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27
Resumo
Os autores fazem uma revisão da enterobíase com uma visão 
clínica, com maior ênfase no diagnóstico e apresentação de novas 
opções terapêuticas desta parasitose intestinal.
Palavras-chave: Enterobius vermicularis, Enterobíase, Re-
visão.
Abstract 
The authors present an overview of enterobiasis with a clini-
cal approach and main emphasis in diagnosis and new treatment 
options.
Key words: Enterobius vermicularis, Enterobiasis, Review.
Introdução
A enterobíase ou oxiuríase é uma infecção parasitária intestinal 
causada pelo nematódeo Enterobius vermicularis ou Oxyurus ver-
micularis. A evolução nos mostra que esta verminose foi originária 
no continente africano, dispersando-se com as migrações ocorridas 
no passado para outros continentes. Um dos ramos de estudo da 
Parasitologia, a Paleoparasitologia, tem contribuído em muito para 
os dados históricos da patologia, reconstruindo rotas da dispersão, 
com especial atenção nos achados em material arqueológico(1).
O encontro do nematódeo data de período antes da Era Cristia-
niana, em especial no Estado do Colorado, nos Estados Unidos, 
através de coprólitos(1).
Na América do Sul, o primeiro achado de ovos de E. vermicu-
laris em coprólitos humanos foi feito por Patruco e colaboradores 
em 1983, no Peru, seguido de Ferreira et al. (1984) e Araújo et 
al., em 1985, no Chile, com datas pré-colombianas (4.000 anos 
a 800 a.D.)(2).
O parasito (agente etiológico)
O Enterobius vermicularis ou Oxyurus vermicularis é um verme 
cilíndrico, de cor branca, com aspecto de fio de linha, medindo o 
macho 2 a 5 mm de comprimento e a fêmea, 8 a 13 mm. Apre-
senta na extremidade anterior uma dilatação da cutícula formando 
duas expansões, denominadas asas cervicais. Internamente, o 
Cimerman, et al • Enterobíase
Enterobíase
Enterobiasis
Sérgio Cimerman1 
Benjamin Cimerman2
1 Médico Assistente da 3ª Unidade de 
Internação do Instituto de Infectologia 
Emílio Ribas. São Paulo, Brasil.
2 Professor Titular de Parasitologia da 
Faculdade de Enfermagem do Hospital 
Israelita Albert Einstein. São Paulo, 
Brasil.
Rev Panam Infectol 2005;7(3):27-30
Recibido en 18/8/2005.
Aceptado para publicación em 16/9/2005.
ARTÍCULO DE REVISIÓN/ARTIGO DE REVISÃO
28
esôfago termina em uma estrutura muscular arredon-
dada e proeminente, chamada bulbo esofagiano. A 
extremidade posterior da fêmea termina em ponta fina 
e alongada, enquanto a do macho mostra um enrodi-
lhamento ventral e a presença de um espículo(3). 
Os ovos são brancos, transparentes, com dupla 
membrana, um lado plano e o outro convexo, similar à 
letra D do alfabeto. Medem aproximadamente 50 a 60 
micras de largura por 20 a 30 micras de comprimento, 
são resistentes aos desinfetantes comerciais e podem 
sobreviver em ambientes domiciliares por duas a três 
semanas(4).
Ovo de E. vermicularis – “anal swab” 
Ovo de E. vermicularis - fezes
Ciclo de vida(5)
Os vermes adultos vivem no intestino grosso e após 
a cópula o macho é eliminado. As fêmeas fecundadas 
não fazem oviposição no intestino e têm seu útero 
abarrotado com aproximadamente 11.000 ovos. Em 
um determinado momento o parasito se desprende do 
ceco e é arrastado para a região anal e perianal, onde 
se fixa e libera grande quantidade de ovos. 
E. vermicularis é o parasito de maior poder de 
infecção, pois seus ovos necessitam de apenas seis 
horas para se tornar infectantes.
Ao serem ingeridos, os ovos sofrem a ação do 
suco gástrico e duodenal, libertando as larvas que 
se dirigem ao ceco, onde se fixam e evoluem até o 
estágio adulto. A duração do ciclo é em média de 30 
a 50 dias. 
