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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O RECONHECIMENTO DO TRANSEXUAL PELO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
RODRIGO CHANDOHÁ DA CRUZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí (SC), 2009 
 16
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O RECONHECIMENTO DO TRANSEXUAL PELO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
RODRIGO CHANDOHÁ DA CRUZ 
 
 
Monografia submetida à Universidade do 
Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito 
parcial à obtenção do grau de Bacharel 
em Direito. 
 
 
 
 
 
Orientadora: Professora MSc. Andrietta Kretz Viviani 
 
 
 
 
Itajaí (SC), 2009
 
AGRADECIMENTO 
A Deus, que me deu forças para explorar este 
assunto, não só com o fim de obter a graduação no 
curso de Direito, mas para, de alguma forma, ajudar 
os transexuais e abrir os olhos da sociedade para 
este tópico tão importante. 
Aos meus pais, Hélcio e Suzana, por terem 
respeitado minha escolha por um tema tão 
controvertido, e acreditarem que eu seria capaz de 
trabalhar com um assunto tão complexo, de forma 
justa, além de seu constante apoio durante os meus 
anos de faculdade, e por me manterem no caminho 
certo. 
À minha madrinha, Lilian, pelo ombro de mãe nas 
horas difíceis, não só na construção deste trabalho, 
mas por ter sido um grande porto seguro durante 
toda a minha trajetória acadêmica. 
Ao Cartório da 2ª Vara Cível, da Comarca de Itajaí, 
principalmente à Naliete Polonia de Souza e Elisa 
Catarina Kleis, que foram muito, muito mais do que 
chefes para mim, pois foram a extensão da minha 
família e da faculdade de Direito, além de serem 
grandes exemplos de seres-humanos e 
profissionais, a quem terei eterna gratidão pelo 
ensino e pelo amor prestado. 
Aos meus amigos, que fiz na faculdade e no Fórum 
de Itajaí, que sempre alegravam minha vida, e que 
me ajudaram a crescer como ser humano e 
profissional. 
À Professora Andrietta Kretz Viviani, minha 
orientadora, pela orientação e suporte na construção 
deste trabalho. 
Por fim, a todos que, assim como eu, acreditam que 
nosso ordenamento jurídico necessita de reformas, 
para reconhecer que todas as pessoas têm os 
mesmos direitos para exercer, e que acreditam que 
a diferença não empobrece, mas enobrece. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16
 
DEDICATÓRIA 
Dedico este trabalho à todas as pessoas 
sexualmente confusas, que lutam pelo 
reconhecimento de seus direitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17
 
 
 
 Àqueles que se comprometem autenticamente com o povo 
é indispensável que se revejam constantemente. 
Esta adesão é de tal forma radical que não permite a quem a faz,comportamentos ambíguos. 
 
(Paulo Freire - Pedagogia do Oprimido) 
 
 18
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte 
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do 
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de 
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Itajaí, Novembro de 2009 
 
 
Rodrigo Chandohá da Cruz 
Graduando 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do 
Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Rodrigo Chandohá da Cruz, sob o 
título “O reconhecimento do transexual pelo ordenamento jurídico brasileiro”, 
foi submetida em novembro de 2009 à banca examinadora composta pelos 
seguintes professores: MSc. Andrietta Kretz Viviani, Orientadora; Josemar Sidinei 
Soares, professor membro e Antônio Augusto Lapa, coordenador de monografia e, 
aprovada com a nota ( ) ( ). 
 
Itajaí, Novembro de 2009 
 
 
Profª. MSc. Andrietta Kretz Viviani 
Orientadora e Presidente da Banca 
 
 
 
 
Prof. Antônio Augusto Lapa 
Coordenação da Monografia 
 
 
 
 
Prof. Josemar Sidinei Soares 
Membro 
 
 
 
 
 
 
 20
 
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
 
Art. Artigo 
CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 
CFM Conselho Federal de Medicina 
CID Classificação Internacional de Doenças 
CP Código Penal 
CRFB/1988 Constituição da República Federativa do 
Brasil 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
GLBT Gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros 
MS Ministério da Saúde 
OMS Organização Mundial de Saúde 
SUS Sistema Único de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROL DE CATEGORIAS 
Bioética 
O termo bioética, literalmente, significa ética da vida. O vocábulo de raiz grega bios 
designa o desenvolvimento observado nas ciências da vida, como a ecologia, a 
biologia e a medicina, dentre outras. Ethos busca trazer à consideração os valores 
implicados nos conflitos da vida. 1 
Dignidade da Pessoa Humana 
[...] a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é irrenunciável e 
inalienável, constituindo elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não 
pode ser destacado, de tal sorte que não se pode cogitar na possibilidade de 
determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a 
dignidade. Esta, portanto, como qualidade integrante e irrenunciável da própria 
condição humana, pode (e deve) ser reconhecida, respeitada, promovida e 
protegida, não podendo, contudo (no sentido ora empregado) ser criada, concedida 
ou retirada, já que existe em cada ser humano como algo que lhe é inerente. 2 
Ética 
[...] respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de aprender com o 
diferente, não permitir que o mal-estar pessoal ou a antipatia com relação ao outro o 
façam acusá-lo do que não fez [...].3 
Homossexual 
O homossexualismo consiste na perversão sexual que leva os indivíduos a sentirem-
se atraídos por outros do mesmo sexo, com repulsa absoluta ou relativa para os de 
 
1
 PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C.P. Problemas atuais de Bioética. 6. ed. São Paulo: Loyola; 
2002. 
2
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição 
Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 40-41. 
3
 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e 
Terra, 1996, p. 20. 
 IX
sexo oposto. Há, portanto, um homossexualismo masculino (de homem para 
homem) e um homossexualismo feminino (de mulher para mulher). 4 
Intersexualismo 
O intersexualismo, também denominado de hermafroditismo, dá-se quando um 
indivíduo possui simultaneamente características de ambos os sexos, devendo se 
submeter à cirurgia para adequação do sexo genético, gonodal e fenotípico, que 
deve ser realizada após um estudo detalhado da identidade e do sexo psicossocial 
desenvolvido. 5 
Moral 
O conjunto de regras de conduta consideradas válidas, quer de modo absoluto para 
qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. 6 
Registro Civil 
O registro Civil de nascimento é um direito do cidadão e tem a sua gratuidade 
garantida por lei. Esse documento é extremamente importante, pois ele é a prova da 
existência oficial e jurídica de todosos brasileiros. Maria Helena Diniz afirma que “o 
registro de nascimento é uma instituição pública destinada a identificar os cidadãos, 
garantindo o exercício de seus direitos”. 7 
Sexo 
O sexo é, mental em seus impulsos e manifestações, transcendendo quaisquer 
impositivos da forma em que se exprime. Reside na mente, a expressar-se no corpo 
espiritual e conseqüentemente no corpo físico8. O sexo deve ser visto por vários 
correntes, sendo resultante de um equilíbrio de vários planos, desde o físico até o 
 
4
 GOMES, H. Medicina Legal. 33 edição, ver. e atualiz. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004. p. 476-
477. 
5
 PERES, Ana Paula Ariston Barion. Transexualismo: o direito a uma nova identidade sexual. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. 
6
 LÓPEZ, M. Fundamentos da Clínica Médica: a relação paciente-médico, Rio de Janeiro: Medsin 
Editora Médica e Científica, 1997. p. 215. 
7
 DINIZ. M. H. Sistemas de Registros de Imóveis. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 
8
 XAVIER, Francisco Cândido. Evolução Em Dois Mundos. Espírito André Luiz. [s.l]: FEB, 2002. 
 X
psicológico. Maranhão ainda divide o sexo em: genético; endócrino; morfológico; 
psicológico e jurídico. 9 
Sexualidade 
A sexualidade, entendida a partir de um enfoque amplo e abrangente, manifesta-se 
em todas as fases da vida de um ser humano, tendo na genitalidade (coito) apenas 
um de seus aspectos, talvez nem mesmo o mais importante. A sexualidade permeia 
todas as manifestações humanas10. “[...] um aspecto central do bem estar humano, 
do começo ao fim da vida, envolvendo sexo, identidade de gênero, orientação 
sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução”. 11 
Transexual 
São pessoas que sofrem de neurodiscordância de gênero, nome que se originou em 
pesquisas norte-americanas, onde foi constatado em cadáveres de transexuais do 
sexo masculino, que a hipófise cerebral (que é a parte do cérebro que responde aos 
estímulos sexuais) possui estrias mais estreitas diferentes aos dos homens comuns, 
sendo idênticas a de uma mulher biológica. Baseando-se em tal pesquisa é que hoje 
alguns profissionais entendem o transexualismo como hermafroditismo hipofásico. 
Fato que faz com que a idéia de que um transexual seria uma pessoa que desejaria 
trocar ou mudar de sexo, seja ultrapassada e ultrajante, onde o transexual não deve 
ser colocado neste patamar discriminatório de mutantes, quando na verdade, a 
procura dos transexuais nada mais é do que a simples adaptação física, para 
exercer suas vidas emocionais, sociais, espíritas e sexuais, o que infelizmente não 
são alcançadas pela maioria, e numa minoria são conquistadas aos poucos e as 
duras penas. 12 
Transexualidade 
 
9
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. 8. ed., 4. tiragem. São Paulo: Malheiros, 
1998. p. 127. 
10
 LIMA, Junia Dias de. O Despertar da Sexualidade na adolescência. In: PEREIRA, José Leopídio; et 
al. (org.). Sexualidade na adolescência no novo milênio, 2007, p.15. 
11
 LIMA, Junia Dias de. O Despertar da Sexualidade na adolescência. In: PEREIRA, José Leopídio; et 
al. (org.). Sexualidade na adolescência no novo milênio, 2007, p.15. 
12
 IRIGUTI, Edna. Transexualismo. Disponível em: <http://www.grupoesperanza.com.br/EN 
TLAIDS/transexual.htm>. Acesso em jul. 2009. 
 XI
Transexualidade é a condição sexual da pessoa que rejeita sua identidade genética 
e a própria anatomia de seu gênero, identificando-se psicologicamente com o 
gênero oposto. Trata-se de um drama jurídico-existencial, por haver uma cisão entre 
a identidade sexual física e psíquica. 13 
Transexualismo 
O transexualismo é definido como patologia pela Organização Mundial de Saúde 
(OMS), na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID 10) que 
o reconhece como um transtorno de identidade sexual desde 1993. É considerado 
uma anomalia da identidade sexual, onde o indivíduo se identifica psíquica e 
socialmente com o sexo oposto ao que lhe fora determinado pelo registro civil. 14 
Transgenitalização 
A cirurgia de mudança de sexo, também conhecida pelo nome de transgenitalização, 
é altamente complexa, de recuperação dolorosa e requer um acompanhamento 
multidisciplinar não apenas no período que antecede a cirurgia, mas também na fase 
pós-operatória. O paciente que a ela é remetido necessita de revisões médicas 
constantes e de acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais para encarar 
a sua nova situação, haja vista que, na maioria das vezes, passará a sofrer 
inúmeros preconceitos pelas diversas camadas da população. 15 
 
 
 
 
 
 
13
 DINIZ, Maria Helena. O estado atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001. p.223 
14
 OMS Organização Mundial da Saúde. CID 10. 
15
 SUTTER, Matilde Josefina. Determinação e mudança de sexo. São Paulo: Revista dos Tribunais. 
2003. p.109. 
 XII
SUMÁRIO 
RESUMO................................................................................................................. XIV 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 
CAPÍTULO 1: ........................................................................................................... 17 
BIOÉTICA ................................................................................................................. 17 
 
1.1 MORAL E ÉTICA ................................................................................................ 17 
1.2 BIOÉTICA ........................................................................................................... 22 
1.2.1 Histórico .......................................................................................................... 22 
1.2.2 Conceito .......................................................................................................... 24 
1.2.3 Princípios Bioéticos ....................................................................................... 26 
1.2.3.1 Princípio da Beneficência ........................................................................... 27 
1.2.3.2 Princípio da Não-Maleficência .................................................................... 28 
1.2.3.3 Princípio da Autonomia .............................................................................. 29 
1.2.3.4 Princípio da Justiça ..................................................................................... 31 
1.2.4 Divisão da Bioética......................................................................................... 32 
1.3 RELAÇÃO DIREITO E BIOÉTICA ...................................................................... 33 
 
CAPÍTULO 2: ............................................................................................................ 36 
 SEXUALIDADE, IDENTIDADE DE GÊNERO E SEXO ........................................... 36 
 
2.1 A SEXUALIDADE SOB DIFERENTES OLHARES ............................................ 36 
2.2 IDENTIDADE DE GÊNERO OU SEXUAL .......................................................... 40 
2.3 SEXO .................................................................................................................. 42 
2.3.1 Sexo Genético ................................................................................................ 43 
2.3.1.1 Síndrome de Turner .................................................................................... 45 
2.3.1.2 Síndrome de Klinifelter ............................................................................... 45 
2.3.2 Sexo Endócrino .............................................................................................. 46 
2.3.3 Sexo Morfológico ...........................................................................................47 
2.3.4 Sexo Psicológico ............................................................................................ 47 
2.3.5 Sexo Jurídico .................................................................................................. 48 
 
 XIII
2.4 CONDIÇÕES SEXUAIS ...................................................................................... 49 
2.4.1 Heterossexualidade........................................................................................ 50 
2.4.2 Homossexualismo .......................................................................................... 50 
2.4.3 Intersexualismo .............................................................................................. 52 
2.4.4 Travestismo .................................................................................................... 52 
2.4.5 Transexualismo .............................................................................................. 53 
2.5 A CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO ............................................................. 59 
 
CAPÍTULO 3: ........................................................................................................... 67 
PROCEDIMENTO PARA O RECONHECIMENTO DO TRANSEXUAL NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO .................................................................................... 67 
 
3.1 RESPONSABILIDADE PENAL .......................................................................... 67 
3.1.1 Conseqüência morfológica resultante do procedimento cirúrgico ........... 68 
3.2 DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE PERCEBIDA PELO DIREITO ....... 72 
3.2.1 O valor do Registro civil como atestado de cidadania ............................... 73 
3.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A LEI DE REGISTROS 
PÚBLICOS ................................................................................................................ 76 
3.4 PROJETOS DE LEI ALTERANDO A LEI DE REGISTRO PÚBLICO E O 
CÓDIGO PENAL ....................................................................................................... 84 
3.5 JURISPRUDÊNCIAS .......................................................................................... 85 
3.6 LACUNA DA LEI E PROCESSAMENTO DA AÇÃO DECORRENTE DA 
MESMA ..................................................................................................................... 90 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 92 
 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .................................................................. 95 
 
ANEXOS ................................................................................................................. 101 
Fotos: Exemplos de cirurgia de mudança de sexo de homem para mulher .... 101 
Fotos: Exemplos de cirurgia de mudança de sexo de mulher para homem .... 102 
Fotos: Implante de silicone em homens ............................................................. 103 
Fotos: Alterações na face para feminilização ..................................................... 104 
 XIV
RESUMO 
O presente trabalho tem como objetivo geral o reconhecimento do transexual pelo 
ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, fez-se um apanhado da legislação e da 
doutrina existente, que junto com os princípios bioéticos, oferecem suporte ao 
transexual. Com relação à metodologia, utilizou-se o método indutivo, na Fase de 
Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso 
na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da 
Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito 
Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. Seguindo-se este caminho metodológico, 
verificou-se que o transexual é reconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro e 
pode exercer seus direitos, pois a Constituição garante, através do princípio da 
dignidade da pessoa humana, que o mesmo tem direito a realizar o procedimento 
cirúrgico de adequação sexual, pois esta cirurgia é lícita, e posteriormente retificar o 
seu registro civil através de ação de retificação de registro civil. 
 
Palavras-chave: Bioética. Transexual. Retificação do Registro Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
A presente Monografia tem como objeto o reconhecimento do 
transexual pelo ordenamento jurídico brasileiro. 
O seu objetivo institucional é produzir monografia para 
obtenção do título de bacharel em Direito-Universidade do Vale do Itajaí-Univali. 
O objetivo geral é verificar quais as possibilidades que o atual 
ordenamento jurídico brasileiro apresenta para o reconhecimento do transexual pelo 
ordenamento jurídico brasileiro, mediante um estudo doutrinário, legislativo e 
jurisprudencial. 
O objetivo específico é: a) conceituar a Bioética e seu histórico 
constatando sua relação com os avanços da área médica; b) abordar a sexualidade, 
o sexo e a identidade de gênero, direcionando o estudo para o transexualismo e a 
cirurgia de mudança de sexo; c) verificar as possibilidades para que ocorra o 
reconhecimento do transexual pelo ordenamento jurídico brasileiro. 
Para tanto, principiar–se-á, no Capítulo 1, tratando de moral, 
ética, bioética, abrangendo seu conceito, histórico, princípios, divisões e sua relação 
com o biodireito. 
No Capítulo 2, tratar-se-á de sexualidade, identidade de 
gênero, as diferentes classificações para sexo, as diferentes condições sexuais 
existentes, além de um estudo direcionado ao transexualismo e a cirurgia de 
mudança de sexo. 
No Capítulo 3, destacar-se-á de responsabilidade penal do 
cirurgião plástico, as conseqüências morfológicas da cirurgia de redesignação 
sexual, projetos de lei direcionados aos transexuais, a retificação do registro civil e 
as lacunas da lei. 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, 
 
 
16
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o 
reconhecimento do transexual pelo ordenamento jurídico brasileiro. 
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes 
hipóteses: 
• 1 → A cirurgia de mudança de sexo é amparada pela 
comunidade médica e jurídica. 
• 2 → A retificação do registro civil é possível em nosso 
ordenamento jurídico para os transexuais que efetuaram a 
cirurgia de mudança de sexo. 
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de 
Investigação foi utilizado o Método Indutivo16, na Fase de Tratamento de Dados o 
Método Cartesiano17, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente 
Monografia é composto na base lógica Indutiva. 
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, 
do Referente18, da Categoria19, do Conceito Operacional20 e da Pesquisa 
Bibliográfica21. 
 
16
 Segundo Pasold (2002, p.110) o referido método trata de “pesquisar e identificar as partes de um 
fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”. 
17
 O referido método pode ser resumido em quatro preceitos que são: 1. "nunca aceitar, por 
verdadeira, cousa nenhuma que não conhecesse como evidente " ; 2. dividir cada uma das 
dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para 
melhor compreendê-Ias"; 3. "conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objeto 
mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até 
o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo certa ordem entre os que não se 
precedem naturalmente uns aos outros"; 4.fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão 
gerais, que ficasse certo de nada omitir" (grifo no original). In: PASOLD, César Luiz. Prática da 
Pesquisa Jurídica: idéiase ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 106-107. 
18
 "REFERENTE é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance 
temático e de abordagem para uma atividade intelectual. especialmente para uma pesquisa." In: 
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do 
direito, p. 62. 
19
 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração elou expressão de uma idéia" In: 
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do 
direito, p. 31. 
20
 "Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal 
definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos" In: PASOLD, Cesar Luiz. Prática da 
pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56. 
 
 
17
CAPÍTULO 1 
BIOÉTICA 
Desde muito tempo vislumbram-se discordâncias a respeito 
das palavras Moral e Ética e isto se deve à própria etimologia destes termos os 
quais, gera confusão, visto que Ética vem do grego “ethos” que significa modo de 
ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes. 
Portanto, primeiramente, acredita-se de extrema importância diferenciar os institutos 
moral e ética, já que os mesmos servirão de base para este trabalho. 
Fundamental também para a realização desta pesquisa 
adentrar-se objetivando maiores esclarecimentos, na literatura pertinente á Bioética, 
pois nas aulas proferidas na Universidade, percebe-se que a matéria está sempre 
envolvida em assuntos relacionados com a medicina e o poder de intervenção dos 
médicos sobre o ser humano, objeto do presente estudo. 
Para tanto, realiza se um estudo específico neste capítulo, 
buscando na doutrina especializada, adequada fundamentação para melhor 
discernimento sobre moral, ética e bioética abrangendo histórico, conceito, divisões 
e princípios. 
 
1.1 MORAL E ÉTICA 
A origem do vocábulo “moral”, como já mencionado, vem do 
latim (mos-mores) e designa os costumes, a condução da vida, as regras de 
comportamento. Sua etimologia reflete um sentido razoavelmente amplo, 
direcionado ao agir humano, aos comportamentos cotidianos e, às escolhas 
existenciais. Induz ao pensamento espontâneo de hábitos sociais, normas, regras de 
 
21
 Para Gil (2006, p. 44): “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, 
constituído principalmente de livros e artigos científico”. 
 
 
18
comportamento, princípios e valores. 22 
Segundo López, a Moral pode ser conceituada como: 
O conjunto de regras de conduta consideradas válidas, quer de modo 
absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa 
determinada. Esse conjunto de normas, aceito livre e 
conscientemente, regula o comportamento individual e social das 
pessoas. 23 
Deste modo, prossegue o autor, tem-se como moral o conjunto 
de costumes, normas e regras de conduta estabelecidas em uma sociedade e cuja 
obediência é imposta a seus membros, variando de cultura para cultura e se 
modifica com o tempo, no âmbito de uma mesma sociedade. 24 
Comumente, os termos "ética" e "moral" são empregados como 
sinônimos, porém, entende-se que se reserva a este último apenas o próprio fato 
moral, enquanto o primeiro designa a reflexão filosófica sobre o mesmo. 
Segundo Carlim a moral se ocupa do comportamento das 
pessoas em sociedade, enquanto que a ética é a ciência prática de caráter filosófico, 
porque expõe e fundamenta princípios universais sobre a moralidade dos atos 
humanos. Cita Vasques, para o qual a moral é o conjunto de normas e regras 
designadas a regular as reações dos indivíduos numa comunidade social, sendo que 
a ética, é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens. Conclui Carlim 
ainda que a moral não é científica, mas pode ser objeto de uma ciência, que a 
investiga de forma sistemática, racional e objetiva; no seu entender este é o papel 
da ética. 25 
“A moral é a face subjetiva, nela a norma é regra da ação 
reconhecida interiormente pelo sujeito. A ética é face objetiva, já que a norma 
 
22
 DURAND, Guy. Introdução Geral à Bioética. História, Conceitos e Instrumentos. São Paulo: 
Loyola, 2003. 
23
 LÓPEZ, M. Fundamentos da Clínica Médica: a relação paciente-médico, p. 215. 
24
 LÓPEZ, M. Fundamentos da Clínica Médica: a relação paciente-médico. 
25
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas. Florianópolis: Terceiro 
Milênio, 1998, p. 27. 
 
