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COMENTÁRIO NVI

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COMENTÁRIO
BÍBLICO NVI
A N T I G O E N O V O T E S T A M E N T O S
F.F. Bruce
O r g a n i z a d o r
Editor geral 
F. F. BRUCE
Comentário bíblico NVI
Antigo e Novo Testamentos
Tradução 
Valdemar Kroker
1. edição, 2008 
Ia reimpressão, 2009
is/
Vida
Vida
©1979, de Pickering & Inglis Ltd. 
Título do original
New International Bible Commentary 
edição publicada pela G ra n d R apids 
Uma divisão da Z o n dervan 
(Grand Rapids, Michigan, EUA)
Todos os direitos em língua portuguesa 
reservados por Editora Vida.
P roibida a r e pro d u ç ã o p o r quaisq u er m e io s , 
salvo e m breves citações , c o m in d ic a ç ã o da f o n t e .
Todas as citações bíblicas foram extraídas da 
Nova Versão Internacional (NV1),
©2001, publicada por Editora Vida, 
salvo indicação em contrário.
Todos os grifos são dos autores.
E d it o r a V ida 
Rua Júlio de Castilhos, 280 
CEP 03059-000 São Paulo, SP 
Tel: 0 xx 11 2618 7000 
Fax: 0 xx 11 2618 7044 
www.editoravida.com.br 
www.vidaacademica.net
Editor responsável: Sônia Freire Lula Almeida
Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago
Edição: Daniel de Oliveira
Revisão: Josemar de Souza Pinto
Assistente editorial: Alexandra Resende
Diagramação: Efanet Design
Capa: Arte Peniel
1. edição: 2008
I a reimpressão: mar. 2009
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bruce, F. F.
Com entário Bíblico N V I : Antigo e Novo Testamento / editor geral F. F. 
Bruce; tradução: Valdemar Kroker. — São Paulo : Editora Vida, 2008.
Título original: New International Bible commentary based on the NVI 
ISB N 978-85 -3 8 3 -0 0 8 5 -4
1. Bíblia. A.T. — Comentários 2. Bíblia. N.T. — Comentários I. Bruce, 
FFrederick Fyvie, 1910-1990.
C D D -2 2 1 .7
0 8 -0 8 6 3 6 -2 2 5 .7
índices para catálogo sistemático:
1. Antigo Testamento : Bíblia : Comentários 221.7 
1. Novo Testamento : Bíblia : Comentários 225.7
Sumário
Prefácios................................................................................................................ix
Lista dos colaboradores..................................................................................... xi
A breviações........................................................................................................ xiv
Livros e R evistas................................................................................................xv
Abreviações g e ra is ........................................................................................... xvi
P arte um : A rtigos gerais — O A ntigo T estamento
O Antigo Testam ento e o cristão - F. F. Bruce..............................................3
O texto do Antigo Testam ento - Alan R. M illard........................................14
As versões antigas - Robert P. G ordon...........................................................19
O cânon e os apócrifos - Gerald F. H aw thorne ........................................... 33
A arqueologia e o Antigo Testam ento - D. J. W isem an........................... 54
0 pano de fundo geral do Antigo Testam ento - J. M. H ouston ...............62
A teologia do Antigo Testam ento - H. L. E llison ...................................... 76
A interpretação do Antigo Testam ento - Harold H. R ow don..................93
Introdução ao Pentateuco - David J. A. C lin es ........................................... 109
Introdução aos livros históricos - L. O’B. David Featherstone............... 117
A cronologia do Antigo Testam ento - F. F. Bruce....................................123
Introdução aos livros poéticos - F. F. Bruce.............................................125
Introdução à literatura sapiencial - F. F. Bruce........................................131
Introdução aos livros proféticos - G. C. D. H owley....................................137
P arte dois: O A ntigo T estamento
Gênesis - H. L. Ellison; David F. P ayne.....................................................151
Êxodo - Robert P. G ordon..............................................................................205
Levítico - Robert P. Gordon...........................................................................261
Números - T . Carson....................................................................................... 295
Deuteronômio - Peter E. C ousins................................................................353
Josué - John P. U. L illey.................................................................................390
Juizes - Carl Edwin Arm erding.....................................................................422
Rute - Charles A. O xley..................................................................................465
1 e 2Samuel - Laurence E. Porter.................................................................475
1 e 2Reis - Charles G. M artin .........................................................................537
1 e 2Crônicas - J. Keir Howard...................................................................... 604
Esdras - Stephen S. S h o rt................................................................................668
Neemias - Stephen S. Short............................................................................680
Ester - John T . Bendor-Samuel..................................................................... 694
Jó - David J. A. C lines......................................................................................711
Sumário
Salmos - Leslie C. Allen; John W. Baigent................................................. 756
Provérbios - Charles G. M artin .................................................................... ..905
Eclesiastes - Donald C. Flem ing.................................................................. 957
Cântico dos Cânticos - R. W. O rr....................................................................973
Isaias - David F. Payne....................................................................................989
Jeremias - D. J. W iseman.............................................................................. 1059
Lamentações - W. O sborne.......................................................................... 1110
Ezequiel - F. F. B ru ce .................................................................................. 1119
Daniel - Alan R. M illard............................................................................... 1174
Oséias - G. J. Polkinghome ........ ..................................................................1209
Joel - Paul E. Leonard....................................................................................1228
Amós - J. Keir H ow ard ............................................. ..................................... 1239
Obadias - W. Ward G asque................................................... .................. ....1269
Jonas - Michael C. G riffiths.......................................................................... 1272
Miquéias - David J. C lark ............................... ..............................................1289
Naum - E. M. Blaiklock................................. ...............................................1303
Habacuque - Alan G. N u te ............................................................... ......... 1309
Sofonias - Victor A. S. R eid........................................................................... 1320
Ageu - F. Roy C oad........................................................................................ 1331
Zacarias - David J. E llis ................................................................................ 1337
Malaquias - W. Ward G asq u e ............................ .......................................... 1372
P arte três: A rtigos gerais — O N o v o T estamento
A autoridade do Novo Testam ento - G. C. D.
H ow ley ..................... ...1383
Texto e cânon do Novo Testam ento - David F. Payne........................1394
A língua do Novo Testam ento - David J. A. C lines...... ........................ 1403
Descobertas arqueológicas e o Novo Testamento -
Alan R. M illard.............................................................................. .............1413
O pano de fundo social do Novo Testam ento - J. M. H ouston............1422
O pano de fundo histórico-político e a cronologia do
Novo Testam ento - Harold H. Row don..............................................1438
O pano de fundo religioso do Novo Testam ento (pagão) -
Harold H. R ow don....................................................................................1451
O pano de fundo religioso do Novo Testam ento (judaico) -
H. L. Ellison............................................................................................... 1458
O desenvolvimento da doutrina no Novo Testam ento -
Walter L. L iefeld ..................................................................... .................1467
O evangelho quádruplo - F. F. B ru ce ........................................................1485
A igreja apostólica - F. Roy C oad ...............................................................1499
As cartas de Paulo - G. C. D. Howley.........................................................1515
As epístolas gerais - F. F. B ru ce ................................................................. 1530
O uso neotestamentário do Antigo Testam ento - David J. E llis ..... .1538
VI
Sumário
P arte quatro : O N o v o T estamento
Mateus - H. L. Ellison...................................................................................1553
Marcos - Stephen S. Short.............................................................................1602
Lucas - Laurence E. Porter.......................................................................... 1637
João - David J. E llis....................................................................................... 1702
Atos - Ernest H. Trenchard.......................................................................... 1753
Romanos - Leslie C. A llen .......................................................................... 1823
ICoríntios - Paul W. M arsh...........................................................................1868
2Coríntios - David J. A. C lines....................................................................1927
Gálatas - F. Roy C o ad ............................... ................................................... 1964
Efésios - George E. H arp u r......................................................................... 1983
Filipenses - H. C. H ew le tt.......................................................................... 2000
Colossenses - Ernest G. Ashby....................................................................2016
1 e 2Tessalonicenses - Peter E. C ousins................................................. 2029
1 e 2Timóteo / Tito - Alan G. N u te ..........................................................2046
Filemom - Ernest G. A shby........................................................................ 2082
Hebreus - Gerald F. H aw thorne.................................................................2085
Tiago - T . C arson .......................................................................................... 2130
IPedro - G. J. Polkinghorne........................................................................ 2153
2Pedro - David F. P ayne............................................................................. 2173
1, 2 e 3 João - R. W. O rr................................................................................. 2183
Judas - David F. P ayne.................................................................................2208
Apocalipse - F. F. B ruce...............................................................................2212
Mapas
N? Título Página N? Título Página
1 A divisa Israel-Judá 23 Distritos de Salomão............................. ......548
(IRs 15; 2Cr 13—16)................. 24 O Reino do N orte................................. ......563
2 Canaã dos patriarcas................... .................112 25 Invasões síria e assíria............................ ......584
3 A península do Sinai....................................260 26 A queda de Judá..................................... ......602
4 Jerico.............................................................394 27 O retomo à terra.................................... ..... 684
5 Ai e Betei.................................... .................400 28 A terra dos profetas............................... .... 1037
6 As cidades dos heveus................ .................401 29 O mundo dos profetas........................... ,... 1044
7 A campanha no su l.......................................402 3 0 As estradas principais na época dos romanos ... 1426
8 A campanha no norte................. .................404 31 A Palestina dos evangelhos....................... 1431
9 Palestina e Transjordânia.......... .................406 3 2 Asia Menor.................................................. 1433
10 O território oriental....................................407 33 As viagens de Paulo............................... .... 1434
11 Judá, a divisa ao norte................ .................408 34 O Oriente Médio nos tempos dos patriarcas ... 2261
12 Judá, a divisa ao sul......................................408 35 O êxodo e a conquista de Canaã.......... .... 2262
13 Judá ocidental............................. .................409 36 0 império de Davi e Salomão.............. .... 2263
14 Judá oriental............................... .................410 37 O reino dividido..................................... .... 2264
15 Efraim e Manassés.......................................411 3 8 A vida e o ministério de Jesus.............. .... 2265
16 Benjamim.................................... .................412 39 Primeira e segunda viagens missionárias
17 Simeão..........................................................413 de Paulo.................................................. .... 2266
18 D ã ................................................ .................414 40 Terceira viagem missionária de Paulo
19 Norte da Galiléia.........................................416 e viagem a Roma................................... .... 2267
20 Sul da Galiléia............................ .................417 4 1 0 Império Romano na época do
21 Guerras dos juizes........................................436 Novo Testamento................................. .... 2268
22 Ataques dos filisteus....................................488 42 Mapa físico da Terra Santa....................... 2269
M apa 1 — A divisa Israel-Judá (IR s 15; 2C r 13— 16)
viu
Prefácio à primeira edição
Este volume representa uma ampliação surgida a partir da publicação do A New 
Testament Commentary, em 1969. Cristãos evangélicos de todos os segmentos rece­
beram muito bem aquela obra, e houve muitos pedidos para que se publicasse um 
livro abrangendo a Bíblia toda.
