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Avaliação de Sistemas Agroflorestais em sucessão natural como meio de sustentabilidade na zona rural do município de Ubatuba

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CENTRO PAULA SOUZA
Escola Técnica Estadual de São Paulo
Avaliação de Sistemas Agroflorestais em sucessão natural como meio de sustentabilidade na zona rural do município de Ubatuba
Autores:
Henrique Shimada Lepore
Karinna Bastos Silva
Lucas Osawa Pelin
Priscila Costa Garrido
tccsafs@gmail.com
ABSRACT
	The pressure on the Ubatuba’s traditional communities – “caiçaras” and “quilombolas” – about their own ways of cultivation, is one of the most serious issues to the maintenances of their culture and their subsistence, because of the fact that they live around “Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Picinguaba”.
Thinking in that direction, this article proposes the Agroforestry System as a means of achieving regional economic development, the caiçaras and quilombolas’s social inclusion and the conservation of the natural resources of Ubatuba.
Keywords: Agroforestry System, sustentability, traditional communities
 
RESUMO 
	A pressão exercida sobre as comunidades tradicionais - caiçaras e quilombolas - do município de Ubatuba em relação a suas formas de cultivo, devido ao fato de que moram na circunvizinhança do Parque Estadual da Serra do Mar/ Núcleo Picinguaba é uma das mais sérias questões para a manutenção da sua cultura e para a sua subsistência.
	Nesse sentido, o presente artigo propõe os Sistemas Agroflorestais como meio de atingir o desenvolvimento econômico regional, inclusão social dos caiçaras e quilombolas, juntamente com a conservação dos recursos naturais do município de Ubatuba. 
Palavras chave: Sistemas Agroflorestais, sustentabilidade, comunidades tradicionais
São Paulo, 2008�
1.Introdução
A sustentabilidade está associada à problemática ambiental, mas não se reduz a esta. Não deve ser vista como algo externo à cultura, à sociedade e ao próprio homem, porque tem relação com o comportamento e a ação de cada indivíduo. A sustentabilidade não está ligada somente à biodiversidade, mas também à sociodiversidade. Ela não é gerada pela disposição de alguns poucos eleitos, mas se constrói pela mobilização da coletividade (Bueno, 2007).
Segundo o Relatório Brundtland- documento intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em 1987- sustentabilidade é: “suprir as necessidades da geração presente sem comprometer as gerações futuras de suprir as suas”.
Porém, o conceito adequado de sustentabilidade remete a uma dimensão mais ampla que torne possível um sistema economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo, respeitando a cultura local e com auxílio político. (Figura 1)
Fig. 1 - Sustentabilidade
Portanto, é um conceito que pode ser aplicado a qualquer atividade desenvolvida pelo homem. Em todos os debates sobre sustentabilidade, os itens produção de alimentos, geração de renda e conservação do meio ambiente estão sempre presentes, apontando inevitável-mente para a agricultura e suas condições de produção (Almeida, 2002).
 	Dentro de uma proposta de agricultura, se insere a Agroecologia, que vem para se contrapor ao modelo atual de cultivo, que caracteriza-se principalmente pelos latifúndios monocultores, com uso intensivo do solo e agroquímicos, maquinários agrícolas e utilização de sementes transgênicas. Estas formas de uso dos recursos naturais têm se mostrado insustentáveis do ponto de vista social, econômico e ambiental (Franco, 2004).
A agroecologia tem como objetivo unir os conhecimentos empíricos dos agricultores ao conhecimento científico atual, visando reduzir a dependência de energia externa e o impacto ambiental das atividades agrícolas atuais. 
Dentre as formas de cultivo agroecológicas, pode-se destacar a Agrofloresta (Fig.2) ou Sistema Agroflorestal (SAF), uma forma de uso da terra que combina a produção de culturas agrícolas e/ou animais com espécies florestais, simultaneamente ou em seqüência na mesma área. Busca conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade econômica com a proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais, tendo em vista a diversidade de produção, auto-suficiência e melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo (Franco, 2004).