 
19
constitui-se em princípios norteadores dos costumes do grupo social”. 26 
Etimologicamente, como já se viu, Moral, significa costume, 
conjuntos de normas adquiridas pelo homem, ao que complementa Silva, aludindo 
que: 
Moral é a moral prática, é a prática moral. É moral vivida, são os 
problemas morais. É a moral reflexa. Os problemas morais, 
simplesmente morais são restritos, nunca se referindo à 
generalidade. O problema moral corresponde à singularidade do 
caso daquela situação, é sempre um problema prático-moral. Os 
problemas éticos são caracterizados pelas generalidades, são 
problemas teórico-éticos. 27 
Castro Filho discorre sobre a moral comparando-a com a ética: 
A maioria dos estudiosos distingue ética de moral, argumentando 
que esta é originária da cultura da sociedade, da prática, e quanto 
aquela parte de uma reflexão filosófica (uma filosofia moral), mas só 
terá sentido se representar a realidade, haja vista as implicações 
temporárias. 28 
Logo, Cohen e Segre, para distinguir moral e ética, referem-se 
ao conceito de Barton e Barton. Para eles, a moral é uma reflexão, sobre o que é 
certo e o que é errado, no campo das condutas humanas, ou seja, são valores que 
dão origem a normas, desde os Dez Mandamentos, até o Código Penal29. Já a ética 
são as normas em si, que regulam como determinada pessoa deve comportar-se, 
seja ela um médico, ou um advogado. 30 
Concorda Chauí, para quem a moral refere-se ao 
comportamento normativo, em que as regras são definidas pela sociedade, e a ética 
refere-se ao comportamento autônomo do indivíduo capaz do desejo. Deste modo, a 
 
26
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas. Florianópolis: Terceiro 
Milênio, p. 28. 
27
 SILVA, Alcino Lázaro. Hérnias. São Paulo: Rocca, 2006. Temas de ética médica. Belo Horizonte: 
Cooperativa Editora de Cultura Médica, 1982, p. 23. 
28
 CASTRO FILHO, Sebastião de Oliveira. Congelamento de embriões: evolução legislativa. 2001. In: 
SCHAEFER, F. Procedimentos Médicos: Realizados à Distância e o Código de Defesa do 
Consumidor. Curitiba: Juruá, 2006. p.24. 
29 BARTON, W.E, BARTON, G.M. Ethics and law in mental health administration, 1984. In: SEGRE, 
M. e COHEN, C. (orgs). Bioética. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. p.15. 
30 BARTON, W.E, BARTON, G.M. Ethics and law in mental health administration, 1984. In: SEGRE, 
M. e COHEN, C. (orgs). Bioética. p.17. 
 
 
20
moral impõe as regras do comportamento e da ação e define as sanções para a 
prática desviante, enquanto a ética supõe um sujeito livre, capaz de estabelecer 
valores por si mesmo e de respeitá-los. 31 
Complementa a autora aludindo que mesmo diferentes quanto 
à sua origem, ética e moral aparecem imbricados em três pontos, quais sejam: 
primeiro, quando a prática da ética e o comportamento moral se definem pela 
disposição do indivíduo (ética) e da sociedade (moral) de dar fim à todo o tipo de 
violência, em seu sentido mais amplo; em segundo, quando ambas constituem ocampo da práxis, onde o agente da ação, a ação e a finalidade da ação são uma só 
e mesma coisa; e, terceiro, quando ambas operam no campo do necessário e do 
possível, de forma que o que será possa ser diferente do que é, pela ação 
humana.32 
Galvão refere-se à ética, reafirmando que a mesma tem origem 
grega, e discorrendo que seria uma boa-conduta, uma pessoa que possui valores 
internos. 33 
Já, Vásquez34 aponta que a Ética é teórica e reflexiva, 
enquanto a Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um 
inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são 
indissociáveis. 
Segundo os ensinamentos do educador Freire, a ética é: 
[...] respeito aos outros, coerência, capacidade de viver e de 
aprender com o diferente, não permitir que o mal-estar pessoal ou a 
antipatia com relação ao outro o façam acusá-lo do que não fez [...].35 
Portanto, trata-se de obrigações a que o sujeito deve 
perseverantemente se dedicar. Dito de outro modo, não há ética nas ações 
 
31
 CHAUÍ, Marilena. Ética e democracia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1994. 
32
 CHAUÍ, Marilena. Ética e democracia. 
33 GALVÃO, Antônio Mesquita. Bioética: a ética a serviço da vida: uma abordagem multidisciplinar. 
Aparecida, SP: Santuário, 2004. p. 151. 
34
 VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 18. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998. 
35
 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz 
e Terra, 1996, p. 20. 
 
 
21
sorrateiras, na promoção da desarmonia, no fomento à intriga, na maledicência, na 
traição. Por isso, viável se ressaltar ainda Freire quando explica que “a ética de que 
se fala é marca da natureza humana, algo indispensável à convivência, que lhe dá 
suporte quando constata, compara, avalia, valora, decide e rompe". 36 
Por fim, uma das concepções que distingue, de forma sumária 
estes dois institutos é apresentada pelos autores Kipper; Oselka e Oliveira, os quais 
afirmam que enquanto a moral estabelece normas assumidas pelos seres-humanos, 
para garantir uma boa-convivência, a ética não faz referida função. A ética procura 
justificar a moral, e não estabelece normas, a ética é a norma em si, decorrente da 
moral. 37 
Para garantir a manutenção dos padrões morais através do tempo e 
sua continuidade, as sociedades tendem a naturalizá-la. A 
naturalização da existência moral esconde o mais importante da 
ética: o fato de ela ser criação histórico-cultural [...]. O homem como 
único ente, que só pode ser enquanto realiza o seu dever-ser revela-
se como ‘pessoa’ ou unidade espiritual, sendo a fonte, base de toda 
a axiologia e de todo o processo cultural. 38 
Enfim, sendo a ética a ciência da moral, isto é, de uma esfera 
de comportamento humano, é mister a discussão acerca dos padrões éticos da 
sociedade com a finalidade de apontar caminhos para uma nova moral, ou seja, 
para novas regras da orientação das relações dentro de grupos sociais em 
constante transformação”. 39 
Viável ainda a alusão de Carlin de que a sociedade antiga 
apresentava-se em duas classes, existiam duas morais: a dos homens livres que era 
efetiva, vivida e se fundamentava nas grandes doutrinas éticas dos filósofos da 
antigüidade e a dos escravos não conseguia desenvolver-se teoricamente. Na 
sociedade medieval, a moral correspondia às características econômica-sociais e 
espirituais. Era influenciada no conteúdo da Igreja, somente os servos não atinham 
 
36
 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz 
e Terra, 1996, p. 14-22. 
37 KIPPER, D. J.; OSELKA, G W; OLIVEIRA, R. A. Bioética clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, 
J. E. de. (Org.). Bioética no Brasil: tendências e perspectivas. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 
2007, p. 117. 
38
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas. Florianópolis: Terceiro 
Milênio, p. 39. 
39
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 59. 
 
 
22
uma formulação codificada de seus princípios e regras. A moral aristocrática se 
assemelhava à dos homens livres. 40 
Já, com a produção industrial, o operário é visto como 
instrumento de produção e não como ser humano, alude o autor, porém, apesar 
desta transformação, a sociedade continua ainda a viver baseada na exploração do 
homem pelo homem, lançando mão da moral “para justificar e regular as relações de 
opressão e de exploração” no âmbito de determinadas políticas, o que nos faz 
considerar que ao longo do tempo a moral muda historicamente de acordo com as 
mudanças no desenvolvimento social. 41 
O interesse pelos temas relativos à moral, e por conseguinte, à 
ética, existem há séculos, tendo sua origem no mundo grego antigo. Entretanto, o 
termo bioética, também denominado ética biomédica, a qual relaciona-se com temas 
morais originados na prática da medicina ou na atividade de pesquisas biomédicas, 
juntamente com a disciplina que o designa, são novos, como se poderá constatar no 
texto a seguir. 
 
1.2 BIOÉTICA 
Antes de se definir a bioética, faz-se uma abordagem 
doutrinária sobre seu surgimento, ressaltando-se a importância da Bioética, cuja 
referência central é o ser humano, desde o nascimento até a morte. Aliás, “é sobre 
essas duas fases da vida que hoje a ciência está fazendo seus melhores progressos 
e, obviamente, colocando problemas éticos antes nunca postos”. 42 
 
1.2.1 Histórico 
A bioética propicia o entendimento das relações do homem 
 
40
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 59-60. 
41
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 61. 
42
 BARCHIFONTAINE, C. P. de; PESSINI, L. (Org.). Bioética: Alguns desafios. 2. ed. São Paulo: 
Loyola, 2001. p. 67. 
 
 
23
com a vida tornando-o responsável pelas escolhas boas ou más, o que, pode-se 
dizer, é justamente o ponto de vista ético. 
Diniz afirma com base em Clotet que a bioética surgiu há cerca 
de trinta anos, em decorrência do grande desenvolvimento científico, da biologia 
molecular e da biotecnologia, e em decorrência deste desenvolvimento acelerado, 
começaram a haver relatos de mau-uso destes âmbitos, que eles seriam utilizados 
não para o benefício, e sim para o malefício, já que não havia uma definição moral e 
ética para sua aplicação. Ademais, a teologia e filosofia passaram a participar destas 
aplicações. 43 
Costa, Garrafa e Oselka pontuam que foi publicada uma obra 
no ano de 1971, chamada de Bioethics: Bridge to the Future, pelo autor Van 
Rensselear Potter, que exercia a função médica de cancerologista. Os autores ainda 
exprimem que a obra foi publicada pois havia uma preocupação com a humanidade, 
os seres vivos e o meio ambiente, ou seja, da vida planetária.44 
Sgreccia alega, que foi o oncólogo, Van Rensellear Potter que 
cunhou o termo, acrescendo que no ano de 1970, já havia sido publicado um artigo, 
cujo título era The Science of Survival, em que fazia menção ao termo.45 Em 
colocação própria, Sgreccia aduz que a bioética surge devido à uma situação 
alarmante, uma preocupação pela vida, devido aos avanços tecnológicos.46 
Santos narra de forma semelhante aos doutrinadores 
anteriores, que Potter é responsável pelo surgimento da bioética, e com base no 
próprio Potter, destaca que a disciplina bioética une a ética e a biologia, mediante 
seus valores. 47 
Galvão traz uma fundamentação similar, discorrendo que a 
bioética surge devido aos precedentes do Tribunal de Nuremberg, o conhecido 
tribunal que julgava os crimes de guerra realizados pelos nazistas, contra os seres-43
 DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 5. 
44
 COSTA, Sergio Ibiapina Ferreira; OSELKA, Gabriel; GARRAFA, Volnei (coords). Iniciação à 
Bioética. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 1998, p. 15. 
45
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica. 2. Ed., São Paulo: 
Loyola,1996, p. 24. 
46
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 24. 
47
 SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite. Equilíbrio de um pêndulo: bioética e a lei: implicações 
médico-legais. São Paulo: Ícone, 1998. p. 38. 
 
 
24
humanos. O autor indica que a preocupação teve fundamento nos avanços dos 
transplantes de órgãos e de outros descobrimentos científicos. 48 
Kipper, Oselka e Ayer seguem a mesma linha de pensamento, 
relacionada ao desenvolvimento tecnológico e sua aplicação sanitária. Os autores 
mencionam centros estrangeiros, nos quais são realizados estudos sobre este tema, 
como o Kennedy Institute of Ethics e o Hastings Center nos Estados Unidos. 49 
Portanto, verifica-se que o entendimento majoritário dos 
autores é que foi o oncólogo, ou cancerologista, Van Rensellear Potter que cunhou o 
tema, pois estava preocupado, alarmado, com o desenvolvimento da ciência médica, 
e temia o seu mau-uso, que fosse aplicado de forma indevida. Definido isso, busca-
se agora um conceito para a bioética. 
É interessante fazer um apontamento neste sentido. No 
período da década de setenta, houve o surgimento das histórias em quadrinhos, as 
“revistinhas” nos Estados Unidos, e nesta época, existiam autores que faziam 
referências à experimentos do governo americano aos soldados. É o caso do 
personagem “Wolverine”, famoso por compor o grupo de mutantes X-Men. Pode 
parecer inapropriado este comentário em um trabalho acadêmico, entretanto, as 
pessoas manifestavam seu temor de formas diferentes. Alguns criavam doutrinas, 
com embasamento legal, enquanto outros transformavam a situação em 
entretenimento. 
Referente ao conceito de bioética pode-se inicialmente aludir 
que o mesmo está relacionado com a própria palavra, como os autores pesquisados 
fazem menção e são referenciados no próximo tópico. 
 
1.2.2 Conceito 
O termo bioética, literalmente, significa ética da vida. O 
vocábulo de raiz grega bios designa o desenvolvimento observado nas ciências da 
 
48
 GALVÃO, Antônio Mesquita. Bioética: a ética a serviço da vida: uma abordagem multidisciplinar 
p. 55. 
49
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas. São Paulo: Idéias e Letras. p.117. 
 
 
25
vida, como a ecologia, a biologia e a medicina, dentre outras. Ethos busca trazer à 
consideração os valores implicados nos conflitos da vida. 50 
Concorda Kuramoto, discorrendo que a palavra ética tem 
origem grega, da palavra éthiké, e bio também vem do grego, especificamente da 
palavra bíos, a qual significa vida. Portanto, constata-se que é a ética da vida. 51 
Galvão advoga que a melhor maneira de entender uma 
palavra, é buscando o significado etimológico. Assim como Kuramoto, Galvão afirma 
que bio e ética são palavras advindas das expressões gregas, bios e éthicos, 
verificando que é uma vida seguida de modo ético. 52 
Segre declara de forma semelhante, que seria a parte da ética 
preocupada com a vida, na qual a vida seria o principal objeto de estudo, e 
envolvendo todos os seus aspectos, desde o nascimento, desenvolvimento, até a 
morte. 53 
Mesmo com este conceito firmado a partir da etimologia da 
palavra, a maioria dos autores destaca o conceito que consta na Encyclopedia of 
Bioethics. Na obra de Diniz, colhem-se dois conceitos operacionais, o primeiro do 
ano de 1978, que descreve a bioética como “o estudo sistemático da conduta 
humana no campo das ciências da vida e da saúde, enquanto examinada à luz dos 
valores e princípios morais”. Já em 1995, passou a referir-se a ela como “estudo 
sistemático das dimensões morais das ciências da vida e do cuidado com a saúde, 
utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar”. 54 
Na introdução à segunda edição da Enciclopédia de Bioética 
encontra-se o termo bioética definido como: 
 
50
 PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C.P. Problemas atuais de Bioética. 
51
 KURAMOTO, J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões. Londrina: UEL, 2000. P. 28. 
52
 GALVÃO, Antônio Mesquita. Bioética: a ética a serviço da vida: uma abordagem multidisciplinar, p. 
53. 
53 SEGRE, M. Definição de Bioética e sua relação com a ética, deontologia e diceologia In: SEGRE, 
M. e COHEN, C. (orgs). Bioética. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. p.23. 
54
 DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito, p. 10. 
 
 
26
[...] o estudo sistemático das dimensões morais, incluindo a visão, a 
decisão, a conduta e as normas, das ciências da vida e da saúde, 
utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto 
interdisciplinar. 55 
Portando, constata-se que a definição de bioética envolve um 
processo de confronto entre os fatos biológicos e os valores humanos na tomada de 
decisões envolvendo os problemas práticos em diferentes áreas da vida, como na 
assistência médico-sanitária: 
[...] cobra todo su sentido la definición de la bioética como el proceso 
de contrastación de los hechos biológicos con los valores humanos, 
a fin de globalizar los juicios sobre las situaciones y de esa forma 
mejorar la toma decisiones, incrementando su corrección y su 
calidad. Una área particular de la bioética sería la bioética sanitaria o 
bioética clínica, que en consecuencia se podría definir como la 
inclusión de los valores en la toma de decisiones sanitarias, a fin de 
aumentar su corrección y su calidad56. 
Como toda forma de instrumento ético, são necessários 
princípios para a sua utilização. Para tanto, adiante serão abordados os princípios 
bioéticos e o seu surgimento. 
 
1.2.3 Princípios Bioéticos 
A bioética surgiu com Potter, mas quem é responsável pelo seu 
polimento são Childress e Beauchamps. 
Sgreccia afirma que T.L. Beauchamps e J.F. Childress 
publicaram uma obra chamada de Principles of Biomedical Ethics. Nesta obra são 
citados princípios a serem seguidos para a boa aplicação da bioética, para suprir a 
preocupação que Potter mencionou. 57 
No mesmo entendimento, Santos pontua que os filósofos Tom 
L. Beauchamps e James F. Childress, na obra Princípios da Ética Biomédica, 
 
55
 REICH, W.T. (org.). Bioethics Enciclopedya. 1995. In: PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C.P. 
Problemas atuais de Bioética. 6. ed. São Paulo: Loyola; 2002. [s.p.]. 
56
 GRACIA D. Bioética clínica. Santa Fé de Bogotá: El Buho; 1998, p. 30. 
57
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 166. 
 
 
27
determinaram quatro princípios, Beneficência, Não-Maleficência, Autonomia e 
Justiça.58 Kipper, Oselka e Ayer, narram que os filósofos citados acima 
estabeleceram métodos para análise dos problemas que surgiam.59 
Clotet e Kipper complementam o estudo, argumentando que os 
princípios também vieram para que houvesse harmonia na solução dos conflitos, 
como, por exemplo, no caso de doação de órgãos e laqueadura de trompas. 60 
Verifica-se, portanto, que a bioética é principialista, uma ética 
de princípios, como exprime Kuramoto. 61 Constatado isto, os referidos princípios 
passam a ser estudados. 
 
1.2.3.1 Princípio da Beneficência 
Kuramoto trata do princípio da beneficência, alegando que a 
expressão tem origem latina, da palavrabonum facere, ou fazer o bem, no caso em 
tela, ao paciente. Este princípio faz referência ao juramento hipocrático dos médicos, 
de tratar bem os pacientes, os fazendo o bem. 62 
Clotet e Kipper seguem a mesma linha de pensamento ao 
definir o princípio da beneficência, argumentando que o médico deve ser 
benevolente quanto ao paciente. 63 Os autores ainda complementam seu ponto de 
vista, fazendo referência ao Relatório Belmont, na qual o princípio da beneficência é 
visto de duas maneiras: a princípio de não lesionar, e por fim, trazer o maior número 
 
58
 SANTOS, M. C. C. L. O equilíbrio de um pêndulo: bioética e a lei: implicações médico-legais, 
p.42. 
59
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas, p. 118. 
60
 CLOTET, J.; KIPPER, D. J. Princípios da beneficência e maleficência. In: COSTA, S. I., OSELKA, 
G.; GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho federal de Medicina, 1998, p. 
41. 
61
 KURAMOTO, J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões, p. 28. 
62
 KURAMOTO, J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões, p. 31. 
63
 CLOTET, J.; KIPPER, D. J. Princípios da beneficência e maleficência. In: COSTA, S. I., OSELKA, 
G.; GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho federal de Medicina, p.42. 
 
 
28
de benefícios possíveis.64 
Sgreccia refere-se ao princípio da beneficência chamando-o de 
princípio do benefício. No mesmo viés que os autores citados, fala da origem do 
princípio no juramento hipocrático, da palavra ser originada do latim. Todavia, traz 
ainda uma nomeação diversa ao princípio, ao chamado de “princípio de não 
malefício”, percebendo-se que o autor não faz distinção entre os princípios da 
beneficência e não-maleficência. Ademais, esclarece que o referido princípio está 
relacionado com um tratamento benevolente ao paciente. 65 
Kipper, Oselka e Ayer argumentam, assim como Clotet e 
Kipper, que o princípio da beneficência envolve duas ações, fazer o bem e prevenir 
o mal, pois é decorrente de uma obrigação moral com o paciente de beneficiá-lo. 66 
Constata-se que o conceito e aplicação do referido princípio 
tem descrição similar, senão idêntica, entre os autores mencionados, o qual seria 
fazer o bem. 
 
1.2.3.2 Princípio da Não-Maleficência 
Kuramoto argumenta que o princípio da não-maleficência seria 
também decorrente do juramento hipocrático, de ajudar, ou ao menos não agravar a 
situação. A palavra tem origem no latim, de primun non nocere, não fazer o mal, não 
lesionar. 67 
Clotet e Kipper ao esclarecerem o princípio da não-
maleficência, também mencionam o juramento hipocrático, e reafirmam que a 
palavra em origem no vocábulo latino primum non nocere. Sustentam ainda que o 
 
64
 COSTA CLOTET, J.; KIPPER, D. J. Princípios da beneficência e maleficência. In: COSTA, S. I., 
OSELKA, G.; GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho federal de Medicina, 
1998, p. 45. 
65
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica,1996, p. 167. 
66
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas. São Paulo: Idéias e Letras.P. 120. 
67
 KURAMOTO, J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões. Londrina: UEL, 2000.P. 31. 
 
 
29
referido princípio envolve uma abstenção, uma inação por parte do profissional. 68 
Kipper, Oselka e Ayer advogam que o princípio da não-
maleficência obriga o médico a não lesionar o paciente, e ainda pontua que, 
especialmente na medicina, os riscos de causar danos ao paciente são grandes, por 
negligência. 69 
Verifica-se que os autores, assim como no princípio anterior, 
possuem entendimento uniforme quanto a este. Entretanto, existem relatos que, 
desde que o juramento hipocrático foi adotado pela comunidade médica, há aqueles 
que não o respeitam, por inúmeras razões. Entre elas, está o fato de acreditarem 
que, o sacrifício de uma pessoa, para salvar outras, pode ser justificado, 
desrespeitando o juramento e os princípios evidenciados. O tema foi abordado no 
filme alemão “Anatomia”, em que uma estudante de medicina depara-se com 
membros da Sociedade Anti-Hipocrática, a qual realiza experimentos em seres-
humanos para estudá-los. 
 