Epidemiologia
É uma doença de distribuição mundial (cosmo-
polita), mais freqüentemente encontrada em crianças 
de 5 a 14 anos de idade(6). Sua transmissão é direta 
de pessoa a pessoa, sem a intervenção do solo, não 
requerendo condições especiais de ambiente, clima 
e nível social(4).
Elevada prevalência tem sido relatada nos Estados 
Unidos (20%)(5), Índia (12,8%)(7) e Brasil (5,9%)(8), 
embora sua mensuração seja difícil, pois a maioria dos 
inquéritos epidemiológica não utiliza a metodologia 
adequada para o diagnóstico dessa parasitose.
Em pacientes com Aids, nos parece até o momento 
não existir qualquer importância da doença durante 
o curso natural da patologia, conforme estudos reali-
zados por nosso grupo em 1999(9) e em publicação 
mais recente; nem ao menos obtivemos o encontro do 
nematódeo, com justificativa de não termos também 
procedido à metodologia ouro para o diagnóstico(10).
Raramente a infecção é fatal, sendo que a sua 
morbidade é correlacionada com as infecções 
secundárias(5).
Patogenia
Ao nível do intestino atua sobre a mucosa intes-
tinal, ocasionando um processo inflamatório com 
exsudato catarral. Devemos lembrar que não ocorre 
lesão anatômica, pois a mucosa não é penetrada. A 
migração dos parasitos adultos pela pele a diferentes 
locais pode desencadear uma reação inflamatória lo-
cal, agravando-se por lesões traumáticas e infecções 
secundárias(3-5).
Manifestações clínicas
O sintoma característico da enterobíase é o prurido 
anal, que se exacerba no período noturno devido à 
movimentação do parasito pelo calor do leito, produ-
zindo um quadro de irritabilidade e insônia(3-6).
Em relação às manifestações digestivas, a maio-
ria dos pacientes apresenta náuseas, vômitos, dores 
abdominais em cólica, tenesmo e, mais raramente, 
evacuações sanguinolentas(3-6).
Nas mulheres, o verme pode migrar da região anal 
para a genital, ocasionando prurido vulvar, corrimento 
vaginal, eventualmente infecção do trato urinário, 
Rev Panam Infectol 2005;7(3):27-30
29
e até excitação sexual. Apesar da sintomatologia, 
não se verifica eosinofilia periférica e os níveis de 
IgE em patamares dentro da normalidade, com ex-
ceção de estudo de infecção massiva promovendo 
uma alta elevação de IgE sangüínea e contagem de 
eosinófilos(11).
Existem relatos de localização ectópica da patologia 
levando a quadros de apendicites, salpingites, granu-
lomas peritoneais e perianais, doença inflamatória 
pélvica(12).
Diagnóstico
O método de escolha utilizado para o diagnóstico da 
enterobíase difere em relação às outras verminoses em 
geral. As técnicas habituais de demonstração de ovos 
de helmintos não apresentam positividade superior 
a 5% dos casos, uma vez que as fêmeas não fazem 
oviposição no intestino.
Como eleição emprega-se a técnica dos “swabs 
anais”, também denominada de método da fita de 
celofane adesiva e transparente, ou da fita gomada, 
reportada por Graham(3-6). A outra técnica não habitual 
descrita na literatura é chamada de vaselina-parafina 
(VASPAR). Adota-se como padrão da colheita do 
material o horário no período matutino, antes de o 
paciente defecar ou tomar um banho(5). Caso não seja 
possível tal procedimento, poderia se optar pela coleta 
após o paciente ter se deitado. Com estas técnicas, 
aumenta-se sensivelmente a positividade do achado 
dos ovos de E. vermicularis e, se realizado em dias 
consecutivos, com no mínimo três coletas, segundo 
consenso de expertos da Federação Latino-Americana 
de Parasitologia (FLAP)(13).
Prevenção e controle
Inicialmente, para se realizar uma excelente pro-
filaxia, deve-se estender o tratamento da parasitose a 
todos os indivíduos que residem na mesma residência, 
além de troca de roupa de cama, interior e cobertor no 
dia da realização do tratamento proposto(3,4,6).
A atenção das autoridades públicas na questão 
da educação sanitária deve ser um dos quesitos 
primordiais, principalmente objetivando a população 
pediátrica. Nesta faixa etária temos que orientar para 
que as unhas sejam cortadas bem rentes e sobre o uso 
de macacão para dormir.
