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SOUTO Os novos instrumentos de proteção aos Direitos Humanos, o papel do Conselho de Direitos Humanos da ONU e o mecanismo de revisão periódica universal

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OS NOVOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS: O 
PAPEL DO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DA ONU E O 
MECANISMO DE REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL
1
 
 
Luana Mathias Souto
 2
 
RESUMO: Este estudo trata da análise dos novos instrumentos de proteção aos direitos 
humanos criados a partir de 2006, após a extinção da Comissão de Direitos Humanos da 
ONU: o Conselho de Direitos Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica 
Universal. Ao dissertar sobre estes novos instrumentos se intenta aprofundar o 
conhecimento existente, até o presente momento, sobre os mesmos, além da análiseda 
evolução na defesa aos direitos humanos desde a criação da ONU. Para tanto, apresenta-
seuma descrição objetiva do modus operandi do Conselho e de seu mecanismo de RPU, 
visando à disseminação de estudos acadêmicos sobre o tema, a fim de, verificar a 
atuação dos mesmos na proteção internacional dos direitos humanos. 
PALAVRAS-CHAVE: Direitos Humanos. Conselho de Direitos Humanos das Nações 
Unidas. Revisão Periódica Universal. 
 
ABSTRACT: This study deals with the analysis of the new instruments of protection of 
human rights created from 2006, after the extinction of the UN Commission on Human 
Rights: the UN Human Rights Council and the Universal Periodic Review mechanism. 
To speak about these new instruments are attempts to deepen existing knowledge, to 
date, about the same, also the analysis about evolution of human rights since the UN's 
creation. For this, show an objective description of the modus operandi of the Council 
and its UPR and its mechanism aimed at dissemination of academic studies on the 
subject, therefore, to check effectiveness of its in the international protection of human 
rights. 
KEY-WORDS: Human Rights. United Nations. Human Rights Council. Universal 
Periodic Review. 
 
1
 Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de bacharel em Direito, sob a orientação do 
Prof. Dr. Bruno Wanderley Júnior. Adaptado para publicação. 
2
 Bacharel em Direito - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Email: luasouth@gmail.com 
 
Luana Mathias Souto 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 183 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 Durante anos a humanidade assiste consternada sérios atos de violação aos 
direitos humanos, mas o que vêm sendo feito para coibir estes atos?! Diante do horror 
praticado durante a II Guerra Mundial criou-se em fevereiro de 1945, a Organização das 
Nações Unidas. Esta organização nasce com o propósito de reafirmar entre as nações: os 
direitos fundamentais, a dignidade e o valor humano. Evidenciou-se, no período pós-
guerras que, somente a proteção em âmbito interno conferida ao nacional não era 
suficiente para salvaguardar a vida humana, era necessária a criação de mecanismos, 
que promovessem a proteção aos direitos humanos para além das fronteiras estatais. 
 A fim de cumprir com os ideais expressos em sua Carta, a ONU para garantir a 
paz e a defesa da vida humana vêm durante todos esses anos construindo uma estrutura 
de defesa e promoção aos direitos humanos, que é exercida por seus diversos órgãos, 
dentre os quais se destacam: o Conselho de Direitos Humanos e seus mecanismos 
subsidiários, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e os 
Comitês emanados dos tratados em direitos humanos. 
 Neste estudo, por sua vez, o órgão de estudo e análise será o Conselho de 
Direitos Humanos da ONU e seu inovador mecanismo de Revisão Periódica Universal 
(RPU). Para tanto, apresenta-se o processo de internacionalização dos direitos humanos, 
sua evolução e a série de acontecimentos que culminaram com necessidade de 
reformulação da estrutura institucional da ONU e criação do RPU. 
 
2 DIREITOS HUMANOS 
 Ao tratar sobre direitos humanos, confronta-se com a dificuldade de conceituar 
tal instituto, já que a “multiplicidade de expressões para identificar direitos humanos 
causa certa confusão e incerteza quanto ao conteúdo.”. (GUERRA, 2013, p. 32). Sidney 
Guerra (2013) ao estabelecer “o que são direitos humanos?” em seu livro Direitos 
Humanos: curso elementar apresenta a recorrente utilização de expressões diversas para 
se tratar de tais direitos e para tanto, aponta o delineamento das terminologias “direitos 
humanos”, “liberdades públicas” e “direitos fundamentais”. (GUERRA, 2013, p. 33). 
 
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Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica Universal 
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 Em seus estudos, quanto à expressão “liberdades públicas”, o autor aponta, em 
desfecho que: “no Brasil, seguindo a tendência francesa, adota-se com muita frequência 
a expressão 'liberdades públicas', atribuindo-lhe, porém o significado que engloba a 
generalidade dos direitos fundamentais.”. (GUERRA, 2013, p. 37). Assim, liberdades 
públicas comportariam as formas necessárias de não ingerência do Estado nas 
liberdades individuais que por ele também foram positivadas. 
 Em continuidade, Guerra (2013) busca a delimitação dos direitos fundamentais 
que, “são aqueles aplicados diretamente, gozando de proteção especial nas 
Constituições dos Estados de Direito. São provenientes do amadurecimento da própria 
sociedade.”. (GUERRA, 2013, p. 38). 
 Ademais, 
Assinala-se então a necessidade de proteger esses direitos, já que 
individualizam a pessoa em si, como projeção na própria sociedade em que 
vive. Tais direitos destinam-se a preservar as pessoas em suas interações no 
mundo social. Quando expressamente consignados na Constituição, como no 
caso brasileiro, tais direitos realizam a missão de defender as pessoas diante 
do poder do Estado, e aí se tem exatamente a concepção desses direitos 
constituindo os direitos fundamentais. (GUERRA, 2013, p. 39, grifo nosso). 
 Por fim, o autor estabelece que, 
Geralmente, a terminologia 'direitos humanos' é empregada para denominar 
os direitos positivados nas declarações e convenções internacionais, como 
também as exigências básicas relacionadas com a dignidade, a liberdade e a 
igualdade de pessoa que não alcançaram um estatuto jurídico positivo. 
(GUERRA, 2013, p. 39). 
 Usando a linha de raciocínio empregada por Sidney Guerra (2013) tem-se que, 
de acordo com as Nações Unidas, 
Direitos humanos são comumente entendidos como aqueles direitos que são 
inerentes ao ser humano. A concepção de direitos humanos reconhece que 
cada ser humano é intitulado a desfrutar destes direitos, independente de 
distinção quanto à raça, cor, sexo, idioma, religião, orientação política ou 
outras opiniões, nacionalidade ou origem social, propriedade, nascimento ou 
outra condição. [...] Direitos humanos são inerentes a cada pessoa, como 
consequência, da condição de ser humano. (UNITED NATIONS, 2015, 
tradução nossa) 
3 
 
3
Human rights are commonly understood as being those rights which are inherent to the human being. 
The concept of human rights acknowledges that every single human being is entitled to enjoy his or her 
human rights without distinction as to race, colour, sex, language, religion, political or other opinion, 
national or social origin, property, birth or other status. […] Human rights are inherent entitlements which 
come to every person as a consequence of being human. 
 
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 A necessidade de se estabelecerque os direitos e liberdades individuais 
protegidos e positivados no plano interno são direitos fundamentais e de forma 
englobante liberdades públicas e que, aqueles direitos inerentes a todos os seres 
humanos reconhecidos internacionalmente, mas, que podem ou não estarem 
consagrados nos instrumentos internacionais são direitos humanos é motivada pela 
diversidade inerente à realidade global em que, tais direitos humanos poderão não 
estarem positivados nos ordenamentos jurídicos dos mais diversos países e estes 
Estados também poderão não ser signatários de tratados e convenções internacionais de 
proteção, mas nem por isto, poder-se-á deixar de encontrar formas de protegê-los. 
 
