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EFFECTUATION Análise dos Princípios da Abordagem Effectual Edição: Hiara Fernandes Kelly Olímpio Tiago Paoli Viviane Pedrosa Vittória Sant’Anna Sed ut perspiciatis, unde omnis iste natus error sit voluptatem accusantium doloremque laudantium, totam rem aperiam eaque ipsa, quae ab illo inventore veritatis et quasi architecto beatae vitae dicta sunt, explicabo. nemo enim ipsam voluptatem, quia voluptas sit, aspernatur aut odit authgh fugit, sed quia consequuntur magni dolores eos, qui ratione voluptatem sequi nesciunt, neque porro quisquam est, qui dolorem ipsum, quia dolor sit, amet, consectetur, adipisci velit, sed quia non numquam eius modi tempora incidunt, ut labore et dolore magnam aliquam quaerat voluptatem. ut enim ad minima veniam, quis nostrum exercitationem ullam corporis suscipit laboriosam, nisi ut aliquid ex ea commodi consequatur? quis autem vel eum iure reprehenderit, qui in ea voluptate velit esse, quam nihil molestiae consequatur, vel illum, qui dolorem eum fugiat, quo voluptas nulla pariatur? RESUMO O Empreendedorismo difundiu diversas linhas de pensamento e estudo sobre o tema. Cada autor caracteriza o processo de empreender sob sua ótica, porém ainda existiam dificuldades em definir o empreendedorismo. Saras Sarasvathy surge nesse cenário com um estudo sobre o processo empreendedor, posteriormente denominado de expertise e seu desenvolvimento por meio de contingencias. Assim, emerge a lógica Effectuation, uma teoria de pensamento útil ao empreendedor em estágios iniciais, que provê um modo de controlar o futuro naturalmente imprevisível. Para estudar essa nova abordagem do que vem a ser o processo empreendedor, a autora se aprofundou em variáveis do processo convencional de tomada de decisão, e chamou-o de abordagem Causation. O artigo versará ambas abordagens, definindo cada uma e fazendo um contraste entre elas enfatizando a lógica Effectual e seus cinco principais elementos: pássaro na mão, perdas aceitáveis, colcha de retalhos, piloto de avião e limonada. Palavras-chave: Effectuation. Causation. Empreendedorismo. Lógica. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – O processo Effectual ................................................................................................................ 11 Figura 2 – O Canvas Effectuation ............................................................................................................. 13 Figura 3 – Modelo de decisão Causal e Effectual .................................................................................... 17 Figura 4 – Diferenças básicas entre os Modelos de Decisão Causal e Effectual ..................................... 18 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 2. HISTÓRIA ................................................................................................................................................... 6 2.1 A Pesquisa ...................................................................................................................................... 7 3. A ABORDAGEM EFFECTUATION E CAUSATION .............................................................................. 8 3.1 Effectuation .................................................................................................................................... 9 3.2 O Processo Effectual ..................................................................................................................... 11 3.3 Causation ...................................................................................................................................... 15 3.4 Effectuation X Causation .............................................................................................................. 17 4. EXEMPLOS DA ABORDAGEM EFFECTUATION ............................................................................... 19 CONCLUSÃO ............................................................................................................................................... 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................... 