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UNIDADE IV – Classificação dos contratos Os contratos agrupam-se em diversas categorias, as quais estão diretamente relacionadas com os seus pressupostos de validade e com as suas repercussões jurídicas. Para tal, será exposto a seguir, as diversas modalidades dessa classificação. 1. Quanto a qualidade dos sujeitos contratantes: contratos de direito comum e contratos de consumo; 2. Contratos de Direito Público e Contratos de Direito Privado; 3. Quanto ao momento do aperfeiçoamento do contrato: contratos consensuais e contratos reais; 4. Quanto à forma: contratos solenes e contratos não solenes; 5. Quanto à tipicidade (a determinação no código civil): contratos nominados e contratos inominados; contratos típicos e contratos atípicos; 6. Quanto as obrigações recíprocas: contratos unilaterais, contratos bilaterais e contratos plurilateriais; 7. Quanto ao sacrifício patrimonial das partes: contrato gratuito e contrato oneroso; 7.1. Os contratos onerosos classificam-se em: contratos onerosos comutativos, contratos oneroso aleatórios por natureza e contrato oneroso acidentalmente aleatório; 8. Quanto ao modo por que existem (quanto as relações recíprocas): contratos principais e contratos acessórios; 9. Quanto ao momento do seu cumprimento: contrato de execução imediata, contrato de execução diferida, contrato de execução continuada (execução sucessiva ou trato sucessivo); 10. Quanto a formação: contratos paritários, contratos de adesão e contratos-tipo. 1. Quanto a qualidade dos sujeitos contratantes 1.1. Contratos de direito comum: são regulados pelo direito civil. São considerados contratos paritários – as partes discutem livremente as condições porque se encontram em situação de igualdade (par a par). 1.2. Contratos de consumo: como o próprio diz, são contratos provenientes de uma relação de consumo – fornecimento de produto e/ou prestação de serviços – da qual fazem partes o fornecedor (art.3º do CDC) e o consumidor (art.2º do CDC). São regulados pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº8.078/90). 2. Contratos de Direito Público e Contratos de Direito Privado 2.1. Contratos de Direito Público: a Administração Pública figura em dos pólos da relação contratual. São os regidos pelas normas de direito público e, subsidiariamente, por normas de direito privado, no que não lhe for incompatível. Ex: contrato de obra pública. 2.2. Contratos de Direito Privado: são os travados entre particulares e regidos pelas normas de direito privado. Os contratos de direito privado podem ser de direito comum (ex: compra e venda) e mercantis (realizado entre empresários, ou seja, os contratantes realizam atividade empresarial). 3. Quanto ao momento do aperfeiçoamento do contrato 3.1. Contratos consensuais: são aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades das partes, independentemente da entrega da coisa. Logo são contratos em que a lei nada mais exige que o consentimento das partes. O direito civil brasileiro por adotar o princípio do consensualismo, determina que os contratos em regra sejam consensuais (Gonçalves, 2012, p.110). Ex: compra e venda de bens móveis, art. 482 do CC. 3.2. Contratos reais: são os que exigem, para se aperfeiçoar, além do consentimento das partes, a entrega da coisa, objeto do contrato (traditio rei). Ex: depósito (art.627 ao art.652 do CC), comodato (art.579 ao art.585 do CC), mútuo (art.586 ao art.592 do CC). A entrega da coisa não faz parte da fase executória do contrato, mas sim, da própria fase de constituição, de formação do contrato (Gonçalves, 2012, p.111). 4. Quanto a forma 4.1. Contratos solenes: os contratos para serem válidos devem obedecer a forma prescrita em lei. Nesse caso a forma é condição de validade do contrato, de modo que, não cumprida a forma determinada pela lei, o contrato será nulo (art.166, inc.IV do CC). Ex: art.108 do CC (Gonçalves, 2012, p.108). 