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DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 1 de 36 PESSOAS NATURAIS DAS PESSOAS NATURAIS: PERSONALIDADE E CAPACIDADE O Código Civil disciplina as relações jurídicas privadas que nascem da vida em sociedade e se formam entre pessoas, não entre pessoas e animais ou entre pessoas e coisas: fala-se em sujeitos de direito em suas relações privadas. São as relações sociais, de pessoa a pessoa, natural (física) ou jurídica, que produzem efeitos no âmbito do direito. O primeiro capítulo do Código Civil se refere às Pessoas. É fundamental compreender da melhor forma esse assunto, uma vez que é a base do Direito Civil. Portanto aconselhamos acompanhar e entender a parte geral (base). Ressalta-se que são as pessoas que são os sujeitos de direito. São as pessoas naturais detentoras dos Direitos da Personalidade (privacidade, liberdade, não discriminação, dignidade da pessoa humana, direito ao nome), realizarão negócios jurídicos como o contrato (Direito das Obrigações/Contratos); ou de uma família, casando/união estável, a igualdade dos filhos, poder familiar (Direito de Família), serão proprietários ou possuidores de bens (Direito das Coisas); irão receber e transmitir herança (Direito das Sucessões). Portanto, o tema é muito importante durante todo o nosso curso. CONCEITO DE PESSOA: Pessoa é o sujeito de direito em plenitude, capaz de adquirir e transmitir direitos e deveres jurídicos. Todo ser humano nascido com vida é pessoa (Paulo Lôbo). O ser humano pode ser titular das relações jurídicas. No atual estágio do Direito, entende-se por pessoa o ser ao qual se atribuem direito e obrigações (Sílvio Venosa). Pode-se conceituar pessoa como sendo todo ente físico (natural) ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações. Significa ser sujeito de direito. No Brasil temos duas espécies de pessoas: naturais (físicas) e jurídicas. Ambas possuem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. O direito atribui o conceito e a natureza jurídica de pessoa a entidades que não têm existência física ou tangível, seja uma coletividade de pessoas que se associam para alcançar fins comuns (associações e sociedades), seja um patrimônio destinado a um fim (fundações), ou seja, trata-se de pessoas jurídicas (Paulo Lôbo). Nesse momento nosso estudo tem por enforque a pessoa natural. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 2 de 36 PERSONALIDADE E CAPACIDADE DA PESSOA NATURAL: O artigo 1º do Código Civil/2002 prevê: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, o conceito de pessoa inclui homens, mulheres e crianças; qualquer pessoa natural, isto é, o ser humano sem distinção de idade, saúde, enfermidade, sexo, cor, raça, credo, nacionalidade, etc. Pessoa física ou natural é o ser dotado de razão e portador de sociabilidade, condição que o leva à convivência. Por sua constituição corpórea integra o reino da natureza e se sujeita às leis físicas em geral. (Paulo Nader). Sendo assim, o conceito exclui os animais (que gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito), os seres inanimados (semoventes). CONCLUINDO: PESSOA NATURAL OU FÍSICA É O SER HUMANO. Cada ente humano possui a sua personalidade e esta é o modo individual de ser da pessoa, suas características, seus valores e atitudes. Não há de se confundir a personalidade do ponto de vista da Psicologia – maneira de ser, agir e de reagir – da personalidade jurídica. Esta constitui a aptidão para ser titular de direito e de deveres na ordem civil. Inerente ao ser humano (Paulo Nader). A personalidade, no campo jurídico, é a própria capacidade jurídica, a possibilidade de figurar nos polos da relação jurídica. Sendo assim, como tem-se no ser humano o sujeito da relação jurídica, afirma-se que toda pessoa é dotada de personalidade (Sílvio Venosa). No Brasil, de acordo com o Código Civil/2002, a personalidade jurídica é iniciada a partir do nascimento com vida, ainda que por poucos momentos (Teoria da Natalidade). Na mesma linha, a Resolução nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde dispõe que o nascimento com vida é a: “expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta” (art. 29, VI). Cumpre frisar que, infelizmente e um dado lamentável da História, os escravos mesmo sendo “seres humanos” não eram, juridicamente, consideradas pessoas naturais, isto é, nem sempre toda pessoa foi sujeito de direito: não tinham personalidade. Logo, figuravam como se objeto fosse na relação jurídica, por exemplo, contrato de compra e venda de escravos. Em uma perspectiva constitucional de respeito e preservação da dignidade da pessoa humana, não importa que o feto tenha forma humana ou tempo mínimo de sobrevida. Assim, se o recém-nascido – cujo pai já tenha morrido - falece minutos após o DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 3 de 36 parto, terá adquirido, por exemplo, todos os direitos sucessórios do seu genitor, transferindo-os para a sua mãe, uma vez que se tornou, ainda que por breves instantes, sujeito de direito. Personalidade Jurídica, para a Teoria Geral do Direito Civil, é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações, ou, em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito. Atentar que se usa a expressão personalidade jurídica e personalidade civil como expressões