1.2.3.3 Princípio da Autonomia 
A palavra autonomia tem aplicação abrangente, já que é 
empregada tanto no ordenamento jurídico, quanto na bioética, como princípio. No 
espaço jurídico, Kretz faz a seguinte colocação: 
A autonomia da vontade, como princípio no ordenamento jurídico, 
toma contornos diversos. Vários autores têm se posicionado pelo uso 
da terminologia “autonomia privada”, uma vez que esse princípio se 
encontra intimamente ligado à idéia de relação jurídica, negócio 
jurídico e direito contratual. Essa questão de divergência, quanto à 
nomenclatura, se deve a si próprio posicionamento adotado pelos 
doutrinadores, isto é, quem prefere a expressão “autonomia da 
vontade”, defendem a Teoria da Vontade.70 
Já Kuramoto ao se referir ao princípio da autonomia no âmbito 
 
68
 CLOTET, J.; KIPPER, D. J. Princípios da beneficência e maleficência. In: COSTA, S. I.; OSELKA, 
G.; GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho federal de Medicina, p.47. 
69
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas, p. 119. 
70
 KRETZ, A. Autonomia da Vontade e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais. 
Florianópolis: Momento Atual, 2005, p. 5 e 6. 
 
 
30
da bioética, pontua que a palavra tem origem grega, de autos e nomos, eu e lei, 
contatando-se que trata da vontade da pessoa de criar seu próprio código de 
conduta, de ser seu próprio governo, e fazer suas próprias escolhas, atuar da forma 
que entender melhor. 71 
Muñoz e Fortez, da mesma maneira de Kuramoto, referem-se 
ao princípio da autonomia aludindo à sua origem dos vocábulos gregos autos e 
nomos, uma lei própria. Neste sentido, argumentam que, quando há apenas uma 
linha a ser seguida, não há autonomia, pois a pessoa não tem opção de exercício do 
princípio. 72 
Sgreccia discorre que o referido princípio trata da consolidação 
das prerrogativas das pessoas, de escolherem, de se auto-determinar. O doutrinador 
faz menção à relação entre o médico e o paciente, no sentido que o médico deve 
indicar o melhor tratamento para curar a moléstia que atinge seu paciente, mas cabe 
somente ao paciente aceitar ou não o tratamento. Há, entretanto, exceções, nos 
casos de tratamento psiquiátricos, em que é necessária intervenção pelo bem do 
paciente, mas, estando ele em função de suas faculdades mentais, deve optar o 
caminho a percorrer. 73 
Kipper, Oselka e Ayer pontuam que o princípio da autonomia 
está relacionado com a capacidade da pessoa identificar o que lhe trará maior 
benefício. Neste sentido, assim como Sgreccia, fazem uma observação, que a 
pessoa deve racionalizar o seu problema, para poder tomar a melhor decisão, além 
de ter alternativas para escolher entre as mesmas. 74 
Atualmente, constata-se que muitas pessoas recusam-se a 
tratar-se das moléstias que as atacam, seja um câncer, ou até um quadro de 
diabetes. Nestes casos, o princípio da autonomia da pessoa evidencia-se. 
 
71
 KURAMOTO,J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões. p. 31. 
72
 MUNÕZ, D. R.; FORTES, P. A. C. O princípio da autoomia e o consentimento livre e esclarecido. 
In: COSTA, S. I., OSELKA, G.; GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho 
federal de Medicina, 1998, p.57. 
73
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 167. 
74
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas, p. 120. 
 
 
31
1.2.3.4 Princípio da Justiça 
Assim como o vocábulo autonomia, a palavra justiça tem significação 
ampla, sendo que se registram manifestações de filósofos como Aristóteles quanto 
ao tema. Na filosofia Aristotélica a Justiça é elencada como a virtude principal. 
Aristóteles desdobra a justiça particular em dois tipos: a distributiva e a corretiva. A 
justiça distributiva é exercida pelo legislador, ou seja, na distribuição da honra, 
riqueza e demais bens da comunidade. Já a justiça corretiva é exercida pelo juiz ao 
aplicar punições aos delinqüentes quando da solução de litígios. O desenvolvimento 
de seu pensamento filosófico encontra fundamento na idéia de igualdade 
proporcional, uma vez que não existe igualdade nem na natureza e nem entre os 
homens. 75 
No âmbito da bioética, Kuramoto discorre sobre o princípio da 
justiça, destacando que, quando se trata de distribuir os recursos sanitários, isto 
deve ser feito de forma justa e imparcial. 76 
Sgreccia esclarece que o princípio da justiça está agregado à 
distribuição de tratamento de forma igual pelo Estado, ou seja, todos possuem os 
mesmos direitos, e por isto, devem ser tratados de forma igual. 77 
Santos argumenta que o princípio da justiça obriga ao Estado a 
distribuir de forma justa os serviços médicos, ou da área da saúde. Mesmo que as 
pessoas sejam diferentes, devem ser tratadas de forma igual. 78 
Kipper, Oselka e Ayer descrevem o princípio, como a maioria 
dos autores, de forma a tratar as pessoas de forma igual, e faz uma importante 
colocação. Em decorrência da dificuldade de todos terem acesso à saúde de forma 
uniforme, surge, por isso um conflito sobre a distribuição, à população, de 
 
75
 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Nova Cultural, 1996. (Coleção os Pensadores). 
76
 KURAMOTO, J. B. Bioética e Direitos Humanos. In: SIQUEIRA, J. E. de; PROTA, L.; 
ZANCANARO, L. (orgs.). Bioética: estudos e reflexões, p. 32. 
77
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica,1996, p. 167. 
78
 SANTOS, M. C. C. L. O equilíbrio de um pêndulo: bioética e a lei: implicações médico-legais, p. 
45. 
 
 
32
assistência médica. 79 
Basta ler um jornal, ou assistir algum noticiário para verificar 
que o sistema de saúde brasileiro ainda é precário e as pessoas custam a ter 
acesso ao mesmo. Mesmo sendo uma prerrogativa constitucional, nem sempre há 
cumprimento da mesma. 
 
1.2.4 Divisão da Bioética 
A bioética pode ser dividida quanto aos seus campos de 
atuação ou a situação de aplicação. 
Sgreccia narra que a bioética é dividida em três categorias: 
geral, especial e clínica. A bioética geral está relacionada basicamente com a 
legislação, no sentido de delimitação. A bioética especial preocupa-se com as 
“novidades” na medicina, dentre elas, a engenharia genética e a experimentação 
clínica. Por fim, a bioética clínica, ou de decisão, agrega as situação médicas 
práticas, e decide quais caminhos, ou neste caso, princípios a adotar, uma forma de 
utilização de critérios. 80 
Já Garrafa divide a bioética conforme sua situação, sendo ela 
emergente ou persistente. A bioética de situação emergente é similar com a bioética 
especial definida por Sgreccia, pois aborda o desenvolvimento desenfreado da área 
médica, como a clonagem e o projeto genoma humano. Já a bioética de situação 
persistente aborda a situação das pessoas que não conseguem ter acesso aos 
recursos médicos de forma igualitária. 81 
 
 
 
79
 KIPPER, D. J.; OSELKA, G. W.; AYER, R. Bioética Clínica. In: ANJOS, M. F. dos; SIQUEIRA, J. E. 
de (orgs.) Bioética no Brasil: tendências e perspectivas, p. 122. 
80
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 46. 
81
 GARRAFA, V. Bioética e ciência: até onde avançar sem agredir. In: COSTA, S. I., OSELKA, G.; 
GARRAFA, V. (coords.). Iniciação à Bioética. Brasília: Conselho federal de Medicina, 1998, p. 100. 
 
 
33
1.3 RELAÇÃO DIREITO E BIOÉTICA 
Até o presente momento, verifica-se que a bioética é a ética da 
vida, ou seja, o conjunto de regras para todos os seres que habitam nosso planeta 
viverem em harmonia. Neste sentido, para o fechamento do presente capítulo, é 
importante identificar como a bioética interage com o Direito. 
A bioética em seu sentido estrito ou seja, a ética relacionada com as 
novas conquistas biotecnológicas, abrangente, estão, de questões 
como manipulação genética, reprodução assistida, transexualidade, 
manutenção da vida artificial, eutanásia [...] somente o limitado 
âmbito de problemas delas decorrentes já é o suficiente para impor 
ao direito uma modificação substancial. 82 
Galvão sustenta que por muito tempo, o médico era visto como 
um semi-Deus, pois era uma pessoa que trazia segurança às pessoas, 
principalmente em momentos ruins, em que alguém se encontrava doente, 
precisando de assistência. Nesta época, existiam poucos médicos e poucas 
faculdades de medicina. Com o decorrer do tempo, o aumento de faculdades de 
medicinas e o fato de as pessoas buscarem conhecimento específico e geral 
mediante a educação, os pacientes e seus familiares começaram a questionar as 
condutas médicas, alternando entre profissionais. 83 
No mesmo sentido, Sgreccia faz alusão à teologia, afirmando 
que o médico era tido como “servidor dos sofredores”, sendo o “Christus servus”, e o 
paciente sendo o “Christus patiens”. Nesta colocação, o médico é o servo de Cristo, 
cuidando dos pacientes, estando obrigado a cuidar dos doentes. 84 
Galvão ainda sustenta que, especificamente na década de 
oitenta, tornaram-se públicas denúncias, feitas pela bioética, contra médicos por 
mau-exercício da sua profissão. Neste viés, surge o biodireito, que busca a 
aplicação do direito mediante a utilização da bioética. O autor aduz que o biodireito 
está inserido na bioética, e que existem operadores do direito dedicados a este 
campo, tendo em vista o número de denúncias contra médicos e profissionais da 
 
82
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 98. 
83
 GALVÃO, Antônio Mesquita. Bioética: a ética a serviço da vida: uma abordagem multidisciplinar, p. 
156. 
84
 SGRECCIA, Elio. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 39. 
 
 
34
área da saúde.85 
Coan no mesmo sentido que Galvão, acresce que o biodireito é 
uma disciplina que envolve direitos da quarta geração, que estão evidenciados pelo 
acelerado desenvolvimento da biomedicina. O autor ainda afirma que é um campo 
polêmico, pois aborda a responsabilidade do profissional da saúde. 86 
Para encerrar este capítulo, a contribuição de Carlin, o qual 
complementa que um dos objetivos do político-jurídico é preencher a lacuna 
legislativa existente, buscando uma norma melhor em busca de uma sociedade 
melhor, onde todos possam ter direito a uma vida digna e utilizar-se dos avanços 
médico-científicos que lhes são ofertados diariamente. Na realidade, a consciência 
jurídica é um fenômeno em constante evolução, sendo que o papel reservado a este 
direito deverá ser, sem dúvida realizador dos valoressociais, mas a partir de um 
interagir dialético com a Bioética. 87 
E, alude ainda o autor que a reflexão bioética enquanto 
reconhecimento do valor ético da vida humana, assume impressionante atualidade 
em virtude dos avanços das ciências biomédicas, o que significa dizer que a reflexão 
bioética, com seu anunciado compromisso democrático, nada mais é do que lidimo 
resultado da incorporação social dos direitos humanos de terceiras e quartas 
gerações. Com efeito a reflexão bioética é decorrência da crise de confiança cega 
na ciência, como se tudo o que se faz em seu nome necessariamente se resolve em 
vantagem para o homem. A ética é a ordenação destinada a conduzir o homem de 
acordo com uma hierarquia de bens, uma tábua de valores, um sistema axiológico 
de referência. “É a ordenação ideal para a atividade livre do ser humano. 88 
Portanto, constata-se que a bioética terá cumprimento 
mediante o biodireito, sendo que os dois estão estritamente interligados. A bioética 
 
85
 GALVÃO, Antônio Mesquita. Bioética: a ética a serviço da vida: uma abordagem multidisciplinar, p. 
157 . 
86 COAN, E. I. Biomedicina e biodireito: desafios bioéticos: traços semióticos para uma hermenêutica 
constitucional fundamentada nos princípios da dignidade da pessoa humana e da inviolabilidade do 
direito à vida. In: SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite. Biodireito: ciência da vida, os novos 
desafios. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p.247. 
87
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 113. 
88
 CARLIN, Volnei Ivo. Ética e Bioética: novo direito e ciências médicas, p. 119-123. 
 
 
35
apresenta princípios e a preocupação com a vida, e o biodireito serve para auxiliar a 
bioética, pois é o campo jurídico de discussão dos problemas bioéticos. 
Neste viés, no capítulo seguinte são abordados os tipos de 
sexo, identidade sexual, condições sexuais, além de direcionar o estudo ao 
transexualismo, objeto principal deste trabalho. 
 
 
36
CAPÍTULO 2 
SEXUALIDADE, IDENTIDADE DE GÊNERO E SEXO 
De maneira tradicional, a relação entre sexualidade, identidade 
e sexo, constituintes da identidade, tem sido considerada em uma seqüência lógica 
onde a um sexo físico-biológico correspondem um determinado comportamento de 
gênero e uma maneira específica de vivência da sexualidade. Ou, conforme salienta 
Louro (2004): “A coerência e a continuidade supostas entre sexo-gênero-
sexualidade servem para sustentar a normatização da vida dos indivíduos e das 
sociedades.”89 
 
2.1 A SEXUALIDADE SOB DIFERENTES OLHARES 
Na era vitoriana90 a sexualidade era abordada como prática 
legítima na família conjugal, mais exatamente no quarto dos pais, com a única 
função da reprodução. Não era concebida como tema de discursos e, de acordo 
com Giddens (1993), a sexualidade foi censurada e não foi um segredo aberto, 
representado, analisado ou avaliado junto à população. 
De acordo com Foucault, a sexualidade passou a ser 
enquadrada numa nova ordem discursiva, a partir da sua institucionalização, por 
meio dos diferentes mecanismos sociais91. O autor, contribui, retratando bem o 
comportamento sexual da época: 
Um rápido crepúsculo se teria seguido à luz meridiana, até as noites 
monótonas da burguesia vitoriana. A sexualidade é, então, 
 
89
 LOURO, G. L. Um corpo estranho: Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2004, p. 78. 
90
 O período entre os anos de 1837 e 1901 na Grã-Bretanhã, referente ao reinado da rainha Vitória, 
ficou conhecido como Era Vitoriana, uma época de grande avanço econômico e consolidação do 
Império colonial britânico. (FLORES; VASCONCELOS, 2000). 
91
 FOUCAULT, M. A história da sexualidade. 1993. 
 
 
 
37
cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família 
conjugal a confisca. E absorve-a, inteiramente, na sociedade da 
função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala. O casal, legítimo e 
procriador, dita a lei [...]. E se o estéril insiste, e se mostra 
demasiadamente, vira anormal: receberá este status e deverá pagar 
as sanções92. 
Atualmente, a sexualidade ultrapassou a intimidade do quarto e 
ganhou as ruas, os outdoors e as bancas de jornal. Faz parte do cotidiano das 
pessoas e é consumida no decorrer das horas, no rádio do carro, na televisão das 
casas, na Internet, nos jornais e nas revistas. Tornou-se um grande espetáculo para 
ser visto e consumido, tendo a mídia como sua grande difusora. Esta veicula 
simultaneamente campanhas educativas e imagens eróticas, reunindo um conjunto 
de informações que ambiguamente atende a transformações socioculturais e 
aprofunda estereótipos. A mídia veicula, ainda, corpos esculturais, padrões de 
relacionamento e de beleza e fórmulas de prazer e de felicidade, transformando 
pessoas e sentimentos em mercadorias, em resposta ao mercado publicitário. 
Sendo assim, frente a tanta publicidade, a sexualidade 
continua representando um desafio, questionamentos e debates entre autores em 
termos de forma e conteúdo, visualizando a promoção da saúde reprodutora dos 
indivíduos. 
No entanto, pode-se afirmar que em nossa sociedade o tema 
sexualidade persiste envolto em mistérios e tabus, pois, “Os conceitos atuais sobre 
sexualidade ainda guardam consigo a essência de gerações anteriores, carregados 
de mitos e crenças”93. O que representa um verdadeiro atraso, frente a um tema tão 
relevante, carente de clara discussão entre adultos e, principalmente entre os 
adolescentes. 
Teoricamente, a sexualidade assim como se conhece, inicia-se 
juntamente à puberdade ou adolescência, o que deve ocorrer por volta dos 12 anos 
de idade (Art. 2º - Estatuto da Criança e do Adolescente). Entretanto, em prática, 
sabe-se que não se configura exatamente desta forma. 
 
92
 FOUCAULT, M. A história da sexualidade, p. 9. 
93
 JESUS, M.C.P. de. Educação Sexual e compreensão da sexualidade na perspectiva da 
enfermagem. In: RAMOS, F.R.S., et al. Projeto adolescer: um encontro de enfermagem com o 
adolescente brasileiro. Brasília: ABEn, 2000, p.47. 
 
 
38
Para a maioria das pessoas, falar de sexualidade remete 
imediatamente ao ato sexual e à reprodução. Mas a sexualidade é muito mais 
abrangente. Pode ser definida como uma forma de expressão dos afetos, uma 
maneira de cada indivíduo se descobrir e descobrir os outros. A sexualidade engloba 
a identidade sexual (masculina e feminina); os afetos e a auto-estima; as alterações 
físicas e psicológicas ao longo da vida; o conhecimento anatômico e fisiológico do 
homem e da mulher; a higiene sexual; a gravidez, a maternidade e a paternidade; 
métodos anticoncepcionais; doenças sexualmente transmissíveis; os transtornos 
sexuais, entre outros. 
Declara Gherpelli que quando se fala de sexualidade, 
pressupõe-se falar de intimidade, uma vez que ela está estreitamente ligada às 
relações afetivas. A sexualidade é um atributo de qualquer ser humano. Mas para 
ser compreendida, não se pode separá-la do indivíduo como um todo. Ela é parte 
integrante e intercomunicante de uma pessoa consigo mesma e para com as outras. 
Portanto, é muito mais do que simplesmente ter um corpo desenvolvido ou em 
desenvolvimento, apto para procriar e apresentar desejos sexuais. 94 
Trata-se, também, de uma forma peculiar que cada indivíduo 
desenvolve e estabelece, para viver suas relações pessoais e interpessoais a partir 
de seu papel sexual. Daí pode-se afirmar que a sexualidade é um instrumento 
relacional importante, embora não seja o único. 
E, ainda afirma a autora que a sexualidade não é um fato 
isolado, mas é moldada e expressa concretamente nas relações que o sujeito 
estabelece, desde a mais tenra idade,consigo mesmo e com os outros. 95 
Assim, de acordo com o conceito contemporâneo, a 
sexualidade é uma experiência individual regida por diferentes desejos e condutas 
que a tornam um processo absolutamente pessoal e natural. A forma como cada 
indivíduo se percebe como um ser sexual é intrínseca à sua natureza e não pode ser 
 
94
 GHERPELLI, Maria Helena Brandão Vilela. A Educação Preventiva em Sexualidade na 
Adolescência. Série Idéias n. 29, São Paulo: FDE, 1996. Disponível em: <http://www. crm 
ariocovas.sp.gov.br/eds_a.php?t=002>. Acesso em: 4.maio de 2009. 
95
 GHERPELLI, Maria Helena Brandão Vilela. A Educação Preventiva em Sexualidade na 
Adolescência. 
 
 
39
modificada por fatores externos como a moral, a religião e a imposição de papéis 
sexuais, sem que isto resulte em grande sofrimento e angústia. 
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a sexualidade 
representa “[...] um aspecto central do bem estar humano, do começo ao fim da vida, 
envolvendo sexo, identidade de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, 
intimidade e reprodução.” 96 
Vitiello define a sexualidade como: 
A sexualidade, entendida a partir de um enfoque amplo e 
abrangente, manifesta-se em todas as fases da vida de um ser 
humano, tendo na genitalidade (coito) apenas um de seus aspectos, 
talvez nem mesmo o mais importante. A sexualidade permeia todas 
as manifestações humanas. 97 
Em suma, como se afirmou inicialmente, nos últimos anos tem-
se falado muito no assunto. Criaram-se diversas teorias, realizaram-se vários 
estudos, e o tema conquistou um espaço fantástico nos jornais e revistas. No 
entanto, toda esta publicidade ocasiona, muitas vezes, uma idealização da vida 
sexual, dando a falsa impressão de que existe uma fórmula única de viver 
plenamente a sexualidade, um padrão sexual, um modelo estruturado ao qual todos 
os indivíduos devem se adaptar. E, desse modo, inverte-se o ritmo natural das 
coisas. 
Porém, conforme Gherpelli, seja qual for a sua visão íntima 
sobre o assunto, é interessante que se possa manter uma relação de compreensão 
e aceitação de sua própria sexualidade. O esclarecimento de dúvidas e a 
capacidade de se sentir a vontade com seus desejos e sensações, colabora 
imensamente ao amadurecimento desta, o que gera sensação de conforto e evita 
conflitos internos provenientes de dúvidas e medos, gerando uma experiência 
positiva e saudável. E, ainda complementa a autora declarando que a sexualidade 
existe para servir ao indivíduo e não o contrário, o indivíduo para viver a serviço da 
sexualidade. Até parece que ela é o seu objetivo de vida e não uma conseqüência 
 
96
 LIMA, Junia Dias de. O Despertar da Sexualidade na adolescência. In: PEREIRA, José Leopídio; et 
al. (org.). Sexualidade na adolescência no novo milênio, p.15. 
97
 LIMA, Junia Dias de. O Despertar da Sexualidade na adolescência. In: PEREIRA, José Leopídio; et 
al. (org.). Sexualidade na adolescência no novo milênio, p.15. 
 
 
40
natural de seu desenvolvimento como ser humano. 98 
Cano, Ferriani e Gomes, afirmam que a sexualidade é um dos 
importantes aspectos da adolescência, enfatizando que é nessa fase da vida do ser 
humano que a identidade sexual está se formando99, sobre a qual se disserta a 
seguir. 
 
