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Faculdade de Ciências e Tecnologia Departamento de Ciências da Terra Licenciatura: Engª Geológica Disciplina: Geologia Estrutural GEOLOGIA ESTRUTURAL - Apontamentos de apoio às aulas teóricas - Maria Carla R. Kullberg (FC / UL) com a colaboração de José Carlos R. Kullberg (FCT / UNL) Monte de Caparica, 2003 ÍNDICE Introdução Parte I : Análise Geométrica - Como descrever e classificar estruturas 0 - Generalidades 1 - Falhas e Fracturas 2 - Dobras 3 - Xistosidade, Lineação e Fabric 4 - Síntese da análise geométrica a diferentes escalas de observação 5 - Corpos Ígneos Parte II : Análise Dinâmica e Cinemática - Como se formam as estruturas 6 - Tensão 7 - Deformação 8 - Reologia: tensão e deformação nos materiais 9 - Mecanismos de Falhamento 10 - Mecanismos de Dobramento 11 - Mecanismos de instalação dos corpos ígneos intrusivos Parte III : Tectónica 12 - Associações estruturais Anexo: A formação das Cadeias de Montanhas (M. Mattauer & J. Mercier) BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL (aulas teóricas) DAVIS, H. D. (1984) – Structural Geology of Rocks and Regions. John Wiley & Sons, New York, 492 p. HOBBS, B. E.; MEANS, W. D. & WILLIAMS, P. F. (1976) – An outline of Structural Geology. John Wiley & Sons, New York, 571 p. PARK, R. G. (1983) – Foundations of structural geology. Blackie - Chapman and Hall, London, 135 p. PRICE, N. J. & COSGROVE, J. W. (1990) – Analysis of Geological Structures. Cambridge Univ. Press, 502 P. RAMSAY, J. G. (1967) – Folding and fracturing of rocks. Graham Hill, New York, 568p. RAMSAY, J. G. & HUBER, M. I. (1983-85) – The Techniques of Modern Structural Geology. 3 Vol., Academic Press, London 806 p. TWISS, R. J. & MOORE, E. M. (1992) – Structural Geology. W. H. Freeman & Comp., New York, 532 p. PLUIJM, B. van der & MARSHAK, S. (1997) – Earth Structure – an Introduction to Structural Geology and Tectonics. WCB/McGraw-Hill; New York, 495 p. I-1 INTRODUÇÃO O objectivo da Geologia Estrutural situa-se na identificação, representação e interpretação genética das estruturas dos corpos rochosos. Durante o Ciclo Geológico (fig. I.1) os materiais da crosta sofrem sucessivamente erosão, transporte, sedimentação, diagénese, deformação, eventualmente acompanhada por metamorfismo regional e magmatismo. Fig. I.1 - O Ciclo Geológico, ou Ciclo das Rochas. O objectivo da Geologia Estrutural, em sentido lato, é justamente, o estudo da deformação dos corpos geológicos. É usual distinguir um aspecto analítico, o estudo das estruturas individuais, como por exemplo dobras, falhas, etc., que contribui para a Geologia Estrutural em sentido restrito; e um aspecto sintético, o estudo da evolução das grandes unidades, tais como cadeias de montanhas, bacias, escudos etc., constituindo a tectónica ou mesmo o estudo da evolução do globo no seu conjunto, o que constitui a Geotectónica ou Geodinâmica. A Geologia Estrutural tem ligações com muitos outros ramos das Ciências da Terra, como por exemplo: a) Estratigrafia – porque a deformação actua sobre sequências sedimentares ou porque a evolução do enchimento de uma bacia é controlada por factores tectónicos; b) Petrologia – porque a deformação actua sobre materiais com certas características petrográficas e porque na sua transformação ou instalação a composição destes materiais vai ser influenciada pelas condições tectónicas; c) Geofísica – porque a deformação vai ser um efeito provocado por um determinado estado de tensão na crosta (geodinâmica), denunciado por vários parâmetros geofísicos, sendo a tectonofísica o ramo da geodinâmica que estabelece a ligação entre geofísica e tectónica; d) Planetologia – porque a evolução mecânica da crosta é apenas um aspecto da evolução do globo no seu conjunto, sob o ponto de vista térmico e geoquímico, que pode ser reconstituído através das diferentes situações actualmente existentes nos diferentes planetas; I-2 e) Geologia Económica – porque o estudo dos recursos minerais (jazigos minerais metálicos e não-metálicos) e dos recursos energéticos (jazigos de hidrocarbonetos, carvões, sistemas geotérmicos) obriga a estabelecer a estrutura da ocorrência com significado e a atender aos factores estruturais que controlam a sua localização. A análise estrutural é o ramo da Ciência que tem por objectivo a descrição de um corpo rochoso no seu estado actual e, a partir desta, reconstituir a evolução da estrutura do corpo em questão. Este objectivo pretende ser atingido em várias fases: 1 - como é óbvio, procura-se dar uma descrição puramente geométrica da estrutura do corpo rochoso é análise geométrica ou descritiva; 2 - tentam reconstituir-se os diferentes tipos de movimentos que tiveram lugar na passagem de um estado inicial até ao estado actual, ou seja, a deformação é Análise Cinemática; 3 - procura-se relacionar os movimentos sofridos com o campo de tensões que os provocaram é Análise Dinâmica. Trata-se pois de uma marcha de espírito em tudo semelhante à da Mecânica. A análise estrutural é, pois, uma mecânica dos corpos geológicos. Esta análise processa-se a diferentes escalas: Submicroscópica – a esta escala utilizam-se os microscópios electrónicos pois as estruturas pertencem a uma escala não visível, nem sequer ao microscópio óptico. Ex: deformações interatómicas. Microscópica – escala a que se utiliza o microscópio óptico. Ex: deformações intra e intercristalinas. Mesoscópica – é a escala da amostra de mão (com ou sem uso da lupa) ou das estruturas visíveis em afloramento. Ex: dobras, falhas, xistosidade, lineações, etc. Macroscópica – é a escala do mapa: pode ser muito variada, entre 1/100 e 1/50000, ou mesmo mais pequena. Ex: as mesmas estruturas anteriores mas de maiores dimensões como é, por exemplo, o caso do Anticlinório do Pomarão. Megascópica – A esta escala consideram-se as grandes unidades, com distribuição geográfica da ordem dos milhares de quilómetros. Ex: Cadeia Alpina. Normalmente as observações iniciam-se à escala mesoscópica e, posteriormente, analisam- se os outros domínios (abaixo ou acima) conforme o pretendido. Iniciaremos então o nosso estudo da Geologia Estrutural pela análise geométrica, com a descrição e classificação de várias estruturas geológicas em termos da sua morfologia. BIBLIOGRAFIA Ribeiro, A. (1983) – Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121p. PARTE I Análise Geométrica: como descrever e classificar estruturas 0 - 1 O – GENERALIDADES Muitos dos corpos deformados têm como característica fundamental uma ordenação espacial interna a que se chama Trama ou Fabric. Trata-se de uma extensão da noção de estrutura cristalina, a corpos de escala maior, estatisticamente homogéneos. Esta ordenação espacial provém de um arranjo de descontinuidades da estrutura, periódicas num espaço tridimensional. Quando estas descontinuidades se repetem a uma escala menor do que aquela em que se observa o corpo, dizem- se penetrativas, isto é, podem considerar-se uniformemente presentes, em qualquer ponto do corpo em estudo e contribuem portanto para a trama. Uma descontinuidade pode ser penetrativa em certa escala e não o ser a uma escala menor (fig. 0.1). Fig. 0.1 - Descontinuidades planares no mesmo corpo, em cinco escalas diferentes: (a) Microscópica; (b)Mesoscópica ampliada; (c) Mesoscópica; (d) Macroscópica ampliada e (e) Macroscópica. (Turner & Weiss, 1963). Uma falha, um contacto ígneo, uma superfície de erosão ou uma discordância, são não penetrativos a qualquer escala (figs. 0.2, 0.3, 0.4). Não contribuem para a trama apesar de serem geologicamente significativos (logo, a análise estrutural não dispensa os estudos clássicos, antes completa-os). 0 - 2 Fig. 0.2 - Falhas funcionando como fronteira entre domínios distintos. (a) Falha transgressiva em relação aos fabrics das paredes, embora estes sejam idênticos de um e outro lado da falha; (b) Neste caso a falha é uma superfície de descontinuidade separando domínios muito diferentes; (c) Neste caso os fabrics dos dois domínios são geometricamente idênticos e não são interrompidos pela falha. Em qualquer caso a falha é uma superfície não penetrativa. (Turner & Weiss, 1963). Fig. 0.3 - Contactos ígneos funcionando como fronteira entre domínios: (a) A superfície de contacto é discordante em relação aos dois domínios; (b) discordante apenas em relação ao fabric da rocha eruptiva; (c) discordante em relação ao fabric da rocha encaixante; (d) geometricamente não é uma superfície de descontinuidade pois não é discordante com qualquer dos fabrics (Turner & Weiss, 1963). Os elementos da trama podem ser cristalográficos, como por exemplo o plano [001] das micas e o eixo {0001} do quartzo; ou não cristalográficos (Quadro I), como sejam as descontinuidades estruturais ou heterogeneidades visíveis num agregado. QUADRO I 0 - 3 Elementos não cristalográficos do fabric (seg. M.S. Paterson & L.E. Weiss, in Turner & Weiss, 1963) Fig. 0.4 - Discordâncias funcionando como fronteira entre domínios com fabrics distintos: (a) discordância transgressiva em relação aos fabrics das duas rochas; (b) discordância transgressiva em relação a um dos fabrics em presença; (c) Desconformidade. Geometricamente não é uma descontinuidade, embora o seja geologicamente. (Turner & Weiss, 1963). Fig. 0.5 - Descontinuidades lineares não penetrativas. (a) e (b) : Lineação L1 de intersecção entre duas clivagens, S1 e S2. (Turner & Weiss, 1963). 