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OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA.docx

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
CIÊNCIA POLÍTICA II - 2016-2
DISCENTES: DAYANA ALVES
 DIANE TEIXEIRA
 GISELY SOUSA
 KELLY CIPRIANO
FICHAMENTO: OS TRÊS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA
UBERLÂNDIA
		2016	
WEBER, M. “Os três tipos puros de dominação legitima”, In: COHN, G. (org.). Max Weber. São Paulo, Ática, 1982, 2ª ed. pp. 128-141.
O autor começa seu texto conceituando dominação como a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato, podendo ser fundada em diversos motivos de submissão. Essa submissão pode depender diretamente de interesses, de considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que obedece. Também pode depender de mero costume ou hábito de um comportamento muito antigo. Ou pode se fundar na mera inclinação pessoal à resignação. Porém o autor defende a tese de que as relações de dominação que repousassem apenas nesses fundamentos seriam relativamente instáveis. Já nas relações entre dominantes e dominados, a dominação apoia-se em bases jurídicas, nas quais se fundamenta sua “legitimidade”. Define a existência de três “bases de legitimidade”: dominação legal, dominação tradicional e dominação carismática, ambas entrelaçadas com a diversidade da estrutura sociológica do quadro e do meio administrativo.
Entende-se por dominação legal a dominação burocrática. Sua ideia básica é de que qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado corretamente quanto à forma. A associação dominante é eleita ou nomeada, e ela própria e todas suas partes são empresas. A obediência é destinada não à pessoa em virtude do seu direito próprio, mas a regra estatuída, que estabelece concomitantemente a quem e em que medida se deve obedecer. Quem ordena é considerado o “superior”, cujo direito de mando está legitimado por uma regra estatuída, suas competências concretas se baseiam na utilidade e nas exigências profissionais estipuladas para a atividade do funcionário. E este, por sua vez, é aquele de formação profissional, cujas condições de serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado segundo a hierarquia do cargo. Sua administração é trabalho profissional em virtude do dever do cargo. É ideal que esse funcionário não seja influenciado por motivos pessoais, sentimentais e particulares. Seu trabalho é estritamente formal, e o dever da obediência se passa por hierarquias de cargos, com subordinação dos inferiores aos superiores, e dispõe de um direito de queixa regulamentado.
A dominação legal é correspondida para além das estruturas modernas do Estado e dos municípios, mas também para a relação de domínio numa empresa capitalista privada, numa associação com fins lucrativos ou numa união de qualquer outra natureza que disponha de um quadro administrativo numeroso e hierarquicamente articulado. A dominação da empresa capitalista moderna é em parte heterônoma, pois sua ordenação acha-se particularmente prescrita pelo Estado. E no tocante ao quadro coercitivo é totalmente heterocéfala, onde os quadros judicial e policial estatais que executam essas funções. Mas é autocéfala no que se refere a organização administrativa, e o fato de que o ingresso à associação dominante tenha se dado de forma voluntária não altera em nada o seu caráter de domínio.
Weber relata que a burocracia constitui o tipo mais puro da dominação legal, porém nenhuma forma de dominação é exclusivamente burocrática, já que nenhuma é composta somente de funcionários contratados. Enfatiza que as formas de dominação burocráticas estão em ascensão em todas as partes. Pois toda a história do desenvolvimento do Estado moderno, identifica-se com a da burocracia, e da empresa burocrática com a burocratização crescente nas empresas econômicas. A dominação legal não é constituída apenas pela burocracia. Os funcionários designados por turno, sorte ou por eleição, assim como todas as modalidades de corpos colegiados de governo e administração correspondem a esse conceito, sempre que sua competência esteja fundada sobre regras estatuídas e que o exercício da dominação seja proporcional ao tipo de administração legal. As corporações colegiadas, no momento da fundação do Estado moderno, contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da forma de dominação legal, e o próprio conceito de “serviço”.
A dominação tradicional se dá em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais, e seu tipo de dominação mais puro é a patriarcal. Na dominação tradicional obedece-se à pessoa pela sua dignidade própria, santificada pela tradição através da fidelidade. A violação de suas ordens poria em perigo a legitimidade do domínio do senhor. Seu domínio se divide numa área estritamente firmada pela tradição e, em outra, da graça e do livre arbítrio, onde a ação é derivada do prazer, simpatia ou antipatia, e de acordo com pontos de vistas pessoais. A dominação tradicional está embasada nos princípios da equidade ética material, da justiça e da utilidade prática, e não de caráter formal, como no caso da dominação legal.
O quadro administrativo é composto de dependentes pessoais do senhor, ou de parentes, ou de amigos pessoais, ou de pessoas que lhe estejam ligadas por um vínculo de fidelidade. A fidelidade pessoal do senhor é dominante nas relações do quadro administrativo e não mais o dever ligado ao cargo. Contudo é possível observar duas formas distintas em suas características.
