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1 parceiro estraté ico: Análise Prospectiva: Tendências e Incertezas Relevantes para a Estratégia de Desenvolvimento de Minas Gerais análise prospectiva: tendências e incertezas relevantes para a estratégia de Desenvolvimento de Minas Gerais sumário Apresentação Introdução 1. O contexto global 1.1 Crescimento da população e da renda dos países em desenvolvimento, com o ingresso de milhões de novos consumidores à economia de mercado, em especial na China e Índia 1.2 Emergência de um novo paradigma de competitividade econômica industrial em nível global: larga escala de produção, baixo custo e inovação tecnológica 1.3 Intensificação da globalização: aumento dos fluxos comerciais e financeiros e integração da produção mundial, por meio da configuração de redes de valor distribuídas internacionalmente 1.4 Consolidação do conhecimento como principal motor da economia mundial, com a emergência e convergência de novas tecnologias 1.5 Aumento das pressões para ajustes fiscais e no papel do Estado e por inovações visando políticas públicas mais eficazes 1.6 Mudanças climáticas, certeza com mitigação incerta 1.7 Emergência da economia de baixo carbono 2. O contexto nacional 2.1 Emergência da nova classe média brasileira: estabilidade monetária, amplo acesso ao crédito e diminuição da desigualdade social ampliam o consumo de massa 2.2 Reconfiguração econômica e espacial: interiorização do desenvolvimento, ampliação do agronegócio, desconcentração industrial e da urbanização e constituição de novos polos de dinamismo econômico 2.3 Universalização das telecomunicações e forte expansão da conectividade, incluindo a massificação dos computadores e do acesso à internet 2.4 Abertura crescente do Brasil em relação à economia mundial e maior relevância da inovação como fator de competitividade 2.5 Expansão da produção de biocombustíveis 2.6 Modernização da economia rural: mecanização e automação agrícola, melhoramentos genéticos, novos modelos de negócios 5 6 7 10 13 15 20 23 26 29 32 35 38 42 45 49 52 3. Condicionantes endógenos: tendências de Minas Gerais 3.1 Manutenção da relevância do agronegócio e do setor minero-metalúrgico para o crescimento econômico 3.2 Transição demográfica: redução da participação relativa da população jovem e grande aumento da população em idade produtiva e da população idosa 3.3 Continuidade do processo de urbanização 3.4 Aumento das pressões para a conservação, preservação e recuperação sustentável dos recursos naturais 3.5 Pressões crescentes da sociedade pelo aumento da eficiência administrativa, da transparência e de maior capacidade de resposta do Estado e dos municípios às suas demandas 3.6 Emergência de atividades de densidade técnico-científicas e articuladas com a economia do conhecimento 4. Impacto das tendências nas questões críticas para o desenvolvimento de Minas Gerais 5. Incertezas para Minas Gerais e seu contexto no horizonte 2010-2030 5.1 Incertezas críticas exógenas: o contexto mundial 5.2 Incertezas críticas exógenas: o contexto nacional 5.3 Incertezas críticas endógenas: Minas Gerais Anexo. Resultados da pesquisa exploratória de expectativas relativas ao futuro (Survey) 1. Resumo do método 2. Resultados 55 57 61 64 67 70 72 75 78 80 82 85 89 90 95 sumário apresentação O Projeto Agenda de Melhorias apresenta-se como um movimento pela inovação na gestão pública. Inovar no sentido de criar maior valor pú- blico, de buscar a consolidação de boas práticas e disseminá-las no âmbito da gestão de governo. Essa ousada criação somente se viabilizou pela atitude republicana e pelo espírito empreendedor de dois governadores do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves e Antonio Anastasia, lideranças mineiras e nacio- nais que desenvolveram e consolidaram um ambiente inovador no qual prevalecem a governança, a responsabilidade e o rigor técnico e ético. Ter como objeto de análise a experiência mineira de oito anos em que se revigorou a importância de uma gestão eficiente e orientada para resultados foi essencial para a construção das propostas aqui contidas. Desse patamar vislumbram-se avanços relevantes que devem ser bus- cados pelas lideranças desse País. Tudo isso, sem abrir mão da ênfase no equilíbrio fiscal, pressuposto de qualquer avanço na gestão pública. É com a expectativa de um futuro promissor, que já se faz presente hoje, que se oferece à sociedade uma estratégia de desenvolvimento para Mi- nas Gerais e propostas para um efetivo sistema de entrega de resultados para a gestão pública. Agradecemos aos coordenadores técnicos desse projeto, a todos os par- ticipantes da Rede por uma Gestão Pública Inovadora, do Comitê Ges- tor, aos facilitadores, às consultorias parceiras McKinsey & Company, Macroplan e Fundação Dom Cabral e ao MBC. Destacamos, particular- mente, o papel decisivo do presidente do BDMG, Paulo Paiva, que, de primeira hora, apoiou essa iniciativa. Tadeu Barreto Guimarães Fernando Lage de Melo Diretores do projeto Este é um dos documentos complementares, elaborado no âmbito do Projeto Agenda de Melhorias. Os demais documentos do Projeto estão disponíveis no site www.agendademelhorias.org.br 6 O desenvolvimento de Minas Gerais nos próximos 20 anos não é to- talmente incerto nem tampouco obra do acaso. De um lado, depende de fatores estruturais já consolidados ao longo da história mineira. De outro lado, há uma série de mudanças externas (mundiais e nacionais) e transformações endógenas em curso que terão influência relevante na trajetória do Estado no horizonte desta e da próxima década. A observação atenta desses fatores possibilita o aproveitamento das oportunidades que cada tendência reserva à trajetória mineira. Esses fatores condicionantes estão, portanto, referenciados ao contexto mun- dial, nacional e também ao próprio espaço mineiro, cabendo ressaltar que a seleção das tendências expostas a seguir atende aos critérios de relevância e potencial de impacto (positivo ou negativo) para Minas Ge- rais.1 Este documento tem caráter executivo e é um insumo para a elabora- ção e aprimoramento de um conjunto de questões críticas, desafios de alta relevância e de elevado potencial de impacto quanto ao desenvolvi- mento econômico, social e ambiental de Minas Gerais no horizonte dos próximos 20 anos. É oportuno e necessário ressaltar que este é um estudo prospectivo, elaborado pela Macroplan, mas que não representa, sob qualquer hipó- tese, opinião ou posicionamento oficial do governo do Estado de Minas Gerais ou do BDMG, a respeito de qualquer um dos temas abordados. introdução 1. A seleção das tendências expostas neste capítulo baseou-se em estudos prospectivos elaborados pela Macroplan e foi subsidiada por pesquisa realizada, via internet, junto aos integrantes da RGPI, BDMG, EpR e especialistas convidados. Um resumo dos resultados dessa pesquisa está apresentado em anexo. 1 o contexto global 8 A crise econômica global de 2008 está redesenhando o mapa econômico mundial e suas consequências se farão sentir por longos anos. Uma delas é que o mundo provavelmente experimentará um patamar de crescimento menor, pelo menos nesta década, em comparação com os anos pré-crise. Outra ainda mais relevante é que a reacomodação dos atores na nova economia global tende a ser duradoura, redefinindo o mapa de produção e consumo. O mundo terá de se adaptar a novas economias líderes. A tese de que a economia global passará a depender crescentemente de novas locomotivas ganhou dimensão nova eainda mais verdadeira depois da eclosão da recente crise: acentua-se a percepção de que os países emergentes liderarão o crescimento econômico global nesta década2. Nesse contexto, apesar das muitas incertezas e da volatilidade que ainda dominam o cenário econômico global, algumas tendências estão consolidadas. Para o horizonte dos próximos 20 anos e tendo em vista o escopo deste trabalho, três delas são particularmente relevantes: I. o crescimento da população e da renda dos países em desenvolvimento, com o ingresso de milhões de novos consumidores à economia de mercado, em especial China e Índia; II. a disseminação de uma nova estratégia de competitividade econômica, em nível global, baseada em larga escala de produção, baixo custo e inovação tecnológica; III. a intensificação da globalização, com aumento dos fluxos comerciais e de serviços e a integração da produção mundial, através da configuração de redes de valor distribuídas internacionalmente. Ao mesmo tempo, duas outras tendências encontram-se em fase de maturação e seus efeitos e desdobramentos serão cada vez mais intensos em médio prazo: a) de um lado, um processo técnico-econômico que está em plena marcha: a consolidação do conhecimento como principal motor da economia mundial, com a emergência e convergência de novas tecnologias; b) de outro lado, um fenômeno de natureza política e financeira que está ganhando relevância crescente nos desdobramentos da crise: o aumento das pressões para ajustes fiscais e no papel do Estado e por inovações visando políticas públicas mais eficazes. 2. BARROS, Octavio; GIAMBIAGI, Fabio (2008). Brasil globalizado. Rio de Janeiro: Campus; e BARROS, Octavio; GIAMBIAGI, Fabio (2008). – Brasil pós-crise: seremos capazes de dar um salto? In: Barros & Giam- biagi (Org.) Brasil pós-crise – agenda para a próxima década. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 9 E por fim, duas tendências estão emergindo com grande força e potencial para moldar decisões e escolhas políticas e econômicas nos próximos 20 anos: a) as mudanças climáticas; b) o desenvolvimento da economia de baixo carbono. A evolução dessas tendências, com distintos graus de maturidade, antecipa importantes implicações para a estratégia de desenvolvimento de longo prazo de Minas Gerais, seja sob a forma de oportunidades, seja como ameaças ou desafios para a sociedade, em especial para as lideranças, sejam da esfera pública, privada ou do terceiro setor. As características e as implicações dessas tendências mundiais são tratadas a seguir. 10 A população mundial dobrou nos últimos 45 anos e deverá atingir 8,3 bilhões de habitantes em 2030.3 Esse crescimento será oriundo, basicamente, dos países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento, em especial China e Índia. Esses países não só tiveram sua população aumentada, como têm suas economias em forte expansão: a economia indiana tem média de crescimento superior a 7% por ano, desde 1997 e a China acumula três décadas de expansão contínua, com taxa anual próxima a 10% e, provavelmente, ocupará o posto de segunda maior economia do mundo ainda em 2010. A tendência demográfica, somada à crescente renda per capita nesses países e consequente ampliação da classe média mundial, resultará no aumento da demanda mundial por bens de consumo, em especial alimentos, commodities industriais e energia. A expectativa é de aumento crescente da renda per capita dos emergentes que compõem os BRIC. Em 20 anos, a renda per capita brasileira e chinesa se aproximará dos US$ 20.000, a indiana dos US$ 4.000 e a russa dos US$ 35.000, de acordo com previsões da Goldman Sachs.4 crescimento da população e da renda dos países em desenvolvimento, com o ingresso de milhões de novos consumidores à economia de mercado, em especial na china e Índia 1.1 Gráfico 1 Evolução da população mundial 1950-2050 (em milhares de habitantes). Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations Secretariat, World Population Prospects: The 2008 Revision. 10.000.000 9.000.000 8.000.000 7.000.000 6.000.000 5.000.000 4.000.000 3.000.000 2.000.000 1.000.000 0 1950 19901970 2010 20401960 2000 20301980 2020 2050 2010 6,9 bilhões 2030 8,3 bilhões Regiôes mais desenvolvidas Regiôes menos desenvolvidas 3. US Census Bureau - Total Midyear Popula- tion for the World: 1950-2050, disponível em http://www.census.gov/ipc/www/idb/worldpop. php. 4. The BRICs as Drivers of Global Con- sumption. Goldman Sachs Global Econom- ics, Commodities and Strategy Research, 06/08/2003. 11 Nesse cenário, a classe média mundial passará de 1,85 bilhões de habitantes em 2009 (27% da população total) para 4,88 bilhões em 2030 (59% da população).5 A região que mais contribuirá para esse crescimento será o Pacífico Asiático, cuja classe média deverá saltar dos atuais 525 milhões de habitantes para 1,74 bilhões em 2020 e 3,23 bilhões em 2030, respondendo por 54% e 66% da classe média mundial em 2020 e 2030, respectivamente. No mesmo período, a Europa e a América do Norte, que hoje abrigam 54% dessa classe, passarão a representar 32% em 2020 e 21% em 2030.6 China e Índia serão os grandes responsáveis pelo crescimento da classe média mundial dos próximos 40 anos. Esse aumento é acompanhado por um forte crescimento no consumo. Esses dois países somados passarão dos atuais 5% para 40% do total do consumo da classe média mundial e os primeiros indícios desse aumento já podem ser vistos atualmente, com o posto que a China assumiu em 2009 de maior mercado mundial de veículos, superando pela primeira vez os EUA, com a comercialização de 13,5 milhões de automóveis. Gráfico 2 População com renda entre U$6.000 e US$30.000 (bilhões de pessoas) – Mundo, China e Índia. Fonte: The Expanding Middle: The Exploding World Middle Class and Falling Global Inequality, Goldman Sachs Global Eco- nomics Paper No: 170, 07/07/2008. 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 500 0 19901970 2010 20401960 2000 20301980 2020 2050 Mundo Índia China Mundo, exceto China e Índia 5. Existem diversos estudos com projeções para a classe média que se diferenciam basi- camente por adotarem em suas classificações faixas de renda ou padrões de consumo dis- tintos, como os da McKinsey From ‘Made in China’ to ‘Sold in China’: The rise of the Chi- nese urban consumer (2006) e The ‘Bird of Gold’: The Rise of Indian’s Consumer Market (2007), o da Goldman Sachs The Expanding Middle: the Exploding World Middle Class and Falling Global Inequality (Goldman Sachs Global Economics Paper, No: 170, 2008) e o da UBS Back to the Middle Class (2007). O estudo utilizado, OECD Development Centre Working Paper Nº 285, classifica como classe média as famílias com gastos diários entre US$ 10 e US$ 100 em termos de PPP. 6. The emerging middle class in developing countries. OECD Development Centre Work- ing Paper Nº 285, Janeiro de 2010. 12 Para Minas Gerais essa tendência traz as implicações destacadas a seguir: IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • aumento global da demanda por alimentos e por commodities industriais, minerais e energia; • mudança nos termos de troca em favor dos produtores de commodities (vis à vis produtores de manufaturas); • complementaridade entre a produção mineira de insumos industriais e produção asiática de bens manufaturados; • risco de perda de competitividade das indústrias mineiras frente à oferta de produtos e/ou dos novos modos de produção dos chineses e dos demaispaíses asiáticos; • risco de especialização excessiva da economia mineira, com aumento da vulnerabilidade às oscilações dos mercados internacionais de commodities. Gráfico 3 Participação da classe média de países no consumo mundial total. Fonte: OECD Development Centre Working Paper Nº 285, 2010. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2000 03 06 09 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 Outros Europa Japão EUA Demais países da Ásia Índia China 13 Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento científico e tecnológico tem se acelerado intensamente. Sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social tem se tornado cada vez mais relevante, de forma que não apenas economias tradicionais, como EUA e Japão, mas países em desenvolvimento, como China, Índia e Coreia do Sul têm priorizado a inovação – especialmente com a agregação de tecnologia a produtos oferecidos a uma grande massa de consumidores – como um dos motores para seu crescimento. Como consequência, a oferta de bons produtos se dá a preços cada vez mais baixos e engloba uma gama cada vez mais diversificada. Os preços reduzidos, que há 20 anos estavam restritos a produtos de baixa qualidade, passaram, a partir da última década, a incluir bens de mais alta complexidade como computadores, bens de capital e automóveis. Esses países, notadamente a China, estão rapidamente redesenhando produtos, processos e modelos de negócios com o objetivo de produzir e entregar melhor e mais rápido.7 Nesse novo cenário, as redes logísticas de alta capacidade e abrangência global passam a ter papel cada vez mais relevante na competição. Um novo modelo de competitividade global que está emergindo uti- liza as vantagens geradas pelo avanço tecnológico de forma distinta do usual: se no passado a solução tecnológica permitia ganhos nas margens de lucro, restringindo o mercado, a tendência recente aponta para uma produção em larga escala, com a prática de preços baixos para se ganhar em volume conseguindo, assim, capturar a grande massa consumidora. Como resultado, a produção conquista mercados globais rapidamente. A China tornou-se em 2009 o maior exportador do mundo, com um total vendido ao exterior de US$ 1,2 trilhão, en- quanto a Índia atingiu US$ 165 bilhões em exportações. emergência de um novo paradigma de competitividade econômica industrial em nível global: larga escala de produção, baixo custo e inovação tecnológica 1.2 7. The new masters of management. The Economist, 15 de Abril de 2010. 