0 - 4 Os primeiros, reflectem descontinuidades à escala atómica, cuja orientação é determinada pelas propriedades físicas que reflectem a estrutura cristalina (meios ópticos ou radiográficos). Os segundos podem ser cristalograficamente controlados. Com efeito, é uma orientação preferencial estatística dos elementos cristalográficos da trama que produz as descontinuidades a uma escala superior; se não, trata-se de superfícies que cortam grãos minerais e que destroem a homogeneidade da orientação da rede cristalina. Os elementos da trama têm uma orientação e uma posição. Quando a orientação não é ocasional diz-se que a trama é anisótropa e que existe uma orientação preferencial. Se esta falta, a trama é isótropa, como por exemplo, numa corneana ou numa rocha eruptiva, formadas sem intervenção de pressões orientadas. Registe-se que a Isotropia é a propriedade dos corpos que traduz invariância à rotação, assim como a homogeneidade é a propriedade que traduz invariância à translação (ver nota de rodapé na pág. 1 do Cap. 7 - Deformação).(fig. 0.6). A trama regista algo da origem e evolução de uma rocha. Com efeito, a deformação realiza- se a todas as escalas do corpo rochoso e, portanto, produz descontinuidades penetrativas que a trama reflecte. A trama traduz: (1) no caso dos tectonitos, a natureza e intensidade da deformação; (2) no caso dos não tectonitos, os processos de deposição e crescimento. Os tectonitos podem subdividir-se em: tectonitos primários , cujos componentes da trama resultam da influência do movimento num ambiente em que tenham sofrido eles próprios deformação. É o caso das rochas eruptivas com texturas fluidais, ou de sedimentos com figuras de corrente: - tectonitos secundários, cujos elementos da trama sofreram a influência directa de movimentos. É o caso das rochas deformadas (tectonitos miméticos , em que o crescimento dos grãos é devido a uma recristalização pós-tectónica comandada pela anisotropia de uma trama tectonítica anterior). Fig. 0.6 - Relação entre homogeneidade estatística e escala. As amostras I e II são estatisticamente idênticas e a esta escala o corpo considera-se estatisticamente homogéneo. Numa escala muito mais ampliada as amostras III e IV não são estatisticamente idênticas e nesta escala o corpo é heterogéneo. (Turner & Weiss, 1963). Numa trama é possível definir uma simetria que só difere da de um cristal por ser de natureza estatística. A simetria de uma trama rochosa pode definir-se, tal como a de uma rede cristalina, em função de grupos espaciais de simetria uma vez que se supõe a estrutura com extensão infinita. 0 - 5 Numa situação heterogénea, isto é, na descrição de um objecto individual, como por exemplo uma dobra, a simetria é do tipo grupo pontual de simetria (grupo finito de simetria), isto é, a simetria de uma classe cristalina e não da sua rede. Os elementos da trama são linhas e planos e, em geral, como são não polares, a sua simetria é D¥h, isto é, contêm um eixo de grau infinito e um plano de simetria, normal ao eixo. O eixo de simetria é normal à estrutura planar considerada ou paralelo à estrutura linear. Todas as tramas têm centro de simetria e é possível obter para a trama 5 classes de simetria: (1) trama esférica (K¥h) - é a simetria de uma esfera; (2) trama axial (D¥h) - é a simetria de um esferóide ou elipsóide de revolução; (3) trama ortorrômbica (D2h) - é a simetria de um elipsóide triaxial; (4) trama monoclínica (C2A) - um único plano de simetria e um eixo binário normal a esse plano; (5) trama triclínica (S2 = C) - sem planos de simetria. O Quadro II contem alguns exemplos de simetria de fabrics sedimentares e ígneos, não deformados. QUADRO II (seg. M.S. Paterson & L.E. Weiss, in Turner & Weiss, 1963) As tramas em que todas as subtramas têm a mesma simetria são homotéticas; as tramas em que os diferentes elementos têm diferente simetria são heterotéticas. Representação gráfica dos elementos da trama Os elementos da trama são registados pelo geólogo estrutural assim como a sua posição, dimensão e orientação. Depois são representados em mapas, cortes ou bloco-diagramas. O estudo da orientação dos elementos, independentemente da sua posição, é particularmente importante, tal como em cristalografia. Por isso se usa, no tratamento gráfico dos dados de orientação, uma projecção estereográfica. A única modificação introduzida é consequência da necessidade de avaliar o grau de 0 - 6 orientação preferencial a partir da densidade de elementos medidos, por área de projecção. Por isso se usa uma projecção equivalente que conserva as áreas, em vez da projecção conforme da cristalografia, que conserva os ângulos. A rede de Wulff é, assim, substituída pela rede de Schmidt. BIBLIOGRAFIA Ribeiro, A. (1981) - Curso de Geologia Estrutural Elementar. AEFCUL, Lisboa, 121p Turner, F. J & Weiss, L. E (1963) - Structural Analysis of Metamorphic Tectonites. McGraw Hill, New York, 545 p. 1 - 1 1 - FALHAS E FRACTURAS Fracturas são o tipo de estrutura geológica mais comum e podem ser observadas em muitos afloramentos rochosos. Correspondem a fendas ao longo das quais se perdeu a coesão do material e são, para todos os efeitos, superfícies ou planos de descontinuidade. Quando existe um deslocamento mensurável ao longo do plano de fractura, ou seja, quando a rocha de um dos lados se tiver movidoao longo da fractura em relação à rocha do outro lado do plano de descontinuidade, designa-se a fractura por falha. Se não existir qualquer movimentação ou se esta for demasiado pequena para que seja fácil detectá-la, designa-se normalmente a fractura por diaclase. Contudo, a distinção entre fractura e diaclase é bastante artificial e é muitas vezes, resultante exclusivamente da escala de observação. As fracturas são importantes por vários motivos. A sua presença afecta significativamente a resistência da rocha e devem por isso ser cuidadosamente estudadas nas operações de engenharia civil que envolvem importantes construções, como por exemplo túneis, barragens, centrais nucleares, etc. São também importantes locais para o desenvolvimento de mineralizações, uma vez que as fracturas dilatacionais, desenvolvidas sob o efeito de tensões distensivas, são normalmente ocupadas por veios de material com interesse económico depositado no espaço criado pela abertura da fractura (Ex: Minas de Estanho de Vale das Gatas, no Norte de Portugal). 1.1. Geometria e nomenclatura das falhas Definição de uma falha: é uma fractura planar ao longo da qual a rocha foi deslocada, numa direcção geralmente paralela ao plano de fractura. Geometria do deslocamento (fig. 1.1) Fig. 1.1 - Anatomia de uma zona de falha (Vialon, Ruhland & Grolier, 1976). Se a geometria do plano de falha for não vertical, ou seja, se este for oblíquo, chama-se 1 - 2 "footwall" (F) ou bloco de apoio ao bloco abaixo do plano de falha, e "hangingwall" (H) ou bloco suspenso àquele que fica acima do plano de falha. A inclinação (i) do plano de falha mede-se sempre a partir da horizontal. Por vezes considera-se o ângulo complementar, o desvio da vertical ou "hade". O deslocamento entre os dois blocos separados pelo plano de falha pode efectuar-se em qualquer direcção existente no plano de falha, com magnitudes idênticas (falhas translaccionais) ou diferentes (falhas rotacionais). Este movimento pode, ou não, ser acompanhado por afastamento (ou aproximação) dos blocos segundo uma direcção perpendicular ao plano de falha. As falhas translaccionais, em que o deslocamento é paralelo à direcção do plano de falha (componente horizontal de movimento, exclusivamente), chamam-se desligamentos ("strike-slip faults") e aquelas em que o deslocamento é paralelo à linha de máxima inclinação do plano de falha adquirem a designação de falhas normais ("normal faults") ou inversas ("reverse faults"), conforme se observa a descida do bloco suspenso ou o inverso, respectivamente (fig. 1.2). Principais tipos de falhas: (a) f. normais; (b) f. inversas; (c) desligamentos (Vialon et al., 1976). Nestas falhas, o deslocamento é muitas vezes decomposto em componentes horizontal e vertical, não existentes no plano de falha: (fig. 1.3 e 1.4). É importante notar que os deslocamentos verificados em falhas são normalmente difíceis de medir na prática uma vez que é frequentemente impossível ajustar pontos homólogos de um e outro lado do plano de falha. 1 - 3 sen a = Rv ds tg a = Rv Rh Fig. 1.3 - Geometria dos deslocamentos em falhas inclinadas. Rh = componente horizontal; Rv = componente vertical; a = ângulo de inclinação; q = "hade"- (90° - a); ds = deslocamento (Park, 1983). Fig. 1.4 - Deslocamentos relativos sobre o plano de falha (Vialon et al., 1976). Se a estratificação estiver deslocada não podemos ter a certeza de quanto do deslocamento aparente é devido a movimentos de desligamento e quanto é devido a movimentos de componente vertical. O problema é ultrapassado se a direcção do movimento no plano de falha estiver registada pela presença de estrias sobre o plano (resultantes do atrito desenvolvido pelo arraste dos blocos) ou se, por exemplo, for possível medir o deslocamento de uma estrutura vertical, como um filão, ao longo de uma direcção horizontal (falha de desligamento); o problema permanece sem solução se a falha só tiver movimento de componente vertical. A melhor forma, a mais segura, de determinar o verdadeiro deslocamento, ou rejeito, de uma falha, é encontrar pontos homólogos deslocados (figs. 1.5, 1.6 e 1.7). 