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DIREITO DE FAMÍLIA existência e validade

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DIREITO DE FAMÍLIA
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
CAPÍTULO I - Introdução ao novo Direito de Família 
Noção clássica de Família: bases históricas; formação da família brasileira; Novos rumos do Direito de Família: as diversas espécies de família; A família na Constituição Federal, no Código Civil e na legislação ordinária.
CAPÍTULO II - Das Relações de Parentesco 
Espécies de parentesco; Classes e graus de parentesco; Contagem de graus; sócio-afetividade: o parentesco resultante de “outra origem” no Código Civil; Posturas jurisprudenciais de vanguarda.
CAPÍTULO III - Do Casamento:
Definição, caracteres, finalidade, princípios; Da capacidade para o casamento; Suprimento da capacidade núbil; Existência e validade do casamento; Casamento nulo; Casamento anulável; Causas suspensivas; Da habilitação e celebração; Do casamento putativo; Do casamento nuncupativo; Do casamento por procuração; Das provas do Casamento; 
CAPÍTULO IV - Dos Regimes de bens entre os cônjuges
Noções iniciais; Do pacto antenupcial; A comunhão parcial de bens; A comunhão universal de bens; A participação final nos aqüestos; A separação total de bens (legal e convencional); Da administração dos bens no casamento.
CAPÍTULO V - Da dissolução do vínculo conjugal: 
Da separação: de fato e judicial (litigiosa e amigável); Do divórcio (direto, litigioso, por conversão e extrajudicial); Partilha de bens, alimentos, guarda dos filhos; 
CAPÍTULO VI - Da União Estável
Introdução: conceito, requisitos para configuração da estabilidade; Evolução do tratamento jurisprudência e legislativo; Contrato de união estável; Direitos oriundos da união estável; Dissolução da união estável.
CAPÍTULO VII - Dos alimentos
Conceito de alimentos; Princípios do direito alimentar; Fontes da obrigação alimentar; Alimentos civis e naturais; Alimentos provisionais e provisórios; Execução de alimentos: prisão do devedor em mora; Revisão e exoneração da pensão alimentícia;
Capítulo vIII - Da Filiação
Noções introdutórias; Poder familiar; Filiação havida no casamento; Presunções “pater is est”: reprodução assistida (fecundação homóloga e heterológa), viuvez, infertilidade, adultério; Contestação e impugnação de paternidade; Filiação havida fora do casamento; Reconhecimento e investigação de paternidade; Averiguação oficiosa da paternidade; Prova da filiação; Registro de nascimento.
CAPÍTULO IX - Da Adoção
Histórico da adoção no Brasil; Conceito de adoção; Espécies de adoção; Requisitos; Processo de adoção; Adoção e investigação de paternidade; Adoção por casais homoafetivos.
CAPÍTULO X - Da proteção dos Incapazes
Tutela: conceito, espécies; deveres do tutor; cessação da tutela; Curatela: espécies, o processo de interdição; deveres do curador; especificidades em relação à tutela. 
Capítulo XI – do bem de família
Noção: a proteção à entidade familiar; Bem de família legal e voluntário; Natureza jurídica e efeitos jurídicos práticos; Instituição, limites da proteção; Bem de família e contrato de Fiança;
EXISTÊNCIA DO CASAMENTO
Antes de se avaliar a validade do casamento, é necessário avaliar a sua existência. Para que um casamento seja existente, são necessários três requisitos:
1) Existência de consentimento livre – ambos os cônjuges devem manifestar seu consentimento de forma absolutamente livre. A coação irresistível torna o consentimento absolutamente viciado e, desta forma, o casamento será inexistente (pessoa que se casa com uma arma apontada para a cabeça). Alguns defeitos de consentimento, menos graves, podem ensejar a anulação do casamento.
2) Celebração. Sem celebração, não há casamento. A celebração faz parte da formação do ato jurídico do casamento. Esta deve ser feita por uma autoridade competente, admitindo-se que autoridades religiosas a realizem, podendo ter, este casamento, efeitos civis, se levado, posteriormente ao registro civil.
3) Diferença de sexo. É um requisito que hoje é posto em questionamento, tendo em vista a própria evolução da sociedade em se admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Hoje, no Brasil, ainda não se admite a celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, com o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, e prevendo a lei a conversão da união estável em casamento por ato judicial, algumas conversões já vêm sendo feitas.