4.2. Contratos não solenes: a lei não exige nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, seguindo, pois, o princípio da liberdade das formas. Dessa forma esses contratos se perfazem por meio de qualquer forma (verbal, de forma escrita por instrumento particular ou instrumento público), o que os fazem ser denominados de contratos de forma livre (Gonçalves, 2012, p.109). 5. Quanto a tipicidade (definidos pelo Código Civil) 5.1. Contratos nominados: são aqueles que têm designação própria. O CC designa vinte e três contratos nominados: compra e venda, troca, contrato estimatório, doação, locação de coisas, empréstimo, prestação de serviço, empreitada, sociedade, depósito, mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, transporte, constituição de renda, seguro, jogo, aposta, fiança, transação e compromisso (Gonçalves, 2012, p.114). 5.2. Contratos inominados: são, pois, os que não têm denominação própria. Por não terem nomes no ordenamento jurídico brasileiro, exige-se uma minuciosa especificação dos direitos e das obrigações de cada parte (Gonçalves, 2012, p.115). 5.3. Contratos típicos: são os regulados por lei. Como é determinado por lei, não requer muitas cláusulas. Vale ressaltar que, todo contrato nominado é típico e vice-versa (Gonçalves, 2012, p.115). 5.4. Contratos atípicos: suas características e requisitos definidores não são regulados por lei. Para que sejam válidos basta o consenso – princípio do consensualismo – entre as partes e que estas sejam capazes, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável e susceptível de apreciação econômica, art.425 do CC (Gonçalves, 2012, p.115). Ex: contratos eletrônicos. 6. Quanto as obrigações recíprocas 6.1. Contratos unilaterais: são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes. O que determina um contrato ser unilateral, não é o fato de ser formado por um contratante – haja vista o contrato ser formado com no mínimo duas pessoas – mas sim, o fato de gerar obrigação apenas para uma das partes. Ex: doação pura (Gonçalves, 2012, p.92). 6.2. Contratos bilaterais: são os que geram obrigações para ambos os contratantes. Ex: compra e venda. Esses contratos são também denominados de sinalagmáticos – sinalagma, palavra grega que indica reciprocidade de prestações (Gonçalves, 2012, p.92). OBS: o contrato bilateral imperfeito é uma espécie de contrato unilateral, uma vez que a obrigação gerada para outro contratante não nasce da avença, do acordo, que se dá durante a formação do contrato, mas sim, por um fato eventual durante a execução do mesmo. Ex: João doa um imóvel de forma pura e simples – sem encargos – para Paulo, seu amigo. Este para registrar o imóvel em seu nome paga os valores de IPTU em atraso. Assim, a obrigação posteriormente criada, não decorre da vontade contratual, mas da incidência da lei (Gonçalves, 2012, p.94). 6.3. Contratos plurilaterais: são os contratos que contém mais de duas partes. Uma de suas características é a rotatividade de seus membros. Ex: contrato de condomínio, em que cada condômino é uma parte. Cada parte tem obrigações não para com “uma” outra, mas para com “todas” as outras, ou seja, há direitos e obrigações recíprocos entre todos os sujeitos envolvidos no contrato (Gonçalves, 2012, p.9). 7. Quanto ao sacrifício patrimonial das partes 7.1. Contrato gratuito ou benéfico: é aquele em que há sacrifício patrimonial somente para uma das partes; a outra parte apenas aufere benefício ou vantagem. Nessa modalidade,outorgam-se vantagens a uma das partes sem exigir contraprestação da outra. Em geral é também unilateral. Ex: doação pura e simples (Gonçalves, 2012, p.95). 7.2. Contrato oneroso: ambas as partes obtém proveito correlato a um sacrifício patrimonial. Há assim, sacrifícios e benefícios recíprocos. Em geral é bilateral. Ex: compra e venda (Gonçalves, 2012, p.95). 7.2.1. Contrato oneroso comutativo: não há risco para as partes, uma vez que as prestações são certas e determinadas. As partes antevêem as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem. Logo o contrato comutativo é um contrato oneroso e bilateral, em que cada contraente, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar de imediato essa equivalência (Gonçalves, 2012, p.97). 