22 5 O empreendedorismo, após adquirida sua fama e sucesso nas escolas de Administração, tornou-se um tema bastante discutido, o que transpôs seus princípios para fora da sala de aula. Diante disto, diversos autores buscaram conceituar o empreendedor e o processo de empreender. Assim, o empreendedorismo foi abordado de uma forma generalista como sendo proveniente de dois meios principais. O primeiro deles é a visão do empreendedorismo como uma característica nata e a segundo, o empreendedorismo é tido como uma questão de sorte. Em ambas os casos, ainda não era possível enxergar o que de fato é um empreendedor e por meio de quais processos ele atua. Nessa perspectiva, a cientista cognitiva Saras Sarasvathy, desenvolveu um estudo para identificar e avaliar a performance do empreendedor diante de situações de tomada de decisão e resolução de problemas específicos na criação e desenvolvimento de um negócio. Saras chegou a teria de que a noção de emergência estratégica e os processos cognitivos descrevem de melhor forma, o modelo sob o qual os empreendedores organizam seus recursos, delimitam seus objetivos e colocam em prática suas ações em ambientes de incerteza. Essa essência caracteriza então, o processo empreendedor proposto por Sarasvathy. Esse processo dá-se por meio de três elementos chaves: Quem sou, o que sei e quem conheço. Esses elementos compõem a chamada lógica Effectual, um modelo de decisões baseado nas contingências do momento, contrapondo o modelo Causal de planejamentos e previsões complexas, também definido pela autora. O Effectuation é o objeto de estudo e terá seus princípios de tomada de decisão melhor detalhados ao longo deste artigo. INTRODUÇÃO 6 2. HISTÓRIA “Effectuation é uma lógica de pensamento útil ao empreendedor em estágios iniciais, que provê um modo de controlar o futuro naturalmente imprevisível”. Tendo em vista que o empreendedor é alguém que se desenvolve por diversos meios, a cientista cognitiva Saras Sarasvathy, observou que, até então, existiam apenas duas abordagens principais do empreendedorismo. Uma delas é que algumas características peculiares definiam se o empreendedor teria ou não sucesso em um empreendimento, ou seja, o empreendedor tinha o dom. Na segunda abordagem, por sua vez, dizia- se que uma série de variáveis e contingências do ambiente faziam ou não do indivíduo empreendedor, ou seja, seria um empreendedor de sucesso aquele que tivesse uma oportunidade e a aproveitasse. No entanto, o desempenho do empreendedor, por exemplo, era deixado de lado, bem como todas as experiências adquiridas durante a sua vida, a partir de tentativas bem- sucedidas ou frustradas. Portanto, o fracasso pode ser caracterizadocomo um meio de aprendizado e um possível indicador de sucesso para futuros empreendimentos. Desse modo, pode-se perceber que existem outras variáveis que irão interferir no crescimento de um empreendedor e no seu sucesso. Diante dessa percepção, Saras Sarasvathy passou a estudar o empreendedorismo como expertise, ou seja, o empreendedorismo como um processo. Surge, então, a teoria Effectuation, que, segundo a autora, é uma lógica de pensamento útil ao empreendedor em estágios iniciais, que provê um modo de controlar o futuro naturalmente imprevisível. Por muito tempo, o termo empreendedorismo foi estudado e diversas abordagens foram criadas devido à preocupação em estudar o empreendedorismo. Muitas linhas de pensamentos se difundiram tentando definir, da melhor forma possível, o termo empreendedorismo. Shumpeter, Druker, Filion, Dornadelas, entre outros autores o abordaram, cada um seguindo a época e a linha de pensamento a qual se dedicavam. Embora ainda existam dificuldades em definir o empreendedorismo, o mesmo pode ser caracterizado como um modo de sobrevivência no mercado, bem como a oferta de seu produto ou serviço com qualidade. “O empreendedorismo diz respeito à criação, ao gerenciamento estratégico e à maneira de estabelecer e manter uma vantagem do que é criado face ao mercado” (VENKATARAMAN e SARASVATHY apud PELOGIO, 2011). 7 2.1 A pesquisa Na busca por consolidar a abordagem do empreendedorismo como expertise, Saras, partiu em uma jornada para investigar esse tema, no ano de 1997. A autora viajou por 17 estados dos EUA ao longo de vários meses, conheceu cerca de 30 fundadores de empresas de diversos tamanhos, com capital entre $ 200 milhões e $ 6.5 bilhões, abrangendo diversos segmentos, desde indústrias de aço e ferro, ursos de pelúcia e semicondutores até empresas de biotecnologia. Todos os entrevistados eram homens e dois terços tinham diplomas de ensino superior. O objetivo do estudo não foi entrevistar esses fundadores, mas sim entender o que eles pensam sobre problemas específicos ocorridos na transformação de uma ideia em uma empresa duradoura (SARASVATHY, 2001). Sua pesquisa baseou-se em duas perguntas feitas aos entrevistados: (1) quais as diferenças e semelhanças no processo de tomada de decisão, quando enfrentadas as mesmas situações e (2) quais as crenças sobre a previsibilidade