Foi possível aumentar a nossa equipe inicial, e a presente obra é o resultado disso. 
Fomos encorajados pela reação daqueles que tão prontamente decidiram fazer parte 
do corpo de colaboradores. Uma alegria especial que experimentei é que quase todos 
os membros da equipe de autores estão ligados a mim por laços de amizade pessoal.
Desde quando saiu o volume anterior, passei por um período de grave enfermidade, 
que deixou sua marca, e não poderia ter assumido a responsabilidade de editor geral não 
fosse a ajuda e o conselho constantes do professor F. F. Bruce. Na parte do Novo Testa­
mento, o sr. H. L. Ellison atuou como editor consultor; na seção do Antigo Testamento, 
ele também prestou ajuda valiosa em uma série de questões, talvez especialmente
no seu 
trabalho editorial no livro de Números, além do seu artigo sobre a Teologia do Antigo 
Testamento e o seu comentário sobre Gênesis 1— 11.
Os estudos bíblicos nunca podem permanecer estáticos, pois a passagem do tempo 
traz nova luz sobre o texto, seja com referência a dados históricos ou a outros dados 
factuais em conseqüência de novas descobertas, seja por intermédio de percepções de 
estudiosos e outros que se aplicam a refletir sobre a Palavra de Deus. A atmosfera 
atual do pensamento teológico é tal que correntes muito diferentes são discerníveis, 
tanto liberais quanto conservadoras. O propósito deste comentário é fornecer uma 
base para a exegese das Escrituras que procura estar atualizada. A natureza da obra evita 
a ênfase em aspectos devocionais ou exortativos; antes, ocupa-se em fazer um exame 
detalhado do texto como tal. Embora a perspectiva seja conservadora, não será (assim 
esperamos) obscurantista. Queremos colocar nas mãos de cristãos de todas as cor­
rentes e denominações uma obra que esteja assentada sobre a crença histórica e orto­
doxa na autoridade das Escrituras Sagradas.
Procuramos evitar ser meramente acadêmicos; nosso objetivo é atrair a atenção 
tanto dos que não são experts em teologia como daqueles que têm uma formação mais 
ampla e percepções mais profundas nesse campo de estudo. Embora tenhamos tentado 
nos atua-lizar em todo o material, é compreensível que em algumas questões talvez 
nunca se alcancem as conclusões definitivas, em virtude de novos fatores que surgem 
de tempos em tempos. Os artigos que precedem cada seção do comentário cobrem 
um amplo leque de assuntos, e esperamos que se mostrem tão valiosos como acrés­
cimos à obra quanto o foram os artigos incluídos no A New Testament Commentary.
Convidamos colaboradores de diferentes ramos da igreja cristã, que não se limi­
tam a nenhum grupo ou denominação. Eles demonstram uma atitude objetiva e
Prefácios
positiva no seu trabalho, com liberdade para expressar suas idéias com relação aos 
assuntos que estão tratando, sem nenhuma tentativa de forçar suas contribuições 
para que caibam em um molde comum e uniforme.
A Revised Standard Yersion da Bíblia foi usada como texto-base, e expressamos 
nossa gratidão ao Concílio Nacional das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos pela 
permissão para usarmos esse texto. Como no volume anterior, lançamos esta obra 
com oração pela bênção de Deus sobre ela e sobre todos os que consultarem suas 
páginas ou refletirem sobre seu conteúdo para a edificação e fortalecimento da sua 
vida espiritual.
G. C. D. Howley
Prefácio à segunda edição
A característica marcante desta nova edição do Bible Commentary for Today é a 
substituição da Revised Standard Version (Versão Revisada Padrão) pela New 
International Version (Nova Versão Internacional) como texto-base. Aproveitamos 
a oportunidade para fazer algumas correções e atualizações menores, especialmente 
nas bibliografias.
Além do falecido sr. Andrew Gray, cujo trabalho em adaptar o comentário à 
New International Version é reconhecido a seguir, o dr. Robert P. Gordon e o 
sr. David G. Deboys fizeram contribuições muito valiosas no preparo desta edição.
Desde que a primeira edição foi publicada em 1979, dois membros da equipe 
editorial faleceram — sr. G. C. D. Howley e sr. H. L. Ellison. Esses dois homens 
investiram muito tempo de trabalho árduo neste Comentário, especialmente o 
sr. Howley, editor-chefe, para quem esta obra se torna um monumento digno e 
permanente.
E E Bruce
Dedicado ao falecido sr. Andrew Gray D.S.C., 
M.A., que dedicou muitas horas 
ao preparo desta nova edição.
Lista de colaboradores
L e s l ie C. A l l e n , M .A ., Ph.D., professor de Antigo Testam ento no Fuller 
Theological Seminary, Pasadena, California, E U A . Salmos, Romanos.
C a rl E d w in A r m e r d in g , B.C., Ph.D., reitor e professor de Antigo T esta­
mento no Regent College, Vancouver, B.C., Canadá. Juizes.
E r n e s t G. Ashby, B .A ., B .D ., M .A ., A .K .C ., ex-diretor de Educação Reli­
giosa na Tottenham Grammar School (antiga T h e Somerset School). 
Colossenses, Filemom.
J o h n W. Ba ig e n t , B.D., A.R.C.O., professor de Bíblia, pastor e conferencista 
em convenções, ex-professor sênior e diretor de Estudos Religiosos no 
W est London Institute of Higher Education. Salmos.
J o h n T . B e n d o r -S a m u e l , M.A., Ph.D ., v ic e - p r e s id e n t e e x e c u t iv o n o 
W y cliffe B ib le T ra n s la to rs a n d S u m m e r I n s t i tu te o f L in g u is tic s . Ester.
E. M. B la ik lo ck (já falecido), O .B .E ., M.A., Litt.D., professor emérito de 
Estudos Clássicos na Auckland University, Nova Zelândia. Naum.
F . F . B r u c e , MA., D.D., F .B .A ., professor emérito de Crítica Bíblica e 
Exegese na Universidade de Manchester. 0 Antigo Testamento e o cris­
tão, A cronologia do Antigo Testamento, Introdução aos livros poéticos/à 
literatura sapiential, Ezequiel, 0 evangelho quádruplo, As epístolas gerais, 
Apocalipse.
T . C arso n , M.A., Dip.Ed, editor da Australian Missionary Tidings. Números, 
Tiago.
D avid J. C lark , M.A., B .D ., P h .D ., A.L.B.C., consultor de tradução na United 
Bible Societies, Port Moresby, Papua, Nova Guiné. Miquêias.
D avid J. A. C l in e s , M.A., professor de Estudos Bíblicos na Universidade 
de Sheffield. Jó, 2Coríntios, Introdução ao Pentateuco, A lingua do Novo 
Testamento.
F . R oy C oad , F .C .A ., autor e ex-editor da The Harvester. Ageu, Gálatas, A igreja 
apostólica.
P e t e r E. C o usin s , M.A., B.D., diretor editorial em T he Paternoster Press, 
Exeter, ex-professor titular de Estudos Religiosos no Gipsy Hill College, 
Kingston-upon-Thames. Deuteronômio, 1 e 2Tessalonicenses.
D avid J. E l l is , B .D ., M.Th., ministro da American Community Church, 
Cobham, Surrey, Inglaterra, ex-professor titular e diretor de Estudos 
Religiosos no T ren t Park College, Cockfosters. Zacarias, Evangelho de 
João, 0 uso neotestamentário do Antigo Testamento.
H. L. E l l is o n (já falecido), B.A, B.D., escritor, ex-missionário e conferen­
cista no Bible College. Gênesis, Evangelho de Mateus, A teologia do Antigo 
Testamento, 0 pano de fundo religioso do Novo Testamento (judaico).
L. O ’B. D avid F e a t h e r s t o n e , M.A., diretor do Departamento de Estudos 
Religiosos na Godolphin and Latymer School, Londres. Introdução aos 
livros históricos.
Lista de Colaboradores
D o n a ld C. F l e m in g ; L.Th., escritor, professor de Bíblia na Austrália, mis­
sionário na Tailândia. Eclesiastes.
W . W ard G a sque , B.A., B.D., M.Th., Ph.D., vice-reitor e professor de Estu­
dos do Novo Testamento no Regent College, Vancouver, B.C., Canadá. 
Obadias, Malaquias.
R o b e r t P. G o r d o n , M.A., Ph.D., professor de Divindade na Universidade 
de Cambridge. Êxodo, Levítico, A? versões antigas.
M ic h a e l C. G r if f it h s , M.A., D.D., escritor, missionário no Japão, diretor 
geral da Overseas Missionary Fellowship e atual reitor do London Bible 
College. Jonas.
G e o r g e E. H a r pu r , professor de Bíblia e conferencista em convenções. 
Efésios.
G er a ld F. H a w t h o r n e , B.A., M.A., B.Th., Ph.D., professor de grego no 
Wheaton College, Wheaton, Illinois, EUA. 0 cânon e os apócrifos, Hebreus.
H . C. H e w l e t t (já falecido), professor de Bíblia e conferencista na Nova 
Zelândia. Filipenses.
J. M. H o u s t o n , M.A., B.Sc., D.Phil., ex-chanceler do Regent College, Van­
couver, B. C., Canadá. O pano de fundo social do Antigo Testamento, 0 
pano de fundo social do Novo Testamento.