	Agrofloresta é uma denominação nova para uma prática antiga, tradicionalmente usada pelos índios e outros povos, como, por exemplo, no século XV em que as especiarias compradas pelos europeus provinham de Quintais Agroflorestais no Oriente. Isso demonstra que este tipo de cultivo não foi um empecilho para a acumulação, afinal eram sistemas que se adaptavam a uma grande escala de mercado, empregando bastante mão-de-obra, e uma mão-de-obra especializada, que desenvolveu um conhecimento ecológico do local e daquelas culturas.
 Fig. 2- Área de SAF no IPEMA- Ubatuba FONTE: Trabalho em Campo
	Implantar um SAF demanda um conhecimento prévio da evolução do sistema e de como será sua dinâmica. Os erros e acertos no momento da implantação determinarão o grau de sucesso ou fracasso do futuro sistema. Conceber um bom projeto implica tomar decisões que envolvam não apenas a escolha das espécies e o método de plantio, mas igualmente a composição do mosaico agroflorestal, de acordo com o atual estágio de sucessão, ou seja, da quantidade e qualidade de vida consolidada. Este é o aspecto mais crucial em todo o trabalho: julgar o estágio sucessional em que se encontra determinado local de forma que as espécies escolhidas tenham o "talento" necessário para fazer evoluir todo o sistema (Osterroht, 2002).
Após a implantação, o manejo ocorre de forma intuitiva, levando em conta o conhecimento das características ecológicas e funcionais das espécies. Suas técnicas visam manter a capacidade produtiva do sistema, o balanço de nutrientes e o suprimento de água aos componentes, utilizando podas e capinas seletiva. 
A poda é uma das principais ferramentas no manejo dos SAFs e pode ser leve ou profundo, cortando não raramente 60% da biomassa. Toda vez que se poda ocorre o aporte de matéria orgânica e a reciclagem de biomassa e nutrientes. Também disponibiliza o único fator que realmente pode se tornar limitante: a luz. A biomassa proporciona também a cobertura do solo, protegendo-o contra a incidência direta dos raios solares e o impacto das gotas de chuva, evitando a erosão, mantendo a temperatura mais amena e a umidade do solo (Osterroht, 2002).
O quadro 1 demonstra importância dos SAFs na função de proteção contra perda de solo por erosão. Os dados são provenientes quatro tipos de cobertura do solo durante a exploração da terra (sem cobertura, cultivo intensivo - mandioca e milho -, cultivos perenes - SAFs - e floresta nativa) em um solo com 7% de declividade. Observa-se que a perda de solo nos cultivos perenes é baixa e praticamente igual à floresta nativa (Quadro 1).
Quadro 1. Perdas de solo por erosão em solos com 7% de declividade
	Cobertura
	Erosão
(t/ha/ano)
	Solo exposto (sem vegetação)
	125
	Cultivo de milho
	92
	Cultivo de mandioca
	32
	Cultivos perenes* (SAFs)
	0,3
	Floresta nativa
	0,1
 Fonte: Muller (2003)
A capina seletiva consiste em uma prática de manejo onde somente as plantas que possuem uma função importante de produção no sistema é que permanecem. São capinadas então, as plantas de menor interesse. Este manejo é importante para a dinâmica do sistema, dentro da idéia da sucessão natural. (FRANCO, 2004)
A manutenção das propriedades do solo, mantendo sua fertilidade e produtividade, também consiste na capacidade das espécies arbóreas de absorver nutrientes e água que as espécies agrícolas não conseguiriam uma vez que, geralmente, suas raízes absorventes estão concentradas na camada superior do solo até 20 cm de profundidade. Essa maior capacidade de absorção das espécies arbóreas possibilita uma maior ciclagem de nutrientes, especialmente os de fácil lixiviação como cálcio (Ca), potássio (K) e enxofre (S), retirando-os das camadas maisprofundas e devolvendo-os à superfície pela poda e capina seletiva (Muller, 2003).