VALIDADE DO CASAMENTO
O sistema de qualificação de validade ou invalidade do casamento difere-se do encontrado na teoria geral dos negócios jurídicos, que não se aplica ao direito de família. É, pois, um sistema próprio, fechado, que tem por característica sempre a busca da validade e não da invalidade do casamento.
Na prática, com a facilitação do divórcio após a emenda constitucional 66/2010, talvez este seja mais interessante do que a busca por uma declaração de nulidade ou uma anulação do casamento, sendo, no entanto, diversos os seus efeitos, pelo que as ações específicas para se reconhecer um casamento válido tem seu lugar na doutrina e na prática.
O casamento inválido será o casamento nulo ou o casamento anulável. A diferença básica entre a nulidade e a anulabilidade do casamento é que esta última convalesce, ou seja, pelo decurso do tempo somado à inércia do contraente prejudicado, torna-se possível que o casamento anulável torne-se um casamento válido, enquanto a nulidade jamais convalesce.
A nulidade só existe quando descrita no texto legal – pas de nullité sans griéfe – não há nulidade sem texto. Em geral, as nulidades não admitem efeitos. Entretanto, no sistema de nulidades do casamento, são admitidos alguns efeitos para o cônjuge prejudicado, para quem o casamento nulo (e também o anulável) será considerado putativo.
A declaração de nulidade e a anulação de casamento dependem de ações específicas, uma vez que versam sobre direitos indisponíveis. Ambas são consideradas como ações de estado uma vez que alteram o estado civil das pessoas. A ação declaratória de nulidade será uma ação ordinária (artigo 1549, CC). A ação anulatória de casamento está prevista no caput do artigo 1560, que traz seus prazos.
OBS:
1) É possível a decretação de nulidade do casamento após sua dissolução por morte, para excluir efeitos de um casamento válido, como nome dos cônjuges, regime de bens, etc.
2) A declaração de nulidade desfaz a emancipação.
CASAMENTO NULO – artigo 1548, CC.
A nulidade do casamento ocorrerá, de acordo com o artigo 1548 do CC, em duas situações: 
I. quando contraído por enfermo mental sem necessário discernimento para os atos da vida civil.
- neste caso, a enfermidade mental deve ser de tal gravidade que a pessoa não está apta para nenhum ato da vida civil, muito menos o casamento. É diferente daquela pessoa que tem incapacidade para consentir ou manifestar inequivocamente o consentimento. Esta, sabe o que é o casamento, mas não tem condições de decidir ou de se manifestar para casar-se. O enfermo mental previsto no artigo 1548 é aquele que não possui nem discernimento sobre o que é um casamento.
II. quando contraído com infringência de impedimento.
- os impedimentos estão previstos nos incisos do artigo 1521.
- impedimentos são estabelecidos pelo Código Civil como situações em que uniões não podem ocorrer tendo em vista seu potencial de ameaça à ordem pública. 
- os impedimentos são situações resultantes de fatos ou circunstâncias impossíveis de serem sanadas (com exceção do casamento de pessoa já casada), e, por este motivo, diz-se que não convalescem, ou seja, não se curam.
- os impedimentos visam preservar a eugenia, a moral familiar, proibindo casamentos entre parentes consanguíneos, por afinidade ou por adoção, a monogamia, e evitar uniões que tenham raízes em crimes.
- impedimento não é o mesmo que incapacidade. O incapaz não pode casar com ninguém. O impedido estará impedido de casar-se com determinada pessoa.
Impedimentos (artigo 1521)
- impedimentos resultantes do parentesco: incisos I a V
- impedimentos resultantes decasamento anterior: inciso VI
- impedimento decorrente de crime: inciso VII
OBS: segundo o Código Civil, os impedimentos também obstam a união estável, conforme artigo 1723. No entanto a proteção da união estável parte sempre de uma situação de fato. Assim sendo, não seriam dignas de proteção as pessoas que estabeleceram uniões mesmo estando impedidas de se casarem? A doutrina tem criticado esta proibição legal. 
a) Impedimentos resultantes do parentesco:
- as pessoas não podem se casar, ainda que já haja união entre elas.
- o inciso fala de proibição do casamento entre colaterais até terceiro grau, inclusive. Entretanto, há o DL. 3200/41, que é norma especial, não entrando em conflito com o CC, portanto, princípio da especialidade, que afirma que poderão se casar colaterais de terceiro grau mediante atestados de dois médicos que afirmem que gozam de boa saúde e que não há inconveniente sob o ponto de vista de saúde da eventual prole.