J. K e ir H o w a rd , M.D., B.D., M .Th., M.C.C.M. (N.Z.), M .F.O.M., D .I .H ., 
ministro batista. Ex-professor sênior de Medicina Ocupacional na Uni­
versidade de Otago, Nova Zelândia. Professor de Bíblia. 1 e 2Crdni- 
cas, Amós.
G. C. D. H ow ley (já
falecido), professor de Bíblia, conferencista, ex-editor 
da T h e Witness. Introdução aos livros proféticos, A autoridade do Novo 
Testamento, As epistolas de Paulo.
P aul E. L e o n a r d , B.Sc., M.Th., Ph.D., ex-professor adjunto de Novo T es­
tam ento na T rinity Evangelical Divinity School. D eerfield, Illinois, 
USA. Joel.
W a l t e r L . L ie f e l d , Th.B, M.A., Ph.D., professor de Novo Testam ento na 
Trinity Evangelical Divinity School, Deerfield, Illinois, USA. 0 desen­
volvimento da doutrina no Novo Testamento.
J o h n P. U. L il l e y , M.A., F.C.A., A.T.I.I., revisor contábil. Josué.
P a u l W. M a r sh , B.D., consultor bíblico da Scripture Union, Londres. 
ICorintios.
C h a r l es G. M a r t in , B.Sc. B.D., diretor do Bilborough College, Nottingham.
I e 2Reis, Provérbios.
A la n R. M il l a r d , M.A., M.Phil., F.S.A., versado em línguas semíticas an­
tigas e hebraico na Universidade de Liverpool. Daniel, 0 texto do Antigo 
Testamento, Descobertas arqueológicas e o Novo Testamento.
A lan G. N u t e , professor de Bíblia e conferencista. Habacuque, 1 e 2Timóteo, 
Tito.
R. W. O r r , Ph.C., D.B.A., missionário e professor de Bíblia. Cântico dos 
Cânticos, 1, 2 e 3João.
xii
Lista de Colaboradores
W. O s b o r n e , M.A., M .Phil., professor de Antigo Testam ento no Bible 
College of New Zealand, Auckland. Lamentações.
C h a r l e s A. O x l e y , M .A ., A .C .P., diretor do Tow er College, Rainhill; 
Scarisbrick Hall School, Hamilton College e Liverpool Bible College. 
Rute.
D avid F. P ayne, B.A., M.A, oficial de registro no London Bible College.
Genesis, Isat'as, 2Pedro, Judas, Texto e cânon do Novo Testamento.
G. J. P o l k in g h o r n e , Dip.Th., funcionário público aposentado, editor asso­
ciado da Harvester e professor de Bíblia. Oséias, IPedro.
L a u r e n c e E. P o r t e r (já falecido), B.A., diretor e professor no Bible College.
1 e 2Samuel, Evangelho de Lucas.
V ic t o r A. S. R e id , B.D., A.L.B.C., Diretor do Belfast Bible College. Sofonias. 
H a ro ld H . R o w d o n , B.A., Ph.D., professor sênior de História da Igreja e 
assistente residente sênior no London Bible College. A interpretação do 
Antigo Testamento, 0 pano de fundo histórico-político do Novo Testamento, 
0 pano de fundo religioso do Novo Testamento (pagão).
STEPHENS. S h o r t , M.B., Ch.B., M.R.C.S., L.R.C.P., B.D., A.L.B.C., profes­
sor de Bíblia e conferencista. Esdras, Neemias, Evangelho de Marcos. 
E r n e s t H. T r e n c h a r d (já falecido), B.A., A.C.P., ex-diretor de Literatura 
Bíblica, Madri, missionário e escritor. Atos dos Apóstolos.
D. J. W isem a n , O.B.E., M.A., D.Lit., A.K.C., F.B.A., F.K.C., F.S.A., profes­
sor emérito de Assiriologia na Universidade de Londres. Jeremias, A 
arqueologia e o Antigo Testamento.
Abreviações
A n t ig o T e s t a m e n t o Novo T e s t a m e n t o
Gn Gênesis Mt Mateus
Êx Êxodo Mc Marcos
Lv Levítico Lc Lucas
N m Núm eros Jo João
Dt D euteronôm io At Atos
Js Josué Rm Romanos
Jz Juizes IC o lCoríntios
Rt Rute 2Co 2Coríntios
ISm ISam uel G1 Gálatas
2Sm 2Samuel Ef Efésios
lR s IReis Fp Filipenses
2Rs 2Reis Cl Colossenses
lC r lCrônicas lT s lT essalonicenses
2Cr 2Crônicas 2Ts 2T essalonicenses
Ed Esdras lT m lT im ó teo
N e N eem ias 2Tm 2T im óteo
Et Ester T t T ito
Jó Jó Fm Filem om
SI Salmos Hb Hebreus
Pv Provérbios T g T iago
Ec Eclesiastes IP e IPedro
Gt Cântico dos Cânticos 2Pe 2Pedro
Is Isaías IJo ljo ão
Jr Jerem ias 2Jo 2João
Lm Lam entações 3Jo 3João
de Jeremias Jd Judas
Ez Ezequiel Ap Apocalipse
Dn D aniel
Os Oséias
J1 Joel
Am Amos
Ob Obadias
Jn Jonas
Mq M iquéias
N a N aum
Hc H abacuque
Sf Sofonias
Ag Ageu
Zc Zacarias
Ml Malaquias
xiv
Livros e revistas
ALUOS Annual of the Leeds University JTVI Journal of the Transactions of the Victoria
Oriental Society Institute
ANEP Pritchard, Ancient Near East in Pictures LA (Livro da) Aliança de Damasco
ANET Pritchard, Ancient Near Eastern Texts LOB Aharoni, The Land of the Bible
Ant. Josefo, Antiquities of the Jews MBA Macmillan Bible Atlas
AOOT K. A. Kitchen, Ancient Orient and Old NBC New Bible Commentary, 1953
Testament, 1966 NBC3 Newi Bible Commentary
BA Biblical Archaeologist Revised, 1970
BASOR Bulletin of the American Schools of NBCR New Bible Commentary
Oriental Research Revised, 1970
BDB Brown, Driver, Briggs, Hebrew Lexicon NBD New Bible Dictionary
BJRL Bulletin of the John Ry lands Library NCB New Clarendon Bible
BKAT Biblischer Kommentar zum Alten NCentB New Century Bible
Testament NICNT New International Commentary
BZAW Beiheft zur Zeitschrift für die on the New Testament
alttestamentliche Wissenschaft NICOT New International Commentary
CB The Cambridge Bible on the Old Testament
CBC Cambridge Bible Commentary NLC New London Commentary
CBQ Catholic Biblical Quarterly NTC G. C. D. Howley, ed., A New
CBSC Cambridge Bible for Schools and Colleges Testament Commentary, 1969
CH Código de Hamurabi OIL Old Testament Library
CHB The Cambridge History of the Bible PCB Peake’s Commentary on the Bible, ed.
DBT Leon-Dufour, ed., Dictionary of Biblical rev., 1962
Theology, 1973 PEQ Palestine Exploration Quarterly
DOTT D. W. Thomas, ed., Documents from RB Revue Biblique
Old Testament Times SBT Studies in Biblical Theology
EAEHL Avi-Yonah, ed., Encyclopaedia of SJT Scottish Journal of Theology
Archaeological Excavations in the Holy SVT Supplements to Vetus Testamentum
Land, 1976 TB Tyndale Bulletin
EB Expositor’s Bible TB Talmude Babilônico
EBT J. B. Bauer, ed., Encyclopaedia of TC Torch Commentary
Biblical Theology, 1970 TDNT Kittel, Theological Dictionary
EQ Evangelical Quarterly of the New Testament
HDB J. Hastings, ed., Dictionary of the Bible TDOT Botterweck & Ringgren, Theological
IB The Interpreter’s Bible Dictionary of the Old Testatnent
ICC International Critical Commentary Th.Rv. Theologische Revue
IDB The Interpreter’s Dictionary of the Bible TOTC Tyndale Old Testament Commentary
IEJ Israel Exploration Journal Tyn.B. Tyndale Bulletin
ISBE The International Standard Bible UT Gordon, Ugaritic Textbook
Encyclopedia VT Vetus Testamentum
JBL Journal of Biblical Literature WC Westminster Commentaries
JBR Journal of Bible and Religion WBC Wycliffe Bible Commentary
JJS Journal of Jewish Studies WTJ Westminster Theological Journal
JNES Journal of Near Eastern Studies ZAW Zeitschrift fü r die alttestamentliche
JPOS Journal of the Palestine Oriental Society Wissenschaft
JSS Journal of Semitic Studies ZPEB The Zondervan Pictorial Encyclopedia
JTS Journal of Theological Studies of the Bible
XV
Abreviações gerais
AB Anchor Bible LXX Septuaginta
ad loc. no lugar referido m. morreu (em)
Aq. tradução grega do Antigo mg. margem
Testam ento de Aquila MS(S) manuscrito(s)
ARA Almeida Revista e Atualizada n. nota
aram. aramaico NAB T h e New American Bible
ARG Almeida Revista e Corrigida NASB New American Standard Bible
art. artigo N EB New English Bible
art. cit no artigo citado NIV T he New International Version
BJ Bíblia de Jerusalém nr. nota de rodapé
c. por volta de (época, tempo) NVI Nova Versão Internacional
cap(s). capítulo(s) op. cit. na obra citada acima
cf. confira p- página(s)
com. com entário p i­ plural
comp. compare p s Pentateuco Samaritano
cont. continuação q.v. queira ver
contra ao contrário de RSV Revised Standard Version
cor. correção RV Revised Version
cp. compare ss e seguintes
ct. contraste com sam. samaritano
e.g. por exemplo scil. ou seja
ed. editor (ou editado), edição sec. século
esp. especialm ente sim. Símaco
GNB Good News Bible (Linguagem sir. Siríaco
de Hoje em inglês) s.v. sob a palavra (vocábulo)
gr- grego T.I. tradução inglesa
heb. hebraico targ. targum
ibid. no mesmo livro (ou passagem) TM T exto Massorético
in loc. no lugar citado trad. traduzido ou tradução
infra abaixo V . versículo, versículos (ou
ver)
JB Jerusalem Bible V.I. versão(ões) inglesa(s)
lat. latim VA Versão Autorizada
lit. literalm ente viz. ou seja
loc. cit. na passagem já citada Vulg. Vulgata
Parte 1
Artigos Gerais 
O Antigo Testamento
Parte 1
Artigos Gerais 
O Antigo Testamento
O Antigo Testamento e o cristão
F. F. BRUCE
O ANTIGO TESTAMENTO NA IGREJA
Além do seu status de Escritura sagrada, o 
AT é uma obra literária das mais interessan­
tes e valiosas por si só, um objeto digno de 
estudos intensos e constantes. Posto na sua 
perspectiva histórica e interpretado corre­
tamente, ele se constitui em fonte primária 
indispensável para uma fase importante da 
história — especialmente a história religiosa
— do Antigo Oriente Médio. Parte do seu 
conteúdo é do mais elevado nível literário, e 
muito desse conteúdo ainda gera reações de 
apreciação espiritual no leitor e proporcio­
na-lhe um meio de expressar as aspirações 
mais profundas da sua própria alma. Tudo isso 
vale tanto para leitores cristãos quanto para 
os outros, mas os cristãos têm de considerar 
ainda o seu status como parte das Escrituras 
Sagradas da igreja cristã.