No Brasil, o conceito de manejo por sucessão natural teve como pioneiro o agricultor e pesquisador Ernst Götsch. Götsch é suíço e iniciou seu trabalho no Sul da Bahia em 1982. Porém, as experiências com Sistemas Agroflorestais em outras regiões do país ainda são tími-
das e isoladas.
“Observa as plantas e as situações onde elas melhor prosperam! Tenta enxergar os consórcios em que cada espécie naturalmente aparece! Estuda o solo que tu queres cultivar baseando-te no ponto de vista da planta que tu estás pretendendo introduzir! Será que ela se daria bem nas atuais condições? Será que ela conseguiria se estabelecer e chegaria a dominar naturalmente nesta situação? Será que, depois dela ser colhida, o solo ficará mais rico, mais fértil?
Só em alguns casos, bem excepcionais, tu poderás responder a essas perguntas de forma positiva. Porém é apenas nesses casos que poderemos ter a certeza de estar fazendo agricultura sustentável. Contudo, não desanimes! Talvez a tua planta possa fazer parte de um consórcio de espécies, em que umas sejam plantas cultivadas e outras sejam espécies da vegetação nativa do lugar.”
(GÖTSCH,1997 )
Recentemente, a ciência vem se dedicando a esta área para demonstrar a importância dos Sistemas Agroflorestais como estratégia-piloto de desenvolvimento sustentável em ecossistemas ameaçados. Devido a esta importância o município de Ubatuba está se aderindo às práticas agroflorestais. (Vivan,2004)
Até o início do século XVII, a região era habitada pelos índios tupinambás. No ato da colonização, os índios do litoral foram gradativamente exterminados, deixando heranças que ainda hoje se perpetuam. Os caiçaras são um exemplo vivo desta combinação índio/colono, que se estabeleceram nos costões rochosos, restingas, mangues e encostas da Mata Atlântica. 
No início do século XIX, o número de escravos negros na região cresceu enormemente, devido ao grande poderio econômico dos recém chegados colonos estrangeiros, que investiram na compra de grandes lotes de terra, visando ao cultivo de produtos agrícolas para exportação, especialmente o café. Outro fator importante foi a transformação do porto de Ubatuba em um dos principais pontos de recebimento de escravos para as fazendas do Vale do Paraíba e de Minas Gerais. 
Com o declínio da produção cafeeira, a partir da segunda metade do século XIX, muitas fazendas foram abandonadas, loteadas e vendidas. Porções de terra das fazendas foram ocupadas, ou até mesmo doadas a ex-escravos. Estes passaram a viver com uma relativa autonomia, a partir da produção de pequenas roças e da pesca artesanal.
O litoral norte permaneceu como uma região quase isolada até a construção da rodovia BR 101 (Rio-Santos), na década de 1970. A partir daí, a situação fundiária de Ubatuba alterou-se mais uma vez, então com a entrada de grileiros e especuladores imobiliários movidos pela facilidade de acesso à região que a rodovia propiciou.
Muitas das comunidades quilombolas e caiçaras (Fig. 3), que até então viviam com relativa autonomia, foram expulsas de suas posses ou se viram obrigadas a vendê-las, para dar lugar a grandes propriedades, condomínios luxuosos e casas de veraneio.
 Fig. 3 - Casal de caiçaras de Ubatumirim
 Fonte: Trabalho em campo
A agricultura praticada pelos caiçaras e quilombolas serve para complementar o alimento provindo da pesca. . Para preparar a área de cultivo, há derrubada e queima da mata nativa. Utilizam-se de técnicas de rotação de cultura de três em três anos, a irrigação é realizada com água dos rios próximos por meio de mangueiras e não são utilizados adubos químicos e agrotóxicos. Seus principais produtos são: mandioca, milho, cana, feijão, guandu, inhame e ervas medicinais.
