Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE DISCIPLINA: LEGISLAÇÃO SOCIETÁRIA E COMERCIAL PROFESSOR: ALBERTO SOARES EMPRESA INDIVIDUAL E EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITDADA SUMÁRIO 1 EMPRESA INDIVIDUAL - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.1 Empresário individual - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.1.1 Nome empresarial - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.1.2 Responsabilidade patrimonial primária e secundária - - 1.1.3 Responsabilidade patrimonial do empresário individual 2 EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - - - - - 2.1 Requisitos de constituição da Eireli - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2.2 Nome empresarial da Eireli - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3 DIFERENÇA ENTRE MEI, EI, ME e EPP - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3.1 MEI – microempreendedor individual - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3.2 EI – empresa individual - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3.3 ME – microempresa - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3.4 EPP – empresa de pequeno porte - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 2 1 EMPRESA INDIVIDUAL As empresas individuais e as empresas individuais de responsabilidade limitada são, em regra, pequenos negócios, integrantes das diversas áreas econômicas, constituídas por uma única pessoa física, (empresário) e, por serem assim, consideravelmente pequenas, revestem-se tributariamente da condição de microempreendedor individual, microempresário e empresas de pequeno porte. Ressalta-se o fato de que a lei não estabelece que uma microempresa ou empresa de pequeno porte tenha que ser individual; o que se enfatiza, nesse contexto, é a lógica econômica para tal condição, presumindo-se que uma empresa individual, trata, em regra, de um negócio de pequeno porte. A esse respeito, tem-se que, qualquer brasileiro pode iniciar uma atividade empresarial individualmente, em nome próprio, com a finalidade de auferir lucros, muitas vezes, o que não é raro, como fonte única de renda. Para tanto, basta a sua inscrição na Junta Comercial da sede onde vai exercer a sua atividade mercantil. Essa prática é comum no Brasil, principalmente nos pequenos negócios, ainda mais, diante da flagrante falta de empregos. Nesse contexto, Coelho (2003, p. 20), afirma que empresário individual, em regra, não explora atividade economicamente importante. E prossegue dizendo: Em primeiro lugar, porque negócios de vulto exigem naturalmente grandes investimentos. Além disso, o risco de insucesso, inerente a empreendimento de qualquer natureza e tamanho, é proporcional às dimensões do negócio: quanto maior e mais complexa a atividade, maiores os riscos. Em consequência, as atividades de maior envergadura econômica são exploradas por sociedades empresárias anônimas ou limitadas, que são os tipos societários que melhor viabilizam a conjugação de capitais e limitação de perdas. Aos empresários individuais sobram os negócios rudimentares e marginais, muitas vezes ambulantes. Dedicam-se a atividades como varejo de produtos estrangeiros adquiridos em zonas francas (sacoleiros), confecção de bijuterias, de doces para restaurantes ou bufês, quiosques de miudezas em locais públicos, bancas de frutas ou pastelarias em feiras semanais etc. A essas empresas, é muito comum, outros tipos de denominações, que decorrem da classificação delas para efeito de enquadramento ou de benefício tributário. Assim, têm-se o microempreendedor individual ou MEI, a microempresa ou ME e a empresa de pequeno porte ou EPP. Essa classificação obedece aos valores explícitos na tabela 1, que, tributariamente, servem para classificar as empresas, sobretudo, na área federal. Microempresa RBA 1 ≤ $360.000 Empresa de pequeno porte $360.000 < RBA ≤ $3.600.000 Tabela 1 – Tabela de classificação das empresas, segundo a legislação tributária Fonte: elaboração do autor. A lei uniformizou o conceito de ME e EPP com base na receita bruta anual, destacando: a) microempresa ou ME será a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual e a empresa individual de responsabilidade limitada, devidamente registrada nos órgãos competentes, que aufira em cada ano calendário, a receita bruta igual ou inferior a $360.000,00; b) empresa de pequeno porte ou EPP se a receita bruta anual for maior de $360.000,00 e menor ou igual a $ 3.600.000,00; nesse grupamento é bem provável que seja marcado pela presença de sociedades