- no que diz respeito ao casamento entre afins, se o casamento que gerou a afinidade foi anulado ou declarado nulo, não haverá o impedimento. Exemplo: Lídia se casa com José, que já é casado, e o casamento é declarado nulo. Lídia não tem parentesco de afinidade com o pai de José, podendo, assim, se casar com ele.
b) Impedimento em razão de existência de casamento anterior – inciso VI.
- se o casamento for apenas religioso e não tiver sido registrado, não será, para o Direito, casamento, e não haverá, portanto, o impedimento.
- da mesma maneira, se uma pessoa casada “no civil” se casar apenas em alguma religião, não haverá impedimento. No entanto, este casamento não poderá ser registrado, pois haverá vício, e se for registrado, será nulo.
- se uma pessoa que está num casamento nulo quiser se casar com outra, é necessária a declaração de nulidade deste, havendo impedimento enquanto esta não for declarada.
c) Impedimento decorrente de crime – inciso VII
- abrange apenas o homicídio doloso, tentado ou consumado.
- as razões para este impedimento são um juízo ético de reprovação da conduta.
- segundo Luiz Edson Fachin, a condenação posterior retroage para a nulidade do casamento. 
Efeitos do casamento nulo: 
	Uma vez declarado nulo é como se nunca tivesse havido o casamento. A pessoa que estava casada volta ao estado civil de solteira. Estes efeitos são ex tunc, ou seja, retroativos à data da celebração do casamento.
	Alguns efeitos, entretanto, podem ocorrer, quando é caso de casamento putativo, e estes efeitos poderão ser aproveitados pelo cônjuge de boa fé, pelos filhos e por terceiros de boa fé.
Legitimidade para a oposição dos impedimentos:
	Qualquer pessoa pode opor os impedimentos, até o momento da celebração do casamento. Não precisa ser autoridade, nem pessoa interessada. Qualquer pessoa que saiba que existe um impedimento pode opô-lo. Juízes ou oficiais de registro, sabendo do impedimento, são obrigados a opô-lo. Artigo 1522, CC.
	Após a celebração do casamento, entretanto, apenas os interessados (primeiro cônjuge do bígamo, companheiro, ascendentes, descendentes, colaterais, credores e até mesmo o cônjuge de má fé) e o Ministério Público podem opor a ação declaratória de nulidade. Artigo 1549, CC.
CASAMENTO ANULÁVEL
	As hipóteses de casamento anulável envolvem situações em que o consentimento é defeituoso, a manifestação volitiva é imperfeita, por erro ou por falta de maturidade, ou defeito mental.
	O casamento anulável produz todos os efeitos enquanto não anulado por sentença transitada em julgado. Assim, até se dar o prazo decadencial da ação anulatória, diz-se que a validade é resolúvel, ou seja, o casamento pode se tornar válido plenamente após o decurso do prazo. Por isto, é possível dizer que um casamento anulável convalesce.
	Após anulado, é como se o casamento nunca tivesse existido, e a pessoa volta a ter o estado civil de solteira. Entretanto, há corrente sustentando efeitos ex nunc, ou seja, apenas após o transito em julgado da sentença anulatória. De qualquer forma, é sempre possível que se tenha os efeitos da putatividade pro que contraiu casamento de boa fé, para os filhos e terceiros.
	As causas apontadas como ensejadoras de uma anulação não são tão graves quanto as que ensejam nulidade. Não há, no caso, qualquer interesse público ou moral que interesse à sociedade, mas apenas questões que interessam à pessoa que casou com defeito de vontade. Desta maneira, a legitimidade para a propositura da ação anulatória será daqueles que estão diretamente interessados no ato.
Artigo 1552 – legitimidade para propor anulação do casamento do menor que ainda não atingiu a idade núbil.
Artigo 1555 – legitimidade para propor anulação do casamento do menor em idade núbil mas que casou-se sem consentimento dos pais.
Artigo 1559 – legitimidade para propor a anulação de casamento em caso de erro.
Hipóteses – artigo 1550, CC
I. Anulação por defeito de idade.
	Diz respeito ao casamento do menor que nem atingiu a idade núbil, ou seja, que se casou com menos de 16 anos. A anulação pode ser proposta pelas pessoas mencionadas no artigo 1552, e, no caso dos pais ou ascendentes, mesmo que tenham consentido no casamento, pois estes podem ter incidido em erro.