A extração de madeira, a agricultura, a pesca e a caça, que são as suas formas de sustento, entram em conflito com as leis que regem o Parque Estadual da Serra do Mar/Núcleo Picinguaba, criado em 1977, as APPs e outras Unidades de Conservação. Desta forma, estas comunidades tradicionais ficam limitadas em seu próprio território.
Sendo o município de Ubatuba um pólo turístico, recebendo por volta de 800 mil a 1 milhão de visitantes a cada temporada, é essencial para a economia local a preservação da Mata Atlântica e dos seus mananciais. Assim, prefeitura e ONGs  incentivam agricultores familiares tradicionais a implementarem Sistemas Agroflorestais, como forma de cultivo que incrementa a renda e mão-de-obra familiar, sem causar grandes impactos à biota local.
 2. Justificativa
O modelo de desenvolvimento econômico atual calca-se na lógica de dominação sobre as pessoas e a natureza, o que leva aos colapsos sociais e ambientais. Em todas as áreas naturais e/ou de atividades humanas há vestígios do desequilíbrio e insustentabilidade deste modelo. As florestas vêm sendo desmatadas a um ritmo assustador, refletindo um dos sintomas da visão segmentada do ser humano que se mostra incapaz de coexistir com a natureza. A agricultura é uma das atividades humanas que passou por uma grande transformação nas últimas décadas, em que o desenvolvimento agrícola foi estimulado com grandes pacotes tecnológicos, caros, poluentes, biocidas e dependentes de indústrias químicas multinacionais. A "revolução verde" levou ao campo o pensamento industrial, o que provocou e continua provocando uma grave erosão em diversas escalas: ambiental, cultural e social. A agricultura "moderna" é responsável por destruir milhões de hectares de floresta em várias partes do país, carregar toneladas de solo por ano, contaminar rios e lençóis d'água, desequilibrar diversos ecossistemas e deixar milhões de trabalhadores sem terra e em situações miseráveis.
Ubatuba possui um vasto Patrimônio Natural, com 83% de sua área preservada, incluindo o Parque Estadual da Serra do Mar/ Núcleo Picinguaba e diversas áreas de APPs, onde as comunidades tradicionais - caiçaras e quilombolas (Fig. 4) - enfrentam diversas restrições quanto suas formas de cultivo tradicionais. A atuação da Polícia Ambiental, com base no SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985) e Código Florestal (lei nº 4771), exerce pressão intensa sobre estas comunidades. Sendo os SAFs uma alternativa para os agricultores, faz-se necessário avaliar os Sistemas Agroflorestais de Ubatuba, demonstrando seus benefícios para o meio ambiente e para a situação socioeconômica da população local.
.
Fonte: Trabalho em campo
 3.Objetivo 
Avaliar os Sistemas Agroflorestais em sucessão natural como alternativa sustentável para os agricultores familiares tradicionais, tendo como base os bairros Corcovado e Ubatumirim de Ubatuba, procurando conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade com a conseqüente melhoria da qualidade de vida, bem como uma forma de preservação da Mata Atlântica, demonstrando os seus benefícios em relação à agricultura tradicional.  
4. Materiais e Métodos
O município de Ubatuba está situado no extremo leste do Estado de São Paulo, no litoral norte, ocupa uma área de 78000 ha, sendo 83% do território do município de Ubatuba protegido pelo Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Picinguaba, intituído em 1977. A cobertura florestal é caracterizada pela Floresta Ombrófila Densa e ecossistemas associados, que apresentam variação em função do relevo e influência do mar, a exemplo das restingas, mangues, e demais áreas costeiras. Segundo a contagem de 2007 do IBGE, Ubatuba possui 75.008 habitantes, dentre os quais cerca de 5.000 moram na Zona Rural, destes uma expressiva maioria ainda vivem em comunidades tradicionais que praticam o uso tradicional dos recursos naturais como um componente essencial da economia familiar e tem sua forma de vida baseada em atividades de agricultura itinerante, da pesca artesanal, do extrativismo vegetal e do artesanato. 
