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Em que medida os avanços tecnológicos podem influenciar na estrutura das cidades. Por: Ernani Maia

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Em que medida os avanços tecnológicos 
_________________________________________________________________________ 
 
podem influenciar na estrutura das cidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por: Ernani Maia 
Orientadora: Marta Bogea 
Faculdade de Belas Artes de São Paulo 
Lato Sensu 
São Paulo, Abril de 2002 
 
 
 2 
Ernani Maia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os avanços tecnológicos e as cidades 
 
 
Monografia apresentada a Faculdade de Belas Artes 
de São Paulo como exigência para a obtenção do 
título de Especialista em Arquitetura e Cidade. 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, Abril de 2002. 
 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A vida é aquilo que acontece 
enquanto pensamos em outra coisa. 
 
 O. Wilde 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Sou grato a meus pais pelo amor, trabalho e apoio, 
a Érika Abe pela existência, 
a Marta Bogea pela dedicação, paciência e competência, 
a Beto Corazza pela compreensão, 
e ao Prof. Wesley Santana pelas contribuições multidisciplinares 
(filosóficas, sociológicas, históricas e etílicas), 
além de todos aqueles os quais importunei obrigando-os 
a ouvir meus devaneios sobre a cidade do amanhã. 
 
 
 
 5 
Resumo 
 
 
Esta monografia estuda as mudanças ocorridas nas estruturas das 
cidades em conseqüência da apropriação dos avanços tecnológicos pela 
sociedade. Pretende-se detectar as eventuais alterações sofridas nas cidades, 
sobretudo no período da revolução industrial, pois esta fase pode nos trazer 
subsídios preciosos para o enfrentamento de uma problemática semelhante, na 
medida em que os emergentes avanços das tecnologias da informação e da 
informática já começam a explicitar possíveis alterações na sociedade 
contemporânea. 
Este estudo procura resgatar os períodos de grandes mudanças sociais 
em virtude da evolução científica e tecnológica e analisar em que medida as 
cidades se reorganizaram e absorveram as evoluções técnicas da humanidade, 
além de analisar através de alguns modelos de cidades, como arquitetos e 
urbanistas se apropriaram dos avanços tecnológicos ao planejamento das 
cidades. 
Porém, não se pretende aqui, formular uma proposta para as futuras 
cidades, mais sim, identificar as possíveis condicionantes para um futuro 
projeto de cidade, que contemple as necessidades de uma nova sociedade, 
possivelmente virtual (quase transparente), que poderá substituir os 
deslocamentos e os contatos físicos, por um deslocamento e um contato 
subjetivo, mediado pelas novas tecnologias, especialmente o computador 
pessoal. 
 
 
 6 
Abstract 
 
 
 
This theory studies the changes ocurred in the cities’ structures as a 
result of the appropriation in tecnological advance by the humaneness. 
The intention is to detect the possible modifications ocurred in the cities, 
eventhough during the Industrial Revolution, a period that could bring to us 
some valious subsidies for a best comprehension about a similar trouble, at the 
same time that the new information tecnology advances started to show their 
possibles changes that affects the contemporany society. 
 This study looks for bring back the periods of a social changes caused 
by scientific evolution and tecnological analyzing wich point the cities was 
reorganized and absorved the human tecnical evolution, besides analyzing 
through some cities’ models, as architects and urbanists appropriated the 
tecnological advances about the cities’ master plan. 
 However, there is not our intention to couch a new proposal for the 
futures cities, but to identify the possible conditionals for a future city master 
plan, wich contemplated the society needs, possibly virtual (almost 
transparent), that could substitute the dislocation and the physic contacts, for a 
subjective dislocation and contact, caused for new tecnologies, especially the 
personal computers. 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
 
Introdução........................................................................................................08 
 
A revolução Industrial e os avanços tecnológicos...........................................13 
 
A cidade e os avanços tecnológicos (novos problemas)..................................20 
 
A cidade e a busca de novas soluções..............................................................36 
 
Projetos, modelos e cidades.............................................................................51 
 
 As utopias do século XIX............................................................54 
 
 As cidades racionalistas...............................................................63 
 
 Novas utopias para novas tecnologias.........................................75 
 
 O retorno às cidades tradicionais.................................................94 
 
 As cidades caos............................................................................96 
 
A sociedade pós-industrial...............................................................................99 
 
A emergência do agente revolucionário.........................................................104 
 
Especulações sobre a nova cidade..................................................................107 
 
Bibliografia....................................................................................................117 
 
Crédito das ilustrações...................................................................................120 
 
 
 
 8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução. 
 
Os avanços tecnológicos presentes nas últimas décadas, sem dúvida 
vêm abalando consideravelmente muitos aspectos que pareciam consolidados 
na sociedade, um novo meio de inter-relação pessoal emerge com o advento 
dos computadores pessoais, sobretudo quando estes se conectam entre si, 
alterando com eficácia alguns costumes sociais. A suposição mais imediata é 
que em função dos avanços tecnológicos e principalmente com o aumento no 
chamado teletrabalho, a mobilidade territorial da sociedade tende a diminuir, 
o deslocamento físico perderia espaço para o deslocamento virtual 
possibilitado pelos computadores e pelas redes interativas de comunicação. 
Com isso, pretende-se neste trabalho analisar as alterações sofridas 
pelas cidades em virtude das descobertas científicas e avanços tecnológicos, 
 9 
desde a revolução industrial, até a chamada revolução informacional que 
estamos vivenciando em nossos dias, através das mudanças ocorridas com a 
emergência das novas tecnologias da informática e da informação. 
Para podermos formular hipóteses de uma possível nova estruturação de 
cidade, analisaremos a história a partir do período da revolução industrial, pois 
através deste período teremos subsídios preciosos para uma eventual proposta 
de cidade para as próximas décadas, atentando para as especificidades 
poderemos traçar um paralelo entre as alterações comportamentais e 
geográficas ocorridas a partir da metade do século XVIII, com as que já 
estamos identificando em nosso cotidiano. 
Posteriormente ao resgate histórico analisaremos alguns modelos 
propostospara cidades a partir das modificações geradas pela evolução 
tecnológica e científica posterior ao período da revolução industrial. O 
primeiro modelo a ser analisado será o de Charles Fourier que na urgência de 
equacionar os problemas causados especialmente pelo aumento demográfico 
das cidades do século XIX, formula um pensamento urbanístico que em parte 
será resgatado no século XX pelos chamados urbanistas de vanguarda 
moderna, aqui apresentados através da obra de Le Corbusier. Em meados do 
século XX, a partir dos avanços e da difusão, sobretudo dos meios de 
comunicação de massa, na efervescência da guerra fria e da corrida espacial, 
surge um grupo de arquitetos e urbanistas ingleses que através de uma 
linguagem de história em quadrinhos e HQs de ficção científica, formulam 
uma série de propostas utópicas e futuristas para as cidades das décadas 
subseqüentes, é o chamado grupo Archigram que despregados das tradições e 
descomprometidos com a exeqüibilidade das propostas, conseguem 
 10 
vislumbrar cidades móveis, sem território definido, com plena apropriação dos 
avanços tecnológicos especialmente os meios de comunicação de massa. 
Estas propostas são aqui apresentadas, pois, os idealizadores com muita 
propriedade souberam; primeiro, identificar a necessidade de implementação 
de novas idéias para uma sociedade em meio a mudanças profundas, e 
segundo porque estes autores apropriaram-se dos avanços tecnológicos e 
principalmente construtivos disponíveis em sua época, embora as utopias do 
Archigram não saíram do projeto. 
Contudo, podemos dizer que ao lado das transformações no 
povoamento humano devido à domesticação do fogo, da água e do vento, ao 
lado das transmutações do ambiente natural e construído, provocadas pelas 
novas energias, devemos acrescentar as transformações geradas pelas novas 
tecnologias informacionais. 
Conhece-se a evolução da paisagem rural causada pela distribuição da 
eletricidade, pela implementação das indústrias, pela organização ferroviária e 
rodoviária, assim como as mutações da paisagem urbana provocada pelo 
elevador e o metrô ou pelo automóvel e percebe-se ainda a influência das 
energias alternativas (energia solar e de outros tipos) sobre a moradia. 
 Então, torna-se pertinente questionar: se não seria agora o momento de 
nos perguntarmos sobre as relações existentes entre os novos avanços 
tecnológicos proporcionados especialmente pela evolução da informática, e 
quais serão as possíveis alterações, sobretudo no ambiente geográfico? Como 
viver verdadeiramente se o aqui não o é mais e se tudo é agora? Como 
espacializar o amanhã na fusão instantânea de uma realidade que se tornou 
dividida entre o tempo da presença (físico / material) e o tempo da 
telepresença (virtual / transparente)? 
 11 
A idéia deste trabalho não é (ainda) propor um efetivo modelo de cidade 
para os próximos anos, onde a informática e a informação possivelmente 
mudem muitas coisas em nosso viver, porém, pretendo que este trabalho 
subsidie uma tese posterior que como arquiteto e urbanista me sinto na 
obrigação de desenvolver, para não deixar que os avanços tecnológicos e 
científicos, que se manifestam com extrema rapidez, nos peguem (mais uma 
vez) desprevenidos. 
Pretende-se neste trabalho, resgatar os períodos de grandes mudanças 
sociais em virtude da evolução científica e tecnológica e analisar em que 
medida as cidades se reorganizaram e absorveram as evoluções técnicas da 
humanidade, além de analisar através de alguns modelos de cidades, como 
arquitetos e urbanistas se apropriaram dos avanços tecnológicos ao 
planejamento das cidades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
 
 
 
 
 
figura 01 – A chegada (1914) de Cristopher Nevinson, anuncia o auge 
 da idade do progresso e a madrugada do milênio industrial. 
 
