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Biotecnologia Agrícola Introdução Na segunda metade do século 20, observamos um grande aumento na produtividade agrícola, o que quadruplicou a produção agrícola mundial anual. Entre os fatores que contribuíram para esse aumento significativo encontram- se o uso de fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas, assim como programas de melhoramento, que incluem a combinação e transferência de genes - a essência da biotecnologia. O melhoramento de espécies vegetais e animais por seleção está longe de ser novo. Desde as primeiras domesticações, há mais de 10.000 anos atrás1, até hoje em dia temos modificado e melhorado espécies de plantas e animais selvagens através da seleção de características que atendem nossas necessidades. No século passado, os avanços na genética, estatística, biologia molecular e ciências computacionais deram suporte a biotecnologia para aprimorar a forma de fazer isso mais rápido e com maior precisão. A biotecnologia modifica a agricultura através de tecnologias que permitem identificar e selecionar genes que codificam características a serem usadas como marcadores moleculares na seleção assistida ou expressar um determinado gene em outro organismo por transgenia e, assim, obter novas características agronômicas e nutricionais desejáveis nas plantas. O que é biotecnologia? Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU “a biotecnologia pode ser definida pelo uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos de utilidade.”2 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define biotecnologia como “a aplicação da ciência e da tecnologia aos organismos vivos, assim como suas partes e produtos, alterando materiais orgânicos e inorgânicos para a produção de conhecimentos, bens e serviços.”3 Finalmente, o Conselho Americano para a Ciência e a Saúde (ACSH) define que “a biotecnologia é um conjunto de técnicas que permite a manipulação do material genético (ácido desoxirribonucleico-DNA, ácido ribonucleico-RNA) dos organismos vivos para produzir substâncias úteis ou permitir a adaptação das culturas à condições adversas.”4 Biotecnologia agrícola A biotecnologia agrícola é um conjunto de técnicas, baseadas na compreensão do DNA, usadas para aumentar a produtividade agrícola ou interferir em outras características agronômicas desejáveis. A capacidade de fazer isso com precisão é o principal objetivo da biotecnologia moderna e essas técnicas podem ser usadas de distintas formas: 1) para melhorar a capacidade de um organismo de produzir uma substância química em particular, 2) para evitar a produção de uma substância, ou 3) para permitir a um dado organismo produzir uma substância inteiramente nova (por exemplo, um pesticida). A biotecnologia moderna tem focado na manipulação dos genes na agricultura e horticultura, entre outras áreas5-8 e as plantas modificadas são denominados transgênicos ou “organismos geneticamente modificados” - OGMs (Figura 1). Os genes, feitos de DNA, são responsáveis pela herança das características de uma geração para a seguinte. Recentemente, a biologia molecular tem contribuído para identificar e compreender a função dos genes responsáveis por essas características. Essa identificação dos genes que podem conferir vantagens a uma cultura fornece uma via para trabalhar com essas características de forma precisa, assim a biotecnologia agrícola aumenta a capacidade de melhorar as culturas. Figura 1: Esquema geral de produção de culturas geneticamente modificadas. Modificado de <http://www.scq.ubc.ca/genetically-modified-foods/> De acordo com o Programa para Sistemas de Biossegurança e Suporte da Biotecnologia Agrícola II9, a biotecnologia agrícola pode ser divida em cinco subáreas: a) engenharia genética, b) marcadores moleculares, c) diagnósticos moleculares, d) cultura de tecidos e e) vacinas. As primeiras quatro subáreas estão diretamente relacionadas com o melhoramento das culturas: Engenharia genética: implica a transferência de um ou mais genes (fragmento de DNA) de um organismo a outro, gerando os chamados Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Esta estratégia tem permitido desenvolver culturas modificadas com o objetivo de reduzir os prejuízos devido a plantas daninhas, doenças ou insetos. Marcadores moleculares: o melhoramento tradicional implica a seleção de indivíduos com base em características visíveis ou mensuráveis. Através da análise do DNA de um organismo, é possível desenvolver marcadores moleculares (i.e. microssatélites, SNPs) correlacionados com uma característica de interesse e usá-los para selecionar indivíduos que possuem ou não a característica, mesmo na ausência de um rasgo visível. Diagnóstico molecular: são métodos precisos e específicos para detectar genes ou produtos gênicos que se usam na agricultura para diagnosticar doenças. Cultura de tecidos: é a regeneração de plantas no laboratório a partir, por exemplo, de partes não doentes da planta, permitindo a reprodução de material livre de doenças para cultivar. Exemplos de culturas produzidas com o uso de cultura de tecidos são: citros, abacaxi, abacate, manga, banana e café. Referências 1 Hillman G, Hedges R, Moore A, Colledge S, Pettitt P (2001). New evidence of Late glacial cereal cultivation at Abu Hureyra on the Euphrates. Holocene, 11: 383-393. 2 http://www.cbd.int/convention/text/ 3 http://www.oecd.org/sti/biotech/statisticaldefinitionofbiotechnology.htm 4 http://acsh.org/2014/03/agricultural-biotechnology/ 5 Fukuda-Parr S (ed.) (2006). The Gene Revolution: GM Crops and Unequal Development. London: Earthscan. 6 Mannion AM (2007) Biotechnology. In Douglas I, Huggett R, and Perkins C (eds) Companion Encyclopedia of Geography: From Local to Global, Volume 1. Abingdon: Routledge, 263–277. 7 Murphy D (2007) Plant Breeding and Biotechnology: Societal Context and the Future of Agriculture. Cambridge: Cambridge University Press. 8 Thomson J (2006) GM Crops: Unlocking the Potential Canberra: CSIRO. 9 PBS and ABSPII - Program for Biosafety Systems and Agricultural Biotechnology Support Project II (2004) Agricultural biotechnology. 10 http://absp2.cornell.edu/resources/briefs/documents/warp_briefs_eng_scr.pdf Autor: Pablo Fresia, Ph.D. em Genética e Biologia Molecular
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