14 Hoje, está claro que o grande diferencial chinês provém não da criação de novos produtos, mas da capacidade de barateá-los drasticamente. Quando um fabricante chinês consegue reduzir o preço de um aparelho de DVD de 300 para 30 dólares, ele passa a ser capaz de vendê-lo não só na China, mas, também, na África, na América Latina e no restante da Ásia. “O DVD se tornou um símbolo. É algo análogo ao que Henri Ford fez quando, em 1906, lançou um automóvel simples e barato o bastante para estar ao alcance do trabalhador americano. A China multiplicou a ideia do Modelo T e o expandiu nas mais diversas direções.”8 Outro fenômeno importante que também tem impactos nesse novo paradigma de competição é o que está sendo chamado por “inovação reversa”, que é a transferência dos esforços de pesquisa e desenvolvimento de grandes corporações para os mercados emergentes, mudando o seu centro gravitacional para onde a inovação acontecerá, mais próxima do cliente final. Com isso, é possível o desenvolvimento de novos produtos, mais adequados às características locais dos mercados de massa e posterior introdução nos países desenvolvidos. Esse já é um movimento que está sendo adotado pela General Electric e um exemplo, nesse sentido, é o desenvolvimento do aparelho de ultrassonografia com alta portabilidade e com baixo custo para atender ao mercado indiano, que é caracterizado por uma população predominantemente pobre e que não consegue se deslocar até os hospitais.9 Essa onda de inovação de baixo custo deve gerar uma revisão na vantagem competitiva do mundo rico, o principal centro inovador, trazendo grande competição por preço a suas empresas, desafiadas a praticar ainda mais e melhor a inovação.10 IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • risco de perda de competitividade das indústrias mineiras, frente à oferta de produtos e/ou dos novos modos de produção dos chineses e dos demais países asiáticos; • risco de perda de competitividade da estrutura produtiva e da capacidade de inserção dos produtos mineiros no mercado global por deficiências e gargalos na infraestrutura e nos sistemas logísticos; • necessidade de redirecionamento do sistema mineiro de inovação para acelerar a inovação nas empresas; • risco de especialização excessiva da economia mineira na produção e comercialização de commodities, com aumento da vulnerabilidade externa. 8. Antônio Barros de Castro, entrevista à Re- vista Época Negócios, Edição 18 – Setembro de 2008. 9. Vijay Govindaraja, entrevista à HSM Ma- nagement denominada Verso e Reverso, HSM Management Edição 80 - maio-junho 2010. 10. The new masters of management. The Economist, 15 de Abril de 2010. 15 Nos últimos 20 anos, vivenciamos uma ampliação, com intensidade sem precedentes, dos fluxos de pessoas, informação, tecnologia, produtos, serviços e capitais em todo o mundo. Esse processo é o principal condicionante do crescimento econômico mundial, sendo responsável pela modificação do padrão de inserção externa e de inter-relação dos países. O fenômeno da globalização tem influência sobre a economia nas duas dimensões que a compõem: o chamado lado real da economia – responsável pelo processo de produção e comercialização de bens e serviços – e o lado monetário, que se relaciona à movimentação do capital financeiro que decorre do processo produtivo. intensificação da globalização: aumento dos fluxos comerciais e financeiros e integração da produção mundial, por meio da configuração de redes de valor distribuídas internacionalmente 1.3 Gráfico 4 Exportações mundiais de mercadorias e serviços a preços correntes (US$ bilhões) – 1948 a 2008. Fonte: World Trade Organization Statistics Database. 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 19 48 19 51 19 54 19 57 19 60 19 63 19 66 19 69 19 72 19 75 19 78 19 81 19 84 19 87 19 90 19 93 19 96 19 99 20 02 20 05 20 08 16 No lado real da economia, a globalização possibilita o estabelecimento de processos produtivos de âmbito global que respondem pela movimentação de bens e serviços ao redor do mundo, seja para consumo final, seja para utilização como insumo em outras unidades produtivas. Contribui, portanto, para a formação de redes de valor integradas, operando em escala mundial e envolvendo parceiros, fornecedores e distribuidores. Esse fenômeno é visível no aumento da terceirização e do offshoring, que vem oferecendo crescentes oportunidades de negócios para países, cidades e regiões dotados de vantagens competitivas para a atração de investimentos produtivos, entre as quais se destacam a capacitação da força de trabalho, a qualidade da infraestrutura e dos sistemas logísticos e a confiabilidade do ambiente de negócios. A internacionalização das etapas do processo de produção pode ser ilustrada com o exemplo do recém-lançado Apple Ipad, em queo aparelho é exportado da China para os Estados Unidos ao preço de custo (US$ 290). Entretanto, apenas 5% desse valor é realmente agregado na China. A maioria dos componentes eletrônicos são fabricados na Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, enquanto as baterias do aparelho são fabricadas em Hong Kong, por uma empresa japonesa. Cabe ressaltar que as parcerias entre empresas de diversos países para a produção de bens não se restringe, apenas, aos setores econômicos emergentes. O avião Airbus 380, embora fabricado na Europa, tem seus motores produzidos nos Estados Unidos. A Airbus, fabricante do avião, possui mais de 1.500 empresas fornecedoras em 27 países.11 Assim como a produção é internacionalizada, o mesmo ocorre com o consumo de bens e serviços. Seja para consumo final, seja para a sua utilização como insumos, é crescente o comércio internacional de bens e serviços. Entre 1990 e 2009, as exportações mundiais de bens e serviços cresceram 264%, passando de US$ 4,3 trilhões para US$ 15,7 trilhões. Entre 2002 e 2007, o volume do comércio internacional de bens e serviços cresceu, em média, 7,3 anuais. No mesmo período, o crescimento médio do PIB mundial foi de 4,2% por ano. A intensificação dos fluxos globais de investimentos produtivos que, entre 1990 e 2009, aumentaram de US$ 207 bilhões para US$ 1,1 trilhões, também ilustra esse processo de internacionalização da produção e do consumo. A UNCTAD espera que os fluxos globais de Investimento Estrangeiro Direto (IED) atinjam mais de US$ 1,2 trilhões em 2010, crescendo ainda mais em 2011 (US$ 1,3 a US$ 1,5 trilhões) e 2012 (US$ 1,6 a US$ 2 trilhões).12 11. Jara urges another way of looking at trade statistics. World Trade Organization International Trade Statistics, 26/05/2010. Disponível em http://www.wto.org/english/ news_e/news10_e/devel_26may10_e.htm. 12. UNCTAD, World Investment Report 2010. 17 As economias em desenvolvimento receberam, em 2010, metade de todo o fluxo global de capitais para investimento, enquanto investiram apenas ¼ do IED global. Essse grupo de países vem liderando a recuperação dos fluxos no pós-crise e aparece como principal destino dos investimentos para os próximos anos. Gráfico 5 Fluxo de Investimentos Globais (IED), 1990-2009, e expectativa para 2010-2012 (US$ bilhões). Fonte: UNCTAD, World Investment Report 2010. A intensificação da globalização esperada para os próximos anos também será vista sob a óptica financeira. De fato, o movimento de internacionalização da produção e de multiplicação dos fluxos de comércio de bens e serviços, acelerado nos anos 90 foi, nesse mesmo período, acompanhado por um processo de desregulamentação dos mercados financeiros. Esse processo, aliado à revolução das Tecnologias da Informação e do Conhecimento (TICs), culminou na chamada globalização financeira. Essa se caracteriza, notadamente, por uma drástica intensificação dos fluxos de capitais internacionais – isto é, uma elevação de seu volume e de sua velocidade de circulação. Em 1980, a relação entre o tamanho do mercado financeiro (US$ 12 trilhões) e o PIB mundial (US$ 10 trilhões) era de 1,2. Em 2006, essa mesma relação havia saltado para 3,6 – um crescimento de 200%. Entre 1980 e 2006, o total de ativos financeiros cresceu 1.300%, ao passo que o PIB mundial se expandiu em 380%. 2500 2000 1500 1000 500 0 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 22 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 18 A intensificação dos fluxos financeiros – empréstimos, financiamentos, inversões em portfólio, entre outros – ao redor do mundo tende a constituir um único mercado global de moedas e de crédito. De fato, o processo de globalização financeira que, por muitos anos, se concentrava nos principais centros financeiros das chamadas economias avançadas é, cada vez mais, um fenômeno efetivamente mundial. O fluxo líquido de capitais financeiros privados para as economias emergentes que, entre 1999 e 2001 era de US$ 162 bilhões, alcançou US$ 440 bilhões em 2008. Mesmo com a queda decorrente da crise financeira internacional (redução para US$ 275 bilhões em 2009), espera-se a retomada desse movimento nos anos seguintes: o FMI projeta para 2011 um fluxo líquido de capitais financeiros para economias emergentes da ordem de US$ 323 bilhões. Para o Brasil e para Minas Gerais essa abundância de capitais, conjugada à propensão de muitos investidores internacionais por ativos reais de baixo risco, tem o potencial de abrir boas janelas de oportunidades para atração de investimentos privados em projetos de infraestrutura, por exemplo. Gráfico 6 Relação entre a economia financeira e a economia real no mundo (US$ trilhões) – 1980 e 2006. Fonte: PORTO, Claudio; VEnTURA, Rodrigo - Cenários focalizados na crise e pós-crise econômica - ensaios prospectivos de curto e longo prazo para o mundo e o Brasil - Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão, Setembro, 2009. 170 150 130 110 90 70 50 30 10 0 1980 10 48 2006 12 170 Ati vos fin anc eir os PIB Mun dial 19 IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • ampla disponibilidade mundial de capitais para investimentos produtivos; • necessidade de atuação mais competitiva e global na atração de investimentos produtivos para Minas Gerais e de consolidação de ambiente de negócios eficiente e receptivo; • acirramento da concorrência no mercado doméstico em virtude do aumento da oferta de produtos importados, em especial em setores ligados à indústria tradicional; • oportunidade de adensamento das cadeias produtivas mineiras por meio da promoção e atração de investimentos nos elos mais inovadores de suas redes de valor. 