 
 
 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Revolução Industrial e os avanços tecnológicos. 
 
Segundo os historiadores, houve pelo menos duas Revoluções 
Industriais: a primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século 
XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a 
fiadeira, o processo Cort em metalurgia e, de forma mais geral, a substituição 
das ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente 100 
anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de 
combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição 
eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação, com a difusão 
do telégrafo e a invenção do telefone. Entre as duas há continuidades 
 14 
fundamentais, assim como algumas diferenças cruciais. A principal é a 
importância decisiva de conhecimentos científicos para sustentar e guiar o 
desenvolvimento tecnológico após 1850. É precisamente por causa das 
diferenças que os aspectos comuns a ambos períodos da revolução industrial
1
, 
podem oferecer subsídios preciosos para se entender a lógica das revoluções 
tecnológicas. 
Primeiramente, em ambas “revoluções”, testemunhamos um período de 
“transformações tecnológicas em aceleração e sem precedentes” em 
comparação com os padrões históricos. Um conjunto de macroinveções 
preparou o terreno para o surgimento de microinvenções nos campos da 
agropecuária, indústria e comunicações. Foram de fato, revoluções no sentido 
de que um grande aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas 
transformou os processos de produção e distribuição, criou uma enxurrada de 
novos produtos e mudou de maneira decisiva a localização das riquezas e do 
poder no mundo, que, de repente, ficaram ao alcance dos países e elites 
capazes de comandar o novo sistema tecnológico. 
Nesta fase nota-se com clareza que a história da humanidade é cíclica e 
em alguns aspectos até repetitiva, sempre na história o grupo social ou a 
civilização que se apropria com mais velocidade dos novos meios técnicos, 
 
1 Na primeira Revolução Industrial na Grã-Bretanha, havia uma interface entre ciência e 
tecnologia. Segundo Charles Singer em A História da Tecnologia, “o aperfeiçoamento 
decisivo promovido por Watts na máquina a vapor projetada por Newcomen ocorreu em 
interação com seu amigo e protetor Joseph Black, professor de química da Universidade de 
Glasglow, onde, em 1757, Watts foi nomeado o “Criador de Instrumentos Matemáticos da 
Universidade” e conduziu seus próprios experimentos em modelo da máquina de 
Newcomen. Assim sabe-se que o condensador desenvolvido por Watts para a máquina a 
vapor, separado do cilindro em que o postom se movimentava, era intimamente associado e 
inspirado nas pesquisas científicas de Joseph Black, professor de química da Universidade 
de Glasglow”. - Deane, Phyllis – A Revolução Industrial – Zahar Editores – pág. 203. 
 15 
sobretudo, as técnicas de guerra consegue invariavelmente dominar a 
humanidade. 
E, essa é precisamente a confirmação do caráter revolucionário das 
novas tecnologias industriais. A ascensão histórica do chamado Ocidente, 
limitando-se de fato à Inglaterra e a alguns países da Europa Ocidental, bem 
como à América do Norte e à Austrália, está fundamentalmente associada à 
superioridade tecnológica alcançada durante as duas Revoluções Industriais. 
Nada na história universal cultural, científica, política ou militar antes da 
Revolução Industrial poderia explicar a indiscutível supremacia (anglo-
saxônica/alemã e francesa) do Ocidente entre 1750 e 1950. 
A tecnologia, expressando condições sociais específicas, introduziu 
nova trajetória histórica na segundametade do século XVIII. A 
industrialização fornece o ponto de partida da reflexão sobre nossa época. 
Com a ascensão da burguesia específica, concomitantemente à 
industrialização, nasce o capitalismo concorrencial e com isso a riqueza deixa 
de ser imobiliária, as terras escapam aos feudais e passam para as mãos dos 
capitalistas urbanos. Neste período de nossa história coincidem três tipos de 
mudanças: descoberta de novas fontes energéticas, uma nova divisão do 
trabalho e uma nova organização do poder – com isso a humanidade fica 
diante de um salto de época. São estes três tipos de mudanças que trazem 
consigo uma nova epistemologia, um novo modo de ver o mundo. 
Alguns historiadores insistem que os conhecimentos científicos 
necessários à primeira Revolução Industrial já estavam disponíveis cem anos 
antes, prontos para serem usados sob condições sociais maduras; ou, como 
afirma outros, aguardando a engenhosidade técnica de inventores autodidatas 
como Newcomen e Watts, capazes de transformar a tecnologia disponível, 
 16 
combinada com a experiência artesanal, em novas e decisivas tecnologias 
industriais. Porém, a segunda Revolução Industrial, mais dependente de novos 
conhecimentos científicos, mudou seu centro de gravidade para os EUA e a 
Alemanha, onde ocorreu a maior parte dos desenvolvimentos em produtos 
químicos, eletricidade e telefonia. 
As descobertas tecnológicas ocorreram em agrupamentos, interagindo 
entre si num processo de retornos cada vez maiores. Sejam quais forem as 
condições que determinaram esses agrupamentos, a principal lição que 
permanece é que a inovação tecnológica não é uma ocorrência isolada. Ela 
reflete um determinado estágio de conhecimento; um ambiente institucional e 
industrial específico; uma certa disponibilidade de talentos para definir um 
problema técnico e resolvê-lo; uma mentalidade econômica para dar a essa 
aplicação uma boa relação custo/benefício; e uma rede de fabricantes e 
usuários capazes de comunicar suas experiências de modo acumulativo e 
aprender usando e fazendo. 
Os efeitos positivos, a longo prazo, das novas tecnologias industriais no 
crescimento econômico, na qualidade de vida e na conquista humana da 
natureza hostil (refletidos no aumento impressionante da expectativa de vida, 
que não tivera uma melhoria constante antes do século XVIII) são 
indiscutíveis nos registros históricos. Porém, não vieram cedo, apesar da 
difusão da máquina a vapor e das novas máquinas e equipamentos. No início, 
o consumo per capita e a qualidade de vida aumentaram pouco (no início do 
século XVIII), mas as tecnologias de produção mudaram drasticamente várias 
indústrias e setores, preparando o caminho para o crescimento da segunda 
metade do século XIX, todavia, os registros históricos parecem indicar que, 
em termos gerais quanto mais próxima for a relação entre os locais de 
 17 
inovação, produção e utilização das novas tecnologias, mais rápida será a 
transformação das sociedades e a sua efetiva apropriação das inovações 
tecnológicas. 
Apesar de ambas as Revoluções Industriais, terem causado o 
surgimento de novas tecnologias que na verdade formaram e transformaram 
um sistema industrial em estágios sucessivos, no âmago dessas revoluções 
havia uma inovação fundamental em geração e distribuição de energia. R.J. 
Forbes, famoso historiador de tecnologia, afirma que “a invenção da maquina 
a vapor podia ser levada aonde fosse necessária e na extensão desejada”2. E, 
embora insista no caráter multifacetado da Revolução Industrial, também acha 
que “não obstante os protestos de alguns historiadores econômicos, a maquina 
a vapor é ainda amplamente considerada a invenção mais requintada da 
Revolução Industrial”. 
A eletricidade foi a força central da segunda revolução, apesar de outros 
avanços extraordinários como produtos químicos, aço, motor de combustão 
interna, telégrafo e telefonia. Isso porque, apenas mediante geração e 
distribuição de eletricidade, os outros campos puderam desenvolver suas 
aplicações e ser conectados entre si. Um caso especial foi o do telégrafo 
elétrico que, utilizado experimentalmente de 1790-99 e em pleno uso desde 
1837, só conseguiu desenvolver-se em uma rede de comunicação, conectando 
o mundo em larga escala, quando pôde contar com a difusão da eletricidade. O 
uso difundido da eletricidade a partir de 1870 mudou os transportes, 
telégrafos, iluminação e, não menos importante, o trabalho nas fábricas 
mediante a difusão de energia na forma de motores elétricos. Na verdade, 
 
2 Forbes, R.J. – The Industrial Revolution, 1750-1850, Londres, editora Oxford University 
Press, 1958. 
 18 
embora as fábricas sejam associadas à primeira Revolução Industrial, por 
quase um século elas não foram concomitantes com o uso da máquina a vapor, 
bastante utilizada em pequenas oficinas artesanais, enquanto muitas das 
grandes fábricas continuavam a usar fontes melhoradas de energia hidráulica 
(daí a razão de, por muito tempo, terem sido conhecidas como moinhos). Foi o 
motor elétrico que tanto tornou possível quanto induziu a organização do 
trabalho em larga escala nas fábricas industriais. 
Portanto, atuando no processo central de todos os processos – ou seja, a 
energia necessária para produzir, distribuir e comunicar – as duas Revoluções 
Industriais difundiram-se por todo o sistema econômico e permearam todo o 
tecido social. Fontes móveis de energia barata e acessível expandiram e 
aumentaram a força do corpo humano, criando a base material para a 
continuação histórica de um movimento semelhante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19 
 
 
figuras 02,03 –Uma roda de fiar podia fazer às vezes de mil fusos era uma regra da 
Revolução Industrial. Em cima uma cena tradicional de casa de campo. Em baixo, 
(maquinas de fiar algodão 1835) 
 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A cidade e os avanços tecnológicos (novos problemas). 
 
