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Bemvinda/o! O blog Ensaios de Gênero foi criado em 2011 por Adriano Senkevics e conta com a colaboração de Lucas Passos e Matheus França, além de convidadas/os especiais. O intuito da página é discutir política, educação e feminismo, lançando mão dos estudos de gênero para analisar diferentes aspectos da sociedade, sempre com um viés progressista a fim de contribuir em transformações sociais. Convidamos nossas/os leitoras/es a nos enviar comentários (dúvidas, sugestões e críticas) sempre que tiverem interesse, além de estarmos abertos a parcerias e contatos. Boa leitura! Calendário OUTUBRO 2013 D S T Q Q S S « set nov » 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Curta nossa página! Textos mais recentes Da experiência vivida à prática reflexiva: o projeto educativo “Mulheres na História” Crise do ensino médio: desafio autêntico ou discurso alarmista? Uma introdução ao debate de gênero na educação (ou por que superar a falácia da “ideologia de gênero”) Como são produzidos os dados de cor/raça nos principais instrumentos de pesquisa educacional no Brasil? Como as rotinas de crianças podem ser profundamente marcadas por gênero? Gênero nas universidades federais: uma análise do perfil de estudantes por sexo O patrão e a babá: sobre a individualização da culpa Paternidades, gênero e a democracia constitucional —Ensaios de Gênero Um espaço para se ensaiar política, educação, feminismo e coisas do gênero… Início Bibliografia Quem somos nós Pesquisa Por Adriano Senkevics 24/10/2013 Religião 22 Comentários As religiões evangélicas, sobretudo as pentecostais, têm ganhado maior espaço na atualidade e já angariaram 22,2% da população brasileira. A “nova classe média” e o crescimento das igrejas evangélicas Um espectro ronda o Brasil. É o espectro do evangelismo. Parafraseando o velho Marx, é mais ou menos esse o cenário em que vivemos atualmente, quando as religiões pentecostais conquistaram 22,2% da população brasileira, um dado que contrasta com apenas os 5,2% em 1970 (Censo Demográfico, IBGE, 2010). Foi a partir dessa década que foram fundadas as principais igrejas evangélicas do país, a começar pela Igreja Universal do Reino de Deus (1977) que, apesar de não ser a pioneira, inaugurou um novo perfil de religião (o neopentecostalismo). Sabese também que o florescimento do evangelismo foi acompanhado de um declínio da religião até então predominante: o catolicismo. Se em 1970, 91,8% dos brasileiros se declaravam católicos, hoje eles compõem 64,6%, uma queda vertiginosa. Em recente pesquisa, Marilene de Paula (2013) destaca que fatores como o baixo crescimento de paróquias, a falta de padres, a migração do rural para o urbano (que desenraizou a população daquela tradicional igrejinha do interior) e a precariedade da vida urbana nos setores populares são essenciais para se entender o fenômeno evangélico. Para além da conquista de adeptos, a onda pentecostal tem avançado sobre outros terrenos. Os meios de comunicação em massa, por exemplo, são grandes aliados. Atualmente 10% do mercado editorial brasileiro é de literatura religiosa, seja católica ou evangélica, e a chamada “música gospel” abocanha uma fatia 20% do mercado fonográfico. Já no Congresso Nacional, temos 71 deputados e três senadores explicitamente filiados a tendências evangélicas, espalhados por 16 partidos, com concentração nos de centrodireita (PAULA, 2013). No conjunto da sociedade, a onda pentecostal dialoga diretamente com o fenômeno que ficou conhecido como “nova classe média”, isto é, um segmento que hoje chega a compor 54% da população brasileira cuja renda mensal se encontra na faixa entre R$ 1.200 e R$ 5.174 (BARTELT, 2013), um setor que, a despeito do qualificativo “classe média”, tem suas condições de vida ancoradas naquilo que tradicionalmente designa uma camada popular (moradia inadequada, escolaridade baixa, crédito limitado, serviços públicos ineficientes), só que com uma renda um pouco mais elevada, o que os permite maior acesso aos bens de consumo. É no vácuo desse conjunto emergente da população que as religiões evangélicas mergulham. A maioria dos adeptos do neopentecostalismo se encontra na periferia das cidades, 63,7% não ganha mais que um salário mínimo, 8,6% é analfabeta e 42,3% possui o ensino fundamental incompleto. Já nos setores médios, o evangelismo é menos presente porque enfrenta maior concorrência com o nosso legado católico e com as religiões espíritas, sobretudo kardecistas. O que faz, então, com que o “povão” seja tão afeito ao evangelismo? Em vez de adotar uma postura arrogante, que imputa sobre as camadas populares o adjetivo de “massa ignorante”, é válido compreender o seu contexto. Como qualquer um que se incomoda com Feliciano, Malafaia e sua tchurma, o impulso seria ofender seus adeptos. No entanto, há indícios de que esses trastes não representam o conjunto da população evangélica. Há quem questione, a título de curiosidade, se Edir Macedo é realmente evangélico… Ensaios d... 6,7 mil curtidas Curtir Página “Que horas ela volta?”: um filme para se pensar a estratificação social no Brasil Cotas raciais e de renda: às voltas com a legislação federal Educação, o que será amanhã? Gênero e raça em quatro edições do Enem: o perfil dos inscritos Gênero e municípios brasileiros: quem está à frente da gestão? 