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Organização do Estado (art. 18, ss):
Repartição de competências: 
A repartição de competência ocorre entre os entes federados. O que caracteriza constituir-se na forma federativa é que cada Estado membro tem autonomia político-administrativa. O federalismo brasileiro (por segregação, era centralizado) não concede uma independência aos estados, mas uma autonomia, uma capacidade de auto-organização, autoadministração e autoafirmação. Então nosso processo de federalismo faz com que as antigas províncias passassem a ter uma autonomia com suas próprias legislações. Já o federalismo norte-americano (por agregação) é a partir de um Estado confederado (13 colônias), que se constituiu a partir da ideia de que valeria a pena abrir mão da independência e soberania para união mais perfeita (não usando a palavra federação). Logo o federalismo norte americano é muito mais descentralizado do que o nosso, que é um federalismo centralizador, que centraliza as principais atribuições (competências) em um dos entes federados, no caso, a União. Os estados membros ficaram com atribuições residuais. No caso dos Estados Unidos, os estados abriram mão de algo muito importante que era sua soberania, em nome da união, mas em troca, tiveram essa extrema autonomia legislativa. 
A soberania da Federação é exercida pela União, mas a mesma não possui por si só soberania, em tese, é apenas um ente federado com autonomia. Brasília não é um ente federado é apenas a capital da República Federativa, não é uma região administrativa do DF. 
O art. 27 fala do número de Deputados Federias quanto ao número de Deputados Estaduais. O número de DF varia de 8 a 70 por estado membro. Nós temos 513 DF, que vão estar distribuídos proporcionalmente pelos 26 estados membros mais o Distrito Federal. Esse critério proporcional é referente ao número de habitantes. Logo, o Estado mais populoso fica com 70 (SP). Os números devem mudar por alteração nos números da população, é previsto, mas não muda, pois os estados não querem perder cadeiras. O número de DE varia de acordo com o numero de DF (de 8 a 12 ou de 13 a 70). De 8 a 12 DF, basta multiplicar por 3 para descobrir o numero de DE (vale para Dep. Distritais também). De 13 a 70 DF, o número de DE será igual a 36. Para calcular numero de Senadores é necessário multiplicar por 3 o numero de estados membros e pelo Distrito Federal (26 + 1), sendo uma distribuição paritária. 
Competência exclusiva (União)
Então, no Brasil, temos uma grande concentração, em termos de repartição em um ente federado, na União que possui atribuições de altíssima relevância, no artigo 21 da CF. Sendo esses temas indelegáveis, é o que a doutrina chama de competência exclusiva da união. Nenhum desses temas podem ser delegados aos legisladores estaduais e municipais. 
Competência privativa (art. 22)
O artigo 22 também fala de temas que são atribuídos somente à União. O direito administrativo não está no inciso I, pois há uma diferença entre Legislação Nacional e Legislação Federativa (norma geral, art. 24). A primeira é aquela que tem abrangência em todo território nacional, por exemplo, o código penal. Uma legislação como o direito administrativo é uma Legislação Federativa, significa dizer que pode-se ter uma legislação dos Servidores Públicos em todos os entes federados, exemplo: Macaé tem sua própria legislação sobre seus servidores. A exceção é a Lei de licitação de contratos (lei 8.666), sendo essa uma Legislação administrativa de natureza nacional, nada impede que cada membro tenha uma, mas devendo se basear na Lei federal, sendo então uma lei federal de natureza nacional (devendo estar no art. 24). 
Quanto à legislação sobre direito civil, exemplo: shopping Center, os Estados gostam de legislar sobre o preço do estacionamento, mas o Supremo vai dizer que não cabe ao legislador estadual legislar sobre esse tema, devido à competência da União. Direito do trabalho: compete à união, mas os deputados estaduais adoram regulamentar profissões, mesmo não podendo. A legislação sobre o salário mínimo é legislação Federal, mas os Estados adotam pisos salariais de cada profissão, isso é permitido de acordo com o parágrafo único do art. 22, já que há lei complementar que autoriza. Os temas do art. 22, diferente do art. 21, são temas delegáveis, mediante lei complementar (maioria absoluta). 
Competência comum (art. 23)
Temas em que o legislador constituinte dividiu responsabilidade são temas de competência comum. O inciso XII fala sobre segurança no trânsito, logo é de se pensar que um Estado pode criar uma lei proibindo o uso de celular no trânsito e a obrigação do uso de cinto de segurança. Esse assunto foi para o Supremo que disse que o tema é de competência privativa da União no art. 22, inciso XI. Essa lei foi então declarada inconstitucional por vício de competência. 
Competência concorrente (art. 24)
A União também é privilegiada nesse artigo. Criada uma norma geral, §1º, uma lei federal (sobre tema desse artigo), esta vai ser uma lei geral estabelecendo normas genéricas. §2º fala que pode ter uma lei estadual sobre o mesmo tema, mas a lei geral será sua lei de referência. O §4 fala em suspender e não em revogação, só quem revoga é quem cria, logo se houver conflito, a lei federal pode suspender a estadual, salvo se for uma peculiaridade. Legislando antes ou depois, a lei federal sobre um tema do art. 24, será um tema de referência. 
