Buscar

BERNO, Marcus Vinicius. Caderno de Direito Penal. 2015.1

Prévia do material em texto

CADERNO OAB 2015.1 – PENAL – MARCUS VINICIUS B. N. DE OLIVEIRA
1.	INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL
	1.1	PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DA RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA
O direito penal só responsabiliza o sujeito ativo (o meliante) se ele tiver agido com dolo ou culpa. Se não tiver dolo ou culpa, não há responsabilidade penal. Sem dolo ou culpa não há que se falar em crime. Exemplo, João está andando de bicicleta e, inobservando o dever objetivo de cuidado, atropela um orelhão de telefone. É crime de dano? Resposta: Não, pois não há crime de dano culposo. A inobservância do dever de cuidado objetivo é sinônimo de culpa.
1.2	TENTATIVA
A tentativa é um instituto que beneficia o réu, pois a pena dele será diminuída de 1/3 a 2/3. A pena do crime tentado é a mesma do crime consumado, porém diminuída de 1/3 a 2/3.
O crime não se resume a um único ato. Claro, o objeto do direito penal começa apenas no momento em que o agente pratica a conduta, que ele exterioriza a conduta. Porém, até chegar na prática da conduta, há um caminho importante a ser estudado, o que nos permite entender os institutos da tentativa, arrependimento eficaz, desistência voluntária, arrependimento posterior etc. O caminho do crime segue os seguintes passos:
A tentativa é aquele ato em que o sujeito inicia a execução. A tentativa só é punível se o sujeito iniciar a execução. Se não iniciar a execução não tem punição, pois o sujeito está ainda nos atos preparatórios. Os atos preparatórios, em regra, não são puníveis (salvo se ele próprio constituir crime, como os petrechos para falsificação de moeda). Por exemplo, Pedro aponta a arma para Paulo com a intenção de mata-lo. No momento em que ele vai puxar o gatilho, a polícia chega e impede o disparo. É tentativa de homicídio? Resposta: Não, pois ele não iniciou a execução. Poderá se responsabilizado por eventual porte ilegal de arma, mas não por tentativa de homicídio.
Na tentativa não há consumação, por óbvio. Se o crime foi tentado, não há consumação. E a tentativa não existe na forma culposa. A tentativa é sempre dolosa, pois não há como tentar ser negligente. Ou você foi negligente ou não foi. Não tem como prever uma negligência. Se você foi negligente de propósito isso é dolo, e não culpa.
Existe um rol de crimes que não admitem a tentativa. São eles:
Crime culposo: a tentativa é sempre dolosa. Não tem como 
Preterdoloso: O crime preterdoloso é aquele em que há dolo no antecedente e culpa no consequente. Se a tentativa não admite culpa, não há como tentar um crime preterdoloso.
Crime unissubsistente: é aquele crime em que não há como fracionar o iter criminis, ou seja, o caminho do crime não é fracioando. É o contrário de crime plurissubsistente. O homicídio é um crime plurissubsistente, pois eu posso cogitar matar alguém (cogitação). Depois eu vou à loja e compro um facão (ato preparatório). Posteriormente eu encontro o meu desafeto e aplico três facadas nele (execução), mas ele não morre na hora. Ele é levado para o hospital e três dias depois morre (consumação). As fases são fracionáveis. Por isso o homicídio admite tentativa. Agora veja outro exemplo: eu acordo e penso: “Se eu ver Fulano na rua hoje eu vou xingar ele” (cogitação, ou seja, eu quero praticar injúria). Ai eu vejo o Fulano na rua e grito: “Seu vagabundo, ordinário!”. Reparem que eu executei e consumei o crime no mesmo ato. Não tem como separar a execução da consumação. Por isso, a injúria verbal não admite tentativa.
Contravenção penal: a contravenção penal não admite tentativa (art. 4º da Lei de Contravenções Penais).
Crime habitual: o crime habitual exige reiteração, por isso ele não admite tentativa. Por exemplo, crime de exercício ilegal de medicina. Ele exige reiteração da conduta. Se não tiver reiteração não há crime. Por exemplo, todo mundo já receitou uma novalgina para alguém que estava com dor de cabeça. Isso não é crime de exercício ilegal, pois não há reiteração da conduta. Isso é um fato isolado.
Crime omissivo próprio: por exemplo, omissão de socorro não admite tentativa.
Crime de atentado ou empreendimento: é aquele que a pena do consuma é idêntica a do tentado. Por exemplo, tentar se evadir do sistema prisional ou evadir (qual???). É a mesma pena. Outro exemplo é tentar votar ou votar duas vezes (qual???). Nesses casos, o próprio tipo penal já prevê a tentativa junto com o consumado
1.3	ARREPENDIMENTO EFICAZ E DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
Ambos também beneficiam o réu porque eles excluem a tipicidade do crime que o agente queria praticar, não respondendo sequer por tentativa. São hipóteses de exclusão da tipicidade do crime que ele queria praticar. Porém, no arrependimento eficaz e na desistência voluntária o agente responderá pelos atos praticados (com dolo ou culpa????).
Tanto o arrependimento eficaz quanto a desistência voluntária também se encontram no plano da execução do crime. Por isso, se o crime for consumado, não há que se falar arrependimento eficaz ou desistência voluntária. Por exemplo, no crime de sequestro (art. 159 do CP) o agente sequestra o Silvio Santos com o fim de pedir o resgate. Quando chega ele chega no cativeiro ele percebe que sequestrou um sósia do Silvio Santos, que imita ele igualzinho. Ai ele abre a porta do cativeiro e deixa o sósia do Silvio Santos ir embora sem receber o resgate. Isso é arrependimento eficaz? Não, pois o recebimento da vantagem indevida não faz parte da consumação do crime do art. 159. O crime já se consumou. O recebimento é mero exaurimento.
A desistência voluntária é uma conduta negativa, ou seja, é um não fazer que evita a execução. Já o arrependimento eficaz é uma conduta positiva, ou seja, é um fazer que evita a consumação. 
Para diferenciar a desistência da tentativa existem duas perguntinhas: o sujeito ativo podia prosseguir se quisesse? Se a resposta for sim, mas ele não quis prosseguir, será desistência. Ele desistiu porque ele quis ou porque ficou com medo? Se o agente desistiu porque quis, é desistência voluntária. Mas se ele desistiu porque ficou com medo de ser preso, é tentativa.