do futuro influenciam na tomada de decisões dos empreendedores na criação de um novo negócio. O método utilizado foi o Think-aloud (pense alto), em que ela dava uma série de problemas, os entrevistados iam respondendo em voz alta e as respostas eram gravadas. A pesquisa foi estruturada pela criação de um produto imaginário, um jogo de empreendedorismo denominado de Venturing. Os entrevistados tinham que, durante uma hora e meia, resolver problemas comuns de uma Startup com o objetivo de transforma-las em uma empresa e mais trinta minutos para responder a um questionário semiestruturado sobre o processo de decisão vivenciado na construção de suas empresas. Nas vinte primeiras entrevistas foi percebido que as respostas e o pensamento eram semelhantes. Ao final de sua pesquisa, Sarasvathy percebeu que os entrevistados tinham um perfil de incerteza, o que é bem diferente do risco. Eles adaptavam o seu ambiente para se desenvolverem naquele contexto e acreditavam que tudo poderia ser transformado em oportunidade. Diziam também que o futuro era tão imprevisível que poderia criar, influenciar e moldar as oportunidades. Além disso, eles não procuravam evitar o fracasso, pelo contrário, acreditavam que a sobrevivência ao insucesso seria uma estratégia para o crescimento, enquanto empreendedores. Indivíduos com esse perfil ela batizou de Effectuators. Saras Sarasvathy 8 3. A ABORDAGEM EFFECTUATION E CAUSATION Para estudar a nova abordagem do empreendedorismo, Sarasvathy precisou definir e denominar a abordagem já utilizada pelos estudiosos e pelas escolas de Administração, ou seja, o modelo convencional. Ela denominou essa abordagem de Causation. No entanto, para estudar ambas as abordagens, a autora precisou estudar a fundo o empreendedorismo e suas variáveis. Mas essa tarefa não foi e não é simples. Para tratar do tema empreendedorismo é necessário adotar uma visão ampla, é necessário recorrer a diferentes disciplinas e pesquisas diversas, pois para compreendê-lo é preciso considerar diferentes tipos de indivíduos, diferentes formas de organização, diversos ambientes socioeconômicos e diversas épocas. (JULIEN apud PELOGIO, 2011) Pelogio (2011) ainda complementa que o empreendedorismo é fazer da ideia oportunidade, correr riscos e buscar a realização pessoal. Diante da amplitude do conceito de empreendedorismo, diversas abordagens surgiram para definir os diferentes tipos de empreendedores e seus comportamentos. Fisher (2012) apud Faia, Rosa e Machado apontam que, na medida em que o interesse em Empreendedorismo como um campo de pesquisa tem se intensificado, um número de novas perspectivas teóricas tem emergido para explicar as ações e as lógicas que impulsionam o comportamento empreendedor. Em meados de 2001, emergiram duas abordagens empreendedoras, desenvolvidas por Saras Sarasvathy, em sua tese de doutorado, e denominadas de Causation e Effectuation. A primeira é embasada no planejamento e na análise, e a segunda refere-se a estratégias emergentes e não preditivas. CAUSATION “Abordagem composta por planejamento e análises, ou seja, modelos e padrões pré- definidos” EFFECTUATION “Baseado nas contingências do momento. Requer maior experiência do empreendedor”. 9 3.1 Effectuation O Effectuation é um processo de escolha que se antecipa ao resultado da decisão tomada. Faia, Rosa e Machado (2014) apontam que, no processo effectual, as escolhas se referem a quais os efeitos possíveis a partir dos meios disponíveis. Segundo Pelogio (2011), a essência da noção de processo empreendedor proposta por Sarasvathy (2001a, 2001b, 2008), é a forma de tomar decisões a partir de escolhas dentre os efeitos que podem ser produzidos a partir de um dado conjunto de meios, eliminando, consequentemente, a premissa de objetivos pré-existentes. Em outras palavras, Effectuation não assume objetivos predeterminados e claramente específicos. (PELOGIO, ROCHA, MACHADO, AÑEZ, 2013, p. 238) Apontar que o processo Effectual não assume objetivos predeterminados pode parecer um erro, uma vez que, todo processo exige que a meta (objetivo) seja antecipada às estratégias. No entanto, Effectuation não prega que não devem haver objetivos determinados, pelo contrário, os objetivos precisam ser definidos durante o processo de criação ou implantação de projetos e juntamente com as estratégias. No ponto de vista empresarial, Pelogio, Rocha, Machado e Añes (2013), apontam que: Os objetivos emergem como parte de negociações com parceiros. Estas negociações com parceiros não só resultam em novos objetivos de oportunidades que a empresa busca realizar, mas também