A grande era das invenções modernas, como já vimos, divide-se em 
duas fases distintas. A primeira entre 1700 a 1850 foi dominada pelo carvão, o 
ferro e o vapor, e testemunhou a transição da oficina para a fábrica e de 
empresa individual para a companhia por ações. A segunda, coincidindo com 
a aparição das grandes firmas e monopólios de 1850 em diante, está associada, 
acima de tudo com o aço, a eletricidade, o motor de combustão interna e a 
síntese de novas substancias. Ambas as fases demonstram que embora o 
avanço em tecnologia não possa por si próprio levar ao progresso industrial, 
pode conseguir-se, em pouco tempo um impressionante ganho para a 
 21 
sociedade se empresários e artífices habilidosos tiverem a vontade e a 
capacidade de reconhecer e aplicar novas idéias e invenções úteis. 
 
**** 
Com o desenvolvimento da locomotiva (1814), e com a implementação 
das linhas ferroviárias, a cidade expande seu crescimento através destes 
caminhos, a estrada de ferro traz definitivamente o progresso: em primeiro 
lugar garante o transporte de mercadorias, depois, o de pessoas, assim, as 
distâncias se encurtam e as relações comerciais entre diversas localidades e 
países se estreitam, de modo a impulsionar o crescimento econômico-
comercial dos países que se apropriarão com mais rapidez, da evolução deste 
meio de transporte. Não são apenas os bens de consumo trazidos pelos trens, 
mas, sobretudo o dinheiro de várias partes do globo. Os reflexos desta grande 
evolução gerada pelos trens e ferrovias são rapidamente sentidos pelas 
cidades, que mais uma vez têm uma geratriz condicionando seu crescimento eestruturando-a até então sem racionalização. As ferrovias, por muitas vezes, 
criam resíduos urbanos, segmentam a paisagem, segregam a cidade, por se 
tratar de uma linha marcante que cicatriza e intransponibiliza, formando 
assim, dois lados normalmente estanques. Porém, para servir de suporte para a 
estrutura ferroviária, são edificados grandes galpões e armazéns, tais quais: as 
docas dos navios a vapor
3
, como também, estações que rapidamente tornam-se 
ícones do progresso da cidade industrial (neoliberal). Um exemplo da 
 
3Nota do autor: Na primeira metade do século XIX os sistemas de transporte e de 
comunicação desencadearão as primeiras inovações como os primeiros barcos a vapor 
(1807), que como os trens com as estações, trás consigo, a necessidade da edificação de 
docas e portos que se tornam pontos de atração para os imigrantes, sedentos por trabalhos e 
recém saídos do campo, com isso, a cidade além da transformação no assentamento da 
 22 
importância das estações ferroviárias é o fato de que sempre em suas torres, 
instalavam-se os relógios, que tinham a função de mostrar e marcar a hora de 
seus trens, também serviam como símbolo da doutrina industrial difundida 
sobre a massa trabalhadora, na maioria das vezes explorada. Ademais as 
estações ferroviárias, nota-se que a paisagem dessas cidades começam a ser 
remodeladas, o horizonte das cidades industriais são cortados com as 
chaminés das fábricas, adquirindo assim, cada vez mais um aspecto árido e 
sombrio, pois estas chaminés lançam ininterruptamente suas fumaças sobre a 
cidade. 
 
 
Figura 04 – Estação de caminho-de-ferro de Paris, a Gare Saint-Lazare pintada por 
Monet, 1877. 
 
 
população, iniciada pela implantação das fábricas, dissipa seu crescimento, através das 
adjacências dessas estruturas comerciais e de serviços, referente ao transporte fluvial. 
 23 
 
 
 Além das grandes cidades que são obrigadas a abrigar a malha férrea, 
outras pequenas e médias cidades foram surgindo ao redor da ferrovia, assim, 
esta se torna condicionante para a consolidação geográfica, e para a 
implantação de novas fábricas, pois invariavelmente, a matéria que as fábricas 
necessitavam para sua produção, como a que a fabrica produzia, era 
transportada pelos trens. Juntamente com as fábricas vinha a mão de obra para 
viabilizar sua operacionalização, e a partir de então, a classe mais 
desfavorecida era expurgada para as periferias das novas cidades, formando 
subúrbios, com problemas de habitabilidade (o que será posteriormente 
abordado). Com isso, a ferrovia e as locomotivas tornam-se, indubitavelmente, 
uma das invenções mais transcendentes da revolução industrial, tanto é, que 
via de regra, as teorias urbanísticas do século XIX, contemplavam a ferrovia 
como meio de transporte determinante para o desenvolvimento das cidades, 
que apesar das diferenças entre as propostas pode-se notar traços comuns, 
desde os “Falanstérios de Charles Fourier, até as “Cidades Jardins” de 
Ebenezer Haward, passando pelas “Cidades Industriais” de Tony Garnier, 
todos consideravam a ferrovia como meio de transporte eficiente e 
determinante para o desenvolvimento racional das cidades.
4
 
Mais tarde, a invenção do motor a explosão (1885) permite usar o 
petróleo para mover navios, automóveis e, depois, os aviões. Especialmente, 
os automóveis trazem à cidade uma mudança considerável, pois as ruas, os 
cruzamentos, os acessos, a própria casa que necessita a partir de então, um 
 
4
 Ver: – Choy, Françoise – O Urbanismo - editora perspectiva – paginas 61 a 66, 163 a 170 
e 219 a 228. 
 24 
compartimento que abrigue o automóvel, toda a estrutura dos arruamentos tem 
de ser alterada. O automóvel muda o enfoque da estruturação da cidade, que 
se antes pensava no pedestre,- ou no tropeiro -, tem que necessariamente 
atender esta nova forma de circulação, até se chegar ao lamentável ponto, em 
algumas cidades modernas, de priorizarem exclusivamente os automóveis. A 
cidade mais uma vez ganha barreiras intransponíveis. As grandes avenidas do 
século XX que aos poucos vão tomando os lugares mais nobres das cidades 
são como as ferrovias do século XIX, e fragmentam definitivamente a cidade, 
que por mais planejada que seja, com o tempo, passa a conviver com os 
engarrafamentos. A aridez das cidades industriais atinge o cume, com a 
obrigatória pavimentação das ruas. Neste momento é a rodovia que estrutura o 
espaço geográfico, tal qual a ferrovia, a rodovia impõe em meados do século 
XX as diretrizes para o desenvolvimento das cidades. 
 
 
Figura 05 – A Locomotiva de William Hetley. Wylam Dilly,l construída em 1813. 
 
 25 
 
 
Figura 06 – Locomotiva – um exemplo de arte de engenharia, 1848. 
 
 
 
Figura 07 – Atento as insuficientes fontes de carvão da Itália e ao entusiasmo pelos 
caminhos de ferro, um inventor patriótico idealizou a “Impulsoria” de 1853. 
 
 26 
Através desta analogia entre ferrovia e rodovia, podemos estabelecer 
uma comparação semelhante com os bondes e os trens metropolitanos. A 
partir das primeiras iniciativas no campo da eletricidade como a descoberta da 
lei da corrente elétrica (1827), foi possível desenvolver meios de transporte 
como o bonde, tão presente nas cidades no século XIX, que com a 
modernização dos meios de condução de energia como o de construção civil, 
deu seu lugar aos trens metropolitanos que hoje são reconhecidos como o 
meio de transporte mais eficiente para as grandes cidades, principalmente 
quando da ocupação dos subsolos. 
 
 
 Figura 08 – O carro elétrico de Siemens (O Bonde) na Expo. Elétrica de Paris 1881. 
 
 27 
Todavia, ainda no setor dos transportes, não podemos esquecer a 
aeronáutica, que a partir dos dirigíveis, tem papel de extrema importância não 
só no desenvolvimento dos transportes, como no das cidades. A evolução da 
indústria química também se tornou um fator importante para a compreensão 
dos avanços tecnológicos e suas interfaces, 
5
 viabilizou, entre outras coisas, a 
construção dos primeiros dirigíveis aéreos, e com isso, a conquista do espaço 
aéreo pelo homem. As cidades precisaram adequar-se mais uma vez ao novo 
advento, com grandes hangares e locais para o pouso destas enormes 
estruturas voadoras, e assim, espaços imensos precisariam ser destinados a 
mais uma conquista da humanidade. Posteriormente, com a já mencionada 
invenção do motor à explosão e o desenvolvimento da engenharia 
aerodinâmica, o avião toma a cena, e define-se como principal meio de 
transporte para grandes distâncias. O aeroporto passa a ser preponderante e é 
implantado em geral em lugares mais afastados das cidades, liberando o 
espaço aéreo nas adjacências, porém com o crescimento da cidade, o 
aeroporto, passa com o tempo a ser envolvido pela cidade, muitas vezes 
ficando em uma posição desaconselhável para os padrões de segurança. O 
avião nos trás a possibilidade de ver a cidade de outro ângulo, em outra 
perspectiva, além de possibilitar o acesso à cidade por outro caminho que não, 
o terrestre, assim faz do aeroporto uma outra porta de entrada da cidade, com 
isso os aeroportos passam a ter valor estratégico para a imagem da cidade. 
 
