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Caso Concreto 01

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Caso concreto
Rebeca comprou terreno em loteamento empreendido por Amaranta. Sem que constasse do instrumento contratual, Amaranta garantiu a Rebeca que teria vista definitiva a um belo monte, que era a grande atração do empreendimento, tendo inclusive assegurado que a legislação local não permitia edificações nos terrenos a frente do seu. Após alguns meses da aquisição do terreno, Amaranta solicitou uma alteração no plano de urbanização da cidade, que passou a permitir a edificação nos lotes em frente ao terreno de Rebeca, fazendo com que ela perdesse a visão para o monte.
Inconformada, Rebeca moveu uma ação contra Amaranta, tendo obtido êxito porque o órgão jurisdicional entendeu que pela boa-fé objetiva, existe um dever de não adotar atitudes que possam frustrar o objetivo perseguido pela autora, ou que possam implicar, mediante o aproveitamento da antiga previsão contratual, a diminuição das vantagens ou até infligir danos ao contratante.
Diante dos fatos narrados acima e com base no conteúdo das aulas desta semana, responda:
a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral? Em caso afirmativo, explique o porquê de a boa-fé objetiva adequar-se ao conceito de cláusula geral. Em caso negativo, indique de maneira justificada a que categoria pertence a boa-fé objetiva.
Um dos princípios norteadores do Código Civil de 2002, na concepção de Miguel Reale, é a operabilidade que, segundo Tartuce (2016, pp. 50-51), tem dois significados: a simplicidade, tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos institutos previstos, e a efetividade (ou concretude) que adotou o sistema de cláusulas gerais. O ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Moreira Alves anota a seguinte lição sobre esse tema: essas cláusulas gerais dão flexibilidade (...) às codificações – [contornando às críticas doutrinárias sobre] imobilidade [dessas] –, e permitem (...) à medida que os tempos se modificam, uma certa [maleabilidade] na disciplina de determinados institutos”. Em outras palavras, ao operador do Direito é dada a faculdade de interpretar casuisticamente o alcance de institutos jurídicos, já que as hipóteses e consequências desses não estão delimitadas em lei ou qualquer outro ato normativo. 
A boa-fé é exemplo clássico de cláusula geral. Não há definição de boa-fé em norma alguma; não é explícito quais as consequências de desobediência a ela; ela permeia, por exemplo, tanto o direito material quanto o processual civil – art. 113 do Código Civil de 2002 e art. 5º do Código de Processo Civil de 2015 –, além de estar expressa na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 231, parágrafo sexto. Uma das funções da de boa-fé é dada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a saber, estabelecer um padrão ético de conduta para as partes nas relações obrigacionais, sem deixar de reconhecer, contudo, que este princípio ecoa por todo o ordenamento jurídico.
b) Qual(is) dos princípios estruturantes do CC/2002 foi(ram) levado(s) em consideração para que o magistrado interpretasse a boa-fé objetiva? Justifique.
Além do princípio da operabilidade ante citado, pode-se levar em consideração também a eticidade que, segundo Taturce (2016, p. 23), trata-se da valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela que existe no plano da conduta de lealdade das partes. 
Referências consultadas
ALVES, J. M. A Parte geral do Projeto do Código Civil. Revista CEJ, América do Norte, 310 12 1999. Disponível em <http://www.cjf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/view/231/393>, acesso em 07\09\2016.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único \ Flávio Tartuce. 6. ed. rev., atual. e ampl.-Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Princípio da boa-fé objetiva é consagrado pelo STJ em todas as áreas do direito. 2013. Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100399456/principio-da-boa-fe-objetiva-e-consagrado-pelo-stj-em-todas-as-areas-do-direito>, acesso em 07\09\2016.
Questão de múltipla escolha 01
Não se pode confundir codificação com compilação, estatuto e consolidação. Com efeito, o código:
a) também chamado de coletânea, traduz-se em uma reunião ou junção de diversos textos legais, tal qual se encontram, em um único volume, adotando um critério compilador.
b) é a reunião ou agrupamento sistematizado de textos legais, de acordo com algum critério escolhido, em uma única lei ou decreto, considerando apenas as normas jurídicas em vigor sobre uma determinada disciplina jurídica.
c) é uma lei que apresenta um conjunto sistemático e unitário de normas jurídicas relacionadas à disciplina fundamental de um determinado ramo do direito.
d) se tomado em seu sentido mais estrito, não condensa normas preexistentes, mas cria direito novo para situações específicas, dispondo, no mesmo instrumento, sobre vários ramos do direito ao mesmo tempo.
Questão de múltipla escolha 02
Lia era casada com Carlos e mantinha relação amorosa secreta com Marcio. Ao descobrir a traição, Carlos separou-se de Lia e moveu uma ação de indenização por danos morais contra Marcio, alegando que a violação ao dever conjugal de fidelidade (art. 1566, I, CC) lhe trouxe abalo à honra. Sabendo que o dever de fidelidade é imposto apenas aos cônjuges, não aos terceiros que com eles possam se relacionar, e após uma breve pesquisa na jurisprudência do STJ (vide, a exemplo, o REsp 922.462/SP), leia as assertivas abaixo:
Márcio não deverá indenizar Carlos por danos morais.
Embora exista norma moral que impeça o relacionamento extraconjugal, não há qualquer previsão normativa que possa sustentar que a conduta de Marcio, ao se envolver com mulher casada, é ilícita.
Assinale a alternativa correta:
a) ambas as assertivas estão incorretas.
b) apenas a assertiva I está correta.
c) ambas as assertivas estão corretas e a assertiva II justifica a assertiva I.
d) ambas as assertivas estão corretas, mas a assertiva II não justifica a assertiva I.
Justificativa
Nos termos do voto do Ministro Relator Ricardo Villas Bôas Cueva no REsp 922.462\SP:
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. ADULTÉRIO. AÇAO AJUIZADA PELO MARIDO TRAÍDO EM FACE DO CÚMPLICE DA EX-ESPOSA. ATO ILÍCITO. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇAO DE NORMA POSTA.
1. O cúmplice de cônjuge infiel não tem o dever de indenizar o traído, uma vez que o conceito de ilicitude está imbricado na violação de um dever legal ou contratual, do qual resulta dano para outrem, e não há no ordenamento jurídico pátrio norma de direito público ou privado que obrigue terceiros a velar pela fidelidade conjugal em casamento do qual não faz parte.
2. Não há como o Judiciário impor um "não fazer" ao cúmplice, decorrendo disso a impossibilidade de se indenizar o ato por inexistência de norma posta - legal e não moral - que assim determine. O réu é estranho à relação jurídica existente entre o autor e sua ex-esposa, relação da qual se origina o dever de fidelidade mencionado no art. 1.566, inciso I, do Código Civil de 2002.

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