2.2 IDENTIDADE DE GÊNERO OU SEXUAL 
Tem-se a noção de gênero o entendimento de relações 
estabelecidas a partir da percepção social das diferenças biológicas entre os 
sexos100, sendo essa percepção, por sua vez, fundada em esquemas classificatórios 
que opõem masculino/feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a 
outras: forte/fraco; grande/pequeno; acima/abaixo; dominante/dominado. 101 
Prossegue o autor complementando que essas oposições são 
hierarquizadas, cabendo ao pólo masculino e seus homólogos a primazia do que é 
valorizado como positivo, superior. Essas oposições/hierarquizações são arbitrárias 
e historicamente construídas. Assim, 
[...] a divisão entre os sexos parece estar na ordem das coisas [...] 
ela está presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado [...] em 
todo o mundo social, e em estado incorporado, nos corpos e nos 
habitus dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de 
percepção, de pensamento e de ação. 102 
Silva discorre sobre a identidade de gênero ou sexual 
afirmando que a mesma não tem necessariamente ligação com o sexo gonádico, ou 
 
98
 GHERPELLI, Maria Helena Brandão Vilela. A Educação Preventiva em Sexualidade na 
Adolescência. Série Idéias n. 29, São Paulo: FDE, 1996. Disponível em: <http://www. crm 
ariocovas.sp.gov.br/eds_a.php?t=002>. Acesso em: 4.maio de 2009. 
99
 CANO, Maria Aparecida Tedeschi; FERRIANI, Maria das Graças Carvalho; GOMES, Romeu. 
Sexualidade na adolescência: um estudo bibliográfico. Revista Latino-Am. Enfermagem, v. 8, n. 2. 
Ribeirão Preto, abr. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
11692000000600019&script=sci_arttext&tlng= pt >. Acesso em: jun./2009. 
100
 SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, 
v.20, n.2, p. 71-99, jul./dez. 1995. 
101
 BOURDIEU, P. A dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999. 
102
 BOURDIEU, P. A dominação masculina. 1999. p. 17. 
 
 
41
endócrino, ou até mesmo morfológico. A autora exprime que a identidade de gênero, 
ou sexual, possui elementos conscientes ou inconscientes, ou seja, influência 
psicológica, além de ser interligada com as características físicas da pessoa. 
Verifica-se que a identidade de gênero será compreendida por fatores internos e 
externos. 103 
Peres continua esta linha de pensamento, sustentando que a 
identidade de gênero será responsável em identificar a pessoa em homem ou 
mulher, pois a própria sociedade tem necessidade de rotular as pessoas, seus atos 
e suas funções. Desta forma, o que não se enquadra neste conjunto será excluído, 
porque não é bem visto. 104 
Erikson pontua que isto é importante para a sociedade, pois 
assim haverá a manutenção da ordem, já que cada um saberá o seu papel social, 
não havendo uma confusão. O autor ainda destaca que os questionamentos quando 
à identidade de gênero ocorre durante a puberdade, pois é durante esta fase de 
formação intelectual que a pessoa adquire um comportamento próprio, que pode ser 
alterado, mas que é necessário, pois não encontrar ou adquirir um papel, será 
causador de angústia à pessoa. 105 
Todavia, verifica-se atualmente que estas identificações de 
gênero não são necessariamente confiáveis, pois a sociedade é um ente mutável, e 
os papéis das pessoas mudam, pois aquilo que é visto como feminino e masculino 
não quer dizer que seja necessariamente ligado ao sexo da pessoa. Vemos 
atualmente que, com o movimento feminista, os papéis femininos mudaram, todavia, 
o seu sexo continua o mesmo, da mesma forma que os papéis masculinos 
mudaram. 
Por exemplo, se vê que as mulheres exercem papéis antes 
vistos como masculinos, de chefia de empresas ou de lares, papel anteriormente 
ocupado por homens, enquanto as mulheres eram objeto de domínio masculino. Na 
 
103
 SILVA, M. de C. A. Identidade de gênero e expressão sexual masculina e feminina. Scientia 
Sexualis – Revista do Mestrado em Sexologia da Universidade Gamão Filho, Rio de Janeiro, v.3, n. 
2, p. 80, dez 1997. 
104
 PERES, A. P. A. B. Transexualismo, o direito a uma nova identidade sexual. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2001. p.91 
105
 ERIKSON, E. H. Identidade Juventude e Crise. 2. ed. Tradução por Álvaro Cabral. Rio de 
Janeiro: Guanabara, 1987, p. 186. 
 
 
42
mesma linha, percebe-se que alguns homens sentem-se ameaçados por esta 
mudança,enquanto outros não têm dificuldades em compartilhar o espaço, pois 
percebem que as mudanças sociais são infreáveis. 
Estas colocações são importantes para este trabalho, pois o 
transexual encontra-se em um vácuo sexual, pois possuem sexo dominantemente 
masculino, por exemplo, mas tem identidade de gênero feminina, o que acarreta 
como Erikson expressou, uma profunda angústia no ser. Ou seja, não são nem uma 
coisa nem outra. 
Por fim, entender as relações de gênero como fundadas em 
categorizações presentes em toda a ordem social, permite compreender não 
somente a posição das mulheres, em particular, como subordinada, mas também a 
relação entre sexualidade e poder. A sexualidade, longe de ser um “domínio da 
natureza” é considerada aqui como um “fato social” enquanto condutas, como 
fundadora da identidade e como domínio a ser explorado cientificamente. 106 
A sexualidade é perpassada por aqueles esquemas de 
classificação, fundados na oposição e hierarquização entre masculino/feminino, a 
partir da oposição entre ativo/passivo, o que estabelece uma ligação entre 
sexualidade e dominação: as imagens, o vocabulário e as significações mobilizadas 
em cada sociedade para evocar as relações sexuais são, em todos os lugares, 
utilizados para dizer igualmente a dominação de sexo em geral. 107 
A seguir, aborda-se o sexo numa apreciação de equilíbrio entre 
diferentes fatores, e, as síndromes responsáveis por alterações sexuais nos indivíduos. 
2.3 SEXO 
O sexo tem sido um mistério por muito tempo na história da 
 
106
 BOZON, Michel e GIAMI, Alain. Les scripts sexuels ou la mise en forme du désir – présentation de 
l’article de John Gagnon. Actes de la recherche en sciences sociales, Paris, n.128, p.68-72, juin. 
1999. In: ANJOS, Gabriele dos. A sexualidade é política: atuação, identidade e estratégias de 
manutenção de um grupo gay em Porto Alegre. Porto Alegre, 1999. Dissertação (Mestrado em 
Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do 
Sul, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/n4/socn4a11.pdf>. Acess em: 17.09.2009. 
107
 BOZON, Michel e GIAMI, Alain. Les scripts sexuels ou la mise en forme du désir – présentation de 
l’article de John Gagnon. Actes de la recherche en sciences sociales, p. 14. 
 
 
43
evolução humana. Para algumas pessoas, o sexo destina-se somente à procriação, 
para outras é fonte de prazer, decorrente de uma vida saudável. 
Del-Campo afirma que o sexo não pode mais ser abordado, 
senão levando em consideração vários fatores. O autor indica que existem vários 
tipos de sexo: genético, dividindo-se em cromossômico e cromatínico; endócrino; 
morfológico; psicológico e jurídico. 108 
Seguindo o mesmo pensamento que Del-Campo, Maranhão 
exprime que o sexo deve ser visto por vários correntes, sendo resultante de um 
equilíbrio de vários planos, desde o físico até o psicológico. Maranhão ainda divide o 
sexo em: genético; endócrino; morfológico; psicológico e jurídico. 109 
Estabelecido que o sexo abrange vários elementos, parte-se 
para um relato direcionado as diversas classificações que integram o mesmo. 
 
2.3.1 Sexo Genético 
O sexo genético também é denominado sexo genotípico. Para 
Del-Campo, conforme as divisões expressas anteriormente, o sexo genético divide-
se em cromossômico e cromatínico. O autor sustenta que o ser-humano possui 46 
cromossomos, sendo 22 pares autossômicos e um sexual. Neste sentido, o homem 
possui 44 cromossomos A (automossômico), mais um cromossomo XY; enquanto a 
mulher possui 44 cromossomos A (automossômico), mais um cromossomo XX. 
Neste sentido, o XX representa a mulher, e o XY representa o homem, sendo estes 
os cromossomos sexuais. 110 
Maranhão sustenta semelhantemente, entretanto, declara que 
somente após 1961 conclui-se que o ser-humano possui 46 cromossomos, sendo 44 
, ou 22 pares, autossomas e um par sexual. Assim Del-Campo, pontua que os 
homens possuem 44 cromossomos autossomos e dois sexuais, do tipo XY, e as 
 
108
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2007. p. 192. 
109
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 127. 
110
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 192 
 
 
44
mulheres possuem 44 cromossomos autossomos e dois sexuais, do tipo XX. O Autor 
ainda faz referência à reprodução dos seres-humanos, sendo que os óvulos 
possuem carga genética de 22 pares autossomos e um cromosso tipo X; e os 
espermatozóides podem ter fórmula idêntica, ou possuir 22 pares autossomos e um 
cromossomo Y. Se os óvulos e os espermatozóides tiverem fórmula 22 A + X, dar-
se-á origem à uma pessoa do sexo feminino, pelo menos cromossomicamente. Se o 
espermatozóide tiver fórmula 22 A + Y, dar-se-á origem a uma pessoa do sexo 
masculino, cromossomicamente. 111 
Del-Campo ainda discorre sobre o sexo cromatínico, ou sexo 
nuclear. O sexo cromatínico nada mais é do que a presença de um corpúsculo 
cromatínico nas pessoas do sexo feminino. O autor da descoberta deste corpúsculo 
foi Murrey Barr, no ano de 1949, sendo que o corpúsculo também pode ser chamado 
de corpúsculo de Barr, em homenagem ao seu descobridor. 112 
Maranhão também destaca que o sexo cromatínico foi 
descoberto por Murrey Barr, já o mesmo percebeu a presença de uma substância 
nas pessoas do sexo feminino, a qual ele denominou corpúsculo cromatínico ou 
cromatina sexual. O autor ainda aduz que esta substância não é encontrada em 
homens, somente em raros casos, mesmo assim, está sempre presente em pessoas 
do sexo feminino. 113 
Existem certas síndromes que atingem homens e mulheres no 
âmbito cromossômico, as quais os afligem sexualmente, com efeitos físicos. O fato 
de se mencionar estas síndromes é a de que estas podem estar presentes em 
transexuais, objeto ora estudado. Como exemplo de um transexual portador de uma 
destas síndromes, têm-se Lili Elbe, uma pintora famosa do século passado foi umas 
das primeiras pessoas do sexo masculino a realizar procedimentos cirúrgicos para 
modificar o seu sexo morfológico, e era portadora da síndrome de Klinifelter. 114 
Estas síndromes são descritas a seguir. 
 
111
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal, p. 127. 
112
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 193. 
113
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal, p. 128. 
114
 NICOLE KIDMAN SERÁ MULHER TRANSEXUAL EM FILME SOBRE VIDA DE PINTORA 
DINAMARQUESA. Disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/upload/noticia/3_53_74306.shtml>. 
Acesso em: 17.09.2009. 
 
 
45
2.3.1.1 Síndrome de Turner 
Del-Campo esclarece que a síndrome de Turner afeta às 
pessoas do sexo feminino, apesar de as mulheres afetadas não apresentarem a 
cromatina de Barr. Esta síndrome se caracteriza pela presença de apenas 45 
cromossomos, sendo 44 do tipo A, e apenas um do tipo sexual (44 A + X). O autor 
alega que esta síndrome atinge uma a cada três mil mulheres, sendo que as 
mulheres afetadas na maioria são estéreis, seus ovários são atrofiados, possuem 
baixa estatura e não possuem os caracteres secundários desenvolvidos, em 
decorrência da falta de produção do hormônio estrógeno. 115 
Maranhão refere-se à síndrome de Turner como a “síndrome 
de ovário rudimentar”, e re-afirma que as pessoas atingidas são do sexo feminino. 
As características apresentadas pelo autor, referentes à esta síndrome, são 
similares às de Del-Campo: cromossomo de forma 44 + X, amenorréia, mamas 
pouco desenvolvidas, baixa estatura, infantilismo sexual e a pele da face 
aparentemente ficaria com aspecto senil. A cromatina de Barr verifica-se presente, 
apesar de não se assemelharem fisicamente às mulheres sem a síndrome. 116 
 
2.3.1.2 Síndrome de Klinifelter 
Enquantoa síndrome de Turner atinge as mulheres, a 
síndrome de Klinifelter atinge aos homens, na proporção de um a cada quinhentos. 
Cromossomicamente, eles apresentam cariótipos da seguinte forma: 44 A + XXY; ou 
44 A + XXYY; ou 44 A + XXXY; ou 44 A + XXXYY; ou 44 A + XXXXY. Os efeitos 
desta síndromes são o afinamento da voz, estatura elevada e as mamas são 
hipertrofiadas. Quanto ao pênis, ele não é muito desenvolvido, o que não impede 
que o mesmo funcione, podendo ter ereção e ejaculação, apesar de serem estéreis, 
já que os testículos não produzem espermatozóides. Os portadores da síndrome de 
Klinifelter apresentam leve diminuição da capacidade mental. 117 
Da mesma forma que Del-Campo, Maranhão esclarece que os 
 
115
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 194. 
116
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 133. 
117
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 194 
 
 
46
atingidos pela síndrome são os do sexo masculino, cujas bolsas escrotais são 
vazias, e o autor refere-se à expressão hipoplasia118, tanto do pênis quando dos 
testículos, apesar de não apresentarem a cromatina de Barr. Há também associação 
à retardamento mental. 119 
Sgreccia, ao tratar da síndrome de Klinifelter, acresce que a 
referida síndrome é decorrente com um defeito genético, pois o homem terá 47 
cromossomos, ao invés de 46, que é o considerado normal. 120 
Outra classificação pertinente ao sexo trata-se do sexo 
endócrino, conforme segue texto. 
 
2.3.2 Sexo Endócrino 
Maranhão pontua que o sexo endócrino é decorrente das 
glândulas reprodutoras, as chamas gônadas. No homem, ela é representada pelos 
testículos, e nas mulheres é representada pelos ovários. Em se tratando 
estritamente das gônadas, o autor apresenta uma nova categoria de sexo, a do sexo 
gonádico, representado pelas gônadas descritas anteriormente. Quanto ao sexo 
endócrino, os testículos produzem um hormônio chamado andrógeno, ou 
testosterona, enquanto os ovários produzem os hormônios estrogênio e 
progesterona. Estes hormônios são responsáveis pelo desenvolvimento de 
caracteres secundários em homens e mulheres, como o crescimento de pêlos nos 
homens, e o desenvolvimento dos seios nas mulheres. 121 
Tratando também das gônadas, Sgreccia define o sexo 
gonádico de forma semelhante à Maranhão, com fundamento em Ciccarese. O autor 
aduz que enquanto os homens possuem os testículos, as mulheres possuem os 
 
118
 KOOGAN e HOUAIS definem hipoplasia como: insuficiência de desenvolvimento de um tecido ou 
de um órgão. (KOOGAN, A.; HOUAISS, A. Enciclopédia e dicionário ilustrado. 4. ed. Rio de 
Janeiro: Seifer, 2000., p. 824). 
119
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 133. 
120
 SGRECCIA, E. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica. p. 502. 
121
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 129. 
 
 
47
ovários, os quais produzem hormônios para o desenvolvimento corporal. 122 
Classifica-se ainda o sexo em sexo morfológico, como se 
explicita a seguir. 
 
2.3.3 Sexo Morfológico 
Maranhão discorre sobre o sexo morfológico, indicando que ele 
é responsável pela maior distinção entre homens em mulheres, tanto internamente 
quanto externamente. As mulheres possuem ovários, trompas, vagina, útero, 
enquanto os homens possuem pênis, testículos, próstata. E as diferenças não 
atingem somente aos órgãos reprodutivos, mas também ao resto do corpo, como, 
por exemplo, os homens, morfologicamente, possuem um esqueleto mais forte, 
rude, enquanto o esqueleto feminino é mais frágil e gracioso. Há, todavia, exceções 
a regra, que é o caso do intersexuais, ou hermafroditas, que serão conceituados e 
identificados adiante neste estudo. 123 
Quanto ao sexo morfológico, Sgreccia o define de sexo 
fenotípico ou genital, caracterizado pelos órgãos externos e internos, da mesma 
forma que Maranhão. O autor ainda faz referência ao sexo dos canais genitais 
(ductal): os homens possuem o canal de Wolf, enquanto as mulheres possuem o 
canal de Muller, sendo cada um próprio de cada sexo. 124 
Outra classificação ainda de sexo denomina-se sexo 
psicológico, de acordo com texto a seguir. 
 
2.3.4 Sexo Psicológico 
Apesar de, via de regra, homens e mulheres possuírem 
características sexuais físicas do sexo com o qual nasceram, nem sempre isto 
 
122
 SGRECCIA, E. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica, p. 502. 
123
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 130. 
124
 SGRECCIA, E. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica. p. 502. 
 
 
48
corresponde com a sua atitude como indivíduo. Por exemplo, na atual sociedade, 
espera-se que os homens sejam fortes trabalhadores, e com o comportamento rude 
e bruto, apesar de atualmente isto não estar sendo validado. Todavia, ainda é sinal 
de um homem masculino, assim como as mulheres que praticam esportes com 
freqüência e não têm preferências por trajes femininas são vistas com maus-olhos, 
pois a sociedade não espera isto delas. 
Neste viés, Maranhão descreve que o ambiente familiar, a 
cultura e a educação influem neste desenvolvimento.125 Todavia, existem os casos 
em que a pessoa possui uma profunda angústia psíquica, por não sentir-se 
confortável com o seu sexo morfológico, ou seja, não estando de acordo com o sexo 
psicológico. Este quadro será adiante descrito quanto tratar-se do transexualismo. 
E, por fim, a classificação correspondente ao sexo jurídico. 
 
2.3.5 Sexo Jurídico 
Para Maranhão, o sexo jurídico nada mais é do que uma 
decorrência do registro civil, já que o mesmo é realizado perante testemunhas, 
normalmente pessoas leigas. Apesar disto, poderão ocorrer casos em que o registro 
civil poderá ser alterado, casos como o de pseudo-hermafroditismo ou até mesmo 
no caso de uma mudança de sexo. 126 
Desta forma, sintetiza-se sexo, gênero e sexualidade, de 
acordo com alusão de Musskopf, o qual alega que, estes têm comum entre si, assim 
como com todas as outras características que definem a identidade dos seres 
humanos, é que elas são significadas apenas em nossos corpos. Não se referindo 
ao corpo humano apenas como um conjunto de órgãos e partes, mas ao ser 
humano enquanto presença corporal e a sua relação consigo mesmo, com outras 
pessoas, com a natureza e com a divindade. Uma forma de como existimos e damos 
significado à nossa existência. Neste sentido, o corpo é a “superfície de inscrição de 
valores” tanto sociais quanto sexuais. Os papéis de gênero são construídos sobre os 
 
125
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal, p. 130. 
126
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 130. 
 
 
49
corpos e vivenciados através de uma sexualidade que lhes corresponde127. 
Prossegue o autor informando que tradicionalmente a relação 
entre estes três elementos constituintes da identidade tem sido considerada em uma 
seqüência lógica onde a um sexo físico-biológico correspondem um determinado 
comportamento de gênero e uma maneira específica de vivência da sexualidade. 
Assim, embasados ainda em Musskopf, pode-se distinguir 
sexo, gênero e sexualidade reconhecendo o sexo como o dado físico-biológico, 
marcado pela presença de aparelho genital que diferencia os seres humanos entre 
machos e fêmeas; além do aparelho genital, a partir de pesquisas recentes, é dada 
atenção também ao código genético. Logo, entendo gênero como o dado social, 
formado por um aparato de regras e padrões de comportamento que configuram a 
identidade social das pessoas “normalmente” a partir do substrato físico-biológico e, 
a sexualidade, como o dado sexual, composto pela forma (ou pelas formas) como e 
com quem é expressoo desejo erótico e sexual. Esse dado também é chamado por 
alguns/as de “orientação sexual”. 128 
Pertinente ainda a este capítulo são as condições sexuais que 
cada indivíduo tem como direito constitucional adotar ou já decorrente de seu 
nascimento. 
 
2.4 CONDIÇÕES SEXUAIS 
Como exposto anteriormente, as pessoas podem adotar certos 
tipos de comportamento sexual, ou nascerem com características pré-determinadas, 
morfologicamente ou psicologicamente. Neste sentido, surgem as condições 
sexuais, que são caracterizadas pela forma com a qual os indivíduos relacionam-se 
sexualmente ou emocionalmente com outros, ou a forma com a qual as pessoas 
vêem-se como indivíduo sexuado. Estas condições e características serão descritas 
adiante, pois para o entendimento do comportamento do transexual, é imperativo 
 
127
 MUSSKOPF, A.S. Queer: teoria, hermenêutica e corporeidade. In: J. TRASFERETTI (org.), 
Teologia e sexualidade: Um ensaio contra a exclusão moral. Campinas: Átomo, 2004, p.179-212. 
128
 MUSSKOPF, A.S. Queer: teoria, hermenêutica e corporeidade. p.179-212. 
 
 
50
que as mesmas sejam identificadas. 
 
2.4.1 Heterossexualidade 
Koogan e Houaiss sustentam que a heterossexualidade é 
representada pela sexualidade do heterossexual, que por sua vez, é a pessoa que 
demonstra afinidade, de cunho sexual, por pessoas do sexo oposto ao seu. 129 
Colhe-se que a heterossexualidade, também denominada de 
heterossexualismo, faz alusão a atração romântica ou sexual que ocorre entre 
indivíduos de sexos opostos, sendo considerada a orientação sexual mais comum 
entre os seres humanos. Quanto ao adjetivo heterossexual, o mesmo serve para 
retratar relações de cunho pessoal ou sexual entre pessoas de sexo feminino e 
masculino. Por muito tempo, foi tida como comportamento sexual “normal”, todavia, 
a sociedade em suas mudanças admitiu que este comportamento era tido na 
realidade como “comum”, pois existem outras opções sexuais. Por sinal, muitas 
entidades da comunidade GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) 
manifestaram-se, alegando que, por muito tempo, este comportamento foi o único 
admitido. 130 
 
2.4.2 Homossexualismo 
Croce e Croce Jr. argumentam que o homossexualismo trata 
de uma atração de pessoas, por outras pessoas do mesmo sexo que o seu. Quando 
este quadro manifestar-se nos homens, pode ser também classificado de uranismo, 
pederastia e sodomia. 131 Já, quando manifestar-se nas mulheres, poderá ser 
 
129
 KOOGAN, A.; HOUAISS, A. Enciclopédia e dicionário ilustrado. 4. ed. Rio de Janeiro: Seifer, 
2000., p. 819 
130
 SEXUALIDADE. Disponível em: <http://www.colegioweb.com.br/sexualidade/heterossexualidade> 
Acesso em: set. 2009. 
131
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal. 5. ed., revista e ampliada. São Paulo: 
Saraiva 2004. p. 687. 
 