5
 Nota do Autor: A indústria Química também se tornou um importante setor de ponta no 
campo fabril, a obtenção de matérias primas sintéticas a partir dos subprodutos do carvão(nitrogênio e fosfato), corantes fertilizantes plásticos, explosivos, etc. 
 28 
 
Figura 09 – Os símbolos das conquistas da técnica, um balão, um dirigível e um 
biplano parecem meditar sobre esta cena. Vista da Ponte de Sèvres (1908), de Rousseaou. 
**** 
 
Além do papel fundamental da eletricidade no desenvolvimento dos 
transportes metropolitanos, a eletricidade associada à lâmpada elétrica (1876) 
possibilitou iluminar a cidade, as casas, e dar margem a uma série de outras 
invenções.
 
Para o propósito da discussão em pauta, devemos salientar a 
iluminação pública que não só tornou a cidade mais segura e passível do 
frequentamento noturno, mas alterou definitivamente o cotidiano, expandindo 
o dia produtivo através da noite, o aproveitamento produtivo, sobretudo nas 
fábricas, duplicou criando assim, os turnos de trabalho. A iluminação de 
nossas ruas criou além do trânsito noturno, a possibilidade do lazer noturno, 
que entre outras coisas, necessita de estrutura própria. Nasce então, uma outra 
faceta em algumas cidades, a de explorar a noite comercialmente como 
entretenimento. As cidades sofrem com isso mudanças do ponto de vista 
geográfico, pois a setorização torna-se fundamental, as áreas que exploram o 
 29 
comércio e os serviços noturnos não podem (ou não poderiam), de maneira 
alguma, chocarem-se com as áreas residenciais, que por sua vez não deveriam 
estabelecer relações físicas com áreas industriais, assim, as cidades começam 
a ser subdivididas, de modo a cada vez mais necessitarem de transportes 
eficientes, tanto coletivos como individuais.
6
 
 
Figura 10 – A invenção do motor de combustão interna, deu origem à moderna 
industria automobilística. – Karl Benz ao volante do seu automóvel (1887). 
 
 
6
 Nota do Autor: A energia elétrica passou a exercer sobre a humanidade uma influencia 
vital, e só tomamos consciência disso, quando estamos prestes a perde-la. A crise de 
energia enfrentada por diversos paises, sobretudo o Brasil, revela nossa total dependência 
desta energia. Precisamos de eletricidade para manter a temperatura fria no verão e quente 
no inverno, para cozinhar grande parte de nossa comida e congelar o que pretendemos 
comer depois. Dependemos dela para transporte, comunicação, diversão, para levar vidas 
que não têm qualquer relação com o nascer e o pôr do sol. 
 30 
A revolução industrial primeiramente restringiu-se aos locais de 
trabalho e produção partilhada, até que o motor elétrico limpo e relativamente 
pequeno possibilitou a adoção de sua utilidade no lar: refrigeração, limpeza 
automatizada, esfriamento de ambientes, melhor aquecimento, diversão, 
armazenagem de dados em massa, assistência médica doméstica e transporte 
pessoal mais confortável. É verdade que muitas dessas “bênçãos” já se 
achavam presentes no lar graças a tecnologias mais simples – o encanamento 
com base na gravidade, por exemplo, ou o fluxo de ar convectivo (renovação 
mecânica do ar) -, mas foi o motor elétrico que as levou a toda parte. A 
transformação do estilo de vida ocidental foi profunda e mudou 
completamente nossas expectativas de como nossos corpos devem se encaixar 
em nosso ambiente. 
 
**** 
 
A invenção do processo Bessemer (1856) facilita a difusão do aço, que 
permite construir novas máquinas mais eficientes e novas estruturas nunca 
vistas no passado: grandes coberturas sem suportes intermediários (a rotunda 
da Exposição Universal de Viena, de 1873, com o diâmetro de 102 metros, a 
sala das máquinas da Exposição Universal de Paris de 1889, de 115 por 420 
metros), pontes suspensas cada vez mais longas (desde a Ponte do Brooklyn 
de 1873, de 488 metros, à Ponte de Washington sobre o Hudson, de 1928, de 
1.050 metros), arranha-céus cada vez mais altos (dos primeiros de Chicago, 
no fim do século XIX, de 20-30 andares, aos de New York nos primeiros 
decênios do século XX, com mais de 100 andares;. A invenção do dínamo 
(1869) permite usar a eletricidade como força motriz, e tornam possíveis 
 31 
infinitas aplicações: como por exemplo, os elevadores e os sistemas de 
comunicação (telefones e interfones) – pois de nada adiantaria construir 
edifícios de 100 andares se não tivéssemos uma forma de deslocamento 
vertical mecânico para acessá-los. 
No final do século XIX, com a solução dos complexos problemas 
técnicos e estruturais que as novas tecnologias resolveram, foram criadas as 
condições para a construção de arranha-céus, que mudariam definitivamente a 
paisagem da maioria das cidades do mundo, muitas vezes com várias centenas 
de metros de altura. Tinham de ser consideradas não só as medidas de 
proteção contra incêndios, como também as dificuldades inerentes à sua 
exploração. Mas, por muito grande que seja o fascínio estético exercido por 
estes edifícios de grande porte, considerados obras-primas da arquitetura do 
ferro, eles não foram construídos meramente por motivos estéticos. Pelo 
contrário, foram os motivos econômicos que provocaram quase 
obrigatoriamente um crescimento contínuo em altura dos edifícios. A subida 
dos preços dos terrenos nos centros econômicos, em ascensão na América, 
conduziu a que cada metro quadrado de solo tivesse de ser utilizado de modo 
conseqüente. Depois de terem sido dominados os problemas técnicos dos 
prédios em altura, principalmente com o advento do elevador, as motivações 
econômicas desenvolveram-se em uma crescente: quanto mais gigantescas 
eram as somas obtidas no mercado imobiliário. 
Para além de Nova Iorque, centro econômico pulsante, foi, sobretudo 
em Chicago que este novo movimento arquitetônico mais se desenvolveu. O 
violento incêndio de 1871 em Chicago reduziu uma grande parte a escombros. 
Mas, por mais terríveis que as conseqüências do grande incêndio tenham sido, 
serviu simultaneamente, como rastilho da reconstrução de uma cidade nova e 
 32 
moderna, na qual os “arranha-céus” se foram elevando, andar a andar, 
tornando-se a componente mais importante da imagem da cidade. Assim, 
surgiram, espantosamente cedo, projetos de edifícios gigantescos como o 
Marshall Field Wholesale Store de Henry Hobson Richardson (1885-1887), ou 
o primeiro com um esqueleto em aço, o Jome Insurance Building projeto de 
William Le Baron Jenney igualmente concretizado em Chicago (1883-1885). 
Em paralelo, Louis Sulivan tornou-se o protagonista mais importante da 
cultura dos edifícios em altura dessa época e no representante insigne da 
chamada “Escola de Chicago”. 
 
Figura 11 - Woolworth Building, (Cass Gilbert) Nova Iorque, 1913. 
 33 
 
 
Figura 12 – Chrysler Building, (William van Alen) Nova Iorque, 1930. 
 
 
 34 
**** 
 
Os telégrafos (1836) tornaram a informação mais rápida, assim reunia-
se fisicamente a informação e a organizavam de formas inteligível, abrindo 
caminho para uma série de outras invenções no campo da comunicação. O 
telefone dava novos contornos a comunicação (Bell, 1876). Hoje não 
conseguimos imaginar a civilização moderna sem o telefone. A partir da 
difusão em larga escala do telefone, imaginou-se que o deslocamento em 
muitos casos passaria a ser secundário, já que se poderia comunicar via 
telégrafo ou telefone. Assim, as expectativas quanto ao crescimento da malha 
viária ou ferroviária das cidades poderia sofrer uma retração, visto que, o 
deslocamento supostamente diminuiria. No entanto em concomitância a 
expansão do telefone, ocorreu à propagação dos automóveis, que logo, tornar-
se-ia o sonho de consumo da civilização industrial e pós-industrial, com isso, 
torna-se fundamental abrir estradas, alargar ruas, criar a infra-estruturamínima para a eminente expansão da industria automobilística. Esta interface 
entre a difusão do telefone e a possível retração na configuração viária das 
cidades, deve ser retomada nesta análise, na medida em que se discuta os 
novos meios informacionais, e as possíveis alterações nas cidades do amanhã. 
Como já foi colocado anteriormente, um dos benefícios trazidos pela 
difusão dos meios de comunicação, sobretudo o telefone, foi a de ajudar na 
viabilidade de edificar os edifícios altos, criando condições de comunicações 
entre os diversos andares e integrando os andares mais distantes ao resto da 
cidade, sobretudo ao mundo. 
O telefone, de certa forma, altera as noções de distancia tão fortemente 
estabelecidas, possibilitando a informação ou a comunicação entre os 
 35 
diferentes lugares do mundo e entre os diversos povos e culturas, em tempo 
real. Podemos talvez (por que não?) dizer, que o telefone é o primórdio da 
globalização e o início da comunicação virtual, uma vez que possibilita a 
intercomunicação em tempo real, e facilita o intercâmbio entre povos de 
diferentes culturas, possibilita a comunicação sem a mediação física. Por isso, 
alguns historiadores consideram que a revolução industrial, ainda segue até os 
nossos dias, por se tratar de um avanço contínuo da ciência e da tecnologia, as 
descobertas e os avanços abrem precedentes para uma série de outras 
invenções que muitas vezes mudam o comportamento do mundo. 
Com a invenção do rádio (1898), abre-se um novo período na história 
da humanidade, surge a comunicação de massa. Diretamente as cidades não 
sofrem alterações, porém com o tempo os costumes são alterados, a mídia 
associada ao regime capitalista influencia e altera o comportamento social, 
que conseqüentemente tem reflexos nas cidades, surgem os grandes espaços 
comerciais embalados pelo consumismo crescente, as praças antes exclusivas 
para o lazer são invadidas por diversos usos ligados ao consumo, a própria 
configuração da moradia é alterada, em virtude de modelos vinculados na 
mídia. O radio é o inicio deste fulminante ataque da mídia que conhece seu 
ápice com o surgimento da televisão. 
 