2.1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS 
 Diante da perspectiva conceitual adotada alguns marcadores temporais serão 
utilizados para a construção daquilo que, posteriormente, seria caracterizado como 
direitos humanos. 
 Assim, desde a Antiguidade Clássica entre os egípcios, gregos e romanos, o que 
se buscou inicialmente foi a afirmação das liberdades individuais de forma a afastar o 
detentor do poder de interferir na vida privada. Neste momento têm-se apenas a defesa 
de direitos individuais de alguns, como quando da elaboração da Magna Carta de 1215: 
A ideia de direitos individuais, portanto, ainda não se formara no sentido de 
hoje, de direitos iguais para todos e que a todos podem ser contrapostos. A 
Carta Magna valeu, por uma felicidade de redação, para que as pessoas 
lessem o texto como fixador de princípios mais gerais, de obediência à 
legalidade, da existência de direitos da comunidade que o próprio rei devia 
respeitar. (GUERRA, 2013, p. 47-48). 
 Sucessivamente, em decorrência “do processo de maturação da sociedade e do 
desenvolvimento social e histórico, outras declarações apareceram.”. (GUERRA, 2013, 
p. 48). Destacam-se a Petition of Rights (1629), o Habeas Corpus Act (1679) e o Bill of 
Rights (1689), que ainda mantém a garantia de liberdades individuais para apenas parte 
da população. Entretanto, aponta-se que: 
A partir do Bill of Rights britânico, a ideia de um governo representativo, 
ainda que não de todo o povo, mas pelo menos de suas camadas superiores, 
começa a firmar-se como uma garantia institucional indispensáveis das 
liberdades civis. (COMPARATO, 2015, p. 61-62). 
 Em 1776 com a Declaração de Independência Norte-Americana tem-se o “primeiro 
 
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documento de natureza política a reconhecer a soberania popular, a existência de 
direitos que se aplicam a todas as pessoas, sem que haja distinção de sexo, cor ou 
qualquer outra manifestação.”. (GUERRA, 2013, p. 50). Com este mesmo tom político 
ecoa, em 1789, a Revolução Francesa sob a inspiração de liberdade, igualdade e 
fraternidade. Apesar de expressarem um sentimento totalmente novo, estes dois eventos 
históricos serviram de instrumento da burguesia para por fim ao Absolutismo 
monárquico, pois: 
O espírito original da democracia moderna não foi, portanto, a defesa do 
povo pobre contra a minoria rica, mas sim a defesa dos proprietários ricos 
contra um regime de privilégios estamentais e de governos irresponsáveis. 
(COMPARATO, 2015, p. 63-64). 
 Devido ao dinamismo da vida humana, novas necessidades foram surgindo e em 
especial, porque o “individualismo dos séculos XVII e XVIII corporificados no Estado 
Liberal, e a atitude de omissão do Estado frente aos problemas sociais e econômicos vão 
conduzir os homens a um capitalismo desumano e escravizador.”. (MAGALHÃES, 
2000, p.29). Diante deste novo cenário, por meio da Constituição mexicana de 1917 e 
da Constituição de Weimar de 1919, houve a afirmação de direitos sociais e econômicos: 
O titular desses direitos, com efeito, não é o ser humano abstrato, com o qual 
o capitalismo sempre conviveu maravilhosamente. É o conjunto dos grupos 
sociais esmagados pela miséria, a doença, a fome e a marginalização. 
(COMPARATO, 2015, p.66). 
 Entretanto, a humanidade passa por um novo momento histórico, mesmo com os 
primeiros desdobramentos de uma internacionalização dos DH com a criação, por 
exemplo, da OIT, o mundo vivencia tempos obscuros com a Primeira Guerra Mundial, a 
crise econômica de 1929 e o surgimento de Estados totalitários. Com isto, insuflam-se 
discursos de ódio, racismo, torturas, genocídios e matanças generalizadas por todo o 
globo. Assegurar a dignidade da pessoa humana como se vê somente seria possível após 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. 
 Mais adiante na cronologia mundial, novas gerações de direitos foram e vêm 
sendo proclamadas, o que demonstra a perene necessidade de se abarcar novos direitos: 
Hoje, não há povo que negue uma Carta de Direitos e seu respectivo 
mecanismo de efetivação, o que, todavia, ainda não significa a garantia de 
justiça concreta, porquanto esses direitos podem variar ao sabor do 
pensamento político ou filosófico informador de determinado Estado. 
(GUERRA, 2013, p. 54). 
 Quanto ao desenvolvimento dos Direitos Humanos no Brasil, tem-se obtido 
 
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grandes avanços desde a Constituição Federal de 1988, entretanto, persiste uma 
deficiência quanto à efetiva promoção destes. Enquanto que, de um lado houve um 
avanço legislativo pós 1988, a mesma evolução não se vislumbrou na esfera judicial, 
seara em que os direitos podem sair do encantamento escrito e programático e serem 
implementados na realidade social. 
 
2.2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 A doutrina
4
 apresenta a internacionalização dos direitos humanos sob a sua 
divisão em duas fases. A primeira de um ponto de vista embrionário se manifesta por 
meio do direito humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do 
Trabalho (OIT). Já a segunda é pontuada pelo pós Segunda Guerra Mundial. 
 Nesta fase ainda embrionária de internacionalização dos direitos humanos, o 
direito humanitário surge como limites à atuação da guerra normatizando desde a defesa 
às populações civis até a proteção aos prisioneiros de guerra, em 1929 com a 
Convenção de Genebra, “o Direito Humanitário ou o Direito Internacional da Guerra 
impõe a regulamentação jurídica do emprego da violência no âmbito internacional.”. 
(PIOVESAN, 2011, p. 170). 
 Objetivo similar apresentou a Liga das Nações que: 
Tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, 
condenando agressões externas contra a integridade territorial e a 
independência política de seus membros. (PIOVESAN, 2011, p. 170). 
 Em outra ponta encontrava-se a OIT, que por sua vez delineou parâmetros 
mínimos e internacionais de trabalho, “a proteção do trabalhador assalariado passou 
também a ser objeto de uma regulação convencional entre os diferentes Estados.”. 
(COMPARATO, 2015, p. 68) 
 Este primeiro momento traz em si a quebra de paradigmas até então sustentados 
e a relativização da soberania estatal, vista ainda como absoluta. 
Para que os direitos humanos se internacionalizassem, foi necessário redefinir 
o âmbito e o alcance do tradicional conceito de soberania estatal, a fim de 
 
4
 Utiliza-se para tanto, os estudos apresentados por Flávia Piovesan (2011) e Fábio Konder Comparato 
(2015). 
 
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permitir o advento dos direitos humanos como questão de legítimo interesse 
internacional. Foi ainda necessário redefinir o status do indivíduo no cenário 
internacional, para que se tornasse verdadeiro sujeito de Direito Internacional 
(PIOVESAN, 2011, p. 169). 
 Superada este momento preliminar, em que os direitos humanos ainda assim, 
não poderiam ser conceituados em sua plenitude visto que, o que ocorreu foi tão 
somente a internacionalização de alguns direitos em setores específicos e não a 
internacionalização de direitos que visualizassem o ser humano enquanto detentor de 
direitos pelo fato de tão somente ser humano. Avança-se para o período pós-guerra, 
marcado pelo repúdio aos horrores cometidos na Segunda Guerra Mundial, por Hitler e 
seus discípulos. 
Após o término da 2ª Guerra Mundial, dezenas de convenções 
internacionais, exclusivamente dedicadas à matéria, foram celebradas no 
âmbito da Organização das Nações Unidas ou das organizações regionais 
e mais de uma centena forma aprovadas no âmbito da Organização 
Internacional do Trabalho. Não apenas os direitos individuais, de natureza 
civil e política, ou os direitos de conteúdo econômico e social foram 
assentados no plano internacional. Afirmou-se também a existência de 
novas espécies de direitos humanos: direitos dos povos e direitos da 
humanidade. (COMPARATO, 2015, p. 69). 
 Neste momento da História Mundial foi necessário a reafirmação dos direitos 
humanos, “como paradigma ético capaz de restaurar a lógica do razoável.” (PIOVESAN, 
2011, p. 176), definindo-se por uma proteção em âmbito internacional, “sob esse prisma, 
a violação dos direitos humanos não pode ser concebida como questão doméstica do 
Estado, e sim como problema de relevância internacional, como legítima preocupação 
da comunidade internacional.”. (PIOVESAN, 2011, p. 176). Desta forma, neste segundo 
momento se destacam a Carta das Nações Unidas de 1945 e a Declaração Universal de 
Direitos Humanos de 1948. 
Por meio da Carta das Nações Unidas de 1945 instituiu-se a ONU, o que: 
Consolida, assim, o movimento de internacionalização dos direitos humanos, 
a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a 
propósito e finalidade das Nações Unidas. Definitivamente, a relação de um 
Estado com seus nacionais passa a ser uma problemática internacional, objeto 
de instituições internacionais e do Direito Internacional. (PIOVESAN, 2011, 
p. 189). 
 Quanto à Declaração das Nações Unidas de 1948, dedica-se, neste estudo, o sub 
tópico 2.2.1, pois esta pode ser entendida como a concretização dos ideais almejados na 
Carta das Nações Unidas de 1945, sendo o documento que ao longo dos anos orientará a 
promoção e defesa dos direitos humanos no mundo todo. 
 
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 Com o processo de internacionalização dos direitos humanos, entretanto, 
manteve-se um problema já recorrente: “o desprezo pelos direitos do homem no plano 
interno e o escasso respeito à autoridade internacional no plano externo marcham 
juntos.”. (BOBBIO, 1992, p. 38), então, como fazer com que os mais diferentes Estados 
reconheçam e efetivem os direitos humanos? 
 