1 - 4 Fig. 1.5 - Afastamento entre pontos homólogos. Fig. 1.6 - Rejeitos de uma falha: ABCD - plano de falha; r - inclinação do plano de falha; a - pitch das estrias no plano de falha; Rr - rejeito real; Rva - rejeito vertical aparente (Rva = Rv.senr = Rhl.tga ); Rv - rejeito vertical; Rht - rejeito horizontal transversal; Rhl - rejeito horizontal longitudinal ou lateral (Rhl =Rr.cosa = Rva.cotga ); No plano de falha: sena = Rva/Rr; cosa = Rhl/Rr; tga = Rva/Rhl; Rr= Rva/sena = Rhl/cosa (Vialon et. al., 1976). Fig. 1.7 - Rejeitos de uma falha vistos em corte transversa: (a) e (c) - falhas normais; (b) e (d) - falhas inversas. AC- rejeito vertical (componente vertical do rejeito real = Rv); CB- rejeito horizontal transversal (componente horizontal do rejeito, num plano perpendicular ao plano de falha = Rht); AB- rejeito vertical aparente (medido no plano de falha, ao longo da linha de máxima inclinação = Rva); BD- rejeito estratigráfico (= Re). r -inclinação do plano de falha; j -inclinação das camadas (para calcular o rejeito estratigráfico); Rv dá a diferença de altitude entre os dois blocos; Rht dá o valor do alongamento produzido (f. normal=positivo; f. inversa=negativo); senr=Rv/Rva; Cosr=Rht/Rva; tgr = Rv/Rht. Rejeito vertical: Rv=Rht.tgr = Rva.senr. Rejeito vertical aparente: Rva = Rv/senr = Rht/cosr. Extensão: rejeito h. transversal Rht=Rv.cotgr =Rv/tgr.Rht= Rva.cosr (Vialon et al., 1976). 1 - 5 Sentido do deslocamento No caso das falhas de desligamento o deslocamento pode ser esquerdo (sinistrógiro) ou direito (dextrógiro) (fig. 1.8). Fig. 1.8 – Vista, em planta, de desligamentos esquerdos e direitos (Park, 1983). Existe apenas componente de movimento horizontal e a deslocação dos blocos desenvolve um binário de rotação em sentido directo, no 1º caso, e em sentido retrógrado no 2º caso. No caso de falhas inclinadas com movimentação de componente vertical, estas podem ser normais ou inversas (figs. 1.9 e 1.11), como vimos. Nas falhas normais ou distensivas, há abatimento do bloco acima do plano de falha, que desliza ao longo dele sob a acção da gravidade. Nas falhas inversas, pelo contrário, o bloco acima do plano de falha desloca-se subindo ao longo daquele, contrariando assim a força da gravidade. Por isso se chamam as falhas inversas de compressivas. Fig. 1.9 - Corte vertical para apreciar os movimentos das falhas normais e inversas (Park, 1983). Fig. 1.10 - Cavalgamento e "lag", em corte vertical (Park, 1983). Se as inclinações dos planos de falha forem muito baixas, as falhas normais designam-se por "lag" e as falhas inversas por cavalgamentos ("thrust") (figs. 1.10 e 1.11). Fig. 1.11 - Extensão traduzida pelo rejeito horizontal transversal. Em falhas normais há alongamento (e > 0); em falhas inversas há encurtamento (e < 0) (Vialon et al., 1976). Os cavalgamentos podem atingir deslocamentos da ordem dos quilómetros, e estão 1 - 6 frequentemente associados a fenómenos orogénicos (compressão em larga escala). A sua geometria pode ser complexa e voltaremos a falar deles mais adiante. Sistemas conjugados sintéticos e antitéticos. Num mesmo episódio de deformação, as falhas produzem-se normalmente segundo duas famílias de acidentes com atitudes diferentes, que se dizem conjugadas por serem geradas mais ou menos em simultâneo. As falhasconjugadas, ou as famílias conjugadas de acidentes, têm uma geometria simples que normalmente permite a identificação do campo de tensões responsável pela sua geração (fig. 1.2). Voltaremos a este assunto no capítulo 9, ao tratar do Falhamento (mecanismos de produção de falhas e sua interpretação dinâmica). Revendo a nomenclatura e classificação das falhas já apresentadas, verifica-se que as mesmas se reportam sobretudo ao tipo de deslocamento observado ao longo do plano de falha, ou seja, caracterizam as situações onde não ocorrem modificações na atitude das camadas afectadas, em consequência ou em simultâneo com o movimento frágil sobre o plano de rotura. Quando o campo de tensões produz falhas e também uma alteração na inclinação das camadas, quer dizer, quando há uma rotação externa das camadas, a nomenclatura das falhas complica-se um pouco. Nestas circunstâncias as falhas, sejam normais, inversas ou de desligamento, dizem-se sintéticas ou antitéticas em relação a esta rotação externa, se o movimento ao longo dos seus planos desenvolve um binário de rotação interna do mesmo sentido ou de sentido contrário, respectivamente, ao da rotação externa (fig. 1.12). De um ponto de vista puramente geométrico, estas falhas também se designam, às vezes, por falhas conformes ou falhas contrárias, se a sua inclinação for, respectivamente, no mesmo sentido ou em sentido contrário ao das camadas. Fig. 1.12 - Exemplos de falhas sintéticas e antitéticas, em distensão e em compressão (Mattauer, 1973). 1 - 7 Quer isto dizer que, se a rotação externa aumenta com regularidade, as falhas normais sintéticas vão aumentando a inclinação do seu plano, podendo ficar verticais ou até transformarem- se em falhas inversas e, neste estádio, se a distensão continuar, o sentido do deslocamento ao longo do plano de falha vai inverter-se (fig. 1.13). Do mesmo modo, as falhas inversas sintéticas podem acabar por se transformar em falhas normais. Assim sendo, sempre que existe uma rotação externa importante associada às falhas, e para saber de que tipo de falha exactamente se trata, é necessário rodar as camadas para a sua posição original (e, obviamente, rodar o plano de falha da mesma quantidade, no mesmo sentido). Quando o valor da rotação externa é desconhecido, não podemos saber se uma falha era originalmente normal ou inversa. Fig. 1.13 - Esquema mostrando como uma falha normal sintética pode, por rotação externa, adquirir o aspecto de uma falha inversa, invertendo-se o seu rejeito (Mattauer, 1973). Finalmente, se atentarmos apenas na atitude do plano de falha, as falhas classificam-se em verticais ou oblíquas, uma vez que não há falhas com planos horizontais (embora, como se verá adiante, alguns extensos mantos de carreamento possam ter sectores do plano de carreamento praticamente horizontais). 1.2. Material esmagado produzido pela movimentação das falhas Brecha de falha e "farinha" (argila) de falha: As maiorias das falhas estão assinaladas por uma zona de rocha fragmentada e esmagada, com fragmentos rochosos de dimensões variadas. Chama-se Brecha de falha a este material, sempre que os fragmentos visíveis constituam parte apreciável do conjunto esmagado. Quando o conjunto do material produzido pelo esmagamento é formado quase exclusivamente por partículas muito finas, do calibre das argilas, chama-se Farinha de falha ou Argila de falha. Este material é não coeso e tem, perante a erosão, um comportamento menos resistente que as rochas afectadas pela falha, sendo pois facilmente removido. Surgem assim expressivas depressões topográficas associadas aos afloramentos de falhas. Esta ausência de coesão do material formado por esmagamento resulta das condições muito superficiais em que se forma. Nos mesmos planos de falha, a maiores profundidades, onde as condições de pressão e temperatura o permitem, frequentemente os produtos do esmagamento se aglutinam sob forma coerente, constituindo rochas perfeitamente litificadas com texturas típicas de esmagamento. São as chamadas Brechas de esmagamento, onde os fragmentos visíveis dominam na rocha, ou os Cataclasitos onde uma matriz muito fina constitui proporção apreciável da rocha. 1 - 8 A maiores profundidades, o aumento da pressão e da temperatura produz, em certos casos, recristalização da textura destas rochas. Podemos assim distinguir os seguintes tipos de rochas produzidas por esmagamento: (Quadro 1.1) QUADRO 1.1 Classificação das rochas produzidas por esmagamento (seg. Sibson, 1977, in Park, 1983). Milonitos - Normalmente faz-se uma distinção entre as rochas formadas sob regime frágil pela partição (fracturação e esmagamento do material - Cataclase) e entre aquelas formadas em regime dúctil, por recristalização contínua ou fluência. As rochas de esmagamento de grão mais fino, produzidas por este último processo são resistentes e bastante coesas, com uma textura laminar ou listrada. Chamam-se milonitos. Quando a recristalização é dominante a rocha diz-se um blastomilonito. São rochas características das zonas de cisalhamento. Ultramilonitos e Pseudotaquilitos – O esmagamento extremo produz uma rocha formada por fragmentos quebrados imersos numa matriz de grãos ultramicroscópicos, de cor escura, muitas vezes negra. Estas rochas são os ultramilonitos e indicam um grau de esmagamento muito elevado, ou seja, uma intensidade de deformação associada à falha muito elevada. O calor de fricção desenvolvido ao longo da falha durante rápidos movimentos relativos dos compartimentos em intervalos breves pode ser suficiente para fundir algum deste material, formando uma substancia vítrea, contendo frequentemente esferólitos e que se designa por pseudotaquilito. Este material fundido forma então veios que intruem a rocha fracturada adjacente. Como o material vítreo está normalmente desvitrificado e contém uma elevada percentagem de fragmentos não fundidos, muitas vezes é difícil distinguir um pseudotaquilito de um ultramilonito, a não ser utilizando meios de poderosa ampliação. O pseudotaquilito forma-se, aparentemente, apenas em profundidade na crosta sob condições de pressão confinante moderada e elevada taxa de deformação (muito rápida). É assim possível considerar que uma falha exibindo à superfície esmagamento com produção de argila de falha não coerente pode desenvolver pseudotaquilitos a profundidades intermédias sendo substituída por uma zona de cisalhamento dúctil a maiores 1 - 9 profundidades. Fig. 1.14 - Determinação do sentido de movimento de uma falha a partir das figuras produzidas durante o arraste. (a) nichos de arrancamento; (b) degrau de arrancamento; (c) nicho de arrancamento; (d) degrau de "folheamento" com torção nas rochas junto ao plano de falha; (e) aberturas em aglomerados cristalinos formados em fases anteriores; (f) escamação; (g) degrau formado por fendas de tracção; (h) degrau formado por microfendas em "échelon" (Vialon et al., 1976). 