 
 
 
 
 
 
 36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A cidade e a busca de novas soluções. 
 
 Depois da metade do século XVIII, a revolução industrial muda o curso 
dos acontecimentos, na Inglaterra e mais tarde em todo o resto do mundo.Os 
principais fatos que influenciam a ordem das cidades e do território são os 
seguintes: 
- O aumento da população, devido à diminuição do índice de 
mortalidade, que pela primeira vez se distancia decididamente do de 
natalidade (Na Inglaterra o índice de natalidade permanece quase 
constante ao redor de 37 por mil, o índice de mortalidade diminuiu de 
35 por mil por volta de meados do século XVIII, para 20 por mil na 
metade do século XIX). Por isso cresce o número de habitantes. 
 37 
- O aumento dos bens e dos serviços produzidos pela agricultura, pela 
indústria e pelas atividades terciárias, por efeito do progresso 
tecnológico e do desenvolvimento econômico. O aumento da população 
e o aumento da produção se ligam para formar um círculo ascendente: 
os habitantes mais numerosos exigem bens e serviços mais abundantes, 
que permitem um aumento ulterior da população; os bens e os serviços 
disponíveis em quantidade e em qualidade superior fazem aumentar a 
qualidade de vida das classes sociais, e produzem a busca de outros 
bens mais abundantes e mais diversos. 
- A redistribuição dos habitantes no território em conseqüência do 
aumento demográfico e das transformações da produção. Os 
camponeses cultivadores diretos se tornam assalariados, ou operários da 
indústria, e se transferem para onde existe disponibilidade de força 
motriz para os estabelecimentos industriais, isto é, nas proximidades 
dos cursos de água e depois, após a invenção da máquina a vapor, nas 
vizinhanças das jazidas de carvão. Os estabelecimentos tendem a 
concentrar-se em redor das cidades; deste modo as cidades crescem 
mais rapidamente do que o restante do país, porque acolhem seja o 
aumento natural da população, seja o fluxo migratório dos campos. 
- O desenvolvimento dos meios de comunicação: as estradas de pedágio, 
os canais navegáveis, construídos na Inglaterra de 1760 em diante; as 
estradas de ferro, introduzidas em 1825 e difundidas rapidamente na 
Inglaterra e em todos os outros países; os navios a vapor que no mesmo 
período têm condições de substituir os navios a vela. Estes meios 
permitem uma mobilidade incomparavelmente maior: todas as 
mercadorias mesmo as pesadas e pobres, podem ser transportadas para 
 38 
os locais onde são solicitadas; as pessoas de todas as classes sociais 
podem fazer longas viagens, ou morar num lugar e trabalhar em outro, 
deslocando-se a cada dia ou a cada semana. 
- A rapidez e o caráter aberto destas transformações, que se desenvolvem 
em poucos decênios (dentro do arco de experiência de uma vida 
humana) e não levam a um novo equilíbrio estável, mas deixam prever 
outras transformações cada vez mais profundas e mais rápidas. Nenhum 
problema jamais é resolvido definitivamente, e arranjo nenhum pode 
valer por tempo indeterminado, mas somente por um período que se 
deve aprender a calcular. Um edifício não mais é considerado uma 
edificação estável, incorporada no terreno, mas um manufaturado 
provisório, que pode ser substituído mais tarde por outro manufaturado. 
Torna-se possível assim, considerar um terreno edificável um bem 
independente com seu requisitos econômicos devidos à posição, à 
procura, aos vínculos regulamentares etc. 
Na primeira metade do século XIX, os defeitos da cidade industrial 
parecem por demais numerosos e incomuns para que possam ser eliminados 
completamente. Entre a realidade e o ideal a diferença parece impossível de 
ser preenchida. 
O crescimento espantoso das cidades na época industrial produz a 
transformação do núcleo anterior (que se torna o centro do novo organismo), e 
a formação ao redor deste núcleo, de uma nova faixa construída: a periferia. 
O núcleo tem uma estrutura já formada, na Idade Média; contem os 
principais monumentos – igrejas, palácios – que muitas vezes dominam ainda 
o panorama das cidades européias. Mas não pode sem mais se tornar o centro 
de um aglomerado humano muito maior; as ruas são demasiadas estreitas para 
 39 
conter o transito em aumento, as casas são demasiadas diminutas e compactas 
para hospedar sem inconvenientes uma população mais densa. Assim, as 
classes abastadas abandonam gradualmente o centro e se estabelecem na 
periferia: as velhas casas se tornam casebres onde se amontoam os pobres e os 
recém imigrados. Os muitos edifícios monumentais da cidade histórica – 
palácios e conventos etc. – são abandonados por causa das revoluções sociais, 
e são divididos em pequenas moradias improvisadas, as zonas verdes 
compreendidas no organismo antigo – os jardins por trás das casas em fileira, 
os jardins maiores dos palácios, os hortos – são ocupadas por novas 
construções, casa e barracões industriais. 
Este ambiente desordenado e inabitável é o resultado da superposição de 
muitas iniciativas públicas e particulares não-regulamentadas e não-
coordenadas. A liberdade individual, exigida como condição para o 
desenvolvimento da economia industrial, revela-se insuficiente para regular as 
transformações de construções e urbanismo produzidas justamente pelo 
desenvolvimento econômico. As classes pobres sofrem mais diretamente os 
inconvenientes da cidade industrial, mas as classes ricas não podem pensar em 
fugir deles por completo.Por volta de 1830 o cólera se espalha pela Europa, 
vindo da Ásia, e nas grandes cidades se desenvolvem as epidemias, que 
obrigam os governantes a corrigir pelo menos os defeitos higiênicos, isto é, a 
se chocar com o principio da liberdade de iniciativa, proclamado na teoria e 
defendido obstinadamente na prática na primeira metade do século. Leonardo 
Benévolo descreve da seguinte forma a situação higiênica da comunidade das 
grandes cidades do século XVIII e XIX: 
 
“As carências higiênicas relativamente suportáveis no campo tornam-se 
insuportáveis na cidade, pela contigüidade e o número enorme das novas 
habitações. Enquanto cada casa tinha muito espaço á sua volta, os dejetos líquidos 
e sólidos podiam ser eliminados com facilidade, e as diversas atividades que se 
 40 
realizavam ao ar livre – criação dos animais, tráfego dos peões e dos carros, os 
jogos das crianças – podiam processar-se sem interferirem demasiado entre si. Mas 
agora, o adensamento e a extensão sem precedentes dos bairros operários tornam 
quase impossível o escoamento dos detritos; ao longo das ruas correm os regos dos 
esgotos a descoberto, e qualquer recanto afastado está cheio de amontoados de 
imundícies”.7 
 
 
Figura 13 – Vista de Sheffield em 1858 – Pode-se notar com clareza a imagem da 
cidade industrial sua paisagem recortada pelas chaminés das fábricas pela linha férrea e 
na periferia os casebres dos operários. 
 