contratuais, pois apesar de valores pequenos no contexto econômico, acabam por serem relevantes no contexto individual e, assim, materializa-se a necessidade de mais de uma pessoa investir recursos na condição de sócia; 1 RBA – receita bruta anual A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 3 c) microempreendedor individual ou MEI - a lei também abordou essa categoria, definindo como a pessoa que trabalha por conta própria e se legaliza como pequeno empresário, optante pelo Simples Nacional, com receita bruta anual de até $60.000,00. Os pequenos negócios respondem por mais de um quarto do produto interno bruto (PIB) brasileiro. São cerca de nove milhões de micro e pequenas empresas no País, que representam 27% do PIB. Ressalta-se o fato de que é cada vez mais crescente o número de pessoas que constituem um pequeno negócio para trabalhar e, dessa forma, fugir da crise de desemprego, que mesmo quando a economia do País está mais tranquila, ainda assim, é tão alarmante a falta de emprego no Brasil. (SEBRAE, 2011). Em valores absolutos, a produção gerada pelas micro e pequenas empresas quadruplicou em dez anos (2003-2012), de sorte que essas categorias são as principais geradoras de riqueza no comércio brasileiro, uma vez que representam 53,4% do PIB desse setor. (SEBRAE, 2013). Esses dados demonstram a importância dos empreendimentos de pequeno porte, incluindo-se os microempreendedores individuais, que não param de crescer em quantidade como também na participação da economia nacional; pois, sabe-se hoje que mais da metade, 52% dos empregos formais (carteira assinada), está alocada nesses empreendimentos. O vertiginoso crescimento dos empreendedores individuais tem ligação direta com a flexibilização da legislação, tais como: a homologação e publicação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa em 2006, que conseguiu melhorar muito o ambiente legal para os pequenos negócios; entre os benefícios dessa lei, destaca-se criação do Simples, que reduz em média 40% a carga tributária para pequenos negócios e unifica oito tributos em um único boleto; a criação em 2007 do Simples Nacional, um regime tributário diferenciado aplicável aos micro e pequenos empresários; por fim, a homologação e publicação da Lei nº 12.441/11 que institui as regras sobre a constituição e legalização da empresa individual de responsabilidade limitada – Eireli. 1.1 Empresário individual O empresário individual é aquele que exerce em nome próprio, atividade empresarial. Trata-se de uma empresa que é titulada por uma só pessoa física, que integraliza bens próprios à exploração do negócio. Um empresário em nome individual atua sem separação jurídica entre os seus bens pessoais e os seus negócios, ou seja, não vigora o princípioda separação do patrimônio (princípio da entidade). O proprietário responde de forma ilimitada pelas dívidas contraídas no exercício da sua atividade perante os seus credores, com todos os bens pessoais que integram o seu patrimônio (casas, automóveis, terrenos etc.) e os do seu cônjuge (se for casado num regime de comunhão de bens), respeitada a responsabilidade subsidiária. O inverso também acontece, ou seja, o patrimônio integralizado para a exploração da atividade comercial também responde pelas dívidas pessoais do empresário e do cônjuge. A responsabilidade é, portanto, ilimitada nos dois sentidos. 1.1.1 Nome empresarial O nome empresarial deve ser composto a partir do nome civil do proprietário, no todo ou em parte, podendo haver abreviaturas, inclusive o acréscimo de designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade, conforme autoriza o art. 1.156 do Código Civil. Se tiver adquirido a empresa por sucessão, poderá acrescentar a expressão: "Sucessor de" ou "Herdeiro de". Por exemplo, em meados do século XIX, uma editora estabeleceu-se na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, sendo responsável pela publicação das obras de José de Alencar, Gonçalves Dias, Joaquim Nabuco, entre outras. Essa empresa era uma firma individual: B. L. Garnier – Livreiro-Editor, nome empresarial formado a partir do nome civil Baptiste Louis Garnier, seu titular, um francês que se radicou no Brasil e que mudou a história literária nacional, bastando citar ter sido o pioneiro na publicação de Machado de Assis. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 4 A firma poderia ser apenas Baptiste Louis Garnier ou Baptiste Louis Garnier – Livreiro-Editor ou Baptiste L Garnier – Livreiro-Editor etc. Além do nome empresarial, registra-se também a assinatura, isto é, a forma como o titular deverá assinar os atos que digam respeito à empresa: notas promissórias, contratos, recibos, admissão de pessoal, abertura de conta corrente e outros. No entanto, quando se tratar de ato estranho à empresa, assina-se o nome civil, tal qual a assinatura constante do documento de registro geral. 1.1.2 Responsabilidade patrimonial primária e secundária A princípio, importante lembrar que a responsabilidade surge como consequência do não cumprimento de uma obrigação, caso em que o credor pode mover a execução contra o devedor, operando-se a possibilidade de alcançar os bens daquele até a satisfação total do crédito. No ordenamento jurídico brasileiro, estão previstas as seguintes espécies de responsabilidade patrimonial: a primária e a secundária. A responsabilidade primária, prevista no artigo 591 do CPC, in verbis: art. 591. “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.” O efeito da responsabilidade primária sujeita os bens presentes e futuros do devedor de forma ilimitada, ou seja, sem restrições, até o cumprimento integral da dívida contraída. As restrições estabelecidas em lei são aquelas previstas no art. 649 do CPC, entre outras. Por exemplo, o bem essencialmente necessário ao conforto da família, é legalmente um bem impenhorável, ou seja, não pode ser apreendido, judicialmente, pelo fato de existir expressa vedação legal. Em uma linguagem mais contundente, não podem ser apreendidos os bens que não podem ser vendidos nem aqueles que, por ato voluntário, forem declarados que não poder ser vendidos, de sorte que, nesse caso, o credor não poderá executar o devedor. Em complemento do parágrafo acima, faz-se referência ao bem de família instituído pela Lei nº 8.009/90, que revela em seu art. 1º “O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária, ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo as hipóteses previstas nesta lei.” Uma das hipóteses previstas é, por exemplo, os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos, entre outros bens. A responsabilidade secundária prevista no artigo 592 do CPC é aquela que sujeita o patrimônio de determinada pessoa às obrigações do responsável primário. Os bens do sócio se enquadram nessa hipótese, ressalvando-se que na hipótese da constituição societária, há expressa previsão legal de que os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro executados os bens da sociedade (artigo 596 do CPC2). A doutrina tem denominado essa regra de responsabilidade subsidiária, na qual o sócio pode invocar o benefício de ordem, o mesmo previsto para o fiador, para o fim de indicar bens da sociedade empresarial antes que seu patrimônio pessoal seja afetado. De igual modo, em harmonia a esse princípio, o artigo3 1024 do novo Código Civil também estabelece esse beneficium excussionis personalis, (ou benefício de ordem) que, sem dúvidas, garante a segurança jurídica ao sócio. 2 Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo pagamento da dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro executados os bens da sociedade. 3 Art. 1024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 5 1.1.3 Responsabilidade patrimonial do empresário individual O empresário individual, denominado, costumeiramente, de firma individual, não é considerado pessoa jurídica pelos temos da lei civil (artigo 44 do Código Civil), e, portanto, conforme será visto adiante, não possui autonomia patrimonial. Para efeitos tributários, o empresário individual é equiparado a pessoa jurídica ex vi do artigo4 150 do Decreto nº 3000/99 (Regulamento do Imposto sobre a Renda e Proventos de qualquer Natureza), cabendo-lhe, portanto, a garantia da expedição do CNPJ (cadastro nacional de pessoas jurídicas), a cargo da Secretaria da Receita Federal. Neste sentido, Fabretti (2003, p. 38) comenta que Não obstante pertencerem exclusivamente a uma pessoa física, as atividades econômicas da empresa individual recebem o mesmo tratamento tributário das pessoas jurídicas. Portanto, sujeita às mesmas obrigações tributárias, ou seja, a principal (pagamento dos impostos, taxas e contribuições) e às acessórias (dever de escriturar livros contábeis e fiscais; conservar livros e documentos até que ocorra a prescrição ou a decadência; prestar informações etc). De fato, essas inúmeras obrigações administrativas, muitas delas previstas no atual Código Civil, e fiscais, são idênticas às cabíveis à sociedade empresária. Contudo, esse viés não lhe permite, pela legislação brasileira atual, invocar a sua responsabilidade secundária (subsidiária). Com efeito, a responsabilidade por dívidas contraídas por seu negócio alcança seu patrimônio particular de forma ilimitada e solidária. E esse é o entendimento da jurisprudência pátria, sem ressalvas5. A situação exposta no parágrafo anterior amedronta as pessoas que imaginam criar seu negócio próprio. Conforme afirma Roque (2003, p.107), “[...] não surgem mais empresas individuais, pois será uma temeridade alguém arriscar seu nome pessoal num empreendimento que poderá sofrer abalos. No caso de falência dessa empresa, não só o patrimônio particular, mas o nome patronímico de seu titular será atingido e poderá prejudicá-lo pelo resto da vida.” A insegurança do empresário individual,perante credores, portanto, é evidente, isso inibe a sua constituição como prática comercial, salvo naquelas hipóteses onde o risco do empreendimento é pequeno e o negócio não demanda tamanha complexidade. 2 EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA Até a homologação e publicação da Lei nº 12.441/11, o indivíduo que quisesse desenvolver atividade empresarial pessoalmente e não por meio de uma sociedade empresária, seu patrimônio pessoal necessariamente respondia pelas dívidas decorrentes de seu negócio. Isso pelo fato de até aquela época (2011), a legislação brasileira não permitia a criação de uma pessoa jurídica por um único indivíduo. Com o intuito de proteger o patrimônio particular do risco inerente à atividade empresarial, os empresários que objetivavam desenvolver seus negócios individualmente, sem a colaboração de terceiros, frequentemente criavam as chamadas sociedades de palha, convidando um familiar ou pessoa próxima para ser seu sócio com uma parte mínima do capital social de uma sociedade empresária, geralmente uma sociedade limitada. Com esse subterfúgio, preenchia o requisito de pluralidade de sócios e conseguia obter o benefício de separar a parcela de seu patrimônio que colocaria à disposição da atividade empresarial daquela outra parte que não estaria ao alcance dos credores daquela atividade. 4 Art. 150. As empresas individuais, para os efeitos do imposto de renda, são equiparadas às pessoas jurídicas (Decreto-Lei nº 1.706, de 23 de outubro de 1979, artigo 2º). 5 A seguinte ementa bem demonstra a posição majoritária da jurisprudência: “Falência – quando se reclama a falência do empresário individual objetiva-se abertura de concurso de seus credores, com arrecadação dos bens do patrimônio da sociedade (individuais e o próprio estabelecimento comercial), e, para esse fim, não é relevante o modo como o devedor é qualificado na inicial (como empresário ou empresário de responsabilidade limitada), porque, no fundo, de uma ou de outra maneira, está se convocando a figura do empresário, para responder pelas obrigações assumidas (Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani J. 03.12.2002)” A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 6 Com o advento da Lei nº 12.441/11, inseriu-se no ordenamento jurídico do Brasil, a empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli). A partir de então, os empresários podem desenvolver sua atividade empresarial individualmente e, ao mesmo tempo, separar do seu patrimônio afetado à atividade empresária. A Eireli é uma figura jurídica que surgiu com o objetivo de limitar a responsabilidade daquele empreendedor que deseja iniciar um negócio sem se unir a outras pessoas. Trata-se de uma empresa individual de responsabilidade limitada, ou, para vários doutrinadores, que não aceitam essa terminologia, tem-se a chamada sociedade unipessoal. A ideia de uma sociedade de um único sócio é, por muitos, considerada uma heresia jurídica, pelo fato de o patrimônio do empresário individual se confundir com seu patrimônio particular, não havendo a possibilidade de se firmar a autonomia patrimonial, que é a essência das sociedades empresárias, mesmo porque possuem personalidade jurídica própria, desvinculada do patrimônio particular dos sócios. Gonçalves Neto (2004, p. 28) considera a autonomia patrimonial como um dos efeitos da personificação das pessoas jurídicas, pelo fato de o patrimônio vinculado a essas pessoas ser distinto e inconfundível com o de seus sócios; ou seja, os sócios não são condôminos ou coproprietários dos bens que formam o patrimônio social. Os bens que os sócios trazem para a formação do patrimônio social deixam de lhes pertencer, pois se transferem à sociedade a título de propriedade. 