 
51
classificado como safismo, lesbismo, lesbianismo e tribadismo. 132 
Del-Campo, ao tratar do homossexualismo fala de sua origem, 
ponderando que alguns autores indicam ser ela decorrente da educação, outros de 
forma psicogênica.133 Entretanto, o autor não define um conceito para esta 
categoria. 
Já Hercules exprime que homossexual é a pessoa que possui 
atração sexual, de forma exclusiva, ou predominante, por pessoas do mesmo sexo 
que o seu, mesmo que não haja relacionamento físico. O autor ainda faz menção de 
uma categoria para o homossexualismo feminino, definindo-a de lesbianismo. Para 
Hercules, o lesbianismo ocorre quando uma mulher sente atração por outra. De 
acordo com o autor, o nome lesbianismo é decorrente da ilha de Lesbos, localizada 
no mar Egeu, na qual este tipo de prática sexual era comumente difundido.134 Há 
ainda uma outra forma de classificar o lesbianismo, que é safismo, em homenagem 
a poetisa Safo, que viveu na referida ilha durante o século VI a.C.135 
Vale ressaltar que o homossexualismo pode ser, em alguns 
casos, uma forma inicial de transexualismo. Isto ocorre porque a mente humana é 
de extremamente complexa. Atualmente, tem-se o caso de Chastity Bono. Esta 
moça é filha da cantora americana Cher, e há alguns anos assumiu-se publicamente 
como lésbica. Todavia, neste ano de 2009 iniciou tratamento para submeter-se à 
cirurgia de mudança de sexo, no momento identificando-se como Chaz Bono. 
Constata-se que as pessoas muitas vezes não possuem total compreensão sobre 
sua opção sexual, tampouco sobre sua opção como ser humano e graças ao 
desenvolvimento médico, as possibilidades são infinitas atualmente. 136 
 
 
132
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal. p. 692. 
133
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 208. 
134
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005. p.544. 
135
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal, p.545. 
136
 JORNAL FOLHA ONLINE – Folha de São Paulo. Disponível em: 
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u583618.shtml>, acesso em 06 de Outubro de 
2009. 
 
 
52
2.4.3 Intersexualismo 
Maranhão narra que pessoas com este quadro possuem 
anomalias genitais e extragenitais, dificultando a possibilidade de identificar a qual 
sexo pertencem. O doutrinador apresenta duas classificações para o 
intersexualismo: hermafroditismo verdadeiro e pseudo-hermafroditismo. Quando a 
pessoa possui gônadas do sexo masculino e feminino (testículos e ovários), é 
chamado de hermafroditismo verdadeiro ou bigonodal, entretanto, quando a pessoa 
somente apresenta caracteres externos de dois sexos, denomina-se pseudo-
hermafroditismo, ou monogonodal. 137 
Já Del-Campo aduz de forma mais objetiva, que o intersexual, 
em decorrência de alterações de origem genética ou hormonal, não tem sexo 
definido, apresentando genitália interna e externa indefinidas, sendo freqüentemente 
estéreis. 138 
 
2.4.4 Travestismo 
Del-Campo argumenta que os travestis são pessoas que 
sentem prazer em utilizar as roupas do sexo oposto, como um homem vestindo-se 
de mulher. Apesar disto, o travesti não possui interesse em submeter-se à cirurgia 
de mudança de sexo, pois está consciente de seu sexo fenotípico. 139 
Hercules pontua que o travestismo é um tipo de compulsão, em 
que a pessoa veste-se com roupas do sexo oposto ao seu, como se fosse uma 
fantasia. Além de roupas, utilizam maquiagem, e mudam a linguagem corporal. O 
autor indica que este comportamento pode ser classificado também de fetichismo 
travéstico, disfarcismo, inversão sexoestética e eonismo. A nomenclatura eonismo é 
derivada etimologicamente de Chevalier D’Éon Beaumont, que no século XVIII fazia 
parte da nobreza da França, que travestia-se, inclusive em missões diplomáticas. As 
mulheres também são representadas por Aurora Dupin, também francesa, escritora 
 
137
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 131. 
138
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 208. 
139
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 208. 
 
 
53
de profissão, que vestia-se como homem, e portava-se também como um, fumando 
charutos e até mesmo criando um pseudônimo para este seu lado masculino. Por 
fim, Hercules refere-se ao carnaval brasileiro, em que esta prática é disseminada, 
todavia, nesta ocasião, sem preconceito, já que faz parte da festa. 140 
Croce e Croce Jr. alegam que o travestismo também pode ser 
chamado de eonismo, assim como Hercules. Os doutrinadores sustentam que os 
travestis sentem atração pelo sexo oposto ao seu, sendo assim, em sua maioria, 
heterossexuais. 141 
França possui o mesmo entendimento que Croce e Corce Jr, e 
advoga que os travestis são em sua maioria heterossexuais, e em muitos casos, 
apenas usam as indumentárias do sexo oposto na privacidadede seu lar, para 
satisfazerem-se. 142 
 
2.4.5 Transexualismo 
Considera-se relevante enfatizar inicialmente, que o termo 
transexual foi construído a partir de um conceito contemporâneo de dimorfismo 
sexual, referendado no saber médico, em que os especialistas reúnem e criam 
narrativas sobre a transexualidade, partindo de um poder que lhes é outorgado para 
determinar os limites entre o normal e o patológico. 143 
A transexualidade é um perímetro marcado por diferentes 
definições, sendo que o termo transexualismo é hegemônico no discurso médico e 
passou a integrar a Classificação Internacional de Doenças (CID) na sua versão 
mais recente, a CID-10144. Por determinação do Ministério da Saúde, essa 
classificação passou a vigorar, no Brasil, em 1º de janeiro de 1996, e, na medida em 
 
140
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal, p.547. 
141
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal. p. 692. 
142
 FRANÇA, G. V. de. Medicina Legal, 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2001. p. 214. 
143
 LAQUEUR, Tomas Walter. Inventado o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Tradução de 
Vera Whately. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 
144
 Na 10ª Revisão, foi adotada a nomenclatura “Classificação Estatística Internacional de Doenças e 
Problemas Relacionados à Saúde (CID 10)”. 
 
 
54
que estabelece uma classificação de síndromes psiquiátricas (chamadas de 
transtornos), fornece, em suas Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas, 
critérios específicos para que um determinado diagnóstico possa ser estabelecido. 
Nesse documento, que deve ser seguido nas avaliações médicas oficiais, o 
transexualismo está catalogado no grupo F6, que se destina aos diversos tipos de 
transtornos de personalidade e de comportamento de adultos. Está classificado no 
F64 Transtornos de Identidade Sexual, e especificamente: 
F64. O Transexualismo: Um desejo de viver e ser aceito como um 
membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por uma 
sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo 
anatômico, e um desejo de se submeter ao tratamento hormonal e 
cirurgia para tornar seu corpo tão congruente quanto possível com o 
sexo preferido145. 
Croce e Croce Jr. exprimem que o termo transexualismo foi 
consagrado pelo médico psiquiatra Harry Benjamin, o qual afirmava que muitos 
indivíduos mentalmente normais tinham vontade de mudar de sexo. Os autores 
indicam que o transexualismo pode ser chamado também de hermafroditismo-
psíquico, em que a pessoa simplesmente identifica-se com o sexo oposto, tendo o 
desejo de pertencer a ele. 146 
Os autores aprofundam-se na questão, argumentando que o 
transexual deseja ter uma relação heteróloga, mas que seu objetivo principal é 
submeter-se à cirurgia de redesignação sexual. No caso dos homens transexuais, 
muitos têm desgosto pelo seu órgão genital, no caso o pênis, e esperam com a 
cirurgia, poder livrar-se dele. Seria, como os próprias autores pontuam: “um homem 
com cérebro de mulher”. 147 
Antes de dar início às perspectivas psicológicas das causas do 
transexualismo, vale a pena ressaltar que Freud não abordou o transexualismo 
como situação clínica estabelecida148, pois, no final do século XIX e início do século 
XX, tal termo e conceituação médica não eram evidentes, sendo a questão vista 
 
145
 OMS. Organização Mundial de Saúde. Classificação de transtornos mentais e de 
comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: OMS; 1993. 
146
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal. p. 689. 
147
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal. p. 689. 
148
 GARCIA, JC. Problemáticas da identidade sexual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001, p.31. 
 
 
55
como variação do amplo tema do homossexualismo. 
Em 1911, Freud publicou o "Caso Schreber" baseado na leitura 
do livro "Memória de um doente dos nervos" de Daniel Paul Schreber, publicado em 
1903, que relatava em detalhes suas experiências psicóticas e, em especial, 
aspectos presentes em seus delírios, nos quais expressava desejos e sensações de 
se transformar em mulher149. 
Este é um caso interessante que Freud analisou e sobre o qual 
desenvolveu e aprimorou suas teorias a respeito da dinâmica da psicose, 
especialmente a paranóia. 150 
No entanto, este não pode ser caracterizado como 
transexualismo, pois se enquadra em uma categoria diferencial importante, a dos 
psicóticos, que em suas manifestações delirantes podem se sentir pertencentes ao 
gênero oposto ao do seu nascimento. 
A partir da década de 1970 do século XX, estudiosos da 
psicanálise e de diversas escolas psicológicas procuraram sistematizar 
conhecimento a respeito do tema. As dificuldades conceituais e as divergências em 
relação aos referenciais psíquicos, apesar de aumentar a confusão já existente, 
contribuíram com informações e observações valiosas. 
Del-Campo define o transexual como portador de uma 
alteração psicológica, que faz a pessoa acreditar que pertence ao sexo oposto, e 
querer pertencer ao mesmo. O autor advoga que o transexual é inconformado com o 
seu sexo morfológico, e busca meios para exibir-se como portador do sexo oposto 
ao sexo, trajando roupas do outro sexo e não é incomum o transexual buscar 
tratamentos cirúrgicos para realizar a mudança de sexo e adquirir caracteres 
secundários151. 
 
149
 SCHREBER, D.P. Memórias de um doente dos nervos. Tradução de Marilene Carrone. Rio de 
Janeiro: Edições Graal; 1984, p.32. 
150
 FREUD S. Obras completas: tomo II. 3. ed. Traducción de Luiz Lopez-Ballesteros y De 
Torres.Madrid: Editorial Biblioteca Nueva; 1973. In: GARCIA, JC. Problemáticas da identidade 
sexual. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001, p.31. 
151
 DEL-CAMPO, E. R. A. Medicina Legal. p. 208. 
 
 
56
Na mesma linha de pensamento, Maranhão afirma que o 
transexual é uma pessoa que possui fenótipo de um sexo, e deseja possuir de outro, 
por exemplo, homem que quer ser mulher. O doutrinador faz uma observação 
interessante, afirmando que o tratamento psicoterápico não surte efeito, sendo que 
para estas pessoas a cirurgia de correção é o único caminho a ser tomado. 152 
Segundo Garcia153, existem duas categorias psicológicas de 
entendimento da etiologia do transexualismo: uma hipótese não-conflitiva e outra, 
conflitiva. 
A hipótese não-conflitiva avalia a relação mãe-filho como sendo 
emocional e corporalmente feliz e que se prolonga em uma simbiose na qual o 
menino se identifica com o gênero da mãe. Já a hipótese conflitiva é um mosaico de 
diferentes teorias propostas no qual o pedido de mudança sexual nada mais é do 
que uma "formação de compromisso patológico", ou seja, "nesse contexto o 
transexualismo é considerado uma defesa contra a homossexualidade, uma forma 
de perversão, um transtorno narcísico ou uma perturbação da fase de separação-
individuação"154. Segundo os mesmos autores, haveria concordância geral de que o 
transexualismo apareceria como manifestação de um transtorno de personalidade 
do tipo "borderline", pois os transexuais apresentam muitas características similares 
à desses indivíduos (ansiedade crônica, difusa e flutuante; isolamento; depressão; 
baixa tolerância ao estresse; etc.). 
Constata-se que havia uma tentativa dos especialistas em 
doenças psicológicas, ou psíquicas, enquadrarem os transexuais em algum outro 
distúrbio já existente, como a depressão ou a síndrome borderline. Seria como uma 
resistência em reconhecer que o transexualismo era uma síndrome diferenciada dos 
outros quadros já existentes e evidenciados, apesar de possuir características 
semelhantes, como a ansiedade e o isolamento. 
Sgreccia destaca que o transexual possui, em suas próprias 
palavras,um “pulsão psicológica” em pertencer ao sexo oposto, de todas as formas 
 
152
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 134. 
153
 GARCIA, J.C. Problemáticas da identidade sexual. 2001. 
154
 FERRAZ, F.C. Perversão. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2002. 
 
 
57
possíveis, mesmo que até o presente momento a medicina somente consiga a 
modificação morfológica. 155 
O transexualismo pode manifestar-se a qualquer tempo do 
desenvolvimento psíquico da pessoa. Na atualidade, existem centros especializados 
em prestar apoio à famílias, cujos filhos de menos de 10 anos já demonstram 
comportamento transexual. De fato, foi exibido na televisão americana um programa, 
cuja apresentadora era Barbra Walters, a qual entrevistava famílias com crianças 
transexuais, e investigava como eram suas vidas, como as pessoas se portavam ao 
seu redor, etc. Entre os argumentos das crianças, sobre seu comportamento e 
preferência pelo sexo oposto, elas afirmam que “tinham sido vítimas de um jogo 
doentio por Deus”, tamanho o inconformismo com o seu sexo morfológico, além do 
relato da mãe, no qual o filho, inocentemente, pegou uma tesoura e a aproximou 
inocentemente do pênis, na tentativa de remover o órgão. Para algumas famílias, a 
convivência era mais fácil, já para outras, os pais tinham muito dificuldade em 
aceitar e entender o comportamento dos filhos, que foge de qualquer padrão. 
Um filme que aborda o assunto é “Transamérica”, que aborda a 
história de um transexual, que, antes de submeter-se aos tratamentos, relacionou-se 
sexualmente com uma mulher, cuja relação deu fruto a um filho. O filme gira em 
torno da relação complicada entre o pai transexual e o filho que não sabia ter, de 
forma um tanto trágica, e um tanto cômica. No filme, entretanto, chama a atenção o 
fato de o transexual ter tentado o suicídio, de tão insatisfeito que estava com seu 
sexo fenotípico, ou morfológico. 
Há também casos de que o transexualismo vem à tona em 
pessoas de idade mais avançada, que tomam conhecimento sobre sua condição. No 
filme “Normal”, há o relato de um homem, casado há 25 anos com sua esposa, pai 
de dois filhos, o qual após certa idade, decide submeter-se à cirurgia de mudança de 
sexo. No filme, várias questões são abordadas, como: a esposa, que decide 
continuar com o marido, que quer ser mulher, torna-se lésbica? Para a filha mais 
nova, a aceitação é mais fácil, ao contrário do que ocorre com o filho mais velho. 
Além dos efeitos no meio familiar, a sociedade da cidade em que o casal vive fica 
 
155
 SGRECCIA, E. Manual de Bioética, I. Fundamentos e Ética Biomédica. p. 503. 
 
 
58
assustada com a mudança, pois o homem passa a vestir-se com vestimentas 
femininas e submeter-se à terapia hormonal. Até o pastor da Igreja que o casal 
freqüenta tem uma opinião sobre o fato, autorizando a esposa a separar-se do 
marido, com base nas escrituras religiosas. No entanto, com o decurso do tempo, as 
pessoas percebem que a opção de submeter-se a uma cirurgia não muda a pessoa, 
muda somente os olhos com os quais as vemos. Neste sentido, a lição mais 
importante do filme é que a pessoa tem o direito a viver de forma digna, não importa 
o modo de vivê-la. 
Estes relatos são semelhantes às explanações de Hercules, o 
qual narra que os transexuais acreditam ser “um erro da natureza”, e por esta razão, 
buscam os meios cirúrgicos e médicos para adequarem-se ao sexo pretendido. O 
referido autor traz outras classificações para o transexualismo: transgenitalismo e 
castrofilia. 156 
França segue a mesma linha de pensamento que os outros 
autores, classificando o transexualismo como “síndrome de disforia sexual”. O autor 
apresenta um ponto de vista interessante, ponderando que os transexuais não 
tendem a relacionar-se sexualmente, até que se sintam satisfeitos com seu corpo, 
após a cirurgia de mudança de sexo. 157 
O autor158 ainda traz uma valiosa informação, que tenta 
explicar a origem do transexualismo na pessoa: 
Cinco teorias tentam explicar sua eitologia: 1. teoria genética – 
atualmente a mais aceita, que atribui existir um gene específico no 
cromossoma sexual capaz de se transmitir; 2. teoria fenotípica – que 
atribui a influência da própria conformação física do indivíduo 
androginóide, lenvando a mulher para o transexualismo masculino, e 
a conformação anatômica andróide, levando o homem para o 
transexualismo feminino; 3. teoria psicogênica – que admite a 
influência da orientação e do comportamento dos pais como capazes 
de marca tendências nitidamente masculina ou feminina; 4. teoria 
neuroendôcrina – que afirma existirem alterações nas estruturas dos 
centros de identidade sexual, em face do hipotálamo não receber a 
quantidade necessária de hormônios; - 5. teoria eclética – que aceita 
 
156
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal, p.547. 
157
 FRANÇA, G. V. de. Medicina Legal, p. 217. 
158
 FRANÇA, G. V. de. Medicina Legal. p. 217. 
 
 
59
os mais diversos fatores andróginos e exógenos como causadores 
dessa alteração. 
Por fim, divide os transexuais em três categorias: Transexual 
pseudo-travestido; Transexual travestido-fetichista e Transexual travestido-
verdadeiro. O transexual travestido-verdadeiro é o transexual que, de acordo com o 
autor, realmente identifica-se com o sexo oposto, vestindo-se de acordo com este, 
buscando de qualquer forma a modificação de sua genitália. O transexual travestido-
fetichista veste-se constantemente com indumentárias do sexo oposto, mas não 
possui grandes conflitos com sua identidade sexual. Por fim, o transexual pseudo-
travestido veste-se com roupas do sexo oposto apenas ocasionalmente, com 
pequeno grau de conflito sexual. 159 
Constatado que o transexual verdadeiro, de fato, busca de 
todos os meios a mudança de sexo mediante a cirurgia, parte-se agora para um 
estudo sobre as condições e procedimentos a serem adotados para a realização da 
mesma. 
 
 
2.5 A CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO 
A maioria dos autores não são favoráveis à cirurgia de 
mudança de sexo, apesar de a mesma ser prevista e autorizada pela resolução nº 
1.652/02 do Conselho Federal de Medicina. Os motivos pelos quais existe 
resistência são inúmeros 
Hercules esclarece seu ponto de vista quanto à cirurgia de 
mudança de sexo masculina: 
Não raro o alcançado não passa de um resultado grotesco, um 
simulacro de genitália externa feminina, representado por pregas 
ladeando uma fenda longitudinal que se continua com um canal, tudo 
construído com retalhos cutâneos do pênis e da bolsa escrotal.nada 
 
159
 FRANÇA, G. V. de. Medicina Legal. 2001. 
 
 
60
que o mais novel dos iniciantes não consiga perceber sem a menor 
dificuldade160. 
O autor ainda destaca que as características secundárias são 
obtidas pelo uso de hormônio feminilizante de forma contínua, e finaliza declarando 
que, por mais que o paciente sujeite-se a tratamentos estéticos, sua 
incompatibilidade com o novo aparelho sexual será sempre denunciada, devido a 
seus atributos físicos. 161 
Croce e Croce Jr exprimem de forma semelhante, que a 
cirurgia é mutilante e irreversível, e que não cumpre a função de transformar homem 
em mulher, nem mulher em homem, trazendo apenas um prazer psicológico ao 
paciente. Os doutrinadores ainda esclarecem que tanto a parte funcional, quanto a 
parte sensorial não atingirão a perfeição, da mesma forma que seriam, caso a 
pessoa tivesse nascido com o sexo desejado. 162 
Caixeta advoga de forma expressiva que, atualmente, os 
médicos psiquiatras contam com um arsenal de mais de setenta tipos de anti-
depressivos para tratar depressões e outros tipos de patologias psíquicas163.Todavia, foi sustentado anteriormente por Maranhão, que o transexualismo é uma 
síndrome tão enraizada no psíquico da pessoa, que os tratamentos não surtem 
efeito. Caixeta ainda mostra-se contrário ao procedimento cirúrgico, pois o médico 
torna-se um ser soberano, já que trata-se de uma cirurgia milimétrica. 164 
Todavia, quando alguém se submete a um procedimento 
cirúrgico, o médico sempre está atuando de forma soberana sobre o paciente, pois 
parte-se do princípio que o mesmo estudou e especializou na área em que atua, 
para produzir bons resultados decorrentes do procedimento. 
Maranhão sustenta que o resultado, no caso do transexual 
masculino, é a criação de uma vagina, mas sem elasticidade, sem lubrificação 
 
160
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal, p.547 
161
 HERCULES, H. de C. Medicina Legal, p.547 
162
 CROCE, D. e CROCE JR.,D. Manual de Medicina Legal, p. 690. 
163
 CAIXETA, M. Psicologia Médica, Rio de janeiro: Guanabara Koogan, [s.d.], p. 364. 
164
 CAIXETA, M. Psicologia Médica, [s.d.], p. 365. 
 
 
61
própria, além de não garantir prazer como uma zona erótica. 165 
França apresenta uma perspectiva interessante, que resume 
os comentários negativos da maioria dos doutrinadores: 
Castrar e emascular um indivíduo, querendo valer-se de um suposto 
“sexo psicossocial”, parece-nos, à primeira vista, um método 
apressado e simplista de resolver uma situação complexa que deita 
suas raízes num psiquismo alterado. Uma coisa é certa: pode-se até 
mudar o “sexo civil”. No entanto, ninguém poderá transformar, 
realmente, um sexo em outro: nem o endocrinologista, nem o 
psiquiatra, nem o juiz, nem mesmo Deus. 166 
No mesmo sentido, Maranhão ainda advoga que a cirurgia não 
traz a satisfação psíquica esperada pelos transexuais, já que alguns chegam a 
suicidar-se, em decorrência de não conseguirem encaixar-se na sociedade. 167 
Os referidos comentários atacam a funcionalidade da cirurgia, 
ou seja, de como a pessoa operada poderá viver. Todavia, o ponto de maior 
polêmica trata do fato de o transexual operado não poder gerar filhos. Sgreccia faz 
menção a uma afirmação da Igreja Católica, que trata da relação entre as pessoas, 
e que uma das finalidades da união é a procriação.168 Entretanto, no melhor sentido 
de que cada pessoa ou instituição deve ser responsável por seus próprios atos, não 
mencionam que a própria Igreja Católica prega o celibato. Neste sentido, o direito de 
não ter filhos abrange a todos, e todos optam em favor de uma opção, seja de 
submeter-se a um procedimento cirúrgico, ou dedicar sua vida ao estudo de uma 
filosofia religiosa. 
Apesar de todos os pontos de vista negativos, como dito 
anteriormente, o CFM proferiu a resolução 1.652/02, a qual revogou a Resolução nº 
1.482/1997, a qual também referia-se aos transexuais. 
A referida resolução descreve os requisitos para que a pessoa 
esteja apta a submeter-se à cirurgia de mudança de sexo, e, apesar da 
contrariedade dos doutrinadores, a evolução desta área garante aos transexuais a 
 
165
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal. p. 134. 
166
 FRANÇA, G. V. de. Medicina Legal, 2001. p. 218. 
167
 MARANHÃO, O. R. Curso Básico de Medicina Legal, p. 135. 
168
 SGRECCIA, E. Manual de Bioética, p. 515. 
 