2.2.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS -1948 
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 foi articulada durante 
sessão, ocorrida em 16 de fevereiro de 1946 do então Conselho Econômico e Social das 
Nações Unidas, que também nesta mesma data instituiu a criação da Comissão de 
Direitos Humanos para que a mesma elaborasse a presente declaração. Para tanto, a 
Comissão realizaria seus trabalhos em três etapas. 
 Na primeira etapa, concluída em 18 de junho de 1948, foi elaborada a 
Declaração Universal de Direitos Humanos, com consequente aprovação da Assembleia 
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro do recorrido ano. A segunda etapa, por 
sua vez, previa a elaboração de um documento jurídico com força vinculante para além 
da conferida por uma mera declaração. Desta forma, em 1966 foi concluída esta etapa 
com a aprovação do Pacto Internacional sobre Direitos Civil e Políticos e o Pacto 
Internacional sobre Direitos Econômicos, Socais e Culturais. (COMPARATO, 2015, p. 
237). “A terceira etapa, consistente na criação de mecanismos capazes de assegurar a 
universal observância desses direitos, ainda não foi completada.”. (COMPARATO, 
2015, p. 238). Neste aspecto faz-se um adendo: esta etapa consiste na proposta pela qual 
as Revisões Periódicas Universais vêm sendo realizadas. 
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 foi aprovada por 48, dos 
56 Estados-membros à época, seguido por 08 abstenções, a saber: Bielo-Rússia, 
Checoslováquia, Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, URSS, África do Sul e Iugoslávia. 
Mesmo diante das abstenções, autores, como Flávia Piovesan (2011) refletem que: 
A inexistência de qualquer questionamento ou reserva feita pelos Estados aos 
princípios da Declaração, bem como de qualquer voto contrário às suas 
disposições, confere à Declaração Universal o significado de um código e 
plataforma comum de ação. (PIOVESAN, 2011, p. 195). 
 Ao elaborar a Declaração, a comunidade internacional deu um grande avanço 
em matéria de direitos humanos, pois até eram apresentados apenas dois discursos: o 
 
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liberal de não ingerência do Estado na vida privada e o socialista de forma que não se 
podia falar em direitos humanos propriamente ditos, mas tão somente uma seara de 
direitos à liberdade (como sinônimo de afastamento de poderes autoritários) e à 
igualdade em um caráter ainda formal. 
A Declaração de 1948 introduz extraordinária inovação ao conter uma 
linguagem de direitos até então inédita. […] Duas são as inovações 
introduzidas pela Declaração: a) parificar, em igualdade de importância, os 
direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais; e b) 
afirmar a inter-relação, indivisibilidade e interdependência de tais direitos. 
(PIOVESAN, 2011, p. 198-199). 
 A partir deste momento histórico, os direitos humanos passam a ser vistos como 
universais, respeitando-se a condição humana, 
Isso implica dizer que a Declaração, como código de princípios gerais de 
proteção aos direitos humanos, não se limita a definir direitos que devem ser 
positivados pelos Estados, mas sim, define elementos que compõe a 
subjetividade humana e que devem ser respeitados por todos, em toda parte. 
(ANNONI, 2008, p. 33). 
 Entretanto, como bem afirma Noberto Bobbio (1992, p.31) em sua obra A Era 
dos Direitos, a Declaração Universal ''contém em germe'' a concreta defesa dos direitos 
humanos, pois “é apenas o início de um longo processo, cuja realização final ainda não 
somos capazes de ver.” (1992, p. 31). O autor ainda vai além, ao examinar o Preâmbulo 
da Declaração, evidencia que o mesmo: 
Se limita a estabelecer uma conexão necessária entre determinado meio e 
determinado fim, ou, se quisermos, apresenta uma opção entre duas 
alternativas: ou a proteção jurídica ou a rebelião. Mas não põe em ação o 
meio. Indica qual das duas alternativas foi escolhida, mas ainda não é 
capaz de realizá-la. São coisas diversas mostrar o caminho e percorrê-lo até 
o fim. (BOBBIO, 1992, p. 31, grifo nosso). 
 Estabelecerquais são e quem são os direitos humanos do ponto de vista teórico e 
jurídico não é suficiente para a salvaguarda dos mesmos, a insuficiência de normas
5
 que 
delineiam quais os meios a serem utilizados faz com que sempre seja necessário buscar 
novos mecanismos de garantia e defesa destes direitos. (ANNONI, 2008, p. 33). 
 
2.3 OS MECANISMOS DE MONITORAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
5E aqui não digo jurídicas, mas adoto um ponto de vista mais genérico, uma vez: “a Declaração é algo 
mais do que um sistema de normas doutrinário, porém algo menos do que um sistema de normas 
jurídicas.”. (BOBBIO, 1992, p. 31) 
 
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 Desde a sua criação a ONU assume o compromisso de promover a defesa aos 
DH em todo o mundo. Para atender a este ideal as Nações Unidas desenvolve 
mecanismos de monitoramento da implementação pelos Estados de parâmetros mínimos 
de direitos humanos, “organismos que monitoram e cooperam com as obrigações e 
compromissos assumidos pelos Países-Membros das Nações Unidas decorrentes de 
tratados e outros instrumentos internacionais.”. (ACNUDH, 2011). 
 Estes mecanismos se dividem em duas categorias: aqueles emanados por força 
da Carta das Nações Unidas (sistema da Carta ou mecanismos extraconvencionais) e os 
originários de tratados internacionais de direitos humanos (sistema de Tratados ou 
mecanismos convencionais). (MAIA, 2007, p. 86-87). Apesar de suas diferenças estes 
dois mecanismos atuarão de forma complementar, com objetivo comum de zelar pelo 
cumprimento dos DH por parte dos Estados-membros da ONU. 
 
2.3.1 SISTEMA DA CARTA 
 Por meio da Carta das Nações Unidas, a ONU é compelida a defender os direitos 
humanos utilizando-se dos seguintes órgãos: Assembleia Geral, Conselho de Direitos 
Humanos, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Fundos 
Voluntários, Conselho Econômico e Social, o Conselho de Segurança, o Tribunal 
Internacional de Justiça e os Fundos e Programas Autônomos. Por este sistema emanar 
da própria Carta da ONU, ele vincula todos os seus membros, até mesmo aqueles que 
não tenham ratificado nenhum tratado em matéria de direitos humanos e com isto, os 
relatórios produzidos por meio deste sistema poderão ser os únicos relatos da situação 
dos direitos humanos nestes países. (ACNUDH, 2011). 
 Desta forma, apresenta um caráter genérico, já que permite a qualquer país o 
envio de petições individuais, bem como monitora a situação dos DH em todos eles. 
Além disto, possui um conteúdo amplo que engloba a violação a qualquer direito. 
 
2.3.2 SISTEMA DE TRATADOS 
 Não só por meio da Carta das Nações Unidas que emanam órgãos internacionais 
de proteção aos direitos humanos mas também, por meio dos tratados internacionais de 
 
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direitos humanos. Através dos nove principais tratados de direitos humanos deu-se 
origem a nove Comitês
6
, por meio destes Comitês analisa-se “relatórios dos governos e 
da sociedade civil, na perspectiva do monitoramento da implementação dos tratados nos 
estados-partes.”. (LIMA JR., 2002, p. 31). Sendo assim, este sistema se limita apenas a 
proteção dos direitos previstos nos tratados, restringindo-se também aos Estados que os 
ratificaram, que serão fiscalizados por especialistas independentes e não, por 
representantes dos Estados como ocorre no sistema da Carta. Para cada tratado é 
previsto um Comitê. 
 Segundo George Rodrigo Bandeira Galindo (2010), o Sistema Convencional 
possui tanto vantagens quanto desvantagens, pois: 
Se, por um lado, o mecanismo pode parecer tolhido em sua atuação a um 
campo delimitado pelo tratado, por outro, este fornece uma estrutura mais 
organizada e clara para o mecanismo, o que certamente pode contribuir para 
sua maior efetividade. (GALINDO, 2010, p. 189). 
 A atuação destes Comitês “têm a finalidade de auxiliar os países a melhorar a 
implementação daqueles tratados, no plano interno.” (LIMA JR., 2002, p. 32), o que 
ocorre por meio do exame periódico de relatórios apresentados pelos países signatários 
e de recomendações feitas pelos especialistas independentes. 
O modo mais comum de os Comitês acompanharem o cumprimento por parte 
dos Estados é examinando os Relatórios periódicos, que estes têm de 
encaminhar. A elaboração dos relatórios é um momento importante, porque 
os cidadãos ficam conhecendo as políticas públicas do Estado, e 
identificando se são adequadas ou não, e que modificações podem ser 
introduzidas. (MAIA, 2007, p. 89) 
 Além disto, os Comitês preveem que na elaboração destes relatórios haja intensa 
participação popular a fim de tornar crível as informações apresentadas. Além disto, a 
sociedade civil poderá elaborar seus próprios relatórios (relatórios sombra, alternativos 
ou paralelos), cuja, 
Função é fornecer aos comitês análise crítica independente a respeito de 
como estão funcionando (ou não) as políticas públicas do Governo, quanto 
aos vários aspectos dos direitos previstos nos tratados de direitos humanos. 
 
6
Comitê de Direitos Humanos (CCPR); Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 
(CESCR); Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (CERD); Comitê 
para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (CEDAW); Comitê contra a Tortura (CAT) e o 
Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes (OPCAT); Comitê sobre os Direitos da Criança (CRC); Comitê para a 
Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros das Suas Famílias (CMW); 
Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CRPD) e; Comitê para a Proteção de Todas as 
Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (CED). (ACNUDH, 2011). 
 