O AT está investido de autoridade espe­
cial como Escritura sagrada não só para cris­
tãos, mas também para judeus e muçulmanos. 
Na ortodoxia judaica, a Bíblia hebraica, que 
contém a Lei, os Profetas e os Escritos, é toda 
a Palavra de Deus. A sua interpretação é regu­
lamentada pela tradição e, por motivos po­
lêm icos ou apologéticos, a tradição tem 
recebido algumas vezes status equivalente 
ao do texto, mas tanto em princípio como 
de fato o texto escrito tem prioridade e é 
normativo. No islamismo, o tawrat (as Escri­
turas judaicas), e o injil (as Escrituras cristãs) 
registram a revelação de Deus dada por meio 
de profetas anteriores, que seria então final­
m ente reiterada e confirmada na revelação 
dada por meio de Maomé e registrada por 
escrito no Alcorão.
Já na igreja cristã, o AT é reconhecido tra­
dicionalmente como o texto que registra os 
estágios iniciais desse processo contínuo de 
revelação divina e de resposta humana, que 
teve seu cumprimento em Cristo, sendo o N T 
o registro desse cumprimento. Se o que Deus 
falou a nossos antepassados por meio dos pro­
fetas, muitas vezes e de muitas maneiras, está 
preservado no AT, o N T, por sua vez, nos conta 
que “nestes últimos dias falou-nos por meio 
do Filho” (Hb 1.12). Mas, se colocarmos a 
questão dessa maneira, poderemos negligen­
ciar o fato de que nas primeiras gerações da 
sua existência a única Bíblia da igreja cristã 
era o AT, e ela se deu muito bem tendo so­
mente o AT. Quando nosso Senhor afirma que 
“são as Escrituras que testem unham a meu 
respeito” (Jo 5.39), ele está se referindo às 
Escrituras do AT. Quando é dito a Timóteo 
que “toda Escritura é inspirada por Deus”, a 
referência é àqueles escritos sagrados com que 
Timóteo estava familiarizado desde a infân­
cia — ou seja, os escritos do AT (a propósito, na 
versão LXX). Timóteo é lembrado que esses 
são os escritos “que são capazes de torná-lo 
sábio para a salvação mediante a fé em Cristo 
Jesus” e que proporcionam uma instrução 
abrangente e completa “para que o homem 
de Deus seja apto e plenam ente preparado 
para toda boa obra” (2Tm 3.15-17). Era do 
AT que os primeiros pregadores cristãos, se­
guindo o exemplo do seu Mestre, extraíam 
seus textos; e o faziam de maneira formal e 
expressa quando se dirigiam a audiências 
judaicas e de maneira implícita quando pre­
gavam aos gentios. Assim como Jesus afir­
mou que não viera abolir a Lei e os Profetas,
3
O Antigo Testam ento e o cristão
mas para cumpri-los (M t 5.17), Paulo tam­
bém afirma que a Lei e os Profetas testem u­
nham do evangelho da justificação pela fé
(Rm 3.21,22).
Mesmo já quase na metade do segundo 
século da era cristã, os escritos do AT ainda 
desfrutavam dessa dignidade única. Tem-se 
comentado muitas vezes quão expressivo é 
o número de pagãos cultos do século II, como 
Justino Mártir e seu discípulo Taciano, que 
se converteram ao cristianism o — e eles 
mesmos dão testem unho disso — por meio 
da leitura do AT grego. Nessa época, natu­
ralm ente, a maioria dos docum entos que 
constituem o N T já existia e circulava havia 
décadas, mas ainda não tinha recebido acei­
tação geral como uma coleção de escritos do 
mesmo nível que o AT, como sendo o vo­
lume do cumprimento ao lado do volume da 
promessa.
No entanto, quando falamos desse status 
singular do AT na igreja primitiva, estamos 
falando do AT interpretado e cumprido por 
Jesus. A igreja e a sinagoga compartilhavam 
do mesmo texto sagrado (faz pouca diferen­
ça se, em algumas regiões de fala grega, o 
cânon da igreja era ligeiramente mais abran­
gen te do que o cânon da sinagoga), mas 
o texto era com preendido de formas tão 
diversas pela igreja e pela sinagoga que po­
deria até parecer que estivessem usando 
duas Bíblias diferentes. Em vão, Justino ten ­
ta convencer Trifo, no seu Diálogo com o 
judeu Trifo, da verdade do cristianismo, re­
correndo às Escrituras que ambos reconhe­
cem com o d iv inas: o apelo de Ju s tin o 
pressupõe uma interpretação que Trifo não 
consegue aceitar.
Essa interpretação pode ser resumida na 
afirmação de que Cristo e o evangelho são o 
tema do AT. “Todos os profetas dão teste­
m unho dele, de que todo o que nele crê 
recebe o perdão dos pecados m ediante o 
seu nom e” (At 10.43). Os profetas podem 
até ter investigado e examinado cuidado­
sam ente as Escrituras “procurando saber o 
tempo e as circunstâncias para os quais apon­
tava o Espírito de Cristo que neles estava”
4
(IPe 1.10,11), mas as pessoas que testem u­
nharam os eventos da salvação não precisa­
ram de tal investigação ou exam e; elas 
sabiam. A pessoa era Jesus; a época era ago­
ra. Essa compreensão do AT permeia de for­
ma tão ampla e completa os escritos do N T 
que ela certamente vai além desses escritos 
até o próprio Jesus, e este é, de fato, o teste­
munho dos Evangelhos e de todas as cama­
das da tradição que podem ser identificadas 
na sua base. O anúncio das boas-novas aos po­
bres, que de acordo com os profetas do AT 
caracterizava a proclamação do ano da bon­
dade do Senhor (Is 61.1,2), é apresentado por 
Jesus como a essência do seu próprio ministé­
rio: “Hoje”, ele disse, “se cumpriu a Escritura 
que vocês acabaram de ouvir” (Lc 4.18-21; cf. 
7.22). E le deixou bem claro que isso fazia 
parte do advento desse reino que, de acordo 
com outro autor do AT, o Deus dos céus esta­
beleceria em dias futuros (D n 2.44; 7.14,
22,27). Ele parabenizou seus discípulos por­
que eles viviam numa época em que podiam 
experimentar coisas que profetas e homens 
justos de outros tempos tinham, em vão, de­
sejado ver e ouvir (Mt 13.15,16; Lc 10.23,24). 
E se no final seu ministério seria coroado com 
a morte, então isso também — para que ele 
“sofra muito e seja rejeitado com desprezo”
— era algo que estava escrito acerca do “Fi­
lho do homem” (Mc 9.12). Seguro disso, ele 
submeteu-se a seus captores com as palavras: 
“Mas as Escrituras precisam ser cumpridas” 
(Mc 14.49).
Os seus seguidores, portanto, descobriram 
que as Escrituras do AT estavam repletas de 
novo sentido à medida que desvendavam seus 
mistérios mais profundos com a chave que o 
seu Mestre lhes dera. Quando seu testem u­
nho foi perpetuado de forma escrita, e os do­
cumentos que o perpetuaram foram, no devido 
tempo, reunidos e canonizados no N T, a au­
toridade do AT não foi, de forma alguma, 
diminuída. Também, quando na primeira me­
tade do século II Marcião afirmou que Jesus 
e o evangelho eram coisas com pletam ente 
novas, não relacionadas a nada que havia ocor­
rido antes, negando assim que o AT tivesse
O Antigo Testam ento e o cristão
o direito de ser tratado como Escritura cristã, 
a igreja não deu nenhuma guarida
a ele nem 
às suas convicções. Alguns argumentos usa­
dos para refutá-lo talvez tenham sido tolos, 
mas havia uma sã intuição de que o evange­
lho não floresceria com mais vigor se fosse 
cortado de suas raízes do AT.
A PALAVRA DE DEUS NO AT
É verdade que houve uma mudança de 
perspectiva na igreja desde os primeiros dias 
em que o AT era a sua única Bíblia, tornada 
com preensível pelo seu cum prim ento em 
Cristo. Hoje em dia a tendência é valorizar 
mais o N T do que o AT. Creio que há con­
cordância geral de que o conhecimento do 
AT é necessário para a compreensão do NT. 
Em primeiro lugar, ele registra a preparação 
para o evangelho, é o relato do que aconte­
ceu antes, sem o que o evangelho não pode 
ser com preendido adequadam ente. Além 
disso, o N T está de tal modo repleto de cita­
ções do AT que o conhecimento deste é tão 
essencial para sua apreciação quanto o conhe­
cimento dos clássicos gregos e latinos é es­
sencial para a apreciação da obra de Milton 
(por exemplo).1 Mas para Milton os clássicos 
em grego ou latim não continham autorida­
de própria; eles proporcionavam uma mina 
inexaurível de alusões literárias. As alusões 
ao AT no N T, no entanto, não estão ali para 
efeitos literários; elas implicam o reconheci­
mento da autoridade inerente ao próprio AT. 