2.1 Requisitos de constituição da Eireli Conforme a redação do art. 980-A do CC, inserido pela Lei nº 12.441/11, “a empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa [sic] titular da totalidade do capital social [sic], devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no país”. Ressalta-se também o fato de que essa lei alterou a redação do parágrafo único do artigo 1.033 do CC/02, que diz: “A sociedade não se dissolverá por falta de pluralidade de sócios se, dentro de 180 (cento e oitenta) dias for requerida no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresa individual ou Eireli.” A IN DNRC nº 118 determina a transferência do registro de empresário individual em sociedade empresária contratual ou em empresa individual de responsabilidade limitada e vice-versa, ressaltando-se que as disposições do art. 980-A do CC/02 e seus incisos, a Eireli deverá observar, no que couber, as regras previstas para sociedades limitadas. Apesar do referido artigo apenas dispor que a Eireli será constituída por uma única pessoa, sem mencionar se essa pessoa é física ou jurídica, tendo em vista as suas características intrínsecas, sedimentou-se o entendimento de que ela somente pode ser formada por pessoa natural. Corrobora tal afirmação o item 1.2.11 da IN DNC 117, que estabelece que “Não pode ser titular de Eireli a pessoa jurídica, bem assim a pessoa natural impedida por norma constitucional ou lei especial”. Em relação ao capital social [sic], a pessoa natural que constitui a Eireli deve ser detentora da totalidade do capital social [sic], o qual deve ser constituído por um valor igual ou superior a 100 (cem) salários mínimos. Considera-se o valor do maior salário mínimo vigente no país no momento do registro, não havendo a necessidade de alterar o capital social a cada reajuste do salário mínimo. Ressalta-se o fato de que cada pessoa pode constituir apenas uma Eireli, pois conforme dispõe o § 2º do art. 980-A do CC, a pessoa natural que constituir uma empresa individual de responsabilidade limitada, somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. A Eireli não pode ter como objeto social o desenvolvimento de atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, por não serem essas atividades consideradas atividades empresariais, salvo se o exercício dessas atividades constituírem elemento de empresa, consoante art. 966 do CC/02. A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 7 2.2 Nome empresarial da Eireli O nome empresarial da empresa individual de responsabilidade limitada deve ser formado pela inclusão da sigla “Eireli”, após a firma ou denominação social, sendo que, a firma deverá ser composta pelo nome da pessoa natural que constituiu a empresa, podendo ser por extenso ou de forma abreviada, sendo seguido, necessariamente, da expressão “Eireli”. Já a denominação social é formada, em regra, por expressões de fantasias seguidas pelo nome do ramo de atividade empresarial e da expressão “Eireli”. A título exemplificativo, José da Silva constituiu uma empresa dessa natureza, cujo ramo de atividade seja alimentos. Destarte, pode adotar como nome empresarial tanto “José da Silva Eireli” (firma) quanto à denominação social: “Delícias Alimentos Eireli”. 3 DIFERENÇA ENTRE MEI, EI, ME E EPP A legislação civil empresarial do Brasil tem-se modernizado bastante, e vem oferecendo cada vez mais, melhores possibilidades para a formalização de negócios e incentivos para os empreendedores. Para os gestores que querem lançar novas ideias no mercado, é necessário que o empresariado e profissionais de contabilidade e administração entendam as diferenças entre cada enquadramento ou classificação empresarial. Isso porque há vantagens e regras bem diferentes para cada tipo de pessoajurídica, e só será possível aproveitá-las a partir da adequada compreensão das características e da ideia que reveste cada um desses tipos empresariais. As siglas do título à epígrafe são muito importantes no estudo da empresa individual, sobretudo, as três primeiras: MEI, EI, e ME. É que a quarta sigla, a EPP, por se tratar de uma empresa pequena, mas bem maior em relação às três primeiras, é comum que muitas delas não sejam mais empresa individual, assumindo, portanto, a natureza societária. 