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Metodologia da Economia Bibliografia: Blaug (1993), Parte I, cap.2; Boumans & Davis (2010), cap 5; Hands (2001), cap. 5; Oliva (1990); Palácios (1994). Aula 6 a) Feyerabend e o anarquismo metodológico; b) A Sociologia do Conhecimento Científico 1 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • Paul Feyerabend (1924-1994). • Estudou sociologia, história, física e filosofia em Viena. Também fez teatro, e foi assistente de Bertold Brecht. • Foi influenciado por Wittgenstein (na segunda fase), ia estudar com ele, mas como este faleceu acabou estudando com Popper, e fez seu doutorado na LSE. • Professor em Berkeley a partir de 1960. • Obra mais importante: “Contra o método: esboço de uma teoria anarquista do conhecimento” (1974). • Sua obra rejeita explicações racionalistas do avanço científico. 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • Para Feyerabend, o estudo da história da ciência mostra que não há regras que permitam orientar o avanço do conhecimento (ao contrário do sonho VR de uma demarcação estrita). • Para ele, a única regra possível é “Vale Tudo” (anything goes). • Toda regra epistemológica é violada em algum momento, o que é absolutamente necessário. • As teorias úteis podem ter partes contraditórias, mas nunca são (nem devem ser) abandonadas por isso. 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • Consequência: os cientistas devem adotar uma metodologia pluralista. Na ciência só pode ter participação bem sucedida um oportunista brutal que não se prenda a filosofia alguma, e que adote a diretriz que a ocasião parece indicar (CM, p. 19) • Seu estudo de caso em “Contra o Método” é Galileu. Segundo Feyerabend, se Galileu tivesse seguido o método VR ou o popperiano, nunca teria conseguido avançar. • Cada ciência deve integrar sua história, sua filosofia e seu conhecimento específico. 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • Para Feyerabend, é muito importante o que ele chama de contra-indução, que consiste em desenvolver hipóteses que: • A) Vão contra as teorias aceitas. • B) Não se ajustam bem aos fatos estabelecidos. • Ele entende que nenhuma teoria está de acordo com todos os fatos do seu campo. • Mais ainda, dado que todos os fatos são dependentes de alguma teoria, logo certos fatos só serão conhecidos se utilizarmos teorias diferentes daquelas que são aceitas. 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • É importante a proliferação de teorias. • Para tanto, devemos abandonar a chamada condição de coerência, que exige abandonar teorias que explicam os mesmos fatos que as teorias ora vigentes. • Ao contrário, para ele o aumento de teorias leva a um aumento do conhecimento e do conteúdo empírico. • Basicamente, nossos preconceitos só podem ser descobertos por contraste, não como uma dedução analítica dentro de nossa perspectiva. 1. Feyerabend e o anarquismo metodológico. • Nenhuma teoria deve ser abandonada. • Não existe teoria que nunca tenha sido falsificada. Jamais se consegue estudar todas as ramificações de uma ideia, e não há concepção à que se tenha dado a atenção por ela merecida (CM, 68) • A ciência é uma forma de conhecimento que, se não é submetida a crítica, pode virar uma religião, logo: • A) Deve ser separada do Estado. • B) devem ser estabelecidos controles externos sobre ela. 2. A Sociologia do Conhecimento. • As visões que estudamos nas aulas anteriores permitem dizer que, para saber o que é conhecimento (ciência), temos que olhar o trabalho dos cientistas, e não um conjunto abstrato de regras filosóficas. • Obs.: neste curso estamos entendendo ciência como todo conhecimento sistemático sujeito a debate racional. Isso inclui tanto as ciências formais (matemática, lógica) quanto as factuais. Dentro destas estão as naturais (física, química, biologia) quanto as sociais (economia, antropologia, etc.). Além disso, está classificação inclui dentro da noção de ciência o que em geral se conhece como “humanidades” (p.ex., teoria literária) e também a história. • Essa nova filosofia da ciência é muito mais descritiva do que prescritiva. 2. A Sociologia do Conhecimento. • Isto parte da visão de que a ciência é em si um campo de atividade humana como qualquer outro, e deve ser estudado como qualquer outra ciência social. • Ou seja, assim como o antropólogo se pergunta porque uma tribo acredita em certa deidade, ou porque os skatistas têm certos regras da conduta certa e errada, passa a ser legítimo olhar a produção de ciência dessa maneira. • As primeiras abordagens que olhavam à ciência como campo de atividade estudavam mais as características dos cientistas, não o conhecimento, definindo a “Sociologia da Ciência”. • O precursor dessa abordagem foi Robert Merton (1910-2003), embora também Karl Mannheim possa ser considerado um precursor dessa abordagem. 2. A Sociologia do Conhecimento. • Para Merton, a ciência está caracterizada por quatro princípios: a)Universalismo: questões sobre a verdade de uma afirmação são avaliadas em base a princípios universais, e não pela raça, nacionalidade, religião, etc., de quem fala. b)Ceticismo organizado: todas as idéias são testadas e submetidas a análise rigorosa. c)Desinteresse: os cientistas são recompensados por atuarem dessa maneira. d)Comunismo: o conhecimento científico é de todos; os cientistas abrem mão de direitos de propriedade em troca de fama e reconhecimento. •Pode ser discutível pensar que a ciência realmente funciona assim. 2. A Sociologia do Conhecimento. • Posteriormente, foi desenvolvida a abordagem da sociologia do conhecimento científico (SSK), que estuda também as afirmações puramente “científicas”. • Para esta visão, o conhecimento é “socialmente construído”, logo o que venha ser aceito como verdadeiro ou falso depende da comunidade de cientistas. • Obviamente, a realidade está “lá fora” (não depende de nossos desejos), mas nossa interpretação da mesma não o está. (Lembre-se que o que “vemos” depende de como fomos acostumados a ver: paradigmas). • Base: a “Escola de Edimburgo” (David Bloor, Barry Barnes, etc,) e o Programa Forte da SSK. 2. A Sociologia do Conhecimento. • Princípios do Programa Forte: a) Causalidade: deve-se estudar por que os cientistas acreditam aquilo que acreditam. b) Imparcialidade: devemos estudar igualmente as crenças verdadeiras e as falsas. c) Simetria: essas observações devem ser imparciais entre crenças verdadeiras e falsas (não podemos tentar de atribuir à religião do cara os motivos do erro, mas entender o acerto como simples decorrência de “perceber a realidade”). d) Reflexividade: esses mesmos princípios devem se aplicar á própria SSK. •) Uma escola que surge a partir desta abordagem é a dos “estudos de laboratório”, que analisa a relação entre o dia a dia dos cientistas e as afirmações dos mesmos. 2. A Sociologia do Conhecimento. • Uma série de questões polêmicas saem daqui: a) Relativismo: a verdade e o conhecimento são objetivos, ou dependem dos interesses (etc.) de quem formula as afirmações? b) Realismo: podemos entender que as afirmações dos cientistas constituem uma boa compreensão da realidade? c) Neutralidade de valores: segundo a SSK, é impossível termos uma ciência neutra; ela sempre encontra-se condicionada pelos juízos de valor e a visão de mundo do cientista. •) Sai daqui uma abordagem conhecida como”economia da ciência”, que procura analisar o funcionamento da ciência a partir do instrumental usado pelos economistas • P.ex., ela pode explicar as decisões dos cientistas como agentes que respondem a incentivos, ou os avançosda ciência a partir de sua divisão do trabalho e do funcionamento de um mercado de idéias. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13
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