explicitamente reforma e transforma o ambiente no qual a organização opera. Nestesentido, empreendedores que usam a lógica effectual agem não só em ambientes de mercado, mas também neles e, em alguns casos, acabam criando novos mercados não preditos até mesmo pelos muitos parceiros envolvidos no processo de negociação. Na lógica Effectuation, as ferramentas que o empreendedor dispõe são fundamentais para todo o processo de criação ou inovação nas organizações. Essas ferramentas estão inseridas dentro dos cinco princípios do processo effectual. Perdas aceitáveis, ao invés de retornos esperados (foco no risco da perda) É exatamente o contrário de procurar oportunidades do tipo “tudo ou nada”, ou, “lucro ou prejuízo”. Os empreendedores de sucesso determinam um limite de perda aceitável do valor investido. Tem-se que valor, nesse caso, não é apenas o capital, mas também mão-de-obra e outros fatores produtivos e operacionais. Após definir essa perda aceitável, os effectuators irão experimentar tantas estratégias quanto possíveis, dadas a limitada dotação de recursos disponíveis (Pelogio, Rocha, Machado, Añes, 2013, p. 239). Em suma, esse empreendedor não define o retorno esperado, apenas tenta tornar suportável uma possível perda do investimento. 10 Alianças estratégicas, ao invés de análises competitivas (colcha de retalhos) É inconcebível supor que um empreendedor não irá competir e apenas formar parcerias. O modelo natural de empreendedorismo sugere que competidores são rivais e devem ser combatidos, no entanto, a lógica Effectuation enfatiza as alianças estratégicas e pré-comprometimentos com stakeholders, como uma forma de reduzir e/ou eliminar incertezas e construir barreiras que diminuam a concorrência (PELOGIO, 2014, p. 27). Com isso, os empreendedores de sucesso co-criam mercados junto com seus parceiros. Exploração de contingências, ao invés da utilização de conhecimento pré-existente (Limonada) Esse princípio segue o ditado popular que diz: “se a vida te der limões, faça uma limonada”. Consiste em interpretar as más notícias, como potenciais oportunidades para criar novos mercados. Pelogio (2014), o modelo effectual pode ser um processo mais apropriado para explorar contingências que surgem inesperadamente ao longo do tempo. Controlar um futuro imprevisível, ao invés de prever um futuro incerto (Piloto de avião) Sarasvathy (2001) define que uma visão de mundo effectual é enraizada na crença que o futuro não é previsto de forma fatalista, e sim modelado pela ação empreendedora. O piloto controla o avião durante o vôo, tomando todas as medidas necessárias para a segurança de todos, sem prever que algo ruim poderá acontecer; teoricamente, ao controlar totalmente o vôo, ele deixa de prever o futuro. Esse princípio pode ser resumido em: na medida em que nós podemos controlar o futuro, não necessitamos prevê-lo. (PELOGIO, 2014, p. 27) O quinto princípio é, na verdade, o primeiro que deve ser analisado na conceituação do Effectuation. É vulgarmente denominado de “pássaro na mão”. Ao contrário dos modelos recorrentes de empreendedorismo, que sugerem a criação de um plano de negócio, seguindo Modelos como o Canvas, o Effectuation propõe que o empreendedor comece com os seus meios. Quando empreendedores referência iniciam uma jornada empreendedora, eles começam com seus próprios meios, partindo das seguintes questões: quem sou eu, o que eu sei e quem eu conheço. A partir desse momento, os empreendedores imaginam as possibilidades que se originam dos seus meios. (SARASVATHY, 2001, tradução livre da obra) 11 Mesmo sendo uma abordagem bastante dinâmica, o Effectuation tem o seu modelo estratégico e interativo (Figura 1), que delineia um processo específico de como as organizações podem criar/inovar sob incerteza. 3.2 O Processo Effectual No processo Effectual, os empreendedores começam por quem eles são, o que eles conhecem e quem eles conhecem, de modo a poderem imaginar o que podem realizar. Isto irá refletir nos eventos futuros que eles poderão controlar ao invés de apenas prever. Em seguida, os empreendedores começam a divulgar as suas ideias para outras pessoas para receberem inputs sobre como fazer a ideia ou as ideias funcionarem. Esses contatos podem ser amigos, parentes, fornecedores de empresas anteriores, acionistas e até concorrentes. Ao encontrar as pessoas interessadas em construir “algo” – seja tangível ou não -, o empreendedor firma parcerias reais com stakeholders em potencial, e cada um vai contribuir para o refinamento da visão e da oportunidade de negócio. Uma vez formadas essas parcerias, começa a