 
62
possibilidade de submetem-se a procedimentos com alto índice de sucesso, no que 
tange à aproximação do sexo desejado, já que existem cirurgiões plásticos 
especializados e dedicados a estes procedimentos. 
Entre as especificações, os mais importantes para seguir o 
procedimento correto estão nos arts. 3º e 4º da Resolução nº 1.482/1997. 
Art. 3º Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, 
aos critérios abaixo enumerados: 
1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 
2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características 
primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 
3) Permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente 
por, no mínimo, dois anos; 
4) Ausência de outros transtornos mentais. 
 
Art. 4º Que a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo 
obedecerá a avaliação de equipe multidisciplinar constituída por 
médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente 
social, obedecendo os critérios abaixo definidos, após, no mínimo, 
dois anos de acompanhamento conjunto: 
1) Diagnóstico médico de transgenitalismo; 
2) Maior de 21 (vinte e um) anos; 
3) Ausência de características físicas inapropriadas para a cirurgia. 
 
Constata-se, portanto, que a própria resolução traz a sua 
definição do que é um transexual, enumerando as características no art. 3º, e, no 
que tange à cirurgia, traz os requisitos expressos no art. 4º. Chama a atenção o item 
do referido artigo, que fala da ausência de características físicas inapropriadas para 
a cirurgia. Faz sentido esta colocação, pois a pessoa que vai realizar a cirurgia de 
mudança de sexo, submete-se a tratamento hormonal, para ficar mais parecida com 
o sexo oposto. 
O homem faz uso de próteses de silicone e aplicações de 
colágeno no rosto para ficar mais parecido com uma mulher, com traços mais finos, 
além de a voz afinar com o uso do hormônio feminilizante. No caso das mulheres 
transexuais, ao utilizarem a testosterona, a linha do cabelo começa a retroceder, a 
voz fica mais grossa, e a menstruação para de ocorrer. 
 
 
63
A resolução ainda indica os locais em que as cirurgias devem 
ser realizadas, como, por exemplo, os procedimentos cirúrgicos de adequação de 
fenótipo feminino para masculino devem ser praticados em hospitais universitários, 
ou hospitais públicos, com fim de pesquisa. Isto está expresso no art. 5º da referida 
resolução. 
Verifica-se que, a resolução nomeia a cirurgia não como 
“mudança de sexo”, mas sim como adequação de sexo. Com isto, constata-se que 
os responsáveis pela resolução compreendem que a pessoa que se submete a este 
procedimento, está na realidade, adequando-se ao sexo que pertence, ou seja, há o 
entendimento de que a pessoa está buscando uma cura, mediante a adequação. 
O cirurgião plástico, especializado em urologia, Dr. Gary Alter, 
que atua em Los Angeles, estado da Califórnia, nos Estados Unidos, em seu web-
site, traz exemplos de cirurgias que obtiveram sucesso, além de explicar o 
procedimento cirúrgico. Ademais, afirma que os métodos cirúrgicos estão bastante 
desenvolvidos atualmente, o que garante ao paciente que o mesmo possa obter o 
orgasmo com o novo órgão. 169 
Diniz esclarece, com fundamento em Tereza Rodrigues Vieira 
e Murilo Rezende Salgado, como se operam as cirurgias de mudança de sexo: 
Na operação que converte a genitália masculina na feminina ter-se-á: 
a) extirpação dos testículos ou seu ocultamento no abdômen, 
aproveitando-se parte da pele do escroto para formar os grandes 
lábios; b) amputação do pênis, mantendo-se apenas as mucosas da 
glande e do prepúcio para a formação do clitóris e dos pequenos 
lábios com sensibilidade erógena; c) formação de vagina, forrada, em 
certos casos, com a pele do pênis amputado; e d) desenvolvimento 
das mamas pela administração de silicone ou estrógeno. A mudança 
do sexo masculino para o feminino está aperfeiçoada, podendo até 
mesmo não causar suspeita no parceiro sexual. 170. 
Acima foi exposto o procedimento cirúrgico de homem que é 
convertido em mulher. Agora, a mesma autora, explica como se opera a mudança 
na mulher, que quer converter-se em homem. 
 
169
 GARY ALTER In: <http://www.altermd.com/>. Acesso em set. 2009. 
170
 DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. p. 273. 
 
 
64
Já a conversão da aparência genital feminina para masculina é muito 
problemática,porque a formação de pênis funcional é quase 
impossível, e, além disso, a cirurgia é complexa, uma vez que 
requer: a) ablação dos lábios da vulva sem eliminação do clitóris; b) 
fechamento da vagina; c) histerectomia, ou seja, ablação do útero; d) 
ovariotomia, para fazer desaparecer a menstruação, se o tratamento 
com testosterona não a eliminar; e) elaboração de escroto com os 
grandes lábios, com bolinhas de silicone, o que torna os testículos 
insensíveis sexualmente; f) faloneoplastia, ou seja, construção de 
neopênis, com retalho abdominal, que reveste o pênis, e com o uso 
de uma prótese, transferindo-se alguns nervos, apara que possa 
haver semi-ereção. Em regra, há insensibilidade sexual, embora em 
alguns casos não ocorra perda da capacidade de sentir orgasmo, e a 
ausência de ejaculação é total. Um médico italiano pediu permissão 
à autoridade de saúde da Itália para realizar um transplante inédito 
de pênis apesar de não saber se o órgão implantado poderá 
sustentar uma ereção; g) ablação das glândulas mamárias. Em 
ambos os casos, ter-se-á confecção de uma aparente genitália, 
sendo tal transformação sexual completada por tratamento hormonal 
e cirurgia plástica. Já houve decisão de uma Corte inglesa 
determinando que o sistema de saúde público do país deveria pagar 
operações de mudança de sexo e divulgando que a proibição desse 
pagamento seria ilegal. 171 
Foi publicado recentemente que o SUS, o Sistema único de 
Saúde estaria realizando estes tipos de cirurgias gratuitamente, através da Portaria 
1.707/08. Entretanto, houve o pedido de suspensão desta portaria, pelo Deputado 
Federal Miguel Martine, do partido PHS, através do Projeto de Decreto Legislativo 
1050/08, que está atualmente em tramitação. O congressista sustentava que o SUS 
já estava abarrotado de pessoas que necessitavam de outros tipos de tratamento, e 
que esta cirurgia não passava de um luxo, pois um câncer, na opinião o legislador, é 
mais importante de ser tratado do que o transexualismo. No entanto, como foi 
constatado no presente capítulo, os transexuais sofrem da mesma forma que um 
paciente doente, com um câncer maligno. O maior desejo do transexual é ver-se 
livre da genitália, que lhe traz grande desconforto. O Ministério da Saúde não ficou 
inerte aos comentários do deputado, afirmando que não há motivo para que o 
Estado não preste assistência aos transexuais. Imperativo ressaltar que este 
deputado faz parte de uma coligação com apoio de fundos religiosos. 172 
Neste viés, o legislador também esquece que o acesso à 
saúde é um direito constitucional, previsto no art. 6º e o art. 196 da CRFB/88: 
 
171
 DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. p. 273. 
172
 Site: http://www.miguelmartini.com/clipping/ver.php?id=117 
 
 
65
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, (grifo nosso) o 
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição. 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, (grifo nosso) 
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à 
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, 
proteção e recuperação. 
Além disto, a Constituição prevê também as atribuições do 
Sistema Único de Saúde, como é o caso do artigo 200: 
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras 
atribuições, nos termos da lei: 
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de 
interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, 
equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos 
[...]. 
Como em toda profissão, existem procedimentos e códigos 
éticos a serem seguidos, seja na Medicina, na Advocacia, ou em qualquer outra área 
de atuação. Neste sentido, existem relatos de médicos que realizam os 
procedimentos descritos acima, mas que não respeitam as condições descritas pela 
resolução do CFM. Por exemplo, não são especializados em cirurgias de mudança 
de sexo, ou, muitas vezes, nem são médicos, e atuam pautados em princípios 
morais, no sentido de que precisam ajudar o transexual, todavia, sem possuir 
qualificação profissional para atuar em uma situação tão delicada. 173 
Antes de se encerrar este capítulo, é imperativo trazer à tona 
os princípios bioéticos que foram expostos no primeiro capítulo. Ao submeter-se a 
um procedimento cirúrgico, de mudança de sexo, os princípios da autonomia, 
justiça, beneficência e não-maleficência estão presentes: Há autonomia, pois o 
 
173
 Um fato similar foi tratado no seriado C.S.I., um programa de investigações policiais. No episódio 
intitulado “Ch-ch-changes” (ou mudanças, em tradução livre), uma pessoa fazia cirurgias de 
mudança de sexo nas pessoas, sem ser habilitada, e não operando os pacientes em locais 
higienizados. Em um dos casos, o paciente na mesa de cirurgia morreu, e os que sobreviveram aos 
procedimentos relataram que os resultados foram extremamente insatisfatórios. Além disto, muitos 
transexuais não têm paciência para respeitar o tratamento, e querem fazê-lo de forma acelerada, 
podendo causar prejuízo ao seu organismo, como tomando hormônios feminilizantes em excesso, e 
sem prescrição médica. 
 
 
66
paciente é quem decide a qual tratamento irá submeter-se; há justiça, pois os 
recursos médicos estão sendo aplicados de forma justa; há beneficência, pois o 
transexual ficará extremamente contente com a cirurgia, a qual lhe trará benefícios; 
e por fim, não há mal o procedimento, pois o paciente está ciente das limitações que 
encontrará ao submeter-se ao procedimento. 
Finalizando, constataram-se conceitos de diversos estilos de 
vida sexual e verificou-se como se opera a cirurgia de mudança de sexo, ou melhor, 
de adequação sexual, sendo assim, parte-se agora para o elemento chave desta 
monografia, qual seja, identificar como o transexual é reconhecido pelo ordenamento 
jurídico brasileiro, verificando as possibilidades para a retificação do registro civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
67
CAPÍTULO 3 
PROCEDIMENTO PARA O RECONHECIMENTO DO TRANSEXUAL 
NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
No capítulo anterior, foram esclarecidos conceitos relacionados 
com as opções e comportamentos sexuais. Neste capítulo aborda-se a 
responsabilidade penal do cirurgião que realiza a cirurgia de mudança de sexo, além 
do procedimento de ingressar com a ação de retificação de registro civil, indicando 
os dispositivos legais que serão utilizados para fundamentar tal pedido, bem como 
verificar qual o entendimento jurisprudencial quanto ao assunto. 
 
3.1 RESPONSABILIDADE PENAL 
Antes de adentrar neste tópico, esclarece-se que o presente 
trabalho monográfico não possui o intuito de aprofundamento sobre a temática da 
responsabilidade, portanto destaca-se de forma somente elucidativa a possibilidade 
de ocorrência de responsabilização penal do médico, que realiza a cirurgia de 
mudança de sexo. Sendo assim, não se aborda a responsabilidade civil, a qual 
estaria relacionada com a qualidade de tal procedimento cirúrgico, portanto, o 
estudo será direcionado ao ato em si. 
É imperativo explicitar isto, pois, como descrito no capítulo 
anterior, apesar de haver um grande desenvolvimento na área médica quanto às 
técnicas cirúrgicas, o resultado almejado nem sempre é cem por cento satisfatório, 
aproximando-se ao máximo possível dos limites médicos do órgão desejado. 
Desta forma, tendo em vista que a responsabilidade civil é um 
tema extremamente complexo para ser abordado de forma reduzida e, 
principalmente neste tipo de cirurgia, opta-se por excluí-la deste capítulo, para queo 
mesmo não seja menosprezado, já que somente o tema gera um extenso trabalho, 
 
 
68
buscando a responsabilização do cirurgião no ordenamento jurídico, e tratando dos 
contratos realizados entre médico e paciente, além de suas obrigações. Por isto, 
repete-se que somente abordar-se-á a responsabilidade penal, partindo do 
pressuposto que a cirurgia teve um altíssimo grau de êxito. 
Para Noronha, a responsabilidade penal 
[...] é a obrigação que alguém tem de arcar com as conseqüências 
jurídicas do crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de 
seu ato. Ele depende da imputabilidade do indivíduo, pois não pode 
sofrer as conseqüências do fato criminoso (ser responsabilizado) 
senão o que tem a consciência de sua antijuridicidade e quer 
executá-lo (ser imputável)174. 
No caso deste estudo, na cirurgia do transexual, não existe a 
responsabilidade penal do médico, visto ser considerada uma cirurgia de adequação 
sexual, decorrente do exercício regular de sua profissão (art. 23, III do CP). Apesar 
de lesionar fisicamente o paciente, não se poderia negar a existência de um 
interesse terapêutico, comprovado por rigorosos exames clínicos. 
Como já esclarecido anteriormente, a cirurgia de mudança de 
sexo gera a ablação, ou remoção dos órgãos sexuais do indivíduo, acarretando, 
consequentemente, a impotência sexual do paciente. Todavia, não existe somente 
um tipo de impotência, como se poderá constatar adiante no dissertar deste capítulo. 
 
3.1.1 Conseqüência morfológica resultante do procedimento cirúrgico 
Tendo em vista que a cirurgia causa a remoção do órgão 
sexual da pessoa, ou como referem-se os autores, emascula a pessoa, é preciso 
identificar quais os tipos de impotência que existem. 
Diniz pontua que existem três tipos de impotência, a couendi, 
generandi e concipiendi. A impotência couendi acarreta a impossibilidade de realizar 
o ato sexual. Já a generandi, deixa a pessoa incapaz para fecundar, para ter filhos, 
 
174
 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 
 
 
69
enquanto a concipiendi, gera a incapacidade de conceber os filhos. 175 
Gonçalves exprime de forma similar os tipos de impotência. O 
autor define a couendi como um tipo de impotência “instrumental”, ou seja, aquela 
que impede que a pessoa possa relacionar-se sexualmente. Neste sentido, o autor 
ainda pontua que a impotência generandi é relacionada ao homem estéril, que não 
consegue gerar filhos, enquanto a concipiendi é relacionada à mulher, que não pode 
conceber filhos. 176 
Constatando entendimento comum entre os autores, verifica-se 
que, a princípio, o único tipo de impotência que a cirurgia realmente gera é a 
couendi, entretanto, couendi no sexo anterior, pois, após a cirurgia e o tempo de 
recuperação necessário, nada impede que esta pessoa possa relacionar-se 
sexualmente com outra. No que tange às impotências generandi e concipiendi, estas 
não são geradas muito menos, pois, atualmente, graças ao desenvolvimento médico 
no campo da fertilização humana, verifica-se que é possível congelar óvulos e 
espermatozóides, para posteriormente ter filhos. 
O método, obviamente, não será o convencional, de filhos 
gerados mediante o ato sexual, todavia, serão filhos da mesma forma. Por exemplo: 
Um homem transexual, o qual antes da cirurgia colhe espermatozóides e os congela 
para uso posterior, pode ter um filho(a) biológico, usando seu espermatozóide para 
fecundação em um óvulo de uma pessoa do sexo feminino, ou ainda, pode utilizar 
uma barriga de aluguel. 
Para a mulher transexual, o procedimento é similar, já que a 
mesma pode congelar seus óvulos, posteriormente fecundá-los com 
espermatozóides, hoje, conseguidos com facilidades nos conhecidos bancos de 
esperma, e através de uma barriga de aluguel, ter um filho(a). Verifica-se que a 
medicina é um campo fértil e favorável aos transexuais. 
Frente ao fato da cirurgia gerar, de certa forma, uma lesão 
corporal na forma qualificada, gerando a inutilização de um membro, faz-se aqui 
 
175
 DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. v.5, 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 269. 
176
 GONÇALVES, C. R. Direito de Família, v. 2, 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 43. 
 
 
70
referência ao art. 129 do Código Penal (CP): 
Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
§ 1º - Se resulta: 
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) 
dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. 
§ 2º - Se resulta: 
I - incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V - aborto. 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos177. 
 
Frente ao contexto, Teles exprime que, quando a cirurgia 
plástica, que extirpa o órgão sexual da pessoa e constrói outro em seu lugar, apesar 
de ser fato típico, é lícito, já que o “ofendido” consente tal procedimento, o que 
caracteriza assim, uma excludente de ilicitude, pois, como o próprio autor destaca, 
“a integridade do corpo é um bem disponível”. 178 
Já Capez, ao discorrer sobre o assunto, faz referência ao 
parágrafo segundo, inciso IV do referido art. 129 do CP. Entretanto, o mesmo autor 
afirma que, quando a cirurgia trouxer benefícios, entre eles, a correção do desajuste 
psicológico, o procedimento tem finalidade curativa. Neste viés, o dolo é de 
beneficiar, aliviar o paciente, e não lesioná-lo, constituindo fato atípico. 179 
Quanto ao exposto, a Resolução nº 1.652/02 faz menção ao 
art. 129 do Código Penal da seguinte forma: 
CONSIDERANDO que a cirurgia de transformação plástico-
reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres sexuais 
secundários não constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 
 
177
 Art. 129 do Código Penal 
178
 TELES, N. M. Direito penal. Parte Especial, volume II. São Paulo: Atlas, 2004, p. 219 
179
 CAPEZ, F. Curso de Direito Penal, parte especial. v. 2, 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 133. 
 
 
71
do Código Penal, visto que tem o propósito terapêutico específico de 
adequar a genitália ao sexo psíquico [...]. 180 
Por fim, Mirabete concorda com Capez e Teles, fazendo 
referência ao caso de um famoso cirurgião plástico, que havia sido denunciado pelo 
Ministério Público, e condenado, por ter realizado tal procedimento. Todavia, o 
Tribunal de Justiça de São Paulo reformou a sentença condenatória, alegando que o 
médico, que procura curar o transexual com a ablação de seus órgãos, não age 
dolosamente. 181 
O famoso cirurgião plástico referido no parágrafo anterior é o 
Dr. Roberto Farina. Silveira, em seu livro faz referência a um acórdão, em que há um 
trecho que narra os fatos que ocorreram com este médico, que o levaram a ser 
denunciado. De acordo com o referido autor, Farino estava no XV Congresso de 
Urologia Brasileiro, o qual ocorreu em novembro de 1975. No referido congresso, o 
Dr. Farina expôs uma tese, e para exemplificá-la, exibiu o filme de uma cirurgia de 
mudança de sexo, que havia realizado no ano de 1971, ainda destacando que já 
havia realizado o procedimento em outros nove pacientes. O público ficou 
impressionado com o fato, todavia, a reação mais inesperada foi a do Ministério 
Público, que o denunciou por lesão corporal, fundamentada no art. 129, § 2º, inc, III 
do CP, ou seja, lesão corporal grave, que gera a inutilização de um membro.182 
Apesar de ter agido no sentido de beneficiar os seus pacientes, 
o médico foi condenado na data de 06/07/78, à pena de dois anosde reclusão. 
Apesar disto, a sentença, como explanado por Mirabete, foi reformada, absolvendo o 
médico. 183 
Portanto, verifica-se que o cirurgião que realiza cirurgia de 
mudança de sexo não sofrerá nenhum tipo de sanção penal, desde que, siga à risca 
a Resolução do CFM nº 1.652/02184, e respeite todas as condições para realizar os 
 
180
 Art. 129 do Código Penal In: Resolução nº 1.652/02. 
181
 MIRABETE, J. F. Manual de Direito Penal. Parte especial, v. II, 23. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 
107. 
182
 SILVEIRA, J. F. O da. O Transexualismo na Justiça. Porto Alegre: Síntese, p. 119. 
183
 SILVEIRA, J. F. O da. O Transexualismo na Justiça. p. 120. 
184
 A resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.652/2002 revogou a resolução nº 1.482/1997, e 
esta Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo. Neste sentido, é o parecer da comunidade médica 
referente a tal procedimento. 
 
 
72
procedimentos. 
Finalizado este tópico, parte-se para uma abordagem sobre o 
desenvolvimento da sexualidade no âmbito educacional e o efeito decorrente no 
julgamento das lides que envolvem controvérsias à sexualidade. 
3.2 DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE PERCEBIDA PELO DIREITO 
Desde crianças, somos expostos a diferentes perspectivas 
sobre a sociedade e a vida nesta. Alguns crescem em famílias em que os próprios 
pais são responsáveis pela formação psíquica dos filhos em relação aos diferentes 
estilos de vida, desde o consumo de drogas, passando por diferentes opções 
sexuais até o transexualismo. Todavia, alguns pais encarregam a escola desta 
tarefa, e deixam estes ensinamentos para os professores. 
Neste sentido, Louro exprime que desde crianças, homens e 
mulheres aprendem a fazer gozações de pessoas que não se encaixam no padrão 
de gênero e sexualidade que são mais difundidos na sociedade em que vivem. 
Ademais, advoga que a homofobia não é só consentida no 
ambiente familiar, como também é ensinada, a qual acarreta um desprezo, um 
afastamento, pela imposição ao ridículo, pois a “homofobia” é tratada como uma 
doença contagiosa, e todos os que conviverem com crianças que têm este 
comportamento, serão interpretados como aderentes a esta prática. A autora 
argumenta, com base em Peter McLaren, que isto cria um “apartheid sexual”, um 
tipo de segregação, que neste caso ocorre dos dois lados, dos que não querem 
conviver com os homossexuais, e daqueles que não querem ser diariamente 
agredidos por seu comportamento. Por fim, a autora assevera que, o homossexual 
“admitido(a)”, é aquele que se mascara, esconde sua condição, vive enrustido(a).185 
A referência ao homossexualismo é importante, pois as 
pessoas que tem este tipo de comportamento sofrem retaliações semelhantes aos 
transexuais. Louro esclarece que, enquanto os transexuais, travestis, estão 
emergindo publicamente, há pessoas que percebem este movimento como 
 
185
 LOURO, G. L. (org.) O Corpo educado. Belo Horizonte: Autêntica, p. 29. 
 
 
73
desestabilizador da sociedade, ou seja, como se estivesse a levando para “um mau 
caminho”. 186 
A razão pela qual se fez este breve relato sobre 
comportamento social e sexual, é que, alguns anos atrás, quando um transexual 
buscava declarar seu direito, mediante a utilização do Poder Judiciário, por muito 
tempo seus pedidos, fundados em prerrogativas constitucionais foram negados, por 
Juízes e Desembargadores. 
Uma destas formas é através da ação de retificação de registro 
civil. Um exemplo disto foi o caso da transexual mais famosa de nosso país: Roberta 
Close. Por muitos anos, a modelo e apresentadora tentou retificar seu registro 
judicialmente, todavia, havia sempre resistência. Sintetizam-se algumas 
considerações, sobre a retificação do registro civil logo a seguir. 
 