Vamos ver um exemplo bem hipotético: Pedro resolve furtar a casa de Maria. Quando chega na casa ele vai direito no armário e pega as joias. No momento em que já estava indo embora ele vê Maria. Então, Maria diz a Pedro para ele não levar as joias porque ela vai vender para tratar do seu câncer. Pedro então larga as joias e vai embora. O que é isso? Desistência voluntária. Só vai responder pelo ato praticado, que foi invasão de domicilio. Por outro lado, se Pedro desiste porque houve um barulho na cozinha fica com medo e foge, ai será tentativa.
Outro exemplo: Paulo é casado com Maria. Maria é enfermeira. Todos os dias Maria chega em casa chorando porque está sendo assediada por Carlos no trabalho. Então, Paulo pega um revolver, entra no hospital na hora do plantão de Carlos, chega no quarto e efetua um disparo em Carlos. Acerta o ombro da vítima. Paulo vê Carlos no chão e, embora tivesse mais 05 tiros no revolver, guarda a arma e vai embora. Carlos é socorrido e não teve nenhuma sequela. Pergunta: houve a desistência voluntária? Para responder a essa pergunta, vamos na primeira perguntinha: ele poderia continuar se quisesse? Sim. É o que a doutrina clássica chama de “ponte de ouro”. Ele poderia continuar na execução se quisesse, mas não continou. Agora vamos para a segunda pergunta: ele desistiu por que quis ou por que ficou com medo de ser preso? Porque quis, pois não houve interferência externa. Portanto, desistência voluntária. Paulo vai responder apenas pela lesão corporal leve.
1.5	ARREPENDIMENTO POSTERIOR
O arrependimento posterior tem esse nome porque é posterior à consumação. Por exemplo, se alguém dispara dois tiros numa pessoa e depois se arrepende, leva ela para o hospital, mas ela morre, isso é arrependimento posterior? Não, pois o arrependimento foi antes da consumação. Poderia ser arrependimento eficaz se o crime não tivesse se consumado, mas posterior não.
O arrependimento posterior só é admitido em crime sem violênciaà pessoa. Homicídio, roubo, latrocínio etc. não admitem arrependimento posterior. Além disso, o agente deverá reparar o dano e restituir a coisa antes do recebimento da denúncia (art. 16 do CP). Reparar o dano é retornar as coisas ao status quo ante, conforme já definiu a jurisprudência (qual???).
O arrependimento posterior é uma causa de diminuição da pena. No arrependimento posterior e na tentativa o réu será condenado, mas ele terá uma diminuição da sua pena.
1.7	ELEMENTAR E CIRCUNSTÂNCIA DO CRIME
Elementar e um dado do tipo que, uma vez retirado o tipo se transforma em outro. A elementar sempre se comunica ao coautor e ao partícipe. Exemplo: a mãe que mata o filho durante ou logo após o parto comete infanticídio? Não, porque falta uma elementar do crime que é o estado puerperal. Retirado o estado puerperal (elementar do crime) o infanticídio vira um homicídio comum. Outro exemplo: Pedro, funcionário público do IBAMA, junto com seu amigo Mauricio, pedreiro, vai à repartição e furta 10 computadores. Pergunta: qual o crime Pedro cometeu, furto ou peculato? Resposta: peculato, pois estava presente a elementar do crime (servidor público). E Mauricio, que crime cometeu? Peculato também, pois a elementar do crime se comunica ao coautor (art. 30 do CP).
A circunstância do crime é tudo que aumenta ou diminui a pena prevista para o crime. A circunstância pode ser objetiva ou subjetiva. A circunstância objetiva se comunica ao coautor ou partícipe. Por outro lado, a circunstância subjetiva não se comunica ao coautor ou partícipe, pois ela é própria de cada um dos sujeitos do crime. Por exemplo, Pedro contrata o pistoleiro Paulo para matar o estuprador da sua filha. Pedro está imbuído de relevante valor moral (estuprou a filha dele), que é circunstância subjetiva que diminui a pena. Paulo terá a mesma diminuição? Não, pois Paulo não tem nenhum relevante valor moral. A circunstância subjetiva não se comunica. Outro exemplo: Pedro e Paulo resolvem praticar um roubo. Pedro então pega a arma de fogo e aponta para a vítima. Paulo apenas carrega os bens. Pergunta: ambos responderão por roubo por arma de fogo? Sim. O uso de arma de fogo é circunstância objetiva que aumenta a pena (é objetiva, pois não depende da condição do sujeito). Se é circunstância objetiva, ela comunica para Paulo, mesmo que ele não tenha sequer relado na arma.
1.6	CRIME IMPOSSÍVEL
Também beneficia o réu, pois exclui a tipicidade do crime que ele queria praticar. Não responde sequer por tentativa. Uma segunda premissa é que ele tem como teoria a chamada teoria objetiva temperada.
Sobre o estudo do crime, temos que destacar que entre a prática da conduta e a possível aplicação da pena há outro caminho que deverá ser analisado antes de resultar na punição agente.
A teoria objetiva temperada diz que para haver crime impossível deverá estar presente um dos elementos abaixo:
Impropriedade absoluta do objeto sobre o qual recai a conduta humana: o objeto sobre o qual recai a conduta humana é absolutamente impróprio para a consumação do crime;
Ineficácia absoluta do meio utilizado pelo sujeito ativo: O meio que o sujeito ativo utilizou para praticar o crime é absolutamente ineficaz para atingir a consumação
Basta a impropriedade do objeto ou a ineficácia do meio serem absolutos para excluir a tipicidade da conduta. Basta a análise objetiva, independentemente do que passa na cabeça do sujeito ativo. Se ele sabia ou não da ineficácia do meio não interessa. Vamos a um exemplo verídico, só mudam os nomes: Pedro estava em um ponto de ônibus em São Paulo esperando a chuva passar para ir para casa. Nisso, vem um meliante por traz de Pedro e sorrateiramente enfia a mão no seu bolso buscando furtar algum bem (carteira, celular, dinheiro etc.). Nesse momento, Pedro segura a mão do agente, derruba-o no chão, imobiliza-o e espera a chegada do policial, que efetua a prisão em flagrante. No julgamento, foi constatado que Pedro tinha saído de casa para correr pelo quarteirão, e só estava parado no ponto de ônibus porque começou a chover. Ele não tinha absolutamente nenhum bem com ele no momento da tentativa de furto, nem mesmo a chave de casa. Dessa forma, não obstante o meio utilizado pelo agente fosse eficaz (enfiar a mão no bolso da vítima), o objeto era absolutamente impróprio, pois era inexistente (não tinha nada para ser furtado), ainda que o agente não saiba disso no momento da conduta. O TJSP entendeu que isso era crime impossível, e o STJ confirmou esse entendimento (qual????).