7.2.2. Contrato oneroso aleatório por natureza: o vocábulo aleatório advém do latim alea, que significa sorte, risco, acaso. É um contrato bilateral e oneroso que PELO MENOS UM DOS CONTRATANTES não pode antever a vantagem ou desvantagem que terá em troca da prestação fornecida. Tem, portanto, como essência o risco, pois o ganho ou a perda consequente está na dependência de um acontecimento incerto para os contratantes. É o contrário do comutativo, pois, caracteriza-se pela incerteza das partes sobre as vantagens e sacrifícios que pode dele advir. A perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível. Ex: contratos de jogos, apostas. OBS: o contrato de seguro será comutativo para o beneficiário, pois, este o celebra sabendo desde já a sua vantagem, qual seja, se acobertar contra qualquer risco. No entanto, para a seguradora, este contrato será aleatório, uma que a sua obrigação, ou seja, o pagamento ou a indenização ao(s) beneficiado(s), dependerá de um fato eventual. 7.2.3. Contrato oneroso acidentalmente aleatório: são contratos tipicamente comutativos, mas que, em razão de certas circunstâncias, tornam-se aleatórios. Estes se subdividem em duas espécies: 7.2.3.1. Venda de coisas futuras: o risco pode referir-se a: a) a própria existência da coisa; b) a sua quantidade. a) Risco a própria existência da coisa (art.458 do CC): é a hipótese de emptio spei ou venda da esperança, isto é, da probabilidade de as coisas ou fatos existirem. É o caso em que o alienante terá direito a todo o preço da coisa mesmo que esta venha a não existir. Exemplo disto é a venda de colheita futura. Independente da safra existir ou não, o comprador deve pagá-la, assumindo assim, o risco da completa frustração da safra, salvo se o risco cumprir-se por dolo ou culpa do vendedor. b) Risco referente a quantidade maior ou menor da coisa esperada: é a hipótese de emptio rei speratae ou venda da coisa esperada (art.459 do CC). Refere-se aos casos de coisas futuras, quando o adquirente assume o risco de virem a existir em qualquer quantidade. O preço será devido ao alienante, ainda que a quantidade seja inferior à esperada. Tal sorte, neste caso, se vincula à quantidade e não a existência da coisa, como no artigo anterior e, o alienante não terá direito ao preço contratado se houver agido com dolo ou culpa (parágrafo único do art.459 do CC). Ex: venda de colheita futura quando a safra alcança quantidade inferior ou mínima. 7.2.3.2. Venda de coisas existentes, mas expostas a risco (art.460 e 461 do CC). Trata-se de contrato aleatório tendo por objeto coisas existentes, mas expostas a risco. O adquirente assume o risco de não receber a coisa adquirida, ou recebê-la parcialmente, ou ainda recebê-la de forma danificada, deteriorada, ou desvalorizada, pagando, entretanto, ao alienante todo o valor. Ex: João celebra contrato da safra de abacaxi com uma cooperativa de agricultores. Se durante o transporte houver uma greve na estrada que faz paralisar todos os caminhões e os abacaxis venham a perecer, terá mesmo assim que pagar o preço combinado. Desta forma, mesmo que a coisa resultado do objeto do contrato já não exista no todo ou em parte, o risco assumido obriga o adquirente ao pagamento do preço, com a exceção trazida pelo art. 461 do CC, em que o contrato poderá ser anulado, provando o adquirente e prejudicado, a conduta dolosa do alienante que, não ignorando o perecimento do bem em detrimento da consumação do risco, o aliena assim mesmo. 8. Quanto ao modo por que existem (quanto às relações recíprocas) 8.1. Contratos principais: são os que têm existência própria, autônoma e não dependem, pois, de qualquer outro. Ex: o contrato de compra e venda. 8.2. Contratos acessórios: são aqueles cuja existência encontra-se subordinada à do contrato principal. A finalidade dos contratos acessórios é garantir o cumprimento das obrigações contraídas no contrato principal. Tal finalidade enseja a aplicação do princípio da gravitação jurídica, ou seja, de que o acessório segue o destino do principal, de modo que, se nulo o contrato principal, nulo será também o negócio acessório, no entanto, a recíproca não é verdadeira, art.184 do CC. Ex: contrato de frança. 