	Entretanto, não se anulará casamento de menor se dele resultou gravidez. A gravidez deve ser superveniente ao casamento e até mesmo após a instauração da lide. Não importa se a gravidez chegará ou não a termo. Não importa também se o defeito de idade é do homem ou da mulher. O interesse, neste caso, é preservar o casamento de onde resultou prole, pois uma anulação seria mais traumática do que a manutenção de um casamento e da família que ele comporta.
	O menor casado com defeito de idade poderá vir a confirmar o seu casamento, ainda que a ação anulatória esteja em curso. A confirmação não constitui nova celebração do casamento. Se a ação anulatória caducar, não é necessário se confirmar o casamento.
II. Anulação por falta de consentimento dos pais
	Diz respeito ao casamento do menor que já atingiu a idade núbil mas que não teve o consentimento expresso dos pais, conforme exigido pelo artigo 1517, CC.
	A anulação pode ser pedida pelos pais ou pelo incapaz, quando deixar de sê-lo, ou ainda pelos herdeiros necessários, pois tem interesse patrimonial.
	Agora, se os pais assistem ao casamento ou manifestam-se de acordo, de alguma forma, não poderão pedir a anulação (artigo 1555, § 2.º).
III. Anulação por erro sobre a pessoa – artigo 1557.
	Erro é a falsa representação da realidade que vicia a vontade, ou seja, a pessoa se casa com outra acreditando que não há nada que a fizesse optar por não casar com quem se casou. Neste caso, a pessoa que se engana, se engana sozinha. A circunstância tem que ser motivo determinante para o pedido de anulação, ou sejam se a pessoa tivesse conhecimento da realidade não teria se casado. Esta circunstância deve: 1) ser preexistente, ou seja, anterior ao casamento; 2) para que se possa alegar erro, deve ser descoberta após o casamento; 3) tornar insuportável a vida em comum.
	O erro deve ser ainda essencial, visto sob o ponto de vista do razoável, ou seja, algo que realmente faria com que muitas pessoas não se casassem se estivessem na mesma situação. Não se pode querer, por exemplo, uma pessoa que pertence ao partido liberal, anular o casamento com outra ao saber que, na juventude, esta participou de uma passeata em prol do comunismo.
III.1. Erro sobre a identidade, honra e boa fama. Artigo 1557, I
	O erro diz respeito à pessoa ser honesta, proba, etc. O enganado acredita que a pessoa com quem está se casando está sendo honesta a respeito da sua identidade, honra e boa fama e não está. Isto deve ser avaliado dentro de um contexto. Para um homem do interior que descobre que a mulher com quem casou gosta de ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, pode ser considerado erro. Já um homem, na mesma situação, que vive numa cidade grande e mantém boas relações sociais (amigos, trabalho, etc) com homossexuaise bissexuais, não poderia alegar erro, a não ser que a pessoa claramente o tenha enganado a respeito disso.
	São situações que, por vezes, são difíceis de avaliar. Depende tanto do erro quanto da pessoa que está incidindo em erro. Exemplos: uso de entorpecentes; mulher engana o homem com quem vai se casar dizendo que o filho que espera de outro é dele; rejeição sexual do cônjuge logo após o casamento; práticas místicas desconhecidas; homem que se casa com prostituta que o levou a erro a respeito de sua vida passada.
	Os requisitos para o erro ser considerado são: que ele seja preexistente ao casamento e que, por si, torne insuportável a vida em comum. O juiz deve levar em conta a reação da pessoa diante do erro e não a reação que ele, juiz, teria no lugar da pessoa.
OBS: o casamento das pessoas que fizeram alteração de sexo através de cirurgia tem sido considerado válido e existente pela doutrina mais vanguardista. Entretanto, a omissão em relação a alteração do sexo pode ser considerada como erro sobre identidade, caso fique provado que o cônjuge foi enganado a respeito deste fato.
III.2. Ignorância de crime ultrajante anterior ao casamento que torne insuportável a vida em comum.
	O crime tem que ser anterior ao casamento e a descoberta deste fato deve tornar insuportável a vida em comum. Não importa se o crime prescreveu, se a pessoa cumpriu ou não pena, ou se, no caso de ação penal privada, houve ou não denúncia, ou não houve representação no caso de ação penal pública condicionada. Mas há de se ter prova da autoria (que não precisa ser a mesma prova da condenação). Exemplo: A, que sofreu um estupro, se casa com B. Dois anos depois descobre que B estuprou C, houve inquérito que evidenciava a autoria, mas C preferiu não representar contra B.