3.2.1 O valor do Registro civil como atestado de cidadania 
O Registro Civil de nascimento deve ser considerado como o 
primeiro passo para o exercício da cidadania, pois, é através dele que se tem 
acesso a diversos benefícios. 
 A Certidão de Nascimento é o primeiro documento de valor 
jurídico na vida do cidadão. Este documento é necessário para se obter Carteira de 
Identidade, Cadastro da Pessoa Física, Título de Eleitor, Carteira de Trabalho; fazer 
cadastro em programas governamentais (como o Bolsa-Família); ter acesso à 
Previdência Social; abrir conta em banco; obter crédito; casar; e até para se obter 
Certidão de Óbito. 
A certidão de nascimento é o documento que certifica o registro 
de nascimento de uma pessoa. O artigo 54 da Lei 6.015187, que trata dos Registros 
 
186 LOURO, G. L. (org.) O Corpo educado. p. 31. 
187
 Art. 54. O assento do nascimento deverá conter: (Renumerado do art. 55, pela Lei nº 6.216, de 
1975). 1°) o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a hora certa, sendo possível determiná-la, ou 
aproximada; 2º) o sexo do registrando; (Redação dada pela Lei nº 6.216, de 1975). 3º) o fato de ser 
gêmeo, quando assim tiver acontecido; 4º) o nome e o prenome, que forem postos à criança; 5º) a 
declaração de que nasceu morta, ou morreu no ato ou logo depois do parto; 6º) a ordem de filiação 
 
 
74
Públicos, determina o conteúdo do documento. Nele constam nome, sexo, data, 
horário e local de nascimento, além dos nomes dos pais, avós e da pessoa que 
declarou o nascimento perante o cartório de registro civil e das testemunhas 
presentes. 
Plácido e Silva definem o registro civil da seguinte forma: 
É o vocábulo registro, na expressão registro civil, compreendido nas 
duas significações: 1ª) Na de assento, lançamento, inscrição de atos 
e fatos, referentes à existência, capacidade e estado das pessoas 
naturais e existência legal das pessoas jurídicas. Neste caso, a 
expressão tanto se refere às pessoas naturais como às pessoas 
jurídicas. Em relação às pessoas naturais, o registro civil 
compreende o assento de nascimento, de casamento, de óbito, bem 
assim, a inscrição, a averbação da concessão de emancipação, de 
declaração de interdição ou de ausência.188 
O Registro Civil é essencial para o bom funcionamento do país. 
O governo necessita de dados precisos sobre os nascimentos para a elaboração de 
políticas públicas. Beviláqua ensina que ao registrar o nascimento de uma pessoa, 
expedindo a correspondente Certidão de Nascimento, está o Oficial do Registro Civil 
de Pessoas Naturais inserindo-a no mundo jurídico, tornando-a sujeito de direitos e 
obrigações na ordem jurídica, soprando-lhe vida legal. É tarefa de transcendente 
nobilitância. 189 
Prosseguindo o mesmo autor declara que, por outro lado, já 
com as lentes da sociologia e da psicologia, ao atribuir-lhe nome, ascendência 
familiar, lugar de nascimento, está inserindo-a num contexto social e humano, do 
que resultam raízes que lhe trazem segurança social e psicológica. 
Beviláqua, dissertando na sua obra Teoria Geral do Direito 
Civil, lecionou : 
 
de outros irmãos do mesmo prenome que existirem ou tiverem existido; 7º) Os nomes e prenomes, 
a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar e cartório onde se casaram, a idade da genitora, do 
registrando em anos completos, na ocasião do parto, e o domicílio ou a residência do casal. 8º) os 
nomes e prenomes dos avós paternos e maternos; 9o) os nomes e prenomes, a profissão e a 
residência das duas testemunhas do assento, quando se tratar de parto ocorrido sem assistência 
médica em residência ou fora de unidade hospitalar ou casa de saúde.(Redação dada pela Lei nº 
9.997, de 2000) 
188
 PLÁCIDO E SILVA. Dicionário Jurídico, p. 1184. 
189
 BEVILÁQUA. Teoria Geral do Direito Civil.75
As vantagens do registro civil são consideráveis, quer para o Estado, 
quer para o indivíduo. O Estado tem nos registros civis o movimento 
da sua população, no qual se pode basear para medidas 
administrativas, de polícia ou de política jurídica. O indivíduo tem um 
meio seguro de provar o seu estado, a sua situação jurídica, e essa 
mesma facilidade de prova é uma segurança para os que com ele 
contratarem190. 
É certo que a preocupação primeira do ser humano é a 
manutenção e a sustentabilidade de sua vida, através dos recursos mínimos 
necessários, para que num segundo momento possa pensar nas condições de 
cidadão e membro participativo de uma comunidade. Neste sentido, o registro de 
nascimento atribui personalidade jurídica ao indivíduo, tornando-o sujeito de direitos 
e obrigações. Sem o registro, o ser humano não tem condições de atestar perante o 
Estado e para terceiros a sua existência jurídica, sendo correto dizer que o sujeito 
existirá de fato, mas não para o Mundo Jurídico. 191 
Atualmente, uma das principais preocupações do Poder 
Público é a atribuição da cidadania aos integrantes da população brasileira, pois 
existe uma grande quantidade de brasileiros sem as mínimas condições de vida e, 
inclusive, sem o seu registro civil, que lhe atribui cidadania. 
Portanto, constata-se que o registro civil da pessoa é 
ferramenta importantíssima para sua vida, pois seria como um histórico da sua vida, 
desde o nascimento, abrangendo o casamento, e finalmente, a morte. Neste sentido, 
o transexual busca a sua retificação, para que o sexo e o nome constantes no seu 
assento de nascimento, sejam alterados para o sexo ao qual realmente acreditam 
ser, por isto, a importância de alterá-lo, ou retificá-lo, antes ou após procedimento 
tão marcante na vida de uma pessoa como a cirurgia. 
 
 
190
 BEVILÁQUA. Teoria Geral do Direito Civil, p. 67. 
191 MALUF, Jorge Mubárack Rachid. Gratuidade do registro civil no Maranhão. São Luís: Tribunal 
de Justiça, 2006. 
 
 
76
3.3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A LEI DE REGISTROS 
PÚBLICOS 
O valor da dignidade humana impõe-se como centro basilar de 
todo o ordenamento jurídico brasileiro, servindo como parâmetro de valoração a 
nortear a interpretação e compreensão do sistema jurídico. 192 
No Brasil, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana está 
previsto no artigo 1º, III da Constituição Federal de 1988 e é um dos mais 
importantes de nosso ordenamento jurídico. 
Partindo-se do princípio de que a pessoa existe enquanto 
realidade anterior ao próprio ordenamento jurídico”193, constata-se que, o que a 
Constituição faz não é criar a dignidade da pessoa humana, mas reconhecê-la como 
princípio constitucional e fundamento dos direitos da personalidade. 194 
Alude Szanianwiski, que “Esta preocupação em valorizar o 
sujeito como ser humano e salvaguardar sua dignidade, colocando o indivíduo como 
centro, como principal destinatário da norma jurídica, tem sido denominada de 
repersonalização do Direito”195. Portanto, se todo o ordenamento jurídico submete-
se à Carta Magna, ter-se-á como conseqüência a personalização do direito civil. 
Kretz196, enfatizando o que Perlingieri denominou de “releitura 
do Código Civil e das leis especiais à luz da Constituição da República” , acredita na 
necessidade de uma relação entre a norma constitucional e a norma civil. Na 
verdade, seria uma reflexão do papel global da Constituição na teoria das fontes do 
Direito Civil. 
 
192
 CARDOSO, Renata Pinto. Transexualismo e o direito à redesignação do estado sexual. 
Artigo, 2005. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2164/Transexualismo-e-o-
direito-a-redesignacao-do-estado-sexual>. Acesso em: Out. 2009. 
193
 OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. 2. ed. atual. e amp. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2000. p 11. 
194
 BITTAR, Carlos Alberto. O Direito Civil na Constituição de 1988. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1991. p. 48. “São direitos que transcendem, pois, ao ordenamento jurídico 
positivo, porque ínsitos na própria natureza do homem, como ente dotado de personalidade”. 
195
 SZANIAWSKI, Elimar. Limites e possibilidades do direito de redesignação do estado sexual. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. p. 25. 
196
 KRETZ, Andrietta. Autonomia da Vontade e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais, 
p.38. 
 
 
77
Prossegue Kretz, mencionando que: 
Desde o surgimento do Direito Constitucional, esse sempre teve 
como expressão principal a garantia da liberdade consubstanciada 
na garantia de direitos da pessoa humana. Esses Direitos Humanos 
incorporados aos textos constitucionais passaram por se transformar 
em Direitos Fundamentais, ou seja, em liberdades públicas197. 
Sendo assim, inseridos neste contexto, certo afirmar-se que, 
se todos os institutos do Direito devem ser encarados e valorizados dentro da visão 
finalista de que devem existir na medida em que atendam ao homem enquanto tal: a 
noção de nação, raça e do próprio Estado, a idéia das pessoas jurídicas, tudo deve 
ser visto e estudado tendo-se por norte que visam a atender, a satisfazer o homem. 
198
 
Viável se considerar Bittar, quando alude: 
O destaque dos elementos sociais impregnará o Direito Privado de 
conotações próprias, eliminando os resquícios ainda existentes do 
individualismo e do formalismo jurídico, para submeter o Estado 
brasileiro a uma ordem baseada em valores reais e atuais, em que a 
justiça social é o fim último da norma, equilibrando-se mais os 
diferentes interesses por ela regidos, à luz de uma ação estatal 
efetiva, inclusive com a instituição de prestações positivas e 
concretas por parte do Poder Público para a fruição pela sociedade 
dos direitos assegurados. 199 
Prossegue o autor ensinando que com a promulgação da 
Constituição de 1988, houve a regulamentação de matéria que, antes, pertencera 
somente ao direito privado. 
Dessa forma, enquanto lei hierarquicamente superior, a 
Constituição condiciona as normas de Direito Civil aos seus princípios e regras. A 
principal noção que surge desta mudança é a “de que o interesse coletivo deve 
preponderar sempre em relação ao individual, sem, no entanto, aniquilar-se o 
 
197
 KRETZ, Andrietta. Autonomia da Vontade e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais, 
p.38. 
198
 OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Direito Civil: teoria geral do direito civil. 2000. p. 11. 
199
 BITTAR, Carlos Alberto. O direito civil na Constituição de 1988, p. 26. 
 
 
78
interesse individual totalmente”. 200 
Tanto quanto o princípio da dignidade da pessoa humana, um 
fundamento de nosso Estado, previsto no art. 1º da CRFB/88 e a lei de registro 
público, nº 6.015/73, oferecem fundamento para requerer a retificação do registro 
civil. 
Art. 1º 
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em 
Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
[...] 
III - a dignidade da pessoa humana. 
 
Conforme enfatiza Fabriz201, “A dignidade da pessoa humana 
expressa-se como corolário de todo arcabouço ético de uma sociedade”. 
 
Echterhoff, na obra Biodireito em Discussão202, citando José 
Afonso da Silva, destaca : 
 
[...] “dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa 
humana, único ser que compreende um valor interno, superior a 
qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a 
dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser 
humano”.203 
 
Ainda segundo observa Fabriz204: 
 
“... a dignidade da pessoa é da pessoa concreta, na sua vidareal e 
quotidiana; não é de um ser ideal e abstrato. É o homem ou a 
mulher, tal como existe, que a ordem jurídica considera irredutível e 
insubstituível e cujos direitos fundamentais a Constituição enuncia e 
 
200
 SZANIAWSKI, Elimar. Limites e possibilidades do direito de redesignação do estado sexual. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 23. 
201
 FABRIZ, Daury César. Bioética e direitos fundamentais: a bioconstituição como paradigma ao 
biodireito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003. p. 275. 
202
 MEIRELLES, Jussara Maria Leal de (Coord.). Biodireito em discussão. Curitiba: Juruá, 2007. p. 
93. 
203
 Destaques no original. 
204
 FABRIZ, Daury César. Bioética e direitos fundamentais: a bioconstituição como paradigma ao 
biodireito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003. p. 274. 
 
 
79
protege. Em todo homem e em toda a mulher estão presentes todas 
as faculdades da humanidade”. 205 
 
Nesse sentido, Sarlet206 preleciona: 
 
[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e 
distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo 
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, 
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres 
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer 
ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir 
as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de 
propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos 
destinos da própria existência e da vida em comunhão com os 
demais seres humanos. 207 
 
Ainda, seguindo-se no entendimento de Echterhoff208: 
 
[...] “imbricado ao valor da pessoa humana está o princípio ético-
jurídico da dignidade da pessoa humana. Ou seja, o valor da pessoa 
humana é traduzido juridicamente pelo eminente princípio 
fundamental da dignidade da pessoa humana”, sendo que isto 
significa a objetivação do valor da dignidade da pessoa humana. 209 
 
Uma vez que a vida é o pressuposto fundamental, uma 
premissa maior, a dignidade se concretizará em razão da vida que somente é 
significativa, se for digna. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente ao ser 
humano, “[...] que se manifesta na autodeterminação consciente e responsável da 
própria vida, exigindo o respeito por parte dos demais”. 210 
Trantando-se da dignidade da pessoa humana está se 
tratando das exigências básicas que o ser humano necessita, que a ele sejam 
oferecidos os recursos da sociedade para manter a sua existência com dignidade, 
 
205
 Destaques no original. 
206
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 60. 
207
 Destaques no original. 
208
 MEIRELLES, Jussara Maria Leal de (Coord.). Biodireito em discussão. Curitiba: Juruá, 2007. p. 
104. 
209
 Destaques no original. 
210
 FABRIZ, Daury César. Bioética e direitos fundamentais: a bioconstituição como paradigma ao 
biodireito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2003. p. 278. 
 
 
80
que lhe sejam proporcionadas as condições indispensáveis para o pleno 
desenvolvimento das suas potencialidades. 211 
 
Em seu aspecto jurídico-constitucional, a dignidade da pessoa 
humana é: 
 
[...] a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é 
irrenunciável e inalienável, constituindo elemento que qualifica o ser 
humano como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que 
não se pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser 
titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a dignidade. Esta, 
portanto, como qualidade integrante e irrenunciável da própria 
condição humana, pode (e deve) ser reconhecida, respeitada, 
promovida e protegida, não podendo, contudo (no sentido ora 
empregado) ser criada, concedida ou retirada, já que existe em cada 
ser humano como algo que lhe é inerente. 212 
 
Continuando, assevera Sarlet213 que: 
 
Com efeito, diante do compromisso assumido formalmente pelo 
Constituinte, pelo menos – nas hipóteses de violação dos deveres e 
direitos decorrentes da dignidade da pessoa – restará uma 
perspectiva concreta, ainda que mínima, de efetivação por meio dos 
órgãos jurisdicionais, enquanto e na medida em que se lhes 
assegurar as condições básicas para o cumprimento de seu 
desiderato. 
 
O princípio da dignidade da pessoa humana não está dotado 
simplesmente de um conteúdo ético-moral, mas constitui-se numa norma jurídica 
positivada, com status constitucional formal e material, carregado de eficácia e, 
portanto, obtendo a condição de valor jurídico fundamental para a sociedade. 214 
 
 
211
 MEIRELLES, Jussara Maria Leal de (Coord.). Biodireito em discussão. Curitiba: Juruá, 2007. p. 
98. 
212
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 40-41. 
213
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 26. 
214
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 72. 
 
 
81
Sendo um princípio fundamental, a dignidade da pessoa 
humana consiste num valor-guia dos direitos fundamentais, bem como de toda a 
ordem jurídica, constitucional e infraconstitucional, justificando, para muitos, seu 
caráter de princípio constitucional de maior hierarquia axiológico-valorativa. 215 
 
Percebe-se também, que inclusive em decisões dos nossos 
Tribunais, têm-se utilizado o princípio da dignidade da pessoa humana como um 
critério hermenêutico, ou seja, como fundamento para a solução de controvérsias à 
luz deste princípio. 216 
 
Desta forma, na condição de princípio normativo, o princípio 
da dignidade da pessoa humana atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais, 
uma vez que pressupõe o reconhecimento e proteção destes. Por este motivo, se à 
pessoa humana não forem reconhecidos os direitos fundamentais, estar-se-á lhe 
negando a dignidade propriamente dita. 217 
 
Estes inúmeros desdobramentos do presente princípio devem-
se ao fato de que, como um princípio fundamental, engloba, ao mesmo tempo, o 
respeito e a proteção da integridade física e psíquica da pessoa. Salvaguardar a 
pessoa humana significa não tratá-la de modo que “[...] torne impossível representar 
a contingência de seu próprio corpo como momento de sua própria, autônoma 
responsável individualidade”. 218 
 
Slaibi Filho exprime que, com este princípio, o homem torna-se 
o centro, sujeito, objeto da atividade estatal, e afirma que este fundamento é o valor 
máximo da Constituição. 219 
Quanto à lei de registro público, nº 6.015/73, não existe 
 
215
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 72. 
216
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 83-84. 
217
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 87. 
218
 SARLET, Ingo Wolfang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 89-90. 
219
 SLAIBI FILHO, N. Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.154. 
 
 
82
previsão de retificação do registro civilda pessoa, em decorrência da mudança de 
sexo, todavia, a brecha encontrada pelos operadores do direito está descrita no art. 
58: 
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua 
substituição por apelidos públicos notórios220. 
 
Fica evidente que, nossa legislação não possui, nem indica o 
procedimento para que uma pessoa diagnosticada com transexualismo busque 
auxílio jurídico, todavia, este artigo deixa uma lacuna para a mudança do prenome. 
É o caso de Roberta Close, famosa transexual brasileira. A mesma ingressou com 
pedido de retificação, pois como sempre teve aspecto físico de mulher, e seu nome 
artístico, conhecido publicamente era feminino, indicou este dispositivo legal para 
fundamentar seu pedido. 
O procedimento para o mesmo também se encontra na Lei de 
Registros Públicos, no art. 109, capítulo que trata das retificações do registro: 
Art. 109. 
Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no 
Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com 
documentos ou com indicação de testemunhas, que o juiz o ordene, 
ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de 5 
(cinco) dias, que correrá em cartório221. 
Entretanto, há divergência sobre a competência para o 
julgamento do feito, sendo que alguns tribunais entendem que o processo deve se 
interposto perante a Vara de Registros Públicos, ou Vara da Fazenda, e outros 
defendem que deve ser interposto perante a Vara da Família. 
Peres sustenta que a competência é da Vara da Família, e não 
da Vara de Registro Público, sendo que a autora faz referência à apelação cível nº 
203.347 da Comarca de São Paulo, da qual colhe-se o seguinte:222 
 
220 Art. 58. BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os Registros Públicos e 
dá outras providências. 
221 BRASIL. Lei 6.015/73. 
222 PERES, A. P. A. B. Transexualismo. Direito a uma nova identidade sexual. p. 169. 
 
 
83
Segundo o acórdão: “A competência da Vara de Registros Públicos 
limita-se a julgar e processar os feitos contenciosos ou 
administrativos, principais, acessórios e seus incidentes relativos aos 
registros públicos, inclusive os de loteamento de imóveis, bens de 
família, casamento nuncupativo e usucapião, que, como põe em 
relevo o apelante, entende-se que a competência se refere apenas a 
processo versando exclusivamente matéria de registros. No caso, o 
requerente pretende, na verdade, a alteração de seu registro em 
razão da transformação de sexo resultante de operação a que foi 
submetido e mudança de nome. A ação, portanto, é relativa a estado, 
que, como resulta da doutrina e jurisprudência citada pelo apelante, é 
toda ação que envolva a modificação de qualquer aspecto da 
qualificação da pessoa.” 223 
Neste viés, o Tribunal do Estado de Santa Catarina manifestou-
se da seguinte forma: 
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO 
DE REGISTRO CIVIL - MATÉRIA DE ESTADO DA PESSOA - 
ELEMENTO DE IDENTIDADE - COMPETÊNCIA DA VARA DA 
FAMÍLIA, A TEOR DO ART. 96, I, C, DO CDOJESC - AGRAVO 
PROVIDO. 
A ação, para que fique constando sexo diverso do que nele foi 
lançado, não é simplesmente sobre registro pois envolve questão de 
estado da pessoa, da competência das Varas da Família e não da 
Vara dos Registros Públicos (JB 130/151)224. 
Desta forma, constata-se que a competência é da vara da 
Família, pois esta ação envolve questões referentes ao estado da pessoa. Segue 
um trecho do acórdão da Jurisprudência acima indicada que elucida o assunto: 
Como se observa, pretende o agravado a mudança de seu prenome 
e também a alteração de sua identidade sexual, o que, salvo melhor 
juízo, trata-se de ação complexa, onde o sexo da pessoa é elemento 
de sua identificação, portanto, indubitavelmente, a mudança de sexo 
está atrelada necessariamente ao estado da pessoa225. 
Na maioria dos casos, o juiz acolhe o pedido de retificação, 
todavia, há casos em que o Ministério Público apela, pois defende que a pessoa 
estará induzindo terceiros ao erro. 
 