Luana Mathias Souto 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 193 
 
(MAIA, 2007, p. 89-90). 
 De forma adicional também poderá ser previsto que os Comitês recebam 
petições individuais, realizem de investigações e atendam às reclamações interestatais. 
 
2.4 SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 Com a Declaração Universal de Direitos Humanos, a ONU atraiu para si a 
salvaguarda dos direitos humanos para além do território nacional. Desenvolveu, 
portanto, um sistema de proteção genérico, amplo e que atendesse aos direitos humanos 
mesmo quando a estrutura interna de um país não fosse capaz, sendo desta forma, um 
sistema complementar aos sistemas nacionais e regionais. 
Nessa ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem 
em benefício dos indivíduos protegidos. O propósito da coexistência de 
distintos instrumentos jurídicos – garantindo os mesmos direitos – é, pois, no 
sentido de ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos. O que 
importa é o grau de eficácia da proteção e, por isso, deve ser aplicada a 
norma que, no caso concreto, melhor proteja a vítima. Ao adotar o valor da 
primazia da pessoa humana, esses sistemas se complementam, interagindo 
com o sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior 
efetividade possível na tutela e promoção de direitos fundamentais 
(PIOVESAN, 2003, p. 315). 
 Compõem o sistema de proteção dos direitos humanos da ONU, os seguintes 
órgãos: AssembleiaGeral, Conselho Econômico e Social e Conselho de Segurança. A 
cada um deles será conferida uma atribuição
7
, de forma a garantir uma real defesa aos 
DH. 
 Inserta nesta estrutura de proteção e promoção dos DH em âmbito internacional 
tem-se a Comissão de Direitos Humanos, cuja competência é o monitoramento da 
situação dos direitos humanos. (LIMA JR., 2002, p. 18). 
 
 
7
O sistema de proteção dos direitos humanos das Nações Unidas tem como principais órgãos a 
Assembléia Geral – a cujo organismo compete, principalmente, legislar em matéria de direitos humanos - 
o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) – a cujo organismo cabe promover o respeito dos direitos 
humanos; coordenar as atividades da ONU e suas agências especializadas; elaborar estudos, relatórios e 
recomendações sobre assuntos de interesse social, econômico, cultural e educacional; e o Conselho de 
Segurança – a cujo organismo compete desenvolver operações pela manutenção da paz; decidir sobre 
“graves violações” aos direitos humanos que ponham em risco a paz mundial; e estabelecer tribunais 
penais internacionais. (LIMA JR., 2002, p. 18) 
 
 
Os novos instrumentos de proteção aos direitos humanos: o papel do Conselho de Direitos 
Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica Universal 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 194 
 
 
2.4.1 COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS 
 A Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidasfoi criada em 1946, através 
da Resolução 5/1 do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), ao 
qual mantinha uma relação de subordinação e que em sua primeira reunião quis “criar 
uma comissão funcional, originalmente integrada por peritos individuais — conhecida 
em retrospecto como comissão 'nuclear' – e, logo em seguida, na segunda sessão, […] 
transformá-la em foro intergovernamental.”. (ALVES, 1997, p. 25). 
 A sede da Comissão se situava na cidade de Genebra e era composta por 53 
países-membros eleitos pelo próprio ECOSOC e com mandados de três anos. Durante 
sua vigência a Comissão foi responsável por dar uma diretriz universal em matéria de 
direitos humanos, com a elaboração de documentos, conferências e grupos de trabalho 
que atuavam em diversas áreas relacionadas aos direitos humanos. 
As Conferências Mundiais de Direitos Humanos, em Teerã, em 1968, e em 
Viena, em 1993, consolidaram os princípios básicos do sistema de proteção: 
a universalidade, a indivisibilidade, a interrelação e a interdependência dos 
direitos humanos; a legitimidade da preocupação internacional com a 
situação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; o 
reconhecimento do direito ao desenvolvimento; a interrelação indissociável 
entre democracia, desenvolvimento e direitos humanos. (AMORIM, 2009, p. 
68). 
 Esta Comissão pode ser compreendida como uma quebra de paradigma, uma vez 
que surge após a Segunda Grande Guerra, se pautando na defesa e promoção universal 
dos direitos humanos e apresenta a possibilidade de responsabilização dos Estados 
quando estes não atuam em defesa dos direitos de seus nacionais. “É possível afirmar 
que a maior conquista da Comissão está no simples fato de ter passado a existir.”. 
(SHORT, 2008, p. 177). 
 Entretanto, no ano de 2006, após 60 anos de sua criação, a Comissão de Direitos 
Humanos teve seus trabalhos encerrados. O principal motivo de seu insucesso foi sua 
ineficiência como órgão de proteção internacional dos direitos humanos, especialmente 
por sua diretriz estritamente política. 
A Comissão de Direitos Humanos teve, no entanto, sua legitimidade minada 
pelas críticas à abordagem seletiva e politizada que caracterizava sua atuação. 
As resoluções sobre países adotadas pelo órgão eram frequentemente 
inspiradas antes na singularização do país violador por motivações políticas 
do que na necessidade de monitoramento efetivo da situação dos direitos 
humanos. Como outras instâncias multilaterais, a Comissão não era infensa 
 
Luana Mathias Souto 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 195 
 
às disputas de poder. (AMORIM, 2009, p. 68). 
 A gravidade da situação apresentada pela ineficiência da Comissão ao atuar 
como órgão de fiscalização da proteção dos direitos humanos era tamanha que Sidney 
Guerra e Camila Lourenço de Oliveira (2009) afirmam que: “para se ter uma ideia, 
nunca foi adotada nenhuma resolução condenando os abusos no Tibet e nada foi feito 
com relação à situação dos detentos na Baía de Guantânamo” (GUERRA; OLIVEIRA, 
2009, p. 06), exemplos estes, notórios de violação aos direitos humanos. O que “passou 
o recado de que os direitos humanos, ao invés de fundamentais, poderiam ser 
subsumidos a interesses políticos, econômicos, ou de segurança dos Estados.”. (SHORT, 
2008, p. 178). 
 Além da ausência de mecanismos de acompanhamento da atividade dos Estados 
em matéria de direitos humanos, a própria estrutura da Comissão inviabilizava uma 
séria atuação no controle dos países-membros na promoção dos direitos humanos, já 
que não se exigia dos mesmos nenhum compromisso de promoção e proteção aos 
direitos humanos, nem mesmo a previsão de suspensão daqueles que tivessem cometido 
violações a estes direitos. O método de escolha de seus membros, também contribuía 
para a manutenção de enlaces meramente políticos, já que ocorria por meio de 
aclamação, bastando a obtenção de uma maioria simples (algo em torno de 28 votos). 
Os membros do Conselho de Segurança tinham assento virtualmente 
garantido na Comissão, o que evidenciava a total falta de critério na escolha 
dos países, constituindo prova cabal de que este órgão estava cada vez mais 
divorciado da finalidade que motivou a sua criação e se submetendo ao 
talante de jogadas políticas. (GUERRA; OLIVEIRA, 2009, p. 06) 
 Outro fator que contribuía para a ineficiência da Comissão era a periodicidade 
de suas reuniões que ocorriam, com obrigatoriedade de, apenas uma sessão por ano com 
duração de 06 semanas, o que mesmo em um mundo hipotético, onde não há violação 
nenhuma aos direitos humanos, seria insuficiente para colocar em pauta todas as 
pretensões de 53 membros. Esta falta de credibilidade perante a Comissão, fez com que 
em 15 de março de 2006 fosse extinta e por consequência, deu-se a criação, através da 
Resolução 60/251, do atual Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. 
 
 
 
 
Os novos instrumentos de proteção aos direitos humanos: o papel do Conselho de Direitos 
Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica Universal 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 196 
 
 
3. CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS 
(CONSELHO) 
O presente Conselho foi criado com a finalidade de remodelar a atuação das 
Nações Unidas no controle e monitoramento da atuação dos países-membros em 
questões concernentes à defesa dos direitos humanos em seus territórios. Com a 
declarada ausência de capacidade da Comissão em desenvolver este trabalho, no dia 15 
de março de 2006, 170 países
8
 aprovaram a criação do Conselho de Direitos Humanos 
das Nações Unidas, através da Resolução 60/251. 
 No momento de sua aprovação, os EUA apontaram como motivos de rejeição 
alguns aspectos estruturais que ensejaram grandes mudanças e que diferenciam o 
Conselho da antiga Comissão. 
A principal preocupação do país [EUA] era a inexistência de rígidos critérios 
para a suspensão de países – membros ou candidatos – no Conselho de 
Direitos Humanos que tivessem em sua história sanções por violações aos 
direitoshumanos ou práticas de terrorismo, dirigidas pelo Conselho de 
Segurança. […] Outro ponto de discordância foi quanto ao número de 
membros do Conselho. […] Segundo eles [EUA], o principal motivo para se 
manter um corpo maior é o temor dos Estados de não participarem dos 
mecanismos de decisão e desta forma, ficarem sujeitos ao julgamento de 
outros Estados. (NEDEVA apud MACHADO, 2009, p. 67). 
 Com sede em Genebra, o Conselho assume uma tarefa difícil, pois ao substituir a 
Comissão deve romper com os parâmetros até então vigentes e adotar mecanismos 
novos que permitam o real cumprimento pelos países na defesa dos direitos humanos 
em seus territórios. 
O êxito do novo conselho em muito dependerá, é claro, da disposição dos 
países de se engajarem de forma construtiva, reconhecendo que não existem 
professores ou países com um histórico completamente isento de abusos na 
área de direitos humanos, e das inovações institucionais trazidas pelo novo 
órgão. (MENEZES, 2011, p. 80). 
 Os trabalhos do Conselho se iniciaram em 19 de junho de 2006, sendo seus 
primeiros membros eleitos em 09 de maio de 2006, pela própria Assembleia 
Geral,tendo o Brasil sua primeira participação em 2006 e sendo reeleito em 
 
8
Na votação para criação do Conselho, houve 04 votos contra (EUA, Israel, Ilhas Marshall e Palau), 03 
abstenções (Irã, Venezuela e Bielorússia) e 07 direitos à voto suspensos por inadimplência das 
contribuições orçamentárias da ONU (Chade, Papua Nova Guiné, Seicheles, República Dominicana, 
Eritréia, Dominica e Costa do Marfim). (BORGES, 2014). 
 
