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Aula Penal II Crimes Aberrantes

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Direito Penal II 
Crimes Aberrantes 
1) Erro de Tipo 
 Afinal, o que é o Tipo? 
 Sabemos que o Direito Penal tem como objetivo proteger os bens jurídicos mais importantes 
e para que isso ocorra, é necessária a aplicação de uma sanção penal, respeitando o Princípio da 
Legalidade (nullum crimen sine lege), que descreva abstratamente (lei genérica e abstrata) os 
elementos da conduta lesiva. Tipo é, portanto, o padrão de conduta que o Estado, por meio da lei, visa 
impedir. 
 *Preceito Primário: descreve a conduta que se procura proibir. 
 Norma Penal: 
 (incriminadora) *Preceito Secundário: individualiza a pena, cominando-a. (dar um exemplo). 
 
 O próprio artigo 20, CP é um exemplo de Norma Penal Não Incriminadora (permissivas – 
justificantes ou exculpantes -, explicativas ou complementares). 
 O Erro, é a falsa percepção ou equívoco conhecimento da realidade. Desta forma, o Erro de 
Tipo recai sobre as elementares circunstâncias ou qualquer dado da figura típica, sejam os 
pressupostos do fato (Preceito Primário) ou os dados secundários da norma penal incriminadora. 
 O erro ocorrerá quando alguém não conhece, ou supõe a ausência de elemento ou 
circunstância da figura típica incriminadora. “Quem atua não sabe o que faz.” O agente atua insciente 
de sua conduta. 
 Exemplo Clássico: caçador dispara sua arma acreditando matar um animal, vindo, contudo, a 
causar a morte de outra pessoa. Há aqui um erro quanto à elementar “alguém” do artigo 121, caput, 
CP. Não há aqui o dolo, a intenção de produzir esse resultado. 
 Exemplo: subtrair coisa alheia acreditando ser própria. O agente supôs inexistente a elementar 
alheia do artigo 155, caput, CP. 
 Há duas modalidades do Erro de Tipo: 
 Erro de Tipo Essencial: o erro recai sobre elementares, a falsa percepção impede a compreensão 
da natureza criminosa do fato, sobre os dados da figura típica. O agente julga lícita sua conduta; 
 Erro de Tipo Acidental: o agente sabe que atua ilicitamente, há a consciência da antijuridicidade, 
ele apenas se engana quanto a um elemento não essencial do fato, ou erra no seu movimento de 
execução. Incide sobre dados acidentais e mesmo que o erro não existisse, ainda sim a conduta 
seria ilícita. 
 
 
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a) Erro de Tipo Essencial 
 Erro quanto à compreensão da natureza ilícita do fato, recai sobre os elementos do tipo penal. 
Apresenta-se sob duas formas: 
 Invencível (ou escusável): qualquer pessoa incidiria em erro, mesmo se tomasse todas as cautelas 
necessárias incorreria naquele erro. Era impossível evita-lo e, por isso, afasta-se o dolo, assim 
como a culpa, tornando o fato atípico. Aplica-se a primeira parte do artigo 20, caput, CP; 
 Vencível (ou inescusável): o agente não responde pelo resultado a título de dolo já que ele não 
tinha essa vontade, sequer consciência. Contudo, pode a ele ser imputado o resultado a título de 
culpa, se houver essa previsão legal para a conduta praticada. O resultado poderia ser evitado se 
o agente tivesse mais diligência, o homem médio não cometeria o erro em que incidiu o sujeito 
aqui e, por isso, o erro resulta de negligência, imprudência. Aplica-se a segunda parte do artigo 
20, caput, CP. 
 
b) Erro de Tipo Acidental 
 Já vimos que o Erro de Tipo Essencial recai sobre as elementares, sobre qualquer dado que se 
agregue à figura típica. Ele impede o agente de compreender a ilicitude do seu comportamento. Não 
há dolo neste caso. 
 O Erro Acidental, contudo, não tem o condão de excluir o dolo (ou dolo e culpa) do agente. 
Ele não impede o sujeito de compreender o caráter ilícito de seu comportamento. O agente age 
consciente da antijuridicidade de sua conduta, mas engana-se a respeito de um dado não essencial ao 
delito ou erra quanto à sua maneira de execução. Possui cinco casos: Erro Sobre o Objeto (Error in 
Objecto); Erro Sobre a Pessoa (Error in Persona); Erro na Execução (Aberratio Ictus); Resultado 
Diverso do Pretendido (Aberratio Criminis) e Aberratio Causae. 
 
