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Andrea Salvi Gestão Financeira e Orçamentária Andrea Salvi Gestão Financeira e Orçamentária Belo Horizonte Janeiro de 2016 COPYRIGHT © 2016 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD Conheça o Autor Sou a Profa. Andrea Salvi. Tenho mestrado em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo - FEARP (2007), graduação em Administração pela Universidade Mackenzie (2001) e graduação em Ciências Contábeis pela PUC-MG (2015). Atuo como docente e como orientadora de trabalhos de conclusão de curso há 10 anos, nas áreas de Ciências Contábeis e Finanças, atuando principalmente nos seguintes temas: valor econômico adicionado, mercado de capitais, contabilidade, finanças corporativas, controladoria e gestão de risco. Atuei também como gerente administrativo por 8 anos e como consultora na área de projetos de viabilidade econômica e financeira para captação de recursos e avaliação econômica de empresas. A disciplina de Gestão Financeira e Orçamentária compõe um conjunto de instrumentos pertinentes à área de finanças corporativas, essenciais para a gestão organizacional. A compreensão conceitual e prática desses instrumentos habilitará os alunos para atuarem na gestão das diversas organizações que estão no mercado, auxiliando os gestores na tomada de decisões, ou mesmo tomando suas próprias decisões enquanto administradores. Esse conhecimento também promove nos alunos uma visão analítica e crítica das diversas situações relacionadas à área financeira, que a empresa pode enfrentar ao longo da sua operação, o que contribui para o melhor desempenho financeiro e econômico e continuidade do negócio. Assim, o objetivo da disciplina é demonstrar a relevância da administração financeira no dia a dia das empresas, explicando o uso dos instrumentos da administração financeira para tomada de decisão, por meio da obtenção de indicadores financeiros de rentabilidade e avaliação dos resultados obtidos, bem como o impacto na empresa. Também é nosso objetivo reconhecer as relações de causa e efeito entre as variáveis financeiras, buscando adequar as diversas decisões financeiras em todos os seus níveis, para a obtenção de melhorias de eficiência e eficácia dos negócios. Apresentação da disciplina UNIDADE 1 01 Administração Financeira nas Empresas 03 Funções do Administrador Financeiro 07 Decisões da Administração Financeira 11 Demonstrações Contábeis 15 Revisão 31 UNIDADE 2 33 Princípios Básicos de Matemática Financeira 34 Juros Simples 35 Juros Compostos 41 Inflação 50 Revisão 54 UNIDADE 3 56 Administração de Capital de Giro 57 Capital Circulante Líquido 59 Necessidade de Investimento em Capital de Giro 65 Ciclo Operacional e Financeiro 69 Administração do Ativo Circulante 75 Administração do Passivo Circulante 78 Revisão 81 UNIDADE 4 82 Alavancagem Financeira 83 Resultado Operacional 84 Estrutura de Capital e Custo de Capital 88 Rentabilidade do Negócio e dos Proprietários 94 Grau de Alavancagem Financeira 97 Revisão 103 REFERÊNCIAS 216 UNIDADE 5 105 Fonte de Recursos de Curto e Longo Prazo 106 Fonte de Capital de Terceiros 108 Fontes de Capital Próprio 119 Revisão 127 UNIDADE 6 129 Decisões Financeiras 130 Políticas de Financiamento 131 Políticas de Investimento 133 Políticas de Dividendos 155 Revisão 161 UNIDADE 7 163 Alavancagem Operacional 164 Variações nos Custos e nas Despesas 165 Grau de Alavancagem Operacional 177 Revisão 182 UNIDADE 8 184 Orçamento Empresarial 185 Planejamento e Controle Financeiro 186 Planejamento Orçamentário 188 Orçamento de Vendas 190 Orçamento de Produção 195 Orçamento de Matéria-Prima 198 Orçamento de Mão de obra 205 Orçamento de Custos Indiretos de Fabricação 209 Orçamento de Despesas 212 Projeção dos Resultados 212 Revisão 214 GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 1 Administração Financeira: Conceitos e Objetivos Introdução Nos dias atuais, as empresas têm grandes desafios a vencer para se manter no mercado. A expansão do mercado comercial e do mercado de capitais exige um maior conhecimento e habilidade para gerenciar os negócios. Muitas empresas acabam parando de funcionar por não se adaptarem a essas exigências de gestão e operação. É diante dessa situação que a área de administração financeira se tornou cada vez mais importante no mundo dos negócios, pois suas funções envolvem não só a gestão do capital, mas também o profundo conhecimento e planejamento financeiro da empresa, preparando-a para as incertezas do futuro. Por isso, a administração financeira, suas funções e principais decisões são o objeto de estudo desta unidade, bem como as demonstrações financeiras elaboradas pela contabilidade, pois é por meio delas que os administradores financeiros tomam suas principais decisões. • Administração Financeira nas Empresas • Funções do Administrador Financeiro • Decisões da Administração Financeira • Demonstrações Contábeis • Revisão GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 3 Administração Financeira nas Empresas Finanças é uma área do conhecimento que está relacionada diretamente com a vida das pessoas e das organizações. As pessoas e organizações lidam frequentemente com decisões como: com o que vougastar o dinheiro, em que vou investir, quanto estou recebendo, em que estou gastando, assim, há a necessidade da gestão dessas decisões que envolvem o capital, o dinheiro. As finanças empresariais até os anos 20, do século XX, estavam vinculadas às ciências econômicas, se tornando independentes à medida que os negócios se tornaram mais complexos. Assim, a preocupação principal do administrador era com a captação de recursos, com os credores, acionistas e governo. Hoje, as finanças não trabalham somente para identificar fenômenos, e sim para diagnosticar e solucionar os diversos problemas financeiros das empresas, entendendo suas causas e seus efeitos, principalmente, na geração de resultado e rentabilidade. Com a crise de 1929, a gestão dos negócios, de forma geral, sofreu a influência dos grandes teóricos da administração como Taylor, Fayol e Ford e, com os negócios fragilizados pela crise, a gestão financeira passou a se voltar para os aspectos internos do negócio, priorizando as operações e a estrutura organizacional. Na década de 50, com o surgimento da Teoria de Keynes que apontava o investimento agregado como principal foco dos negócios, a gestão do capital se voltou para o uso mais eficiente dos recursos e captações de financiamentos mais compatíveis com a situação financeira da empresa. A partir dessa década, foram desenvolvidas as diversas teorias de finanças, sendo consideradas como a moderna teoria de finanças. Finanças é uma área do conhecimento que está relacionada diretamente com a vida das pessoas e das organizações. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 4 E na década de 90, as finanças corporativas incorporaram a gestão do risco em função da grande variabilidade de indicadores econômicos como juros, taxas de câmbio, inflação, preços de mercadorias, sendo desenvolvidas as técnicas de controle do risco e priorizando avaliação do risco e retorno dos negócios. Nas empresas, o setor específico para gerir essas decisões é conhecido como “Administração Financeira” e seu profissional, como “administrador financeiro”. O administrador financeiro é o responsável por diversas funções como de planejamento financeiro, avaliação de investimento, gestão de caixa, concessão de crédito para cliente, avaliação dos financiamentos e deve ter ainda habilidade para realização de operações em moeda estrangeira, em decorrências da globalização dos mercados econômicos e de capitais e habilidade para a gestão do risco. FIGURA 1 – Administrador financeiro Fonte: Arquivo Institucional. Sua participação nas decisões de outros departamentos como marketing, recursos humanos, produção, sistemas de informação GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 5 é fundamental, pois em todas essas áreas há necessidade do uso e da avaliação da rentabilidade do capital. Para o administrador financeiro, também é de grande importância o conhecimento da empresa como um todo, ou seja, conhecer todos os processos do negócio para que se consiga atingir seus objetivos. A interação entre as diversas áreas da empresa e a administração financeira é útil para a geração de informações necessárias para a tomada de decisão. Outro aspecto relacionado à administração financeira é sua relação com a economia e com a contabilidade. As políticas econômicas e as variações nos níveis da atividade econômica fazem parte do contexto de qualquer negócio, cabendo ao administrador financeiro estar preparado para avaliar os impactos desses fatores na organização. A relação com a contabilidade é tão próxima, que até podem se confundir, mas a contabilidade é a responsável por coletar, registrar e apresentar as informações financeiras, por meio das demonstrações contábeis, já a administração financeira avalia a situação econômica e financeira da empresa para a tomada de decisão, utilizando as demonstrações contábeis fornecidas pela contabilidade. Entretanto, a administração financeira canaliza seus esforços para atingir o objetivo máximo do negócio, que é a maximização da riqueza dos seus proprietários. Sob esse enfoque está toda a discussão das ferramentas utilizadas pela administração financeira. As empresas são vistas como investimentos, em que seus proprietários aplicam seu capital no negócio buscando a melhor rentabilidade, ou seja, a empresa tem que remunerar o retorno exigido pelos proprietários. Notem que os proprietários, na maior parte das empresas, são os aplicadores de capital e os tomadores de decisões, sendo assim, eles mesmos são os responsáveis por maximizar sua própria riqueza. Em outros casos, os aplicadores de capital seriam os Aspecto relacionado à administração financeira é sua relação com a economia e com a contabilidade. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 6 acionistas, que muitas vezes delegam a gestão do negócio para um profissional, que geralmente é um administrador financeiro, para que este tome as decisões que agreguem valor para os acionistas. Essa situação revela conflitos de interesses entre os agentes (administradores) e os proprietários (acionistas), o que se denomina “conflitos de agência”. O conflito de agência ocorre quando os administradores optam por decisões que visam seus interesses pessoais, e não os interesses dos acionistas. Esses conflitos podem ser minimizados, ou mesmo evitados devido às forças de mercado e aos custos de agência. As forças de mercado são representadas pelo acionista mais importante, os investidores institucionais (fundo de pensão, fundos de previdência e as seguradoras), pois eles têm o poder de votarem em assembleia e pressionar os gestores, para que eles se preocupem com o desempenho da empresa e atendam aos interesses dos acionistas. Os custos de agência correspondem aos gastos que serão realizados para o monitoramento do comportamento dos administradores, proteção contra atos desonestos e concessão de incentivos. Os incentivos são dados para que os administradores tomem decisões de acordo com o interesse dos acionistas. Como mencionado também, a administração financeira deve se preocupar com as avaliações de risco e retorno do negócio, mesmo para atender seu objetivo principal de maximização da riqueza dos proprietários. Essa avaliação envolve dois aspectos importantes como a captação de recursos financeiros e o uso desses recursos pela empresa. Assim, a captação de recursos impacta em custos para a empresa, que representam a remuneração dos agentes que aplicaram seus recursos no negócio, ou seja, geração de Os incentivos são dados para que os administradores tomem decisões de acordo com o interesse dos acionistas. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 7 rentabilidade do capital investido. Entretanto, esses custos com o capital geram risco para a empresa, pois sua remuneração representa um desembolso de capital que comprometerá os lucros do negócio. Outro fato, é que as empresas, ao aplicaram esse capital buscam maximizar os lucros, mas nem sempre o capital investido gerará maiores lucros, pois há uma série de fatores, muitas vezes externos ao negócio e que a empresa não controla, que podem prejudicar a geração dos lucros e consequentemente, a rentabilidade do capital investido. Assim, o administrador financeiro trabalha no sentido de equilibrar a geração de resultado com o uso do capital e com os retornos que devem ser gerados para os aplicadores de capital, com foco sempre na rentabilidade dos proprietários. Contudo, os aspectos relacionados à administração financeira tratados anteriormente serão os fundamentos para o entendimentodas técnicas de análise e gestão da área de finanças empresariais que estudaremos neste livro. Funções do Administrador Financeiro Como já mencionamos, o administrador financeiro está envolvido nas decisões de como fazer uma boa gestão do capital das empresas, para maximizar a rentabilidade dos proprietários. Nessa missão, destacam-se suas principais funções sob dois aspectos: as voltadas para a gestão de capital da empresa e a voltada para o planejamento financeiro. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 8 As funções voltadas para a gestão do capital podem ser consideradas, na maior parte do tempo, como decisões de curto prazo e envolvem a administração do caixa, contas a receber, contas a pagar, fornecedores, estoques, financiamentos de curto prazo, proteção dos ativos, relações bancárias e gestão do risco financeiro. É função do administrador avaliar os investimentos da empresa em longo prazo. Em curto prazo, o administrador financeiro deve se preocupar com o fluxo de pagamentos e recebimentos da empresa, ou seja, a gestão do capital de giro. Para a realização dos pagamentos, a empresa precisa gerenciar de forma eficiente seu caixa, controlando as entradas de caixa geradas pelas vendas ou prestação de serviços do negócio, bem como as saídas de caixa gerada pelos pagamentos diversos de salários, impostos, fornecedores, bancos e demais gastos corporativos. Nesse sentido, o administrador financeiro deve buscar o equilíbrio entre os prazos de pagamento e recebimento, procurando fazer com que eles ocorram simultaneamente ou, em uma situação ideal, que os recebimentos ocorram antes dos pagamentos. A falta de sincronismo entre as entradas e saídas de caixa, ou seja, dos recebimentos com os pagamentos, gera a necessidade de manutenção do capital de giro. O capital de giro é o montante de capital que a empresa deve ter para cobrir os pagamentos enquanto não forem realizados os recebimentos. Dessa forma, é importante uma gestão adequada do estoque e contas a receber que estão relacionados às entradas de caixa, bem como uma gestão mais eficiente dos gastos para minimizar a necessidade de investimento em capital de giro. Nesse sentido, os investimentos em capital de giro se tornam outro foco da administração financeira, pois o administrador deve buscar as melhores e mais adequadas fontes de financiamento em longo prazo para cobrir essas necessidades de investimento, o que exige um bom relacionamento da empresa e do gestor com as instituições do sistema financeiro, principalmente, as instituições bancárias. O administrador financeiro deve se preocupar com o fluxo de pagamentos e recebimentos da empresa, ou seja, a gestão do capital de giro. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 9 Esses fatores também exigem que o administrador avalie o risco financeiro, ou seja, a capacidade da empresa de saldar seus compromissos. Esse risco está relacionado com o nível de obrigações assumidas pela empresa, sendo avaliado que quanto maior o nível de obrigações, endividamento, maior o risco financeiro. No longo prazo, a função é de avaliação dos investimentos, em que o administrador fará a análise das alternativas para a aplicação do capital, buscando sempre a maximização dos lucros e retorno, com o menor nível de risco possível. Assim, é sua função buscar as fontes de financiamentos dos investimentos avaliando aspectos como prazo de pagamento, taxas de juros ou custo do capital, volume de capital e risco financeiro. Em relação ao planejamento financeiro, o administrador foca sua atuação nos planos futuros da empresa, contribuindo para os objetivos que a empresa deseja alcançar. No planejamento financeiro, o administrador avalia as necessidades do negócio do ponto de vista estratégico e também as melhores alternativas para a aplicação dos recursos, considerando os investimentos mais rentáveis em determinado nível de risco. Cabe a ele também exercer o controle financeiro contínuo na empresa, acompanhando todo o processo financeiro para detectar falhas e realizar os ajustes necessários. Cabe ressaltar que faz parte de suas funções a emissão de relatórios gerenciais para informar à alta administração o andamento do negócio e a participação no desenvolvimento de sistemas de informações gerenciais, pois eles são necessários como suportes às informações utilizadas para o planejamento e controle financeiro. De forma sintética, podemos separar as funções do administrador financeiro sob quatro perspectivas da área da administração financeira: • planejamento: planejar as ações financeiras da empresa, avaliando seu risco e retorno; Eles são necessários como suportes às informações utilizadas para o planejamento e controle financeiro. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 10 • controle: acompanhar e avaliar o desempenho das ações financeiras; • administração dos ativos: administrar os investimentos e as entradas e saídas de caixa das operações da empresa; • administração dos passivos: selecionar as melhores fontes de financiamento para o negócio e gerenciar os demais gastos operacionais. É importante destacar como as funções da administração financeira são distribuídas dentro das empresas. Isso implica dizer que, em muitas organizações, não há um departamento específico que exerce todas as funções ou mesmo um profissional responsável pelas finanças. Na verdade, as funções são distribuídas, de forma geral, na área financeira (tesouraria) e controladoria. Na área financeira, em geral, são exercidas as funções relacionadas à gestão de caixa, pagamentos, recebimentos, relacionamento bancários, captação de empréstimos aplicações dos recursos excedentes do caixa, cobrança, avaliação de crédito para cliente, etc. A área de controladoria exerce as funções financeiras de planejamento e controle, decisões de investimento e financiamento que são de longo prazo. Essas áreas ficam sob a responsabilidade do diretor financeiro que se relaciona tanto com os proprietários e acionistas, quanto com os outros credores da organização. Em empresas menores, esses departamentos tendem a não existirem e as funções ficam sob a responsabilidade do sócio, funcionários, e mesmo da contabilidade, o que pode não ser uma boa forma de gestão da empresa. Contudo, o administrador financeiro é o responsável pelo desempenho econômico e financeiro da empresa. Manter o bom desempenho financeiro de uma empresa é um desafio para esse O administrador financeiro é o responsável pelo desempenho econômico e financeiro da empresa. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 11 profissional, principalmente, em ambientes de incerteza, nos quais, as empresas estão inseridas. Decisões da Administração Financeira Neste ponto, apresentaremos as principais decisões que envolvem a administração financeira e que estão voltadas para as funções do administrador. As decisões financeiras que são tomadas pelo administrador são decisões de investimento, decisões de financiamento e decisões de dividendos. Primeiramente, temos que entender que os investimentos se referem à aplicação de determinada quantidade de capital com a expectativa de ter retorno financeiro no futuro. Na empresa, os investimentos se referem à expansão do negócio com a abertura de novas filiais, criação de novos produtos, substituição de maquinários, aquisição de novas tecnologias, desenvolvimento de projetos ambientais, construções, propagandas publicitárias, aquisições de sistemas de informações de gerenciais, dentre outros. Os investimentos variam de acordo comcada tipo de negócio e com o objetivo da organização. As decisões de investimentos são as mais importantes da empresa, pois são geradoras de valor agregado, mas envolvem um volume de capital alto, e o risco dessa decisão também é alto, pois se trata de decisões estratégicas da empresa que determinarão em que situação a empresa quer estar no futuro. Assim, o processo para tomada de decisão de investimento envolve a identificação, avaliação e seleção das melhores alternativas de investimento, considerando o horizonte de tempo para geração de resultados, Os investimentos variam de acordo com cada tipo de negócio e com o objetivo da organização. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 12 capital investido em ativo fixo e capital de giro, capacidade de geração de resultados, custo do capital (retorno) e risco. Ressalta- se que o risco se refere às incertezas na projeção dos resultados futuros. Para ilustrar os aspectos que envolvem a decisão de investimento, o quadro 1 aponta algumas questões que podem nortear a tomada de decisão do administrador financeiro, sendo que essas decisões estão também relacionadas diretamente com os ativos da empresa. QUADRO 1- Questões da Decisão de Investimento Fonte: Adaptado de Lemes Jr., Rigo e Cherobim (2010). As decisões de financiamento se referem à obtenção de capital para o financiamento das decisões de investimento e envolve a escolha da melhor composição entre as fontes de capital, o custo de cada fonte, os prazos de pagamentos e as formas de captação. Como está aplicado o capital da empresa? Qual é o volume de capital aplicado em ativos circulantes? Qual é o volume de capital aplicado em imobilizado? Quais são eles? Como está a composição dos ativos? Pode ser melhorada? O risco do investimento foi avaliado? Quais são as possibilidades aplicação do capital? Qual é a rentabilidade dos projetos de investimento? Como tomar a decisão de investimento em ativos? A rentabilidade dos investimentos pode ser melhorada? Algum ativo pode ser descartado ou eliminado por não gerar valor? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 13 Seu objetivo é manter na empresa uma estrutura de capital com custo adequado aos negócios, sem prejudicar sua capacidade de pagamento e com capacidade de geração de rentabilidade. Em relação às fontes de financiamento do capital, a empresa dispõe do capital de terceiros e do capital próprio. O capital de terceiros se refere ao financiamento bancário, por meio das operações de empréstimos e financiamentos. Essas operações geram para a empresa o pagamento do principal (valor captado) e dos juros, que é a remuneração (retorno) do capital de terceiros. O capital próprio se refere ao capital dos sócios e acionistas investidos na empresa. A remuneração desse capital se dá por meio dos lucros gerados pelo negócio, denominada “distribuição dos lucros”. No caso dos acionistas, a remuneração se dá por meio da distribuição dos dividendos, que é uma distribuição de lucros, valorização dos preços das ações da empresa no mercado e juros sobre o capital próprio. Essas decisões, como se pode notar, estão relacionadas aos passivos e patrimônio líquido, que compõem o Balanço Patrimonial. Veja as questões que podem nortear essas decisões no quadro 2. Em relação às fontes de financiamento do capital, a empresa dispõe do capital de terceiros e do capital próprio. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 14 QUADRO 2 - Questões das Decisões de Financiamento Fonte: Adaptado de Lemes Jr., Rigo e Cherobim (2010). Outra decisão não menos importante é a decisão de dividendos. Ela envolve a integração das decisões de investimento e financiamento e avalia a retenção ou não de lucros pela empresa. A relação com a decisão de investimento ocorre, pois se a empresa realiza investimentos capazes de atender à expectativa de rentabilidade do proprietário (notem que a distribuição envolve somente o capital próprio), considerando seu custo de oportunidade, para eles é mais atrativo em termos de ganhos financeiros manterem seu capital reinvestido na empresa. Isso significa que é melhor manter o capital investido no negócio do que retirar os lucros e aplicar em alternativas equivalentes de investimento. Como está divido o capital da empresa? Quais são as fontes de �nanciamento? Quanto os terceiros aplicaram? Quanto os proprietários aplicaram? Qual é o nível de endividamento? Qual é o custo de cada fonte de �nanciamento? Qual é o custo total do capital utilizado? Há fontes que podem ser eliminadas ou negociadas? Qual é o nível de risco �nanceiro promovido pelo uso do capital de terceiros? O prazo de pagamento das dívidas está adequado à geração de caixa? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 15 Por outro lado, a decisão de retenção ou distribuição dos lucros é uma decisão de financiamento por capital próprio, pois os lucros reinvestidos sinalizam aumentos no patrimônio líquido da empresa. Para o administrador financeiro tomar essas decisões de forma que maximize o valor da empresa, adicionando rentabilidade para os proprietários acima de suas expectativas de ganhos financeiros, é necessário o conhecimento e o uso de técnicas que os oriente tanto na avaliação da decisão quanto no impacto que ela pode gerar para o valor da empresa. Demonstrações Contábeis As demonstrações financeiras, também conhecidas como “demonstrações contábeis” são elaboradas pela contabilidade por meio dos registros dos eventos que afetam o patrimônio das empresas. As principais demonstrações contábeis são o Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração do Resultado (DRE), a Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC), a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPAc) que serão descritas em detalhes ao longo deste capítulo. Essas demonstrações são de grande importância para o administrador financeiro, pois trazem informações importantes sobre a situação econômica e financeira da empresa para a tomada de decisão. O Balanço Patrimonial mostra a situação financeira em determinado momento, como se fosse um retrato dos bens, valores a receber, valores a pagar e capital investido, ou seja, evidencia o patrimônio da empresa naquele instante. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 16 A Demonstração do Resultado fornece informações sobre a lucratividade e rentabilidade da empresa, pois nela podem ser encontrados a apuração das receitas, custos, despesas e do lucro da empresa do período. Nesse caso, a cada período ocorre uma nova apuração do resultado independente do período anterior. Diferente do Balanço Patrimonial que registra uma movimentação contínua das contas, mostrando apenas seus saldos. Adicional à Demonstração do Resultado, tem-se a Demonstração do Resultado Abrangente (DRA) que se inicia a partir da última linha da Demonstração do Resultado do Exercício e contém informações sobre efeitos de correção de erros e mudanças nas políticas contábeis, ganhos e perdas na conversão em moeda estrangeira das demonstrações contábeis, ganhos e perdas atuariais, alterações nos valores justos das operações de hedge e participação dos acionistas ou sócios não controladores da empresa. A Demonstração do Fluxo de Caixa sinaliza a geração de recursos e os gastos que afetaram o caixa da empresa no período, sendo segmentados pelas atividades operacionais, de investimento e de financiamento. Sua avaliação é relevante para o conhecimento da situação financeira da empresa e de sua capacidade de pagamento. A Demonstração dos Lucros e PrejuízosAcumulados e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido evidenciam a distribuição do lucro líquido apurado no período para os proprietários na forma de dividendos e a parcela que foi reinvestida no negócio. O lucro líquido é apurado na Demonstração do Resultado, passando para a demonstração para que seja efetuada a sua distribuição e, em seguida, os lucros retidos são transferidos para o Balanço Patrimonial, no grupo do patrimônio líquido. Como demonstrações complementares temos a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) que mostra a riqueza gerada pela empresa e como ela foi distribuída entre os agentes, como governo, empregados e proprietários. As notas explicativas são importantes GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 17 por tratarem de informações complementares às registradas nas demonstrações. Nelas são informadas, por exemplo, as práticas contábeis como avaliação dos ativos, detalhamento dos investimentos em outras empresas, detalhamentos das dívidas quanto ao vencimento, taxas de juros, eventos posteriores à data de publicação do balanço, etc. Em relação ao período de apuração das demonstrações financeiras, as empresas, no Brasil, devem publicar os demonstrativos a cada 12 meses, o que pode corresponder ao ano calendário, mais conhecido como “exercício social”, embora não haja obrigação do exercício social coincidir com o ano calendário, exceto para fins fiscais, em que isso se torna obrigatório. A relação das demonstrações obrigatórias que devem ser elaboradas pelas empresas pode ser vista no quadro 3. QUADRO 3 - Demonstrações Financeiras Obrigatórias por Tipo de Empresa Fonte: Adaptado de Marion (2012). Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial está dividido em duas colunas, no lado esquerdo temos a coluna do Ativo, e no lado direito temos a coluna do Passivo e Patrimônio Líquido. O ativo ainda é dividido em dois grupos Ativo Circulante e Ativo Não Circulante, e o Passivo também é dividido em Passivo Circulante e Passivo Não Circulante, conforme quadro 4. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 18 Fonte: Elaborado pela autora. O grupo do passivo e patrimônio líquido representa a origem dos recursos (credores – crédito) que serão aplicados no negócio, sendo que a aplicação (devedores – débito) é representada pelo grupo do ativo. Assim, toda a origem deve gerar uma aplicação no mesmo valor, por isso há a igualdade (Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido), que é o fundamento do método das partidas dobradas do Balanço Patrimonial. Ativo Os Ativos correspondem aos bens e direitos que a empresa tem propriedade ou detenha o controle dos benefícios econômicos e do risco, que representem a geração de benefícios econômicos presentes e futuros, como a geração de caixa para o negócio e podem ser mensurados monetariamente. QUADRO 4 - Estrutura do Balanço Patrimonial GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 19 Como bens temos o dinheiro, o estoque, os imóveis, os veículos, as máquinas, os utensílios e como direitos, temos as aplicações financeiras, as contas a receber dos clientes, as despesas pagas antecipadamente que geram um direito de uso, os créditos a receber em geral, dentre outros. A classificação das contas no ativo segue o critério de liquidez, ou seja, a conversão rápida em dinheiro, assim, são classificadas as contas do ativo mais líquido para os menos líquido, do ativo circulante para o ativo não circulante. No ativo circulante são classificadas as contas que se renovam constantemente dentro do exercício social, ou seja, em 365 dias, as contas que se renovam após o exercício social ou que representam bens e direitos permanentes serão classificadas no ativo não circulante. O ativo circulante é composto por: • caixa e equivalentes: referente ao dinheiro em espécie e à conta corrente em bancos e aplicações de resgate imediato; • aplicações financeiras de curto prazo: aplicações, poupança, certificado de depósito bancário, letras de câmbio, dentre outras; • contas a receber de clientes: decorrentes das vendas que não foram recebidas à vista e serão recebidas a prazo; • Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa (PCLD): provisão das possíveis perdas pelo não recebimento dos créditos a receber de clientes e outros; • estoques: se referem às mercadorias para revenda, matéria-prima para produção, produtos em processo, produtos acabados, material de consumo (almoxarifado), adiantamento a fornecedor (pagamento adiantado de estoques que serão recebidos no futuro); • despesas antecipadas: pagamentos antecipados de gastos para utilização de serviços no decorrer do exercício social, GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 20 como gastos com seguros, assinatura de revistas e jornais, viagens, etc.; • outros créditos: são valores a receber provenientes de outras operações da empresa que não são da sua atividade principal. O ativo não circulante é dividido em quatro grupos distintos: Realizável a Longo Prazo, Investimento, Imobilizado e Intangível. O realizável a longo prazo corresponde a valores a receber após o exercício social, sendo suas principais contas: créditos a receber, depósitos judiciais, empréstimos com coligadas (empresas que tenham participação no capital sem controle), dentre outras. No grupo do investimento, são classificados os investimentos que a empresa fez para obtenção de ganhos financeiros e que não estão destinados à venda, como: investimentos em ações, imóveis para aluguel, obras de arte, cotas de empresas limitadas, dentre outros. O grupo do imobilizado é composto pelos bens e direitos não destinados à venda e que são utilizados nas operações da empresa, sendo eles: máquinas, equipamentos, móveis, utensílios, imóveis, instalações, veículos, dentre outros. Entretanto, vale ressaltar que esses bens se desgastam com o uso e esse desgaste é medido pela depreciação, com base na vida útil de cada bem ou grupo de bens. A depreciação acumulada aparece como uma conta redutora do imobilizado, conforme apresentado no quadro 5. O intangível se refere aos itens incorpóreos, que não tem forma física, como marcas, patentes, direitos autorias, etc., que são utilizados para a manutenção da atividade principal da empresa. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 21 QUADRO 5 - Classificação da Depreciação e Amortização Acumulada Fonte: Elaborado pela autora. Passivo O Passivo é composto por todas as obrigações da empresa com terceiros, sendo classificadas pela ordem de exigibilidade, ou seja, de vencimentos mais rápidos. O passivo circulante identifica as obrigações que vencem em 365 dias ou no exercício social e as que vencem após o exercício social são classificadas no passivo não circulante. As contas do passivo podem ser explicadas abaixo: • fornecedores: operações relacionadas à compra de estoque a prazo; • empréstimos e financiamentos: obrigações relacionadas ao uso do capital de terceiros, incluem-se na modalidade de desconto de duplicatas por se tratar de um empréstimo com a garantia das duplicatas; GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 22 • debêntures: operações realizadas por sociedades anônimas de capital aberto ou fechado para a captação de capital para utilização no negócio; • impostos a recolher: pagamentos de impostos de diversas naturezas para o governo, como Impostos sobre Serviços (ISS), Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), Impostos de Renda (IR), Contribuição Social (CSLL), dentre outros; • obrigações trabalhistas: são pagamentosde salários, encargos sociais como INSS e FGTS, benefício assistenciais, férias, 13º salário; • dividendos a pagar: pagamentos dos lucros destinados à distribuição que aguardam a disponibilidade financeira para liquidação; • contas a pagar: obrigações diversas com prestadores de serviços, contas de consumo (energia elétrica, telefone e internet, etc.) e demais gastos da empresa; • parcelamento de impostos: programa do governo que visa à regularização de débitos pendentes de impostos; • empréstimos com controladas (empresa que se tem participação no capital social e possua controle): valores tomados de empresas em que há relação de sociedade. Patrimônio Líquido O patrimônio líquido mostra os recursos aplicados pelos proprietários na empresa, bem como o capital reinvestido na forma de lucro. Sua composição pode ser descrita como segue: • capital social: montante de capital investido pelos sócios; • reservas de capital: valores recebidos pelos sócios ou terceiros que não são provenientes dos resultados da GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 23 empresa, como ágio na emissão de ações, incentivos fiscais do governo, doações governamentais, dentre