A primeira é a estrutura patriarcal, onde os servidores são recrutados em completa dependência pessoal do senhor, seja pela forma patrimonial, como os escravos, ou extrapatrimonial, como os plebeus. Sua administração é totalmente heterônoma e heterocéfala, não existindo direito algum do administrador sobre o cargo, tampouco relação profissional. Os meios materiais da administração são aplicados em nome do senhor e por sua conta, não existe nenhuma garantia contra seu arbítrio. Sendo o tipo mais puro dessa dominação o sultanato.
A segunda é a estrutura estamental, onde os servidores são pessoas independentes, que estão investidos em seus cargos por privilégios ou concessão do senhor. Sua administração é autocéfala e autônoma, exercendo-se por conta própria. A articulação hierárquica é freqüentemente ferida pelo privilégio. As relações gerais são reguladas pela tradição, pela honra estamental e pela “boa vontade”. A ação do senhor ou do seu quadro administrativo tem que ser comprada ou conquistada por meio de relações pessoais, por isso a coexistência da esfera de atividades ligadas à tradição com a da atividade livre é comum a todas as formas de dominação tradicional. Todas as codificações e leis da dominação patrimonial respiram o espírito chamado “Estado-providência”, onde predomina uma combinação de princípios ético-sociais e utilitário-social que rompe com a rigidez jurídica formal. Essa forma de dominação tradicional é representada pela nobreza e pelo feudalismo, que coloca a relação de lealdade pessoal e o apelo à honra estamental no lugar da obrigação objetiva devida ao próprio cargo.
Já na dominação carismática, seus tipos mais puros de dominação são a do profeta, do herói guerreiro e do demagogo, sendo associada ao caráter comunitário. O tipo que manda é o líder e o tipo que obedece é o “apostolo”. Deve-se obedecer a figura do líder por suas qualidades excepcionais e não em virtude de sua posição estatuída ou dignidade tradicional. Porém, enquanto seu carisma subsistir.
De acordo com o texto, o quadro administrativo é escolhido segundo carisma e vocação pessoal, e não devido suas qualificações profissionais, sua posição ou sua dependência pessoal, faltando assim, o conceito de “competência”. A administração é desprovida de qualquer orientação dada por regras. No entanto, possui como características a revelação ou criação momentânea, a ação, o exemplo e as decisões particulares. Não estando presa a tradição.
Alguns dos objetivosdo texto estão em apontar o político carismático como demagogo produto do interesse ocidental. E demonstrar que a autoridade carismática é baseada na “crença” ou no “reconhecimento”, no entanto, sua autoridade não deriva desse reconhecimento por parte dos submetidos, mas ao contrario, a crença e o reconhecimento são considerados um dever que deve ser cumprido, e seu descumprimento está sujeito ao castigo. É evidenciado no texto o caráter revolucionário que a autoridade carismática tem na história, porém é afirmado que sua forma pura é dotada de poder autoritário e dominador.
O autor defende a tese de que o senhor carismático deve-se fazer acreditar como senhor “pela graça de Deus”, através de milagres, êxitos e prosperidade, e se esses lhe faltam seu domínio se torna instável. Exemplifica essa tese com o monarca chinês que quando ameaçado em sua posição, seja pela seca, inundações, perda da colheita ou outra calamidade contestava se estava realmente sob a proteção do céu. Procedendo pela auto-acusação pública e a penitencias e, se caso os desastres persistiam era ameaçado de perder o trono e eventualmente de sacrifício.
Weber argumenta que para que as relações de domínio possam subsistir era necessário contribuir para sua estabilidade e crença na legitimidade, sobre bases mistas, ou seja, o hábito tradicional e o carisma. Contudo, para a efetividade dessa subsistência seria primordial a existência do quadro administrativo e de sua atuação na execução das ordenações, no sentido de assegurar a submissão a elas.
Sendo a dominação carismática uma relação social extra cotidiana e pessoal, quando passando a autoridade do senhor a seus sucessores, tende a se tornar rotineira. Isso pode ocorrer por conversão das ordenações carismáticas para o tipo tradicional, pela passagem do quadro administrativo carismático a um quadro legal ou estamental, por transformação do sentido do próprio carisma. Levando-nos ao problema da sucessão, que pode ser processado distintamente pela busca de indícios a qualificação carismática, como por exemplo, a busca pelo novo Dalai Lama, Poe meio do oráculo, da sorte ou qualquer outra técnica de designação, e por fim pela escolha do qualificado carismático, que pode ocorrer de vários modos: pelo próprio portador do carisma, por um apostolado carismaticamente qualificado, por carisma hereditário, com a concepção de que o sangue é portador da qualificação carismática, e por objetivação ritual do carisma, ou seja, trata-se d crença em uma qualidade mágica transferível.
É também abordado no texto que o princípio da legitimidade carismática pode ser reinterpretado de forma anti-autoritária, visto que o reconhecimento pode ser convertido em “eleição”, e o senhor, convertido num funcionário eleito pelos súditos, conforme sua livre vontade.

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