ser construída uma “colcha de retalhos”, repleta de negociações e renegociações, cada vez maior para crescimento do empreendimento. Finalmente, em algum ponto do ciclo de negociações e renegociações, se encerra o processo de aquisição de stakeholders e a dependência mútua se encerra. À medida que as estruturas da empresa e do mercado começam a se tornar visíveis, pode ser importante a reavaliação do equilíbrio entre previsão e controle, como abordagem estratégica. (TASIC, 2007 apud PELOGIO, ROCHA, MACHADO E AÑES, 2013). Figura 1 - Uma abordagem transformativa: o processo effectual - dinâmico e interativo. Fonte: Wiltbank (2006) apud Pelogio, Rocha, Machado e Añes (2013) 12 Curiosidades! A lógica effectual é como a 1° e a 2° marcha, você precisa delas para tirar o carro do lugar, mas logo trocará de marcha. Na linguagem effectual: você precisa da lógica para iniciar um projeto empreendedor, mas eventualmente você pode deixá-la; Os empreendedores que utilizam a lógica Effectuation são chamados de Experts e a abordagem de Expertise Empreendedora; O Effectuation não é um sistema passo a passo, nem um conceito de “não planejar” e nem um modo de lançar um negócio/projeto; O Effectuation é um modo de pensamento, um conjunto de heurísticas (de “heureca!”, termo que exprime a satisfação de uma descoberta ou resolução de um problema), fazer o que é viável (learning by doing) e um modo que propõe como fazer produtos vendáveis e serviços estabelecidos; O Effectuation tem o seu próprio “Modelo de Negócio” (Figura 2). Para os adeptos dos modelos de Canvas e etc., pode ser bem parecido, mas contém as características da Expertise. 13 Figura 2. O “Canvas” Effectuation. Fonte: Marcelo Nakagawa, Insper 14 Exemplificando… Como vimos, os experts não se preocupam com o retorno do investimento feito e sim com o que eles suportam perder caso o negócio dê errado. Com isso, vamos à uma história para exemplificar a expertise! Todos nós conhecemos a história daquela dona-de-casa que assiste aos programas femininos de televisão (ou o canal da youtuber Daniele Noce, do blog “I Could Kill For Dessert”) e vê uma receita de como fazer chocolate em casa. Ela resolve experimentar, testa a receita com a família. O “produto” faz sucesso, ela começa a dá-lo de presente para os parentes e aceitar encomendas. Os pedidos aumentam, a casa começa a ficar pequena e ela então fica sabendo de uma amiga que tem uma pequena loja para alugar. Nesse momento, nossa empreendedora não está preocupada com o retorno sobre o investimento. O raciocínio é: “caso não dê certo, vou perder X. Será que consigoarcar com esse prejuízo? ”. Ela pensa bem e resolve arriscar. Então começa a vender seus chocolates na lojinha. A partir daí, vai aproveitando as contingências e combinando uma série de recursos. Começa a oferecer sabores distintos, experimenta vender para públicos variados, até que descobre um nicho bem interessante e lucrativo - a venda do chocolate com a marca de uma empresa para ser oferecido como brinde a clientes. Chama uma amiga, que tem formação em design, para ajudá-la na criação dos moldes. O negócio começa a crescer, as vendas se multiplicam, e aí sim aparece a necessidade de estruturas mais formais de planejamento. Perceba que, até o negócio engrenar, o centro das atenções da empreendedora não era o seu concorrente, mas sim as parcerias estratégicas - amigos e parentes que poderiam ajudá-la a fazer o negócio prosperar. (Adaptado de Andreassi e Tasic, 2009 - Revista de Gestão da FGV, vol. 81, p. 45) 15 3.3 Causation A lógica Causation segue o modelo tradicional de empreendedorismo. A maioria dos modelos de negócios desenvolvidos ao longo do tempo segue a ótica causal, racional e preditiva. Sarasvathy (2001a) apud Pelogio (2014), aponta que a maior parte dessas teorias pressupõe a existência de artefatos (ex. indústrias, mercados, empresas), a partir dos quais um agente racional realizará análises de causa-efeito, modelagens de cenários e, por fim, tomará uma decisão calculada dentre as múltiplas opções existentes. Diante disso, é possível perceber que essa abordagem é composta por modelos em que todas as decisões são tomadas antes do início do negócio e durante a implantação do negócio são feitos apenas os reparos necessários. É possível observar que esses modelos tendem a prever o futuro. A abordagem causal defende que o mercado é uma entidade pré-estabelecida e conhecível. (PELOGIO, 2014) Portanto, de acordo com esta abordagem, para que um novo negócio se torne realidade, segue-se o processo STP (do inglês segmentation-targeting-positioning), no qual deve-se