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www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br “Nathicana”∗ – H.P. Lovecraft Fonte: “A Maldição de Sarnath”. Ed. Iluminuras. Adquira o livro completo em http://www.iluminuras.com.br *Notas de transcrição não constam nos originais da editora. Foi no pálido jardim de Zais; Os nevoentos jardins de Zais Onde enflora o argênteo nephalot Que fragrante a meia-noite anuncia. Ali dormem cristalinos lagos E regatos que escorrem silentes Doces riachos das grutas de Kathos Do crepúsculo, o berço sereno. E cruzando por lagos, regatos, Ficam pontes de puro alabastro, Brancas pontes gentis cinzeladas Como figuras de fadas e duendes. Brilham ali sóis estranhos, planetas E estanha é a crescente Banapis Que se põe nas colinas relvosas Onde adensa, na tarde, o crepúsculo. Ali baixam os vapores do Yabon; Alvos, lassos vapores do Yabon; Foi ali, na voragem das névoas Que avistei a divinal Nathicana; De grinalda, virginal Nathicana; Negras mechas, esguia Nathicana; Olhos negros, gentil Nathicana; Lábios rubros, querida Nathicana; Voz argêntea da doce Nathicana; Vestes alvas da amada Nathicana. E minha amada ficou para sempre, Desde o tempo em que tempo não havia Desde o tempo em que estrelas não havia E que nada existia salvo o Yabon. E vivemos em paz pelos tempos, Inocentes crianças de Zais, Percorrendo cainhos e arcadas Coroadas com a alva nephalot. Quanta vez ao crepúsculo vogamos Sobre pastos, colinas floridas Alvejadas pela humilde astalthon; A humilde e graciosa astalthon, E sonhamos num mundo de sonhos Belos sonhos, mais belos que o Éden; ∗ Em uma carta a Donald Wandrei escrito em 2 de agosto de 1927 Lovecraft disse que este poema foi suposto ser uma "parodia naqueles excessos estilísticos que realmente têm nenhum significado básico". Em resposta dez dias mais tarde, Wandrei disse "Isto é uma espécie curiosa e rara de capricho literário, uma sátira também boa, de modo que, ao invés de parodiar, isto possui, o original.". (Nota de Transcrição) 1 www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br Sonhos puros, mais reais que a razão! E por eras sonhamos, nos amamos, Até a horrenda estação de Dzannin; Remaldita estação de Dzannin; Onde rubros eram os sóis, os planetas, Onde ardia a crescente Banapis, Rubros vinham os vapores do Yabon. Encarnavam-se as flores, os regatos Sob as pontes, os lagos serenos, E até mesmo o suave alabastro Refletia escarlates sinistros Tal que as fadas e duendes entalhados Espreitavam encarnados das sombras. Vermelhou-se-me agora a visão. E pela densa cortina espreitando Louco vi a etérea Nathicana; A inocente, sempre alva Nathicana Adorada, intocada Nathicana. Mas cumuladas vertigens de insânia Enevoaram-me a difícil visão; A maldita, avermelhante, visão Refazendo o mundo em meu ver; Novo mundo escarlate e sombrio, Um horrendo estupor, o viver. Mergulhado no estupor do viver Vejo claros fantasmas da beleza Ocos, falsos fantasmas da beleza Mascarando as maldades de Dzannin Eu os vejo com infinita saudade, Tal qual minha amada os vê: Mas seu mal brilha em seus olhos turvos; Seu pungente, impiedoso mal Mal maior que o de Thaphron ou Latgoz Mais cruel pois que oculto no belo. E somente no sono da meia-noite Vejo a dama perdida, Nathicana, Vejo a pálida, pura Nathicana, Desfazendo-se ao olhar sonhador. E incansável procuro por ela; E procuro entre goles de Plathotis Fermentando no vinho de Astarte Engrossados por lágrimas incessantes. Eu anseio pelos jardins de Zais; Jardins belos, perdidos, de Zais Onde o alvo nephalot floresce. Da meia-noite o arauto fragrante. O fatal sorvo final vou urdindo; Sorvo tal que deleite os demônios; Sorvo tal que a vermilhão encerre; O horrível estupor que é o viver. Muito em breve se a mistura for certa Vermelhão e insânia se irão, 2 www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br E apodrecerão no negror verminoso Vis cadeias que me escravizavam. E os jardins de Zais novamente Serão alvos em minha magoada visão E ali, entre os vapores do Yabon, Estará a divinal Nathicana; Restaurada a imortal Nathicana, Outra igual, entre os vivos, não há. 3
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