Observação: Se a impropriedade do objeto ou a ineficácia do meio for relativa, e não absoluta, não há crime impossível, mas sim tentativa. Exemplo, um sujeito entrou numa loja de departamentos (tipo Americanas) e tentou furtar alguns produtos. Quando ele foi sair da loja o alarme da porta disparou e ele foi preso em flagrante com as coisas (ineficácia absoluta do meio). O advogado de defesa alegou que isso era crime impossível, pois não tinha como ele sair da loja com as coisas, já que o alarme ia disparar. O TJSC acatou a tese do crime impossível. Porém, o STJ (qual?????) entendeu que não era crime impossível, pois a ineficácia do meio não era absoluta já que o alarme poderia disparar ou não. Não é garantido que o alarme vai disparar. Logo, a ineficácia é relativa, razão pela qual o agente responde pela tentativa.
Observação 2: Flagrante preparado: é considerado crime impossível, pois a autoridade está incentivando a consumação. Não há como saber se o fato ocorreria da mesma forma se fosse natural. Houve o incentivo à consumação, por isso o crime e impossível.
1.7	ERRO DE TIPO
O erro de tipo pode ser de duas espécies: erro de tipo acidental e erro de tipo essencial. O erro de tipo acidental não beneficia o agente, pois ele é apenas acidental. Ele se divide em cinco tipos:
Aberratio causae: é o erro sobre o nexo causal, que tem duas modalidades: própria e dolo geral. O próprio é aquele em que o sujeito ativo tem apenas uma conduta (exemplo da ponte). No dolo geral, o sujeito ativo possui duas condutas (exemplo da cova). Por exemplo, Pedro quer matar Paulo. Paulo não sabe nadar. Então, ao passar em cima de uma ponte, Pedro empurra Paulo, com o objetivo de que ele caia na água e morra por afogamento (asfixia), fazendo parecer que foi um acidente. Entretanto, ao cair da ponte Paulo bate a cabeça numa pedra e morre em razão do traumatismo craniano. Repare que Pedro errou no nexo causal, pois ele queria matar por asfixia e matou por traumatismo craniano. Porém, esse erro foi acidental e não beneficia Pedro em nada. Ele vai responder por homicídio consumado. Só não se aplica a qualificadora da asfixia porque ele morreu antes, não houve a asfixia. Outro exemplo: Pedro quer matar Maurício. Então, Pedro efetua um disparo e Maurício cai. Pedro faz uma cova e enterra Maurício, visando ocultar o cadáver. Uma semana depois a perícia descobre que Maurício morreu por asfixia e não por conta do tiro. Nesse caso, Pedro responde pelo homicídio consumado normalmente. Porém, ele não poderá responder pela qualificadora da asfixia, pois ele não tinha dolo de asfixiar. Pergunta: e com relação à segunda conduta, Pedro responde por ocultação? Resposta: Não, pois a ocultação de cadáver é crime impossível. Mauricio estava vivo quando foi enterrado, logo não havia cadáver (impropriedade absoluta do objeto).
Aberratio ictus: é o erro na execução do crime. E sempre um erro que envolve pessoas, sendo que o erro é de pontaria. Também se divide em dois: unidade simples e resultado complexo. Por exemplo, Pedro efetua um disparo contra Mauricio, mas erra e mata Carlos. Isso é um erro na execução. Se ele errou Mauricio totalmente, é unidade simples. Por outro lado, se ele acerta Maurício de raspão e mata Carlos, é resultado complexo. A regra da unidade simples é a aplicação do art. 20, §3º, do CP, de modo que Pedro responde como se tivesse matado Maurício (responde como se tivesse matado a vítima que ele queria). Outro exemplo, se Pedro resolve matar seu pai pra ficar coma herança, mas na hora do tiro acerta alguém na rua, ele vai responder como se tivesse matado o próprio pai, com a qualificadora do motivo torpe, com aumento de pena contra ascendente etc. da mesma forma, se fosse privilegiado seria a mesma coisa. Exemplo, Pedro atira no estuprador da filha, mas erra e mata outra pessoa. Será homicídio privilegiado, pois ele responde como se tivesse matado o estuprador.
Por outro lado, se Pedro acerta Maurício, mas acaba matando Carlos, é resultado complexo. A regra será a reponsabilidade na forma do art. 70 do CP, ou seja, será concurso formal de crime. Pedro responderá pela pena do crime mais grave, aumentada de 1/6 até metade. Logo, ele responde pelo homicídio, majorado de 1/6 até metade.
Aberratio delicti/criminis: também é conhecido como resultado diverso do pretendido. Esse erro envolve a coisa e a pessoa. Exemplo, João, com dolo de matar Pedro, atira e mata Maurício. Nesse caso, não é resultado diverso do pretendido (art. 74), pois envolve apenas pessoa. Esse exemplo é o do art. 73, que é a aberratio inctus. Exemplo, Carlos joga uma pedra na frente da loja de Pedro visando quebrar a vidraça e lhe causar prejuízo. Porém, erra a vidraça e acerta na cabeça de Pedro, lhe causando um corte profundo. Nesse caso, trata-se de uma tentativa de dano de Carlos, que acabou resultando em lesão corporal culposa em Pedro. Mudou o crime. Por isso é que se chama aberratio criminis ou erro sobre a conduta. Nesse caso, Carlos responderá pelo crime culposo (lesão corporal). Agora imagine o contrário. Carlos joga uma pedra visando acertar a cabeça de Pedro. Porém, erra o Pedro e acerta na vidraça da loja dele. Há aberratio criminis? Não. Nós vimos que a aberratio criminis envolve coisa e pessoa. Nesse caso envolveu pessoa e coisa. É diferente, e é diferente porque a aberratio criminis é um erro de crimes. Só que nesse caso não há crimes e sim um crime, que é a tentativa de lesão, pois não existe crime de dano culposo. Logo, Carlos só responderá pela tentativa de lesão corporal.