4 anos de Ensaios de Gênero Sobre o natimorto Comitê de Gênero Assuntos Artes Cênicas / Visuais Atualidades Blog Cinema Desconstrução Educação Cotidiano Escolar Funções Sociais Políticas Educacionais Foreign Language Literatura Masculinidades Mídia Mercado de Trabalho Pessoalidades Política / Economia Raça / Cor / Etnia Religião Sexualidade / LGBT Teoria Feminista Conceituando Queer Arquivos Selecionar o mês Recomendamos Base de Dados Ariadne (USP) Caderno Espaço Feminino (UFU) Cadernos de Pesquisa (FCC) Cadernos Pagu (Unicamp) Educação & Realidade (UFRGS) Educação & Sociedade (Cedes) Educação e Pesquisa (USP) Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu (Unicamp) Núcleo de Estudos e Pesquisas – Sertão (UFG) ONG Ação Educativa Revista Brasileira de Educação (ANPEd) Revista de Estudos Feministas (UFSC) Sexualidad, Salud y Sociedad (CLAM / IMS / UERJ) Parcerias Assexualidades Blogueiras Feministas Colunas Tortas Educação Aberta Escreva Lola Escreva Margens Sociológicas Panela de Pressão das Ideias Raewyn Connell Tempos Safados Território de Maíra Trama Social Transfeminismo Transtudo Passaram por aqui... 1,709,952 visitantes O crescimento do evangelismo está relacionado às periferias e ao fenômeno de expansão da chamada “nova classe média”. Marco Feliciano: esse e outros trastes, felizmente, não representam o que é, de fato, o fenômeno evangélico no Brasil. Em vez de se basear no princípio do ascetismo, que cobra da vida presente para se devolver no futuro, o neopentecostalismo age ativamente no discurso do aqui e do agora. À parte dessa reflexão, podese afirmar que o crescimento do evangelismo está relacionado a novas formas de pregação, as quais incluem a evangelização ativa, que procura dialogar com problemas materiais que os fiéis encontram na sua vida aqui e agora. Ao contrário do catolicismo ou do tradicional pentecostalismo – muito mais centrados na noção ascetista de que se poupa na vida presente para se obter mais da vida futura , o neopentecostalismo tem como ponto de partida a situação que se vive hoje, com seus obstáculos ordinários (doenças, contas a pagar e problemas de relacionamento) e a proposta de soluções imediatas. Inserese, inclusive, dentro da lógica imediatista da sociedade globalizada e de consumo. “Os neopentecostais utilizarão em sua prédica os ensinamentos da Teologia da Prosperidade”, enfatizaMarilene de Paula (2013, p. 129), “na qual ter bens materiais, ser saudável, não ter grandes problemas financeiros ou de outra ordem mostra sua fé e como Deus está atuando em sua vida”. Em última análise, tal fenômeno tem levado ao enriquecimento das igrejas, que cobram “coisas materiais” (dízimo e ofertas) em troca de “coisas materiais”. Tratase de uma relação comercial da própria fé. E a abordagem moralista dos pastores, em suas posturas contrárias ao casamento igualitário, aborto, sexo antes e fora do casamento, consumo de drogas etc, cabe a uma função socializadora que fornece uma referência moral em meio a um contexto no qual gravidez não planejada, tráfico de drogas e violência são parte do cotidiano. Na igreja, ao menos, temse um ambiente onde se cria laços fraternais e de interesse, se aprende certas habilidades (tocar um instrumento, cantar no coral), temse aulas de religião. Essas instituições acabam por atuar, como destaca Jessé Souza (2013), na criação de uma ética (ser trabalhador, honesto, disciplinado). Para um grupo que recentemente tem ascendido – em vista do desenvolvimento socioeconômico, do aumento real do salário mínimo, dos programas de transferência de renda (Bolsa Família) – esse discurso pode fazer muito sentido, sobretudo quando um dos poucos indicadores que avançam é a renda média, enquanto a oferta de serviços públicos (saúde, educação, transporte) continua precária, forçando essa população a ter que “se virar” na periferia da cidade, com filhos para criar e vivendo em condições ainda indesejadas. Consomese bens porque é isso que a renda permite e, quando dá, a possibilidade de adquirir um carro, pagar uma escola particular ou um plano de saúde, ao passo que a religião de caráter neopentecostal, cuja fé é igualmente uma mercadoria, entra na mesma onda e traz ganhos àquela população, apesar de todo o enriquecimento dos pastores e o espaço que eles têm ganhado na mídia e na política para impor uma agenda conservadora. É um fenômeno complicado de se lidar, mas que está apontando para a precariedade da vida urbana no Brasil e para o mito da “nova classe média”.
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