Luana Mathias Souto 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 197 
 
2008.(MACHADO, 2009, p. 71). 
 Entretanto, mesmo o Conselho tendo sido criado com o objetivo de afastar da 
ONU os vícios de credibilidade criados pela Comissão, isto não o isenta de críticas. 
 
3.1 ESTRUTURA 
 Como apontado na subseção 2.3.1, um dos fatores que levaram à falência a 
Comissão foi a sua estrutura, que permitia que seus membros tivessem “cadeiras cativas” 
e desta forma, “imperava uma seletividade intervencionista que escolhia os países a 
serem submetidos ao escrutínio da Comissão. Assim, os países poderosos escapavam 
deste processo de revisão.”. (GUERRA; OLIVEIRA, 2009, p. 06) 
 Tendo em vista este cenário, competia então, à ONU a criação de um novo 
organismo, que apresentasse uma estrutura diferente de seu antecessor e que pudesse de 
fato atender às finalidades pelas quais foi criado. Para atender a estes anseios, 
estabeleceu-se na Resolução 60/251 que para se tornar membro do Conselho seria 
necessário atender a critérios quantitativos e qualitativos. 
 Em seu critério quantitativo exige-se que para ser membro obtenha-se, em 
votação secreta, a maioria absoluta dos votos a Assembleia Geral, ou seja, 97 dos 192 
votos, possibilitando que todos os membros pudessem ser eleitos(GUERRA; 
OLIVEIRA, 2009, p. 07). Por sua vez, para atender ao critério qualitativo é necessário 
avaliar a atuação do país na defesa e promoção dos direitos humanos. 
Os países candidatos ao Conselho devem assumir formalmente 
compromissos voluntários – medidas a serem adotadas ao longo de seu 
mandato para o progresso da realização dos direitos humanos em seus 
territórios. (AMORIM, 2009, p. 69) 
 Ao adotar este critério se pretende expurgar do Conselho qualquer decisão que 
seja estritamente política e violadora dos direitos humanos, já que se tem prevista “a 
possibilidade de suspender os direitos inerentes aos Estados-membros do Conselho que 
cometerem graves violações aos direitos humanos por meio de votação.”. (MACHADO, 
2009, p. 70). Para que haja a suspensão de um Estado-membro é necessária a 
composição de 2/3 dos votos majoritários. 
 Outra diferença para a antiga Comissão e que visa atender ao ideal de mudança 
 
Os novos instrumentos de proteção aos direitos humanos: o papel do Conselho de Direitos 
Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica Universal 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 198 
 
que ensejou a criação do Conselho é a forma de distribuição dos países-membros que 
passou a ser de 47 e não mais 53 como na Comissão e este número deve atender a uma 
distribuição geográfica dos 47 países, 13 são da África, 13 da Ásia, 06 do Leste 
Europeu, 06 da América Latina e Caribe e 07 da Europa Ocidental e outros. 
Como se pode notar, os países africanos e asiáticos perfazem, juntos, cerca de 
55% do total de integrantes do Conselho. Na Comissão, tal percentual girava 
em torno de 50%. Essa confortável maioria, além de evidenciar, por si só, a 
grande influência que estes países terão na aprovação de resoluções, também 
lhes permite uma participação mais ativa na elaboração da agenda e lhes 
confere maior peso no estabelecimento das prioridades traçadas pelo 
Conselho. (GUERRA; OLIVEIRA, 2009, p. 08) 
 De forma positiva, também se implementou a realização de 03 sessões anuais, 
em detrimento da única sessão por ano realizada pela Comissão, com duração de 06 
semanas. No atual Conselho, as sessões têm duração mínima de 10 semanas, podendo 
qualquer Estado-membro solicitar a realização de sessão especial, desde que haja a 
aprovação de 1/3 dos membros. 
O aumento dessas sessões é extremamente profícuo para que sejam discutidas 
e adotadas medidas preventivas visando a evitar o recrudescimento de 
eventuais tensões que possam eclodir no cenário internacional. (GUERRA; 
OLIVEIRA, 2009,p. 09) 
 Outro aspecto que denota uma postura diferente e traz independência ao 
Conselho é que este se encontra no mesmo nível hierárquico que o Conselho de 
Segurança da ONU e o ECOSOC, sendo agora subordinado apenas à Assembleia Geral 
da ONU. 
 Todas estas novidades que incorporam o Conselho visam a real e efetiva 
garantia aos direitos humanos em âmbito internacional, entretanto, outro fator havia 
sido apontado como motivador do fim da Comissão, qual seja, a ausência de 
mecanismos de acompanhamento e fiscalização das atividades e evoluções dos países 
em matéria de direitos humanos. 
 
3.2 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA DIREITOS 
HUMANOS (ACNUDH) 
 O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos - ACNUDH foi 
criado em dezembro de 1993, através da resolução 48/141 da Assembleia Geral da ONU, 
 
Luana Mathias Souto 
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após frustradas tentativas que recorrem desde 1947
9
. Com a função de promover os 
direitos humanos dentro do sistema das Nações Unidas, o ACNUDH é vinculado ao 
Secretário Geral da ONU e dirigido por um Alto Comissário, escolhido pela Assembleia 
Geral da ONU após a indicação do Secretário Geral, que deverá atender ao critério de 
rotatividade geográfica. Atualmente (desde 1º de setembro de 2014), é chefiado por 
ZeidRa'adAl Hussein, da Jordânia
10
. 
 Segundo Matheus de Carvalho Hernandez (2012), o ACNUDH: 
Tem como objetivo, segundo seu mandato, promover e proteger o exercício 
dos direitos humanos para todos os indivíduos; exercer um papel ativo na 
remoção dos atuais obstáculos à realização dos direitos humanos, impedindo 
a continuidade de violações; e coordenar as atividades de promoção e 
proteção desses direitos no sistema ONU. (HERNANDEZ, 2012, p. 12) 
 O ACNUDH também representa, segundo José Cutileiro (2003): 
Um instrumento fundamental no acompanhamento pelas Nações Unidas, em 
comités para isso designados, do cumprimento pelos países dos principais 
tratados sobre direitos do homem e, também, no apoioaos representantes e 
relatores independentes, nomeados pela Comissão
11
 dos Direitos do Homem, 
uns que têm sob a sua alçada países, outros cujos mandatos são temáticos 
(CUTILEIRO, 2003, p. 43-44). 
 Para desempenhar estes propósitos, o ACNUDH mantém diálogo permanente 
com os Estados, ONG’s afeitas aos direitos humanos e demais instituições da sociedade 
civil, pois “é o principal responsável pelos direitos humanos dentro do 
arcabouçoinstitucional da ONU, que, por sua vez, tem nos direitos humanos um de seus 
principais pilares.”. (HERNANDEZ, 2012, p. 15). Para tanto, o ACNUDH: 
Alerta e ajuda a sociedade civil em múltiplas campanhas em prol dos direitos 
do homem, fornece, em Genebra e nas suas delegações no terreno, 
colaboração técnica e pedagógica a governos que a queiram receber. 
(CUTILEIRO, 2003, p. 44). 
 Desta forma, o ACNUDH possui, atualmente, 12 escritórios regionais que ao 
atuarem em campo buscam: a promoção e proteção dos direitos humanos em nível 
regional e em cada país; a integração dos direitos humanos do trabalho realizado nas 
 
9A primeira iniciativa ocorreu em 1947 pela França, após isto, em 1950 houve uma proposta feita pelo 
Uruguai, mas somente com a Conferência de Viena de 1993 que se conseguiu o impulso necessário para 
sua criação. (HERNANDEZ, 2014). 
10
O primeiro Alto Comissário foi José Ayala-Lasso (Equador/ 1994-1997), sucedido por Mary Robinson 
(Irlanda/ 1997-2002); Sérgio Vieira de Mello (Brasil/ 2002-2003); Bertrand Ramcharan (Guiana/ 2003-
2004), Alto Comissário interino em decorrência da morte de Sérgio Mello em 19 de agosto de 2003; 
Louise Arbour (Canadá/ 2004-2008); NavanethemPillay (África do Sul/ 2008-2014). (HERNANDEZ, 
2014). 
11
O ACNUDH e o texto apresentado são anteriores à criação do UNHRC. 
 
