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Configuração Espacial e Vitalidade Urbana

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA 
 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS 
 PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO 
 DIRETORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO 
 
 
Relatório Final do PIBIC/PIBITI/CNPq/IFG - agosto/2015-julho/2016. 1 
 
 
OS ESPAÇOS PÚBLICOS E SEUS PADRÕES URBANOS: 
CONFIGURAÇÃO ESPACIAL, ACESSIBILIDADE E VITALIDADE DAS 
ÁREAS DE USO COLETIVO 
 
Millenna Silva1 
Marcos Paulo Sousa2, 
Juliana Arrais3 
 
 
1Instituto Federal de Goiás/Campus Uruaçu/Engenharia Civil – PIBIC, millen_na@hotmail.com 
2 Instituto Federal de Goiás/Campus Uruaçu/Engenharia Civil – PIBIC, marcos.oms@hotmail.com 
 3Instituto Federal de Goiás/Campus Uruaçu/Departamento de Áreas Acadêmicas – julissilva@gmail.com 
Resumo 
O artigo explora a relação entre a configuração espacial, acessibilidade e vitalidade, que afeta os 
espaços públicos no centro de Uruaçu. A investigação tem como foco a configuração espacial – 
relação entre os elementos cheios (barreiras: como edifícios e quarteirões) e vazios 
(permeabilidades: vias, passeios e praças) que constituem a estrutura da cidade – e que 
interferem na dinâmica dos espaços destinados ao uso coletivo. Para tanto, emprega-se a Teoria 
da Lógica Social do Espaço ou Sintaxe Espacial que utiliza técnicas capazes de interpretar a 
configuração do local estudado e permite a correlação de variáveis configuracionais diversas 
com as dinâmicas urbanas que outras abordagens não conseguem alcançar. Na análise, aplica-se 
cinco variáveis configuracionais e não-configuracionais: co-presença (quantidade de pessoas que 
circulam em uma via em um determinado espaço de tempo), acessibilidade, visibilidade das 
edificações e uso e ocupação do solo. Ao examinar o centro histórico da cidade Uruaçu percebe-
se que a acessibilidade das vias possui forte correlação com as outras variáveis levantadas e é 
determinante para a vitalidade dos espaços de uso coletivo. Como a vitalidade no estudo refere-
se a presença constante de pessoas, no espaço e no tempo, as ruas que proporcionam facilidade 
de acesso aos locais e são mais fácies de serem alcançadas a partir das demais, são também 
aquelas onde obtêm-se a maior contagem de fluxo de pessoas. Oposto a isso, verifica-se que as 
ruas que são de difícil locomoção e possuem menos aberturas (visibilidade das edificações 
proporcionadas por portas que se abrem para as vias) são menos transitadas, o que 
consequentemente faz com que o local seja menos utilizado. Ao considerar todas as informações 
levantadas constata-se que a vitalidade urbana, em especial nas áreas centrais, depende da 
configuração espacial existente e essencialmente de uma malha que permita uma maior 
acessibilidade. 
Palavras-chave: Centro, Acessibilidade, Vitalidade, Sintaxe Espacial. 
INTRODUÇÃO 
 
A pesquisa analisa a relação entre configuração espacial, acessibilidade e vitalidade, que 
afeta os espaços públicos no centro da cidade. O centro considerado aqui é o centro antigo que, 
segundo Villaça (2001), é o espaço urbano que no passado se constitui como o primeiro centro 
da cidade, lugar de sua fundação, que tem sua ligação com o comércio e onde ainda estão 
edificações consideradas importantes. O trabalho embasa-se na perspectiva configuracional - o 
 
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que corresponde à análise das relações oriundas dos arranjos entre os elementos da configuração 
espacial que constituem a estrutura da cidade - de modo a compreender o impacto sobre os 
espaços públicos existentes no centro. O estudo trata da relação entre configuração espacial, 
acessibilidade e vitalidade, que afeta os espaços públicos do centro da cidade de Uruaçu – Goiás. 
Conforme conceituam Trigueiro e Teixeira (2011, p. 6): 
 
Configuração se define pela forma e arranjo de barreiras e acessos. Por barreiras, 
entenda-se tudo aquilo que impede ou desautoriza a passagem entre espaços ou vazios 
(quadras, edifícios, paredes, muros, cercas, sebes, canteiros); por acessos, o que dá 
passagem ou permeabilidade entre barreiras (vias, largos, praças, vazios, portais, 
portas). 
 