	O relevo do município tem grande variaçãona paisagem, marcado pela Serra do Mar e por extensa área de Mata Atlântica. O clima é Tropical Úmido, regido por grandes quantidades de chuva, com precipitação média anual de 2.624mm, não ocorrendo grandes déficits hídricos durante o ano. A temperatura média varia de 18 a 33ºC. A umidade relativa média do ar é 87,3%, sem registros de geadas. Os ventos dominantes regem pela ordem de Sul e Sudeste. Os principais rios de sua Microbacia são: Rio da Prata, Rio Maranduba, Rio Escuro, Rio Grande de Ubatuba, Rio Indaiá, Rio Itamambuca, Rio Puruba, Rio Iriri, Rio Fazenda, Rio das Bicas, Córregos Duas Irmãs, Córrego Lagoinha, Rio Acaraú, Rio Promirim, Rio Quiririm, Rio Ubatumirim.
	Para buscar uma metodologia que avaliasse todos os aspectos da sustentabilidade (economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto) dos Sistemas Agroflorestais da Estância Balneária de Ubatuba, foram realizadas visitas técnicas aos locais de SAFs e aplicou-se questionários abertos aos agricultores de Ubatumirim.
A primeira visita técnica foi realizada no dia 21 de abril de 2008, no IPEMA (Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica), ONG localizada no bairro Corcovado -Ubatuba que incentiva agricultores familiares a implementarem técnicas agroflorestais em seus cultivos. No local há duas áreas de SAFs, nas quais foram feitos acompanhamento com um técnico especializado, registro fotográfico e relação das espécies cultivadas.
No dia 01 de junho de 2008 foi realizada visita técnica à microbacia de Ubatumirim, onde existem 150 propriedades rurais, sendo que um terço destes pratica técnicas agroflorestais. Aplicou-se o questionário em quatro moradores da zona rural, dos quais dois eram da comunidade caiçara (Fig. 5) e dois do Quilombo Fazenda Picinguaba, que possui ao todo 49 famílias. O questionário visava avaliar as formas de cultivo locais, o conhecimento em relação aos SAFs e se sua implementação trouxe benefícios econômicos às famílias.
Fig. 5 - Caiçara durante aplicação do questionário
	Cacau
	Theobroma cação
	Sterculiaceae
	C
	Ingá cipó
	Inga edulis Mart
	Leguminosae
	B
	Gengibre
	Zingibre Officinalis L.
	Zingiberaceae
	A
	Goiaba
	Psidium Guajava L. 
	Myrtaceae
	A, C
	Araruta
	Taalia Geniculata L.
	Marantaceae
	A
	Inhame
	Colocasia sp
	Araceae
	A, C
	Urucum
	Bixa Ollerana L.
	Bixaceae
	C
	Palmito juçara 
	Euterpe edulis Mart.
	Palmae
	A, C
	Abacaxi
	Ananas comosus L. Merril
	Bromeliáceas
	A, C
	Guapuruvu
	Schizolobium parayba
	Leguminosae-Caesalpinoideae
	A, B
	Margaridão
	Tithonia diversifolia 
	Asteraceae
	B
	Jatobá
	Hymenaea courbaril
	Leguminosae - Caesalpinoideae
	B, A
 Fonte: Trabalho de campo
Por meio de revisão bibliográfica, formulou-se tabela comparativa entre os cultivos agroflorestal e tradicional, e tabela sobre os benefícios sociais, ambientais, econômicos da implementação dos SAFs.
Resultados / Discussões 
	Ameixa
	Prunus sp
	Rosaceae
	A, C
	Cedro
	Cedrela fissilis Vell.
	Meliaceae
	A, C
	Aroeira
	Schinus molle
	Anacardiaceae
	A, B
	Nêspera
	Eriobotrya japonica Lindl.