Erro in persona: é o erro sobre a pessoa. Nesse caso, lembre-se de que esse caso envolve o sósia de uma pessoa. Exemplo, Pedro, com dolo de matar Carlos, atira e mata Carlos. Porém, quando ele vai ver, não era Carlos, mas sim seu irmão muito parecido. A consequência é a mesma da aberratio ictus unidade simples, ou seja, Pedro responde como se tivesse matado Carlos. Outro exemplo, a mãe acaba de ter o bebê. Ainda no estado puerperal, ela vai até o berçário com o objetivo de matar o filho. Chega no berçário, encontra seu filho e o mata asfixiado. Depois descobre-se que o bebê não era seu filho, era outro. Isso é erro in persona, e ela vai responder como se tivesse matado o próprio filho. Por isso que ela responde por infanticídio consumado, mesmo que ela tenha matado outro bebê.
Erro sobre o objeto material: é o exemplo clássico do perfume. É um erro bem banal, por isso não costuma cair. Por exemplo, uma pessoa resolve furtar um perfume importado, mas acaba furtando só perfume natura. Esse erro não beneficia em nada o agente. 
Além do erro de tipo acidental, há o erro de tipo essencial, que é o erro que sempre beneficia o sujeito ativo, pois sempre se exclui o dolo do agente. Por isso, ele vai ser punido no máximo por culpa. O erro de tipo essencial se divide em dois: incriminador e permissivo.
Erro de tipo essencial incriminador: é o erro sobre uma norma incriminadora. Exemplo, art. 217-A. Pedro encontra Marcela, uma menina de compleição física avantajada. Pedro pergunta a idade de Marcela e ela diz que possui 19 anos. Pedro então, com o consentimento de Marcela, leva-a para seu carro e lá eles praticam conjunção carnal. A Polícia chega e verifica que Marcela possui 13 aos. Nesse caso Pedro estava em erro de tipo essencial incriminador, pois ele imaginava que Marcela tinha 19 anos. Agora, para saber se Pedro vai responder por alguma coisa, deve-se fazer outra pergunta: esse erro era escusável (invencível) ou inescusável (vencível)? Se o erro era invencível, fica excluído o dolo e a culpa, e o fato é o agente não responde por nada. Por outro lado, se o erro era vencível, ou seja, se era possível ter a previsibilidade da condição da vítima, o erro vai excluir apenas o dolo. No caso do exemplo, independentemente do dolo ou culpa, Pedro não responderá por nada, pois não existe estupro culposo.
Erro de tipo essencial permissivo (descriminantes putativas): é o erro sobre uma norma permissiva, como a legitima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de um direito. Assim, havendo erro sobre a norma permissiva, como a legitima defesa, é comum dizer que o agente praticou a conduta em legítima defesa putativa. A consequência também dependerá o tipo de erro. Se for erro vencível, exclui o dolo, restando eventual punição por culpa. Por outro lado, se o erro for invencível o agente não comete crime. Exemplo verídico: ao fazer uma prisão em Vilhena/RO, o policial anuncia a prisão do acusado e este, ao invés de levantar as mãos, leva a mão dentro do casaco e puxa alguma coisa de dentro da camisa. O policial, achando que fosse uma arma, desfere dois disparos no acusado. Quando vai verificar, era o documento de identidade. Nesse caso, o policial achou que estava atirando em legítima defesa, pois pensou que o acusado ia reagir à prisão. Porém, ele não ia reagir, mas sim mostrar a identidade. Isso é um exemplo de erro de tipo essencial permissivo.
1.8	CULPABILIDADE
A primeira premissa que nos devemos ter é que a culpabilidade não tem nada a ver com culpa ou dolo. A culpa ou dolo é analisado na tipicidade, e não na culpabilidade.
A segunda premissa é que a culpabilidade tem relação com reprovação e exigência. A culpabilidade é o juízo de exigência e reprovação. Tem pessoas que não é possível exigir, pois elas não têm condição de entender o caráter ilícito da sua conduta. Se não é possível exigir, também não é possível reprovar aplicando a pena.
Quais são as pessoas de quem não é possível exigir:
Inimputáveis (art. 26, caput, do CP): os inimputáveis não tem compreensão sobre o caráter ilícito da conduta. São os menores e os doentes mentais. Nesse caso, não há crime, mas poderá haver ato infracional, aplicação de medida de segurança etc. Se o doente mental não for absolutamente incapaz, ele não é absolvido, mas poderá receber uma pena diminuída ou medida de segurança (art. 26, parágrafo único, CP). Para o inimputável, o código adotou o critério bio-psicológico, pois são inimputáveis os menores de 18 anos (biológico) e os doentes mentais (psicológico).
Potencial consciência da ilicitude: esse elemento leva em conta o aspecto cultural condicionado do sujeito ativo. O sujeito ativo, culturalmente falando, é limitado, é condicionado. Nesse caso, o sujeito ativo sempre vai estar em erro de proibição, pois ele vai achar que a sua conduta é normal, é permitida. Exemplo, um catador de latas ambulante acha um relógio na rua. Então, ele pensa que “achado não é roubado” e se apropria do relógio. Porém, ao fazer isso, o catador de latas cometeu o crime do art. 169, §2º, do CP, que é a apropriação indébita de coisa achada. Agora vejam o problema: se nem mesmo os estudantes e direito se lembram desse tipo penal, imagina o catador de latas. Isso é um exemplo de erro de proibição. O erro de proibição pode ser direito ou indireto. O erro de proibição direto é o erro sobre uma norma penal incriminadora (exemplo, art. 169, §2º). Já o erro de proibição indireto é o erro sobre uma norma penal permissiva. Nesse caso, o agente erra não sobre o que ele vê (que e erro de tipo), mas sobre o que ele pensa sobre a norma penal permissiva. O erro de proibição pode ser vencível ou invencível. Se for erro invencível o agente é isento de pena. Se for vencível, responderá com uma pena diminuída.