Segundo o Holanda (2013), as barreiras e acessos presentes na configuração dos 
espaços interferem no fluxo de pessoas e geram padrões de movimento. Para Saboya (2010), 
apoiado nos estudos de Hillier (1984), “a configuração da malha urbana”, por exemplo, “tem a 
propriedade de privilegiar alguns espaços em relação a outros, no que diz respeito ao movimento 
de passagem”, portanto, o traçado das vias seria o principal gerador desses padrões. 
Quanto à vitalidade dos espaços públicos, Tenório (2012) assume como pressupostos 
que: 
As características arquitetônicas dos espaços abertos de uso coletivo da cidade 
correlacionam-se a vitalidade deles, em termos de alta, variada, contínua presença de 
pessoas e atividades; A cidade é mais saudável na medida da intensa utilização dos 
espaços centrais públicos por pessoas que permanecem neles ou flanam através deles, 
não só os atravessam em direção a alvos específicos no interior de prédios (TENÓRIO, 
2012 apud HOLANDA, 2013, p. 125). 
 
Na pesquisa, o intuito é observar se o centro antigo é subutilizado ou sofre abandono, ao 
invés de ser aproveitado como forma de manutenção da vitalidade urbana. Acredita-se que a 
configuração espacial tem papel fundamental neste processo. Diante disso, o estudo procurará 
compreender os processos configuracionais que motivam ou desencorajam a ocupação de 
pessoas nos espaços públicos, como estratégia para criar mecanismos que aproveitem melhor o 
potencial de seus espaços e evitem o seu esvaziamento. 
METODOLOGIA 
A pesquisa baseia-se na Teoria da Lógica Social do Espaço ou Sintaxe Espacial. A 
Sintaxe Espacial foi proposta por Bill Hillier e Julienne Hanson na década de 70 e segundo 
Arrais (p. 23, 2015) “comporta uma reflexão sobre o conjunto de regras e princípios ordenadores 
do espaço urbano, de modo a explorar as relações entre espaço e sociedade.” 
Segundo a teoria, o sistema urbano é composto de barreiras e permeabilidades. Arrais 
(2015) afirma que esses elementos estruturadores da malha urbana se articulam e são 
interdependentes, de tal maneira que dependendo de como eles se associam podem favorecer ou 
não o fluxo de pessoas. 
A análise realizada na cidade de Uruaçu-GO concentrou-se no centro histórico da 
cidade, apresentado na figura 1. No estudo, as propriedades na configuração espacial que 
influem no fluxo de movimento de pessoas no centro são relevantes em razão da problemática 
 
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proposta. Neste caso, a Sintaxe Espacial é bastante útil por permitir interpretar esse movimento e 
quantificá-lo. Para tanto, a pesquisa utiliza-se de um conjunto de variáveis configuracionais (co-
presença, acessibilidade, visibilidade das edificações) e não configuracional (uso do solo). 
Aquelas de natureza configuracional são vinculadas à Sintaxe Espacial. Já o uso do solo, apesar 
de não se tratar de uma variável sintática, contribui para o entendimento das dinâmicas aqui 
exploradas, na medida em que permite demonstrar se determinado espaço possui potencial de 
vitalidade para o tipo de uso existente.Figura 1 - Delimitação da área analisada - centro antigo de Uruaçu 
CO-PRESENÇA 
A verificação do fluxo de movimento nos espaços de uso coletivo do centro foi 
realizada através do manual de Sintaxe Espacial, reescrito em 2001 por Laura Vaughan. Dentre 
os métodos sugeridos no manual, o selecionado utiliza portais para realizar a contagem de 
pedestres e carros nas vias, por um determinado intervalo de tempo. Para isso, como informa 
Barros (2014, p.121), deve-se: 
 
(a) Escolher as áreas de contagem que contemplem todos os tipos de sistemas viários 
(muito, moderado e fracamente utilizados), com pelo menos 25 portais (localizado por 
meio de uma linha imaginária de um lado ao outro da via); (b) traçar uma rota (com 
máximo de 2 horas totais) entre os portais que devem ser feitos em sentidos contrários 
de modo a equilibrar os fluxos e em pelo menos duas vezes a cada período; (c) as 
contagens devem ser realizadas em horários que se adéquem aos objetivos da pesquisa; 
(d) contar as pessoas entre 2,5 ou 5 minutos a depender da intensidade do fluxo da via; e 
(e) registrar as contagens com o detalhamento mais adequado a pesquisa. 
 