	Rosaceae
	A, C
	Embaúba
	Cecropia peltata
	Moráceas
	B
	Caquera
	Senna Multijuga
	Leguminosae-Caesalpinoideae
	A, B
A Tabela 1 apresenta as espécies cultivadas em uma área de 350 m² de Sistema Agroflorestal do IPEMA, também utilizadas em outros SAFs do município, demonstrando sua biodiversidade. Este fator é essencial para a perenidade do sistema, já que a presença de diferentes espécies vegetais em uma mesma área mantêm as características das florestas nativas, tendo, assim, o controle natural de pragas e maior presença de animais silvestres. Na área de SAFs do Bairro do Corcovado encontram-se, por exemplo, pacas, cotias, tatus, aves e morcegos. Também é apresentado na tabela a finalidade – auto-consumação, comer-lização e formação de biomassa - das espécies nos SAFs do município. 
Devido às diferentes alternativas de consorciação e por sua produção ter uma distribuição mais uniforme durante o ano inteiro, percebe-se nas propriedades agroflorestais do município de Ubatuba um fluxo de caixa mais estável, principalmente pela redução de riscos e incertezas do mercado. 
	Tabela 1- Espécies identificadas na área de SAF do IPEMA
	NOME POPULAR
	NOME CIENTÍFICO
	FAMÍLIA BOTÂNICA
	FINALIDADE
	Banana
	Musa spp
	Musacea
	A, C
	Pupunha
	Bactris gasipaes Kunth
	Arecaceae
	C
	Abacate
	Persea americana
	Lauraceae
	A, C
	Tabela 2 – Comparação da agricultura de comunidades tradicionais
	Comunidades
	Principal forma de cultivo
	Características da forma de cultivo
	Espécies por 10m²
	Conhecimento sobre SAF
	Utilização da colheita
	Caiçaras
	Tradicional
	
Desmatamento; Queimadas; Período de pousio da terra; irrigação
	2
	40% conhecem
	Subsistência. Comercializam sua produção em feiras do município de Ubatuba
	Quilombolas
	SAFs
	
Ciclo fechado; poda; capina seletiva
	8
	100% conhecem
	Subsistência. Comercializam somente o excedente
	Milho
	Zea mays
	Poáceas
	A, C
	Mandioca
	Manihot esculenta
	Euphorbiaceae
	A, C
	Feijão
	Phaseolus vulgaris
	Fabaceae
	A, C
	Jambu
	Spilanthes oleracea
	Asteraceae
	A
	Guandu
	Cajanus cajan
	Fabáceas
	A, B
	Café
	Coffea arábica L.
	Rubiáceas
	A, C
	Cambuci
	Campomanesia phae
	Myrtaceae
	A, C
	Cajá
	Spondias cytherea
	Anacardiaceae
	A, C
	Guaraná
	Paullinia cupama var. sarbilis
	Sapindaceae
	A, C
	Manga
	Mangifera indica L.
	Anacardiaceae
	A, C
	Pitanga
	Eugenia unifflora
	Myrtaceae
	A, C
	Mexerica
	Citrus nobilis
	Rutáceas
	A, C
	Palmeira real
	Roystonea Regia
	Palmae
	C
A – Autoconsumação
B – Biomassa
C - Comercialização
Por meio do questionário constatou-se que os caiçaras têm como principal forma de cultivo o método tradicional, já que não possuem conhecimentos relacionados à existência e/ou eficácia dos Sistemas Agroflorestais. Os caiçaras que conhecem os SAFs adquiriram este conhecimento por ação do IPEMA, mas muitos não aderiram à esta prática por temer a sua não rentabilidade. A produção é destinada ao consumo próprio e a comercialização em feiras do município de Ubatuba.
Os quilombolas têm como principal forma de cultivo os SAFs, devido à maioria destes se encontrar em áreas pertencentes ao Parque Estadual da Serra do Mar, não podendo assim exercer outras formas de cultivo devido ao SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985) e ao Código Florestal (lei nº 4771). Porém, para a implantação de SAFs na área do Quilombo Fazenda Picinguaba, é obrigatório o licenciamento ambiental, o qual é encaminhado com auxilio do IPEMA. A produção é destinada ao consumo próprio, e se houver excedente será comercializado em feiras do município de Ubatuba (Tabela 2). 