partir da definição e segmentação de mercados- alvo, seguidos do estabelecimento de planos de marketing e do posicionamento de um conjunto de produtos e serviços. (KOTLER, 1991 apud PELOGIO, 2014) Essa visão premeditada possibilitou a criação de planos e modelos de negócios, como o Canvas. Segundo Osterwalder e Pigneur (2010) apud Velloso, Capuzzi, Eduardo e Marques (2015), o Canvas é um modelo de negócio que descreve a lógica de como uma organização cria, entrega e captura valor. Dividido em nove blocos, ele dita as diretrizes para a criação de um novo negócio. Desde meados dos anos 1960, prevalece essa forma na análise de novos negócios, tanto que se tornou um dos pilares de sustentação das teorias e manuais de apoio aos novos negócios no Brasil e no mundo (DORNELAS, 2001 apud PELOGIO, 2014, p. 29). Sendo a lógica causal um dos pilares para a formulação de teorias e manuais de novos negócios, é natural e mais viável que o ensino empreendedor seja calcado no Causation, uma vez que a abordagem possibilita que sejam criadas telas de desenvolvimento de estratégias de negócio (Canvas). Por exemplo, os autores Dias, Guedes, Pires, Arantes e Lima (2015), discorrem sobre o ensino de empreendedorismo em cursos de graduação de nível superior no Brasil. No artigo são citados apenas modelos de empreendedorismo, em nada parecidos com a lógica effectual, mas seguindo a lógica causal. Os autores ainda apontam que, na Universidade Federal de Itajubá, o ensino empreendedor é baseado no modelo de Nieman e Vuuren (1999). 16 Nieman e Vuuren criaram um modelo, em 1999, que postula que, desempenho empreendedor é uma função multiplicadora de motivação vezes habilidades empreendedoras e habilidades gerenciais. Neste modelo, o desempenho empreendedor está baseado em começar um negócio utilizando-se de uma oportunidade e fazer uma ideia crescer. (...) O terceiro grupo de habilidades, as gerenciais, incluem formulação de um plano de negócios bem como habilidades de comunicação, de lidar com finanças, marketing, operações, recursos humanos, leis e gerenciamento. (LEITE, 2002 apud DIAS, GUEDES, PIRES, ARANTES E LIMA, 2015, p. 19) Andreassi e Tasic (2009) afirmam que a grande maioria dos negócios abertos no Brasil e no mundo obedecem mais a lógica effectual do que a causal, mas, dentro das escolas de administração, a realidade é outra. Os autores deixam um desafio para as escolas de Administração - pensar em metodologias mais próximas da abordagem Effectuation. Exemplificando… A Babson College, em Massachusetts - EUA, uma das escolas mais tradicionais em empreendedorismo, onde os alunos logo no primeiro semestre recebem uma verba para abrir um negócio dentro do campus. Arthur Blank, fundador da The Home Depot, a maior empresa de produtos para casa dos Estados Unidos, começou a sua jornada expert abrindo uma lavanderia no campus para atender aos colegas da Babson College. Dessa vivência prática, o aluno é capaz de captar o espírito empreendedor. Curiosidades! A lógica causal contrasta com a lógica effectual, porque: - reúne meios após a definição dos objetivos (contrário do princípio “pássaro na mão”); - estabelece um retorno esperado do investimento e trabalha para minimizar os riscos de perda (contrário de “perdas aceitáveis”); - evita surpresas e resultados inesperados e/ou desfavoráveis (contrário do princípio da “Limonada”); - presume que competidores são rivais que devem ser combatidos (totalmente contrário ao princípio da “colcha de retalhos”); e, - acredita que as forças de mercado irão formar o futuro (contrário do princípio “piloto de avião”). Também tem a sua vantagem. Read e Sarasvathy (2005) apud Pelogio (2014, p. 26) fazem uma comparação das duas abordagens, citando um ditado sobre invenção: o otimista inventa o avião, o pessimista, o para- quedas. 17 3.4 Effectuation X Causation Para comparar as duas abordagens, observe as figuras 3 e 4, abaixo. É possível perceber que a abordagem Effectuation trabalha ao contrário da lógica causal, que é a convencional. A figura abaixo demonstra que a ordem dos acontecimentos é invertida. Figura 3. Modelos de decisão causal e effectual. Fonte: Pelogio (2014) apud Sarasvathy (2008, p. 39) A tabela, por sua vez, apresenta claramente as diferenças básicas dos dois modelos de decisão Causal e Effectual. De acordo com Sarasvathy (2001b) e com as definições aqui apresentadas, Effectuation é o inverso da causalidade, baseado em uma lógica distinta da lógica causal. 