sinônimas. Segundo Moreira Alves a personalidade jurídica é a aptidão de adquirir direitos e de contrair obrigações, indicando a ideia de conceito absoluto no sentido de que ela existe ou não existe, isto é, é a potencialidade de adquirir direitos e contrair obrigações. Já a capacidade jurídica é conceito relativo, pode-se ter mais ou menos capacidade, assim é o limite dessa potencialidade. Para Sílvio Rodrigues a personalidade é a mera circunstância de existir que confere ao homem a possibilidade de ser titular de direitos, e ao afirmar que se tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos, a qual se adquire com o nascimento com vida, conforme estabelece o art. 4° do Código Civil1. Todo ser humano é pessoa na acepção jurídica. A capacidade jurídica, conforme indicada no art. 1° do CC/2002, todos a possuem, denominada capacidade de direito. Todo ser humano é sujeito de direitos podendo agir pessoalmente ou por meio de outra pessoa que o represente. Porém, nem todas as pessoas são detentores da capacidade de fato ou de exercício que é a aptidão para pessoalmente adquirir direitos e contrair obrigações. Sob esse aspecto entram em contar diversos fatores referentes à idade e ao estado de saúde da pessoa. Neste ponto, vale transcrever a sábia preleção de RIPERT e BOULANGER, na monumental obra “Tratado de Derecho Civil” segun el Tratado de Planiol (Tomo I – Parte General, Buenos Aires: La Rey, 1988, pág. 310): “La personalidad jurídica está vinculada a la existencia del individuo, y no a su conciencia o a su voluntad. Um niño muy pequeno, o um loco, es una persona. Entre las personas físicas no se hace diferencia alguna para la atribuición de derechos civiles; por muy débil o incapacitado que esté, todo ser humano es, y sigue siendo, una persona del derecho”. Tradução: A personalidade jurídica está vinculada a existência do indivíduo, e não a sua consciência ou a sua vontade.Uma criança muito pequena, ou um louco, é uma pessoa. Entre as pessoas físicas não se faz diferença alguma para a atribuição de direitos civis; por muito deficiente ou incapaz que seja, todo ser humano é, e segue sendo, uma pessoa do direito. 1 Referência ao revogado Código Civil de 1916, no atual Código Civil de 2002 encontra-se no art. 2°. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 4 de 36 Moreira Alves explica que a capacidade de fato não se confunde com a personalidade jurídica (aptidão) e com a capacidade jurídica (limite), visto que aquela (capacidade de fato) é a aptidão para praticar, por si só, atos que produzam efeitos jurídicos; por outro lado, se o titular de direitos subjetivos tem necessariamente personalidade e capacidade jurídica (capacidade de direito), nem sempre, possui capacidade de fato, e cita como exemplo o louco que podia ser pessoa física, mas não tinha capacidade de fato por não dispor de vontade2. Por conseguinte, reforça que toda pessoa física tem personalidade jurídica e, consequentemente, capacidade jurídica, mas, nem sempre, pode por si mesma, adquirir e exercer direitos ou contrair obrigações, para isso é preciso que tenha capacidade de fato, isto é, aptidão para praticar, por si só, atos que produzam efeitos jurídicos; em assim sendo, a capacidade de fato implica, necessariamente, a capacidade jurídica, contudo, a recíproca não é verdadeira (MOREIRA ALVES, 1999, P. 125). Logo, pode-se ter capacidade jurídica sem capacidade de fato para exercer os atos da vida civil isoladamente (sozinho), necessitando de alguém com capacidade de fato. Segundo Arnoldo Wald, no direito moderno, toda pessoa é capaz de ter direitos e de contrair obrigações, tendo assim a chamada capacidade de direito ou personalidade, ou seja, toda pessoa, desde o nascimento até a sua morte, é considerada capaz de direito. Complementa com relato de que, além dos escravos no direito romano, os estrangeiros, em certas épocas, não foram reconhecidos como titulares de direitos, com igualdade aos nacionais uma conquista gradativa. Para José Carlos Moreira Alves a personalidade jurídica é a potencialidade de adquirir direitos ou de contrair obrigações, e a capacidade jurídica é o limite dessa potencialidade. Capacidade que é aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir obrigações, ou seja, de atuar diante o complexo das relações jurídicas. Embora baste nascer com vida para se adquirir a personalidade, nem sempre se terá capacidade para atuar sozinha em tais relações, pois existem a capacidade de direito ou de gozo e a capacidade de fato ou de exercício. A capacidade, que é elemento da personalidade, pode ser classificada em: De direito ou de gozo: própria de todo ser humano, inerente à personalidade e que só se perde com a morte. É a capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. "Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil" (artigo 1º do Código Civil). De fato ou de exercício: de exercitar por si os atos da vida civil. 2 Oportuno explicar que Moreira Alves afirma que no Direito Romano, situação na qual o escravo, apesar da existência como ser humano, não era considerado como sujeito de direitos; no direito romano para que o ser humano adquirisse personalidade jurídica tinha que suprir duas qualidades: ser livres e ser cidadão romano, ou seja, os homens ou são livres, ou são escravos (não eram homens livres), a liberdade era a regra e a escravidão a exceção, como uma coisa, o que gerava consequências jurídicas a seguir exemplificadas: não podiam casar-se legitimamente (não constituía matrimônio e sim concubinato), não tinham patrimônio, não podia ser parte (capacidade processual – autor ou réu), objeto de negociação por parte de seu proprietário onerosa ou gratuitamente ou mesmo até mata-lo. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 5 de 36 Toda pessoa tem capacidade de direito. A capacidade de direito é inerente à personalidade. Quem tem personalidade (está vivo) tem capacidade de direito. Mas essa pessoa pode não ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a plenitude da consciência e da vontade. A capacidade de direito não pode ser negada ao indivíduo, mas pode sofrer restrições/limitações quanto ao seu exercício. Exemplo: o sujeito de 30 anos de idade com deficiência que não possa exprimir sua vontade (doença grave), por ser pessoa (ele está vivo, possui personalidade), tem capacidade de direito, podendo receber uma doação; porém não tem capacidade de fato, não podendo vender o bem que ganhou. Da mesma forma uma criança com cinco anos de idade; ela tem personalidade (está viva), tem capacidade de direito, mas ainda não tem capacidade de fato ou exercício. Quem tem as duas espécies de capacidade tem a chamada capacidade plena. Quem só tem a de direito tem a chamada capacidade limitada (incapacidade). CAPACIDADE DE DIREITO + CAPACIDADE DE FATO = CAPACIDADE CIVIL PLENA Importante distinguir capacidade com legitimação: Legitimação: consiste em averiguar se uma pessoa, perante determinada situação jurídica, tem ou não capacidade para estabelecê-la, é uma forma específica de capacidade (forma especial) para determinados atos da vida civil (Sílvio Venosa). Exemplo: toda pessoa com 18 anos tem capacidade plena para comprar e vender, porém o art. 496, do CC/2002, estabelece que “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”. Considere que Marcos é pai de Lucas, Ana e Maria. Nesse caso, Marcos, pai que tem capacidade plena (genérica) para os atos da vida civil, se pretender vender um imóvel para Lucas, seu filho, deverá ter anuência (aceitação) dos demais filhos: Ana e Maria. Tanto importante quanto aos conceitos de personalidade e capacidade acima descritos na formação dos negócios jurídicos, é o estudo da legitimidade, assim, indispensável o ensinamento de Antônio Junqueira no sentido de sua diferenciação com a capacidade, para que se possa entender os institutos em suas peculiaridades: ... sobre legitimidade é preciso cuidado; uma vez esclarecido que ela difere da capacidade, porque esta depende de condições pessoais, isto é, condições da pessoa, ou tomada em si mesma (condições físicas ou psíquicas), ou tomada em meio de um grupo social (condições de status), enquanto aquela depende de relações jurídicas, temos que distinguir as duas espécies de legitimidade. Há uma que podemos chamar de “legitimidade-requisito de validade”, que age sobre a validade do negócio; pode ser definida como qualidade do agente consistente na DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 6 de 36 aptidão, obtida por consentimento de outrem, para realizar validamente um negócio jurídico; ela existe, malgrado uma relação jurídica anterior. A outra, que podemos chamar de “legitimidade-fator de eficácia”, é que, de fato, age sobre a eficácia do negócio. Esta pode ser definida como a qualidade do agente consistente na aptidão, obtida por fato de estar o agente na titularidade de um poder, para realizar eficazmente um negócio jurídico; ela existe por causa de uma relação jurídica anterior. Antônio Junqueira (2007, p. 58-59) exemplifica na legitimidade-requisito de validade a situação do ascendente na venda de bens aos descendentes (art. 496, atual Código Civil), e na segunda modalidade de legitimidade-fator de eficácia quandoo mandatário que recebeu poderes do mandante para vender bens, doar, e que, realiza um desses negócios jurídicos, sua legitimidade resulta de uma relação jurídica (mandato). Depreende-se que há duas espécies de legitimidade as quais estão referenciadas à capacidade das pessoas, ou seja, a legitimidade, nesse aspecto material (negócio jurídico) está interligada com a capacidade, porém se apresenta de forma diversa com a exigência de algo além da capacidade, a saber, a qualidade do agente consistente na aptidão obtida por consentimento de outrem ou por fato de estar o agente na titularidade de um poder, conforme dispositivos indicados para exemplificação e melhor compreensão do assunto por parte do autor3. Sendo assim, para aquela situação a qual exige um tratamento especial ou mesmo limitativo, e uma vez não obtido o alcance para tanto, mesmo que a pessoa possua capacidade plena, será a mesma ilegítima à configuração do negócio jurídico, por não se enquadrar nas exigências legais, carecendo, portanto, de legitimidade. A característica principal dos institutos jurídicos da personalidade, capacidade e legitimidade é o de proporcionar proteção jurídica para as pessoas naturais. Se a criança nascer com vida, ainda que por um instante, adquire a personalidade. Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se nasceu morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno, que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se boiar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto, nasceu com vida; se afundar é sinal de que não chegou a respirar e, portanto, nasceu morta: não foi sujeito de direito. Atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal constatação. NASCITURO: Nascituro é o que está por nascer. É o ente que foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu. Não tem personalidade jurídica, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo (proteção) os 3 Art. 496, CC/2002. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Art. 653, CC/2002. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses... DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 7 de 36 direitos do nascituro desde a concepção. Ele tem expectativa de direito no âmbito do Código Civil. A questão é controversa. Exemplo: ele tem direito à vida, à filiação, assistência pré-natal, honra, imagem, direito de ser contemplado por doação, por testamento, etc. O nascituro é um ente já concebido que se distingue de todo aquele que não foi ainda concebido e que poderá ser sujeito de direito no futuro, dependendo do nascimento, tratando-se de uma prole eventual. Poder ser beneficiado em testamento o ainda não concebido, por isso, entende-se que a condição do nascituro extrapola a simples situação de expectativa de direito, sob o prisma do direito eventual, os direitos do nascituro ficam sob condição suspensiva. A questão não é pacífica na doutrina (Sílvio Venosa). O Direito Civil Francês estabelece que a personalidade começa desde a concepção, porém o nosso direito civil determina expressamente o nascimento como parâmetro à personalidade civil. Na dicção do Direito Civil brasileiro o nascituro é titular de um direito eventual (exemplo: pai morre deixando mulher grávida; não se abre inventário até que nasça a criança, o nascituro tem direito ao resguardo à herança). Cuida-se do ente concebido, embora ainda não nascido, dotado de vida intra- uterina, daí porque a doutrina diferencia-o (o nascituro) do embrião mantido em laboratório. A Lei Civil trata do nascituro quando, posto não o considere pessoa, coloca a salvo os seus direitos desde a concepção (art. 2º, CC/2002). A Resolução nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde dispõe em seu art. 29, VII, que o “Nascimento Morto” é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, não respire nem tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta. Por tal motivo, possuindo tantos direitos, há quem entenda (ainda é uma posição minoritária) que ele já pode ser considerado como pessoa: teoria concepcionista. Adiante serão estudadas as teorias da personalidade: Teoria Natalista, Teoria Concepcionista e Teoria da Personalidade Condicional. - Teoria Natalista: a personalidade jurídica começa com o nascimento com vida (CC/2002 – art. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida. A adoção desta teoria de forma absoluta leva à conclusão de que o nascituro não é considerado pessoa, portanto, tem apenas expectativa de vida e de direitos. Ora, se for admitida a teoria natalista, segundo a qual a aquisição da personalidade opera-se a partir do nascimento com vida, é razoável o entendimento no sentido de que, não sendo pessoa, o nascituro possui mera expectativa de direito (VICENTE RÁO, SILVIO RODRIGUES, EDUARDO ESPÍNOLA, SILVIO VENOSA). DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 8 de 36 - Teoria Concepcionista: a personalidade tem início desde a concepção. Ou seja, no momento em que o óvulo fecundado pelo espermatozoide se junta à parede do útero. A partir desse momento o nascituro já é considerado como pessoa, e, como tal, tem todos os direitos resguardados pela lei, sendo considerado sujeito de direitos. É uma posição mais avançada com a tese de que o nascituro possui personalidade, uma ideia inspirada no Direito Civil francês e assegura que a personalidade é adquirida a partir da concepção. São adeptos dessa teoria: Pontes de Miranda, Renan Lotufo, Rubens Limongi França, Francisco Amaral, José Ascensão de Oliveira, Flávio Tartuce, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald, dentre outros, e que teve como precursor Teixeira de Freitas4 (Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald). Segundo Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald a teoria da concepção tem base no próprio Código Civil/2002, conforme os artigos abaixo, para demonstrar que a ordem jurídica, verdadeiramente, reconhece a personalidade jurídica do nascituro, conferindo-se personalidade concreta e não condicionada ao seu nascimento com vida, logo, o nascituro é titular de direitos da personalidade. 1. Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal: autorização legal que se faça pelo contrato de doação ao nascituro. 2. Art. 1.609. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes: permite o reconhecimento da filiação do nascituro. 3. Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e esta não tendo o poder familiar: possibilidade de nomeação de curador ao nascituro. 4. Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão: reconhecendo a capacidade sucessória do nascituro. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2007, na vigência do CC/2002, em julgamento de relatoria da ministra Nancy Andrighi, decidiu que: “é impossível admitir- se a redução do valor fixado a título de compensação por danos morais em relação ao nascituro, em comparação com outros filhos do de cujus, já nascidos na ocasião do evento morte, porquanto o fundamento da compensação é a existência deum sofrimento impossível de ser quantificado com precisão. Determinados fatos têm como consequência uma dor moral não diretamente não quantificável – esta aceita de forma unânime como base do sistema – e a de que a dor pela perda de um pai é menor para aquele filho ainda não nascido na data do infortúnio. ” 4 Augusto Teixeira de Freitas Formado pela Faculdade de Direito de Olinda — atual Faculdade de Direito do Recife, foi o responsável pela extraordinária Consolidação das Leis Civis brasileiras, de 1858, e autor da primeira tentativa de codificação civil do Brasil: seu "Esboço de Código Civil", feita por encomenda do imperador D. Pedro II. Foi uma obra com aproximadamente 5.000 (cinco mil) artigos, que apesar de não ter sido diretamente utilizada no Brasil, inspirou trabalhos posteriores no país, tal como o que resultou no Código Civil de 1916, de Clóvis Beviláqua. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 9 de 36 Com esse entendimento, extrai-se o reconhecimento de um direito (dano moral), logo, caracteriza a existência de personalidade civil. O Tribunal do Rio Grande do Sul (TJ-RS), reconheceu a personalidade jurídica desde a concepção: EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. NASCITURO. MORTE DECORRENTE DE ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. 1. O nascituro, provido de personalidade jurídica desde o momento da concepção, está coberto pelo seguro DPVAT, visto que seu bem-estar é assegurado pelo ordenamento pátrio. É devido o pagamento da indenização no caso de interrupção da gravidez e morte causadas por acidente de trânsito. Precedentes das Turmas Recursais. 2. Aplicação da Súmula 14 das Turmas Recursais Cíveis, revisada em 24/04/2008. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71003041936, Segunda Turma (TJ-RS-Recurso Cível: 71003041936 RS, Relator: Eduardo Kraemer, Data de Julgamento: 29/02/2012, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 06/03/2012) CLÓVIS BEVIÁQUA, em seus “Comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil”, Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1975, pág. 178, após elogiar abertamente a teoria concepcionista, ressaltando os seus excelentes argumentos, conclui ter adotado a natalista, “por parecer mais prática”. No entanto, o próprio autor, nesta mesma obra, não resiste ao apelo concepcionista, ao destacar situações em que o nascituro “se apresenta como pessoa”. Na perspectiva constitucional de respeito e preservação da dignidade da pessoa humana, não importa que o feto tenha forma humana, e o direito à vida, pode-se afirmar que também são argumentos que favorecem a personalidade civil desde a concepção (teoria concepcionista). - Teoria da Personalidade Condicional: o nascituro possui personalidade jurídica desde o momento da concepção, no entanto isso é condicionado ao nascimento com vida. Nascendo com vida a personalidade retroage ao momento de concepção do nascituro, conferindo a ele uma tutela jurídica que atinge o passado. Essa corrente defende que o nascituro possui direitos, entretanto estes estariam subordinados a uma condição suspensiva que seria o próprio o nascimento com vida. Se não nascer com vida não houve personalidade. Os adeptos da teoria da personalidade condicional sufragam entendimento no sentido de que o nascituro possui direitos sob condição suspensiva. Vale dizer, ao ser concebido, já pode titularizar alguns direitos (extrapatrimoniais), como o direito à vida, mas só adquire completa personalidade, quando implementada a condição do seu nascimento com vida. A despeito de toda essa profunda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos termos da legislação em vigor, inclusive do Código Civil/2002, o nascituro tem a proteção legal dos seus direitos desde a concepção. Nesse sentido, pode-se apresentar o seguinte esquema de direitos do nascituro: DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 10 de 36 a) o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida: Constituição Federal – art. 5°, caput), honra, imagem, assistência pré-natal - Lei 11.804/2008 – alimentos gravídicos; b) pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter vivos: CC/2002 - Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal; c) pode ser beneficiado por herança: CC/2002 - Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão / Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; d) pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses: CC/2002 - Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar. Parágrafo único. Se a mulher estiver interdita, seu curador será o do nascituro; e) como decorrência da proteção conferida pelos direitos da personalidade, conclui-se que o nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade: CC/2002 - Parágrafo único do art. 1.609. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes; f) a possibilidade de se reconhecer ao nascituro direito aos alimentos: Lei 11.804/2008 – alimentos gravídicos; g) o Código Penal tipifica, em regra, o crime de aborto; h) Pode ser parte num processo judicial (ativa ou passiva). Nesse caso sua mãe irá representá-lo em juízo. Se a mãe não tiver o poder familiar e o pai for falecido, será nomeado um curador ao nascituro (curador ao ventre); se a mãe estiver sob curatela, o curador dela também será o do nascituro (art. 1.779, e seu parágrafo único, CC). Com o nascimento com vida ele passa a ter a titularidade da pretensão do direito material (que até então era apenas uma expectativa), mas continuará sendo representado por seus pais. Na doutrina, preleciona o Prof. Teixeira Giorgis: “Como a regra constitucional declara a vida inviolável e o estatuto menorista assegura à gestante o atendimento pré-natal e perinatal, não há mais controvérsia sobre o direito do nascituro a alimentos. Então se aceita que a pesquisa da filiação seja cumulada com um pedido de alimentos provisórios para que a mãe possa enfrentar as despesas anteriores ao parto, como os custos da pediatria, a assistência cirúrgica, transfusões, ultra-sonografia, intervenções fetais e outras; é que a gravidez diminui a capacidade laborativa da pessoa, situação que também se aceita em caso de união estável. Para a concessão dos alimentos é necessário haver indícios convincentes sobre a paternidade invocada, não sendo atendida a postulação quando não ocorram elementos seguros sobre a genitura ou sobre o início da prenhez”. Os direitos assegurados ao nascituro estão em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer com vida (TEORIA DA NATALIDADE), Contudo, percebe-se um vasto rol de direitos ao nascituro. Assim, sendo conferidos cada vez mais direitos, nota-se um enorme crescimento da teoria concepcionista para considerar o nascituro como uma pessoa natural, garantindo assim, mais segurança à família e a preservação da dignidade humana. Justifica-se esta posição DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 11 de 36 porque somente uma pessoa pode ser titular de direitos... e o art. 2°, CC, segunda parte, afirma que o nascituro tem direitos... logo,tendo direitos, ele já poderia ser considerado como tendo personalidade. Segundo Maria Helena Diniz se manifesta acerca do tema de maneira oportuna: “Poder-se-ia mesmo afirmar que, na vida intra-uterina, tem o nascituro personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos e aos da personalidade (direito à vida, direito à gestação saudável, direito à honra e imagem), passando a ter a personalidade jurídica material (, alcançando os direitos patrimoniais, que permaneciam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Se nascer com vida, adquire personalidade jurídica material, mas se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial terá. Ante o avanço da medicina, com técnicas de fertilização in vitro e congelamento de embriões (Lei 11.105/2005 – POSIÇÃO DO STF PELA CONSTITUCIONALIDADE), que proíbe e considera como crime a manipulação genética de células humanas, a intervenção em material genético humano, salvo para tratamento de defeitos genéticos e produção, armazenamento e manipulação de embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível. Para o STF o embrião in vitro (pré-implantado) não é pessoa, mas um bem a ser protegido. Para muitos autores o Supremo Tribunal Federal teria adotado a corrente natalista, quando apreciou a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3510, considerando constitucional o art. 5° da Lei n° 11.105/2005 (Lei de Biossegurança5) que trata do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos. EMENTA RESUMIDA DA DECISÃO: A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À VIDA E OS DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO EMBRIÃO PRÉ- IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso instante em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, 5 Outra decisão significativa do STF foi pela possibilidade da interrupção de gravidez de feto anencéfalo. O relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, ministro Marco Aurélio, votou pela possibilidade legal de interromper gravidez de feto anencéfalo. O ministro considerou procedente o pedido feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), para declarar inconstitucional a interpretação dada aos artigos 124, 126 e 128 (incisos I e II) do Código Penal que criminaliza a antecipação terapêutica de parto nos casos de anencefalia. “A incolumidade física do feto anencéfalo, que, se sobreviver ao parto, o será por poucas horas ou dias, não pode ser preservada a qualquer custo, em detrimento dos direitos básicos da mulher”, afirmou o ministro, ao sustentar a descriminalização da prática. Para ele, é inadmissível que o direito à vida de um feto que não tem chances de sobreviver prevaleça em detrimento das garantias à dignidade da pessoa humana, à liberdade no campo sexual, à autonomia, à privacidade, à saúde e à integridade física, psicológica e moral da mãe, todas previstas na Constituição. Em voto longo e baseado nas informações colhidas durante quatro dias de audiência pública realizada pelo STF para debater o tema, o ministro Marco Aurélio concluiu que a imposição estatal da manutenção de gravidez cujo resultado final será a morte do feto vai de encontro aos princípios basilares do sistema constitucional. Para ele, obrigar a mulher a manter esse tipo de gestação significa colocá-la em uma espécie de “cárcere privado em seu próprio corpo”, deixando-a desprovida do mínimo essencial de autodeterminação, o que se assemelha à tortura. “Cabe à mulher, e não ao Estado, sopesar valores e sentimentos de ordem estritamente privada, para deliberar pela interrupção, ou não, da gravidez”, afirmou, acrescentando estar em jogo a privacidade, a autonomia e a dignidade humana dessas mulheres, direitos fundamentais que devem ser respeitados. Na interpretação do ministro, ao Estado cabe o dever de informar e prestar apoio médico e psicológico à paciente antes e depois da decisão, independente de qual seja ela. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 12 de 36 porque nativiva (teoria "natalista", em contraposição às teorias "concepcionista" ou da "personalidade condicional"). [...] Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. IMPORTÂNCIA DE NASCER COM VIDA: Como acima mencionado, apesar de muita polêmica, o nascituro tem apenas expectativa de vida e é importante que nasça vivo, nem que seja por um segundo. Se nascer vivo, adquire personalidade. Será um sujeito de direitos e obrigações. No entanto, caso nasça morto (natimorto), nenhum direito terá. ATENÇÃO: a expressão natimorto pois o vocábulo possui duplo sentido: aquele que nasceu sem vida ou aquele que veio à luz, com sinais de vida, mas, logo morreu. Enunciado 01 da I Jornada de Direito Civil do CJF (Conselho da Justiça Federal): “A proteção que o Código confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direitos da personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”. Essa é a tendência de Direito atual. EXEMPLIFICAÇÃO: Ordem de vocação hereditária: 1. Descendente (concorrência com o cônjuge sobrevivente) – filho, neto, bisneto. 2. Ascendente (em concorrência com o cônjuge sobrevivente) – pai, avô, bisavô. 3. Cônjuge sobrevivente. 4. Colaterais até o 4° grau – irmão, sobrinho, tio, primo. Suponhamos que no quadro demonstrativo acima, José casou-se com Maria pelo regime de comunhão parcial e faleceu deixando viúva grávida, pais vivos e um apartamento a ser partilhado. Não se abre inventário de imediato; aguarda-se o nascimento do nascituro. PAIS DE JOSÉ: A e B JOSÉ MARIA NASCITURO: Z DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 13 de 36 POSSÍVEIS SITUAÇÕES DECORRENTES: ► Se Z nascer morto, o apartamento irá para A e B, pais (ascendentes) de José (observe quadro da ordem de vocação hereditária), embora Maria (cônjuge sobrevivente) também tenha direitos sucessórios, pois concorre com os mesmos. ►Se Z nascer vivo, tudo herdará (descendente), em concorrência com a mãe. ► Se Z nascer vivo e logo depois morrer, herdará os bens de seu pai, pois foi sujeito de direito, embora por pouco tempo. Morrendo, transmitirá o que recebeu. Como não tem descendentes, seu herdeiro será sua mãe, ascendente. DICA DE EXAME OAB/CONCURSOS Geralmente a banca examinadora coloca, em questões objetivas, uma alternativa dizendo a criança somente teria personalidade se nascer com “forma humana” (ou seja, não tenha anomalias ou deformidades), ou que a personalidade somente teria início com o “corte do cordão umbilical ou quando desprendida a placenta”. Nenhuma dessas hipóteses foram aceitas pelo nosso Direito. Por outro lado, a INCAPACIDADE é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Pode ser absoluta ou relativa. REPRESENTAÇÃO: ABSOLUTAMENTE INCAPAZES. ASSISTÊNCIA: RELATIVAMENTE INCAPAZES. REPRESENTAÇÃO E ASSISTÊNCIA: Art. 1.690, CC - Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados. O instituto da incapacidade tem como objetivo proteger aquelas pessoas diante de uma determinada situação prevista pelo legislador. Essa forma de proteção é graduada: A) Representação destina-se à proteção dos absolutamente incapazes. Estaspessoas estão privadas de agir juridicamente e serão representadas, possuem personalidade e capacidade de direito ou de gozo, desprovidas da capacidade de fato ou de exercício. Exemplo: uma pessoa com 15 anos, não pode vender um apartamento de sua propriedade. Mas este imóvel pode ser vendido pelos seus pais que irão representar o menor (ABSOLUTAMENTE INCAPAZ: REPRESENTANTE). No ato da compra e venda DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 14 de 36 este nem precisa comparecer. Se o absolutamente incapaz realizar um negócio sem ser representado, este negócio será considerado nulo (art. 166, I, do CC/2002). B) Assistência destina-se à proteção dos relativamente incapazes. Estas pessoas já podem atuar na vida civil. Alguns atos podem praticar sozinhos; outros necessitam de autorização. Exemplo: um rapaz, com 17 anos, já pode vender seu apartamento. Mas não poderá fazê-lo sozinho. Necessita de assistência de seus pais. No ato de compra e venda ele comparece e assina os documentos, juntamente com seus pais. A pessoa já pode realizar o negócio em seu próprio nome (ao contrário da representação em que é a outra pessoa – representante - realiza o negócio, mas em nome e em benefício do incapaz – RELATIVAMENTE INCAPAZ - ASSISTENTE). Na assistência é relativamente incapaz quem realiza o ato; porém este ato é presenciado pelo assistente que também deve assinar a documentação. Se o relativamente incapaz realizar um negócio sem ser assistido, este negócio será considerado anulável (art. 171, I, CC). Será visto adiante que o relativamente incapaz poderá não praticar o ato jurídico, ou seja, somente o seu assistente é que executará na preservação do interesse