8.3. Contratos coligados: compreendem situação intermediária entre os contratos principais e os contratos acessórios. Eles se constituem de dois ou mais contratos principais, mas que, por vontade das partes, estão unidos por um nexo funcional. Assim, para que dois ou mais contratos conectem como coligados, um deles deve ser a causa do outro. Ex: contrato celebrado entre um distribuidor de petróleo e um dono de posto de combustível, uma vez que há o fornecimento de combustível, mas há também o arrendamento das bombas de combustíveis. Ex: um empreiteiro, proprietário de uma grande gleba de terra, vende esta propriedade a uma incorporadora. Ocorre que no ato desta venda, o empreiteiro oferece seus serviços para a incorporadora, a qual realiza com ele um contrato de empreita, com o objetivo de construir um edifício no local. (Ulhôa, 2012, p.162). OBS: O STJ tem entendido que, em sede de contratos coligados, o inadimplemento do contrato principal, não enseja, necessariamente, a resolução do contrato secundário, como ocorreria se fosse no contrato acessório, os quais obedecem ao princípio da gravitação jurídica. 9. Quanto ao momento do seu cumprimento – leva em consideração o momento em que os contratos devem ser cumpridos 9.1. Contrato de execução imediata, instantânea ou única: são aqueles que se consumem em só ato, sendo cumpridos imediatamente após a celebração. Cumprida a obrigação, exaurem-se. A solução se efetua de uma só vez e por prestação única. Ex: compra e venda à vista. 9.2. Contrato de execução diferida ou retardada: são os que devem ser cumpridos, executados, mas em um momento futuro. A prestação de uma das partes não se dá imediatamente após a formação do vínculo. Ex: compra e venda de um objeto cuja entrega se faz em determinada data. 9.3. Contrato de execução continuada, execução sucessiva ou trato sucessivo: são os que se cumprem por atos reiterados. Os pagamentos não geram a extinção da obrigação, mas sim a sua continuação. Caso típico é o contrato de locação, em que a prestação do aluguel não tem efeito liberatório, a não ser do débito correspondente ao período, visto que o contrato continua até atingir o seu termo. Outro exemplo: prestação permanente de serviços (água, luz e telefone). 10. Quanto à formação 10.1. Contratos paritários: são aqueles em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em situação de igualdade (par a par). Nesse tipo de contrato é comum a fase das negociações preliminares, onde aspartes discutem em pé de igualdade as condições do contrato. 10.2. Contratos de adesão: originaram-se da necessidade, de contratação em massa, a um número indeterminado e desconhecido de pessoas. Caracterizam-se pela preponderância da vontade de um dos contratantes, permitindo que elabore todas as cláusulas do contrato, o que impossibilita a liberalidade de negociação entre as partes, ou seja, o outro contratante adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modificá-las e nem tão pouco debatê-las: aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro. Assim, têm como características, a rigidez e a unilateralidade na elaboração das cláusulas do contrato. Ex: contratos celebrados com as concessionárias de serviço público (água, luz e telefone). Dessa forma não se permite a outra parte, qualquer alternativa de discussão, o que implica diretamente na restrição da sua autonomia da vontade. Essa constituição dos contratos, opõe-se à do contrato paritário, uma vez que nestes as partes discutem livremente, com a autonomia da vontade o conteúdo do mesmo. Em regra os contratos de adesão envolvem uma relação de consumo, sendo, portanto, disciplinados pelo CDC (art.54 do CDC). Vale ressaltar que tanto o CDC como o CC estipulam artigos que protegem o aderente, haja vista encontrar-se em uma situação de vulnerabilidade na relação contratual. O art.47 do CDC e o art.423 do CC estatuem que as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, ou seja, havendo dúvidas no contrato, a interpretação deve ser favorável ao aderente, pois quem