1.3. Estruturas associadas aos Planos de falha Estrias de escorregamento ou de arraste. Muitas vezes os planos de falha exibem superfícies "brilhantes" ou estriadas, produzidas pela acção de "polimento" desenvolvida durante a movimentação relativa, com atrito, dos dois blocos de uma falha. Chamam-se estrias de arraste ("slickensides") às lineações assim produzidas nos planos de falha. Estes sulcos permitem a determinação da direcção do movimento e em certos casos a análise do sentido do deslocamento relativo dos compartimentos (fig. 1.14). Produzem-se ainda outras estruturas lineares devidas ao crescimento de veios de minerais fibrosos, normalmente quartzo e calcite, com os seus eixos maiores paralelos à direcção de movimento. 1 - 10 Como vimos, os movimentos relativos dos compartimentosdefinidos por uma fractura plana regular ou irregular são de três tipos: pode existir deslocamento sem aproximação nem afastamento dos compartimentos em presença, e pode haver afastamento ou aproximação segundo uma direcção qualquer não contida no plano de falha. No primeiro caso, se a fractura for um plano regular, não existe qualquer traço do movimento a menos que ao longo do plano hajam irregularidades ou elementos em relevo: estes vão talhar pequenas ranhuras paralelas, análogas às que se encontram na base dos glaciares. Muitas destas ranhuras terminam bruscamente indicando o fim do trajecto do elemento estriador (fig. 1.15). Deste modo é possível determinar o sentido do movimento. Fig. 1.15 - Esquema mostrando três tipos de falhas e três aspectos possíveis de uma falha, conforme o tipo de movimentação sofrida. (1) estrias formadas por um elemento estriador que produz ranhuras na rocha; (2) estilólitos resultantes da aproximação dos blocos; (3) fibras de calcite preenchendo o espaço aberto pelo afastamento relativo dos blocos (Mattauer, 1973). No segundo caso o plano de falha fica coberto de produtos de recristalização, de que os mais comuns são a calcite e o quartzo mas que podem ser, por exemplo, asbestos. Estes minerais têm geralmente uma estrutura fibrosa oblíqua ao plano da falha e indicadora da direcção do movimento (fig. 1.15). Muitas vezes os cristais de quartzo ou de calcite exibem uma estrutura linear, sublinhada por recristalizações sucessivas, paralela às estrias de deslizamento mencionadas no caso anterior. Chamam-se por isso estrias de recristalização. No terceiro caso, evidente sobretudo em rochas carbonatadas, os dois blocos da falha interpenetram-se como consequência de dissolução sob pressão. Deste fenómeno resultam estruturas de dissolução ou estilólitos, cuja geometria depende da obliquidade do movimento sobre o plano da descontinuidade. Se a rocha não for solúvel podem verificar-se dois casos. Se a tensão cisalhante for inferior a um determinado limite, não se produz qualquer movimento; o sistema fica bloqueado. Se esse limite for ultrapassado produz-se um deslocamento com atrito e formam-se estrias. Geralmente o sistema fica bloqueado após um pequeno deslocamento. 1 - 11 Se a superfície da descontinuidade planar for acidentada por irregularidades, estas originam a formação de microestruturas de recristalização ou de dissolução (fig. 1.16). Fig 1.16 - Exemplo de falhas não planares funcionando como falha normal e como falha inversa. No primeiro caso formam-se cavidades, que podem ser preenchidas por calcite. No segundo caso formam-se estilólitos (Mattauer, 1973). Assim, verifica-se que a existência de pequenos abruptos, qualquer que seja a sua atitude, permitem sempre a determinação do sentido do movimento. Se não se encontrarem estruturas de dissolução, o melhor critério para determinar o sentido do deslocamento reside na observação dos relevos que limitam as coberturas de calcite fibrosa. Muitas vezes formam-se geodes com cristais automórficos que dão imediatamente o sentido do movimento (fig. 1.16). Ao longo do mesmo plano de falha podem encontrar-se figuras de dissolução e figuras de recristalização (fig. 1.17) se as facetas oblíquas ao plano principal de rotura se encontrarem, respectivamente, expostas à compressão ou à dissolução. Mesmo quando as variações de inclinação de uma falha são pequenas e progressivas, elas podem também ser utilizadas para a determinação do sentido do rejeito. Fig. 1.17 - Fractura exibindo figuras de recristalização e de dissolução muito próximas e aspecto de falhas não planas. Em qualquer dos casos o sentido do movimento deduz-se de imediato (Mattauer, 1973). 1 - 12 Flexuras Rochas estratificadas na vizinhança de uma falha exibem frequentemente dobras de grande raio de curvatura, também chamadas flexuras, estritamente relacionadas com a movimentação da falha. São as chamadas "dobras de arraste" ("drag folds") produzidas quer pela resistência relativa dos dois compartimentos ao movimento de deslocação ao longo do plano de falha, traduzida no arqueamento das camadas, quer por um mecanismo de deformação dúctil quase sempre presente, precedendo o momento da rotura (fig. 1.18 e 1.19). Fig. 1.18 - Associação entre falhas e flexuras (Park, 1983). Fig. 1.19 - Dobras de arraste em falhas normais e inversas (Mattauer, 1973). Fendas de tracção e cisalhamentos secundários. Dependendo das condições de plasticidade do material e da presença de anisotropias na rocha, por efeito do atrito no plano de falha podem desenvolver-se fendas de tracção em “échelon” ou cisalhamentos secundários em microfracturas. Fig. 1.20 - Diferentes aspectos de fendas em “échelon” associadas a cisalhamentos, simples e conjugados (Mattauer, 1973). 1 - 13 1.4. Associações de falhas Geralmente as falhas não ocorrem isoladamente, aparecendo as falhas principais associadas a conjuntos de falhas menores, com menores deslocamentos, mas paralelas e com o mesmo tipo de movimento da falha principal. Blocos das mais variadas dimensões, sobreelevados ou deprimidos, podem estar, e normalmente estão, limitados por conjuntos de falhas do mesmo tipo mas com sentidos de deslocamento opostos. Um bloco deprimido limitado por falhas normais é um graben, assim como um bloco sobreelevado constitui um horst (Fig. 1.21). Fig. 1.21 - Estruturas em horst e graben (Park,1983). Estruturas muito desenvolvidas, que se estendem por centenas de quilómetros e onde dominam no centro grabens e nas extremidades horsts são aquelas que se podem encontrar não só no fundo de vários oceanos mas também sobre os continentes e a que chamamos rifts. Dois exemplos bem conhecidos são o Grande Rift Africano e o Rift do Reno; ambos são formados por uma série de grabens interrelacionados que se estendem por algumas centenas de quilómetros. No entanto, as associações de falhas não têm necessariamente que ser constituídas por falhas paralelas. Por exemplo, uma falha principal pode ser acompanhada por uma ramificação mais ou menos complexa de falhas menores como se observa na vizinhança da Falha de Santo. André (Califórnia) (fig. 1.22 - pág. seguinte). Frequentemente a terminação de uma falha é assinalada pelo aparecimento de falhas em bisel ("splay faults") que espalham o deslocamento por uma área mais ou menos vasta (fig. 1.23). Fig. 1.23 - Falhas secundárias na terminação de uma falha principal (Park, 1983). 1 - 14 Fig. 1.22 - Zona da Falha de Santo. André (Califórnia). A - Distribuição das falhas (as mais importantes destacadas); - Evolução do movimento das placas envolvidas, assumindo a Americana estacionária; C - Pormenor da distribuição das falhas na região de Los Angeles; D - Modelos para explicação da origem das estruturas compressivas (carreamentos e dobras) e distensivas (bacias "pull-apart") como resultado quer determinações de falhas quer da sobreposição de falhas (Park, 1983). As falhas podem igualmente terminar contra outras falhas, de tipo diferente. Por exemplo, dois carreamentos podem estar unidos por uma falha de desligamento, de forma a que o movimento se transmita de um carreamento a outro (fig. 1.24). Fig. 1.24 - Transferência do deslocamento de um carreamento para um desligamento (Park, 1983). 1 - 15 Como veremos adiante, muitas vezes estas situações não funcionam como vários planos de falha discretos mas antes como um só, em que existem rampas frontais (carreamentos) e rampas laterais com movimento de desligamento (Ex: estrutura cavalgante da Cadeia da Arrábida). É frequente ainda encontrar famílias de falhas conjugadas, muitas vezes associadas a fendas de tracção na vizinhança dos respectivos planosde rotura (figs. 1.20 e 1.25). Fig. 1.25 - Geometria de planos de cisalhamento conjugados associados a fendas de tracção em “échelon” (Vialon et al., 1976). Um bloco onde se produziu rotura com movimentação ao longo de um plano pode igualmente estar afectado por estruturas estilolíticas (de dissolução) orientadas segundo a direcção de compressão máxima e/ou por fendas com abertura e recristalização de minerais fibrosos ---- normalmente quartzo ou calcite (fig. 1.26). Fig. 1.26 - Estilólitos e fracturação (Vialon et al., 1976). 