A limpeza ambiental é outro fator que deve ser 
verificado devido à transmissão da doença ocorrer 
pela inalaçãode pó, pela ingestão nasal dos ovos do 
parasito. Com esta afirmação existe a necessidade de 
não varrer a poeira nas casas, e sim proceder com uso 
de aspirador. 
O controle de cura desta helmintose, segundo o 
último consenso da FLAP, sugere efetuar pela técnica 
de Graham um exame diário por sete dias a partir de 
uma semana depois de finalizada a terapia(13). 
Tratamento
A enterobíase, por ser uma parasitose de fácil 
disseminação, deve ser tratada para todos aqueles 
com exposição. Várias drogas estão disponíveis no 
mercado internacional, com índices de cura clínica e 
parasitológica bastante satisfatórios. 
O tratamento de escolha é o pamoato de pirantel na 
dose de 10 mg/kg em dose única, não ultrapassando 
1 g, por via oral, preferencialmente em jejum. Apresen-
ta uma eficácia em torno de 80 a 100% de cura, com 
poucos efeitos adversos, tais como: cefaléia, tonturas 
e distúrbios gastrointestinais leves. Não deve ser ad-
ministrado a gestantes e, como lembrança, o paciente 
deve ser comunicado que o fármaco poderá produzir 
cor vermelha na urina e fezes. Sugere-se na maioria 
dos casos a repetição do tratamento, aumentando as-
sim a taxa de cura deste nematódeo intestinal(14).
Como terapia alternativa à participação dos benzi-
midazólicos de uso em humanos, mebendazol e 
albendazol apresentam também o mesmo esquema 
preconizado em dose única e repetição em 2 sema-
nas. A maior vantagem da utilização destas drogas 
reside nas populações poliparasitadas, como ocorre na 
maioria dos países da América Latina. O mebendazol 
é administrado por via oral, 100 mg, independente 
da idade do paciente, apresentando eficácia de 90 
a 100% de cura, com raros efeitos colaterais(15,16). O 
albendazol é receitado na dose de 400 mg, também 
independente da idade, e proporcionando taxa de cura 
também perto dos 100%. Náuseas, vômitos, diarréia, 
secura na boca e prurido cutâneo podem surgir após a 
ingesta, porém é raro o seu acometimento(3,4).
Com o advento de novas buscas para o tratamento 
antiparasitário, novas medicações têm sido propostas 
e que merecem citação, dentre elas: ivermectina e a 
nitazoxanida. 
A ivermectina é membro das avermectinas, sendo 
um análogo sintético da avermectina B1a (abamectina), 
resultante da fermentação do actinomiceto do solo 
Streptomyces avermitilis. Recentemente liberado 
para uso em humanos, no tratamento da enterobíase, 
utiliza-se na dose de 200 μg/kg, alcançando índices 
de cura de cerca de 85%, embora não seja esta a sua 
principal indicação(3-5,14). 
A nitazoxanida, um 5-nitotriazol, de amplo espectro 
antiparasitário, cuja maioria dos trabalhos desenvolvi-
dos foi em relação aos patógenos oportunistas em 
pacientes com Aids e em casos de giardíase, amebíase, 
fasciolíase, teníase em indivíduos imunocompetentes. 
Sua veiculação em enterobíase ocorreu em estudo 
clínico de pacientes no Egito, com índices de cura de 
Cimerman, et al • Enterobíase
30
95% nos pacientes, com leve ou quase ausência de 
eventos adversos, como: cefaléia, náuseas, vômitos, 
dor abdominal, diarréia e dor gástrica. A dose reco-
mendada é aproximadamente 7,5 mg/kg, por via oral, 
por período de três dias consecutivos, ingeridos depois 
de comida. Como dado adicional, existe comprimido 
e suspensão líquida que atende o grupo etário infantil 
no gosto morango(17,18). 
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Correspondência: 
Dr. Sérgio Cimerman
R. Zacarias de Góis, 966, apto 41, 
CEP 04610-002, São Paulo, SP, Brasil
e-mail: scimerman@uol.com.br
Rev Panam Infectol 2005;7(3):27-30

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