A atração que as fábricas produziam sobre a população que até então se 
organizava em simples estruturas espaciais, como vilarejos e pequenas cidades 
rurais, é evidente, mudando assim, completamente e definitivamente a 
ocupação do território. A população começa a se aglomerar em volta das 
fábricas, que necessita de mão de obra para sua operacionalização, está 
aglomeração tornam-se com o tempo; cidades, que invariavelmente sofrem 
 
7 Benévolo, Leonardo – As Origens da Urbanística Moderna – Editora Presença - pag. 23. 
 41 
com problemas estruturais, tais como, saneamento, déficit habitacional, 
insuficiência de transportes públicos, etc.
 8
 
A partir de então nasce efetivamente o urbanismo como disciplina, com a 
incumbência da resolução dos graves problemas presentes nas cidades e no 
planejamento e racionalização das cidades a serem implantadas. 
Os chamados urbanistas sanitaristas são os primeiros a aparecem como 
salvadores, como quem tem o desafio de sanar os problemas do ponto de vista 
sanitário, principalmente equacionando o esgoto das cidades, que inchou 
bruscamente e que sofre com epidemias e pestes até então desconhecidas. 
Do ponto de vista estrutural, nas velhas cidades da Europa a transformação 
dos meios de produção e transporte, assim como a emergência de novas 
funções urbana, contribui para romper os velhos paradigmas, da cidade 
medieval e da cidade barroca, uma nova ordem é criada, segundo o processo 
tradicional da adaptação da cidade à sociedade que a habita. Nesse sentido, 
Haussmann, no desejo de adaptar Paris às exigências econômicas e sociais do 
Segundo Império, faz uma obra realista. E o trabalho que realiza, se prejudica 
a classe operária, incomoda os pequenos burgueses expropriados, contraria os 
hábitos, é em compensação, a solução mais imediatamente favorável aos 
capitães de indústrias e aos financistas que constituem então um dos 
elementos mais ativos da sociedade. É o “urbanismo” a serviço do 
capitalismo. 
Na França a revolução de 1848 põe em crise tanto os movimentos de 
esquerda, como os regimes liberais da primeira metade do século, que se 
 
8
 Nota do autor: Especialmente em países subdesenvolvidos como o Brasil podemos 
notar que estes fatores ainda hoje são detectados, em uma estrutura pós-industrial que não 
equacionou velhos problemas surgidos no século XVIII. 
 42 
demonstram indefesos contra esta ameaça. Neste panorama a burguesia 
vitoriosa estabelece, assim, um novo modelo de cidade, no qual os interesses 
dos vários grupos dominantes – empresários e proprietários – estão 
parcialmente coordenados entre si, e as contradições produzidas pela presença 
das classes subalternas são parcialmente corretas. 
Este modelo tem um sucesso imediato e duradouro: permite reorganizar 
as grandes cidades européias e antes de todas outra Paris surge como modelo 
de ocupação e gestão pública naquele instante. 
Na França a política econômica de Luis Napoleão mostrou que se podia 
estimular empresários particulares para esforços maiores do que 
anteriormente. A reorganização do sistema ferroviário, a reconstrução de Paris 
central, a construção de obras públicas em cidades da província, a edificação 
de novos portos, os empréstimos do governo as industrias, o encorajamento de 
novos bancos de crédito para a industria e para a agricultura, a reforma radical 
das tarifas, a realização de duas grandes exposições internacionais em Paris, 
tudo isso ajudou a promover o crescimento da industria francesa em seu 
reinado. O Imperador era servido por administradores competentes como 
Eugene Rouher, G.E, Haussman, P.I. Bairoch e Franqueville. Napoleão III 
compreendeu a importância das comunicações na promoção do 
desenvolvimento industrial e resolveu equipar a França com um sistema de 
caminhos de ferro eficiente. No entanto não podemos nos esquecer que um 
dos pontos fundamentais estabelecidos pela gestão do Barão Haussman, 
(principalmente como prefeito de Paris), era a expulsão dos pobres do centro 
de Paris e substituir as ruas tortuosas e “sem vida”, por longas avenidas, os 
bairros sórdidos porem animados, por bairros aburguesados, estas mudanças 
foram conhecidas como “Estratégia de Classe”. 
 43 
A sociedade européia estava fascinada e perturbada por este ambiente 
novo, contraditório. A técnica moderna produziu, finalmente, uma nova 
cidade, mas em vez de resolver os antigos problemas, abriu outros, 
inesperados. 
 
 
 
Figura 14 – O Palácio de Cristal, construído para abrigar a Grande Exposição do 
Príncipe Alberto em 1851. 
 44 
 
Figura 15 – A demolição de parte do Quartier Latin no descurso da reconstrução de 
Paris. 
 
 
Figura 16 – Esquema dos grandes trabalhos de Haussmann em Paris: em preto as 
novas ruas, em tracejado quadriculado os novos bairros, em tracejado horizontal os 
dois grandes parques periférico: o Bois de Boulogne (à esquerda) e o Bois de 
Vincennes (à esquerda). 
 45 
Especificamente no que tange as cidades pré-industriais e industriais os 
avanços tecnológicos tem papel fundamental no equacionamento dos 
problemas presentes nos organismos espaciais. 
Como já mencionados, a eletricidade possibilitou, entre outras coisas, 
iluminar ruas, edificar verticalmente e transformar a condição temporal 
estabelecida (já que as cidades iluminadas, tornam-se, passiveis de 
aproveitamento noturno, sobretudo, na alteração dos turnos de trabalho das 
fábricas, propulsoras do “desenvolvimento”), a cidade moderna se põem em 
funcionamento pela eletricidade, temos como exemplos os trens 
metropolitanos, os semáforos, as usinas elevatórias de água e esgoto e a 
própria iluminação pública. 
Neste momento aparece um dos primeiros diálogos entre o 
desenvolvimento tecnológico e a cidade industrial, com a implantação da rede 
de encanamentos de água potável e esgotos. Sem o serviço de águas, as 
condições de adensamento do mundo moderno seriam absolutamente 
inviáveis. 
A nova cidade, por mais feia e incomoda que seja, é aceita como 
modelo universal porque, não se têm alternativas: os intelectuais recordam 
saudosamente a cidade do passado longínquo e os políticosrevolucionários 
não tem interesse em descrever a cidade de um futuro distante. Neste cenário, 
os elementos da civilização industrial finalmente tomam vulto e podem ser 
confrontados entre si. Os novos problemas abertos se tornam às tarefas a 
enfrentar no futuro próximo. 
Ainda hoje emana um forte fascínio dos arranha céus das metrópoles 
americanas que dominam majestosamente a linha do horizonte das grandes 
cidades e tornaram-se os símbolos do poder econômico e da prosperidade dos 
 46 
cidadãos. A arquitetura da vanguarda moderna é à busca de um novo modelo 
de cidade, alternativo ao tradicional, e começa quando os artistas e os técnicos 
iniciam com colaboração na gestão da cidade pós-liberal se tornam capazes de 
propor um novo método de trabalho, libertado das anteriores divisões 
institucionais. 
Os novos sistemas de construção tornam cada vez mais difícil ajustar 
separadamente a aparência dos novos edifícios (com os estilos históricos ou 
com os novos inventados pelos arquitetos de vanguarda). O trânsito mais 
intenso e as novas instalações urbanas - o gás, a eletricidade, o telefone, os 
transportes públicos sobre trilhos, na superfície ou subterrâneos – devem ser 
comprimidos nos espaços públicos insuficientes da cidade pós-liberal. As 
cidades crescem cada vez mais velozmente. 
Estas mudanças enfraquecem as formas de gestão tradicionais, e fazem 
nascer também das camadas inferiores à procura de uma renovação do 
ambiente construído. 
Os artistas, encarregados de apresentar e de corrigir a imagem da cidade 
pós-liberal, são os primeiros a reagir contra o aspecto desagradável: criticam o 
cenário que vêem à sua volta, e começam a atacar os mecanismos que 
produzem. 
Os técnicos, que trabalham fechados em suas especializações, não estão 
em condição de controlar as conseqüências de seu trabalho, mas modificam o 
ambiente da vida cotidiana de maneira cada vez mais rápida e mais profunda, 
portanto tornam mais difíceis as formas de controle tradicionais. 
A partir de então os avanços tecnológicos tomam papel fundamental na 
nova apropriação dos espaços públicos e privados, então através deste 
domínio da tecnologia as bases da nova cidade são consolidadas. 
 47 
Apesar dos urbanistas de vanguarda moderna conceberem um novo 
modo de espacialização da cidade, podemos dizer que, abdicaram da 
apropriação plena dos avanços tecnológicos já disponíveis, e não realizaram 
completamente a revolução técnica, que constituía um dos fundamentos de sua 
teoria. 
No final do século XVI e início do século XX, uma série de técnicos, 
arquitetos e engenheiros imaginaram cidades realmente novas (radicalmente 
novas), se apropriando das novas técnicas construtivas, dos avanços 
tecnológicos e do novo estilo de vida do homem. 
Intitulados como “Tecnotópicos” por Françoise Choay em O 
Urbanismo, estes urbanistas estavam atentos quanto as novas funções da 
cidade naquele momento, conforme à tradição do urbanismo progressista. 
Dois aspectos são destacados: problemas relacionados ao aumento vegetativo 
em todas as grandes cidades, que necessariamente clama por especificidades 
relacionadas com o adensamento, e na exigência resultante na mudança no 
ritmo de vida, em função dos progressos técnicos (da automação, da 
mecanização do trabalho, dos transportes, etc...). 
 