1 - 16 1.5. Diaclases As diaclases são fracturas ao longo das quais não há deslocamento ou, existindo, este é demasiado pequeno para ser perceptível a olho nu. Ocorrem geralmente em conjuntos de planos paralelos regularmente espaçados, podendo identificar-se várias famílias de diaclases, cada uma com a sua atitude, num mesmo conjunto rochoso. Os sistemas mais comuns correspondem a três planos perpendiculares entre si, um dos quais paralelo à estratificação nas rochas sedimentares, que conferem aos afloramentos um aspecto de partição em blocos paralelipipédicos. As diaclases estão quase sempre relacionadas com a geometria do corpo rochoso onde ocorrem e também com a geometria das tensões que o afectam, e produzem deformação. Ocorrem associadas a dobras e também na vizinhança de falhas ("pinnate fractures") (figs. 1.27 e 1.28). Fig. 1.27 - Relações entre diaclases e dobras (Park, 1983). Fig. 1.28 - Dois exemplos de diaclases (“pinnate fractures") associadas a falhas. A sua disposição em relação ao plano de falha permite interpretar o sentido do deslocamento (Hobbs, Means & Williams, 1976). Muitas diaclases são devidas a libertação de tensões acumuladas pelas rochas estratificadas em consequência da carga litostática que suportam em profundidade. Quando as camadas sobrejacentes são erodidas, produz-se uma redução na carga litostática o que provoca a expansão da rocha a partir do desenvolvimento de fracturas distensivas (diaclases) muitas vezes paralelas às superfícies de estratificação. Outra causa comum da formação de diaclases tem a ver com a contracção que ocorre nos corpos ígneos em arrefecimento. Os corpos ígneos tabulares, filões verticais e/ou camada, e certas escoadas, exibem muitas vezes disjunção colunar poligonal perpendicular às superfícies de arrefecimento. Um exemplo clássico deste tipo de estrutura é a Calçada dos Gigantes em Antrim (fig. 5.7 de A. Holmes, 1978). 1 - 17 Em circunstâncias favoráveis, as famílias de diaclases que ocorrem regionalmente em vários tipos rochosos diferentes, podem ser relacionadas com uma compressão ou distensão regional, do mesmo modo que as dobras. A relação entre a geometria das fracturas e os campos de tensão que as produzem será abordada no capítulo 9 (Falhamento). BIBLIOGRAFIA Hobbs, B. E; Means, W. D & Williams, P. F. (1976) - An Outline of Structural Geology. John Wiley & Sons, New York, 571p. Holmes, A. (1978) - Principles of Physical Geology, Thomas Nelson & Sons Ltd, London, 1288 p. Mattauer, M. (1973) - Les déformations des matériaux de l'écorce terrestre. Hermann, Paris, 493 p. Park, R. G. (1983) - Foundations of structural geology. Blackie, Chapman & Hall, London, 135 p. Ramsay, J. G. & Huber, M. I. (1987) - The Techniques of Modern Structural Geology; vol. 2: Folds and Fractures. Academic Press, London, 403 p. Vialon, P.; Ruhland, M. & Grolier, J. (1976) - Éléments de tectonique analytique. Masson, Paris, 118p. 2 - 1 2 - DOBRAS Se as fracturas são a expressão mais comum da deformação das rochas à superfície da crosta, as dobras são, sem dúvida, a mais espectacular. Quando vemos uma camada rochosa que era originalmente plana e horizontal dobrada num arco mais ou menos amplo com um comprimento de onda de algumas centenas de metros, somos forcados a reconhecer de um modo muito directo a existência de forças bastante poderosas a actuarem na crosta terrestre. 2.1. Definição e significado das dobras Dobra é uma estrutura produzida quando uma superfície planar original se torna arqueada ou curvada como resultado de deformação. As fracturas (falhas e diaclases) resultam de deformação frágil, que se traduz pela rotura das rochas segundo planos discretos e individualizados ao longo dos quais as rochas perdem completamente a sua coesão. As dobras, contudo, são a expressão da deformação dúctil, que produz modificações mais contínuas e graduais nas camadas rochosas, quer nas superfícies de estratificação quer no seu interior, à medida que a rocha se vai acomodando e alterando a sua forma. 2.2. Geometria das dobras Charneira e flancos de uma dobra (figs. 2.1 e 2.2) Fig. 2.1 - Charneira e flancos de uma dobra (Park, 1983). Ao considerarmos uma superfície simples dobrada, os elementos principais da geometria da dobra são a charneira ou fecho, que é a zona de máxima curvatura da superfície dobrada e os flancos que representam as áreas articuladas pela charneira. Se for possível definir uma linha que una os pontos de máxima curvatura da superfície, essa linha é a linha de charneira. Uma dobra singular compreende uma charneira e dois flancos, articulados por essa charneira. Numa sequência de dobras cada flanco é partilhado por duas dobras adjacentes. Dependendo da forma actual da dobra, ou seja, do modo como a superfície altera a sua curvatura, a charneira pode ser muito bem definida e os flancos relativamente rectos (fig. 2.1B), ou a curvatura pode variar gradualmente acompanhando o perfil da dobra, em particular quando aquele se aproxima da forma cilíndrica (fig. 2.1C). Numa dobra verdadeiramente cilíndrica onde a superfície dobrada corresponde a parte da superfície de um cilindro, é muito difícil separar a charneira dos flancos pois o gradiente de curvatura é constante ao longo do desenvolvimento da dobra. 2 - 2 Fig. 2.2 - Elementos de caracterização de uma superfície dobrada. No entanto, é comum utilizar-se a designação de dobra cilíndrica para toda aquela dobra cuja geometria corresponde à de uma superfície gerada pela translação de uma recta, a geratriz da dobra (fig. 2.2). Esta geometria tem uma propriedade importante que é a da sua charneira se apoiar sobre a recta geratriz da superfície dobrada que por sua vez está presente em todos os pontos dessa superfície. Para além deste tipo de charneira existem outros, mais complexos (fig. 2.3). Fig. 2.3 - (a) Dobra de charneira recta: (b) e (c) Dois tipos de dobras com charneiras curvas (Turner & Weiss, 1963). Eixo da dobra e Plano axial Ao descrever a atitude de uma dobra é mais frequente utilizar-se não as atitudes dos dois flancos mas a atitude do plano imaginário equidistante de ambos os flancos e que portanto bissecta o ângulo entre eles. Este plano é o Plano axial que intersecta a zona de charneira da dobra segundo uma linha a que se chama Eixo da dobra (fig. 2.4). 2 - 3 Fig. 2.4 - Eixo, plano axial e superfície axial de uma dobra (Park, 1983). Se os flancos da dobra estiverem suficientemente bem definidos a determinação das atitudes do plano axial e do eixo dará uma descrição precisa quanto à orientação da dobra. Fig. 2.5 - Elementos de uma dobra: charneira e flancos; crista ou cume e cava ("creu"); ponto de inflexão (Vialon et al., 1976). Superfície axial da dobra Ao considerar uma dobra formada por várias superfícies dobradas (várias superfícies de estratificação em leitos adjacentes numa sequência estratificada) é mais conveniente considerar a superfície não planar que passa pelas linhas de charneira das sucessivas superfícies dobradas. Estasuperfície é a superfície axial da dobra e, à medida que a sua regularidade aumenta, aproxima-se do plano axial tal como o definimos no ponto anterior. As zonas de charneira sobretudo quando são amplas nem sempre se localizam com facilidade a olho o que torna por vezes bastante difícil a definição do plano médio correspondente à superfície axial. Por comodidade, a maioria dos geólogos de campo usa apenas a designação de plano axial, mesmo quando este não corresponde a uma superfície planar regular (fig. 2.4B). Ângulo entre flancos – ângulo de abertura O menor ângulo definido pelos flancos de uma dobra é o ângulo de abertura. A abertura ou fecho de uma dobra, expressa por este ângulo é um método bastante útil para classificar as dobras, como veremos adiante e reflecte a intensidade da deformação. 2 - 4 Fig. 2.6 - Plano axial (PA), plano bissector (PB) e plano de crista (PC) de um antiforma. O PB divide ao meio o ângulo de abertura da dobra (Vialon et al., 1976). Amplitude e comprimento de onda de uma superfície dobrada São medidas da dimensão de uma dobra (figs. 2.7 e 2.8). Fig. 2.7 - Amplitude e comprimento de onda de uma dobra: l, comprimento de onda; a, amplitude; H, charneira; I, ponto de inflexão (Park, 1983). O método mais simples para determinar o comprimento de onda de uma dobra consiste na medição da distância entre duas charneiras consecutivas do mesmo tipo (a que corresponde ultrapassar uma charneira de tipo diferente). Se estas não forem visíveis então meio comprimento de onda será a distância entre dois pontos de inflexão consecutivos, ou seja, em cada um dos flancos da dobra. Os Pontos de inflexão localizam-se onde o sentido de curvatura da superfície dobrada muda de uma dobra para outra (figs. 2.5 e 2.7). A amplitude de uma dobra pode ser medida considerando metade da distância medida perpendicularmente entre uma charneira e a linha que une duas charneiras consecutivas do mesmo tipo ou a distância entre uma charneira e a linha que une os dois pontos de inflexão, medida igualmente na perpendicular desta última. 