outros; • reserva de lucros: com o fim da conta de lucros acumulados, os lucros retidos passaram a compor a conta de reservas de acordo com sua destinação; • prejuízos acumulados: o prejuízo do exercício apurado na demonstração do resultado é transferido para essa conta. Demonstração do Resultado A Demonstração do Resultado deve ser elaborada pela empresa a cada exercício social para apuração dos lucros ou prejuízos. Sua elaboração é por período, sendo que a cada exercício são apurados os resultados somente daquele exercício, não acumulando com exercícios anteriores. Nessa demonstração são levantadas as receitas, os custos, as despesas e o lucro líquido, que são apresentados em formato vertical, iniciando a partir da receita bruta. Na sequência, temos os gastos que são classificados como uma dedutibilidade da receita, sendo classificados de acordo com sua relevância para a obtenção da receita, conforme o quadro 6. Quadro 6 - Estrutura da Demonstração do Resultado GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 24 Fonte: Elaborado pela autora. As receitas e despesas do período são consideradas na DRE de forma independente de sua realização financeira, ou seja, as receitas, custos e despesas são registradas no resultado quando acontecem e não quando forem recebidas ou pagas, essa forma de registro é conhecida como regime de competência para apuração do resultado do exercício. A receita bruta representa os valores de venda de produtos, mercadoria e prestação de serviços incluindo todos os impostos (ICMS, IPI, ISS). A receita bruta não corresponde à receita efetiva do negócio, pois há deduções da receita que não se tratam de despesas, e sim de ajustes que devem ser feitos para a obtenção da receita efetiva, a receita líquida. As deduções se referem aos impostos sobre vendas cobrados dos clientes e repassados ao governo, devolução das vendas canceladas, abatimentos de preço após a venda e antes da devolução e desconto comercial, realizado antes da venda. Os custos dos produtos, mercadorias e serviços prestados se referem aos gastos operacionais necessários para a geração da receita. Na empresa comercial, são os custos com a compra de mercadorias para revenda, inclusos os gastos com transporte, seguros, etc., sendo que o ICMS gerado na compra, por se tratar de um imposto recuperável na empresa comercial, é separado e gera créditos de ICMS a compensar com o imposto retido na venda. O IPI na empresa comercial é não recuperável, sendo incorporado ao custo da mercadoria. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 25 Na empresa industrial, os custos são representados pelos custos de produção, que incluem custos de material direto, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. Os impostos como ICMS e IPI são recuperáveis, não integrando esses custos e gerando créditos a compensar com os impostos sobre as vendas. Na empresa prestadora de serviços, os custos se referem aos serviços prestados, entretanto, muitas não separam o que de fato é custo do serviço do que é despesa, considerando tudo como despesas. As despesas de vendas demonstram os gastos, em geral, relacionados à comercialização, como comissões de vendedores, fretes, seguros mercadorias, despesas com canais de comercialização, campanhas publicitárias. As despesas administrativas tratam dos demais gastos operacionais, como salários, benefícios a empregados, prestadores de serviços, contas de consumo, manutenção, serviços bancários, outros impostos e contribuições, depreciação dos bens da administração (a depreciação dos bens da fábrica é custo). As outras receitas ou despesas operacionais resultam de operações da empresa que não estão relacionadas à sua atividade principal, como o lucro na venda de um ativo imobilizado ou um investimento, a baixa por prejuízo nessas vendas, baixa em gastos com pesquisas que não serão continuadas, receitas de aluguéis, dentre outras. As receitas financeiras são compostas pelos ganhos das aplicações financeiras. As despesas financeiras tratam dos gastos com juros e taxas pagos nas operações de empréstimos, financiamentos, desconto de duplicatas, debêntures e demais operações com capital, em que ocorra a incidência de juros. O lucro operacional, antes dos impostos, representa o resultado do negócio, considerando as atividades operacionais e financeiras. Esse resultado, em finanças, não é o mais adequado para evidenciar As receitas financeiras são compostas pelos ganhos das aplicações financeiras. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 26 o lucro do negócio, assunto que será tratado nos próximos capítulos. Em relação à apuração do Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (IR/CSLL), os estudos em finanças trabalham as relações às empresas que fazem a apuração do imposto pelo lucro real, como é o caso da DRE apresentada acima. Em outras empresas, que apuram o imposto pelo lucro presumido ou mesmo pelo Simples, as avaliações podem ser realizadas da mesma forma, considerando somente os ajustes em função da apuração do IR/ CSLL. O lucro líquido sinaliza o quanto sobrou das receitas após todas as deduções e inclusões e evidência o lucro que foi gerado para os proprietários e por meio dele são feitas as retiradas de dividendos ou distribuição dos lucros. Demonstração do Fluxo de Caixa A demonstração do fluxo de caixa evidencia as entradas e saídas de caixa no exercício social e também pode ser considerada como a movimentação das disponibilidades da empresa. A DFC esclarece situações em que a empresa apresente bons lucros e baixo caixa, além de auxiliar o administrador financeiro no planejamento financeiro da empresa. A DFC pode ser elaborada pelo método direto ou pelo método indireto. O método direto traz um conteúdo informacional maior, pois segrega os recebimentos e pagamentos nas atividades operacionais, de investimento e financiamento, conforme o quadro 7. A DFC pode ser elaborada pelo método direto ou pelo método indireto. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 27 QUADRO 7 - Estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa – Método Direto Fonte: Adaptado de Marion (2012). O método indireto é mais simplificado, pois são realizados ajustes no lucro líquido por meio das variações nas contas do ativo e passivo circulante. As saídas de caixa são identificadas com o aumento do ativo circulante e diminuição do passivocirculante. Logo, as entradas de caixa são atribuídas à diminuição do ativo circulante e ao aumento do passivo circulante, sendo sua estrutura apresentada no quadro 8. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 28 QUADRO 8 - Estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa – Método Indireto Fonte: Adaptado de Marion (2012). Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) mostra a movimentação das diversas contas que compõem o patrimônio líquido durante o exercício social, indicando as variações no patrimônio e a movimentação na conta de reservas, sendo mais completa que a Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 29 (DLPAc). A estrutura da DMPL pode ser observada no quadro 9. A DMPL é obrigatória para as empresas de capital aberto, e a DLPAc é obrigatória para as outras empresas. QUADRO 9 - Estrutura da DMPL Fonte: Adaptado de Marion (2012). A Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados aponta como foi a movimentação da conta de lucros e prejuízos acumulados durante o exercício social. Essa movimentação mostra a distribuição e retenção dos lucros e a destinações dos lucros para as contas de reserva, conforme mostra o quadro 10. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 30 QUADRO 10 - Estrutura da Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados Fonte: Adaptado de Marion (2012). É noticiado com frequência que as pequenas e médias empresas permanecem por pouco tempo funcionando no mercado, sendo uma das causas para esse fracasso problemas na administração como capital de giro e estoque, orçamento mal administrado e fatores macroeconômicos. Há uma tendência, ou mesmo uma preocupação, dos pequenos empresários com a falta de estoque para atender seus clientes, e acabam perdendo as vendas, pesquisas revelam que muitas vendas não são efetivadas porque o cliente não encontrou seu produto. Assim, o empresário acaba, muitas vezes, comprando estoque em excesso, o que não é a melhor solução, o capital vai ficar parado e a consequência pode ser devastadora, à medida que falta capital de giro, e a empresa é levada a pegar empréstimos. O empresário deve avaliar quais produtos saem mais, GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 31 o público-alvo, o movimento dos concorrentes para adequar a quantidade de estoque. Mas não é só isso, outro problema sério são as retiradas como distribuição de lucro que atrapalham o orçamento de caixa. É fato que o lucro é do empresário, esse é o seu sustento pessoal e familiar, mas também é o sustento da empresa, o negócio, principalmente no início, pois precisa de capital até se estabilizar e, nesse processo, o planejamento das receitas e dos gastos é muito importante, bem como das retiradas. E para prejudicar ainda mais essas empresas, temos os fatores macroeconômicos. O governo toma suas medidas para ajustar a economia e como consequência afeta todas as empresas no mercado. Os pequenos empresários acabam sendo afetados de forma mais relevante, pois na maior parte das vezes, não estão preparados para enfrentar momentos de maior dificuldade, com vendas em queda, gastos elevados e alto endividamento e, nesses casos, a utilização do planejamento financeiro e orçamento empresarial é fundamental para previsões do futuro em diversos cenários macroeconômicos. Revisão • Finanças é a avaliação das decisões relacionadas ao capital. • Administração financeira: área responsável pela gestão do capital nas empresas. • Administrador financeiro: responsável pelo planejamento e controle financeiro, administração de ativos e passivos e gestão de risco. • Decisões financeiras: investimentos, financiamentos e dividendos. • Contabilidade: fornece informações sobre a empresa para gestão financeira por meio das demonstrações financeiras. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 1 32 • Demonstrações financeiras: Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado, Demonstração do Fluxo de Caixa, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados. A Contabilidade traz informações importantes para a gestão das empresas de um modo geral e, principalmente, para a gestão financeira. O administrador financeiro deve ter um conhecimento avançado das demonstrações financeiras e das informações que elas revelam da empresa. Os livros abaixo são essenciais para o entendimento da contabilidade e do seu poder informativo. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. MARION. José Carlos. Contabilidade empresarial. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2012. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 33 Princípios Básicos de Matemática Financeira Introdução A Matemática Financeira é a área do conhecimento que se preocupa em estudar o valor do dinheiro no tempo, comparando as entradas com as saídas de caixa em diversas operações financeiras. Pagar hoje ou no futuro, assim como, receber hoje ou no futuro não é mesma coisa, pois sobre o capital ocorre a incidência dos juros, modificando seu valor no futuro. Assim, neste capítulo serão apresentados os regimes de capitalização simples e composta, as diferenças entre eles, sua forma de abordagem e sua utilização. Também serão tratadas as questões referentes à taxa de juros e o período de capitalização, além dos diferentes tipos de taxas. Por fim, será abordada a taxa de inflação, um dos principais fatores que afetam o poder aquisitivo das pessoas e empresas no Brasil, sendo relevante seu entendimento e seu impacto nas operações do mercado financeiro. • Juros Simples • Juros Compostos • Inflação • Revisão GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 35 Juros Simples Juros simples se referem ao regime de capitalização dos juros que ocorre linearmente ao longo do tempo. Nesse regime, os juros incidem sobre o capital inicial, não ocorrendo a incidência de juros sobre juros. Supondo uma aplicação financeira de $ 1.000,00, por um período de 6 anos, com juros simples de 20% ao ano, os juros de cada período serão de $ 200,00, sendo 20% de $ 1.000,00 em cada ano, como mostra o quadro 1. QUADRO 1 - Exemplo de Juros Simples Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2012). Como mostra o quadro 1, os juros incidem sobre o valor do capital aplicado inicialmente, não incidindo sobre o saldo do capital a cada ano. Dessa forma, o total dos juros foi de $ 1.200,00, o que corresponde a 20% juros por 6 anos, que é igual a 120% de juros no período todo da aplicação, sendo esse o rendimento total da aplicação. Podem-se obter os juros pelo cálculo da aplicação de $ 1.000,00 vezes 1,200 que é igual a $ 1.200,00. É importante ficar atento, pois a taxa de juros é dada em percentual (%), mas sua utilização será sempre na forma unitária, ou seja, a taxa percentual dividida por 100 (20% / 100 = 1,200). Os juros simples para capitalização das operações financeiras são pouco utilizados no mercado financeiro, o que se observa é que GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 36 as taxas podem ser determinadas pelos juros simples como, por exemplo, na caderneta de poupança, mas a capitalização dos juros é sempre por juros compostos, como veremos adiante. Para avaliação de operações com juros simples, será necessário o conhecimento do valor presente ou present value (PV), valor futuro ou future value (FV), período da operação ou capitalização (n) e a taxa de juros ou interest (i). Essas notações são as mais utilizadas,principalmente, na calculadora financeira (HP12c) e serão as utilizadas nesse material. Nas operações, é necessário que a taxa de juros sempre coincida com o período de capitalização, sendo que, se a taxa de juros for mensal, o período de capitalização deve ser mensal, por exemplo, uma aplicação rende uma taxa de juros de 15% ao ano e os rendimentos são creditados ao ano, há coincidência da taxa e do período. Caso contrário, será necessário transformar, adequar a taxa ou o período. As operações podem ser representadas em termos de fluxo de caixa com estruturado na figura 1. FIGURA 1 - Estrutura do Fluxo de Caixa na Matemática Financeira Fonte: Elaborado pela autora. As expressões utilizadas para calcular o valor presente, o valor futuro, o juro a taxa de juros e o período estão apresentadas abaixo. Valor Futuro Valor Presente GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 37 Taxa de Juros Período de Capitalização Exemplo de cálculo do valor dos juros. Um capital de $ 50.000,00 é aplicado à taxa de juros de 2% ao mês, durante um semestre. Qual seria o valor dos juros no período? Exemplo do cálculo do valor futuro. Um empresário pegou um empréstimo de $ 30.000,00 para pagar em 5 meses. Os juros pagos foram de $ 4.500,00 no final da operação à taxa de juros de 3% ao mês. Qual seria o valor futuro da operação? Exemplo do cálculo do valor presente. Um aposentado fez uma aplicação por 8 meses, gerando um capital de $ 15.500,00. A taxa de juros da aplicação era de 1,5% ao mês. Qual foi o valor aplicado pelo aposentado? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 38 Exemplo do cálculo da taxa de juros. Um empréstimo de $ 10.000,00 captado no banco gerou um valor a pagar, no final da operação, de $ 15.900,00. Qual foi a taxa de juros? Exemplo do cálculo do período de capitalização. No final de uma aplicação seu valor era de $ 7.800,00. O valor inicial aplicado foi de $ 6.300,00. A taxa de juros da aplicação foi de 1,8% ao mês. Qual foi o número de períodos de capitalização da operação? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 39 Taxas Proporcional e Equivalente Como discutido anteriormente, a taxa de juros deve coincidir com o período da capitalização (pagamento dos juros). Assim, se a taxa for ao ano, a capitalização dos juros deve ser anual. Em várias operações, o prazo da taxa de juros é diferente do período de capitalização, a operação informa a taxa anual da operação, mas o período e capitalização é mensal. Nesse caso, deve-se adequar o prazo da capitalização para o prazo da taxa ou a taxa para o prazo de capitalização. Por exemplo, a caderneta de poupança remunera a uma taxa de juros de 6% ao ano, mas o pagamento dos juros é mensal, com taxa de juros de 0,5% ao mês, nesse caso, a taxa é ao ano, e a capitalização é mensal. Nos juros simples, a taxa das operações é conhecida como “taxa proporcional” ou “linear”, e é muito utilizada nas operações financeiras de curto prazo, cálculo de juros de mora, desconto bancários, cálculo de encargos sobre saldo devedor de conta GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 40 corrente, entre outras. A taxa nominal quando expressa em prazo diferente do prazo de capitalização deve ser adequada ao prazo, por exemplo, uma operação tem taxa nominal de 15% ao ano, e a capitalização é mensal, a taxa nominal mensal pode ser obtida como demonstrado abaixo. A taxa da caderneta de poupança é uma taxa nominal, com capitalização mensal, como foi visto. A taxa equivalente se refere à taxa de juros que se aplicada ao mesmo capital, no mesmo período, gera valores futuros ou montantes iguais. Nos juros simples, taxa nominal e equivalentes são a mesma coisa. Por exemplo, um capital de $ 10.000,00 aplicado à taxa de 12% ao ano ou 6% ao semestre, pelo prazo de um ano irá gerar o mesmo montante de capital. Exemplo de taxa nominal. Calcular a taxa de juros semestral proporcional à 50% ao ano e 7% ao trimestre. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 41 Juros Compostos Juros compostos tratam do regime de capitalização dos juros, em que a taxa de juros incide sobre o capital mais os juros, após cada período de capitalização, sendo a capitalização exponencial, e não linear como nos juros simples. Esse regime de capitalização dos juros é amplamente utilizado no mercado financeiro. Supondo uma aplicação financeira de $ 1.000,00, por um período de 6 anos, com juros compostos de 20% ao ano, os juros de cada período serão diferentes, pois irão incidir juros sobre o capital mais os juros a cada período, como mostra o quadro 2. QUADRO 2 - Exemplo de Juros Compostos Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2012). Nos juros compostos, são calculados os mesmos elementos dos juros simples, conforme demonstram as expressões abaixo. Valor Futuro Valor Presente Taxa de Juros GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 42 Período de Capitalização Valor dos Juros O termo (1 + i)n é chamado de “fator de capitalização” e o termo denominado “fator de atualização”, esses termos já calculados são encontrados em tabelas específicas de juros compostos. Exemplo do cálculo do valor futuro e valor dos juros. Qual seria o valor de resgate de uma aplicação de $ 5.000,00, pelo prazo de 10 meses com rendimento de 2,5% ao mês? E qual o valor dos juros? Exemplo de cálculo do valor presente. Uma pessoa deseja receber ao final de um ano $ 5.000,00. Quanto ela deveria depositar hoje se a taxa de juros composta for de 1,2% ao mês? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 43 Exemplo de cálculo da taxa de juros. Um empréstimo gerou um pagamento de $ 8.990,00 ao final de um quadrimestre. O valor emprestado foi de $ 7.360,00. Qual foi a taxa de juros da operação? Exemplo de cálculo do número de períodos. Uma aplicação $ 3.000,00 que rende 1,3% ao mês gerou um montante de $ 3.785,22. Qual é o número de períodos da aplicação? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 44 Séries de Pagamentos ou Recebimentos Uniformes As séries de pagamentos ou recebimentos também são conhecidas como “fluxo de caixa” e ocorrem ao longo de um determinado período, quando é uniforme, tem o mesmo valor da prestação. No mercado financeiro, é comum o uso de séries de pagamentos em operações como empréstimos, financiamentos. Para calcular uma série de pagamentos ou recebimentos, será necessário o valor presente, valor futuro, período, taxa de juros e valor da prestação, como apresentado nas fórmulas abaixo. FIGURA 3 - Fluxo de Caixa da Série de Uniforme Fonte: Elaborado pela autora. Exemplos de cálculo de série de pagamentos. 1) Determinado a venda de um bem, em 7 pagamentos iguais e mensais de $ 4.000,00, com taxa de juros de 2,6% ao mês, qual seria o valor à vista? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 45 2) Uma pessoa irá poupar $ 800,00 a cada mês, por um período de 7 meses, em uma aplicação que rende 2,1% de juros. Qual seria o montante da aplicação ao final do período? 3) Uma empresa irá necessitar de $ 22.000,00 para quitar uma dívida, em um ano, assim, ela planeja fazer uma aplicação com rendimento de 4,0% ao mês. Qual seria o valor depositado a cada mês para alcançar o montante desejado? GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 46 Taxas Equivalentes Nos juros compostos, a taxa equivalente tem o mesmo significado que nos juros simples, uma taxa de juros que iguala o montante de um mesmo capital, em igual período de tempo, entretanto, o cálculo da taxa é diferente, como mostra a expressão abaixo. Onde: iq é a taxa de juros que se quer; it é a taxa de juros da operação; nqé o período que se que a taxa. Pode ser utilizado a regra: • se iq < it, elevar a 1/n; • se iq > it, elevar a n. Exemplo de taxa equivalente: calcular a taxa equivalente mensal e trimestral a 20% ao ano. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 47 Taxa Nominal e Taxa Efetiva A taxa nominal se refere à taxa de juros quando seu prazo difere do prazo de capitalização da operação, sendo que a taxa é em uma unidade de tempo e a capitalização em outra, geralmente, são as taxas expressas em contrato das operações do mercado financeiro. Essas taxas trazem sempre a informação do período de capitalização para conversão em taxa efetiva. A taxa efetiva é a taxa de juros apurada em determinado período, formada exponencialmente por n períodos, sendo que o prazo da taxa é igual ao prazo da capitalização. A taxa efetiva pode ser calculada da mesma forma que a taxa equivalente. Supondo uma operação financeira com taxa nominal de 18% ao ano, capitalizados mensalmente, o prazo da taxa não coincide com o prazo da capitalização. Assim, deve-se obter a taxa efetiva da operação que está implícita e precisa ser calculada, como demonstrado abaixo. Exemplos de Taxa Efetiva. 1) Um capital aplicado, inicialmente no valor de $ 60.000,00, gerou um montante ao final de 3 anos de $ 80.000,00. Determinar a taxas de juros dos períodos a seguir: A taxa efetiva pode ser calculada da mesma forma que a taxa equivalente. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 48 2) A caderneta de poupança paga uma taxa nominal de 6% ao ano, com capitalização mensal de 0,5% ao mês. Quanto rende a poupança, efetivamente? Taxa Acumulada A taxa acumulada é uma taxa de juros variável incidente sobre um capital em determinado período de tempo. Seu cálculo pode ser obtido pela expressão que segue. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 49 Exemplo de cálculo da taxa acumulada: suponha um resgate de um capital aplicado em renda variável de $50.000,00, por quatro meses consecutivos, no qual incidiram as seguintes taxas mensais. Qual seria a taxa de juros acumulada e o montante do resgate? 1˚ mês 2˚ mês 3˚ mês 4˚ mês 5,30% -2,40% 4,70% -3,80% Taxa Média A taxa média é a taxa efetiva média de certo número de taxas variáveis, em determinado período, sendo calculada pela fórmula a seguir. Exemplo de cálculo da taxa média: qual seria a rentabilidade média mensal de um investimento com as taxas efetivas mensais? 1˚ mês 2˚ mês 3˚ mês 4˚ mês 5˚ mês 5,75% 8,50% -4,60% -1,40% 3,83% GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 50 Inflação Inflação é o processo de elevação geral dos preços dos produtos e serviços na economia. O Brasil tem um histórico de taxas de inflação relevantes ao longo do tempo, tornando importante seu cálculo nas operações que envolvem a matemática financeira. A taxa de inflação é medida pelos índices de preços que são obtidos estatisticamente pela variação nos níveis de preços de um período para outro. No Brasil, são exemplos de índices de preços, IGP (Índice Geral de Preços), IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado), IPCA (Índice Preço ao Consumidor Amplo), INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), entre outros. Esses índices são elaborados por instituições especializadas nas quais podem ser encontradas suas metodologias de cálculo. A taxa pode ser calculada como mostra a fórmula abaixo. Onde: I é a inflação obtida em determinado período; P é o índice de preço no período; n é o período final e n- t é o período inicial. Inflação é o processo de elevação geral dos preços dos produtos e serviços na economia. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 51 Exemplo de cálculo da taxa de inflação: supondo a inflação de um período medida pelo IGP, conforme mostra a tabela abaixo. TABELA 1 – Inflação Mensal: IGP Fonte: Elaborado pela autora. Qual seria a inflação no 2º semestre? Assim, os preços aumentaram 125,71% no segundo semestre. Qual seria a inflação de outubro? Assim, a inflação de setembro para outubro aumentou 13,86%. Taxa Aparente e Taxa Real A taxa aparente é taxa efetiva de uma aplicação no mercado financeiro em determinado período, adicionado de um indexador da inflação. A taxa real é a taxa aparente descontada a inflação de determinado período. Os cálculos das taxas aparentes e reais estão demonstrados abaixo. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 52 Exemplos de cálculo de taxa aparente e taxa real. 1) Qual a taxa real de uma aplicação que rendeu 5,0% em um período e a inflação foi de 1,5%? 2) Um investidor aplicou $ 23.500,00 em renda variável, por quatro meses, sacando o capital no final do período. As taxas de juros incidentes e as taxas de inflação estão demonstradas abaixo. 1˚ mês 2˚ mês 3˚ mês 4˚ mêsTaxas Juros In�ação 3,68% 4,79% -2,74% 2,94% 0,52% 0,28% -0,90% -0,11% Assim, qual seria: GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 53 Uma pessoa contratou um empréstimo de $ 5.500,00 para pagar em uma única vez após 12 meses. O contrato determinava que a taxa de juros fosse de 10% ao ano, capitalizada mensalmente. A alíquota do IOF da operação era de 0,0082% ao dia, e a tarifa de abertura de crédito (TAC) de 2,5% do capital emprestado. Assim, valor liberado, o valor pago e os juros mensais estão demonstrados abaixo, com IOF e TAC não financiados pelo banco e financiados pelo banco. • Valor liberado, valor pago na operação, taxa mensal da operação com TAC e IOF não financiado pelo banco. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 54 Como o IOF e a TAC não foram financiados, o valor liberado teve desconto da TAC e IOF. • Valor liberado, valor pago na operação, taxa mensal da operação com TAC e IOF financiado pelo banco. Como a TAC e o IOF foram financiados, o valor liberado foi exatamente o solicitado. Pode-se observar que financiar a TAC e o IOF gera uma taxa de juros menor na operação. Revisão • Regimes de capitalização, simples e composto. • Capitalização simples, juros linear, somente sobre o capital inicial. • Capitalização composta, juros sobre capital e juros de cada período, juros sobre juros. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 2 55 • Período da taxa diferente do período de capitalização, adequar a taxa ou o período. • Série de pagamentos ou recebimento, parcelas das operações financeiras. • Inflação é a taxa referente à variação dos preços na economia. Nas operações de empréstimos e financiamentos, é muito comum nas empresas, que ocorra o desembolso do capital e dos juros. Esses pagamentos ou amortizações são calculados nos sistemas de amortização, mais conhecidos como “Sistema de Amortização Constante” (SAC) e “Sistema Francês de Amortização” (Price). Assim, fica como sugestão a leitura da bibliografia abaixo para aprender mais sobre esses sistemas de amortização. ASSAF NETO, Alexandre. Matemática financeira: suas aplicações. 12. ed. São Paulo, Atlas, 2012. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Matemática financeira: com Excel e HP12C. 5. ed. São Paulo, Atlas, 2014. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 56 Administração de Capital de Giro Introdução Uma das atribuições da administração financeira é a gestão de curto prazo que envolve o controle e adequação do capital de giro das empresas. Pensando em uma loja de calçados instalada em uma rua do comércio local, muito movimentada, imagine a seguinte situação: • foram adquiridos os móveis, prateleiras e equipamentos necessários com o capital do proprietário, foram contratados também funcionários para trabalharem; • os estoques de calçadosforam comprados a prazo com o fornecedor com pagamento em 30 dias; • com a loja pronta, o negócio foi inaugurado, e as vendas foram um sucesso, boa parte dos calçados foram vendidos com prazos de recebimento dos clientes de 60 dias; • como o estoque foi acabando, novos calçados tiveram que ser adquiridos dos fornecedores para evitar perda de vendas; • assim, o negócio funcionava a todo o vapor, entretanto, a loja passou a ter a necessidade de pegar dinheiro no banco para pagar algumas contas, pois estava faltando dinheiro no caixa; • logo, a empresa, mesmo tendo boas vendas, está com um endividamento bancário alto; • o que aconteceu com a loja? Qualquer negócio, em seu ciclo de operações, tem a necessidade de • Capital Circulante Líquido • Necessidade de Investimento em Capital de Giro • Ciclo Operacional e Financeiro • Administração do Ativo Circulante • Administração do Passivo Circulante • Revisão GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 58 aquisições de mercadorias, materiais para produção ou prospecção de serviços, bem como, de pagamentos diversos e também de venda e recebimentos, ou seja, movimentações relacionadas à atividade operacional da empresa que afetam significativamente a gestão do caixa, em função dos pagamentos e recebimentos gerados no negócio. Assim, essa rotina gera a necessidade de capital de giro que são recursos financeiros destinados à manutenção da atividade empresarial no dia a dia, principalmente, como forma de sustentar as saídas de caixa da empresa. No caso da loja de calçados, o endividamento aconteceu porque seus gestores não fizeram a adequada mensuração do capital de giro, ao investirem todo o capital no imobilizado, não gerando sobras de dinheiro em caixa. No decorrer da atividade operacional, o maior prazo de recebimento gerou uma demora de entradas de capital no caixa, cerca de 60 dias, e mesmo as vendas à vista não geraram caixa suficiente para arcar com os gastos do negócio que são pagos, em média, a cada 30 dias. Dessa forma, os problemas financeiros eram decorrentes da falta de capital de giro de modo que foi necessário recorrer a empréstimos bancários para mantê-lo. No decorrer desta unidade serão explicados os vários aspectos envolvidos na gestão do capital de giro de uma empresa. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 59 Capital Circulante Líquido O capital circulante líquido ou capital de giro líquido está relacionado aos valores do ativo e passivo circulante da empresa. A empresa para financiar suas necessidades de capital para o funcionamento do negócio pode optar pela fonte de capital própria (patrimônio líquido) e não própria (exigibilidades de terceiros de curto e longo prazo). A utilização do capital de terceiros de curto prazo deve ser destinada para financiar ativos também de curto prazo, pois ambos estão se transformando continuamente na empresa. Esse capital está representado no passivo circulante. Como a necessidade de financiamento do ativo circulante nem sempre é suprida pelo passivo circulante, gera-se a necessidade de financiamento com recursos também de longo prazo, dos terceiros e dos proprietários, sendo reconhecidos no passivo não circulante e no patrimônio líquido. Para um equilíbrio financeiro do negócio, principalmente, em relação à geração de caixa pelas entradas de capital e desembolso de caixa pelas saídas de capital, os ativos circulantes também devem ser financiados com recursos de longo prazo, pois ocorrerá a geração de entradas mais rápidas em relação aos desembolsos, gerando uma situação financeira mais benéfica para a empresa. Assim, pode-se esclarecer que o Capital Circulante Líquido (CCL) ou Capital de Giro Líquido (CGL) mensura o excedente em relação ao quanto de recursos de curto prazo, do passivo circulante, está financiando os ativos circulantes, de curto prazo, como demonstrado na fórmula abaixo. Capital Circulante Líquido = Ativo Circulante - Passivo Circulante GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 60 De outra forma, o CCL pode ser entendido como o excedente de recursos de longo prazo, dos proprietários e dos terceiros, passivo não circulante e patrimônio líquido, em relação à aplicação nos ativos de longo prazo, ativo não circulante. Esse excedente sinaliza os recursos de longo prazo que foram destinados ao ativo circulante. A fórmula apresentada abaixo representa esse conceito. Capital Circulante Líquido = (Patrimônio Líquido + Passivo Não Circulante) - (Ativo Não Circulante) Para ilustrar situações, como a da empresa em questão, a figura 4 apresenta o Balanço Patrimonial de empresas com CCL positivo, nulo e negativo (ASSAF NETO, 2012). FIGURA 4 - Capital Circulante Líquido (CCL) Positivo Fonte: Elaborado pela autora. No caso do CCL positivo, a empresa apresenta folga financeira, os ativos circulantes estão maiores que os passivos circulantes, e a empresa terá condições de arcar com seus compromissos identificados com os passivos circulantes. Além disso, sinaliza que essa folga financeira está sendo financiada com recursos de longo prazo dos proprietários e de terceiros. GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 61 FIGURA 5 - Capital Circulante Líquido Nulo Fonte: Elaborado pela autora. No caso do CCL nulo, a empresa é capaz de cumprir com seus compromissos financeiros, mas não apresenta excedente de capital, ou seja, não tem folga financeira e nem recursos de longo prazo financiando os ativos circulantes. Essa situação tem menor probabilidade de ocorrer nas empresas. FIGURA 6 - Capital Circulante Líquido Negativo Fonte: Elaborado pela autora. O CCL negativo é a situação mais preocupante para as empresas, GESTÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA unidade 3 62 pois não haverá recursos suficientes para pagamento dos passivos circulantes. Nessa situação, os recursos do passivo circulante estão sendo utilizados para financiar, além dos ativos circulantes, os ativos não circulantes (longo prazo). Essa situação é ruim do ponto de vista financeiro, pois ocorrerá um desembolso por esses ativos mais rapidamente do que a geração das entradas de caixa, levando ao desequilíbrio financeiro e, muitas vezes, à necessidade de captação de novos recursos. Um fato importante para a gestão adequada do CCL é identificar os fatores que podem aumentar, diminuir ou mesmo não alterar o CCL. Nesse processo, as transações que afetam o CCL, seja aumentando ou diminuindo, são operações realizadas pela empresa com reflexo no balanço, em contas de curto prazo com longo prazo. Já as operações realizadas com reflexo em contas de curto prazo com curto prazo não modificarão o CCL. Nesse contexto, podem ser assim apresentadas as transações que aumentam o CCL: • venda de elementos do ativo não circulante à vista ou em curto prazo: ao vender o ativo, haverá uma baixa no ativo não circulante (longo prazo) e o recebimento à vista aumentará o caixa, ou se for parcelado em curto prazo, gerará créditos a receber (curto prazo), caso as parcelas fossem em longo prazo, não haveria alteração no CCL; • empréstimos contraídos em longo prazo: essa operação gera dívida em longo prazo, no passivo não circulante, e o dinheiro obtido vai para o ativo circulante, no caixa (curto prazo); • integralização de capital: os proprietários ao investirem na empresa, aumentam o capital social, no patrimônio líquido (longo prazo), e o dinheiro vai ser aplicado no ativo circulante, caixa (curto prazo); • recebimento de crédito de longo prazo: quando a empresa recebe valores em longo prazo, no ativo circulante, o
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