Exigibilidade de conduta diversa: nesse elemento há três excludentes: coação moral irresistível, obediência hierárquica (art. 22) e inexigibilidade de conduta diversa. Esse último são os casosem que é inexigível outra conduta do agente. Por exemplo, o bombeiro está realizando um salvamento mas, antes de conseguir alcançar a pessoa, o fogo começa a chegar muito perto dele. Então, para não morrer junto, ele vai embora e deixa a pessoa no fogo. Nesse caso, o bombeiro não pode alegar estado de necessidade, pois ele tem o dever de enfrentar o perigo. Porém, ao mesmo tempo eu não posso exigir do bombeiro nenhum ato de heroísmo. Por isso, ele é isento de pena pela inexigibilidade de conduta diversa.
2.	PARTE ESPECIAL
Os tipos penais no código estão classificados de acordo com o bem jurídico tutelado. Por isso, temos crimes contra o patrimônio, a vida, a administração pública etc. Essa é a estrutura do código penal. Nesse momento, nos vamos trabalhar os crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, contra a dignidade sexual, contra a paz pública e contra a administração pública.
PARTE ESPECIAL
TÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA (Arts 121 a 128)
CAPÍTULO II - DAS LESÕES CORPORAIS (Art 129)
CAPÍTULO III - DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (Arts 130 a 136)
CAPÍTULO IV - DA RIXA (Art 137)
CAPÍTULO V - DOS CRIMES CONTRA A HONRA (Arts 138 a 145)
CAPÍTULO VI - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL (Arts 146 a 154)
SEÇÃO I - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (Arts 146 a 149)
SEÇÃO II - DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO (Art 150)
SEÇÃO III - DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA (Arts 151 e 152)
SEÇÃO IV - DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS (Arts 153 e 154)
TÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I - DO FURTO (Arts 155 e 156)
CAPÍTULO II - DO ROUBO E DA EXTORSÃO (Arts 157 a 160)
CAPÍTULO III - DA USURPAÇÃO (Arts 161 e 162)
CAPÍTULO IV - DO DANO (Arts 163 a 167)
CAPÍTULO V - DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA (Arts 168 a 170)
CAPÍTULO VI - DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES (Arts 171 a 179)
CAPÍTULO VII - DA RECEPTAÇÃO (Art 180)
CAPÍTULO VIII - DISPOSIÇÕES GERAIS (Arts 181 a 183)
TÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL (Arts 184 a 186)
CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O PRIVILÉGIO DE INVENÇÃO (Arts 187 a 191)
CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA AS MARCAS DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO (Arts 192 a 195)
CAPÍTULO IV - DOS CRIMES DE CONCORRÊNCIA DESLEAL (Art 196)
TÍTULO IV - DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO (Arts 197 a 207)
TÍTULO V - DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO (Art 208)
CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS (Arts 209 a 212)
TÍTULO VI - DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL (Arts 213 a 216-A)
CAPÍTULO II - DA SEDUÇÃO E DA CORRUPÇÃO DE MENORES (Arts 217 e 218)
CAPÍTULO III - DO RAPTO (Arts 219 a 222)
CAPÍTULO IV - DISPOSIÇÕES GERAIS (Arts 223 a 226)
CAPÍTULO V - DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE MULHERES (Arts 227 a 232)
CAPÍTULO VI - DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR (Arts 233 e 234)
TÍTULO VII - DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO (Arts 235 a 240)
CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO (Arts 241 a 243)
CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR (Arts 244 a 247)
CAPÍTULO IV - DOS CRIMES CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA OU CURATELA (Arts 248 e 249)
TÍTULO VIII - DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA
CAPÍTULO I - DOS CRIMES DE PERIGO COMUM (Arts 250 a 259)
CAPÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA A SEGURANÇA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTE E OUTROS SERVIÇOS PÚBLICOS (Arts 260 a 266)
CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA (Arts 267 a 285)
TÍTULO IX - DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA (Arts 286 a 288)
TÍTULO X - DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
CAPÍTULO I - DA MOEDA FALSA (Arts 289 a 292)
CAPÍTULO II - DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS (Arts 293 a 295)
CAPÍTULO III - DA FALSIDADE DOCUMENTAL (Arts 296 a 305)
CAPÍTULO IV - DE OUTRAS FALSIDADES (Arts 306 a 311)
TÍTULO XI - DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CAPÍTULO I - DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL (Arts 312 a 327)
CAPÍTULO II - DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL (Arts 328 a 337-A)
CAPÍTULO II-A - DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA (Arts 337-B e 337-D)
CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA (Arts 338 a 359)
CAPÍTULO IV - DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS (Arts 359-A a 361)
Ainda em termos de classificação quanto à estrutura típica, que divide os crimes em quatro grupos: comissivos, que se subdivide em dolosos e culposos; e omissivos, que se subdivide em próprios e impróprios. Os comissivos são aqueles crimes praticados mediante uma conduta positiva, um fazer. Essa conduta pode ser culposa ou dolosa, a depender do elemento subjetivo do agente. Por outro lado, os crimes omissivos são aqueles cometidos por uma conduta negativa, um não fazer. Podem ser os omissivos próprios, aqueles em que o agente deveria agir e se mantém inerte, e os omissivos impróprios ou comissivos por omissão, que são aqueles tipos em que o agente, além de ter a obrigação leal de agir, ele temo dever jurídico de impedir o resultado (é a posição de garantidor).
2.1	HOMICÍDO
O homicídio tem previsão deforma dolosa e culposa. O homicídio simples (art. 121, caput, CP), em regra, não é crime hediondo. Mas há uma exceção que é o homicídio simples praticado por atividade típica de grupo de extermínio. Essa hipótese se aplica até mesmo se o sujeito ativo não for um grupo, mas apenas uma pessoa.
O art. 121, §1º, trata de uma causa especial de diminuição de pena, com uma fração da pena (1/6 a 1/3). Não é qualificadora ou previlegiadora, mas sim causa especial de diminuição de pena. A qualificadora ou privilegiadora alteram os limites típicos da pena, e não com uma fração. Não confundir essa causa de diminuição com o art. 65, III, “c”, que é um atenuante. A causa de diminuição é uma situação subjetiva muito mais intensa do que a mera influência de violenta emoção. Por isso que o domínio de violenta emoção diminui mais a pena do que a mera influência. O domínio é uma reação imediata, logo em seguida, e não um tempo depois. O domínio de violenta emoção não se confunde também com a legítima defesa. Exemplo, o pai chega em casa e vê o estuprador em cima da sua filha. Então, ele pega a faca e mata o estuprador. Há homicídio privilegiado por domínio de violenta emoção? Não, há legitima defesa, pois a agressão estava acontecendo, era atual. Não era “logo em seguida”, como diz o tipo.