2 - 5 Fig. 2.8 - Comprimento de onda e amplitude de uma superfície dobrada. PA, plano axial; i, pontos de inflexão; Wa, comprimento de onda real; Wb, comprimento de onda aparente; Aa, amplitude real; Am, amplitude aparente. Superfície envolvente da dobra: superfície que une todas as linhas de charneira de um mesmo tipo. Deste modo todo o sistema de dobras possui 2 superfícies envolventes: uma que une as charneiras antiforma e outra que une as charneiras sinforma (Vialon et al., 1976). 2.3. Orientação das dobras A orientação de uma dobra obtém-se no campo pela determinação das atitudes dos dois flancos e se estes forem relativamente rectos e regulares esta informação é suficiente para uma descrição completa da atitude de uma dobra. Contudo, e como já foi assinalado, é mais importante e comporta mais informação, a descrição e registo das dobras em termos dos seus planos axiais e eixos. Assim, a posição e orientação de uma dobra ou sistema de dobras tem uma representação cartográfica correspondente a uma linha paralela à direcção do plano axial. Esta linha é o chamado traço do plano axial. A inclinação do plano axial pode ser representada do mesmo modo que a atitude das estratificações, apenas utilizando uma convenção distinta para não confundir as estratificações com os planos axiais das dobras por elas definidas. Mergulho de uma dobra O mergulho do eixo da dobra é o ângulo medido entre a horizontal e o eixo. Este ângulo tem que ser medido sobre um plano vertical (o que contem a direcção do eixo) e designa-se por mergulho de modo a distinguir-se do termo inclinação, habitualmente utilizado para referenciar estruturas planares. Fig. 2.9 - Mergulho de uma dobra (Park. 1983). 2 - 6 Uma descrição completa da orientação de uma dobra comporta, pois, um valor de direcção (a direcção do traço do plano axial) indicando o sentido para onde se dá o mergulho do eixo e a quantidade angular correspondente a esse mergulho. Se dissermos que uma dobra mergulha 30° para 105°, queremos dizer que o plano axial da dobra tem uma direcção de N75W e que o seu eixo mergulha 30° para a direcção ESE ou, com maior exactidão, para os 105° de azimute. 2.4. Classificação das dobras A classificação das dobras baseia-se em quatro parâmetros fundamentais: · direcção (sentido) de fecho da dobra; · atitude do plano axial; · dimensão do ângulo de abertura (ângulo entre flancos); · natureza do perfil da dobra. Classificação das dobras quanto à direcção de fecho As dobras que fecham para cima, ou seja, onde a inclinação dos flancos diverge a partir da charneira designam-se antiformas (fig. 2.10A) e aquelas que fecham para baixo, onde os flancos inclinam em direcção à charneira, são os sinformas (fig. 2.10B). As dobras que fecham para os lados ou seja, nem para cima nem para baixo, são neutras (fig. 2.10C). Em circunstâncias normais, onde as camadas são mais recentes quanto mais altas estão na sequência sedimentar, os antiformas possuem as rochas mais antigas no seu núcleo e são por isso chamados de anticlinais (fig. 2.10D). É importante anotar que a designação de anticlinal se restringe apenas à situação de uma dobra que possui no seu núcleo as rochas mais antigas sendo portanto uma designação que pressupõe o conhecimento da polaridade estratigráfica. Do mesmo modo, a designação sinclinal (fig. 2.10E) é reservada às dobras que possuem no seu núcleo as rochas mais modernas, independentemente da sua geometria definir um sinforma ou um antiforma. Fig. 2.10 - Fecho e vergência de uma dobra. D, anticlinal; E, sinclinal; F, dobra deitada redobrada; X, sinforma anticlinal, Y, antiforma sinclinal e Z um sinclinal (Park, 1983). 2 - 7 Em regiões afectadas por dobramento mais complexo, onde as bancadas estão frequentemente invertidas, é possível encontrar anticlinais que fecham para baixo (sinformas anticlinais), ou sinclinais que fecham para cima (antiformas sinclinais) (fig. 2.10F). Nestes casos é conveniente introduzir o conceito de vergência de uma dobra, para facilitar a compreensão das relações entre a polaridade sedimentar ou estratigráfica e as estruturas produzidas pela deformação: dobras e clivagem. A vergência é a direcção em que olham os flancos curtos das dobras monoclínicas, ou a direcção para a qual houve transporte de massa quando há carreamento. Se a vergência é conhecida, pode deduzir-se a polaridade através da relação clivagem/estratificação. Quando se conhece a polaridade, é possível determinar a vergência com base naquela mesma relação (fig. 2.11) (ver com maior detalhe, Cap. 4, Sec. 4.3, págs. 4.7 e 4.11). Fig. 2.11 - Vergência: relação entre clivagem e estratificação (mod. Vialon et al., 1976). 2 - 8 Classificação das dobras quanto à orientação QUADRO 2.1 Com base na inclinação da superfície axial as dobras podem ser divididas em três grupos: a) dobras com planos axiais verticais ou fortemente inclinados dizem-se verticais: b) dobras com planos axiais moderadamente inclinados dizem-se inclinadas; c) dobras com planos axiais sub-horizontais dizem-se deitadas (fig. 2.12). A divisão entre estas classes não é rígida. Por vezes chamam-se às dobras inclinadas com um flanco inverso dobras monoclínicas (atendendo a sua simetria) com flanco inverso ("overfold"), (fig. 2.12). Fig. 2.12 - Atitude do plano axial de várias dobras: A - vertical; B e C - inclinado; D - deitado; E - distinção entre linhas de charneira e crista e cava de uma dobra com plano axial inclinado (Park, 1983). 2 - 9 Nas dobras inclinadas os pontos mais elevados e mais baixos da superfície dobradanormalmente não coincidem com as charneiras sendo por vezes útil a utilização dos termos crista ("crest") e cava ("trough"), respectivamente, para essas posições (figs. 2.5 e 2.12E). Classificação das dobras quanto ao ângulo de abertura Fig. 2.13 - A. Classificação das dobras baseada no ângulo de abertura (seg. Fleuty, 1964); B. Medição do ângulo de abertura em dobras com charneira arredondada. O ponto de tangência é nos pontos de inflexão (Park, 1983). A dimensão do ângulo de abertura de uma dobra mede o grau de "fecho" da dobra, o que reflecte a quantidade de deformação sofrida pelos estratos. Quanto mais apertada é a dobra, menor e o ângulo de abertura e maior foi a deformação envolvida. A figura 2.13 mostra uma classificação esquemática que subdivide as dobras em 5 classes: amplas (180° a 120°; abertas (120° a 70°); fechadas (70° a 30°); apertadas (30° a 0°) e isoclinais (0°). Estes limites podem variar de autor para autor e o melhor, ao considerar-se o ângulo de abertura, e mencioná-lo. Muitas vezes as dobras amplas chamam-se flexuras. Quando os flancos não são rectos não é fácil determinar o ângulo de abertura. Nestes casos consideram-se as tangentes à superfície dobrada nos pontos de inflexão (fig. 2.13B) e mede- se o ângulo entre elas. Análise do Perfil das dobras O perfil de uma dobra é a forma que a camada dobrada exibe quando observada perpendicularmente ao seu eixo. Fig. 2.14 - Tipos de perfis de dobras (Park, 1983). 2 - 10 As dobras variam bastante de aspecto quando vistas de perfil e, como estas variações reflectem em parte diferenças no mecanismo de formação das dobras é por vezes importante considerar descrições precisas do seu perfil. As categorias principais de perfil apresentado pelas dobras estão referenciadas na figura 2.14. Fig. 2.15 - Dobras concêntricas. (a) Forma geral; (b) em arenitos (seg. de Sitter, in Turner & Weiss, 1963). O perfil mais simples é o das dobras paralelas onde a espessura ortogonal das bancadas é constante. Um caso especial de dobras paralelas é o das dobras concêntricas, onde as superfícies dobradas adjacentes são arcos de círculo com um centro comum, designado por centro de curvatura da dobra (figs. 2.15 e 2.16a). Fig. 2.16 - Dobras concêntricas (a) e dobras similares (b) (Vialon et al., 1976). 2 - 11 Como consequência da sua geometria não é difícil provar que as dobras paralelas ou concêntricas "morrem" para cima e para baixo, não podendo afectar mais do que uma espessura finita de estratos (fig. 2.17), limitada pela localização dos centros de curvatura. Para além dos centros de curvatura a deformação, o achatamento é acomodado pela geração de falhas ou outro tipo de dobras: dobras concêntricas achatadas (figs. 2.16a e 2.18). Fig. 2.17 - Geometria das dobras concêntricas circulares. Fig. 2.18 - Dobramento flexural seguido de achatamento homogéneo: (a) camada não deformada com espessura t; (b) camada flectida com conservação da espessura ortogonal; sobreposição de achatamento homogéneo com 50% de encurtamento perpendicularmente ao plano axial (Turner & Weiss, 1963). Fig. 2.19 - Dobramento similar de uma superfície S1, com plano axial S2. (a) por deslizamento em descontinuidades discretas paralelas a S2 (b) por deformação global continua (Turner & Weiss, 1963). Outro tipo de dobras são as dobras similares (figs. 2.16b, 2.19 e 2.20) onde a espessura ortogonal das bancadas varia de modo sistemático, mantendo constante a espessura vertical (fig. 2.21), medida paralelamente ao plano axial da dobra. Numa dobra verdadeiramente similar a forma das superfícies dobradas adjacentes corresponde-se precisamente e esta propriedade permite às dobras similares manterem o seu perfil constante, indefinidamente, para cima e para baixo, ao longo de sucessivas bancadas. Fig. 2.20 - Dobra de fluência: estratificação cinematicamente passiva (Vialon et al., 1983). 