Na pesquisa, o método foi ajustado ao recorte territorial escolhido e foram estabelecidos 
dezesseis portais, distribuídos no percurso ilustrado na figura 2. Este trajeto foi estabelecido de 
modo a abranger as principais vias da região estudada. O período de contagem foi de cinco 
minutos para pedestres e veículos. No caso dos veículos, a contagem considerou todo veículo 
com rodas, inclusive bicicletas e carroças. 
 
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Figura 2 - Mapa com a demarcação dos portais. 
 
A contagem de indivíduos e veículos foi executada durante quatro dias da semana, em 
horários alternados. A escolha do período, de acordo com o objetivo estudado, levou-se em 
consideração os horários de pico da região, sendo que para o período da manhã adotou-se o 
intervalo entre 7:00h e 9:00h e para o período da tarde foi escolhido o intervalo entre 17:00h às 
19:00h. Os dias da semana em que foram colhidas as amostras do fluxo de pessoas e veículos 
foram segunda-feira, terça-feira, sábado e domingo. 
ACESSIBILIDADE 
No estudo, a acessibilidade é tratada duas maneiras: 1) pela forma do traçado das vias a 
partir do desenho da malha urbana; 2) através da análise visual dos passeios (calçadas). Para a 
avaliar o traçado urbano utilizou-se o mapa axial desenvolvido a partir de uma base cartográfica 
conhecida e atualizada. Conforme diz Medeiros (2013), a acessibilidade das vias é também 
proporcionada pela malha viária que pode promover ou restringir o movimento. Estudos 
realizados por Barros et al (2009) demonstram que o traçado regular da malha viária possui 
maior potencial de movimento, e portanto, maior acessibilidade, se comparado a malhas 
irregularidades como mostra a figura 3. 
 
 
Figura 3 - Mapa Axial de Pelotas – RS (em cima) e Salvador - BA (em baixo): 
as cores mais quentes representam áreas de maior potencial de movimento, e as frias, menos. 
Fonte: Barros et al, 2009. 
 
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Já a acessibilidade das calçadas foi avaliada através da observação de barreiras que 
impedem ou prejudicam o deslocamento das pessoas nos passeios. Segundo Arrais (2015, p.42) 
“entende-se por barreiras: níveis, escadas e elementos físicos que desautorizam os pedestres ou 
pessoas com algum tipo de necessidade especial a circular pelos espaços públicos.” A autora 
completa que “lugares que não são acessíveis tendem a reduzir o fluxo de movimento de pessoas 
e ocasionar espaços ociosos, a serem evitados, porque não são seguros para caminhar.” 
(ARRAIS, 2015, p.42) 
No planejamento urbano a acessibilidade também é uma preocupação constante que 
normalmente está ligada a questão de proporcionar condições a todas as pessoas, inclusive às 
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Condições estas que são comprometidas 
por fatores como galhos de árvores, lixo nas calçadas, falta de rampas, desnível nas calçadas, 
entre outros. 
Segundo a NBR 9050 de 2015, a acessibilidade é definida como sendo a possibilidade e 
condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com autonomia de edificações, 
espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos. 
Neste trabalho, observou-se a largura dos passeios e barreiras que impediam a 
acessibilidade das pessoas. Os pontos escolhidos foram os mesmos indicados para localização 
dos portais (ver item sobre co-presença e figura 2) e a análise foi realizada através de registros 
fotográficos em que considerou-se os pontos positivos e negativos de cada local. O intuito é 
verificar se o fluxo de movimento de pessoas sofre alterações importantes nas vias em que a 
acessibilidade é prejudicada. 
VISIBILIDADE DAS EDIFICAÇÕES 
A capacidade de enxergar o espaço exerce influência sobre o ato de mover-se por ele. 
Isso significa que a visibilidade e a acessibilidade estão conectadas, de forma complexa, podendo 
facilitar ou não alguns tipos de interação ou contato. “A visibilidade das edificações comerciais é 
alcançada por medidas como fachadas que se abrem para as ruas, com mais olhos, e menos 
ombros e costas, menos empenas cegas”. (ARRAIS, 2015, p.18). Dessa forma, espaços com 
maior visibilidade tendem a ser mais seguros, e para que isso ocorra é preciso que tenham mais 
portas que se abrem para as vias ou como, afirma Holanda (2013), que tenham “olhos” que 
exerçam uma vigilância natural sobre o espaço urbano. 
Intuitivamente as pessoas sentem-se mais inseguros em espaços que têm pouca 
visibilidade. Evitamos percorrer ruas com pouca ou nenhuma abertura (portas). A visibilidade 
pode ajudar a promover a apropriação do espaço público e reforçar a proximidade física. É fato 
que pessoas gostam de observar outras pessoas (GEHL, 2013), portanto, um lugar que tenha 
estímulos sonoros e visuais irá atrair uma diversidade de pessoas e atividades, proporcionando 
um ambiente com mais vitalidade. Como cita Gehl (2013, p.241), os lugares se classificam 
como: 
 