18 Figura 4. Diferenças básicas entre os Modelos de Decisão Causal e Effectual. Fonte: Dew et al. (2008, p. 46) apud Pelogio (2014) 19 4. EXEMPLOS DA ABORDAGEM EFFECTUATION Grandes executivos O filme A Grande Virada, de 2010, estrelado por Ben Affleck, Chris Cooper, Kevin Costner, Maria Bello e Tommy Lee Jones, conta a história de três grandes executivos que foram afetados pela crise, com a queda da Bolsa de Valores de Dallas – EUA. Esses executivos não tinham o que reclamar da vida, tinham mansões, carros customizados, imóveis nas Bahamas, entre outrasregalias advindas de salários de mais de $ 120 mil. Com a chegada da crise e o corte de pessoal na empresa GTX, esses executivos foram assustados pelas mudanças drásticas em seus modos de vida. Décadas de total dedicação profissional se tornaram insignificantes após as suas demissões. Quais alternativas eles tinham? Procurar um novo emprego? Fizeram. Tentar readmissão? Fizeram. Acabarem com a própria vida? Um o fez. Recomeçar? Dois o fizeram. O recomeço para Bobby Walker (Ben Affleck) e Jack Dolan (Kevin Costner) foi aproveitar toda a experiência que tinham e abrirem o próprio negócio, sendo que Bobby reabre um dos estaleiros da GTX com a ajuda de outros demitidos da empresa e Jack começa um escritório de consultoria. Tais feitos só foram possíveis porque eles tinham características effectuais em seus portifólios pessoais: redes de contatos, autoconhecimento, experiências boas e ruins, meios definidos antes dos objetivos e força de vontade. Chef de cozinha Outro exemplo que é altamente prático, é cozinhar. Se analisarmos e transpormos as técnicas de Causation e Effectuation para o ato de cozinhar chegaremos a essas conclusões, como bem nos é apresentado na obra de Sarasvathy e nesse estudo: um chef causal, irá pré-determinar seus pratos, organizar sua cozinha e seus alimentos e prepara- los seguindo um modus-operandi específico (receita). Com isso, ele atingirá seu objetivo, apreciando o gosto e aspecto esperado. Já o chef Effectual, irá organizar os recursos que dispõe e fará o prato que lhe convier com os ingredientes disponíveis. Ou seja, esse chef tem uma cozinha a seu dispor, mas não sabe ao certo quais ingredientes tem e mesmo assim fará a melhor comida possível. Ambos os casos têm seus pontos positivos e negativos, mas como o artigo cita, o melhor empreendedor é aquele que consegue mesclar ambas as técnicas, sendo assim um profissional criativo, inovador, resiliente, focado em resultado e determinado, conseguindo transpor as adversidades (nesse caso, a falta de algum ingrediente), por ter um pensamento inovador e criativo aguçado. “Perder quase tudo os fez recomeçar com os recursos e contatos que tinham” 20 U-Hail A história do empreendedor Leonard Shoen é outro exemplo: ele começou a desenvolver, localmente, um negócio de aluguel de trailers para famílias que precisavam viajar longas distâncias do trabalho para casa, ajudando-os assim a reduzir o tempo de viagem e, consequentemente, diversos fatores que poderiam piorar a vida dessas pessoas. Aos poucos, sabendo dos recursos que tinha, quem conhecia e o que sabia sobre aluguel de trailers, ele foi crescendo exponencialmente e criou a U-Hail, uma mega-empresa de aluguel de trailers nos EUA. Diversas cidades e cidadãos usufruem de seus serviços. Pela lógica causal, qualquer empreendedor iria criar um plano de negócio e perceberia que o investimento inicial era alto demais, a mão de obra era muito vasta e o custo de operação muito grande, o que geraria esforços enormes para conseguir ao menos retomar o investimento e catalogariam essa empresa como inviável. “A percepção da insatisfação e das necessidades das pessoas os fez empreenderem” Aluguel de garagens O último exemplo a ser dado é da cidade de Itajubá. O nome do empreendedor não será citado, sendo denominado factualmente de Ita. Em conversas com um empreendedor da cidade, que já tem uma empresa de desenvolvimento de softwares e aplicativos, Ita percebeu que, com a tecnologia que tinha em mãos, aliados aos problemas que a cidade enfrenta (Zona Azul e Verde) e a percepção da insatisfação de pessoas próximas a ele por não conseguirem estacionar os seus carros sem pagar muito, ele começou a dialogar com pessoas conhecidas que poderiam alugar garagens. Assim, em menos de 3 dias, ele já tinha muitas garagens alugadas e o site pronto onde a demanda e a oferta se encontravam e resolviam esses problemas. Observe bem que o objetivo dele não era expandir o seu negócio; ele não precisou de investimento de terceiros e utilizou seus próprios recursos e contatos. Pela lógica causal, Ita teria que montar um modelo de negócio e ver se a empresa seria viável ou não, o que demandaria tempo e, talvez, dinheiro. 