Os novos instrumentos de proteção aos direitos humanos: o papel do Conselho de Direitos 
Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão Periódica Universal 
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equipes de cada país e as missões de paz da ONU e; fortalecer as instituições nacionais 
e da sociedade civil
12
. (OHCHR, 2015, tradução nossa). 
 Apesar do trabalho regional desempenhado pelo ACNUDH ser pioneiro na ONU 
no tratamento aos direitos humanos, algumas críticas são feitas a este mecanismo: “as 
dificuldades de comunicação entre as missões de campo e a sede em Genebra, [é] algo 
extremamente criticado pelas ONGs de direitos humanos até hoje e contraditório com a 
missão de coordenação do ACNUDH.”. (HERNANDEZ, 2012, p. 16-17). 
 Além disto, Hernandez (2012) aponta como enfrentamentos do ACNUDH a 
imprecisão com a qual seu mandato foi estabelecido, o que permite, por exemplo, a 
ausência de responsabilidade nas averiguações às violações aos direitos humanos e 
limitações à sua função de coordenação, o que desvirtua o propósito de sua criação, “a 
busca por efetividade dos direitos humanos é que suscitou a idealização e a realização 
da Conferência de Viena, tornando-a o momento crítico e fundante do ACNUDH.”. 
(HERNANDEZ, 2012, p. 18). 
 Outro principal desafio que permeia o ACNUDH desde a sua criação seria que 
este órgão: 
Navega sempre entre Cila e Caribdis. De um lado espreitam-no os defensores 
intransigentes do exercício pleno desses direitos, hoje em dia, sobretudo 
ONG, convencidas da sua superioridade moral e de não terem contas a 
prestar senão às suas consciências, que às vezes parecem esperar que o Alto 
Comissário se comporte como se fosse uma delas. Do outro lado perfilam-se 
os governos que raramente colocam direitos do homem no topo das suas 
listas de prioridades, consideram não precisar de conselhos na arte do 
possível e às vezes parecem esperar que o Alto Comissário se comporte como 
se fosse um funcionário sob instruções. [...] Para que o desempenho do seu 
cargo seja útil – isto é, para que faça uma diferença positiva e perceptível na 
protecção dos direitos do homem neste mundo– o Alto Comissário tem de ser 
respeitado e ouvido pelos dois lados e conseguir, negociando com cada um 
deles, levar água ao seu moinho. (CUTILEIRO, 2003, p. 47). 
 O ACNUDH dentro do sistema ONU de direitos humanos presta os serviços de 
assessoramento, secretaria e acompanhamento dos trabalhos desempenhados pelos 
mecanismos de monitoramento dos direitos humanos. Assim, o ACNUDH fornece 
suporte material às reuniões do Conselho. Atualmente, com a vigência do mecanismo 
de RPU, o Alto Comissariado por sua presença em campo e por dialogar com os mais 
 
12
OHCHR presences away from Headquarters are a strategic entry point for promoting and protecting 
human rights at the country level; mainstreaming human rights, that is, integrating a human rights 
perspective into the work of United Nations Country Teams and United Nations peace missions; and 
helping strehgthen national institutions and civil society. 
 
Luana Mathias Souto 
Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol.17, jan./jun., 2016, pp.182-222. 201 
 
diversos atores vem preparando os relatórios base, definidos em 10 páginas, com um 
resumo das informações recebidas em sede de RPU. 
 
4. REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL (RPU) 
 O mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU) ou do inglês Universal 
PeriodicReview (UPR) é hoje a grande inovação apresentada pelo Conselho de Direitos 
Humanos das Nações Unidas no monitoramento do cumprimento pelos países das 
questões relativas aos direitos humanos. Através de uma análise periódica, uma vez a 
cada quatro anos, os 193
13
 países-membros das Nações Unidas expõem através de um 
relatório o que vêm realizando em matéria de direitos humanos. As diretrizes temáticas 
que devem ser abordadas no relatório são escolhidas a partir de recomendações feitas 
pelos Grupos de Trabalhos e agentes de organizações civis, podendo estas 
recomendações serem ou não acatadas pelo Estado em revisão. 
Em princípio, a própria lógica comunicativa do mecanismo, que inclui além 
dos relatórios uma sessão de três horas de perguntas (a qual precede o 
relatório final com recomendações), deve constranger os Estados a evitar 
táticas de evasão de temas sensíveis ou sobre os quais, por algum motivo, 
prefeririam não se pronunciar. Acredita-se que este mecanismo possa 
empoderar grupos de direitos humanos locais e subsidiar decisões de ajuda 
humanitária e cooperação internacional, possivelmente influenciando nas 
relações diplomáticas entre os países em alguns casos. (IPEA, 2008, p. 227). 
 Desta forma, o Conselho pretende acompanhar o desenvolvimento das medidas 
assumidas pelos países de proteção e promoção dos direitos humanos e resgatar a 
credibilidade do sistema ONU de defesa aos direitos humanos. 
 
4.1 RESOLUÇÃO 60/251 E A CRIAÇÃO DA RPU 
 Em 15 de março de 2006, a Assembleia Geral da ONU durante sua 72ª sessão 
instituiu a Resolução 60/251. Nesta resolução, a mesma que criou o Conselho, em seu 
item 5, “e”, foi previsto o mecanismo de Revisão Periódica Universal, que deverá: 
Com base em informações objetivas e confiáveis, por meio da observância, de 
cada Estado de suas obrigações e compromissos de direitos humanos de modo 
 
13Quando o Conselho foi criado eram apenas 192 países, em 14 de julho de 2011, o Sudão do Sul tornou-
se membro da ONU, o que alterou um pouco a logística do mecanismo de RPU, que antes operava em 
número par. 
 
Os novos instrumentos de proteção aos direitos humanos: o papel do Conselho de Direitos 
Humanos da ONU e o mecanismo de Revisão PeriódicaUniversal 
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que garanta a universalidade de cobertura e igualdade de tratamento em 
relação a todos os Estados; a revisão deve ser um mecanismo cooperativo, 
baseado em um diálogo interativo, com plena participação do país em causa e 
com a devida consideração às suas necessidades de capacitação; tal 
mecanismo deve complementar e não duplicar o trabalho dos órgãos de 
tratados; o Conselho deve desenvolver as modalidades e a atribuição de 
tempo necessária para o mecanismo de revisão periódica universal se 
desenvolver dentro de um ano após a realização de sua primeira sessão. 
(OHCHR, 2006a, p.3, tradução nossa).
14 
 Com vistas a analisar a situação de direitos humanos de forma igualitária entre 
os países, já que todos são avaliados dentro de um período de 4 anos, inclusive os 
países-membros do Conselho, o que se pretende é evitar a politização do sistema de 
defesa dos DH como ocorria na Comissão. Observa-se que o mecanismo RPU poderá 
vir a ser utilizado como uma ferramenta até mesmo para a escolha do país que irão 
compor o Conselho, o que atenderá ao critério qualitativo.“O UPR poderá apoiar a 
candidatura de um Estado, fornecendo provas de sua contribuição à proteção dos 
direitos humanos, e os Estados serão obrigados a passar pelo UPR durante seu período 
de membro.”. (SHORT, 2008, p. 182) 
 O mecanismo RPU é cargo-chefe do recém-criado Conselho e por meio dele a 
ONU busca verificar onde e quais direitos estão sendo violados em cada país e a partir 
disto, criar para os mesmos a obrigação de desenvolver instrumentos de defesa, devendo 
para isto apresentar aos seus pares como solucionará a questão ou se já realizou, 
internamente, a criação de soluções. A responsabilidade criada por meio da RPU passa a 
ser não somente questão interna de cada Estado, mas a partir do momento em que 
outros países apresentam recomendações aquele que está sendo revisado se compromete 
também com estes países e com todo o mecanismo internacional de defesa dos DH. 
 Já em sede de concretização da RPU, AntonioCisneros de Alencar (2010), 
responsável na Seção das Américas do ACNUDH em Genebra, sinaliza em sua obra, 
Cooperação entre Sistemas global e interamericano de Direitos Humanos no âmbito do 
mecanismo de Revisão Periódica Universal, que por meio da RPU seria possível 
ampliar a cooperação entre os sistemas global e regional de direitos humanos e diante 
 
14e) Undertake a universal periodic review, based on objective and reliable information, of the fulfilment 
by each State of its human rights obligations and commitments in a manner which ensures universality of 
coverage and equal treatment with respect to all States; the review shall be a cooperative mechanism, 
based on an interactive dialogue, with the full involvement of the country concerned and with 
consideration given to its capacity-building needs; such a mechanism shall complement and not duplicate 
the work of treaty bodies; the Council shall develop the modalities and necessary time allocation for the 
universal periodic review mechanism within one year after the holding of its first session. 
 