Os autores do N T consideravam que o con­
teúdo da sua mensagem estava organicamen­
te de acordo com a mensagem do AT, a ponto 
de o A T e o N T poderem ser considerados 
duas partes de uma mesma sentença, cada 
parte sendo essencial para a compreensão do 
todo. Essa percepção está destacada no ar­
tigo VII dos “T rin ta e nove artigos” , que 
começa assim: “O Antigo T estam ento não 
é contrário ao Novo; porquanto em ambos,
!John Milton (1608-1674) é o maior poeta épico da 
língua inglesa. Sua obra-prima é Paradise Lost [O paraíso 
perdido, E d iou ro , 2000]. [N. do T.]
tanto no Antigo como no Novo, a vida eterna 
é oferecida ao gênero hum ano por Cristo, 
que é o único Mediador entre Deus e o ho­
mem, sendo Ele mesmo Deus e Homem...”.
A unidade da mensagem dos dois testa­
mentos não deve ser estabelecida por meio 
de exercícios tipológicos fantasiosos, que 
encontram nos escritos do A T as mais diver­
sas doutrinas neotestam entárias, das quais 
nem os autores originais nem seus leitores 
poderiam sequer suspeitar. Essa unidade 
pode ser demonstrada de forma mais eficien­
te por meio do reconhecimento de um pa­
drão recorrente de ação divina e resposta 
humana, como é traçado, por exemplo, em 
ICo 10.1-11 ou Hb 3.7—4.13.
Houve muitas tentativas de apresentar 
essa ininterrupta mensagem de uma forma 
que destacasse o seu significado básico e a 
sua adequada p len itude em Cristo. E ntre 
essas tentativas, provavelmente a mais bem- 
sucedida seja aquela que a apresenta como a 
“história da salvação” (Heilsgeschichte), o rela­
to dos atos salvíficos de Deus que tiveram 
sua consumação na obra salvífica de Cristo. 
D eus é aclam ado rep e tid am en te no A T 
como a “salvação” do seu povo. Ele se ma­
nifesta nessa qualidade em épocas sucessi­
vas da história do AT, mas de forma especial 
no êxodo do Egito e no retorno do exílio 
babilónico (cf. Êx 15.2; Is 45.15-17). O regis­
tro da primeira dessas libertações fornece um 
modelo de narrativa no qual a segunda liber­
tação pode ser retratada, e o registro das duas 
fornece um modelo de narrativa usado no N T 
para retratar a obra salvífica de Cristo.
A salvação de Deus e o seu juízo, no Anti­
go Testamento, são dois aspectos da mesma 
ação: se ele vindicou o seu nome ao permitir 
que seu povo fosse para o exílio por se rebelar 
contra ele, da mesma forma vindicou o seu 
nome ao trazê-lo de volta. A salvação desse 
povo é a sua vindicação (cf. SI 98.1-3). No 
ato culminante do evangelho, esses temas gê­
meos de salvação e juízo coincidem: Jesus 
absorve o julgamento na sua própria pessoa 
e assim realiza a salvação do seu povo.
5
O Antigo Testam ento e o cristão
Nessa história da salvação, o ato divino e 
a palavra profética andam de mãos dadas: 
nenhum deles proporciona uma revelação 
completa sem o outro. A relação entre o mi­
nistério de Moisés e a libertação realizada 
no êxodo é equiparada à interação entre o 
ministério de profetas posteriores e os atos 
de misericórdia e juízo que eles proclama­
ram ou interpretaram. Quando chegamos à 
consumação do N T, o ato redentor e o mi­
nistério profético coincidem na mesma pes­
soa — Jesus.
Alguns estudiosos encontraram no tema 
da aliança um princípio unificador para o re­
lato do AT, que conduz ao cumprimento do 
evangelho. O Deus de Israel é um Deus que 
faz alianças e as cumpre: ele estabelece um 
relacionam ento especial com as pessoas e 
dispõe-se a ser o seu Deus, entendendo que 
elas querem ser o seu povo. Nos dias de Noé, 
ele faz uma aliança com toda a raça humana 
(Gn 6.18; 9.8-17); por meio de Abraão, ele 
estabelece sua aliança com uma família espe­
cífica, com anúncio de bênçãos para todas as 
outras famílias (Gn 15.8-21; 17.1ss; 22.15-18); 
e quando essa família cresce e se torna uma 
nação, ele confirma sua aliança com ela no 
monte Sinai, logo depois da sua libertação do 
Egito, com um código simples de leis que são 
a constituição básica dessa aliança (Ex 24.3-8; 
34.10-28), e a reafirma em Siquém, logo de­
pois de o povo se fixar na terra prometida 
(Dt 27.1-28,48; Js 8.30-35; 24.1-28). Uma ali­
ança posterior e mais restrita foi feita com 
Davi, confirmando a ele e seus descenden­
tes o reinado sobre Israel (2Sm 7.8-17; SI
89.19-37; 132.11-18).
A aliança de Deus com Noé recebe pouca 
ou nenhuma atenção no N T. “O juramento 
que fez ao nosso pai Abraão” (Lc 1.73) é con­
siderado cumprido no evangelho da justifica­
ção pela fé (Rm 4.13ss; G1 3.6-18); a aliança 
com Davi é considerada (especialmente nos 
escritos de Lucas) como cumprida na exal­
tação e soberania de Jesus (Lc 1.32,33; At 2.25- 
36; 13.22,23,32-37; 15.16-18). Mas a aliança 
dos dias de Moisés é contrastada com a alian­
ça eterna introduzida por Jesus e selada com
6
seu sangue; esta aliança é identificada como 
a “nova aliança” anunciada em Jr 31.31-34, 
que de fato deveria substituir a aliança de­
ficiente e quebrada feita com os antepassa­
dos de Israel, quando Deus os tomou “pela 
mão para tirá-los do Egito” (cf. 2Co 3.4-18; 
Hb 8.6—9.22).
A história da salvação e a história da ali­
ança são chaves valiosas para a com preen­
são cristã do AT e do seu lugar na Bíblia 
como um todo, principalmente porque não 
precisam ser importadas para dentro do re­
lato bíblico como princípios de organização, 
pois elas já estão presentes nesse relato. Mas 
elas não cobrem todo o AT, e será lastimá­
vel se sua importância for exagerada a pon­
to de serem negligenciadas as partes do AT 
que não possam ser adequadam ente relacio­
nadas com elas.
A RESPOSTA HUMANA NO AT
Os “livros sapienciais” do AT não podem 
facilmente ser reunidos sob a rubrica da his­
tória da salvação ou da aliança; mesmo assim, 
dão uma contribuição indispensável à men­
sagem do AT. O sábio estava ao lado do sa­
cerdote e do profeta como comunicador da 
verdade divina para os seus compatriotas (cf. 
Jr 18.18). A literatura sapiencial da Bíblia 
hebraica é marcada por um aspecto interna­
cional, seja no tratamento das coisas obser­
vadas no dia-a-dia da vida e da natureza (como 
em Provérbios), seja no tratamento dos pro­
blemas mais profundos da existência h u ­
mana (como em Jó). A literatura sapiencial 
posterior (e.g., Sabedoria e Eclesiástico) está 
mais intim am ente relacionada ao panorama 
religioso de Israel e tende a identificar a sa­
bedoria com a Lei mosaica.
O A T registra não som ente a revelação 
que Deus fez de si mesmo no curso da histó­
ria do seu povo, mas também a resposta do 
povo a essa revelação. Junto com os livros 
poéticos do AT (principalmente
o Saltério), a 
literatura sapiencial pertence em grande parte 
à área da resposta humana à revelação divina. 
Homens e mulheres aos quais Deus se reve­
lou por meio de uma experiência pessoal,
O Antigo Testam ento e o cristão
como também por meio da história nacional, 
contam o que ele passou a significar para 
eles, e, no seu testemunho, aprendemos mais 
sobre os caminhos de Deus no trato com o 
ser humano — e aprendemos isso de tal ma­
neira que as palavras desse seu testemunho 
fornecem um meio aceitável para o nosso 
próprio testem unho de como Deus lida co­
nosco. Isso explica, em grande parte, a popu­
laridade dos salmos como meio de louvor 
cristão.
NOSSO SENHOR E O AT
A avaliação que os cristãos fazem do AT 
não pode ser dissociada do uso que Jesus fez 
dele. Está claro que Jesus o considerava a 
última instância de apelação. Ele citou-o para 
justificar seu procedimento e expor as defici­
ências tanto dos fariseus quanto dos saduceus. 
No AT, ele encontrou alimento e conforto 
para sua alma; nele encontrou também o pro­
grama para seu ministério e a vontade de Deus 
para sua vida diária e seu sacrifício derradeiro. 
“O que foi indispensável para o Redentor”, 
tem-se dito com muita propriedade, “precisa 
sempre ser indispensável para os redimidos” 
(G. A. Smith, Modem Criticism andthe Preaching 
oftheO T .i 1901, p. 11).
No entanto, mesmo se baseando indiscri­
minadamente na Lei, nos Profetas e nos Es­
critos, não o fazia sem discernimento. Não 
há nada de estranho ou inadequado na sua 
aplicação do texto sagrado; tampouco ele o 
coloca, todo, em um mesmo plano. A letra 
da Lei precisa ser subserviente ao espírito da 
Lei. O descanso no sábado e a relação ma­
trimonial foram instituídos para benefício de 
homens e mulheres, e são cumpridos de modo 
melhor quando esse propósito é promovido. 
Até mesmo a pressuposição de Moisés de 
que o divórcio é permitido (Dt 24.1-4) é tra­
tada como uma concessão feita por causa da 
“dureza de coração” do ser humano; Jesus 
encontrou um caminho mais excelente em­
butido na ordenança do Criador (Gn 1.27; 
2.24, citados em Mc 10.2-9). A observância 
literal da lei do sábado pode dar lugar a uma 
necessidade maior, como ocorreu no caso da
observância da lei relacionada ao pão da Pre­
sença, quando Davi e seus hom ens esta­
vam famintos (ISm 21.1-6, mencionado em 
Mc 2.25-28). A lei do “olho por olho, dente 
por den te” (Ex 21.24) mostrou um avanço 
ético considerável na época, ao substituir a 
vingança do sangue pelo princípio da retri­
buição estritamente limitada, mas a seus dis­
cípulos Jesus recomendou o princípio melhor 
da não-retaliação e, melhor ainda, o da re­
tribuição do mal com o bem (Mt 5.38-48). 