III.3. Ignorância de defeito físico irremediável, ou moléstia grave transmissível por contágio ou herança, que ponha em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência.
a) Defeito físico irremediável: o defeito tem que ser anterior ao casamento e o cônjuge que incidiu em erro ter descoberto depois de casar. Tem que ser um defeito que comprometa a atividade sexual do casal, não necessariamente sendo um defeito nos órgãos sexuais, como uma psoríase grave, que causa repulsa ao cônjuge, que, se soubesse disto, não teria se casado. Incluem-se aqui os casos de hermafroditismo ou sexo dúbio.
	O defeito tem que ser irremediável, ou seja, não pode ser corrigido por tratamento ou cirurgia.
	Incluem-se aqui os casos de impotência coeundi, ou seja, a impotência para se ter relações sexuais (que não possam ser corrigidas por cirurgia ou tratamento), preexistente ao casamento e que só seja descoberta após sua celebração. A impotência generandi, ou seja, a esterilidade, tanto do homem quanto da mulher, a rigor não qualificam o erro (mesmo porque, hoje, em vários casos, isso pode ser contornado com tratamentos de fertilidade), a não ser que o cônjuge “enganado” tenha, antes do casamento, manifestado desejo absoluto de ter filhos e, o outro, sabendo da sua impotência (exemplo: mulher que fez histerectomia), omitiu de seu futuro marido o fato de que jamais poderia gerar filhos. 
b) Moléstia grave transmissível ao cônjuge por contágio.
	Apenas os casos de moléstia física. Há que se ter risco de saúde para o cônjuge e não precisa, necessariamente, não ter cura, pois às vezes a pessoa tem a doença e pode se tratar sem ter sequela enquanto o cônjuge que foi contaminado pode sofrer sequela, como o caso da sífilis. Incluem-se também a AIDS, DSTs como a clamídia (que pode causar infertilidade), HPV (que pode causar câncer), tuberculose e alguns tipos de hepatite.
	Os requisitos para configuração do erro são: a doença ser grave, transmissível e preexistente ao casamento, o cônjuge que leva o outro ao erro saber da doença anteriormente ao casamento, o cônjuge que incidiu em erro só saber da doença após a celebração do casamento. Aqui não importa a insuportabilidade da vida em comum, mas o risco de contágio.
c) Moléstia grave transmissível à prole por contágio ou herança.
	A doença transmissível por herança é de prova difícil, pois, em muitas vezes, tanto o homem quanto a mulher devem ter o componente genético que possa desenvolver a doença, como o caso dos hemofílicos (a mulher não desenvolve a hemofilia, mas pode ser portadora), anemia falciforme, etc, e em outras vezes, a doença é manifestada por várias gerações mas não necessariamente pode se desenvolver (como o Parkinson). Ainda assim, para que ocorra o erro, o cônjuge que carrega o componente genético deve estar ciente da doença antes do casamento e enganar o outro a respeito disso.
	A doença transmissível por contágio à prole são todas as doenças transmissíveis por contágio que possam afetar os filhos concebidos enquanto essas doenças não forem curadas ou tratadas. Exemplo: a mulher é soropositiva, se casa, o marido não sabe. Ele não se contamina, a mulher engravida, não toma medicação para evitar o contágio vertical e a criança nasce soropositiva.
III.4. Ignorância a respeito de doença mental grave anterior ao casamento.
	A doença há que ser grave, ter se manifestado antes do casamento, o cônjuge que sofre da doença ter omitido isto do enganado, e, ainda, isto tornar insuportável a vida em comum do casal. Incluem-se os casos de oligofrenia, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo. 
	Deve-se atentar também que são doenças que não retiram da pessoa que a sofre a sua capacidade civil.
	Exemplificando: uma pessoa, sem saber, descobre que a outra sofre de transtorno obsessivo compulsivo. Se o transtorno se manifesta apenas no sentido de repetições de algumas rotinas (exemplo, lavar as mãos cantando uma determinada música – exemplo que pode ser visto no filme Whatever works) isto, por si, não torna insuportável a vida em comum. Mas se a obsessão se manifesta no sentido de o doente perseguir seu cônjuge durante todo o dia e em todos os atos, isto pode ensejar a anulação do casamento (hipótese ilustrada no filme Dormindo com o Inimigo).