2 - 12 Fig. 2.21 - Espessura ortogonal e espessura vertical. As dobras que possuem flancos planares e charneiras rectas bem definidas (fig. 2.14D) são conhecidas por dobras em chevron. Estas dobras exibem a curiosa propriedade de serem aparentemente tanto similares como paralelas, no sentido de que muitas das bancadas individuais dobradas podem ser paralelas, enquanto a dobra, no seu conjunto, é normalmente similar. Fig. 2.22 - Kinks conjugados. Quando estas dobras são fortemente assimétricas, os flancos curtos aparentam bandas que atravessam a rocha. Estas bandas são conhecidas como "kink bands" e afectam sobretudo materiais com forte anisotropia inicial (fig. 2.22). Isógonas São linhas que unem pontos de igual inclinação entre camadas adjacentes (figs. 2.23 e 2.24). Permitem uma classificação (Ramsay, 1967) bastante utilizada (fig. 2.25). 2 - 13 Fig. 2.23 - Isógonas de inclinação e classificação de Ramsay (1967) (Vialon et al., 1976). Fig. 2.24 - Classificação das dobras segundo as isógonas (Ramsay, 1967). Consideram-se três classes: Classe 1 – dobras com isógonas convergentes (concêntricas) Classe 2 – dobras com isógonas paralelas (similares) Classe 3 – dobras com isógonas divergentes A classe 1 subdivide-se em 3 grupos, de acordo com o grau de convergência das isógonas. Assim sendo, a classe 1A é a das dobras com isógonas fortemente convergentes, a classe 1B é a das dobras paralelas ou concêntricas, de espessura ortogonal constante e a classe 1C das dobras com isógonas fracamente convergentes ou das dobras flexurais achatadas (fig. 2.18c) 2 - 14 Fig. 2.25 - Classificação das dobras vistas de perfil. Relação entre a espessura dos flancos, a inclinação das isógonas e o achatamento (in Vialon et al., 1976). Quando considerarmos os mecanismos de formação das dobras veremos como e possível considerar estados contínuos de deformação na passagem dos diferentes tipos de dobras umas para as outras. Outras classificações É ainda possível classificar as dobras quanto à simetria, em dobras ortorrômbicas (as de máxima simetria), dobras monoclínicas e dobras triclínicas (as de mais baixo grau de simetria) (fig. 2.26). 2 - 15 Fig. 2.26 - Classificação das dobras quanto à simetria. (a) dobra ortorrômbica; (b) , (c) e (d) dobras monoclínicas; (e) dobra triclínica (Turner & Weiss, 1963). 2.5. Descrição de sistemas de dobras A forma como as dobras estão associadas e o modo como se relacionam umas com as outras é tão importante para a compreensão dos seus mecanismos de formação como a forma e o perfil de cada dobra individual. Em sistemas de dobras, as dobras com simetria monoclínica são as mais frequentes. De um ponto de vista estrito, podemos considerar como simétricas aquelas dobras cujos flancos têm a mesma dimensão e valores de inclinação idênticos, embora para sentidos opostos (fig. 2.27). Como vimos, estas características adaptam-se apenas a dobras com o plano axial vertical e o eixo sub- horizontal, sendo o plano axial, neste caso, um plano de simetria. Nesta linha de pensamento, uma dobra monoclínica pode ser considerada um tipo especial de dobra assimétrica (pois os seus flancos têm desigual desenvolvimento e frequentemente valores de inclinação diferentes) onde um dos flancos é bastante curto quando comparado com a dimensão do outro flanco. Fig. 2.27 - Dobras simétricas (ortorrômbicas) e assimétricas (Park, 1983). 2 - 16 Dobras Parasitas Frequentemente, em sobreposição a dobras de maior comprimento de onda, ocorrem sistemas de dobras de menor comprimento de onda. As dobras menores, localizadas nos flancos ou na charneira das dobras maiores, designam- se por dobras Parasitas ou satélites. Em muitos casoshá uma relação sistemática entre a simetria das dobras parasitas e a sua posição nas dobras maiores. Assim sendo, quando os dois sistemas de dobras, as de menor escala e as de maior escala, se formam conjuntamente, o sentido da assimetria geralmente muda de um flanco para outro dos antiformas. Nos flancos longos as dobras menores têm um perfil em "Z" igualmente com flancos maiores bem desenvolvidos e uma vergência geométrica (dada pela posição do flanco curto das dobras menores) apontando para a charneira antiforma (fig. 2.28). Fig. 2.28 - Dobras parasitas (Park, 1983). Fig. 2.29 - Superfícies envolventes (Park, 1983). Na zona da charneira da dobra principal as dobras menores adquirem um perfil mais simétrico, com forma de "M" sem flancos longo ou curto distintos. No flanco curto, por óbvia falta de espaço, não há grandes condições para o desenvolvimento de flancos longos bem marcados nas dobras menores e deste modo estas adquirem perfis com forma de 'S', embora mantenham a vergência para a charneira da dobra principal. A existência de dobras de diferentes ordens de magnitude podem produzir formas bastante complicadas na superfície dobrada. Estas podem ser consideravelmente simplificadas pelo uso de superfícies envolventes (figs. 2.29 e 2.30). Uma superfície envolvente é uma superfície desenhada ao longo de todas as linhas de charneira de todas as dobras. Se a superfície envolvente estiver igualmente dobrada, pode ser desenhada uma segunda superfície envolvente para melhorar a simplificação. Num sistema de dobras existem tantas superfícies envolventes quantas as ordens de dobramento representadas. Fig. 2.30 - Tipos de superfícies envolventes (a tracejado) (Vialon et al., 1976). 2 - 17 Sistemas de dobras harmónicas e desarmónicas Quando os sistemas de dobras em bancadas adjacentes se correspondem em comprimento de onda, simetria e forma geral os sistemas dizem-se harmónicos (fig. 2.31). Fig. 2.31 - Dobras harmónicas (Park, 1983). Fig. 2.33 - Desarmonia progressiva. Fig. 2.35 - Desarmonia por descolamento. Fig. 2.32 - Dobras desarmónicas (Park,1983). Fig. 2.34 - Dobras ptigmáticas. Fig. 2.36 - Desarmonia por alternância de camadas competentes com dobramento concêntrico e camadas incompetentes com dobramento similar. Contudo, muitas vezes, o comprimento de onda e a forma das dobras em bancadas adjacentes é bastante diferente, normalmente como consequência de diferentes propriedades físicas dos materiais que constituem as bancadas em questão ou, ainda, importantes variações na sua espessura. Estes sistemas de dobras dizem-se desarmónicos (figs. 2.32, 2.33, 2.34, 2.35 e 2.36). Sistemas conjugados e policlinais Fig. 2.37 - Dobras conjugadas e policlinais. A, kinks conjugados definindo uma estrutura simétrica; B, "Box fold" – dobra simétrica com 4 grupos de charneiras; C, Dobras policlinais, com superfícies axiais variáveis (Park,1983). 2 - 18 Um par de dobras assimétricas com sentidos opostos de vergência geométrica, de tal forma que os respectivos planos axiais inclinem um para o outro, constitui o que se designa por dobras conjugadas. Um tipo comum de dobra conjugada é a "box fold" ou dobra em caixa, onde os ângulos da dobra são de aproximadamente 90°, formando uma estrutura quase rectangular (fig. 2.37). Um sistema de dobras policlinais é uma estrutura complexa formada por dobras em que os planos axiais de dobras adjacentes têm orientações variáveis. 2.6. Dobras a três dimensões Até aqui considerámos apenas as dobras a duas dimensões, ou seja, concentrámos a nossa análise sobre o seu perfil, ignorando a terceira dimensão. As dobras que mantêm perfis constantes são as dobras cilíndricas. Tais dobras podem, como vimos, ser consideradas como tendo sido geradas por uma linha recta deslocando-se paralelamente a si própria de tal forma que a superfície dobrada contem um sistema de linhas paralelas entre si e paralelas ao eixo da dobra (materialização física dessa geratriz). As dobras não cilíndricas são também bastante comuns. Analisaremos algumas delas. Periclinais, domas e bacias (fig. 2.38) O termo periclinal aplica-se usualmente apenas a dobramentos em grande escala (macroscópica). Um periclinal é uma dobra cuja amplitude decresce regularmente até zero em ambas as direcções, de tal modo que a dobra tem limites precisos no espaço. Os periclinais podem ser antiformas ou sinformas e, frequentemente, constituem apenas a parte terminal de dobras cilíndricas. Fig. 2.38 - Periclinais, bacias e domas. A, vista em mapa de periclinais anticlinais (A) e sinclinais (S) exibindo o seu padrão cartográfico típico; B e C, padrão cartográfico de bacia e doma. As setas indicam a direcção de inclinação das camadas (Park, 1983). Um doma é um tipo particular de anticlinal periclinal, onde a inclinação é radial ou seja, vista em mapa, a estrutura é aproximadamente circular. O equivalente sinclinal do doma é a bacia. Culminações e depressões Numa superfície dobrada exibindo dobras não cilíndricas, sejam elas periclinais ou outras mais complexas, os eixos das dobras são normalmente curvos e variam em comprimento. Os pontos de elevação máxima ao longo de eixos de antiformas formam culminações e os pontos de elevação mínima ao longo dos eixos de sinformas constituem depressões ou cavas. Muitas vezes as culminações aparecem como domas e as depressões como bacias. 