 Erro Sobre o Objeto (Error in Objecto) 
 Não há nenhuma norma penal dispondo sobre isso. Ocorre, por exemplo, quando o agente, 
agindo com a intenção de furtar (animus furandi) uma pulseira que supunha ser de ouro, quando na 
verdade não passava de uma mera bijuteria. Ou outro exemplo: agente rouba saco que supunha ser de 
arroz, quando na verdade era de farinha. O erro aqui, recai-se sobre objeto a que se destina a conduta 
do agente, sendo, assim, irrelevante. 
 
 Erro Sobre a Pessoa (Error in Persona) 
 Artigo 20, §3º, CP. 
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 O agente não erra sobre qualquer elementar, circunstância ou qualquer outro dado que se 
agregue à figura típica. O agente atinge pessoa diversa da que pretendia ofender, o erro está na 
identificação da vítima. 
 O erro não exclui o crime porque a norma penal não tutela uma única pessoa somente, mas 
todas as pessoas. Não se consideram, por isso, as qualidades da vítima, mas sim da pessoa que se 
pretendia praticar o crime. 
 Exemplo1: o agente queria praticar um crime de homicídio contra seu próprio irmão, mas ao 
atingir o vulto que acreditava ser deste, atinge um terceiro, que vem a falecer. Aplica-se aqui a 
agravante genérica do artigo 61, II, e, CP 
 Exemplo2: Tício queria praticar um crime de homicídio contra Mévio, mas atinge seu próprio 
pai, por confundi-lo com aquele. Sobre o fato não incidirá a agravante genérica do artigo 61, II, e, 
CP. 
 
 A Aberratio Ictus e a Aberratio Criminis são chamadas pela doutrina de Crimes Aberrantes. 
 Erro na Execução (Aberratio Ictus– Desvio do Golpe, Erro de Alvo) 
 Previsto no artigo 73, CP. Erro de execução pessoa a pessoa. 
 Ocorre um acidente, um erro no uso dos meios de execução. Há um erro de pontaria, um 
desvio da trajetória do projétil porque alguém esbarrou no braço do agente no momento do disparo, 
defeito na arma, movimento da vítima que escapa. Por isso, o erro ocorre sobre o mesmo bem jurídico, 
qual seja, a pessoa, há então a possibilidade de incialmente o agente pretender causar um homicídio 
em seu pai, mas vir a causar em outra pessoa, ou ainda, pretender o homicídio, mas vir a causar uma 
lesão corporal. 
 É o caso do agente que querendo causar a morte do seu desafeto, atira contra ele e, errando o 
alvo, fere e mata outra pessoa que passava por ali. Faremos, então, a substituição da pessoa atingida 
por aquele que deveria ter sido, conforme o artigo 20, §3º, CP. Se, no entanto, ainda agindo com dolo 
de matar, atingir terceira pessoa e apenas lhe causar algumas lesões corporais, responderá por 
tentativa de homicídio. A diferença entre o Erro na Execução e o Erro Sobre a Pessoa ocorre do fato 
de que neste, a vontade do agente está viciada, ele atira em uma determinada pessoa acreditando ser 
outra, não há concordância entre a realidade do fato e a vontade do agente. No Erro na Execução, não 
existe viciamento da vontade no momento de realização do fato, mas erro ou acidente no emprego 
dos meios de execução do delito. 
 Entretanto, só falamos até agora da possibilidade de um único resultado (aberratio ictus com 
unidade simples), mas pode ser que o agente atinja a pessoa contra a qual não estava atingindo sua 
conduta, como também para outra e assim, produz-se um outro resultado (aberratio ictus com unidade 
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complexa). Aplica-se nesse caso a regra do Concurso Formal de Crimes. Imaginemos que o agente 
pretendia matar Antônio, mas venha também a atingir Pedro, ocorrem, então, possibilidades: 
o O agente mata Antônio (dolosamente) e também Pedro (culposamente). Responderá pela 
regra do Concurso Formal de Crimes, Crime de Homicídio Doloso com a pena aumentada 
em 1/6 até a metade; 
o Oagente mata Antônio (dolosamente) e fere Pedro (culposamente). Há também um 
concurso de crimes, devendo responder o agente pelo homicídio doloso, aumentando-se a 
pena de um sexto até metade; 
o O agente fere Antônio (dolosamente) e Pedro (culposamente): há dois crimes, Tentativa 
de Homicídio e Lesão Corporal Culposa. Responde o agente pelo crime de tentativa de 
homicídio, tendo sua pena aumentada de um sexto até a metade; 
o O agente mata Pedro (culposamente) e fere Antônio (dolosamente). Há dois crimes: 
homicídio culposo contra Pedro e tentativa de homicídio contra Antônio. Como o agente 
de fato matou Pedro, é como se tivesse matado Antônio (vítima pretendida, de fato), por 
isso, responderá por homicídio doloso, acrescido de um sexto até a metade. 
 