1) Ativo – 15 a 20 portas a cada 100m. 
2) Convidativo – 10 a 14 portas a cada 100m. 
3) Misto – 6 a 9 portas a cada 100m. 
4) Monótono – 2 a 5 portas a cada 100m. 
5) Inativo – 0 a 1 porta a cada 100m. 
 
No presente trabalho foi realizado a contagem de portas (aberturas nas edificações que 
se abrem para as vias) em ruas existentes dentro do perímetro estudado. Dentre outros aspectos, 
 
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o registro de quantidades de aberturas pretende verificar como a acessibilidade é influenciada 
pela visibilidade das edificações. 
USO DO SOLO 
O planejamento urbano tem como um de seus principais mecanismos de organização o 
uso e ocupação do solo. Ao observarmos suas atribuições, percebemos quão intrínseca é a sua 
relação com a configuração espacial, pois apesar de muitas das vezes os usos se implantarem 
após a configuração jáestar instalada, percebe-se que não raro eles se multiplicam, atraem novos 
usos e modificam as configurações de um determinado local. 
Na Sintaxe Espacial, os dados do uso do solo são sobrepostos com as variáveis 
configuracionais escolhidas, auxiliando na identificação de centros. 
Para executar a análise referente aos usos e realizar as correlações, os usos foram 
divididos em: Residencial, Misto (Comércio e Residência), Vazio/Garagem, 
Construção/Reforma Serviços/comercial, Institucional (Instituições Públicas e Privadas). 
Observou-se a composição e distribuição de usos ao longo de parte da via que se encontrava 
dentro perímetro de estudo. 
ANÁLISE: RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Este item explora o centro antigo da cidade de Uruaçu, localizada no região norte do 
Estado de Goiás. Segundo dados do IBGE de 2010, a cidade possui 36.929 habitantes e os 
municípios que a delimitam são: Campinorte, Hidrolina e Nova Iguaçu de Goiás. No ano de 
1931 recebeu emancipação política-administrativa e em 1953 foi denominada Uruaçu (pássaro-
grande em tupi-guarani). 
Após a realização de todas as observações e anotados os resultados obtidos, percebe-se 
que apesar de inicialmente o levantamento ser feito de forma independente para cada variável, é 
impossível analisá-las sem levar em consideração as outras, uma vez que todas sofrem 
interferência direta entre si. 
Para análise dos dados obtidos com a variável de co-presença foi realizada uma média 
entre os valores obtidos nas vias entre segunda e terça e sábado e domingo. Conforme expressões 
apresentadas a seguir: 
 
 
 
 
Onde: 
Qm1:Fluxo matutino no primeiro dia. 
Qm2: Fluxo matutino no segundo dia. 
Qt1:Fluxo vespertino no primeiro dia. 
Qt2: Fluxo vespertino no segundo dia. 
 