Ele resumiu toda a Lei (e os Profetas) no 
duplo m andam ento do amor a D eus e do 
amor ao próximo (Dt 6.4,5; Lv 19.18); qual­
quer in terpretação ou aplicação que não 
fosse condizente com a lei do amor estava 
conseqüentemente descartada (Mc 12.28-31; 
cf. Lc 10.25-37).
Ele figurou na linhagem dos grandes pro­
fetas de Israel, e tratou o ensino destes com a 
dignidade que merecia, não como se fosse 
uma série de notas de rodapé da Lei. Como 
eles, ele atribuiu mais valor às questões éti­
cas (interpessoais) do que às exigências ri­
tuais (e.g., M t 5.23,24), no espírito de Os 6.6: 
“Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios” 
(citado em M t 9.13; 12.7).
De todos os profetas, o que mais demons­
tra afinidade com Jesus é Jeremias, o profeta 
da nova aliança, que insiste na interioridade 
da verdadeira religião. Quando Jeremias faz 
uma retrospectiva do reinado do rei Josias, 
o que mais elogia não é sua reforma do cul­
to, mas sua administração justa, sua forma 
de julgar os pobres e necessitados: foi nisso 
que Josias manifestou seu conhecimento de 
Deus (Jr 22.15,16). Há uma semelhança im­
pressionante tam bém entre o conselho de 
Jerem ias para a submissão ao governante 
gentio dos seus dias (Jr 38.17,18) e a orien­
tação de Jesus para dar a César o que é de 
César (Mc 12.17) ou sua reprovação do espí­
rito de revolta contra Roma que um dia iria 
lançar Jerusalém ao chão (Lc 13.1-5; 19.41- 
44; 23.28-31).
Para concluir, o uso que nosso Senhor fez 
do AT exibe um método exegético criativo 
e original, que fornece um modelo para seus
7
O Antigo Testam ento e o cristão
seguidores; ele “está baseado em [...] uma 
profunda compreensão do ensino essencial 
da Bíblia hebraica e em um discernimento 
seguro da situação do seu tem po” (T . W. 
Manson, BJRL 34, 1951-1952, p. 332).
O AT COMO REGRA DE FÉ
Se a Bíblia é a regra de fé e prática do cris­
tão, a contribuição que o AT faz a essa regra 
de fé já foi sugerida.
Começa com Deus, apresentando-o como 
um só, como o Criador do Universo em geral 
e da humanidade em particular, como justo e 
misericordioso no seu caráter e como alguém 
desejoso de ver esse seu caráter reproduzido 
na vida de homens e mulheres. Quando se 
diz que ele criou o homem à sua própria ima­
gem, isso significa (talvez, entre outras coi­
sas) que a intenção era que os seres humanos 
vivessem em comunhão não som ente uns 
com os outros, mas também com ele. Eles 
devem a ten d er a seus apelos e viver de 
forma responsável diante dele, recebendo sua 
graça, prestando-lhe seu serviço e exercendo 
sobre a terra a autoridade que ele lhes dele­
gou. Quando os homens se revoltam contra 
a sua lei, experimentam seu juízo, mas em 
meio ao juízo ele não se esquece de ser mi­
sericordioso. O juízo, sem dúvida, é sua 
“obra muito estranha” (Is 28.21), estranha e 
sem congenialidade com a sua natureza, à 
qual ele se dispõe com relutância, ao passo 
que tem prazer em dem onstrar misericór­
dia e graça perdoadora (Mq 7.18). T udo isso 
é explicado, não na forma de um sistema 
teológico, mas no contexto histórico da re­
lação de Deus com a hum anidade e, espe­
cialmente, com aqueles que ele chamou para 
serem seu povo.
Se o AT usa linguagem antropomórfica 
e antropopática quando fala de Deus, é por­
que ela é mais adequada ao retrato que o 
AT apresenta de seu ser e de seu caráter do 
que o uso de abstrações metafísicas ou de 
artifícios medievais, como a “via negativa” 
ou a “via da em inência”. “Deus não é ho­
mem...” (Nm 23.19; ISm 15.29), pois ele é
o Criador e o homem é sua criatura, mas o 
homem foi feito à imagem de Deus e é en­
corajado a ser como Deus, de forma que o uso 
de um vocabulário comum tanto para Deus 
quanto para o homem é mais do que natural.
Em algumas áreas do AT, a relação entre 
Deus e o homem é regulamentada por uma 
legislação sacrificial e cerimonial. E impor­
tante notar quão rapidam ente aqueles que 
reconheceram a eficácia redentora do sacri­
fício de Cristo afastaram-se dessa legislação. 
Alguns, talvez, já anteriorm ente tivessem 
suas reservas em relação ao ritual do templo; 
mas as implicações da obra de Cristo foram 
decisivas. O que para muitos cristãos judai­
cos da primeira geração deve ter sido uma 
questão de intuição espiritual recebeu com­
provação clássica na carta aos Hebreus, que 
argumenta muito bem em favor da abolição 
de todo o sistema, em Cristo. Os cristãos de­
veriam ser muito gratos pela providência que 
levou à inclusão dessa obra no cânon do NT: 
se a lei cerimonial foi abolida em Cristo, não 
precisamos perder tempo alegorizando seus 
detalhes para encontrar neles alguma som­
bra da sua obra redentora. Quando o autor 
de Hebreus compara o sacrifício definitivo de 
Cristo com o sacrifício do Dia da Expiação, 
repetido anualmente, ele destaca o contraste, 
e não alguma semelhança entre os dois. O N T 
está na linha da tradição daqueles salmistas e 
profetas do AT que sabiam se aproximar de 
Deus por meio da adoração sincera, sem ne­
cessitar da mediação sacerdotal (SI 73.23-28), 
e reconheciam que ele não habitava em tem­
plos feitos por mãos, mas com o “contrito
e 
humilde de espírito” (Is 57.15; 66.1,2).
O AT E A CONDUTA HUMANA
Se o AT é usado como regra de conduta, 
é fácil reconhecer sua insistência fundamen­
tal na justiça e na misericórdia, mas precisa­
mos reconhecer tam bém o fato de que a 
aplicação prática dessas virtudes era feita em 
contextos sociais muito distantes do nosso. 
Elas precisaram ser reaplicadas mesmo nos 
tempos do AT, quando a vida pastoril deu 
lugar à agricultura e depois, novam ente,
O Antigo Testam ento e o cristão
a retribuição dos céus são reinterpretados 
como referência àqueles inimigos esp iri­
tuais — o mundo, a carne e o Diabo — com 
os quais o cristão trava uma batalha intermi­
nável, está bem; mas não se deve supor que 
esse seja o significado desses textos do AT. 
Essa alegorização, com certeza, é necessária 
por motivos devocionais naquelas tradições 
cristãs que prescrevem a repetição regular 
do livro inteiro de Salmos. Isaac Watts, para­
fraseando SI 92.11, pode até cantar:
Todos os meus inimigos interiores 
devem ser mortos 
Satanás não deve violar a 
minha paz de novo... 
mas não foi isso que o salmista quis dizer 
quando escreveu: “Os meus olhos contem­
plaram a derrota dos meus inimigos; os meus 
ouvidos escutaram a debandada dos meus 
maldosos agressores”.
Mesmo sendo possível perceber um avan­
ço ético em alguns estágios da narrativa do 
AT, ou até um avanço geral do início ao fim, 
não se deve pressupor que uma linha contí­
nua possa ser traçada desde os tempos pri­
mordiais até o fim da história bíblica. As 
histórias patriarcais do Gênesis refletem um 
nível de comportamento civilizado que não 
pode ser facilmente equiparado àquele visto 
durante o período da conquista ou sob a mo­
narquia. Até na época da monarquia, na ver­
dade, a pena imposta pelo rei Asa a Maaca, a 
rainha-mãe, por seu envolvimento em um 
ritual cananeu (2Cr 15.16), parece exagerada- 
m ente branda em comparação com os padrões 
mais rígidos dos comentaristas da Bíblia de 
Genebra (1560), que o censuram por ceder a 
uma “tola compaixão” .
Além disso, “problem as morais” dessa 
ordem não são peculiares ao AT. Quando as 
ações em questão são executadas por moti­
vos políticos ou militares conhecidos, não 
constituem problemas no campo ético: sabe­
mos m uito bem com que facilidade essas 
razões tornam-se mais fortes do que conside­
rações humanitárias. Mas constituem proble­
mas morais quando assum em a forma de 
terror em nome de Deus ou pelos interesses
10
do “destino manifesto” de uma civilização 
supostamente mais elevada, pois é aí que se 
pode esperar que as considerações humanitá­
rias se tornem predominantes. E verdade, as 
formas de genocídio na história de Israel pa­
recem marcantemente amadoras e ineficazes 
quando comparadas com os campos de ex­
termínio europeus do início da década de 
1940 ou, olhando um pouco mais para trás, 
com o desaparecimento total de tribos intei­
ras como os aborígines da Tasmânia. Mesmo 
assim, o Deus revelado no AT é justo e mi­
sericordioso; sua justiça e misericórdia são os 
padrões da justiça e da misericórdia do seu 
povo, e a conduta injusta ou sem misericór­
dia não combina com a sua natureza. Há pou­
cas expressões mais refinadas acerca desse 
aspecto da sua natureza no AT do que a per­
gunta com a qual ele silenciou a reclamação 
patriótica de Jonas: “Não deveria eu ter pena 
dessa grande cidade?” (Jn 4.11).
Esta última referência nos lembra que o 
Deus de Israel é “o Juiz de toda a terra” (Gn 
18.25); o AT retrata em uma grande tela o trata­
mento de Deus com as nações em geral, ao 
longo dos séculos, mostrando que ele “domi­
na sobre os reinos dos homens e os dá a quem 
quer” (Dn 4.17,25,32). Isso antecipa a percep­
ção de Schiller quando diz que “a história do 
mundo é o juízo do mundo”, mas insiste em 
que esse juízo é administrado pessoalmente.