estabelece as condições é o outro contratante, que tem a obrigação de ser claro e de evitar dúvidas. Já o art.424 do CC expressa que “nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”. Tal dispositivo visa proteger os direitos correlatos que na prática comercial são comumente excluídas por cláusulas padrão, como a de não-reparação pelos danos decorrentes de defeitos da coisa ou pela má prestação de serviços, a não-indenização por vícios redibitórios, evicção, etc. Como se tratam de cláusulas nulas, estas podem ser alegadas a qualquer tempo e serem decretadas de ofício pelo juiz, além de terem seus efeitos retroagidos no tempo (eficácia ex tunc). Vale ressaltar que a NULIDADE das cláusulas abusivas não implica na nulidade do contrato como um todo. 10.3. Contratos-tipo: é apresentado de forma pré-redigida por um dos contraentes, mas que, no entanto, admite-se discussão do seu conteúdo pela outra parte. Ex: os contratos bancários já vêm impressos, mas com espaços em branco no tocante a taxa de juros, prazo e condições de financiamento, a serem estabelecidos de comum acordo. 11. TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES Segundo Flávio Tartuce, os países que constituíram seu ordenamento jurídico sob os preceitos do direito romano germânico (civil-law), portanto, de um direito codificado, perpassa atualmente por um processo denominado de pluralismo normativo, pelo qual há descodificação das normas jurídicas e a impulsão de sistemas genéricos normativos (cláusulas gerais e princípios). Esse pluralismo normativo permite a vigência de várias normas jurídicas disciplinado mesmo fato jurídico, o que não raro dificulta para o operador do direito identificar e aplicar a norma jurídica ao caso concreto. Visando dá uma unidade ao ordenamento jurídico, é que surgiu a Teoria do Diálogo das Fontes, a qual foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme, professor da Universidade de Helderberg, e trazida ao Brasil por Claudia Lima Marques, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esta teoria se fundamenta na idéia de que o ordenamento jurídico é um todo unitário, de modo que as normas jurídicas, mesmo pertencendo a ramos jurídicos distintos, não se excluem, mas sim se complementam, superando, pois, a clássica teoria da antinomia das normas jurídicas de Norberto Bobbio, compreendida pelos critérios hierárquico, cronológico e da especialização. Assim, em havendo aplicação simultânea de duas leis, se uma lei servir de base conceitual para a outra, estará presente o diálogo sistemático de coerência. Como exemplo, os conceitos e as regras básicas relativas aos contratos de espécie podem ser retirados do Código Civil mesmo sendo um contrato de consumo. Tal premissa incide para a compra e venda, para a prestação de serviços, para a empreitada, para o transporte, para o seguro, entre outros. Como exemplo pode-se citar as cláusulas abusivas, que podem ser invocadas na proteção dos consumidores e que se fazem positivadas tanto no art. 51 do CDC, como no art. 424 do CC. Logo, conforme a teoria do diálogo das fontes, é possível a coexistência e a aplicação simultânea do Código de Defesa do Consumidor, do Código Civil de 2002, bem como da legislação especial em determinada relação contratual. A Teoria do Diálogo das Fontes ganhou impulso no ordenamento jurídico brasileiro com o julgamento da ADI n. 2.591, em 2006, que julgou constitucional a aplicação do CDC às atividades bancárias, que possuíam lei complementar disciplinadora. Em seu voto, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa concluiu: [...] entendo que o regramento do sistema financeiro e a disciplina do consumo e da defesa do consumidor podem perfeitamente conviver. Em muitos casos, o operador do direito irá deparar-se com fatos que conclamam a aplicação de normas tanto de uma como de outra área do conhecimento jurídico. Assim ocorre em razão dos diferentes aspectos que uma mesma realidade apresenta, fazendo com que ela possa amoldar-se aos âmbitos normativos de diferentes leis. (BRASIL, 2006).
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