2 - 19 Padrões de interferência e sistemas de dobras sobrepostos Muitos sistemas de dobras complexos são o resultado da interferência entre dois ou mais sistemas de dobras de geometria simples. É fácil imaginar como o dobramento de uma camada que já possui um sistema de dobras irá produzir uma complicada forma a três dimensões. Tais estruturas são facilmente identificáveis pelos padrões de afloramento que produzem. Estes dependem da geometria dos dois sistemas de dobras envolvidos e da relação que entre eles existe. Alguns padrões característicos de interferência ilustrados na fig. 2.39 são, por exemplo: l) formas fechadas de "domas e bacias"; 2) formas em cogumelo ou crescente; 3) formas em duplo "zig-zag" ou padrão "convergente-divergente". Fig. 2.39 - Dobramentos sobrepostos. A, 2ª fase de dobramento (F2) afectando dobras de 1ª fase (F1); B, três tipos de padrões de interferência; C, exemplo de uma estrutura de interferência (Loch Monar); D, a dobra de Loch Monar antes da 2ª fase de dobramento (f2). (Park, 1983). Em 2) e 3) é clara a ordem de sobreposição dos dobramentos uma vez que é possível identificar os eixos e os planos axiais das dobras de 1ª fase, dobrados pela 2ª fase. Um exemplo muito conhecido de um mapa com uma estrutura de interferência de dobramentos é o de Loch Monar, na Escócia (figs. 2.39C e D). Se considerarmos todas as possibilidades de interferência entre dois sistemas ondulatórios (de igual ou diferente comprimento de onda), encontramos de facto quatro tipos principais de padrão de interferência, cuja geometria a três dimensões pode ser apreciada na figura 2.40. Em cada um dos quatro tipos de padrão a geometria da dobra inicial (1ª fase) é a indicada por A. e é diferente para cada um dos quatro tipos de padrão de interferência. O padrão de deslocamento do sistema sobreposto (2ª fase) esta representado em B., constituindo uma grelha fixa de referência geométrica para todos os tipos. Os deslocamentos produzidos pela 2ª fase de dobramento são considerados em termos de um cisalhamento simples heterogéneo (ver capítulos 6 e 9), sendo a orientação do plano de cisalhamento dada por a2b2: a geometria das dobras formadas em qualquer superfície inicialmente perpendicular à direcção de deslocamento a2 é a indicada em B. Nestafigura, os diferentes diagramas C. mostram o resultado final da sobreposição do dobramento representado por B. na morfologia das superfícies dobradas numa fase anterior. 2 - 20 A forma tridimensional da estrutura final depende fundamentalmente de dois factores: 1º) ângulo entre o plano axial das dobras de 1ª fase (na figura, Ax.P11, a ponteado) e a direcção de transporte a2 da 2ª fase de deformação; 2º) ângulo entre o eixo das dobras de 1ª fase (F1, na fig. 2.45) e o eixo das dobras de 2ª fase (b2, na mesma figura). Fig. 2.40 - Os quatro tipos principais de formas tridimensionais de dobras resultantes da sobreposição de duas fases de dobramento (Ramsay & Huber, 1987). As relações mais simples entre estes elementos, que produzem os quatro tipos básicos de padrão de interferência, podem ser resumidas na tabela seguinte. 2 - 21 QUADRO 2.2 Condições geométricas para a produção dos quatro tipos principais de padrões de interferência de dobras Ângulo entre Ax.P11 e a2 ± 0° ± 90° ± 0° ± 90° Tipo 1 Tipo 2 Tipo 0 Tipo 3 Ângulo entre F1 e b2 É óbvio que podem existir tipos intermédios ou mistos, quando as relações angulares dos dois principais factores controladores da geometria de interferência não forem nem 90° nem 0°; por outro lado, o padrão de interferência observado a duas dimensões (em corte ou em mapa) dependerá do ângulo segundo o qual essa superfície bidimensional intersecta ou corta a estrutura tridimensional. Fig. 2.41 - Principais tipos de padrão de interferência a duas dimensões e suas variantes. Os tipos puros correspondem aos quatro cantos do diagrama e os restantes são tipos "mistos", conforme indicado no canto superior esquerdo de cada exemplo (Ramsay, 1967). Na figura 2.41 estão representadas várias destas possibilidades, segundo uma secção horizontal. C, A, G e I representam os casos "puros" dos Tipos 0, 1, 2 e 3, respectivamente. B, D, E, F e H são exemplos de tipos "mistos". 2 - 22 Tipo 0 – Sobreposição redundante Tem esta designação porque a interacção entre os dois sistemas de dobras não produz qualquer das características geométricas típicas da sobreposição de dobramentos, e a geometria tridimensional resultante é praticamente idêntica à das estruturas dobradas numa única fase de deformação. A forma resultante corresponde normalmente a uma mútua amplificação (fig. 2.40, Tipo 0,C), se as dobras dos dois sistemas estiverem em fase, sendo matematicamente previsível, embora geologicamente improvável, que a 2ª fase de dobramento anule as dobras da fase anterior, se os dois sistemas não estiverem em fase e tiverem igual amplitude; podem produzir-se vários tipos de dobras poli-harmónicas, se as duas fases de dobramento possuírem diferentes comprimentos de onda. Tipo 1 – Padrão de Domas e Bacias. Devido ao baixo ângulo entre os planos axiais das dobras de 1ª fase e a direcção de movimento das dobras da 2ª fase (a2), o cisalhamento diferencial produzido pela segunda fase de deformação não deflecte grandemente aqueles planos axiais em relação à sua forma planar inicial. Pelo contrário, os flancos das primeiras dobras são deflectidos e desenvolvem novas dobras com eixos mergulhantes em direcção aos planos axiais das dobras de 1ª fase ou mergulhantes em sentido oposto. Embora os planos axiais da 1ª fase permaneçam planares e praticamente com a mesma atitude, as charneiras dessas dobras ficam fortemente onduladas, produzindo culminações e depressões (ou cavas). Este efeito combina-se com as culminações e depressões produzidas nas dobras de 2ª fase, resultantes das formas dos flancos em que se geram, para produzir domas na intersecção de duas culminações e bacias na intersecção de duas depressões. Daqui resulta um padrão em que se observa cada doma rodeado por quatro bacias e, do mesmo modo, cada bacia rodeada por quatro domas (fig. 2.41A). Convém salientar que dobras com direcções axiais variáveis, conduzindo à formação de domas e bacias, podem ser produzidas por vários processos diferentes, de que o acima descrito é um exemplo. Instabilidades gravíticas desenvolvidas em situações geológicas em que camadas de menor densidade se encontram abaixo de outras mais densas, induzem a ascensão vertical de diapiros. Como consequência da indentação produzida nas camadas superficiais da crosta formam- se domas, frequentemente associados a sinclinais anelares que rodeiam o doma ou a bacias. Em qualquer dos casos, estas depressões são a compensação geométrica do diapiro ascendente. Estas estruturas ocorrem associadas quer à ascensão de sal, quer de material eruptivo (alguns plutões graníticos, por exemplo). Tipo 2 – Formas em crescente ou cogumelo. Neste tipo de padrão, os planos axiais das dobras de 1ª fase ficam fortemente dobrados (fig. 2.40 Tipo 2, C), uma vez que o ângulo entre a direcção de movimento da 2ª fase (a2) e o plano axial das dobras de 1ª fase é elevado (aproximadamente perpendicular). Como o ângulo entre F1 e b2 também é elevado, as charneiras das dobras de 1ª fase ficam bastante arqueadas, como a figura documenta (fig. 2.40, idem). Este arqueamento produz culminações e depressões idênticas às formas de doma e bacia, com a diferença destas se encontrarem tombadas no sentido do tombamento das dobras de 1ª fase. O padrão. bidimensional resultante depende do nível a que a estrutura tridimensional for seccionada, podendo exibir o aspecto representado na gravura E da figura 2.41, se a secção corresponder a um nível elevado (mais superficial) na estrutura, ou o aspecto representado na gravura G, o mais típico, correspondente a um plano de corte mais profundo. Destas formas, idênticas às de um cogumelo ou a crescentes dispostos alternadamente, resulta o nome porque é conhecido este padrão de interferência. Estas estruturas são frequentes em regiões onde grandes mantos de dobras deitadas foram redobrados. Tipo 3 – Padrão convergente-divergente, ou em "duplo zig-zag". As dobras com esta morfologia resultam do facto de a direcção de movimento diferencial da 2ª fase (a2) fazer um ângulo muito aberto com os planos axiais das dobras de 1ª fase, como acontecia nas dobras de Tipo 2 descritas anteriormente. Simplesmente, neste caso, as direcções dos eixos dos dois dobramentos (F1 e b2, respectivamente) são praticamente coincidentes. Isto significa que, embora os planos axiais das primeiras dobras sejam dobrados pelo segundo dobramento, os eixos das dobras de 1ª fase não vão ser afectados (fig. 2.40, Tipo 3. C). Mais ainda, os eixos das dobras das duas fases tendem a ser subparalelos. Tipicamente, o padrão de interferência a duas dimensões a que correspondem estas formas é o representado na gravura 1 da figura 2.41. 2 - 23 2.7. Relações entre falhas, dobras e cisalhamentos dúcteis Como vimos, as falhas são o produto da deformação frágil enquanto as dobras se formam por lentas e continuadas modificações dos materiais geológicos, sob condições de deformação dúctil. Contudo, os dois tipos de processos não estão completamente separados, como teremos oportunidade de verificar quando analisarmos o comportamento físico das rochas à deformação. Por exemplo, sob certas condições, o dobramento pode conduzir à fracturação como processo de deformação (fig. 2.42). Mais ainda, camadas de material mais rígido (competentes) interestratificadas com camadas de material menos rígido (incompetentes), podem apresentar fracturas enquanto as camadas menos rígidas exibem apenas dobramento dúctil. As rochas tornam-se mais dúcteis em níveis mais profundos da crosta e, uma superfície frágil – uma falha – à superfície, pode passar em profundidade (˜ a 10 - 20 km) a uma estrutura onde o deslocamento entre os dois blocos falhados se faz por um tipo de estrutura dúctil chamada zona de cisalhamento
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