O AT E A ORDEM SOCIAL
O AT destaca desde o início que o ser 
humano é um ser social. Isso está resumido 
na declaração do Criador em Gn 2.18: “Não 
é bom que o homem esteja só”; e é desta­
cado tam bém no relato da criação, de Gn
1.27, onde o “homem” a quem Deus criou 
é a hum anidade, o hom em na sociedade: 
“Criou Deus o homem à sua imagem, à ima­
gem de Deus o criou; homem e mulher os 
criou” . A unidade social mais simples, a fa­
mília, é prontam ente instituída: pai, mãe e 
filhos. Até mesmo Caim, expulso da vida de 
uma comunidade fixa para seguir uma vida 
nôm ade, não precisa suportar o exílio so­
zinho: ele não som ente se casa e cria uma
O Antigo Testam ento e o cristão
família, mas até constrói uma “cidade” — 
talvez um modesto acampamento de tendas, 
mas, mesmo assim, um ambiente em que ho­
mens, mulheres e crianças podiam viver em 
sociedade (Gn 4.17).
Tentativas de estabelecer comunidades 
independentes de Deus estão fadadas ao fra­
casso porque têm falta de coesão, como ficou 
demonstrado em Babel e, posteriorm ente, 
em outros lugares (Gn 11.1-9; Is 8.9,10); mas 
a sua graça une as pessoas em famílias, tribos 
e agrupamentos mais abrangentes (SI 68.6). 
As muitas genealogias dos livros do AT re­
fletem essa ênfase na família e na solidarie­
dade tribal, além de servir como esqueleto 
para ser revestido de uma narrativa viva. A 
valorização disso é demonstrada no N T nas 
duas genealogias do nosso Senhor (Mt 1.2-17; 
Lc 3.23-38), que fazem muito uso de dados 
do AT. Aliás, a solidariedade familiar, tribal 
e nacional no AT às vezes é tão destacada a 
ponto de ser indicada pela expressão “perso­
nalidade coletiva”; isso pode nos preparar para 
a distinção paulina das duas grandes solida- 
riedades humanas ou personalidades coleti­
vas “em Adão” e “em Cristo” (Rm 5.12-19; 
ICo 15.21,22).
Além disso, a responsabilidade do ser hu­
mano, não somente em relação a seus pares 
mas também em relação ao ambiente em que 
vive, é destacada. Há um vínculo entre as 
pessoas e a terra, no AT, que o leitor ociden­
tal moderno tem dificuldade de entender; 
além disso, é um vínculo que é criado e man­
tido por Deus. Em Is 62.4,5 ele é retratado 
como um vínculo matrimonial. Esse vínculo 
aplica de forma intensa a um país a ordenan­
ça de Gn 1.26-30, na qual o homem recebe, 
sobre a terra e as criaturas que a habitam, um 
domínio que deve ser exercido por meio de 
mordomia responsável, e não de exploração 
egoísta. Em Rm 8.19-23, Paulo olha para o 
futuro na expectativa da realização universal 
dessa ordenança da criação, quando os filhos 
de Deus forem revelados.
As exigências sociais da lei de Deus são 
destacadas com detalhes específicos para a 
vida do seu povo, Israel. Espera-se das nações
vizinhas que observem os bons costum es 
básicos da boa fé, a consideração pelos fracos 
e o respeito pela dignidade humana, e são 
censuradas quando os violam (Am 1.3—2.3), 
mas o conhecimento que Israel tem de Deus 
e de sua vontade é muito maior do que o 
conhecimento desses povos, e a responsabi­
lidade de Israel, portanto, é m uito maior 
(Am 3.2). A reputação do Deus de Israel aos 
olhos dos outros povos depende, em grande 
parte, do comportamento do seu povo.
A exigência de Deus para o seu povo é 
resumida de várias maneiras no AT. Pode­
mos lembrar-nos do refrão do “código de san­
tidade” no Pentateuco: “Eu sou o S e n h o r 
[...] o seu Deus; por isso, sejam santos, por­
que eu sou santo” (Lv 11.45). Essa santidade 
é uma característica positiva e que abrange 
tudo; suas implicações negativas são coro­
lários da sua essência positiva. Essa essência 
positiva é evidenciada em declarações como 
a de Mq 6.8: “Ele mostrou a você, ó homem, 
o que é bom e o que o S e n h o r exige: pratique 
a justiça, ame a fidelidade e ande humilde­
mente com o seu Deus”. A justiça e a bon­
dade que as pessoas do povo de Deus devem 
mostrar umas às outras são a justiça e a bon­
dade com que ele as tratou. Essas qualidades 
são
aplicadas não somente na via principal 
da ética social, mas tam bém em regras tão 
raras quanto aquela que proibia a pessoa que 
emprestava dinheiro de ficar com o manto 
do devedor durante a noite como garantia, 
“porque o manto é a única coberta que ele 
possui para o corpo” (Ex 22.27,28).
A lei da retaliação do AT — “olho por 
olho e dente por dente” (Ex 21.24) — à qual 
já nos referimos, está mais intimamente re­
lacionada à lei áurea do que muitas vezes se 
pensa: “que seja feito a você como você fez 
aos outros” pode ser facilmente visto como 
corolário de “faça aos outros o que você gos­
taria que fizessem a você”.
Até mesmo quando a monarquia foi insti­
tuída em Israel, o rei não estava acima da lei 
que regulamentava a vida dos seus súditos. 
Quando Nabote se nega a vender sua vinha a 
Acabe, este fica aborrecido, mas não pensa
11
O Antigo Testam ento e o cristão
em violar os direitos de Nabote até que Je- 
zabel, que fora criada segundo uma outra idéia 
de reinado, dá passos para garantir a vinha 
para seu marido por meio de uma seqüência 
de ações cruéis e juram entos falsos, o que 
acabou ocasionando a denúncia profética 
contra toda a dinastia de Acabe (lR s 21.1- 
24). E quando, na geração seguinte, a cres­
cen te prosperidade m ercantil conduziu à 
em ergência em Israel de uma nova classe 
abastada, que podia comprar todas as p e ­
quenas propriedades e reduzir seus antigos 
proprietários a meros escravos, foram os pro­
fetas que condenaram a quebra da aliança 
demonstrada na aquisição de “campos e mais 
campos” por parte dos ricos e no moer “o 
rosto dos necessitados” (Is 5.8; 3.15; cf. Am 
4.1; Mq 3.1-3). Esse tratamento dispensado 
ao próximo era um pecado contra Deus.
Na relação entre o povo de D eus e os 
povos vizinhos, há uma tensão não resol­
vida no AT. Por um lado, há advertências 
duras contra o casamento de seus filhos com 
os filhos dos povos e contra a assimilação: 
um tesouro fora confiado a Israel — o co­
nhecim ento de Deus — que poderia facil­
m ente se perder ou ser dissipado se Israel 
não preservasse sua identidade nacional e 
religiosa. D aí o chamado a Israel para se 
manter separado dos outros povos. Ao mes­
mo tempo, o tesouro confiado a Israel deve­
ria ser com partilhado com os outros, para 
que estes tam bém viessem a conhecer o 
Deus vivo. Nos primeiros tempos do povo 
de Israel, alguns grupos não-israelitas ju n ­
taram forças com ele e aceitaram a aliança 
com Javé. Mas quando Israel se mudou do 
deserto para Canaã, a atração dos rituais de 
fertilidade praticados na terra conquistada 
tornou-se tão perigosa que foi imposta uma 
severa proibição quanto a fazer qualquer tipo 
de associação com os cananeus. Mesmo as­
sim, algumas pessoas, como Raabe e Rute, 
isso sem falar dos gibeonitas (Js 9.3-27), re­
conheceram a grandeza do Deus de Israel 
e foram aceitas na comunidade da aliança. 
Mas foi no contexto do exílio babilónico e
do seu retorno que a missão de Israel no 
mundo foi expressa mais claramente. Quan­
do um grupo significativo de israelitas se 
achou vivendo como exilados em uma co­
munidade não-israelita, eles foram encoraja­
dos a participar de seu bem-estar e orar por 
sua prosperidade, porém não deveriam se 
envolver a tal ponto que não pudessem trans­
cender os valores dessa comunidade estran­
geira (Jr 29.4-10). Quando a permissão de 
voltar do exílio foi dada, a responsab ili­
dade internacional de Israel foi descrita como 
a comunicação, em nível mundial, do conhe­
cimento de Javé, cuja ação a favor de seu 
povo mostrava que som ente ele era Deus 
(Is 45.22,23). A restauração dos israelitas os 
qualifica a serem suas testemunhas (Is 43.10), 
mas sua missão deve ser assumida e con­
cluída pelo Servo do Senhor, que, além de 
cumprir um ministério para com Israel, é en­
viado como uma “luz para os gentios” para 
que a salvação de Deus chegue “até os con­
fins da terra” (Is 49.6).
Junto com essa ênfase na difusão, o perío­
do subseqüente ao retorno dos exilados tes­
temunhou uma nova política de segregação, 
sob o governo de Esdras e Neemias, que não 
tem sido fácil de conciliar com o chamado 
para a missão mundial. A tensão entre esses 
dois aspectos estava viva ainda na época do 
N T , não somente no conflito entre a visão 
mais ampla de Jesus e o separatismo dos fa­
riseus; mas também na igreja primitiva, no 
conflito entre os defensores da missão, livre 
da lei, aos gentios e aqueles cristãos judaicos 
que acreditavam que os convertidos dentre 
os gentios deveriam ser admitidos na comu­
nidade cristã com salvaguardas semelhantes 
àquelas que regiam a admissão de prosélitos 
à com unidade de Israel. Os defensores da 
missão aos gentios de fato apelaram para a 
comissão do Servo do Senhor como sendo 
sua própria comissão (At 13.47). Nesse, como 
tam bém em outros aspectos, o retrato do 
Servo em Isaías pode ser considerado o clí­
max do AT em sua função de preparo para o 
evangelho.
12
O Antigo Testam ento e o cristão
BIBLIOGRAFIA
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13
O texto do Antigo Testamento
ALAN R. MILLARD
A ESCRITA NO MUNDO DO ANTIGO 
TESTAMENTO
Q uando o hom em inventou a escrita, 
ele descobriu uma forma de preservar suas 
idéias e experiências para que atravessassem 
a barreira do tempo. Era natural que o Deus 
que estava preparado para falar a linguagem 
hum ana fizesse que suas palavras fossem 
registradas por interm édio desse meio h u ­
mano. Pela sua providência, a maior parte da 
sua revelação foi dada a um povo que tinha 
herdado um alfabeto pronto para o uso univer­
sal, para que qualquer pessoa que quisesse 
pudesse aprender a ler os livros sagrados.