Os dados obtidos em campo são apresentados na tabela 1 a seguir. 
 
 
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Tabela 1 - Quantidade de Veículos e pedestres por hora na via. 
Tabela 1: Quantidade 
de Veículos e 
pedestres por hora na 
via. VIA 
Meio de semana Fim de semana 
Veículos Pedestres Veículos Pedestres 
Avenida Tocantins 607 107 1017 135 
Rua Goiás 101 13 117 18 
Avenida Pedro 
Ludovico 
95 7 93 3 
Avenida Araguaia 70 9 111 27 
Rua Goiânia 59 24 72 33 
Rua Santa Catarina 51 14 63 18 
Rua Quintino 
Bocaiuva 
48 4 48 9 
Rua Benedito 
Almeida Campos 
47 14 75 27 
Rua Leopoldo de 
Bulhões 
41 23 117 72 
Rua Bahia 30 22 27 9 
Rua Dona Cândida 20 6 33 15 
Rua Coronel 
Aristides 
17 9 48 39 
Rua Porto Nacional 16 10 33 15 
Rua Americano do 
Brasil 
14 6 30 9 
Rua Isabel F. de 
Carvalho 
12 4 18 6 
Rua Miracema do 
Norte 
7 5 18 0 
 
A contagem de portas – variável de visibilidade das edificações - considerou as mesmas 
vias descritas na análise de co-presença. A quantidade de aberturas existentes em cada eixo está 
indicada no gráfico 1. 
 
 
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Gráfico 1 - Número de portas (aberturas) a cada 100 m. 
 
Percebe-se pelos resultados encontrados que a Avenida Tocantins possui um maior 
fluxo de pessoas, e o mesmo ocorre com os achados para quantidade de portas, onde a avenida 
apresenta também maior número de aberturas se comparada com as outras vias analisadas. No 
trabalho, em campo, verifica-se que esta é uma avenida composta essencialmente por edificações 
comerciais, dado este que correlacionado com as diversas variáveis analisadas pode justificar o 
fluxo de movimento existente. 
A rua Bahia e a rua Sta. Catarina são as ruas com menor quantidade de portas. 
Nenhuma das vias analisadas apresentou fluxo monótono ou inativo, portanto, todas as ruas 
aparentam segurança ao transeunte. É possível perceber que a maior parte das ruas que 
obtiveram menor quantidade de transeuntes nos dados de co-presença foram também aquelas que 
menos possuíam aberturas voltadas para as ruas. Algumas ruas são dotadas de poucas portas ou 
janelas, servindo quase que exclusivamente como eixo de ligação entre uma via e outra. Dessa 
forma, o movimento é extremamente reduzido, principalmente em horários em que a iluminação 
natural deixa de fornecer a sensação de maior segurança. Locais assim, costumam ter pouco 
tráfego, pois as pessoas não possuem motivos suficientes para transitarem por estas ruas quando 
podem optar por lugares onde o conjunto edificado proporciona melhor visibilidade, com mais 
“olhos”. Uma vez que, a quantidade de pessoas transitando pelas ruas está diretamente ligada à 
vitalidade destas, pode-se dizer que quanto maior é o número de pessoas utilizando as vias, 
maior também será a vida urbana naquela parte da cidade. 
A figura 4 apresenta os mapas axiais da cidade de Uruaçu e do seu centro histórico. É 
possível observar - a partir das cores em tons mais avermelhados e quentes - que na área central 
antiga, a maioria das vias são bastante integradas se comparada a todo o sistema urbano. Na 
Sintaxe Espacial, vias mais integradas são eixos com grande potencial de acessibilidade. Neste 
sentido, quatro vias apresentam destaque perante as demais, como: as avenidas Tocantins e 
Pedro Ludovico e a rua Porto Nacional. 
 