O art. 121, §2º, traz os tipos de homicídio qualificado. O homicídio qualificado é sempre um crime hediondo. Se estiver presente mais de uma qualificadora, uma delas qualifica e as demais serão consideradas agravantes.
Observação: é possível um homicídio privilegiado e qualificado? Sim, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva, pois as circunstâncias do §1º são todas de natureza subjetiva. Por exemplo, não é possível um homicídio cometido com relevante valor moral e motivo torpe ao mesmo tempo. Mas é possível um homicídio cometido com relevante valor moral e emprego de veneno.
Observação 2: o homicídio privilegiado e qualificado também é crime hediondo? Não, pois o rol dos crimes hediondos é um rol taxativo. Não há como moldar ou adaptar esse rol. Apenas as situações expressamente previstas é que serão enquadradas como hediondo.
Observação 3: qual a diferença entre motivo fútil e motivo torpe? Motivo torpe é motivo vil, torpe, repugnante, com acentuada reprovação social (Exemplo: matar para receber herança). Já o motivo fútil é um motivo banal, desproporcional (Exemplo: matar em razão de briga de trânsito).
O homicídio culposo deve ter como ideia central a violação ao dever de cuidado. O crime culposo é uma ação descuidada que da causa ao resultado. O crime culposo é uma condução defeituosada evolução causal. Exemplo, motoqueiro que pilota a moto de forma imprudente e atropela uma gestante.
2.2	INDUZIMENTO OU INSTIGAÇÃO AO SUICÍDIO
Está previsto no art. 122 do CP. Esse crime admite tentativa? Resposta: Não. A tentativa de suicídio não se confunde com a tentativa ao induzimento. Se o suicida chegou a tentar o suicídio induzido por alguém, significa que o induzimento já se consumou.
O suicida deve ter a sua vontade livre, pois se eu tenho uma coação ao suicídio, haverá homicídio, e não induzimento ao suicídio. Da mesma forma, tratando-se de pessoa menor de 14 anos, haverá homicídio, pois a vontade do menor de 14 anos (vulnerável) não tem validade para o direito penal.
2.3	INFANTICIDIO
O infanticídio depende do estado puerperal. O estado puerperal não é uma doença, mas um estado físico de afetação da mulher. O sujeito passivo é o recém-nascido, e não qualquer filho. O recém-nascido vai do parto até por volta de 30 dias. Três meses depois do parto já não é recém-nascido.
Vale observar que há a possibilidade de concurso de agentes, uma vez que a elementar subjetiva do tipo comunica tanto ao coautor quanto ao partícipe (art. 30 do CP). Mesmo que o estado puerperal seja uma condição personalista, há a possibilidade tanto de coautoria quanto de partícipe. A participação já era bem tranquila, pois é possível que alguém induza ou instigue sem problema.
2.4	ABORTO
O abrto como crime só é previsto na forma culposa. Não há punição no direito penal para o aborto culposo. O aborto pode ser praticado pela gestante ou por terceiro, e esse terceiro pode atuar com o consentimento da própria ou gestante ou sem o seu consentimento, o que é mais grave já que a gestante também será vítima. No aborto não consentido, haverá duas vítimas: o nascituro (ta certo isso?!?!) e a gestante.
Esse consentimento, da mesma forma que no suicídio, deverá ser válido para o direito penal (só os imputáveis), sob pena de o terceiro responder por aborto não consentido. O consentimento também deverá ser livre de coação ou ameaça (art. 126, parágrafo único, CP).
Há coautoria no aborto? Não, porque há um tipo penal para o terceiro. Há uma clara exceção para a teoria monista. Aqui, se eu tenho duas pessoas com o domínio do fato, elas não responderão pelo mesmo tipo, mas sim por tipos diferentes.
Por outro lado, há participação no aborto? Sim, como no caso de uma pessoa que instiga, ou induz. Exemplo: Pedro e Maria estão envolvidos em um namoro. Maria fica grávida e Pedro não quer o filho. Depois de muita insistência de Pedro, Maria aceita realizar o aborto. Então, Pedro a leva numa clínica, em que o aborto é realizado por um médico e uma enfermeira. Pedro paga todos os custos do procedimento, coloca Maria no carro e a leva embora. Pergunta: quem responderá pelo que? Resposta: a Maria responderá pelo crime do art. 124 como autora. Pedro responderá pelo art. 124 como partícipe, pois ele induziu, auxiliou, pagou etc., mas não realizou o aborto, não tinha o domínio do fato. O médico responderá pelo art. 126 como autor. A enfermeira também responderá pelo 126, como autora ou partícipe, a depender do seu domínio do fato.
Observação: Se a enfermeira não sabia que era um aborto, sendo induzida a acreditar que era apenas um exame, será hipótese de erro de tipo, que afasta o dolo. Como não há aborto culposo, ela não teria nenhuma punição. Da mesma forma, se a gestante foi induzida a acreditar que ia fazer um exame, também incorrerá em erro de tipo.
O art. 127 não se trata de uma qualificadora, mas somente de uma causa especial de aumento. Vejam que o tipo fala apenas em lesão corporal grave, pois o aborto por si só já é um tipo de lesão. Mas se do aborto resulta uma esterilidade da gestante (perda da função reprodutora, por exemplo), haverá lesão grave. Nesse caso, há o chamado crime Preterdoloso, em que há dolo no antecedente (aborto) e culpa no consequente (lesão).
Nesse caso, o dolo é de aborto, e o resultado (lesão corporal grave ou morte) decorre de culpa. De forma alguma a intensão do agente era matar a gestante. O resultado decorre de culpa, por isso é culpa no consequente. Se houver dolo no resultado será homicídio. Isso é observado de acordo com a questão. Por exemplo, se a questão disse que no procedimento o médico desferiu sete facas no útero da gestante, já dá para pensar no dolo de matar.
O exemplo mais famoso de preterdolo é a lesão corporal seguida de morte, como no caso de alguém que desfere um soco na cara da vítima, ela cai e bate a cabeça em uma pedra e morre.