Moisés é o primeiro israelita de que te­
mos notícia que escreveu algo (Ex 17.14), e 
ele certamente viveu num mundo em que a 
escrita era bem conhecida Entre 2000 e 1000 
a.C., quase uma dezena de escritas eram usa­
das na Síria-Palestina. Entre elas, as mais im­
portantes eram os 600 sinais cuneiformes da 
Babilônia, inscritos com um buril em tabuinhas 
de barro, e os 700 sinais hieroglíficos dos egíp­
cios, na sua forma cursiva para o dia-a-dia, o 
hierático, escrito com pena e tinta em papel 
(papiro) e sobre outras superfícies lisas. A 
escrita egípcia era pouco difundida fora de 
áreas de forte e contínua influência egípcia, 
como a Palestina e as cidades costeiras da 
Fenícia, ao passo que a escrita cuneiforme 
era o meio internacional de comunicação em 
todo o Oriente Médio. Este sistema e todos 
os outros eram complicados e empregados 
principalmente na administração, nas leis, na 
religião e na diplomacia. Constituíam pratica­
mente um monopólio da classe dos escribas.
Um pouco antes de 1500 a.C., surgiu um ri­
val que, eventualmente, suplantou todos os 
outros: o alfabeto.
P rovave lm en te fam iliarizados com o 
egípcio, os inventores semitas
do alfabeto 
descobriram como um pequeno conjunto de 
símbolos poderia substituir os incômodos hie­
róglifos: era necessário um sinal para cada 
som da língua, em torno de 30 ao todo. Os 
sinais eram imagens, escolhidas, podemos 
supor, de acordo com o princípio acrofônico 
“dado=d” . Como nenhuma palavra semítica 
começa com vogal, e já que as vogais são 
suplem entares às consoantes nas línguas 
semíticas, ainda que necessárias, não era vi­
tal registrá-las. (Os sinais vocálicos foram 
sistematicamente criados quando os gregos 
tomaram emprestado o alfabeto em torno de 
900 a.C., pois sua língua não podia ser escrita 
claramente sem esses sinais.) Ao final do se­
gundo milênio a.C., o alfabeto estabilizou-se 
e começou a desalojar os outros sistemas. Ele 
gerou imitações pelas mãos de escribas trei­
nados na tradição babilónica, os quais produ­
ziram alfabetos de sinais cuneiformes para 
uso em superfícies de argila, especialmente 
em Ugarite, na Síria. Por menor que seja o 
número de exemplos do alfabeto nascente, 
serve para mostrar o amplo uso da escrita, 
que se tornou possível por meio da simplici­
dade do sistema alfabético, quebrando assim 
o monopólio dos escribas.
A ESCRITA NO ANTIGO ISRAEL
Na conquista de Canaã, Israel tomou pos­
se de cidades em que a escrita era conhecida,
14
O texto do Antigo Testam ento
e o alfabeto básico era familiar. História, leis, 
profecias, itinerários, narrativas, listas de im­
postos, tudo já era registrado com facilidade 
(cf. Jz 8.14). Infelizmente, seguindo a prática 
egípcia, o alfabeto era normalmente escrito 
em papiro, um papel vegetal que se desfaz 
em solo úmido; por isso, não temos exem ­
plos para mostrar a extensão e o estilo da es­
crita israelita antiga. Pequenas amostras de 
hebraico antigo sobreviveram, presentes em 
materiais mais duráveis, cerâmica e pedra, 
que nos permitem ver como a escrita era usa­
da na vida diária e inferir a existência de 
livros de couro e de papel em forma de rolo. 
Isso não nos permite, nem de longe, deduzir 
que todos sabiam ler ou escrever, mas nos 
tempos de Isaías e Jeremias parece provável 
que havia poucas aldeias sem pelo menos 
um habitante que pudesse fazê-lo. O Antigo 
Testam ento também nos dá essa impressão, 
embora qualquer obra de homens instruídos
— como é o caso — tenderá a destacar a ha­
bilidade deles!
Esse pano de fundo ajuda-nos quando 
consideramos as origens e o desenvolvimen­
to dos livros do Antigo Testam ento. Infor­
mações valiosas sobre os hábitos dos escribas 
podem ser tiradas dos próprios documentos 
antigos, e elas podem ajudar-nos a detectar 
os tipos de erro cometidos à medida que uma 
geração copiava os livros de outra. Até mes­
mo notas insignificantes, escritas em fragmen­
tos de cerâmica, evidenciam a habilidade de 
uma eficiência prática, o cuidado para que se 
alcançasse a legibilidade, um modo de escrita 
aceito. Um cuidado semelhante pode ser iden­
tificado nos manuscritos literários assírios, 
babilónicos e egípcios de 2000 a.C em dian­
te, os quais fornecem uma analogia satisfató­
ria para a prática israelita. Por um lado, existe 
uma grande preocupação em reproduzir um 
texto antigo de forma exata, talvez com a 
atualização da ortografia, observando os da­
nos causados à cópia mestra, contando as li­
nhas, acrescentando o nome do escriba, às 
vezes tam bém o nome de um revisor, a(s) 
fonte(s) da cópia mestra (ou cópias mestras), 
a data e o destino da cópia — rei, templo ou
indivíduo. Por outro lado, uma composição 
podia passar por mudanças editoriais e por 
revisão, criando uma ampla variação entre 
diversas cópias. Nesses casos, as diferenças 
são muitas vezes inexplicáveis ou sem sen­
tido agora e não seguem padrão algum; são 
impossíveis de ser descobertas ou previstas 
com base em apenas um texto, fato que pre­
cisa receber peso especial na hora de recons­
truir a história literária dos escritos do Antigo 
Testam ento.
Para le itu ra adicional acerca do tem a 
desta seção, v. T h e Practice of W riting in 
Ancient Israel, The Biblical Archaeologist 35 
(1972), p. 98-111; A pproaching th e O ld 
Testam ent, Themelios 2 (1976), p. 34-9, am­
bos por este autor.
O TEXTO HEBRAICO TRADICIONAL 
DO ANTIGO TESTAMENTO
A escrita já existia em Israel, mas não sa­
bemos como e quando os livros que herda­
mos foram escritos pela primeira vez, pois 
não há cópias disponíveis anteriores ao ter­
ceiro século a.C. As cópias mais antigas que 
ainda existem, os manuscritos do mar Morto, 
revelam certa diversidade que vai ser discu­
tida a seguir. Elas também revelam a exis­
tência, entre 200 a.C. e 65 d.C., da forma 
textual conhecida em um estágio posterior 
como o Texto Massorético (TM ) ou Tradi­
cional, no qual as traduções para as línguas 
modernas são baseadas.
A partir do exílio, o hebraico decaiu para o 
status de língua de uma minoria entre os ju­
deus, embora um dialeto persistisse na Judéia, 
sendo então substitu ído pelo aramaico, a 
lingua franca do Império Persa. A medida que 
o processo continuava, havia a necessidade 
crescente de preservar a pronúncia “correta” 
do texto da Bíblia hebraica na leitura da sina­
goga. Para ajudar o leitor, algumas consoan­
tes podiam representar vogais, um uso que 
se iniciou no período da monarquia e que al­
cançou o seu pico na época herodiana. Por 
volta dos séculos VII e VIII d.C., surgiram mé­
todos mais precisos de representação de vo­
gais e acentos, que culminaram no esquema
15
O texto do Antigo Testam ento
de pontos e sinais colocados acima, abaixo e 
dentro das letras, usados desde então para 
produzir os sons e a entonação aceitos. Os 
estudiosos judeus que aplicaram esse sis­
tema ao texto consonantal herdaram regula­
mentações rígidas, designadas para manter a 
precisão nas cópias, as quais eram compará­
veis às antigas atitudes babilónicas e, talvez, 
derivadas delas. Eles tam bém registraram 
variantes no texto escrito que lhes foram re­
passadas (a Massorá).
Algumas dessas variantes, na verdade, cor­
rigiam erros que foram conservados como re­
líquias no texto escrito; assim, em Is 49.5 está 
escrito lõ “não”, como está na ARC, enquanto 
a Massorá nos instrui a ler lô “a ele”, como na 
ARA, RV, RSV, NEB, NVI e manuscrito A do 
mar Morto de Isaías. Outras notas sugerem 
vogais alternativas para um conjunto ambí­
guo de consoantes, como 2Sm 18.13, em que 
“se eu tivesse atentado traiçoeiramente con­
tra a vida dele” ou “contra mim” dependem 
de uapè» e napei respectivamente. As formas 
no texto escrito são denominadas kethlbh “es­
crito”, e as anotadas pela Massorá, nas mar­
gens, Qerê “que se leia”.
A tradição também relata algumas passa­
gens em que o texto fora alterado para evitar 
idéias inaceitáveis, como em ISm 3.13, 
em que Deus diz que os filhos de Eli “atraí­
ram maldição sobre si mesmos (cf. VA, RV), 
em vez de “me am aldiçoaram ” (cf. RSV, 
NEB; a NVI traz: “seus filhos se fizeram 
desprezíveis”).
Esse texto massorético é representado hoje 
por alguns manuscritos copiados nos séculos 
nono e décimo d.C., e os principais estão pre­
servados no Cairo, Jerusalém, São Petersburgo 
e Londres e por todas as Bíblias hebraicas es­
critas ou impressas posteriormente.
TEXTOS MAIS ANTIGOS
A recuperação dos manuscritos do mar 
Morto provou a existência de outros textos 
hebraicos além do tipo tradicional, na Pa­
lestina, durante o século I a.C. até 68 d.C.
Tem -se dado destaque a esses textos varian­
tes inevitavelm ente porque são novos para 
nós, mas devemos observar que eles são mi­
noria entre os manuscritos do mar Morto e, 
além disso, são muito fragmentários. Suas di­
ferenças do texto massorético são mais do 
que erros acidentais resultantes de enganos 
dos escribas, embora estudos mais aprofun­
dados mostrem que muitas delas são desli­
zes, e não mudanças intencionais. (Assim,

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