“Do ponto de vista construtivo, a pesquisa recai particularmente em estruturas 
físicas complexas (estruturas suspensas ou triangulares, superfícies oblíquas auto-
sustentáveis) e em materiais que implicam o seu emprego: redes e entrelaçamentos 
metálicos, membranas elásticas e plásticas, folhas de concreto. À geometria 
elementar sucede uma dinâmica mais complexa. As técnicas de condicionamento 
climático também exercem um grande papel na elaboração dos novos projetos”.9 
 
 
Esta concepção “tecnologista” produz propostas surpreendentes de 
modelos de cidades, que embora não tenham sido concretizadas são passíveis 
 
9
 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965 – pág 35. 
 48 
de análise, já que se realizadas poderiam mudar definitivamente o rumo da 
evolução das cidades. 
 São vários os expoentes seguidores deste conceito revolucionário, 
Eugène Hénard, Iannis Xenakis, P. Maymont, J. Fitzgibbon, Y. Friedman, K. 
Kikutake, que de certa forma concentravam-se em conceitos muito parecidos, 
com características comuns: todas contemplam grandes concentrações 
humanas, liberando a superfície terrestre pelo avanço no subsolo, no mar, na 
atmosfera; é o motivo por que se fala, a propósito delas, de urbanismo espacial 
ou tridimensional. Depois com a apropriação destas teorias utópicas pela 
literatura de ficção científica, pôde-se ilustrar a plasticidade destas cidades. 
Segundo Françoise Choay a exposição “A arquitetura Visionária” organizada 
em 1960 no Museu de Arte Moderna de Nova York, que compreendia um 
certo número de exemplos de “urbanismo visionário” foi o sinal precursor do 
interesse que o público ia adquirir pela “cidade do futuro”. As maquetes e 
ilustrações mostradas na exposição e que até hoje são vinculadas pelos meios 
de comunicação, nos passam uma impressão de sonho, de mistério, às vezes 
de poesia, que nos faz esquecer da cotidianidade. Essas visões tranqüilizam-
nos quanto às expectativas para o futuro. 
 Na medida em que a “Tecnotopia” procura resolver problemas 
reconhecidos, abre margem para a pesquisa, que caminha em paralelo com 
hábitos mentais, que invariavelmente só nos atrasa. Por exemplo, o urbanismo 
subterrâneo apresenta contribuições notáveis para o planejamento urbano, que 
quase nunca, atenta para estes conceitos. 
Podemos então nesta breve análise verificar que o processo evolutivo da 
cidade industrial para a pós-industrial, estabelece uma relação dialógica com o 
 49 
progresso tecnológico, e só se torna viável a cidade moderna por estar sendo 
constantemente beneficiada pelos grandes avanços da tecnologia. 
Outro expoente desta tipologia visionária é o grupo inglês Archigram, 
que abordaremos separadamente no capítulo subseqüente. 
Na proporção em que a cidade cresce em população e em problemas, 
gerados por uma eventual superlotação, a tecnologia eminente soluciona 
problemas de habitabilidade, comunicação, deslocamento, saneamento, enfim, 
organiza espacialmente de maneira racional e na maioria das vezes eficiente. 
Os progressos tecnológicos também determinam seus influencias no 
próprio desenvolvimento social, a partir do século XVIII a tecnologia se 
apropria também da estrutura do trabalho, fundamentando e exigindo a 
apropriação tecnológica como ponto determinante do desenvolvimento 
individual. 
 
**** 
 
O progresso científico e técnico do fim do século XVIII e o fim do 
século XIX, isto é, sobretudo descoberta da eletricidade às aplicações da 
energia a vapor e elétrica. Finalmente, a partir do início do século XX e com 
uma forte aceleração da Segunda Guerra Mundial em diante, as descobertas da 
física atômica e subatômica, a abertura do campo molecular em biologia, o 
desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação de massa, a 
produção de novos materiais, a rápida ascensão da eletrônica, da informática e 
da telecomunicação contribuíram para o salto da sociedade. 
Essa formidável aceleração do progresso científico e técnico não 
poderia ter existido sem a maciça substituição do pesquisador isolado pelo 
 50 
trabalho em equipe e sem a maior velocidade com que as descobertas 
científicas já se traduzem em aplicações práticas. A agricultura precisou de 
nove milênios para dar vez a industria. À indústria bastaram apenas dois 
séculos para parir a nova sociedadeem que estamos agora metidos até o 
pescoço. 
Como vimos, a analise do período da revolução industrial é fundamental 
para poder entender nossa condição atual, tanto social como econômica, nos 
possibilitando, assim, projetarmos nosso futuro perante aos emergentes 
avanços tecnológicos atuais. 
No que diz respeito as possíveis influencia que as cidades podem sofrer 
com os novos avanços científicos, sobretudo na área da informática e da 
informação, o período entre a segunda metade do século XVIII, até o da 
primeira metade do século XX, é de vital importância para o entendimento das 
conseqüências que esses progressos tecnológicos já começam a trazer para a 
espacialização das cidades. O período da revolução industrial nos fomenta 
com subsídios preciosos, que certamente ajudará a não só entender o atual 
momento como aprender com ele, e deixar de cometer possíveis erros já 
detectados no passado, em um período que guardadas as proporções se 
assemelha muito com o que vivemos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projetos, Modelos e cidades. 
 
Para entendermos de que maneira as cidades ao longo do tempo foram 
se organizando e se reorganizando, a partir de evoluções tecnológicas, temos 
que obrigatoriamente analisarmos três períodos marcantes para o 
planejamento das cidades, através do pensamento de Charles Fourier no 
século XIX, Le Corbusier na primeira metade do século XX e através da 
ousadia dos projetos do grupo Archigram na segunda metade do século XX. 
Estes de certa forma, sintetizaram um pensamento em seus respectivos 
períodos, sobretudo no que se refere às alterações sociais e econômicas (de 
produção e comportamento), e em que medida estas alterações influenciariam 
um possível novo modelo de cidade. Após o ultimo modelo efetivamente 
abordado, (iconizado pelo Archigram), pode-se notar que a humanidade não 
 52 
mais se preocupou com tanto afinco as questões das interfaces entre cidades e 
as novas tecnologias, passando pela tentativa de um modelo pós-moderno que 
propunha o resgate integral dos aspectos antigos, sugeria-se um retorno à 
cidade pré-industrial reavendo todas as características culturais e tradicionais 
do território, que o modelo modernista (aqui apresentado pela obra de Le 
Corbusier), rompeu em prol do homem moderno, estandardizado, tal qual o 
sistema de produção da época. 
A grande ebulição da era industrial acompanha uma série de mudanças 
sociais, a primeira grande preocupação é o aumento demográfico nas grandes 
cidades que absorveram as fábricas, este acumulo populacional, gerou uma 
série de dificuldades ligadas à salubridade urbana, graves problemas sanitários 
se apresentavam e tornavam a cidade nos pontos de grande concentração 
populacional, focos de varias doenças e pestes, que assombravam toda a 
sociedade além do grande déficit habitacional que se fazia presente na nova 
cidade transformada pela era da máquina. 
Neste contexto social urbano, foram surgindo algumas tentativas para a 
resolução dos problemas apresentados pela nova ordem industrial, que por sua 
vez, possibilitava através dos avanços tecnológicos viabilizados pela industria, 
uma série de alternativas que poderiam ser úteis no momento em que os 
pesquisadores se apropriassem de maneira plena das conquistas tecnológicas. 
O primeiro modelo urbanístico, que em meu modo de ver, mais se 
apropriou destas conquistas técnicas, foi indubitavelmente, o intitulado por 
Françoise Choay de modelo Pré-Progressista
10
, que tinha como grande 
representante Charles Fourier. Amparado em teorias ideológicas, na evolução 
das técnicas construtivas e na iminente necessidade de reorganização urbana, 
 
10 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965, páginas 61 a 114. 
 53 
Fourier propõem, de certa forma, uma ruptura brutal com os padrões urbanos 
tão fortemente estabelecidos pela história das cidades européias. Toda a 
concepção espacial de cidade “Fourierista” estava associada com uma nova 
idéia de mundo, de relação social, de produção e distribuição de riquezas, 
assim como posteriormente o modelo intitulado como Progressistas
11
, que tem 
como estandarte a obra de Le Corbusier. 
Le Corbusier traz também, intrínseco ao seu ideal, uma nova concepção 
econômica-social, no entanto, amparado por um estilo estético emergente (o 
Cubismo), e a modernização do homem e de todas as coisas, a idéia de que o 
homem deveria habitar, trabalhar e se divertir, tal qual o produto das 
máquinas. 
Nestes dois períodos, poderemos notar uma interface extremamente 
nítida, no que se refere, a apropriação dos métodos novos de construção, na 
interação social entre os cidadãos, na imobilidade espacial das funções 
urbanas, (guardando as devidas proporções) na tipologia construtiva, 
sobretudo na tentativa de ruptura aos modelos vigentes, tão fortemente 
estabelecidos pela história. 
Também na tentativa de rompimento brutal com os paradigmas, (no 
ponto de vista urbano), veremos os modelos idealizados pelo Archigram e os 
chamados Metabolistas japoneses, que surgem na segunda metade do século 
XX, em meio a todos os avanços nos meios de comunicação de massa, a 
ebulição da tecnologia aeroespacial, o inicio da informática, a nova cultura de 
ficção científica e a ameaça da guerra fria sob a sombra da bomba atômica. 
Tanto do ponto de vista conceitual, quanto do gráfico, o Archigram e os 
 
11 Choay Françoise, O Urbanismo, editora Perspectiva, 1965, páginas 164 a 202. 
 54 
Metabolistas souberam de maneira absoluta se apropriar das tecnologias 
disponíveis. 
Apesar das distâncias cronológicas entre os modelos apresentados, 
pode-se notar, que todas as propostas apresentam semelhanças conceituais; a 
apropriação dos avanços tecnológicos, a ruptura com o tradicional, a procura 
na resolução dos problemas habitacionais, etc. 
Assim podemos traçar uma inter-relação entre o Familistério de Fourier, 
a Unidade de Habitação e a Cidade Radiosa de Le Corbusier e a Plug-in-City 
de Peter Cook. Contextualizando historicamente as propostas, podemos sem 
dúvida perceber que as mudanças sociais e tecnológicas influenciaram, (até 
por uma necessidade iminente de transformação), totalmente estes projetos de 
cidades, com isso, estas propostas parecem utópicas e futuristas. 
 
