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O Príncipe FINAL

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O PRÍNCIPE, MAQUIAVEL
1. Introdução
A obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) trata, através de fatos históricos e algumas situações hipotéticas, de múltiplos reinados, suas variadas formas e como, em determinadas circunstâncias, o líder de cada reino deve agir para reverter situações, ou até mesmo evita-las, e, dessa forma, manter-se no poder. Maquiavel também menciona, ao longo de toda obra, duas qualidades que todo príncipe deve ter para que obtenha sucesso em suas campanhas, sendo elas virtù e fortuna.
2. Virtù e Fortuna
Virtù e fortuna, segundo Maquiavel, são qualidades imprescindíveis para qualquer governante digno. Acreditava que metade das ações de um príncipe são ditadas pela fortuna e, a outra, pela virtù. Um príncipe com virtù sabe agir propriamente de forma viril, toma decisões de sabiamente, além de ser maduro e atento. Quando perde, o príncipe pode apenas culpar a sua própria indolência, ou seja, a sua própria falta de virtude.
Por outro lado, a fortuna nada mais seria do que o acaso. Uma sorte favorável, ou em alguns casos desfavorável. Da fortuna o príncipe recebe nada mais que uma oportunidade para que, através de sua virtù, ele possa conquistar o poder e mantê-lo. Apesar de antagônicas, as duas forças trabalham juntas para que o príncipe consiga construir um legado, uma vez que ambas são essenciais para a vida política.
	Segue abaixo trechos retirados da obra que exemplificam o significado de virtù e fortuna:
“Aqueles que [...] fazem-se príncipes mercê das suas virtudes conquistam com dificuldade os seus principados, mas com facilidade os podem conservar”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 26).
“Certamente, as defesas só são boas, seguras e duráveis quando dependem de ti mesmo e de tua Virtù”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 
“[...] assim, fora necessário que Moisés encontrasse o povo de Israel escravizado e oprimido pelos egípcios para que este, buscando dar fim à sua servidão, dispusesse-se a segui-lo. ” (MAQUIAVEL, 1998, pág. 25).
2. Tipos de Principado
Através dos primeiros capítulos de “O Príncipe”, Maquiavel exemplifica os principais tipos de principado, usando de fatos históricos e contemporâneos para comentar a chegada ao poder em cada caso e esclarecendo ao príncipe como este deve agir para manter-se no poder. Os tipos de principado mencionados são: hereditários, mistos, conquistados mercê das próprias armas ou da virtude, conquistados pelas armas de outrem e pela fortuna, mercê de atrocidades, civil e eclesiásticos.
2.1 Principados mistos
Os principados mistos são aqueles conquistados a partir de um principado maior. Surgem a partir de alternâncias de governo ou de invasões.
	“Aquele que conquista [este tipo de Estado], querendo mantê-lo seu, deve atentar a duas coisas: uma, em extinguir a linhagem de seu antigo Príncipe; a outra, em não modificar nem as suas leis, nem os seus impostos, de sorte que, dentro de pouco tempo, [este novo Estado] constitua, com o principado antigo, um único e mesmo corpo”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 9).
Maquiavel ainda usa, no mesmo capítulo, uma das muitas empresas romanas para exemplificar o modo como o príncipe deve agir, ao conquistar tal principado, se este deseja mantê-lo:
	“Os romanos, nas províncias que tomaram, obedeceram fielmente a estes preceitos: colonizaram-nas, sustentaram os mais fracos sem permitir que o seu poder fosse ampliado, submeteram os poderosos locais e impediram que os poderosos estrangeiros nelas firmassem boa reputação. [...]. Os romanos, neste caso, fizeram aquilo que todos os príncipes prudentes devem fazer: cuidar não somente das desordens presentes, mas precaver-se das futuras, e empregar todo o seu talento a remediá-las, o que mais facilmente se fará se de longe forem previstas. Ao contrário, se esperares que elas se consumam, a droga chegará tarde demais porquanto o mal terá tornado-se incurável”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 12).
	2.2 Conquistado mercê das suas próprias armas ou da virtude
	Este caso refere-se exclusivamente aos príncipes que, independente da fortuna, chegam ao poder, contando apenas com suas próprias habilidades (virtù).
	“Calhara que Alba fosse pequena demais para Rômulo e que ele fosse abandonado ao nascer que deviesse o Rei de Roma e o fundador dessa pátria”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 26)
	“Aqueles que, como os que mencionei, fazem-se príncipes mercê das suas virtudes conquistam com dificuldade os seus principados, mas com facilidade os podem conservar”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 26)
2.3 Conquistado pelas armas de outrem e pela fortuna 
Neste caso, Maquiavel cita casos onde o príncipe chega ao poder, não por méritos próprios, mas através de outros.
	“Aqueles que, mercê simplesmente da fortuna, passam de simples cidadãos à condição de príncipes, é com pouca dificuldade que a alcançam, mas com muita que a mantêm”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 29)
	“Príncipes, estes só o são quando a eles um Estado é concedido, seja por um interesse pecuniário, seja pela boa graça de quem o concede. [...]. Ademais, Estados que surgem em pouco tempo, como todas as outras coisas da natureza que nascem e crescem rapidamente, não podem ter as suas raízes e as suas ramificações, de sorte que a primeira intempérie poderá arrasá-los”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 29)
3. Príncipe-modelo
Mais adiante na obra, Maquiavel opina sobre as qualidades que um príncipe deve ter para, após ter conquistado seu principado, conseguir mantê-lo de forma firme, sem deixar brechas para o inimigo tomar o que tão arduamente conquistou. Diferente de outros autores, Maquiavel não comenta somente o que deveria ser, mas de fato situações possíveis, prendendo-se ao mundo real e não a uma utopia.
	“Há, porém, uma tão grande distância entre o modo como se vive e o modo como se deveria viver, que aquele em detrimento do que se faz privilegia o que se deveria fazer mais aprende a cair em desgraça que a preservar a sua própria pessoa. [...]. Assim, é necessário a um príncipe que deseja manter-se príncipe aprender a não usar [apenas] a bondade, praticando-a ou não de acordo com as injunções”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 73)
	“A um príncipe, portanto, não é necessário que de fato possua todas as sobreditas qualidades; é necessário, porém, e muito, que ele pareça possui-las. Antes, ouso dizer que, possuindo-as e praticando-as sempre, elas redundam em prejuízo para si, ao passo que, simplesmente dando a impressão de possuí-las, as mesmas mostram toda a sua utilidade”. (MAQUIAVEL, 1998, pág. 86)
	“Um certo príncipe dos tempos atuais, o qual não convém nomear, jamais exalta em suas prédicas senão a paz e a boa fé, malgrado de uma e de outra seja ele um contumaz inimigo. Em realidade, houvesse desejado e usado a outra, este príncipe, por mais de uma vez, teria posto em risco a sua reputação e o seu poder” (MAQUIAVEL, 1998, pág. 87)
4. Conclusão
	Ao escrever “O Príncipe”, Maquiavel, destacando-se entre outros autores de sua época, tratou do Estado sob uma nova perspectiva. Ao invés de relatar sobre como cada principado deveria se portar, prendeu-se ao mundo do “como se vive”. Reinterpretando a questão da política, deixou de lado o modo utópico de olhar para o homem e escreveu sobre a verdadeira natureza humana. Juntando ao fato de que tudo deve ser construído pelo homem, inclusive meios de se evitar o caos, muitas vezes de forma violenta, uma vez que atributos negativos fazem parte da natureza humana tanto quanto os negativos.

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