Fonte: Trabalho em campo
O Quilombo Fazenda Picinguaba é cruzado pelo Rio da Fazenda (Fig. 6), que possui, no local, uma largura de 10 metros. Portanto, de acordo com o Artigo 2º do Código Florestal, os 30 metros a partir de sua margem são considerados Área de Preservação Permanente, o que implica a obrigatoriedade da existência de uma mata ciliar nesta área de manancial. Desta forma, a única alternativa apresentada para os quilombolas manterem a produção e se adequarem a legislação foi a implementação de SAFs.
Fig. 6 - Área do Quilombo Fazenda Picinguaba
Fonte: Google Earth
A tabela a seguir demonstra a média rentável dos cultivos tradicional e agroflorestal. Nesta é possível observar que ao implementar Sistemas Agroflorestais, os agricultores familiares tradicionais do município obteriam um lucro significativo em relação ao método tradicional. 
	Tabela 3 – Média de rentabilidade dos Cultivos Tradicional e Agroflorestal
	Indicadores
	Tradicional
	Agrofloresta
	Área de produção (ha)
	5
	4,5
	Produtos comercializados
	Milho, feijão
	Banana, cajá, citrus,laranja, entre outros.
	Valor bruto da produção – VBP (R$/ha)
	780,00
	1.800,00
	Valor bruto da produção total (R$)
	3.900,00
	8.100,00
	Custos tecnológicos (%/VBP)
	18
	12
	Custos de manutenção (%/VBP)
	4
	3
	Despesas de manutenção familiar – DMF (%/VBP)
	35
	24
	Renda da agricultura (%/VBP)
	43
	61
	Renda da agricultura (R$)
	1.677,00
	4.941,00
 Fonte: SANTOS, Alvori (2007)
	Com o intuito de aumentar a renda, alguns agricultores locais buscam beneficiar seus produtos, tendo como exemplo a elaboração da polpa do fruto do Euterpe edulis Mart. (palmito juçara), com o aproveitamento das sementes para repovoar a região. A embalagem com um litro é vendida por R$10,00 no Quilombo Fazenda Picinguaba.
Fig. 8 – Polpa de Juçara e farinha de mandioca
Fonte: Trabalho em Campo
	Outro exemplo é a produção de farinha de mandioca na Casa de Farinha (Fig. 7) pertencente ao quilombo, aonde 1kg de farinha é vendido por R$5,00 e são produzidos 300kg diariamente (Fig. 8). Deve-se ressaltar que, apesar de a roda 
d’água, responsável pelo beneficiamento da mandioca em farinha, ter sido restaurada, o plantio da mandioca é vetado, pois o quilombo ainda não é titulado pela ITESP – Instituto de Terras do Estado de São Paulo, e somente reconhecido pela Fundação Cultural Palmares. Conseqüentemente, os quilombolas compram mandioca de propriedades em outras cidades do Estado.
Fig. 7 – Roda d´água usada na produção de farinha de mandioca
Fonte: Trabalho em campo
Comparando o cultivo tradicional com o SAF, percebe-se uma desvantagem do método tradicional em relação à sustentabilidade da região, pois este causa um certo impacto ao meio ambiente que os SAFs não causam, além de os métodos de cultivo tradicional não poderem ser implementados nas áreas do Parque, pois estes não se enquadram nos parâmetros da SNUC e Código Florestal, acarretando assim, um êxodo rural e enfraquecendo a cultura local. Nos parâmetros econômicos, como mostrado na tabela acima, o cultivo tradicional tem um menor potencial econômico em relação aos SAFs.
A tabela a seguir demonstra os benefícios que os SAFs oferecem à região de Ubatuba, mostrando a sua sustentabilidade e compatibilidade de seu uso nas áreas de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar.
	
	Benefícios
Ambientais dos
SAFs
	Benefícios Sociais
dos SAFs
	Benefícios
Econômicos dos
SAFs
	Conservação da
biodiversidade e
dos recursos
	Formação de Corredores ecológicos entre as propriedades rurais; auto-regulação pela biodiversidade do sistema.