 
 As utopias do século XIX. 
Como já mencionamos anteriormente do ponto de vista quantitativo, a 
revolução industrial é quase imediatamente seguida por um impressionante 
crescimento demográfico das cidades, por uma drenagem dos campos em 
benefício de um desenvolvimento urbano sem precedentes. O aparecimento e 
a importância desse fenômeno seguem a ordem e o nível de industrialização 
dos países. 
 Do ponto de vista estrutural, nas velhas cidades da Europa, a 
transformação dos meios de produção e transporte, assim como a emergência 
de novas funções urbana contribuiu para romper os velhos quadros 
freqüentemente justapostos, da cidade medieval e da cidade barroca. 
 No momento em que a cidade do século XIX começa a tomar forma 
própria, ela provoca um movimento novo, de observação e reflexão. Neste 
 55 
instante surgem algumas novas idéias para uma cidade ideal, discutiremos a 
que parece ser mais pertinente, o modelo de cidade proposto por Charles 
Fourier. 
 Charles Fourier (1772-1837) começou a expor o seu sistema num longo 
tratado, que apareceu anonimamente em 1808. Considera imoral e absurda 
uma sociedade baseada na competição dos interesses individuais ou de classe, 
e propõe como alternativa,a união dos esforços, para alcançar um estado de 
harmonia universal; isto se torna possível eliminando as restrições e os 
contrastes que limitam, no mundo presente, a satisfação das paixões, e 
reformando a sociedade de modo a garantir a livre satisfação das tendências 
individuais, no respeito dos direitos dos demais. 
 Na teoria de Fourier a realização da harmonia universal deve ocorrer 
gradualmente, através de sete períodos históricos; segundo Fourier a 
humanidade encontrava-se na transição entre o quarto período(barbárie) e o 
quinto (civilização). A civilização seria caracterizada pela propriedade 
individual descontrolada, enquanto o período seguinte (garantismo) 
estabeleceria uma série de limitações. Assim, a desordem e a anarquia da 
cidade, deveria dar lugar a uma ordem minuciosa. 
 Segundo Fourier, eis a organização de uma cidade do sexto período: 
 
Devem traçar-se três cinturas: a primeira contendo a “cité” ou cidade 
central, a Segunda contendo os subúrbios e as grandes fábricas, a terceira 
contendo as “avenues” e a periferia. Cada uma das três zonas adota diferentes 
dimensões para as construções, nenhuma das quais pode ser feita sem a aprovação 
de uma comissão de construtores, que vela pela execução das normas garantistas, 
cuja exposição se segue. 
As três zonas são separadas por cercas, sebes e plantações que não devem obstruir 
a visibilidade. 
Cada casa da “cité” deve ser dotada de espaços livres, para pátios ou 
ajardinamentos, equivalentes pelo menos à área construída; estes espaços serão 
duplos na segunda zona e triplos na terceira. 
 56 
Todas as casas devem ser isoladas, possuindo fachadas regulares de todos 
os lados, com ornamentos escalonados segundo as três zonas, e desprovidas de 
empenas nuas. A distância mínima entre dois edifícios deve ser de três braças(...). 
As cercas terão de ser formadas por muros baixos, encimados por grades ou 
paliçadas que deixem livres à vista pelo menos dois terços da altura dos edifícios. 
 A distância será sempre calculada em projeção horizontal, mesmo nos 
terrenos inclinados, e deverá ser pelo menos igual a metade da altura da fachada 
mais próxima, quer seja dos lados ou da parte detrás. 
Os telhados deverão formar pavilhão, salvo na presença de frontões 
ornados nos lados, e ser providos de caleiras que conduzam a água para debaixo 
dos passeios. 
Do lado da rua, a altura das construções até à goteira do telhado não 
poderá exceder a largura da rua. A distância entre os lados será pelo menos a 1/8 
da largura da fachada que dá para a rua (...), precaução necessária para evitar as 
aglomerações num só ponto. 
As ruas deverão ter como fundo uma vista campestre ou um monumento de 
arquitetura pública ou privada: será banido o monótono tabuleiro de xadrez. 
Algumas ruas serão curvas e serpenteadas para evitar a uniformidade. As praças 
deverão ocupar pelo menos 1/8 da superfície. Metade das ruas deverão ser 
plantadas com árvores de diversas espécies. 
A largura mínima das ruas é de nove braças; para regularizar os passeios, e 
no caso de se tratar de simples vias para peões, podem reduzir-se a três braças mas 
conservando as outras seis como canteiros.
12
 
 
 Esta descrição antecipa de modo surpreendente o conteúdo dos 
regulamentos da construção oitocentista, atribuindo-lhes um valor resolutivo 
que será desmentido pela experiência posterior, e constitui talvez a 
contribuição mais importante de Fourier para a prática urbanística que lhe 
seguiu. Mas para o autor este sistema de regras é apenas um elemento de 
transição para a harmonia universal, que seria realizada no sétimo período. 
Numa cidade deste gênero, não se poderia construir casas pequenas, 
mas sim casas coletivas, que forneceriam a concentração dos serviços e por 
isso as relações mútuas. 
 
12 C. Fourier, Traité de l’Association Domestique-Agricole, in Oeuvres Complètes, 
 Paris 1841, II ed., t.IV, pp 500-502. 
 57 
 Neste modelo de cidade o problema da superpopulação seria 
reformulado na raiz, contrapondo à comunidade indeterminada um grupo 
funcional racionalmente composto, a Falange, e à cidade indiferenciada um 
dispositivo arquitetônico unitário, chamado Falanstério. 
 Fourier descreve o Falanstério da seguinte forma: 
O edifício destinado à Falange não tem qualquer semelhança com as nossas 
construções, da cidade ou do campo (...). Os alojamentos, as plantações e os 
estábulos de uma sociedade que funciona com base em séries de grupos devem 
diferir prodigiosamente das nossas aldeias ou subúrbios ocupados por famílias que 
não têm qualquer relação societária e agem contraditoriamente; em lugar deste 
caos de casitas dos nossos povoados, que rivalizam entre si em sujidade e 
diversidade, numa Falange instala-se um edifício regular tanto quanto o terreno o 
permita (...). O centro do Palácio ou Falanstério deve destinar-se às funções 
públicas, às salas de jantar, da bolsa, do conselho, da biblioteca, de estudo. Neste 
centro estão situados o templo, a tour d’odre, o telégrafo, os pombos-correios, o 
carrillon das cerimônias, o observatório, o jardim de Inverno ornamentado com 
plantas sempre verdes e situado por detrás do pátio principal. 
Uma das alas deve reunir todas as oficinas ruidosas, como o carpinteiro e o 
serralheiro, e todas as assembleias de jovens, que são geralmente bastante 
barulhentas (...). A outra ala deve conter as buliçosas salas de baile e de relações 
com os forasteiros, para que não estorvem o centro do palácio e não perturbem as 
relações domésticas da Falange. 
O Falanstério deve conter, para além dos apartamentos individuais, muitas 
salas de relação públicas que se chamarão (Seristérios), ou locais de reunião e de 
realização de séries passionais(...). Para não conferir ao Palácio uma frente 
demasiado extensa, convirá duplicar os corpos das alas e do centro, e deixar no 
intervalo entre os corpos paralelos contíguos uma distância de pelo menos 15-20 
braças, o que formará três pátios alongados e atravessados em cada 50 braças por 
corredores sobre colunas ao nível do primeiro piso, fechados com vidraças e 
aquecidos ou ventilados segundo o costume de Harmonia (...). O Palácio deve ser 
atravessado a distâncias regulares, como a galeria do Louvre, por passagens para 
viaturas, conservando ou interrompendo o nivelamento. 
Para poupar construção de pedra e cal e terreno, e fomentar as relações, 
convirá que o Palácio ganhe em altura, ficando pelo menos com três pisos e o 
sótão, para além do andar térreo e da sobreloja, onde estarão situados os 
alojamentos e as salas de reuniões das crianças e dos velhos, isolados da rua-
galeria, que é o espaço principal do Palácio (...). Uma Falange é verdadeiramente 
uma pequena cidade, mas não possui ruas exteriores e descobertas, expostas às 
intempéries; todas as partes do edifício têm acesso por uma ampla galeria situada 
no primeiro piso (não poderia ficar no andar térreo, que é atravessado em diversos 
pontos pela passagem das viaturas); nas extremidades desta via, corredores, 
colunas e subterrâneos com bons acabamentos estabelecem por toda a parte do 
 58 
edifício e das suas dependências uma comunicação protegida, elegante e temperada 
em qualquer estação do ano, pela caldeira ou pelos ventiladores. 
A rua-galeria não recebe luz dos dois lados, pois segue encostada a cada 
um dos corpos do edifício; todos os corpos têm duas filas de divisões, uma das 
quais recebe luz do exterior e a outra da rua-galeria; esta deve ter a altura dos três 
pisos que para ela estão voltados. As portas de entrada de todos os aposentos do 
primeiro, do segundo e do terceiro piso abrem para a rua-galeria, com escadas

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