20 O mundo está experimentando um processo, cada vez mais forte, de transição de um modo de produção e criação de valor intensivo em energia e materiais, para a geração de valor com produtos intensivos em conhecimento e inovação. Nesse contexto, a chamada ‘economia do conhecimento’ tende a se consolidar como o principal motor da economia mundial ao longo deste século o que, por sua vez, conferirá maior importância aos investimentos dos ativos intangíveis das empresas como pessoal altamente qualificado; capacidade de inovação; inserção em redes nacionais e internacionais de pesquisa & desenvolvimento, fornecimento e distribuição; e reputação da marca. Os setores intensivos em tecnologia e conhecimento liderarão a economia do século XXI. São os setores mais dinâmicos, detentores das empresas mais rentáveis e das marcas mais valiosas. Segundo a Forbes13, dentre as 5 marcas mais valiosas do mundo, 4 pertencem a setores de alta tecnologia: a Apple ocupa a primeira posição, seguida pela Microsoft, a Coca-Cola (a exceção), IBM e Google. Os investimentos em P&D são crescentes nos países desenvolvidos. Embora o ritmo de crescimento tenha diminuído com os efeitos da crise econômica, as taxas de variação continuam positivas e expressivas.14 Conforme o gráfico abaixo, a intensidade de P&D, na média da OCDE, passou de 2%, no início dos anos 1990, para 2,4%, em 2007, sendo mais elevada no Japão. No Brasil, a intensidade de P&D da indústria ainda pode ser considerada baixa em relação aos países da OCDE, mas, também, registrou acréscimo: entre 2000 e 2005, subiu de 0,64% para 0,77%, segundo os dados da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec/IBGE).15 consolidação do conhecimento como principal motor daeconomia mundial, com a emergência e convergência de novas tecnologias 1.4 13. The World’s Most Valuable Brands, Forbes, 28 de julho de 2010. Disponível em: www.forbes.com 14. The 2009 EU industrial R&D invest- ment scoreboard. European Commission. Directorate General Research. Institute for Prospective Technological Studies. 2009. 15. FURTADO, A. QUADROS, R. DOMINGUES, S. A. Intensidade de P&D das empresas brasileiras. Inovação Uniemp. 2007, vol. 3, nº 6, pp. 26-27. 2007. 21 Nesse contexto, emergem e convergem três novas tecnologias com grande potencial de mudanças disruptivas e forte geração de valor: a biotecnologia, a nanotecnologia e a tecnologia da informação. A perspectiva é de que esse processo de convergência tecnológica seja cada vez mais visível, disseminando-se, inclusive, entre os países em desenvolvimento. A aplicação em escala industrial e empresarial dos avanços científicos e tecnológicos advindos da pesquisa biológica constitui o chamado setor de biotecnologia. O desenvolvimento da ciência seguiu gerando novas descobertas que aperfeiçoaram a compreensão dos mecanismos celulares e se ramificaram em novos campos do conhecimento. Em paralelo, o reconhecimento legal dos produtos das novas técnicas como invenções passíveis de serem patenteadas e, com isso, potencialmente lucrativas, abriu caminho para o surgimento de novas empresas de base científica, direcionadas ao desenvolvimento de aplicações comerciais ou prestação de serviços. As potencialidades de aplicação da biotecnologia são muitas e têm atraído o interesse não apenas de cientistas, mas, também, da indústria, de investidores privados e dos gestores de políticas públicas em todo o mundo. Os novos campos científicos da biotecnologia têm aplicações transversais e entre os principais setores impactados destacam-se agropecuária e alimentos, a indústria química e a farmacêutica.16 A nanotecnologia corresponde à capacidade de criar agrupamentos de átomos ou moléculas, cujo arranjo espacial e composição são usados para obter estruturas com novas propriedades mecânicas, óticas, eletrônicas ou magnéticas e, portanto, novos produtos industriais. De Gráfico 7 Intensidade de P&D (gasto em P&D/valor adicionado) 1993-2007 – regiões e países selecionados. Fonte: OECD (2009), OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2009, OECD Publishing. 16. Biotecnologia para Saúde Humana: Tecnologias, Aplicações e Inserção na Indús- tria Farmacêutica. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 29, p. 359-392, mar. 2009. 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 % 1993 20011993 1997 20051995 20031999 2007 EU27 EUA OECD JAPÃO 22 acordo com o Center for Technology Foresight (APEC), a nanotecnologia beneficiou todas as áreas científicas conhecidas hoje. Por outro lado, os gastos com tecnologia da informação são crescentes especialmente nos países asiáticos, quando consideradas as compras de hardware (computadores, dispositivos de armazenamento, impressoras e outros periféricos), de software (sistemas operacionais, ferramentas de programação, utilitários, aplicativos e desenvolvimento interno de software), de serviços de informática (consultoria de tecnologia da informação, informática e rede integração de sistemas, web hosting e outros serviços) de serviços de comunicação (serviços de voz e de comunicações de dados) e de equipamentos de comunicações com fio e sem fio.17 A capacidade de uma sociedade e de sua economia gerar e assimilar mudanças tecnológicas é, cada vez mais, um fator-chave para a o crescimento econômico. Isso traz uma grande preocupação com a disseminação do conhecimento e com a educação da população nos países que buscam avanços tecnológicos para fomentar os seus decorrentes ganhos em produtividade e competitividade. IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • intensificação da pressão do mercado por profissionais qualificados e com maior escolaridade, objetivando ganhos de qualidade e produtividade; • ampliação de oportunidades de negócios associadas à inovação, ao desenvolvimento das novas tecnologias e sua incorporação aos sistemas produtivos; • necessidade de acelerar a melhoria da educação e da qualificação profissional; • necessidade de adequar os sistemas logísticos, a infraestrutura e a conectividades das redes de cidades às exigências da economia baseada no conhecimento. 17. World Bank Information and communi- cation technology expenditure, disponível em http://data.worldbank.org/indicator/IE.ICT. TOTL.GD.ZS. 23 Maiores pressões por ajustes fiscais e exigências de maior eficácia e eficiência das políticas públicas são tendências mundialmente presentes desde os anos 1980, que foram reforçadas pela crise global de 2008.18 Com a implantação de políticas anticíclicas a partir de setembro de 2008, os governos das 20 maiores economias globais (G-20) gastaram 2% do PIB mundial com socorros e estímulos fiscais visando revigorar a demanda.19 aumento das pressões para ajustes fiscais e no papel do estado e por inovações visando políticas públicas mais eficazes 1.5 Gráfico 8 Déficit fiscal nos países do G20 (% PIB). Fonte: The Economist, 01/07/2010. 18. O retorno (duradouro ou não) do ativismo econômico estatal em escala global é uma incerteza que está emergindo no bojo dos desdobramentos desta crise. A propósito, esse é o tema central da edição da revista The Economist, edição de 7 a 13 de agosto – “Leviathan Inc – Tha state goes back into business”. Esta incerteza é abordada no Capítulo 5 deste documento. 19. Austerity alarm. The Economist. 1 de Julho de 2010. 0 2 4 6 8 10 20092005 2007 20102006 2008 24 Diante da perspectiva de aguçamento da crise financeira do Estado, o setor público passa por uma redefinição. A situação a ser enfrentada combina a necessidade de reerguer as economias afetadas com a preocupação com os gastos. Sendo assim, um desafio fundamental é compatibilizar a limitação dos recursos do Estado com a demanda crescente por maior quantidade e melhor qualidade dos serviços públicos. A reunião do G-20, ocorrida em junho de 2010, resultou na proposição de corte pela metade do déficit nos países desenvolvidos até 2013 e estabilização ou redução do seu endividamento até 2016. Os pacotes de estímulos econômicos serão trocados por medidas de ajuste fiscal e por reformas, para dar maior competitividade às economias, sendo que os aspectos específicos de cada país e região devem ser considerados na elaboração de suas políticas econômicas. Com efeito, [...] “o mundo econômico está mudando. A governança pública e corporativa terá de ser transformada [...] A aversão ao risco condicionará investimentos em todos os planos [...] a regulação prudencial adquirirá contornos mais rígidos [...] e maior disciplina será requerida para os gestores, inclusive os públicos, o que implica em menor tolerância com a ineficiência e os desequilíbrios macroeconômicos”.20 Um fato portador de futuro foi a aprovação, pelo Congresso Americano, de uma reforma financeira com o objetivo de prevenir riscos sistêmicos e eliminar causas da crise econômica de 2008. Foi criado um poderoso serviço federal de proteção ao consumidor de produtos financeiros. Foi, também, estabelecida uma supervisão federal sobre o mercado de derivativos, além de terem sido impostas restrições às transações de tesouraria feitas pelos bancos comericiais. Diante da crise mundial, a proposição de uma nova regulação financeira está na pauta das próximas reuniões do G-20, indicandotransformações estruturais nas principais instituições de governança global, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Em resposta a esse conjunto de desafios, haverá pressão cada vez maior por reformas e inovações que possibilitem políticas públicas mais eficazes que atendam às demandas da sociedade, com custos suportáveis e que garantam equilíbrio fiscal. Nesse campo, o fortalecimento da regulação (notadamente na área financeira), a disseminação de métodos e boas práticas de gestão para resultados, as parcerias público-privadas, o uso das tecnologias de informação, as possibilidades abertas pelo chamado ‘governo eletrônico’, a 20. BARROS, Octavio; GIAMBIAGI, Fabio (2008). Brasil globalizado. Rio de Janeiro: Campus; e BARROS, Octavio; GIAMBIAGI, Fabio (2008). – Brasil pós-crise: seremos capazes de dar um salto? In: Barros & Gi- ambiagi (org.) Brasil pós-crise – agenda para a próxima década. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 25 IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS OPORTUnIDADES • oportunidade de diferenciação de Minas Gerais pela qualidade e eficiência de sua gestão pública; • ampliação da oferta e da qualidade de serviços públicos e redução dos seus custos por meio de inovações, parcerias, redução da execução direta e ampliação do “governo eletrônico”; • oportunidade de consolidação do papel e da imagem de Minas Gerais como protagonista da nova gestão pública no Brasil. emergência de novos canais e formas de transparência e participação da sociedade e do cidadão na formulação e, sobretudo, na avaliação das políticas públicas e de iniciativas governamentais, oferecem caminhos promissores. 26 Durante a última década, foram formados alguns consensos na comunidade científica mundial com relação ao processo de aquecimento global derivado das emissões antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE): 1. de que haverá aquecimento global motivado por emissões de GEE em qualquer cenário, e que esse é irreversível neste século; 2. que a grande incerteza reside na intensidade das mudanças climáticas, a qual está diretamente condicionada à celeridade, tempestividade e abrangência dos esforços de sua mitigação e de transição para uma economia de baixo carbono em âmbito mundial. Alguns países e regiões, entre eles o Brasil e Minas Gerais, poderão ser impactados negativamente, ao longo prazo, no tocante à produção agrícola e esforços de adaptação serão necessários. Com relação ao aquecimento inevitável, a comunidade científica trabalha com dois cenários extremos; o primeiro parte da suposição de que não haverá alteração no funcionamento da economia, sendo mantida a tendência de emissões; e o segundo considera uma mudança positiva com trajetória de diminuição das emissões de GEE. No cenário de continuidade (business as usual), no qual não ocorrem mudanças na economia mundial, as emissões partem de 40 gigatoneladas de CO² por ano, em 2000, para se estabilizar em cerca de 70 gigatoneladas de CO² por ano. Espera-se que, nessa trajetória, a intensidade das emissões modifique o clima da terra, com impactos na elevação do nível dos oceanos, mudanças nos ciclos de chuvas, das secas e descongelamento dos polos, entre outros. Ao longo prazo, Mudanças climáticas, certeza com mitigação incerta 1.6 27 o clima poderá impactar diretamente na produtividade agrícola, com ganhos para as regiões frias e perdas para regiões temperadas e tropicais, inclusive no Brasil. Já no cenário mais otimista, busca-se atingir uma faixa “segura” de concentração de 350 a 400 ppm de CO² na atmosfera – correspondente a um aumento de temperatura de 2 a 2,4ºC em relação ao período pré- industrial. Ou seja, os efeitos do aquecimento são menos impactantes, com menor descontrole do clima mundial. Os esforços e custos para a manutenção das mudanças climáticas em níveis seguros ao longo prazo serão muito intensos. É fundamental ressaltar que, para que esse ou qualquer cenário seguro para o século ocorra, os principais emissores globais devem se mover rapidamente ainda nesta década, uma vez que a curva de emissões encontra-se em rápida ascensão. O cenário de referência da Agência Internacional de Energia apresenta, no entanto, uma expectativa de crescimento da demanda por fontes fósseis (emissoras de GEE) até 2030, como carvão, petróleo e gás natural. Caso os esforços de mitigação avancem, espera-se que um dos principais vetores de implantação seja um aparato regulatório que gere mudança nos preços relativos na economia, que se tornariam crescentemente mais caras as fontes de energia de origem fóssil e outras atividades geradoras de emissões de GEE. É dessa forma que a preocupação com a questão ambiental global deixa de ser exclusividade da agenda da comunidade científica e passa a constar nas agendas econômica e política dos principais países do mundo. A necessidade de redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa já influencia inúmeras Figura 1 Mudanças climáticas – possíveis reduções na produtividade agrícola de países em 2050 (considerando as atuais práticas agrícolas e sementes). Fonte: Muller e Outros 2009; Banco Mundial 2008 apud World Development Report 2010 – Development and Climate Change, World Bank. Variação percentual do rendimento entre o presente e 2050 -55 -20 0 20 50 100 Sem dados 28 IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • necessidade de intensificação da pesquisa, desenvolvimento e inovação na agricultura e pecuária, para fazer face às oportunidades e ameaças das mudanças climáticas e emergência da economia de baixo carbono; • mudanças no mapa agrícola do Estado, com provável perda de produtividade para algumas culturas agrícolas e/ou seu deslocamento para outras regiões; • necessidade de adequação às metas de redução de emissões (especialmente saneamento ambiental/lixo, transportes e atividades industriais) e estímulo à eficiência energética e eco- eficiência; • necessidade de intensificação da pesquisa, desenvolvimento e inovação na agricultura e pecuária para fazer face às oportunidades e ameaças das mudanças climáticas e emergência da economia de baixo carbono; • aumento dos custos relativos das fontes energia de origem fóssil; • necessidade de aumentar a capacidade de resiliência das cidades a eventos climáticos críticos (tempestades, enchentes, deslizamentos, etc.). discussões entre líderes mundiais, que definem ambiciosas metas de redução da emissão, embora muitas vezes ainda sem ações focadas e coordenadas. 29 No bojo dos desafios associados às mudanças climáticas, mas sem depender exclusivamente delas, está emergindo uma nova abordagem em relação ao meio ambiente. A visão do meio ambiente, enquanto entrave ao desenvolvimento econômico, está sendo substituída pela convicção de que as preocupações com a sustentabilidade ambiental emergem múltiplas oportunidades de negócio. Estudos indicam três áreas que se destacarão na transição para uma economia global verde, por suas oportunidades de baixo custo: eficiência energética, fornecimento de energia de baixo carbono e carbono terrestre, responsáveis por um terço de todo o potencial global de mudança.21 emergência da economia de baixo carbono 1.7 Figura 2 Mundo - categorias principais das oportunidades de redução de emissões. Fonte: Pathways to a Low-Carbon Economy – Version 2 of the Global Green- house Gas Abatement Cost Curve, McKinsey&Company, 2009. 21. Pathways to a Low-Carbon Economy – Version 2 of the Global Greenhouse Gas Abatement Cost Curve, McKinsey&Company.2009. Principais categorias para redução de emissões Emissões globais de gases do efeito estufa Gigatoneladas de CO2 (GtCO2) por ano Business as usual 70 60 50 40 30 20 10 0 2005 1510 2020 25 2030 -14 -12 -12 -4 -5 Eficiência energética Fornecimento de energia de baixo carbono Sumidouros naturais de carbono Mudanças de comportamento Medidas técnicas 30 A área de eficiência energética compreende o grande número de oportunidades para melhorar o desempenho de veículos, construções e equipamentos industriais: motores de carros mais eficientes em seu consumo de combustível, melhor isolamento de construções e controles de eficiência dos equipamentos produtivos, são algumas possibilidades. O segmento de carbono terrestre compreende o potencial que as florestas e os solos têm de serem sumidouros naturais de carbono. Suspender o desmatamento tropical atualmente em curso, reflorestar áreas marginais de terra, cultivar florestas energéticas e sequestrar mais gás carbônico nos solos, através de mudanças em práticas agrícolas, iriam contribuir para essa frente e gerar novas oportunidades de negócios. Quanto ao fornecimento de energia de baixo carbono, são várias as oportunidades para mudança da fonte de energia de combustíveis: a produção de energia elétrica através de usinas eólicas, nucleares e hidráulicas (inclusive pequenas centrais hidrelétricas), assim como a implantação de equipamentos de captura e armazenagem de carbono nas usinas de energia fóssil, ou a mudança do combustível convencional de transporte para os biocombustíveis. Se essas alternativas de baixo carbono forem implantadas em sua totalidade, estima-se que elas tenham o potencial de fornecer cerca de 70% do abastecimento global de eletricidade em 2030, comparado com apenas 30% em 2005. O estudo estima, também, que os biocombustíveis poderiam fornecer até 25% dos combustíveis para transporte em 2030. As pressões por substituição dos combustíveis fósseis resultará no aumento mundial da procura por fontes de energia de baixo carbono. É esperado, por exemplo, um grande aumento na demanda e na produção mundial do etanol. O Brasil, provavelmente, se consolidará como o maior exportador e os Estados Unidos irá manter-se como o maior produtor, com um total de 65,4 bilhões de litros produzidos, sendo o maior comprador do etanol brasileiro. 