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disto aponta, especificamente, o sistema interamericano quando de sua observação do 
primeiro ciclo (2008-2011): 
Pode-se verificar a consolidação de um precedente favorável a inclusão, nas 
próximas sessões da RPU, de dados do sistema interamericano entre as 
informações disponibilizadas aos Estados Membros da ONU, no caso da 
revisão de países americanos. Desta forma, aparentemente concretizou-se no 
caso do sistema interamericano a intenção dos Estados da ONU, expressa no 
momento em que se criou a RPU, de assegurar a participação de organismos 
regionais nesse processo; ao menos no que tange a informação disponível aos 
Estados para a revisão. (ALENCAR, 2010, p. 181). 
 Todas as diretrizes traçadas pela Resolução 60/251 quando esta criou o 
mecanismo da RPU são bastante promissoras e pretendem alcançar a real efetividade 
dos direitos humanos em todos os países e para todos os povos, sem que haja ressalvas 
ou estratégias que desvirtuem suas finalidades. 
 
4.2 RESOLUÇÃO 5/1 E AS DIRETRIZES APLICÁVEIS À RPU 
 Para regulamentar o mecanismo de RPU, em 18 de junho de 2007, o Conselho 
aprovou a Resolução 5/1, que define as bases normativas da RPU, seus princípios e 
objetivos, a periodicidade e a ordem das revisões, os procedimentos e as modalidades de 
RPU e os resultados das revisões. 
 Assim, a RPU deverá se pautar pelos seguintes documentos: 
(a) Carta das Nações Unidas; 
(b) Declaração Universal de Direitos Humanos; 
(c) Pactos e convenções de direitos humanos em que o país é signatário; 
(d) Compromissos voluntários assumidos pelo país, incluindo os firmados 
quando de sua candidatura ao Conselho e; 
2. Adicionalmente, dado o caráter complementar e mutuamente inter-
relacionado dos direitos humanos e do direito humanitário internacional, a 
revisão deverá analisar o direito humanitário internacional aplicável ao caso. 
(OHCHR, 2006b, p. 01-02, tradução nossa).
15 
 
15
 The basis of the review is: 
 (a) The Charter of the United Nations; 
 (b) The Universal Declaration of Human Rights; 
 (c) Human rights instruments to which a State is party; 
 (d) Voluntary pledges and commitments made by States, including those undertaken when 
presenting their candidatures for election to the Human Rights Council (hereinafter “the Council”). 
 2. In addition to the above and given the complementary and mutually interrelated nature 
 
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 Os princípios norteadores da RPU, por sua vez, são: 
A promoção da universalidade, interdependência, indivisibilidade e inter-
relação de todos os direitos humanos; seja um mecanismo de cooperação 
baseado em informações objetivas e confiáveis e no diálogo interativo; 
assegurar a cobertura universal e o tratamento igualitário a todos os Estados; 
seja um processo intergovernamental, membro das Nações Unidas – dirigido 
e ação – orientada; envolva totalmente o país sob revisão; complemente e não 
duplique outros mecanismos de direitos humanos, representando um valor 
adicional; seja conduzido com objetivo, transparência, não seletividade, 
construtivo, não conflituoso e de forma não política; não ser excessivamente 
oneroso para o Estado nem para a agenda do Conselho; não ser 
excessivamente longa, tendo que ser realista e não absorver um montante 
desproporcional de tempo e recursos humanos e financeiros; não implica na 
diminuição da capacidade do Conselho em responder situações urgentes de 
direitos humanos; plena integração da perspectiva de gênero; não causar 
prejuízos às obrigações contidas em elementos previstos nas bases da RPU, 
tendo em vista o nível de desenvolvimento e as especificidades dos países e; 
assegurar a participação de todas as partes interessadas, incluindo ONG’s e 
instituições nacionais sobre direitos humanos, de acordo com a Resolução 
60/251 da Assembleia Geral da ONU de 15 de março de 2006 e Resolução 
1996/31 do ECOSOC de 25 de julho de 1996, como também qualquer decisão 
tomada pelo Conselho neste sentido. (OHCHR, 2006b, p. 02, tradução 
nossa).
16
 
 Porfim, a RPU deverá atender aos objetivos de: 
Melhoria da situação dos direitos humanos no país em análise; cumprimento 
das obrigações e compromissos assumidos por cada Estado em sede de 
direitos humanos e avaliação dos desenvolvimentos positivos e desafios de 
cada Estado; reforço à capacidade do Estado e assistência técnica, em 
consulta com, e com o consentimento do Estado em análise; o 
 
of international human rights law and international humanitarian law, the review shall take into account 
applicable international humanitarian law. 
16
 3. The universal periodic review should: 
 (a) Promote the universality, interdependence, indivisibility and interrelatedness of all 
human rights; 
 (b) Be a cooperative mechanism based on objective and reliable information and on 
interactive dialogue; 
 (c) Ensure universal coverage and equal treatment of all States; 
 (d) Be an intergovernmental process, United Nations Member-driven and action-oriented; 
 (e) Fully involve the country under review; 
 (f) Complement and not duplicate other human rights mechanisms, thus representing an 
added value; 
 (g) Be conducted in an objective, transparent, non-selective, constructive, 
non-confrontational and non-politicized manner; 
 (h) Not be overly burdensome to the concerned State or to the agenda of the Council; 
 (i) Not be overly long; it should be realistic and not absorb a disproportionate amount of 
time, human and financial resources; 
 (j) Not diminish the Council’s capacity to respond to urgent human rights situations; 
 (k) Fully integrate a gender perspective; 
 (l) Without prejudice to the obligations contained in the elements provided for in the basis 
of review, take into account the level of development and specificities of countries; 
 (m) Ensure the participation of all relevant stakeholders, including non-governmental 
organizations and national human rights institutions, in accordance with General Assembly resolution 
60/251 of 15 March 2006 and Economic and Social Council resolution 1996/31 of 25 July 1996, as well 
as any decisions that the Council may take in this regard. 
 
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compartilhamento da melhor prática entre os Estados e os outros agentes 
interessados; apoio à cooperação em promoção e proteção dos direitos 
humanos e; o encorajamento da plena cooperação e engajamento com o 
Conselho, outros órgãos de direitos humanos e o ACNUDH. (OHCHR, 
2006b, p. 02-03, tradução nossa).
17
 
 Ao preconizar que esses serão os princípios e os objetivos basilares do 
mecanismo de RPU, o Conselho intenta que haja por parte do Estado um real 
compromisso com a defesa aos direitos humanos em seu território e ao primar pela 
cooperação, demonstra que esta defesa não se trata de um ato isolado do Estado, mas 
sim, de que há no seio do próprio mecanismo a intenção de suporte e apoio tanto por 
seus pares quanto por outros órgãos de direitos humanos. 
 
4.2.1 PERIODICIDADE E ORDEM DE REVISÃO 
 Para que o mecanismo de RPU transcorra de forma a possibilitar que todos os 
193 países sejam revisados, a Resolução 5/1 apresenta algumas regras de ordem e 
periodicidade a serem adotadas. Desta forma, 
A revisão somente se inicia após a aprovação pelo Conselho do mecanismo 
de RPU. A ordem de avaliação deverá refletir os princípios de universalidade 
e tratamento igualitário, devendo, para tanto, ser estabelecido o mais célere 
possível, a fim de permitir que os Estados se preparem adequadamente para a 
mesma. (OHCHR, 2006b,p. 03, tradução nossa).
18 
 Com o intuito de evitar a politização que era recorrente na Comissão, em que 
seus próprios membros não eram adequadamente repreendidos quando violadores de 
DH, o Conselho por meio desta resolução, dispõe que “todos os seus membros, 
incluindo também Estados observadores do Conselho deverão ser revisados durante o 
período de seu mandato, sendo os primeiros, preferencialmente, aqueles eleitos para um 
 
17 
4. The objectives of the review are: 
 (a) The improvement of the human rights situation on the ground; 
 (b) The fulfilment of the State’s human rights obligations and commitments and assessment 
of positive developments and challenges faced by the State; 
 (c) The enhancement of the State’s capacity and of technical assistance, in consultation 
with, and with the consent of, the State concerned; 
 (d) The sharing of best practice among States and other stakeholders; 
 (e) Support for cooperation in the promotion and protection of human rights; 
 (f) The encouragement of full cooperation and engagement with the Council, other 
humanrights bodiesand the Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights. 
18 5. The review begins after the adoption of the universal periodic review 
mechanism by the Council. 
 6. The order of review should reflect the principles of universality and equal treatment. 
 7. The order of the review should be established as soon as possible in order to allow 
States to prepare adequately. 
 