Observação: gravidez gemelar (de gêmeos): nesse caso, se o agente sabia que havia a gravidez de gêmeos, responderá por concurso formal de crimes. Por outro lado, se o agente não sabia, poderá ser enquadrado em erro de tipo sobre o outro. Por exemplo, o marido dá um chute na barriga da mulher com o objetivo de causar o aborto. Por outro lado, se ele nem sabia que ela estava grávida, não será aborto, mas sim lesão corporal grave. Vai depender do dolo do agente.
O art. 128 traz um tipo permissivo. Observem que a permissão é direcionada apenas ao médico: “... praticado por médico”. Se for uma parteira, por exemplo, que pratica o abordo para salvar a vida da mãe, não se aplica a permissão do art. 128, mas poderá ser enquadrada como estado de necessidade (permissivo geral).
2.5	LESÃO CORPORAL
O caput do art. 129 trata da lesão leve (ou lesão simples). A lesão corporal do §1º é a lesão grave, e a doutrina chama a lesão do §2º de gravíssima. Existe uma semelhança muito grande entre os resultados do §1º e do §2º, mas no §2º a intensidade é maior, como é o caso do inciso III. No §1º ele trata de “debilidade” de membro. Já no §2º, ele trata de “perda” de membro. Exemplo, Pedro se envolve em uma briga de bar e é vítima de uma garrafada no rosto. Um estilhaço penetrou no seu olho esquerdo e lhe causou a perda desse olho. Pergunta: que lesão é essa, grave ou gravíssima? Resposta: grave, pois olho não é membro e sim função (função visual). Logo, se ele perdeu apenas um olho, ele sofreu uma debilidade permanente de uma função (visual) e não a perda dessa função. Se ele tivesse ficado completamente cego (os dois olhos), haveria lesão gravíssima. Membro são apenas os braços, mãos, pernas, pés e dedos. O pênis não é membro, mas sim função (função reprodutora).
2.6	PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
São crimes de perigo. Dois tipos chamam mais atenção, que são os crimes do art. 133 e do art. 134. O recém-nascido não deixa de ser um incapaz, por isso há uma relação de especialidade entre esses dois tipos.
O incapaz no art. 133 (o sujeito passivo) não tem idade mínima definida. Depende da situação da pessoa. Podemos ter uma pessoa que acaba de passar por um pós-operatório e que seja incapaz. Lógico que a incapacidade da criança e do idoso é presumida, mas não é só nesses casos que teremos o abandono de incapaz. A incapacidade é a incapacidade defensiva, e não a incapacidade civil pura e simples.
Já no art. 134, o sujeito passivo será o recém-nascido. Normalmente, a doutrina coloca como sujeito ativo apenas a mãe do recém-nascido. Se a mãe abandona o recém-nascido porque tem vários filhos e não tem condição de criar, responderá pelo 133, e não pelo 134. O art. 134 exige uma motivação especial, que é a vontade de ocultar desonra própria.
2.7	MAUS TRATOS
Qual a diferença entre maus tratos, lesões corporais e tortura? Resposta: a ideia não tem qualquer ligação com a intensidade. Essa ideia é errada. A diferença está no dolo do agente, e não na intensidade da lesão. Exemplo: na lesão corporal o dolo é de ofender a integridade corporal. Já no maus tratos, há uma finalidade especial, que é a educação, ensino, tratamento ou custodia. Então, além de haver uma relação de subordinação entre o sujeito ativo e o sujeito passivo, exige-se essa finalidade especial. Por fim, na tortura o tipo traz a o intenso sofrimento físico e psicológico. Pode ser que não haja lesão nenhuma, pois o sofrimento psicológico já configura a tortura.
2.8	CRIMESCONTRA A HONRA
Os três crimes contra a honra são: calúnia (art. 138), difamação (art. 139) e injúria. A calúnia é a imputação falsa de fato definido como crime. A difamação é a atribuição de um fato ofensivo. E a injúria é um mero atributo negativo. Por exemplo, se alguém diz para o outro: “seu ladrão!”, o que é? Resposta: injúria. Muito poderiam pensar que é calúnia, mas tanto a calúnia quanto a difamação e a atribuição de um fato. Fatos tem data, local, sujeitos etc. Por exemplo, duas pessoas estão conversando e uma diz para a outra: “Sabia que foi o Pedro que roubou o Açougue do José?!”. Nesse caso há uma atribuição de um fato definido. A deputada que chamou o Bolsonaro de estuprador cometeu injúria e não calúnia.
A afirmação na calúnia deverá ser obrigatoriamente falsa. Se for verdadeira, não há crime de calúnia. Por outro lado, a difamação e a injúria não exigem a veracidade dos fatos ou atribuições. Isso porque ninguém tem o direito de ser censor da vida alheia. Por isso, se chama alguém de ladrão, mesmo que ele seja ladrão, haverá crime de injúria.
Observação: em regra, somente a calúnia admite a exceção da verdade, mas a difamação também admitirá quando se tratar de funcionário público.
A honra é um bem jurídica único, mas é protegido sob duas perspectivas. Por isso se fala em honra subjetiva e honra objetiva. A honra objetiva (externa) é o conceito que terceiros (outras pessoas) tem a nosso respeito. Pode ser resumida em uma palavra: reputação. Por outro lado, quando falamos em honra subjetiva, nos trabalhamos com o conceito que nos temos de nós mesmos, o que pode ser resumido na palavra autoestima (ou autoconsideração). No caso das pessoas jurídicas, só se protege a honra objetiva, ou seja, a reputação da empresa. Em regra, a calúnia protege a honra objetiva, a difamação protege a honra objetiva e a injúria protege a honra subjetiva.
A injúria real é prevista no §2º do art. 140, quando há pequenas ofensas físicas, como um tapa no rosto, uma cusparada, um copo de bebida etc., desde que a intenção seja ofender a honra e não a integridade física. Se houver ofensas físicas fortes, como uma briga, pode ocorrer a transformação do dolo de ofender a honra para o dolo de ofender a integridade física, o que absorve o crime contra a honra. 