31 Gráfico 9 Produção e consumo de etanol em 2009 e projeção para 2019 (bilhões de litros) – países selecionados. Fonte: U.S. and World Agricultural Outlook, Food and Agricultural Policy Research Institute, Janeiro de 2010. Elaboração Macroplan. IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • oportunidade de desenvolvimento da produção de energia de biomassa (etanol, carvão vegetal, entre outras). Ampliação do parque de pequenas centrais hidrelétricas e de produção de energia eólica; • pressões internacionais por parte do mercado, de ONGs, de governos nacionais e de instituições multilaterais, que condicionam investimentos, financiamentos e transações comerciais à lógica da produção sustentável de bens e serviços; • necessidade de redução das emissões de gases de efeito estufa em Minas Gerais; • multiplicação de novos negócios associados à economia de baixo carbono. 2009 2019 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0 B ra si l Ch in a EU A Eu ro pa Ín di a Ca na dá Ar ge nt in a 26 ,1 24 ,1 51 ,4 35 ,8 2, 0 1, 9 2, 8 2, 83, 0 4, 1 6, 9 9 ,4 1, 1 1, 7 1, 7 2, 9 1, 1 1, 8 2, 4 2, 7 1, 2 0, 0 1, 8 0, 8 B ra si l Ch in a EU A Eu ro pa Ín di a Ca na dá Ar ge nt in a 40 ,4 41 ,2 65 ,4 74 ,7 PRODUçÃO COnSUMO 2 o contexto nacional 33 A crise econômica mundial também produziu impactos sobre o Brasil, mas o nosso País foi um dos menos afetados. Após um ano de crescimento zero (2009), a economia brasileira voltou a acelerar, sendo que a maioria dos cenários de médio prazo traz expectativas positivas. De fato, o Brasil possui alguns ativos estratégicos que o tornam bem posicionado neste momento: diversidade e abundância de fontes de energia, inclusive renováveis; grande disponibilidade de água e solos agricultáveis; mercado nacional integrado e de grande escala, com segmentos econômicos mundialmente competitivos; solidez e elevado desempenho do sistema financeiro nacional; dimensão e pujança do mercado interno; dinamismo do mercado acionário; acúmulo de reservas internacionais; diversificação de mercados externos e instituições sólidas em comparação com países em nível semelhante de desenvolvimento.22 Por outro lado, o País acumula deficiências estruturais que, se não forem superadas ou minimizadas ao longo desta década, provavelmente impedirão um crescimento econômico sustentado a taxas elevadas: baixo nível de escolaridade e de capacitação da população; violência urbana; gargalos na infraestrutura e nos sistemas logísticos; carga tributária elevada, sistema tributário distorcido e má qualidade do gasto público; déficit da previdência e pressões crescentes sobre o sistema previdenciário; excesso de burocracia; elevada pressão antrópica por desmatamento e baixo desempenho em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Além disso, analistas apontam a acentuação dos riscos de deterioração acelerada do quadro fiscal em caso de arrefecimento das taxas de crescimento econômico. Dependendo de como evoluirão essas potencialidades e deficiências, o Brasil poderá alcançar, nos próximos 20 anos, padrões equivalentes aos de países desenvolvidos, ou, inversamente, manter ou acentuar suas defasagens. Para as finalidades deste trabalho importa, primeiramente, mapear e antecipar tendências nacionais que, acrescidas às mundiais, terão impacto sobre o desenvolvimento mineiro nos próximos 20 anos. Nesse campo, destacam-se as seguintes: I. emergência da nova classe média brasileira: estabilidade monetária, amplo acesso a crédito e diminuição da desigualdade social ampliam o consumo de massa; 22. PORTO, Claudio; VENTURA, Rodrigo - Cenários focalizados na crise e pós-crise econômica - ensaios prospectivos de curto e longo prazo para o mundo e o Brasil - Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão, Setembro, 2009. 34 II. reconfiguração econômica e espacial: interiorização do desenvolvimento, ampliação do agronegócio, desconcentração industrial e da urbanização e constituição de novos polos de dinamismo econômico; III. universalização das telecomunicações e forte expansão da conectividade, incluindo a massificação dos computadores e do acesso à internet; IV. abertura crescente do Brasil em relação à economia mundial e maior relevância da inovação como fator de competitividade; V. expansão da produção de biocombustíveis; VI. modernização da economia rural: robotização, mecanização agrícola, melhoramentos genéticos e novos modelos de negócios. As três primeiras tendências já se encontram em processo de consolidação e é bastante provável que seus efeitos se ampliem a curto prazo e se mantenham por longo tempo. As três seguintes, em fase de maturação, produzirão os principais impactos a médio e longo prazos. Todas elas, no entanto, trazem relevantes implicações para o desenvolvimento de Minas Gerais como se verá a seguir. 35 No Brasil, entre 2003 e 2008, 32 milhões de pessoas ingressaram na classe C(famílias que recebem entre R$ 1.115 e R$ 4.807 por mês) e 6 milhões na classe AB (famílias que recebem mais de R$ 4.807 por mês). Pela primeira vez, a classe C passou a deter a maior fatia da renda nacional.23 23. O conceito de classe social empregado é o definido pela Fundação Getulio Vargas. emergência da nova classe média brasileira: estabilidade monetária, amplo acesso ao crédito e diminuição da desigualdade social ampliam o consumo de massa 2.1 Gráfico 10 População brasileira segundo as classes de renda – (2001–2008). Fonte: Consumidores, Produtores e a Nova Classe Média – FGV; IBGE – Projeção da População (revisão 2008). Gráfico 11 Brasil – evolução da classe C (2001–2008) valores absolutos em milhões. Fonte: Consumidores, Produtores e a Nova Classe Média – FGV; IBGE – Projeção da População (revisão 2008). 66,17 76,67 67,14 88,00 68,12 83,39 71,95 93,33 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 38,1% 49,2% 27,5% 26,1% 24,4% 8,3% 10,4% 16,0% Classe C R$ 1.115 a R$ 4.807 Renda domiciliar Classe D R$ 804 a R$ 1.115 Classe AB R$ 4.807 ou mais Classe E R$ 0 a R$ 804 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Evolução da população brasileira segundo as classes de renda – percentual (2001-2008) 36 Os fatores que levaram ao crescimento da classe C foram: o período recente de estabilidade monetária, que possibilitou o planejamento financeiro, encorajando financiamentos a prazos mais longos; a expansão do crédito e do aceso ao sistema bancário; a geração de empregos e consequente aumento da renda das famílias e os programas de transferência de renda condicionada. A classe média, com seus novos consumidores, tem feito do mercado interno brasileiro o motor do crescimento econômico. O comércio varejista avança a taxas elevadas e as perspectivas de que a demanda seguirá forte nos próximos anos estimulam muitas empresas a investir no aumento da capacidade produtiva. O aumento da renda e queda nos juros levaram a uma forte expansão do crédito pessoal para o consumo, que saiu do volume de 5% do PIB, em 2002, para 15% do PIB em 2009, o que então representou uma massa monetária estimada em R$ 487,5 bilhões. Com essa alta, esse segmento dos empréstimos, que exclui o crédito imobiliário, já atinge nível próximo ao dos Estados Unidos, maior sociedade de consumo do planeta. Em 2009, o crédito para consumo pessoal nos EUA foi de 17,2% do PIB e no Brasil, atingiu 15% do PIB24. 24. Vale ressaltar que a relação crédito total/ PIB no Brasil ainda está bem longe das economias avançadas, existindo ainda ampla margem para crescimento, notadamente no crédito imobiliário. 25. A classe média brasileira. Souza, A. e Lamounier, B, Elsevier, 2010. Dados com base na “Pesquisa sobre Classe Média de 2008”. Gráfico 12 Brasil - evolução de crédito pessoal para consumo em porcentual do PIB. Fonte: Federal Reserve (FED), Bureau of Economic Analysis (BEA) e Banco Central (BC). Segundo dados da Anatel, o Brasil já é o quinto colocado no ranking mundial de acesso à telefonia celular, atrás apenas de China, Estados Unidos, Índia e Rússia. Atualmente, 60% da classe C tem computador em casa, quase o dobro dos 33% registrados em 2005, 89% possui celular e 55% possui automóvel.25 Projeções da LCA Consultoria estimam que, em 2020, os brasileiros vão gastar R$ 5 trilhões, 130% a mais que atualmente e já em 2014 o Brasil passará a ser o quinto maior mercado consumidor do mundo atrás apenas de Estados Unidos, Japão, China e Alemanha. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 EUA BRASIl 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 17,2 15 37 Além disso, segundo o Instituto de Pesquisas Data Popular26, pela primeira vez no Brasil a massa de renda das famílias da classe D (cerca de 43 milhões de pessoas) vai ultrapassar, em 2010, a das famílias da classe B. A classe D terá uma participação de 28% na massa total de rendimentos (estimada em R$ 1,4 trilhão) enquanto a classe B deterá 24% desse montante. O momento do Brasil é favorável por conciliar expansão mais forte da atividade econômica com redução da desigualdade. Há uma possibilidade significativa do atual ciclo de consumo se sustentar nos próximos anos. Entre 2003 e 2008, 32 milhões de pessoas foram incorporadas ao mercado consumidor e mais 36 milhões deverão se juntar a elas, entre 2010 e 2014, nas classes A, B e C.27 26. www.datapopular.com.br 27. A Pequena Grande Década: Crise, Cenários e a Nova Classe Média. Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), 2010. IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS OPORTUnIDADES • ampliação significativa do mercado interno, com um forte crescimento da demanda por habitação; • oportunidade de dinamização econômica das regiões menos desenvolvidas de Minas Gerais, em especial aquelas compreendidas nas Regiões Norte e Nordeste. 38 Nas duas últimas décadas, ocorreram alterações significativas nos padrões de localização das atividades produtivas no território brasileiro. Se historicamente os investidores buscaram os grandes centros urbanos, motivados pelas economias de aglomeração (proximidade ao mercado e fornecedores, melhor infraestrutura e maior acesso aos avanços tecnológicos), essa preferência reduziu-se progressivamente, provocando a desconcentração espacial da base produtiva. Essa tendência pode ser verificada na evolução da participação das regiões no PIB nacional. Entre 1985 e 2007, as Regiões Sudeste e Sul tiveram, na ordem, uma queda de 4,6% e 0,5%, enquanto as Regiões Norte e Centro-Oeste tiveram, inversamente, aumentos de 1,3% e 4,3%, respectivamente. Ainda existe uma forte concentração de unidades empresariais e de pessoal assalariado na Região Sudeste, cuja participação supera 50% no total das empresas no Brasil, em ambas as variáveis, tanto em 2000 como em 2006. Porém, houve aumento da participação relativa das Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, tanto em empresas quanto em pessoal assalariado.28 Vale destacar, contudo, que as modificações nos padrões de localização das indústrias não ocorrem de forma homogênea para todos os setores industriais. O setor de bens de consumo pouco duráveis se direciona para o Nordeste, enquanto o setor de bens duráveis experimenta uma desconcentração restrita dentro da Região Sul-Sudeste. Já outros setores, como o de química, mantêm-se concentrados nos centros econômicos e, em alguns casos, até acontece uma intensificação dessa concentração, como nas telecomunicações e informática. O caso do agronegócio é uma exceção nesse padrão de desconcentração de 28. IBGE - Demografia das Empresas 2006 – Rio de Janeiro, 2008. reconfiguração econômica e espacial: interiorização do desenvolvimento, ampliação do agronegócio, desconcentração industrial e da urbanização e constituição de novos polos de dinamismo econômico 2.2 39 pouco valor agregado, pois ao longo dos eixos econômicos Araguaia- Tocantins e Oeste, esse tem se tornado cada vez mais intenso em tecnologia e inovação, com a atuação no agronegócio de grandes empresas, elevada automação no cultivo e colheita, emprego de equipamentos sofisticados e acesso a logística de alta capacidade (incluindo hidrovias e ferrovias). Atrelado a esse movimento de interiorização do desenvolvimento e desconcentração da base produtiva, tem ocorrido um processo de descentralização da rede urbana nacional, com a ascensão das cidades brasileiras de médioporte e a criação de metrópoles no interior do País. Em 2002, as cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes representavam, aproximadamente, 23% da população total nacional. Já em 2005, esse percentual elevou-se para 25% e continuará crescendo nos próximos anos (ver gráfico 13). O mesmo pode ser percebido em relação à dimensão econômica. As cidades médias e pequenas, que representavam 56% do PIB nacional em 2002, foram responsáveis por 60% de toda a economia brasileira em 2005. Figura 3 Interiorização do desenvolvimento nacional. Fonte: Cenários Exploratórios de Minas Gerais 2007-2023 (2006). Biodiversidade • Adensamento de cadeias produtivas • Inclusão social Agropecuária Agroindústria logística de alta capacidade Terciário avançado Difusão de competitividade Agregação de valor Em parte em consequência dessa interiorização do desenvolvimento econômico, verifi ca-se uma evolução positiva na qualidade de vida da população. A dinâmica do Índice de Desenvolvimento Humano29 dos municípios brasileiros nas últimas décadas, confi rma essa tendência de interiorização, conforme mostra a fi gura 4. Gráfi co 13 Brasil - desconcentração econômica - participação das cidades no PIB nacional, segundo o porte. Fonte: IBGE / Contas Regionais (2007). Figura 4. Dinâmica territorial do desenvolvimento humano no Brasil 1970 - 2000. Fonte: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, PNUD (2003). Maior de 500 mil habitantes Entre 100 mil e 500 mil Menor que 100 mil habitantes 45% 40% 35% 30% 25% 1970 1991 1981 2000 2002 2005 0,000 a 0,299 0,500 a 0,650 0,801 a 1,000 0,300 a 0,499 0,651 a 0,800 40 29. Indicador que agrega indicadores de educação, longevidade e renda, o IDH-M é calculado pelo PNUD. 41 IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • intensificação da disputa por atração de investimentos industriais entre os Estados. Minas precisará garantir uma boa infraestrutura, assim como um ambiente institucional favorável ao desenvolvimento de negócios; • ameaça de acentuação de perda de investimentos destinados à agropecuária, em face da maior concorrência originada pela expansão da fronteira agrícola, pelo alto desempenho do Centro-Oeste no setor; • necessidade de implantação ou ampliação de infraestrutura e de sistemas logísticos de alta capacidade para assegurar inserção competitiva de Minas Gerais no movimento de interiorização do agronegócio; • possibilidade de atração de novos investimentos para o segmento minerometalúrgico nas regiões onde já se concentra, devido às competências e capacidades industriais já instaladas; • forte aumento da demanda por segurança pública nas cidades médias. 42 Nos últimos anos, houve uma grande expansão no número de usuários de internet no Brasil, passando de pouco menos de 7 milhões, em 1999, para 63 milhões, em 2009, apresentando um crescimento de 800% no período.30 Quanto ao número de aparelhos celulares, estamos próximos da universalização: em 2009 existiam 174 milhões de linhas segundo informações da Anatel. 30. Pesquisa conduzida pela empresa de consultoria TELECO. Foi considerado usuário de internet a população de 10 anos ou mais de idade que acessou a internet, pelo menos uma vez, por meio de computador, em algum local nos 90 dias que antecederam à entrevista. Universalização das telecomunicações e forte expansão da conectividade, incluindo a massificação dos computadores e do acesso à internet 2.3 Gráfico 14 Brasil - massificação das telecomunicações e da conectividade. Fonte: Celulares e banda larga: Anatel e ABTA com Elaboração Teleco. Computadores: CIA - FGV EAESP. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 (por 100 mil habitantes) em milhares 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 em milhares computadores vendidos no Brasil total de conexões banda larga (por 100 mil habitantes) acesso ao serviço telefônico móvel 43 Essa dinâmica afeta, significativamente, o cenário de negócios no Brasil. Desde transformações em setores tradicionais, por meio da adoção de novas formas de transação comerciais (como B2B e B2C) e acesso a novos mercados, até a viabilização e consolidação de setores anteriormente restritos, como o ensino a distância e a telemedicina. Segundo a Ecommerce, o comércio eletrônico de bens de consumo no Brasil deve atingir faturamento de R$ 13,6 bilhões em 2010, apresentando um crescimento de 30% frente a 2009. Para um setor que faturava algo ao redor de R$ 500 milhões em 2001, esse valor representa um extraordinário crescimento de mais de 2.600% em 10 anos.31 Por trás desse forte incremento do comércio eletrônico, encontra-se o aumento do número de consumidores. Em 2010, espera-se que 23 milhões de consumidores já participem do comércio eletrônico, aumento expressivo quando comparado ao 1,1 milhão registrado em 2001.32 A internet tornou-se o canal de atendimento bancário mais utilizado no Brasil, em 2009. Pela internet foram iniciadas 31% das transações de pagamento de contas, de tributos e de transferência de crédito, ultrapassando os terminais de auto-atendimento, num total de 8,3 bilhões de transações por acesso remoto (internet, home e office banking), de acordo com o anuário estatístico do BC sobre o sistema de pagamentos de varejo no Brasil de 2009.33 O setor de telecomunicações, por sua vez, cresceu acima da média da economia, mostrando uma expansão que entre 6% e 8%, de acordo com dados preliminares da Associação Brasileira das Empresas de TI e Comunicação (Brasscom). Estima-se que somente o setor de TI, excluindo telecomunicações, faturou cerca de US$ 65 bilhões, o que faz do Brasil o oitavo maior mercado de TI do mundo. Incluindo telecomunicações, o faturamento do setor deve se aproximar de US$ 140 bilhões, representando de 7% a 8% do PIB brasileiro. Os desafios a enfrentar são infraestrutura e capacitação. Por enquanto, o Brasil tem um sistema de internet em alta velocidade caro, lento e mal distribuído por seu território. O gasto médio da parcela de 21% dos domicílios com acesso à banda larga chegou a 4,58% da renda mensal per capita em 2009, quase dez vezes mais que em países desenvolvidos. Os altos preços se dão pelo baixo nível de competição entre as operadoras e elevada carga tributária. Embora em todas as cidades brasileiras, com mais de um milhão de habitantes, haja banda larga, a faixa dos pequenos municípios concentra mais de 92% da população sem acesso: 39,2 milhões de pessoas.34 31. Estatísticas eCommerce, disponível em http://www.e-commerce.org.br/stats.php. 32. http://www.ebitempresa.com.br/ 33. Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo do Brasil – Adendo Estatístico – 2009, versão preliminar, julho/2010. 34. Comunicado do IPEA n° 46. Análise e recomendações para as políticas públicas de massificação de acesso à internet em banda larga. 2010. 44 Apesar das dificuldades e obstáculos, o crescimento provavelmente continuará bastante acelerado, sendo que há previsões, segundo o Plano Nacional de Banda Larga, de massificação da oferta de acesso a internet banda larga e promoção do crescimento da infraestrutura de telecomunicações do País, com a incorporação de 30 milhões de acessos a banda larga fixa e 60 milhões de acessos a banda larga móvel até 2014.35 Por último, mas não menos importante, a incorporação das novas tecnologias no sistema educacional e de formação de mãode obra no Brasil poderá contribuir para a expansão da cobertura e da qualidade dos serviços educacionais. 35. Plano Nacional para Banda Larga, 2009. Ministério das Comunicações. Disponível em: http://www.mc.gov.br/plano-nacional-para- banda-larga Gráfico 15 Brasil - projeção de acessos por banda larga - fixos e móveis (em milhões). Fonte: Anatel. Plano Nacional para Banda Larga, 2009. IMPlICAçõES PARA MInAS GERAIS: • aumento da importância das tecnologias de informação e comunicação para a gestão e operação das cidades (“cidades inteligentes”) e para a conectividade das redes de cidades mineiras; • mudanças significativas nos processos de negócio, desde novas formas de transações comerciais (como B2B e B2C) e acesso a novos mercados até a viabilização e consolidação de atividades anteriormente restritos, como o ensino a distância e a telemedicina, dentre outras; • aumento da importância da infraestrutura de comunicação para a competitividade urbana (“cidades inteligentes”); • multiplicação de redes sociais e maior participação do cidadão nas questões de interesse público. Possibilidade de maior transparência nas ações, dados e registros do Poder Público. 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Banda larga Fixa Banda larga Móvel 45 O Brasil está ampliando sua inserção na economia global. As reformas econômicas orientadas para o mercado, promovidas por sucessivos governos, fizeram com que o País adentrasse o patamar das economias moderamente abertas, a partir dos anos 1990, e que lá se mantivesse até a década atual. Essa abertura não se dá apenas pela corrente de comércio. Ao longo da década, o País vem atraindo Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em montantes crescentes. Potencializado pelas estratégias de internacionalização das empresas, o montante global de investimentos entre países cresceu da média de US$ 100 bilhões no final da década de 1980 para cerca de US$ 600 bilhões nos anos 2000. Cerca de 30% desse volume é destinado a países em desenvolvimento e o Brasil conseguiu se colocar entre os principais recebedores desses recursos.36 36. LACERDA, Antonio Correa - Internacionalização das empresas brasileiras, in Portal Terra, 2008. abertura crescente do Brasil em relação à economia mundial e maior relevância da inovação como fator de competitividade 2.4 Gráfico 16 Brasil - Investimento Estrangeiro Direto (IED) e grau de abertura da economia, 1990-2009. Fonte: Base dados da SECEX e Séries Temporais do BCB (2010). 2009. 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 50 40 30 20 10 0 30 25 20 15 10 5 IED (U$ bilhões) Grau de Abertura da Economia (%)* * O grau de abertura da economia é medido pela participação da corrente de comércio: Exportações + Importações/PIB. 46 Por outro lado, há um movimento em curso de internacionalização de empresas brasileiras que deve ser ampliado nas próximas décadas. Essa abertura crescente e a inserção do Brasil em mercados globais intensificam a concorrência entre as empresas, sendo uma das estratégias competitivas mais eficazes a aceleração das inovações de produtos, serviços, processos, modelos de negócios e organizacionais, entre outros. Tem-se verificado uma correlação cada vez maior entre IED, comércio exterior e inovação. As mesmas empresas líderes no comércio internacional são aquelas que lideram a geração de inovações. Ou seja, a capacidade de inovar passou a ser determinante para a supremacia em um mercado global cada vez mais competitivo. No entanto, apesar de diversos casos de sucesso, o Brasil ainda está longe dos países líderes em matéria de inovação. De fato, mesmo com esforços recentes, o País ainda está em posição inferior no ranking de patentes e, pior ainda, não está ganhando posições. Em 1994, o País pediu registro de 60 patentes no USPTO. No ano passado foram 106 pedidos. Entretanto, a produção do País nesses dois momentos representou apenas 0,06% do total mundial. No mesmo período, a Coreia do Sul saltou de 0,93% para 5,24%. Fenômeno semelhante ocorreu como China, Espanha, Rússia e Índia, como indica o quadro abaixo. Figura 5 Patentes concedidas pelo USPTO* para alguns países (% sobre o total mundial). Fonte: FAPESP, OMPI, INPI e Fiocruz. *Sigla em inglês para escritório de patentes e marcas dos Estados Unidos. Coréia do Sul Índia Rússia China Espanha Brasil 0,930,93 2,72,7 2,322,32 5,245,24 1994 1999 2004 20091994 1999 2004 2009 0,03 0,22 0,07 0,41 1994 1999 2004 20091994 1999 2004 2009 0,04 0,10,12 0,12 1994 1999 2004 2009 0,05 0,25 0,06 0,99 1994 1999 2004 2009 0,14 0,160,14 0,19 1994 1999 2004 20091994 1999 2004 2009 0,06 0,060,06 0,06 1994 1999 2004 2009 47 37. Análise da Penetração das Importações Chinesas no Mercado Brasileiro, Departa- mento de Competitividade e Tecnologia, FIESP. 2010. 38. Balanço Social Embrapa, 2009. A alta tecnologia respondeu por apenas 5,4% (US$ 11,1 bilhões) das exportações brasileiras em 2008, enquanto chegou a 22,5% (US$ 435 bilhões) das vendas externas da China, segundo a FIESP. Especialistas atribuem o bom desempenho da China aos investimentos em P&D e às transferências de multinacionais para o país em busca de custos mais baixos. O gasto da China com P&D foi de 1,42% do PIB em 2007, no Brasil 1,11% em 2008. Os países da OCDE investem 2,2% e os EUA 2,77%.37 De todo modo, temos casos de sucesso que evidenciam a relevância da inovação como fator de inserção competitiva do Brasil na economia global. Dois desses casos são referidos sumariamente a seguir. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se destaca pela realização de pesquisas pioneiras que tornaram o cerrado um celeiro para a produção de alimentos, apesar do solo ácido e de baixa fertilidade da região. Em 2007, a Embrapa possuía 8.619 funcionários, 2.221 pesquisadores (45% com mestrado e 53% com doutorado) e uma rede com 41 unidades em todas as regiões do País.38 A Empresa apresentava ainda cooperação tecnológica com 64 instituições em 37 países. Novas tecnologias foram desenvolvidas, atingindo-se resultados expressivos de produtividade. Gráfico 17 Produtividade da soja brasileira. Fonte: Embrapa, 2010. 1.089 1.721 2.507 1.439 2.112 2.823 2.820 Área (milhões de HA) Produtividade (Kg/HA) Produção (milhões de toneladas) 0,4 4,9 9,5 11,3 18,6 20,7 21,2 0,5 7,3 16,4 24,0 46,1 58,4 59,8 1960/69 1970/79 1980/89 1990/99 2000/06 2007 2008 48 39. Relatório Anual Embraer, 2009. 40. PETROBRAS - PLANO DE NEGÓCIOS 2010 – 2014 – Webcast – Slides de apresentação de José Sergio Gabrielli – Presidente e de Almir Barbassa – Diretor Financeiro e de Relações com Investidores. In www.petrobras.com.br. 41. Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural - Dis- ponível em www.prominp.com.br. A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.) é uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo, a maior exportadora brasileira, entre os anos de 1999 e 2001, e a segunda maior exportadora nos anos de 2002, 2003 e 2004. Em 2009, a empresa registrou receita líquida de R$ 10.812,7 milhões, ano em que foram entregues 244 aeronaves e investidos R$ 353 milhões em P&D.39 Por outro lado, não se deve deixar de considerar a ‘janela de oportunidades’ que se abre para o
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