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A “nova classe média” e o crescimento das igrejas evangélicas Ensaios de Gênero

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Bem­vinda/o!
O blog Ensaios de Gênero foi criado em 2011
por Adriano Senkevics e conta com a
colaboração de Lucas Passos e Matheus
França, além de convidadas/os especiais. O
intuito da página é discutir política, educação e
feminismo, lançando mão dos estudos de
gênero para analisar diferentes aspectos da
sociedade, sempre com um viés progressista
a fim de contribuir em transformações sociais.
Convidamos nossas/os leitoras/es a nos
enviar comentários (dúvidas, sugestões e
críticas) sempre que tiverem interesse, além
de estarmos abertos a parcerias e contatos.
Boa leitura!
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—Ensaios de Gênero
Um espaço para se ensaiar política, educação, feminismo e coisas do gênero…
Início Bibliografia Quem somos nós Pesquisa  
Por Adriano Senkevics
24/10/2013
Religião
22 Comentários
As religiões evangélicas, sobretudo as pentecostais, têm
ganhado maior espaço na atualidade e já angariaram
22,2% da população brasileira.
A “nova classe média” e o crescimento das
igrejas evangélicas
Um espectro ronda o Brasil. É o espectro do evangelismo. Parafraseando o velho Marx, é mais ou
menos esse o cenário em que vivemos atualmente, quando as religiões pentecostais
conquistaram 22,2% da população brasileira, um dado que contrasta com apenas os 5,2% em
1970 (Censo Demográfico, IBGE, 2010). Foi a partir dessa década que foram fundadas as principais
igrejas evangélicas do país, a começar pela Igreja Universal do Reino de Deus (1977) que, apesar
de não ser a pioneira, inaugurou um novo perfil de religião (o neopentecostalismo).
Sabe­se também que o florescimento do evangelismo foi acompanhado de um declínio da religião
até então predominante: o catolicismo. Se em 1970, 91,8% dos brasileiros se declaravam
católicos, hoje eles compõem 64,6%, uma queda vertiginosa. Em recente pesquisa, Marilene de
Paula (2013) destaca que fatores como o baixo crescimento de paróquias, a falta de padres, a
migração do rural para o urbano (que desenraizou a população daquela tradicional igrejinha do
interior) e a precariedade da vida urbana nos setores populares são essenciais para se entender o
fenômeno evangélico.
Para além da conquista de adeptos, a
onda pentecostal tem avançado sobre
outros terrenos. Os meios de
comunicação em massa, por exemplo,
são grandes aliados. Atualmente 10%
do mercado editorial brasileiro é de
literatura religiosa, seja católica ou
evangélica, e a chamada “música
gospel” abocanha uma fatia 20% do
mercado fonográfico. Já no Congresso
Nacional, temos 71 deputados e três
senadores explicitamente filiados a
tendências evangélicas, espalhados por
16 partidos, com concentração nos de
centro­direita (PAULA, 2013).
No conjunto da sociedade, a onda
pentecostal dialoga diretamente com o fenômeno que ficou conhecido como “nova classe
média”, isto é, um segmento que hoje chega a compor 54% da população brasileira cuja renda
mensal se encontra na faixa entre R$ 1.200 e R$ 5.174 (BARTELT, 2013), um setor que, a
despeito do qualificativo “classe média”, tem suas condições de vida ancoradas naquilo que
tradicionalmente designa uma camada popular (moradia inadequada, escolaridade baixa, crédito
limitado, serviços públicos ineficientes), só que com uma renda um pouco mais elevada, o que os
permite maior acesso aos bens de consumo.
É no vácuo desse conjunto emergente da população que as religiões evangélicas mergulham. A
maioria dos adeptos do neopentecostalismo se encontra na periferia das cidades, 63,7% não
ganha mais que um salário mínimo, 8,6% é analfabeta e 42,3% possui o ensino fundamental
incompleto. Já nos setores médios, o evangelismo é menos presente porque enfrenta maior
concorrência com o nosso legado católico e com as religiões espíritas, sobretudo kardecistas.