Outra diferença interessante é o racismo e a injúria racial. Na injúria racial há o dolo de ofender a honra se utilizando de características raciais. Um exemplo é atirar banana no campo, chamar de macaco etc. No crime de racismo a situação é mais grave, pois a pessoa é impedida de exercer um direito por conta da sua raça. Por exemplo, ser impedida de entrar num restaurante por ser negro. Lembrar que o §3º abrange não só a condição racial, mas também a etnia, religião, origem, idoso ou deficiente.
Observação: não confundir o art. 142 com o art. 143. O art. 142 não contempla a calúnia, e o art. 143 não contempla a injúria.
2.9	FURTO
É possível falar em furto quando o bem é espontaneamente entregue ao sujeito ativo pela vítima? Resposta: Sim, desde que a posse seja vigiada. Por exemplo, a pessoa vai a uma loja comprar um calçado. O vendedor entrega o sapato ao cliente, ele coloca o sapato no pé e sai correndo da loja. Isso é furto. 
Se a posse for desvigiada, não será furto, mas sim apropriação indébita. Por exemplo, a pessoa recebe um calçado emprestado de outro, para usar em uma festa. No dia seguinte, ao invés de devolver o bem, a pessoa toma o sapato para si. Isso é apropriação indébita.
Se alguém vai na minha casa com o uniforma da Sky e leva o receptor embora, não será nem furto e nem apropriação, mas sim estelionato (induziu a vítima a erro). No estelionato o agente induz a vítima em erro para que ela lhe entregue a coisa ou permita que ele leve.
O §4º traz as hipóteses de furto qualificado. Por exemplo, se o cidadão passa, quebra o vidro do carro e leva o celular que estava dentro, isso é furto qualificado (quebrou uma barreira). Por outro lado, se ele quebra o vidro é leva o carro, será furto simples. Isso porque ele não quebrou uma barreira, mas sim depreciou a própria coisa. O inciso II traz o furto mediante fraude, que não se confunde com o estelionato. A diferença reside em saber se a transferência da coisa ocorre com o conhecimento da vítima ou não. No caso do furto mediante fraude, a fraude é empregada para desviar a atenção da vítima. Exemplo, três pessoas entram numa loja. Enquanto uma se passa por cliente, as outras duas furtam as mercadorias. Já no estelionato, a fraude é utilizada para induzir a vítima a erro. Assim, a vítima acha que fez uma coisa certa, mas foi induzida a erro.
2.10	ROUBO
A diferença do roubo para o furto é o emprego de violência ou grave ameaça, bem como a violência imprópria (aquela que reduz a capacidade de resistência da vítima). O emprego de sonífero, por exemplo, é roubo. Isso acontecia muito nos casos do “boa noite cinderela”. Nesse caso, a vítima recebia uma dose de sonífero ou entorpecente em seu copo de bebida e quando acordava os ladroes tinham levado tudo. Isso é roubo.
O crime de roubo é um crime complexo, pois protege mais de um bem jurídico: o patrimônio e a integridade física da vítima. A vítima suporta tanto a redução patrimonial, quanto a agressão. Por exemplo: Um cidadão entra armado num ônibus com 30 pessoas e anuncia o assalto. Leva objetos de 10 pessoas e vai embora. Quantos crimes há no exemplo? Resposta: 10 roubos em concurso formal de crimes (uma ação). E quantas vítimas? Resposta: 30 vítimas, pois aquelas que não tiveram a redução patrimonial também sofreram a agressão.
Para configurar a grave ameaça basta que a pessoa se sinta atemorizada. Por exemplo, se o agente coloca uma banana dentro do casaco simulando uma arma, há roubo.
O §1º do art. 157 há o roubo impróprio, em que a ordem dos fatos é invertida. No roubo próprio (caput), há a violência e depois a subtração. No roubo impróprio, há a subtração e depois a violência. Um exemplo e o caso do cidadão que entra numa loja e subtrai mercadorias. O alarme dispara e dono vem. Para assegurar o produto do crime o agente atira no dono da loja e vai embora.
No §2º há algumas causas de aumento de pena. Cuidado com o emprego de arma. A jurisprudência (qual???) já decidiu que a arma de brinquedo não aumenta a pena do roubo. Da mesma forma, o simulacro, a arma desmuniciada etc. também não aumentam a pena.
O §3º traz o tipo penal do latrocínio. Devemos atentar para o fato de que o roubo possui três formas de ser praticado: mediante violência (real), mediante grave ameaça ou por violência imprópria. O latrocínio só ocorre na hipótese de roubo cometido com violência. Então, ao aplicar a violência, a vítima vem a morrer. Se o roubo é cometido com grave ameaça ou violência imprópria, não há latrocínio. Por exemplo, se o agente ministra uma dose mais alta de tranquilizante e a vítima morre com uma parada cardíaca. Nesse caso não há latrocínio.
EXTORSÃO
É um crime muito parecido com o roubo, mas a diferença reside no comportamento da vítima. Na extorsão, a vítima é constrangida a fazer alguma coisa. Ou seja, não é subtraída uma coisa. É exigido um comportamento da vítima. Por exemplo, se a pessoa aponta uma arma para a vítima e a obriga a realizar saques de dinheiro. Isso é extorsão. A extorsão é crime formal, que se consuma com o constrangimento, e não com a obtenção da vantagem. Se obter a vantagem é mero exaurimento do crime.
Da mesma forma, a extorsão mediante sequestro se consuma com a privação da liberdade (com o sequestro), e não com a obtenção da vantagem. A diferença para o crime de sequestro está na extorsão, no dolo de obter vantagem.
DANO
Só existe crime de dano na forma dolosa. Não existe dano culposo.
ESTELIONATO
A grande característica do estelionato está no “ardil”, que é o induzimento a erro. O estelionato exige um resultado duplo: vantagem ilícita e prejuízo alheio. 
PREJUÍZO ALHEIO
FRAUDE
(ardil)
VANTAGEM ILÍCITA
Nem sempre as duas coisas vão acontecer juntas. Por exemplo, uma pessoavai a uma loja e compra diversas mercadorias com um cheque de uma conta encerrada. No momento em que ela sai da loja, há o crime? Não, pois ainda não há o prejuízo alheio. Só vai configurar o estelionato no momento em que o cheque voltar, que ai configurou o prejuízo. Tanto é verdade que ele pode pagar o cheque depois no dia seguinte (arrependimento eficaz).
14

Continue navegando