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ou dois anos de mandato.”. (OHCHR, 2006b, p. 03, tradução nossa).19 
 Além destes critérios, 
Deverá ser respeitada a distribuição geográfica equitativa, de forma que o 
primeiro membro e/ou membro-observador a ser revisto será escolhido por 
meio de sorteio, a partir de cada grupo regional, de modo a assegurar o pleno 
respeito a esta distribuição geográfica. Seguir-se-á também a ordem 
alfabética, dentre os países selecionados, para escolha daquele que iniciará, a 
menos que outros países se voluntariem para serem revisados. (OHCHR, 
2006b, p. 03, tradução nossa).
20 
 Em relação à periodicidade, entre os ciclos de revisão, esta deverá atender à 
razoabilidade, considerando a capacidade dos Estados de se prepararem para a RPU e a 
capacidade das demais partes interessadas para responderem as recomendações 
colocadas em revisão. A cada ciclo, a periodicidade das revisões será de 04 anos, o que 
implicará na observação de, aproximadamente, 48 Estados por ano, comportando 03 
sessões de Grupos de Trabalho de duas semanas cada. (OHCHR, 2006b, p. 03). Quanto 
a este critério de periodicidade, Katherine Short (2008) apresenta a seguinte reflexão: 
O UPR vai examinar 48 países por ano, o que talvez seja demais para 
permitir o exame minucioso necessário para cada Estado, mas que irá 
assegurar que todos os Estados sejam regularmente revisados. Três horas 
serão reservadas para a revisão de cada Estado, independentemente do Estado 
ter um bom histórico de direitos humanos ou do tamanho de seu território e 
população. Enquanto isso mantém igualdade entre Estados-membros, falha 
em considerar o fato de que Estados com históricos de direitos humanos 
delicados precisam ser examinados mais de perto. (SHORT, 2008, p. 180). 
 Após a escolha de um país para ser submetido à RPU, em cada ciclo, serão 
elaborados três documentos: relatório oficial do Estado sob revisão, relatório elaborado 
pelo ACNUDH e um resumo com informações adicionais prestadas por agentes 
interessados, devendo serem entregues seis semanas antes da revisão para que assim, 
sejam distribuídos nas seis línguas oficiais das Nações Unidas.Estes documentos serão 
considerados durante a revisão, quando em Genebra será realizada uma sessão 
denominada Diálogo Interativo, em que o Estado em revisão apresentará, oralmente, seu 
 
19
 8. All member States of the Council shall be reviewed during their term of membership. 
 9. The initial members of the Council, especially those elected for one or two-year terms, 
should be reviewed first. 
20
 10. A mix of member and observer States of the Council should be reviewed. 
 11. Equitable geographic distribution should be respected in the selection of countries for 
review. 
 12. The first member and observer States to be reviewed will be chosen by the drawing of 
lots from each Regional Group in such a way as to ensure full respect for equitable geographic 
distribution. Alphabetical order will then be applied beginning with those countries thus selected, unless 
other countries volunteer to be reviewed. 
 
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relatório oficial e responderá às perguntas submetidas pelos membros do Conselho que 
desejarem se manifestar. Ao final deste diálogo, o país sob revisão receberá 
recomendações dos membros do Conselho e membros-observadores. Todas as 
manifestações articuladas durante o Diálogo Interativo são compiladas em um relatório 
final, que conterá as recomendações feitas pelo Conselho. Por último, competirá ao país 
sob revisão implementar, em âmbito interno, as recomendações por ele aceitas durante a 
revisão. (OHCHR, 2006b, p.03). 
 
4.2.2 DESENVOLVIMENTO DA REVISÃO 
 A Resolução 5/1 ainda estabelece as diretrizes a serem adotadas na elaboração 
de cada documento que estruturam todo o mecanismo de RPU. Desta forma, o relatório 
nacional desenvolvido pelo Estado sob revisão deverá ser limitado a 20 páginas e 
apresentará a atuação do país na promoção dos DH. Já os relatórios preparados pelo 
ACNUDH deverão ser limitados a 10 páginas cada um, o primeiro conterá informações 
de tratados, procedimentos especiais, bem como comentários do Estado em observação 
e demais documentos oficiais da ONU pertinentes e, o segundo, por sua vez, será um 
resumo, que conterá informações adicionais fornecidas por agentes interessados na RPU. 
(OHCHR, 2006b). 
O mecanismo não se exaure na apresentação do relatório pelo Estado ao 
conselho; compreende, igualmente, relatórios das organizações da sociedade 
civil e relatório do escritório do alto-comissário para os Direitos Humanos 
das Nações Unidas, este último elaborado com base em relatórios para os 
comitês de tratados, recomendações de relatores especiais e outras fontes da 
ONU. Ao final do exercício, os três conjuntos de relatórios são consolidados 
e dão origem a um texto que traduz o estágio de implementação das 
obrigações de direitos humanos até o próximo exercício. Essa consolidação 
fica a cargo de três relatores — a chamada Troika—, selecionados por sorteio 
entre os membros do conselho. Os relatores têm de pertencer, 
obrigatoriamente, a diferentes grupos regionais. (MENEZES, 2011, p. 81-82). 
 Durante a revisão, é formado “um Grupo de Trabalho que é presidido pelo 
Presidente do Conselho e composto por 47 Estados-membros, que decidirão sobre a 
composição de sua delegação.”. (OHCHR, 2006b, p. 04, tradução nossa) 21. Também é 
facultada a participação dos Estados observadores e outras partes interessadas durante a 
 
21
 18. The modalities of the review shall be as follows: 
 (a) The review will be conducted in one working group, chaired by the President of the Council and 
composed of the 47 member States of the Council. Each member State will decide on the 
composition of its delegation; 
 
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revisão. 
 A cada revisão é formado um grupo de três relatores, denominados Troika, 
escolhidos por meio de sorteio dentre os membros do Conselho e que sejam oriundos de 
grupos regionais diversos, “isso induz confiabilidade no órgão, garantindo que nenhum 
bloco regional de Estados recorra ao processo de revisão como forma de defesa contra 
possíveis críticas.”. (SHORT, 2008, p. 181). Entretanto, não obsta que o país sob 
revisão solicite que um dos relatores seja de seu próprio grupo regional ou que um 
relator peça dispensa, nem mesmo que haja a substituição de um dos relatores, o que 
ocorrerá apenas uma vez. Competirá à Troika formada viabilizar a revisão e preparar o 
relatório final do Grupo de Trabalho, podendo para tanto solicitar auxílio e apoio 
técnico do ACNUDH. (OHCHR, 2006b, p. 04). 
 Estabelecida a Troika, ocorrerá o Diálogo Interativo, dentro do Grupo de 
Trabalho, entre o país em revisão e os membros do Conselho. Neste espaço denominado 
Diálogo Interativo, durante três horas são suscitadas questões relativas aos DH no 
Estado submetido à RPU, de forma oral, transparente e equânime. Em tempo adicional 
de até uma hora, o plenário do Conselho tecerá suas considerações e, em seguida, trinta 
minutos serão reservados à aprovação do relatório de cada país analisado, sendo o 
resultado final aprovado pelo plenário do Conselho. (OHCHR, 2006b). 
 O resultado final deverá ser expresso em um relatório que conterá uma 
compilação dos trabalhos apresentados durante a revisão, de forma objetiva e 
transparente da situação dos DH no país em análise, incluindo seus aspectos positivos e 
desafios; as conclusões emanadas no decorrer do Diálogo Interativo e as recomendações 
feitas e aquelas que foram aceitas pelo país sob revisão e seus compromissos 
voluntários. (OHCHR, 2006b). 
 Em todo o decorrer de elaboração do relatório final, o país sob análise deve estar 
envolvido, de forma a ter a oportunidade de, antes da divulgação do resultado pelo 
plenário do Conselho, apresentar respostas às questões que não foram devidamente 
tratadas durante seu diálogo. Da mesma forma é concedido aos Estados-membros, 
Estados observadores e agentes interessados, a oportunidade de expressar suas 
opiniões.(OHCHR, 2006b). Observa-se, diante disto, o manifesto objetivo de 
cooperação que este mecanismo pretende traduzir, de forma a tornar possível a 
efetivação por parte do Estado em análise de promoção dos DH, afastando qualquer 
 
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ideal que esteja distante daquilo que o país pode, realmente, se comprometer a cumprir. 
Assim, os quatro documentos elaborados (do Estado, da sociedade civil, do 
sistema ONU e do Conselho de Direitos Humanos) se refere à atual situação 
quanto no que tange aos avanços passados e aos desafios futuros. (IPEA, 
2008, p. 227). 
 Em conclusão, é apresentado o resultado final da RPU, com as recomendações 
que deverão ser implementadas pelo país em análise e, conforme o caso, por outras 
partes interessadas. Em continuidade, durante o 2º ciclo, a revisão deverá centrar-se na 
aplicação das recomendações apresentadas neste primeiro ciclo. Para além destes 
esforços competirá: à comunidade internacional o suporte na implementação das 
recomendações e ao Conselho manter uma agenda permanente dedicada ao mecanismo 
de RPU; analisar os resultados da RPU, observando se há necessidade de um 
acompanhamento específico e; expor os casos persistentes de não cooperação, por parte 
de um Estado com o mecanismo.

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