O que faz, então, com que o “povão” seja tão afeito ao evangelismo? Em vez de adotar uma
postura arrogante, que imputa sobre as camadas populares o adjetivo de “massa ignorante”, é
válido compreender o seu contexto. Como qualquer um que se incomoda com Feliciano, Malafaia
e sua tchurma, o impulso seria ofender seus adeptos. No entanto, há indícios de que esses trastes
não representam o conjunto da população evangélica. Há quem questione, a título de curiosidade,
se Edir Macedo é realmente evangélico…
Ensaios d...
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O crescimento do evangelismo está relacionado às
periferias e ao fenômeno de expansão da chamada
“nova classe média”.
Marco Feliciano: esse e outros trastes, felizmente, não
representam o que é, de fato, o fenômeno evangélico no
Brasil.
Em vez de se basear no princípio do ascetismo, que
cobra da vida presente para se devolver no futuro, o
neopentecostalismo age ativamente no discurso do aqui
e do agora.
À parte dessa reflexão, pode­se
afirmar que o crescimento do
evangelismo está relacionado a novas
formas de pregação, as quais incluem
a evangelização ativa, que procura
dialogar com problemas materiais que
os fiéis encontram na sua vida aqui e
agora. Ao contrário do catolicismo ou do
tradicional pentecostalismo – muito
mais centrados na noção ascetista de
que se poupa na vida presente para se
obter mais da vida futura ­, o
neopentecostalismo tem como ponto de
partida a situação que se vive hoje, com
seus obstáculos ordinários (doenças,
contas a pagar e problemas de
relacionamento) e a proposta de
soluções imediatas. Insere­se, inclusive,
dentro da lógica imediatista da
sociedade globalizada e de consumo.
“Os neopentecostais utilizarão em sua
prédica os ensinamentos da Teologia
da Prosperidade”, enfatizaMarilene de
Paula (2013, p. 129), “na qual ter bens
materiais, ser saudável, não ter grandes
problemas financeiros ou de outra
ordem mostra sua fé e como Deus está
atuando em sua vida”. Em última
análise, tal fenômeno tem levado ao
enriquecimento das igrejas, que cobram
“coisas materiais” (dízimo e ofertas) em
troca de “coisas materiais”. Trata­se de
uma relação comercial da própria fé.
E a abordagem moralista dos
pastores, em suas posturas
contrárias ao casamento igualitário,
aborto, sexo antes e fora do
casamento, consumo de drogas etc,
cabe a uma função socializadora que
fornece uma referência moral em
meio a um contexto no qual gravidez
não planejada, tráfico de drogas e
violência são parte do cotidiano. Na
igreja, ao menos, tem­se um ambiente
onde se cria laços fraternais e de
interesse, se aprende certas
habilidades (tocar um instrumento,
cantar no coral), tem­se aulas de
religião. Essas instituições acabam por
atuar, como destaca Jessé Souza
(2013), na criação de uma ética (ser
trabalhador, honesto, disciplinado).
Para um grupo que recentemente tem
ascendido – em vista do
desenvolvimento socioeconômico, do
aumento real do salário mínimo, dos programas de transferência de renda (Bolsa Família) – esse
discurso pode fazer muito sentido, sobretudo quando um dos poucos indicadores que avançam
é a renda média, enquanto a oferta de serviços públicos (saúde, educação, transporte) continua
precária, forçando essa população a ter que “se virar” na periferia da cidade, com filhos para criar e
vivendo em condições ainda indesejadas.
Consome­se bens porque é isso que a renda permite e, quando dá, a possibilidade de adquirir um
carro, pagar uma escola particular ou um plano de saúde, ao passo que a religião de caráter
neopentecostal, cuja fé é igualmente uma mercadoria, entra na mesma onda e traz ganhos àquela
população, apesar de todo o enriquecimento dos pastores e o espaço que eles têm ganhado na
mídia e na política para impor uma agenda conservadora. É um fenômeno complicado de se lidar,
mas que está apontando para a precariedade da vida urbana no Brasil e para o mito da “nova
classe média”.

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