223 São Paulo. Tribunal de Justiça, Ap. Civ. Nº 203.347, rel. Des. Moreno Gonzalez. Revista dos 
Tribunais, São Paulo, v. 444, p. 91-95, out. 1972. 
224 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n. 
2001.008781-2, de Capital. Relator: Anselmo Cerello. Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito 
Civil. Data: 22/10/2001. 
225 Idem 
 
 
84
Retornando-se ao caso de Roberta Close, destaca-se que 
este, revela uma tendência jurisprudencial destes casos. Por falta de legislação 
específica, os transexuais contam com os entendimentos dos julgadores que, 
evoluindo, tendem a sedimentar-se. 
Todo este procedimento seria facilitado, caso os projetos de 
leis nº 6.655/06226 e nº 70-B/95227 fossem aprovados, os quais serão descritos 
adiante. 
 
3.4 PROJETOS DE LEI ALTERANDO A LEI DE REGISTRO PÚBLICO E O 
CÓDIGO PENAL 
Existem atualmente dois projetos de lei, que fariam acréscimos 
ao art. 58 da Lei 6.015/73 e ao art. 129 do Código Penal. 
O Projeto de Lei nº 6655/06, de autoria de Luciano Zica, quer 
modificar o art. 58 da Lei nº 6.015. Desta forma, o referido artigo passaria a ter a 
seguinte redação: 
Art. 58. 
O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição, 
mediante sentença judicial, nos casos em que o interessado for: 
a) conhecido por apelidos notórios; 
b) reconhecido como transexual de acordo com laudo de avaliação 
médica, ainda que não tenha sido submetido a procedimento médico-
cirúrgico destinado à adequação dos órgãos sexuais; 
II – houver fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração 
com a apuração de crime por determinação, em sentença, de juiz 
competente após ouvido o Ministério Público. 
Parágrafo único. A sentença relativa à substituição do prenome na 
hipótese prevista na alínea b do inciso I deste artigo será objeto de 
averbação no livro de nascimento com a menção imperativa de ser a 
pessoa transexual. (NR). 
 
O que chama a atenção é o fato de ficar constando no registro 
que a pessoa é transexual, o que não agrada em nada aos transexuais, pois os 
mesmos ainda assim, seriam objeto de discriminação, já que o almejado é que 
 
226 Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/homeagencia/materias.html?pk=90099>. 
227 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=15009>. 
 
 
85
conste, na parte que fala do sexo, o sexo almejado, e não transexual. No projeto da 
lei, a justificativa é a de que, deve-se contar fato verídico no registro civil, para que 
não haja conseqüências para terceiros. 
Isto também ocorre com o projeto de lei nº 70-b/95, cujo autor é 
José Coimbra, anterior ao referido anteriormente, todavia, o projeto de 1995 requer a 
modificação do art. 129 do Código Penal, nos seguintes termos, além de requerer a 
modificação do art. 58 da Lei de registros públicos: 
Art. 129 
[...] 
Exclusão do crime 
§ 9º Não constitui crime a intervenção cirúrgica realizada para fins de 
ablação e órgãos e partes do corpo humano quando, destinada a 
alterar o sexo do paciente maior e capaz, tenha ela sido efetuada a 
pedido deste e procedida de todos os exames necessários e de 
parecer unânime de junta médica 
Art. 58 
O prenome será imutável, salvo nos casos previstos neste artigo. 
§ 1º Quando for evidente erro gráfico do prenome, admitindo-se a 
retificação, bem como a sua mudança mediante sentença do juiz, a 
requerimento do interessado, no caso de erro do parágrafo único do 
art. 55, se o oficial não houver impugnado. 
§ 2º Será admitida a mudança do prenome mediante autorização 
judicial, nos casos em que o requerente tenha se submetido a 
intervenção cirúrgica destinada aalterar o sexo originário. 
§ 3º No caso do parágrafo anterior deverá ser averbado ao registro 
de nascimento e ao respectivo documento de identidade ser pessoa 
transexual. 
Verifica-se que ambos os projetos de lei, pretendem que fique 
constando que o referido sexo da pessoa é “transexual.” Percebe-se que existe uma 
certa morosidade na aprovação destas leis, decorrente de que o transexualismo 
foge do padrão de comportamento social previsto e aceito. Peres faz uma importante 
colocação quanto ao tema. 
Os transexuais também, ainda, não tiveram o direito à liberdade 
sexual reconhecido. E, como os homossexuais e os transexuais, 
outros indivíduos portadores de estados comportamentais diversos 
do heterossexual encontram-se em igual situação. Até que o sistema 
redescubra que as minorias hoje representativas de determinadas 
formas de transgressão e alteridade podem lhe interessar, manterá o 
 
 
86
modelo nuclear tradicional, para que, só então, possa redefinir uma 
nova lógica que as acolha.228 
Apesar de os referidos projetos estar em andamento de 
aprovação, já houve decisões que acolheram os pedidos de transexuais, inclusive 
que, ao tempo do requerimento, não haviam se submetido à cirurgia de 
redesignação sexual. 
Recente e muito divulgada foi a sentença, proferida pela Juíza 
Leise Rodrigues Espírito Santo da 9ª Vara de Família da Comarca da Capital - Rio 
de Janeiro, em 9 de março do ano corrente, publicada dia 14 desse mesmo mês no 
Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, que reconheceu o estado sexual feminino 
de Roberta Gambine Moreira, conhecida publicamente como Roberta Close. 
Roberta até muito pouco tempo atrás portava e exibia documentos em que 
constavam sexo masculino e o nome Luis Roberto Gambine Moreira. Agora, com a 
averbação da retificação do nome e do sexo no registro de nascimento, pôde trocar 
seus documentos de identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF) e passaporte229. 
 
3.5 JURISPRUDÊNCIAS 
Apesar de existirem os referidos projetos de lei, o direito não 
pode furtar-se dos desafios do mundo moderno. Neste viés, o judiciário, em 
decisões de pedidos de retificação de registro civil, já julgou procedente alguns 
casos relacionados ao tema. 
Assim, sem o intuito de esgotar a pesquisa jurisprudência, mas 
sim, com o objetivo de demonstrar alguns posicionamentos adotados sobre a 
temática, pelo Poder Judiciário Brasileiro, destacam-se algumas jurisprudências. 
O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência referente 
ao assunto: 
 
228
 PERES, A. P. A. B. Transexualismo: o direito a uma nova identidade sexual. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2001. p.62. 
229
 GOIS, Ancelmo. Ela é mulher. O Globo, Rio de Janeiro, 25 de maio de 2005. Rio, p. 20. 
 
 
87
EMENTA: MUDANÇA DE SEXO. AVERBAÇÃO NO REGISTRO 
CIVIL. 
1.O recorrido quis seguir o seu destino, e agente de sua vontade livre 
procurou alterar no seu registro civil a sua opção, cercada do 
necessário acompanhamento médico e de intervenção que lhe 
provocou a alteração da natureza gerada. Há uma modificação de 
fato que se não pode comparar com qualquer outra circunstância que 
não tenha a mesma origem. O reconhecimento se deu pela 
necessidade de ferimento do corpo, a tanto, como se sabe, equivale 
o ato cirúrgico, para que seu caminho ficasse adequado ao seu 
pensar e permitisse que seu rumo fosse aquele que seu ato 
voluntário revelou para o mundo no convívio social. Esconder a 
vontade de quem a manifestou livremente é que seria preconceito, 
discriminação, opróbrio, desonra, indignidade com aquele que 
escolheu o seu caminhar no trânsito fugaz da vida e na permanente 
luz do espírito. 
2. Recurso especial conhecido e provido. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima 
indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior 
Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial e 
dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os 
Srs. Ministros Castro Filho, Humberto Gomes de Barros e Ari 
Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, 
justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.230 
 
 
A parte chave do referido acórdão, a decisão, defere o pedido 
de mudança do nome e do sexo: 
Conheço do especial e lhe dou provimento para determinar que fique 
averbado no registro civil que a modificação do nome e do sexo do 
recorrido decorreu de decisão judicial231. 
Ou seja, retificar-se-á não só o nome, mas também a parte que 
indica o sexo da pessoa. 
O Tribunal do Estado do Rio Grande do Sul, concedeu uma 
decisão favorável para a retificação do registro civil, sem a comprovação da cirurgia 
de redesignação sexual. A relatora da decisão foi a ex-Desembargadora Maria 
 
230
 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Processo resp 678933 / RS Recurso Especial nº 
2004/0098083-5, Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (1108). Órgão Julgador T3 - 
TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 22/03/2007 Data da Publicação/Fonte DJ 21/05/2007 p. 
571. RDR vol. 41 p. 311, RJTJRS vol. 265 p. 37. 
231
 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Modificação do nome e do sexo do recorrido. 
 
 
88
Berenice Dias, a qual vem publicando material relacionado com homossexualismo, 
sendo uma grande defensora da causa. No caso dos transexuais, proferiu 
julgamento favorável ao caso. 
APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇÃO DO NOME E AVERBAÇÃO NO 
REGISTRO CIVIL. TRANSEXUALIDADE. CIRURGIA DE 
TRANSGENITALIZAÇÃO. 
O fato de o apelante ainda não ter se submetido à cirurgia para a 
alteração de sexo não pode constituir óbice ao deferimento do pedido 
de alteração do nome. Enquanto fator determinante da identificação 
e da vinculação de alguém a um determinado grupo familiar, o nome 
assume fundamental importância individual e social. Paralelamente a 
essa conotação pública, não se pode olvidar que o nome encerra 
fatores outros, de ordem eminentemente pessoal, na qualidade de 
direito personalíssimo que constitui atributo da personalidade. Os 
direitos fundamentais visam à concretização do princípio da 
dignidade da pessoa humana, o qual, atua como uma qualidade 
inerente, indissociável, de todo e qualquer ser humano, relacionando-
se intrinsecamente com a autonomia, razão e autodeterminação de 
cada indivíduo. Fechar os olhos a esta realidade, que é reconhecida 
pela própria medicina, implicaria infração ao princípio da dignidade 
da pessoa humana, norma esculpida no inciso III do art. 1º da 
Constituição Federal, que deve prevalecer à regra da imutabilidade 
do prenome. 
Por maioria, proveram em parte232. 
Colhe-se do acórdão a seguinte informação: 
Em face dos votos dos colegas, proponho que seja averbado na 
certidão do registro do nascimento do recorrente sua condição de 
transexual. Assim, ao menos até a realização da cirurgia de 
redesignação, quando então passará a ser identificado com do sexo 
feminino, constaria sua real identificação233. 
Neste sentido, a decisão assemelha-se aos projetos de lei 
referidos anteriormente, de manter o sexo (gênero) como transexual, e abre a 
possibilidade de os transexuais não precisarem esperar pela cirurgia de adequação 
sexual para ingressar com seu pedido de retificar o seu nome, apesar de não alterar 
o registro do gênero. Todavia, no presente caso, há a possibilidade da pessoa 
 
232
 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível Nº 70013909874, 
Sétima Câmara CíveL, Comarca de Porto Alegre, APELANTE ADENILSON DE ABREU MARTINS, 
APELADA A JUSTIÇA. DATA DE JULGAMENTO: 05/04/2006, PUBLICAÇÃO: Diário de Justiça do 
dia 17/04/2006, RELATOR: Maria Berenice Dias. 
233
 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. ApelaçãoCível Nº 70013909874. 
Diário de Justiça do dia 17/04/2006, RELATOR: Maria Berenice Dias. 
 
 
89
submeter-se à cirurgia, quando o gênero ou sexo será alterado na identidade. Os 
projetos de lei não advogam esta possibilidade, nem mesmo realizada o 
procedimento cirúrgico. 
 
Neste viés, o mesmo Tribunal, nos casos em que a pessoa já 
realizou a cirurgia, concede a alteração tanto do nome, quanto do gênero. 
APELAÇÃO CÍVEL. TRANSEXUALISMO. ALTERAÇÃO DO 
GENERO/SEXO NO REGISTRO DE NASCIMENTO. 
DEFERIMENTO. 
Tendo o autor/apelante se submetido a cirurgia de “redesignação 
sexual”, não apresentando qualquer resquício de genitália masculina 
no seu corpo, sendo que seu “fenótipo é totalmente feminino”, e, o 
papel que desempenha na sociedade se caracteriza como de cunho 
feminino, cabível a alteração não só do nome no seu registro de 
nascimento mas também do sexo, para que conste como sendo do 
gênero feminino. Se o nome não corresponder ao gênero/sexo da 
pessoa, à evidência que ela terá a sua dignidade violada. 
Precedentes. 
Apelação provida. 
Colhe-se do acórdão a seguinte informação: 
Pelas razões expostas, o voto é pelo provimento da apelação, para 
autorizar seja averbado no registro de nascimento do autor a 
retificação, além do nome conforme deferido na sentença, também 
do sexo, para constar como sendo do gênero feminino, com a devida 
observância do segredo de justiça234. 
Verifica-se que, enquanto o Poder Legislativo está envolto em 
procedimento para o processamento das normas de situações emergentes e 
persistentes em nossa sociedade, o Poder Judiciário já constatou que é necessário 
a sua intervenção, já que o mesmo foi provocado para a resolução de tal deslinde, 
como será aludido adiante. 
 
234
 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível Nº 70022952261, 
Oitava Câmara Cível, Comarca de Carlos Barbosa, Apelante Paulo César Schafer Apelada A 
Justiça. Data de Julgamento: 17/04/2008 Publicação: Diário de Justiça. 25/04/2008. Relator: José 
Ataídes Siqueira Trindade. 
 
 
90
3.6 LACUNA DA LEI E PROCESSAMENTO DA AÇÃO DECORRENTE DA 
MESMA 
Verifica-se então que o transexualismo, apesar da lacuna 
existente, quando impulsiona o judiciário, obtém resposta favorável para sua 
condição. Isto é feito nos moldes do art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil, há a 
possibilidade para que os juízes possam suprir as lacunas, existentes em nosso 
ordenamento jurídico, além do disposto no art. 126 do Código de Processo Civil: 
Art. 4. 
Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Art. 126 
O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou 
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as 
normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes 
e aos princípios gerais de direito. 
O Direito não pode olvidar-se da justiça que é a virtude que lhe 
permeia. Para tanto, de toda norma jurídica devemos extrair o seu fim social e aplicá-la 
nestes limites. E, desta maneira, sendo a pessoa humana o bem jurídico primeiro a ser 
resguardado pelo Estado, o magistrado deve dar efetividade, limitada pelos princípios 
constitucionais, às normas, captando sempre o espírito da lei, sem apegar-se 
inteiramente à sua literalidade. Se assim não for, o Direito se desviará da justiça. 
Gagliano e Pamplona Filho referem-se às lacunas do direito da 
seguinte forma: 
Quando inexiste lei a aplicar diretamente ao caso, deve o magistrado 
se valer de outras fontes do Direito para encontrar a regra que 
efetivamente deve disciplinar a relação jurídica submetida à sua 
apreciação. Na forma do art. 4º da LICC, nesses casos, o juiz 
decidirá de acordo com analogia, os costumes e os princípios gerais 
do direito. [...] a essas fontes supletivas somam-se a doutrina, a 
jurisprudência e a equidade.235 
 
235
 GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil. v. I: parte geral, 9. ed., 
revisada, atualizada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 63. 
 
 
91
Gonçalves exprime, no mesmo sentido, que o legislador nem 
sempre prevê os fatos que necessitam de intervenção legal, pois, o direito 
movimenta-se constantemente, já que acompanha e decorre da evolução da 
sociedade, a qual apresenta fatos e conflitos novos. Neste sentido, situações sem 
previsão jurídica ocorrem, levando ao juiz a responsabilidade de manifestar-se sobre 
estas. O autor ainda faz menção dos art. 126 do CPC, descrito anteriormente, e 
verifica que, quando um fato é levado ao judiciário, existe a garantia que o mesmo 
apresentará solução ao mesmo. 236 
Constata-se que, apesar da lacuna existente, a doutrina 
especializada no caso, além do reconhecimento pelo Conselho Federal de Medicina 
auxiliam no julgamento. Portanto, confirma-se que o transexual, apesar de não 
possuir legislação referente à sua condição, é reconhecido pelo ordenamento 
jurídico brasileiro. 
Por fim, amparados pela grandeza que o Direito nos 
proporciona em defesa dos nossos mais genuínos direitos, pode-se afirmar, que em 
geral, os transexuais têm conseguido efetivar a alteração do registro civil, por meio 
do respeito ao objetivo fundamental do Direito, qual seja a justiça, da dignidade da 
pessoa humana, dos princípios constitucionais, entre outros, é possível desenvolver 
a aplicação satisfatória do Direito. 
 
 
 
 
 
236
 GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro. v.1: parte geral, 5. ed., revisada e atualizada. São 
Paulo: Saraiva, 2007, p. 48. 
 
 
92
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com o presente estudo, verifica-se que o transexual tem um 
árduo caminho desde criança. Enfrentam diversos obstáculos psíquicos em tentar 
entender sua condição como pessoa sexual, sua sexualidade e seu sexo devido à 
grande confusão mental existente, já que os padrões sociais definem algo que não 
condiz com sua realidade. 
Isto porque nascem com um sexo morfológico, mas em sua 
mente, pertencem ao sexo oposto. Além disso, enfrentam vários desafios em seus 
lares com seus familiares, para viver como um transexual, pois existem pais, mães e 
familiares, que não compreendem, tampouco aceitam sua condição. O apoio da 
família e dos amigos é imprescindível para os transexuais, já que o sentimento de 
não se encaixar na sociedade é muito ruim, visto que estes encontram-se em um 
estado intermediário, não são nem mulheres nem homens. 
Além disto, o tratamento para “mudar de sexo” é complexo e 
extenuante, envolvendo hormônios, remoção de pelos e implantes nos seios, no 
caso dos homens. Depois de estar com aparência semelhante ao sexo desejado, 
passam por diversas perícias médicas, com psiquiatras, psicólogos e 
endocrinologistas para estarem aptos a realizar a cirurgia de transgenitalização. 
Retomando-se as hipóteses avençadas no início da pesquisa 
destaca-se que: Quanto a primeira hipótese “a cirurgia de mudança de sexo é 
amparada pela comunidade médica e jurídica”, a mesma restou confirmada, pois a 
cirurgia de adequação sexual é amparada tanto pela comunidade médica quanto 
pela comunidade jurídica. Isto ocorre pois o CFM proferiu resolução referente ao 
procedimento de transgenitalização, e os doutrinadores jurídicos já manifestaram-se, 
como foi exposto no corpo do trabalho, que o procedimento não caracteriza crime, 
sendo aliás, um tratamento médico reconhecido. 
A cirurgia em si é invasiva e dolorosa, e no caso dos homens 
que vão se transformar em mulheres, estes precisam utilizar um “supositório” no 
canal vaginal, para que a cirurgia tenha sucesso e a abertura construída 
 
 
93
cirurgicamente não se feche. Por fim, a batalha judicial se inicia.Atualmente, a 
legislação não auxilia, em muito, o transexual, pois não existe lei referente ao caso 
do transexual aprovada, estas estão em tramitação no congresso nacional. Todavia, 
o poder judiciário, que não pode esquivar-se dos desafios sociais, quando é 
provocado, já apresentou parecer favorável aos transexuais, proferindo decisões 
procedentes ao pedido de retificação do registro civil, para mudança do nome e do 
sexo jurídico. 
No tocante a segunda hipótese “a retificação do registro civil é 
possível em nosso ordenamento jurídico para os transexuais que efetuaram a 
cirurgia de mudança de sexo”, também restou confirmada, pois verifica-se que os 
Tribunais tem tido posicionamento favorável à retificação do registro civil dos 
transexuais que completaram sua transição, ou seja, realização da adequação 
sexual, com fulcro no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, que 
faz com que o ser-humano, o cidadão, seja o sujeito principal da atividade estatal. 
Ademais, constata-se que, mesmo os transexuais que não 
realizaram a cirurgia, obtém posicionamento favorável do Judiciário, em conseguir a 
alteração do prenome, ficando a alteração do sexo pendente até o procedimento 
cirúrgico. 
Por fim, o transexualismo é uma causa muito válida de ser 
advogada, pois os mesmos são seres-humanos como outros qualquer, que sofrem 
de uma síndrome psicossocial, por sentirem uma inadequação anatômica. Isto pode 
ocorrer com qualquer pessoa e qualquer família, em qualquer país ou continente. 
Desta forma, é imprescindível que o preconceito social seja combatido fortemente 
pelos operadores do Direito, que estes percebam que possuem uma grande 
ferramenta em suas mãos, que é a Lei, e que com esta podem demandar, podem 
exigir que todos sejam tratados da mesma forma que um cidadão que não cause 
discórdia social. 
Neste sentido, acredito que é a hora para que todas as 
controvérsias sociais, como o transexualismo, homossexualismo, sejam resolvidas 
pelo Legislativo, para que o mesmo aja de forma coerente, e produza projetos de lei 
que realmente ajudem os transexuais, e não promovam o preconceito, pois o 
 
 
94
mesmo, ao contrário do transexualismo, deve ser combatido e extinto. 
 
 
95
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Nova Cultural, 1996. (Coleção os Pensadores). 
 
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101
ANEXOS: 
FOTOS: EXEMPLOS DE CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO 
DE HOMEM PARA MULHER 
 
 
Pênis Pré-operatório 
 
 
 
 
O pênis é marcado e os nervos são preservados 
 
 
 
 
O escroto é preservado para construção da nova vagina 
 
 
 
 
É inserido um “balão” para definir o canal vaginal 
 
 
 
 
 
O resultado final da cirurgia, com o clitóris em posição normal, o canal 
vaginal formado, a uretra e os lábios. 
 
 
O dilatador vaginal antes de ser inserido na vagina 
 
 
 
 
O dilatador vaginal inserido na vagina, para manter o canal vaginal 
aberto 
 
 
Fotos de Cirurgia de mudança de sexo de homem para mulher 
Fonte: Disponível em: <http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/figure1.htm>. 
 
 
 
 
102
FOTOS: EXEMPLOS DE CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO 
DE MULHER PARA HOMEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Vagina antes da operaçãoVagina após a operação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotos de Cirurgia de mudança de sexo de mulher para homem 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/female_to_male_example.htm>. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
103
FOTOS: IMPLANTE DE SILICONE EM HOMENS: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Seios antes do implante 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/breast_surgery_example.htm>. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Seios após o implante 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/breast_surgery_example.htm>. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
104
FOTOS: ALTERAÇÕES NA FACE PARA FEMINILIZAÇÃO: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rosto pré-operação 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/facial_and_cosmetic_surgery_example.htm>. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rosto pós-operação, com “lift” nas sobrancelhas e rinoplastia 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.altermd.com/Transsexual%20Surgery/facial_and_cosmetic_surgery_example.htm>.

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