 Resultado Diverso do Pretendido (Aberratio Criminis ou Delictis) 
 Artigo 74, CP. Erro de Execução Pessoa a Coisa ou Coisa a Pessoa. 
 O artigo 74, CP, contudo, será aplicado na hipótese de erro de coisa para pessoa. Na hipótese 
de erro de pessoa para coisa, será mantido o dolo do agente, ele será por ele responsabilizado e não 
pelo resultado produzido. Crime aqui obtido é diferente do crime pretendido. 
 Exemplo: se A arremessa uma pedra contra um carro com a finalidade de destruí-lo e, no 
entanto, erra o alvo, acertando um transeunte, de acordo com o artigo 74, CP, devemos desprezar o 
dolo inicial do agente, qual seja, o dano e o responsabilizaremos pelo resultado por ele obtido à título 
de culpa, devendo assim, responder pelo homicídio ou pelas lesões corporais causadas culposamente. 
 Agora, em uma situação inversa, o erro ocorrerá de uma pessoa a uma coisa quando, querendo 
o agente querendo atingir Mévio, arremessa-lhe uma pedra, mas erra o alvo e atinge a vitrine de uma 
loja, destruindo-a culposamente. Neste caso, desprezaremos o resultado, que é atípico e faremos com 
que o agente responda por seu dolo. Portanto, se a conduta era dirigida para causar a morte da vítima, 
o agente responderá por Tentativa de Homicídio. Se a conduta era dirigida para provocar Lesões 
Corporais na vítima, será responsabilizado por tentativa de Lesão Corporal. Esse raciocínio é 
necessário porque a destruição culposa é um fato não previsto pelo CP (não há Dano Culposo), o que 
o conduziria a uma situação de atipicidade do fato, o que é inconcebível. 
 E havendo o agente produzido dois resultados? Se for o caso da produção de um resultado 
contra uma pessoa que o agente queria produzir e outro contra uma coisa, de forma culposa, como 
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não há dano culposo, não há que se falar em Concurso Formal de Crimes, aplicando-se somente a 
pena do crime contra a pessoa. No entanto, se a finalidade era causar o dano e o agente culposamente 
também atingir uma pessoa permite-se a aplicação da regra do Concurso Formal de Crimes, previsto 
pelo artigo 70, CP, devendo o julgador selecionar a pena mais grave e sobre ela aplicar o aumento de 
um sexto até a metade. 
 
 Aberratio Causae ou Erro Sobre o Nexo Causal 
O dolo geral ocorre quando o agente tem uma vontade inicial que julga ter atingido, e também 
pratica segunda ação com propósito diverso (normalmente ação com que busca encobrir o fato) e só 
então obtém efetivamente seu objetivo inicial. Exemplo: mata com facadas seu desafeto e joga o 
suposto corpo no mar para ocultar o fato, contudo, a perícia afirma que a morte foi por afogamento. 
O agente, de qualquer forma responde pelo resultado, no caso, responde por Homicídio Doloso 
porque o dolo acompanhou toda sua ação até a efetivação do resultado desejado, contudo, não lhe 
será imputado o crime de ocultação de cadáver pois, ele errou no nexo causal, pretendia matar com 
facadas, mas, de fato, matou ao jogar o corpo no mar. 
Desta forma, o resultado pretendido inicialmente pelo agente pode vir de uma causa diversa 
por ele não cogitada. Exemplo: o agente querendo matar seu inimigo o joga da Ponte Rio Niterói para 
que a vítima morra por afogamento e, no entanto, a vítima choca-se em uma das vigas, morrendo por 
traumatismo craniano. Mesmo que a causa determinante do resultado não seja a pretendida pelo 
agente, não sendo até mesmo por ele cogitada, responderá pelo seu dolo inicial.

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