Há temas de competência privativa (art. 22) que deveriam ser de competência concorrente. No inciso XXVII, por exemplo, fala de normas gerais, então, se a União vai legislar sobre norma geral significa que alguém vai legislar no que couber sobre peculiaridades, e isso é competência concorrente, devendo estar no art. 24. Por isso que a lei 8666 é uma lei federal de natureza nacional. O art. 22, inciso XXVII deveria estar no art. 24, por isso que os Estados podem legislar sobre licitações e contratos. 
Diferença entre competência privativa (art. 22) e concorrente (art. 24)
A privativa, no art. 22, fala sobre temas que competem a União legislar, criando Leis Nacionais, mas podendo ser delegáveis aos entes federados caso seja autorizado em Lei Complementar. A competência concorrente, no art. 24, fala sobre temas que competem à qualquer ente federado legislar, sendo que a União deve criar uma Lei Federal como norma geral sobre os temas para servir de referência para os outros membros poderem legislar de acordo com suas peculiaridades. No art. 22 existem temas em alguns incisos que deveriam estar no art. 24, já que falam de normas gerais, logo devendo ter alguém para legislar sobre o tema, sendo de competência concorrente e não privativa. Um exemplo disso está no art. 22, inciso XXVII que deveria estar no art. 24, por isso que os Estados podem legislar sobre licitações e contratos.
Competência dos Estados federados (art. 25)
Os Estados ficaram menos privilegiados quanto aos temas de competência exclusiva, ficando apenas com temas residuais. 
Competência dos Municípios (art. 30)
Há uma divergência na doutrina minoritária que acredita que os municípios não fazem parte dos entes federados. Compete aos municípios legislar sobre temas de interesse local, que é entendido pelo Supremo como predominantemente local. Os municípios não estão no caput do art. 24, mas o inciso II do art. 30 inclui os Municípios, podendo o mesmo complementar lei federal ou estadual, legislando concorrentemente sobre os temas do art. 24, devendo ter como referência, a lei federal. Essa interpretação do Supremo chama-se sistemática. Suplementar e complementar no que couber. 
Auto-organização dos entes: simetria
Todos os entes federados são dotados de capacidade de auto-organização e autoafirmação, mas não possuem soberania, são autônomos que se estruturam dentro de um Federalismo. Essa capacidade de autoafirmação significa que há um instrumento jurídico que regula cada um desses entes federados. A lei de autorregulação do Município é a lei orgânica, que não tem uma natureza jurídica constitucional, pois o art.11 do ADCT concede capacidade constituinte ao legislador estadual, ou seja, os Estados possuem constituições estaduais, e não concede essa mesma capacidade ao legislador municipal. 
Esse poder investido ao legislador estadual para que ele elaborasse as constituições estaduais é chamado pela doutrina de poder constituinte decorrente, que na verdade poderia ser chamado de poder constituído, já que se ele é derivado, não é constituinte, levando em consideração que constituinte é apenas o originário (poder do legislador constitucional). Pois o poder constituinte é inicial, permanente, continuo e não pode ser derivado. Então, essa capacidade constituinte investida do legislador estadual não é investida no municipal. Então a lei orgânica municipal não possui natureza jurídica de norma constitucional, tem natureza ordinária, pois o legislador constituinte em 88 não concedeu essa capacidade de lidar com matéria constitucional.
O DF possui a lei orgânica do DF. A natureza jurídica do DF é híbrida, como diz a doutrina, ou seja, possui características estaduais e municipais. O DF não se divide em municípios, mas em regiões administrativas, sendo isso uma característica municipal (divida em bairros). Ao mesmo tempo possui um governador, característica estadual, tal como uma câmara legislativa que se assemelha a uma assembleia, tem deputados distritais que se assemelham a deputados estaduais. Enfim, possui essa natureza diferenciada. 
Com base nessa característica muito mais estadual do que municipal, muitos doutrinadores pelo princípio da simetria já vinham afirmando e o Supremo ainda abraçou essa ideia, de que a lei orgânica do DF assemelha-se a uma constituição estadual. Faltava o legislador positivar essa visão jurisprudencial e essa visão doutrinária. Foi isso então que ocorreu, o legislador do DF alterou a lei de organização judiciária do DF e acrescentou uma alínea dizendo que: quando houver um conflito em lei distrital em face da lei orgânica do DF, quem deverá apreciar esse controle de constitucionalidade será o TJDF. Tal como ocorre (simetria) quando uma lei estadual se confronta com a constituição do Estado, quem aprecia é o TJ. Logo, concluiu-se que a lei distrital assemelha-se com uma constituição estadual.

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