	Homem passa a
Desempenhar papel social estratégico na proteção do ecossistema em que vive.
	Utilização sustentável
de espécies florestais
da região para a composição do SAF; uso de E. edulis no sistema é uma alternativa para sua conservação.
	Conservação do patrimônio cultural
	Impacto da proteção ambiental sobre o patrimônio cultural é reduzido.
	Promoção da família
no trabalho em conjunto.
	Valorização (inserção) do
conhecimento local no uso dos SAFs e geração de renda.
	Desenvolvimento
econômico
sustentável na
região
	A proteção acontece
automaticamente (ao mesmo tempo em que há desenvolvimento).
	Diversificação da
fonte de renda para o agricultor; inclusão social.
	Potencialização de níveis estáveis de produtividade (subsistência e comercialização).
	Qualidade de vida e
bem-estar das
populações
	Homem em harmonia produtiva com o seu meio.
	Contribui para a
permanência do homem no campo
(combate e redução do êxodo rural).
	Produção regular e diversificada durante o ano todo.
	Erosão do solo e assoreamento dos rios
	Proteção, manutenção e
capacidade de recuperação dos solos (e sua fertilidade); redução da erosão.
	Promoção do bem estar social sem
atividades degradadoras ao ambiente.
	Baixa demanda de
tecnologia e insumos externos; impacto reduzido.
 Fonte: KASSEBOEHMER, 2004 (Adaptado)
Contudo, nota-se um grave ceticismo em relação à eficácia dos Sistemas Agroflorestais como forma de geração de renda, sendo visto somente como meio de recuperação de áreas degradadas. Há também um intenso tradicionalismo, no qual acredita-se que não há a necessidade de mudança no modo de cultivo, impedindo, assim, que os SAFs se difundam em toda região. 
Os moradores rurais vêem o Parque como um ponto negativo para a sua sobrevivência: alimentação, moradia e fonte de renda. Esta situação se dá por uma falta de comunicação e, conseqüentemente, de apoio da administração do Parque Estadual da Serra do Mar/ Núcleo Picinguaba à população.
	A pressão exercida sobre as comunidades tradicionais entra em contra-senso com a especulação imobiliária encontrada em Ubatuba. Afinal, em toda a extensão do município encontram-se enormes construções, licenciadas por órgãos ambientais como DEPRN e CETESB, as quais são as maiores causas do impacto ambiental visto no lugar, enquanto centenas de famílias tradicionais são/ foram expulsas da casa em que nasceu, sem expectativas de futuro.
 Conclusão
Por meio das pesquisas realizadas, pôde-se concluir que o Sistema Agroflorestal é uma das alternativas mais completa para o
desenvolvimento econômico regional, inclusão social das comunidades tradicionais (caiçaras e quilombolas), conservação dos recursos naturais do município de Ubatuba, além de seu modo de cultivo se enquadrar nos parâmetros da SNUC e Código Florestal.
Visivelmente os métodos tradicionais não garantem a sustentabilidade da região, tendo um menor potencial econômico e um maior impacto social e ambiental. 
O Parque é de grande importância para a preservação da biota local, exercendo um papel fundamental no controle ambiental de toda sua extensão. Porém, a administração do Parque não leva em conta a questão social da região, ignorando as necessidades dos moradores.
Assim, comprovou-se uma necessidade de uma reavaliação e atualização do Plano de Manejo com a participação dos moradores, dando ênfase no incentivo e disseminação dos SAFs, de modo que englobe as necessidades das comunidades que residem na circunvizinhança do Parque Estadual da Serra do Mar/ Núcleo Picinguaba. 
Essa atualização asseguraria a sobrevivência das comunidades tradicionais, com uma melhora na qualidade de vida e, conseqüentemente, em uma diminuição do êxodo rural.
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SUSTENTABILIDADE
Fig. 4 – Quilombola em sua área de SAF

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