre o SFN se manteve estável em relação a junho de 2014, em torno dos 2%. Por fim, salienta-se que, em dezembro de 2014, 97% da carteira de crédito no SFN encontrava-se no ativo de instituições com ICI superior a 1,3. Analisando especificamente os principais aspectos do crédito à pessoa física, cabe destacar que a expansão das carteiras, embora em menor ritmo, não foi acompanhada de alterações significativas na capacidade de pagamento dos tomadores, quando avaliada com foco no comprometimento de renda. O comprometimento de renda é medido de duas formas: uma considerando toda a população e a partir dos agregados monetários medindo o comprometimento de renda das famílias (CRF)50, outra, considerando somente os tomadores de crédito e suas respectivas rendas, medindo o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN (CRTC)51. Embora os níveis não possam ser comparados em razão de diferenças metodológicas, ambas as séries indicam uma redução na comparação com doze meses antes. 50/ Para mais detalhes sobre a metodologia, veja-se boxes no Relatório de Inflação (RI) “Evolução Recente do Crédito, da Inadimplência e do Endividamento das Famílias”, de setembro de 2008; “Evolução da Inadimplência, do Endividamento e do Comprometimento de Renda após a Crise”, de março de 2010; “Endividamento e Comprometimento da Renda das Famílias: Incorporação do Conceito de Massa Salarial Ampliada Disponível”, de setembro de 2010 e no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) “Endividamento e Comprometimento de Renda das Famílias com Dívidas Bancárias: Revisão Metodológica”, de setembro de 2011. Divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS) – Série 19.881. 51/ O comprometimento de renda dos tomadores de crédito considera apenas a renda das pessoas físicas que possuem endividamento junto ao SFN. É realizado o cálculo individualizado tomador a tomador e então é utilizada a mediana. Trata-se de métrica distinta do comprometimento de renda das famílias, divulgado no Sistema Gerenciador de Séries Temporais – Série 19.881, que computa a renda de toda a população conforme metodologia utilizada internacionalmente. Para mais detalhes sobre o comprometimento de renda dos tomadores de crédito no SFN, ver seção “Conceitos e metodologias”, item c. 4 12 25 12 11 55 9 11 15 17 11 56 0% 8% 16% 24% 32% 40% <0,7 0,7≤IC<1 1≤IC<1,3 1,3≤IC<1,6 1,6≤IC<1,9 ≥1,9 Junho 2014 Dezembro 2014 Gráfico 2.3.6 – Distribuição de frequência para o índice de cobertura da inadimplência1/ 1/ As barras indicam a representatividade da carteira e os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com índice de cobertura da inadimplência naquele intervalo. Base de dados 0,0 1,2 2,4 3,6 4,8 6,0 Jun 2011 Set Dez Mar Jun 2012 Set Dez Mar Jun 2013 Set Dez Mar Jun 2014 Set Dez % Gráfico 2.3.5 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo Carteira de crédito classificada nos níveis de E até H Provisões Inadimplência Créditos baixados nos doze meses seguintes Base de dados 0,0 0,6 1,2 1,8 2,4 3,0 Jun 2011 Set Dez Mar Jun 2012 Set Dez Mar Jun 2013 Set Dez Mar Jun 2014 Set Dez Gráfico 2.3.4 – Índice de cobertura da inadimplência por segmento Público Privado Total Base de dados Março 2015 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22 instituições, situa-se abaixo de 40% (gráfico 2.3.9).53 Esse dado indica que, no geral, as políticas de concessão de crédito das instituições financeiras têm observado limites razoáveis de comprometimento de renda total dos tomadores. As instituições financeiras permanecem dando maior ênfase às modalidades de menor risco em suas políticas de crédito (gráfico 2.3.10). Observa-se a continuidade na redução das carteiras de veículos e na desaceleração do ritmo – já anteriormente baixo – dos empréstimos sem consignação. Por outro lado, o crescimento do crédito com consignação em folha de pagamento segue estável e acima da média da carteira, enquanto o crédito 53/ Para melhor compreensão do gráfico 2.3.8, suponha-se um devedor que comprometa 25% de sua renda líquida em um conglomerado A e 10% em um conglomerado B. Para ambos os conglomerados, o devedor entrará no cômputo do comprometimento de renda com o valor de 35%, pois o valor relevante é o do seu CRTC no Sistema Financeiro Nacional e não nos conglomerados individuais. O CRTC de cada conglomerado é calculado por meio da mediana do CRTC de seus clientes considerando-se sua dívida total no SFN. Avaliando a evolução do CRTC nos últimos meses, observam-se tendências distintas de acordo com a faixa de renda do tomador de crédito, com a queda sendo observada apenas na faixa de menor renda (gráfico 2.3.8). Nesse caso, a queda do CRTC é explicada por um crescimento da renda levemente mais significativo na faixa até três salários mínimos e pelo aumento na quantidade de tomadores de crédito nesse grupo. Nas faixas mais altas, o leve aumento do CRTC, ainda em patamares relativamente baixos, decorre de maior participação do crédito imobiliário no serviço da dívida. Outro aspecto importante é que, na maioria dos conglomerados financeiros52, o nível de comprometimento de renda de seus tomadores de crédito (CRTC), considerando-se todo o crédito tomado nas demais 52/ Foram consideradas apenas as instituições financeiras bancárias com carteira de crédito pessoa física. 41 30 20 0 12 24 36 48 60 CRTC abaixo de 30% CRTC de 30% a 40% CRTC acima de 40% Gráfico 2.3.9 – CRTC em todo o SFN por conglomerado1/ Pessoa física % 1/ O rótulo de dados mostra a quantidade de conglomerados em cada faixa de CRTC. O eixo vertical mostra o percentual da carteira ativa total para cada faixa. Base de dados 0 5 10 15 20 25 Até 3 s.m. 3 a 5 s.m. 5 a 10 s.m. > 10 s.m. SFN Dezembro 2013 Junho 2014 Dezembro 2014 Gráfico 2.3.8 – CRTC no SFN Pessoa física % Base de dados 10 14 18 22 26 30 Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez Jun 2014 Dez % Gráfico 2.3.7 – Comprometimento de renda Pessoa física CRF CRTC Base de dados -10 0 10 20 30 40 Dez 2012 Mar 2013 Jun Set Dez Mar 2014 Jun Set Dez Gráfico 2.3.10 – Crescimento anual do crédito Principais modalidades PF Imobiliário Consignado Cartão de crédito Sem consignação Veículos % Base de dados
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