0
5
10
15
20
25
30
35
7 8
13 15 15
16 16 16 17 17
19 20 20
23 24
35
Quantidade de portas a cada 100 m
 
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Figura 4 – Mapas axiais de Uruaçu: da cidade (à esquerda) e do centro histórico ( à direita) 
Observou-se também que apesar de algumas ruas possuírem um movimento de pessoas 
mais elevado ou terem maior potencial de fluxo pelo seu traçado, notou-se vários empecilhos 
como: lixo nas calçadas, galhos de árvores baixos, calçadas quebradas, dentre outros fatos que 
inviabilizam a locomoção e dificultam a acessibilidade. Foram encontrados inúmeros problemas 
de acessibilidade como: entulhos (barreiras) que impediam a circulação de pedestres (Figura 5); 
desnível nas calçadas, árvores que atrapalham a visibilidade e passeios estreitos (Figura 6). Nota-
se que as ruas, como um todo, não favorecem a mobilidade e tornam as calçadas de difícil acesso 
para pedestres e pessoas com necessidades especiais. A falta de conscientização da população, a 
fiscalização ineficiente do poder público, o descumprimento das normas do código de obras e 
posturas da cidade são elementos que contribuem e intensificam situações como essas. 
 
 
Figura 5 - Entulhos nas calçadas impedindo a circulação de pedestres, nas ruas Americano do Brasil (à 
esquerda) e Benedito de Almeida Campos (à direita). 
 
 
Figura 6 - Desnível entre calçadas e árvores que atrapalham a visibilidade, na rua Miracema do Norte (à 
esquerda) e passeios estreitos, menos que 1,20m, na rua Dona Cândida (à direita). 
 
Com os dados colhidos na análise de campo obteve-se a porcentagem da distribuição 
dos usos (Gráfico 2). Percebe-se que a região é predominantemente residencial. Os demais usos 
 
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possuem porcentagem baixas, inclusive o comercial. O uso comercial é bastante reduzido em 
grande parte do mapa - como mostra a figura 7 - e mais concentrado na avenida de maior fluxo. 
 
 
Gráfico 2 - Porcentagem de usos da região estudada. 
 
 
Figura 7 - Mapa com a distribuição dos usos. 
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
Usos do solo
Residencial Comercial Misto Em construção Vago Institucional
 
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CONCLUSÃO 
Ao realizar a análise do centro de Uruaçu, percebe-se diversos problemas, tais como: 
falta de acessibilidade, má distribuição dos usos, entre outros. Entretanto, apesar de ser uma área 
que aparentemente não teve planejamento – a partir de um plano diretor - a região apresenta 
relevante vitalidade. 
A maior parte dos problemas encontrados se deve principalmente à falta de fiscalização 
de obras e a presença lotes vagos, que influem na maneira como as pessoas ocupam os espaços 
públicos e que têm como maior prejuízo a acessibilidade das vias. A acessibilidade e a 
configuração da região são prejudicadas - dentre outros fatores - por árvores, rampas indevidas 
nos passeios, entulhos provenientes das casas e saturação de usos em determinadas localidades. 
Muitos dos problemas desta ordem podem ser minimizados ao realizar medidas efetivas de 
fiscalização urbana e programas de conscientização direcionados à população da cidade, pois a 
maioria dos moradores não tem sequer conhecimento das obrigações e normatizações que 
regulam a execução de edificações ou a manutenção do conjunto edificado existente. São 
intervenções importantes na medida em que beneficiam a acessibilidade das vias e possibilitam 
uma configuração espacial que motive as pessoas a ocupar os espaços públicos muitas vezes 
ociosos. 
A configuração espacial, especialmente nos centros, deve incentivar o fluxo de 
movimento, porque são áreas que dependem da circulação contínua de pessoas – no espaço e no 
tempo para manutenção de sua vitalidade. 
REFERÊNCIAS 
ABNT (2015) NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos 
urbanos. Associação Brasileiras de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ.
 
 
ARRAIS, J. S. S. Os espaços públicos em áreas centrais: configuração, vitalidade e 
infraestrutura ociosa no centro antigo de Goiânia. 2015. 191 f. Dissertação (Mestrado em 
Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 
Brasília, 2015. 
 
BARROS, A. P. B. G.; MEDEIROS, V. A. S.; MORAIS, M. P.. A configuração espacial para o 
diagnóstico dos assentamentos precários no Brasil. In: Associação Nacional de Pós-Graduação e 
Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), 2009, Caxambú, Anais, Caxambú-MG, 2009. p. 95 -
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BARROS, A. P. B. G. Diz-me como andas que te direi onde estás: inserção do as- pecto 
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