3.1 MEI – microempreendedor individual Essa é a sigla para o microempreendedor individual. Trata-se de uma empresa individual, voltada para a formalização e legalização das pessoas que trabalham por conta própria. O tipo foi criado pela Lei Complementar nº 123/06, devendo ter faturamento anual de até R$ 60.000,00, podendo-se ajustar ao Simples Nacional. O MEI não pode ter participação em outra empresa como sócio ou titular. Em contrapartida, pode ter um empregado que receba salário-mínimo ou o piso da categoria. A abertura da empresa e o registro no cadastro nacional de pessoas jurídicas (CNPJ) são efetuados rapidamente - tudo pela internet. Há diversas vantagens tributárias, com pagamentos mensais fixos e baixos, além de acesso a específicos benefícios previdenciários. Tornou-se tão relevante a presença do MEI no mercado brasileiro, de sorte que essa presença marcante fez com órgãos públicos, tais como os serviços sociais autônomos, a exemplo do Sebrae – (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) desenvolvessem cursos sobre empreendedorismo, contribuindo, dessa forma, significativamente na formação empreendedora daqueles que objetivam desenvolver um negócio econômico. 3.2 EI – empresário individual Essa é a sigla para aquele que desenvolve individualmente uma atividade, sem se associar com outra(s) pessoa(s). É o empresário individual, que pela lógica comercial e econômica, sempre se caracteriza como uma empresa de pequeno porte. O próprio MEI, abordado na seção anterior é um EI, economicamente, o menor dos empresários individuais. 3.3 ME - microempresa ME é a sigla para microempresa, ou seja, empreendimentos que visam ao lucro e que apresentam um faturamento anual de até R$ 360.000,00. Sua constituição ou legalização deve ser feita na Junta Comercial, e o titular seleciona o enquadramento tributário pelo Simples Nacional, assim como o MEI. Apenas possui um maior limite financeiro para suas operações. A legislação brasileira assinala como requisito ao enquadramento como ME (e também como EPP) simplesmente o faturamento da empresa. Nesse sentido, apesar de, em geral, ter menos A Sabedoria é a única arma invencível de um povo. 8 funcionários do que uma corporação de grande porte, não é a quantidade de empregados que vai apontar a sua classificação, a receita bruta anual. 3.4 EPP – empresa de pequeno porte As empresas que tenham faturamento bruto anual maior de R$ 360.000,00 e menor ou igual a R$ 3.600.000,00 podem ser registradas como empresas de pequeno porte, cuja sigla comum é EPP. A constituição, legalização e o enquadramento tributário seguem as mesmas indicações da microempresa. Sua legislação é a Lei Complementar nº 139/11, a mesma do ME. Cada uma dessas siglas conferem a sua empresa um tratamento perante o fisco e a legislação, para se ter um exemplo as empresas ME e EPP são dispensadas da contratação de Jovem Aprendiz e podem ser beneficiadas em licitações públicas. Portanto, na hora de realizar o melhor enquadramento da empresa e garantir o seu investimento é importante contar com ajuda especializada de um profissional contador ou advogado. REFERÊNCIAS ABREU, Iolanda Lopes de. Responsabilidade patrimonial dos sócios nas sociedades comerciais de pessoas. São Paulo: Saraiva, 1988. ALMEIDA, Amador Paes. Manual das sociedades comerciais: direito de empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. ______. Execução de bens do sócio: obrigações mercantis, tributárias, trabalhistas: da desconstituição da personalidade jurídica (doutrina e jurisprudência). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. BRASIL. Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2.011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília: DOU, 12 jul.2011. ______. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos de diversas leis. Brasília: DOU, 15 dez.2006. ______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Novo Código Civil. Brasília: DOU, 11 jan. 2002. BULGARELLI, Waldirio. Tratado de direito empresarial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997. COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de direito comercial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. FABRETTI, Láudio Camargo. Direito de empresa no novo C.C. São Paulo: Atlas, 2003. GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Lições de direito societário: regime vigente e inovações do novo Código Civil. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. ISFER, Edson. Sociedades unipessoais e empresas individuais – responsabilidade limitada. Curitiba: Juruá, 1996. MATARREDONA, Josefina Boquera. La sociedaded unipersonal de responsabilidade limitada. Madrid: Editorial Cívitas, 1996. ROQUE, Sebastião José. Tratado de direito empresarial. São Paulo: Ícone, 2003. SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. SEBRAE – SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. TOKARS, Fabio. Estabelecimento comercial. São Paulo: LTr, 2006.
Compartilhar