21 CONCLUSÃO A amplitude do Empreendedorismo faz com que o tema seja de difícil definição, embora muitos estudiosos e escolas de administração tenham tentado defini-lo ao longo dos anos. Diversas abordagens surgiram para compreender o ato de empreender e para adaptar cada perfil empreendedor a uma teoria. Surgiram os Modelos de Negócio, como o Canvas, o empreendedorismo por oportunidade e por necessidade, modelos tradicionais compostos por escolas de pensamento empreendedor – Escola da Pessoa Grandiosa, Escola de Liderança, entre outras -, e as abordagens mais ousadas e recentes como o objeto desse estudo: Effectuation e Causation. Ambas as abordagens refletem um comportamento empreendedor diferenciado, ou seja, a abordagem Effectual diz respeito aos passos iniciais de criação e desenvolvimento de negócios e trata, em suma, de condutas não premeditadas. A abordagem causal, por sua vez, nada mais é do que os modelos tradicionais de empreendedorismo. É válido ressaltar que não existe uma abordagem correta, apenas a mais adaptável ao momento que o empreendedor está vivendo. Por “momento”, entende-se a fase de implementação do negócio, ou seja, geração da ideia, definição do negócio e entrada no mercado. A abordagem Effectuation é mais apropriada para o início do negócio e ela sempre estará aliada ao desejo de começar uma empresa mesmo sem os recursos convencionais ou planos de negócio. Para auxiliar o empreendedor effectual nessa empreitada, existem os princípios que norteiam as decisões: - Pássaro na mão, perdas aceitáveis, limonada, colcha de retalhos e piloto de avião. Os nomes vulgares facilitam o entendimento dos princípios e as suas aplicações. A abordagem causal, no entanto, é o encerramento do processo Effectual, ou seja, é o momento em que a empresa se consolidou no mercado e é capaz de gerar capital e recursos para a sua sobrevivência. Sendo essa abordagem um dos modelos clássicos de empreendedorismo, é plausível que as escolas de administração lecionem sobre ela e todo e qualquer desafio apresentado ao jovem empreendedor seja calcado nessa definição. No entanto, esse estudo mostrou que a criação das empresas segue mais a lógica Effectual, uma vez que, o primeiro recurso disponível é a ideia e a força de vontade, sendo que os demais recursos podem ou não existir e serão alcançados com o tempo – capital, parceiros, clientes, fornecedores, etc. Todos esses fatores são effectuais. Conclui-se que o ensino empreendedor Effectuation deve ser ensinado nas escolas de administração, de modo que o aluno desenvolva esse espírito empreendedor audacioso e capaz de começar qualquer negócio com os meios disponíveis, adaptar em seu favor as dificuldades que surgirem, controlar o futuro do seu negócio, “abraçar” stakeholders e ser capaz de gerar valor a partir de qualquer aspiração ao empreendedorismo. 22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREASSI, Tales; TASIC, Alexandre Bello. Novo Empreendedorismo. São Paulo. V. 81, n. 2, agosto/dezembro2009. Disponível: Biblioteca Online da FGV. Acesso em: agosto 2015 DIAS, Gabriel; GUEDES, Anderson; PIRES, Matheus; ARANTES, Leonardo; LIMA, Gustavo. Ensino de Empreendedorismo em Cursos de Graduação de Nível Superior. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2015. FAIA, Valter da Silva; et al. Alerta Empreendedor e as Abordagens Causation e Effectuation sobre Empreendedorismo. Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, art. 5, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65552014000200006&script=sci_arttext>. Acesso em: 17 ago. 2015. PELOGIO, Emanuelly Alves; et al. Criação de Empresas à Luz do Modelo de Decisão Effectuation: Um Estudo com Mulheres Empreendedoras no Município de Currais Novos/RN. XXXV Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ESO579.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015. PELOGIO, Emanuelly Alves; et al. Empreendedorismo e Estratégia sob a ótica da lógica Effectuation. Revista Ibero-Americana de Estratégia - RIAE, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 228-249, 2013. Disponível em: < http://www.spell.org.br/documentos/ver/16912/empreendedorismo-e-estrategia-sob-a-otica-da-logica- effectuation >. Acesso em: 29 ago. 2015. SARASVATHY, Saras D. Effectuation: Elements of Entrepreneurial Expertise. Virgínia: University of Virginia, The Darden School, 2003. VELLOSO, Tiago; CAPUZZI, Bárbara; EDUARDO, Carlos; MARQUES, Raphael. Startup Daily – O que é uma Startup? Edição 08/2015. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2015.
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