IV. Anulação no caso de casamento contraído sob coação – artigo 1550, III, c/c 1558.
	O vício, neste caso, será o temor que a coação inspira. A coação deve ser moral e relativa. A coação absoluta (arma apontada para a cabeça) configura casamento inexistente pois não há manifestação de vontade livre. Exemplo: mulher se casa com um homem com quem não se casaria, apenas porque teve relações sexuais com ele e seu pai ameaça a vida deste homem caso ela não se case com ele.
	A coabitação, no entanto, valida o ato. Coabitar não é viver sobre o mesmo teto mas sim viver como marido e mulher (afeto e sexualidade).
V. Anulação em caso de incapacidade de manifestação ou consentimento inequívoco – Artigo 1550, IV.
	A incapacidade, neste caso, é temporária. Pessoa que se casou embriagada, por vontade própria (medo de se casar) ou por ter sido induzida por outros; pessoa que se casa dopada por alguém; borderlines em momentos de ausência das faculdades mentais (é um transtorno mental em que a pessoa pode ter lapsos de identidade ou despersonalização).
VI. Anulação de casamento realizado por mandatário com mandato revogado – Artigo 1550, V. 
	Neste caso, pode a revogação do mandato, ter ou não chegado ao conhecimento do mandatário. Se, entretanto, há coabitação após a realização do casamento, fica impossibilitada a anulação.
VII. Anulação de casamento realizado por autoridade incompetente.
	É difícil a definição. Ambos os cônjuges podem ter sido enganados, ou apenas um deles e o outro estar ciente de que quem celebrou não era competente para tanto. Não fica bem definido de quem é a legitimidade ativa, pois, em tese, é dos dois, mas, se um deles é ciente da causa de anulação, poderia ele ser impedido de evocar a própria torpeza para não anular? A questão é de difícil resposta.
Artigo 1559.
Só pode demandar a anulação o cônjuge que incidiu em erro ou sofreu coação. Mas, a coabitação, após a ciência do vício, torna válidoo casamento, exceto nos casos dos incisos III e IV do artigo 1557.
Prazos
Artigo	Prazo
1550, I	1560, § 1.º - 180 dias. 
1550, II	1555 e parágrafos – 180 dias.
1550, III
	1557, I	1560, III – 3 anos
	1557, II	1560, III – 3 anos
	1557, III	1560, III – 3 anos
	1557, IV 	1560, III – 3 anos
	1558	1560, IV – 4 anos
1550, IV	1560, I – 180 dias.
1550, V	1560, § 2.º - 180 dias
1550, VI	1560, II – 2 anos.	
* Importante: observar o termo inicial da contagem dos prazos.
EXERCÍCIOS 
1. Dos diversos impedimentos para o casamento, um deles é o de se casar com pessoas casadas. Se Dalva se casa com Porfírio, omitindo o fato de que já é casada com Deoclécio, conseguindo burlar a habilitação, e, passados três meses do casamento de Dalva com Porfírio, Dalva se divorcia de Deoclécio, é possível se dizer que o seu casamento com Porfírio é válido? Explique.
2. Alicia, de 16 anos se casou com Maurício. No procedimento de habilitação para o casamento, foi a mãe de Alicia que autorizou seu casamento, uma vez que ela foi quem ficou com a guarda da filha após se divorciar de seu pai. O pai de Alicia foi convidado para o casamento e presenteou os noivos com a viagem de lua de mel. Exigindo a lei brasileira a autorização de ambos os pais para o casamento de menores em idade núbil, é possível que este casamento seja anulado? Justifique sua resposta.
3. Aderlinda casou-se com Eleutério em abril de 2006. Logo após o casamento, Aderlinda teve conhecimento de que Eleutério sofria de esquizofrenia há muitos anos, que tinha ciência do seu estado, mas se recusava ao tratamento. Sendo assim, eram recorrentes as crises conjugais, o que fazia Aderlinda recorrer à ajuda de seus familiares nestas situações. Inconformada, a mãe de Aderlinda, ao ver a situação da filha, ajuizou ação anulatória de casamento, alegando a ocorrência de erro essencial, uma vez que Eleutério escondeu de Aderlinda uma situação que tornaria insuportável a convivência do casal. Analise a hipótese apresentada, indicando os dispositivos legais pertinentes.
4. Josué se casou com Narcisa e, três meses após o casamento, veio a descobrir que Narcisa havia feito uma cirurgia para mudança de sexo, bem como a alteração de seu nome no registro civil. Qual tem sido o posicionamento da doutrina em relação à validade deste casamento? Existe alguma possibilidade de Josué desfazer este casamento além da via do divórcio?

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