de seu assistido (relativamente incapaz). Assim, pergunta-se: uma pessoa considerada com menos de 16 anos pode receber uma doação (ou uma herança)? Resposta – Sim, pois ela tem capacidade de direito. Ela pode vender o bem que recebeu? Resposta – não, porque ela não tem capacidade de fato/exercício. Mas o bem que esta pessoa recebeu pode ser vendido? Resposta – Em algumas situações este bem pode ser vendido (sempre no interesse desta pessoa). Se ela tem uma quantia em dinheiro recebida por herança, o responsável legal poderá solicitar autorização judicial para pagamento de despesas com a educação do menor. Mas como será vendido? O incapaz terá um responsável legal que poderá realizar os negócios da vida em nome dele. Trata-se da representação. Ela supre a incapacidade da pessoa e os negócios podem ser realizados normalmente. Desse modo, na incapacidade absoluta a pessoa não pratica nenhum negócio jurídico, este é praticado pelo seu responsável legal (representante), de outro modo, o relativamente incapaz realiza o ato, de maneira restrita, mas o pratica, acompanhado da pessoa capaz por ele responsável (assistente). Ocorre que houve alteração dos requisitos da incapacidade absoluta e relativa com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD). DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 15 de 36 Diante da revogação parcial do Código Civil/2002 pelo EPD, percebe-se que o legislador alterou o entendimento de que o relativamente incapaz realiza o ato jurídico acompanhado de seu responsável legal: PARA A EXPLICAÇÃO EM SALA !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Classificação apresentada por Moreira Alves, também estabelecida no atual Código Civil brasileiro, tem por fator as gradações das incapacidades, conforme abaixo: “INCAPACIDADE DE FATO ABSOLUTA E RELATIVA – a incapacidade de fato admite gradações: incapacidade absoluta e incapacidade relativa. Os absolutamente incapazes são aqueles que, por não terem vontade (juridicamente), não podem praticar, por si sós, qualquer ato que produza efeito jurídico. [...] Os relativamente incapazes são os que não podem praticar, por si sós, atos que diminuam o seu patrimônio. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES: Ocorre quando houver proibição total do exercício do direito do incapaz, acarretando, em caso de violação, a nulidade do ato jurídico (art. 166, I do CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos e deveres, porém não podem exercê-los pessoalmente. Há uma restrição legal ao poder de agir por si. Devem ser representados. Quanto aos absolutamente incapazes, pode-se compreender como aqueles os quais a lei considera totalmente inaptos ao exercício das atividades da vida civil, possuem direitos/deveres, podem adquiri-los (ser o titular), mas não estão habilitados a exercê-los, sem participação direta e pessoalmente de qualquer ato/negócio jurídico (CAIO MÁRIO). O Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, desde de 2008, texto aprovado pelo Decreto Legislativo n. 186/2008, com fulcro no § 3º do art. 5º da Constituição Federal6, ou seja, o que equivale a Emenda Constitucional, normas estas as quais promoveram a instituição 6 Art. 5°, § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 16 de 36 da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência – EPD), por intermédio da Lei n. 13.146, de 6 de julho de 20157. O EPD tem por ideia central estipular a igualdade, o exercício de direitos e das liberdades, com o propósito de inclusão social e cidadania, conforme segue: Art. 1°. É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. O conceito de pessoa com deficiência encontra-se posto no próprio diploma legal, a saber, do EPD, com os seguintes termos: considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas8. Com o EPD a regulamentação da capacidade e da incapacidade das pessoas com deficiência fica distribuída em três segmentos: a) Capacidade plena, como regra; b) Curatela em caso enquadramento de incapacidade relativa, como exceção9; c) Tomada de Decisão Apoiada (TDA), como medida intermediária. Houve a instituição de um NOVO instituto jurídico no nosso Direito Civil: TOMADA DE DECISÃO APOIADA - TDA, sua conceituação posta no EPD e a afirmativa de sua utilização pela pessoa com deficiência com capacidade plena: Art. 84, § 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada; No CC/2002, art. 1.783-A: A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas (apoiadores), com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua capacidade. O pedido, realizado pela própria pessoa (pessoa apoiada), deverá ser feito ao juiz para análise com subsídio de equipe multidisciplinar edo Ministério Público: 7 O legislador estabeleceu o prazo de vacatio legis de 180 (cento e oitenta) dias, conforme o art. 127. Vale informar que alguns dispositivos apresentam prazo diverso. Vigente desde janeiro de 2016. 8 Art. 2°, do EPD. 9 EPD: Art. 84. § 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. § 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. (grifos) DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 17 de 36 Art. 1.783-A. § 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. O EPD alterou significativamente o Código Civil de 2002 em alguns de seus dispositivos, principalmente com relação aos critérios de restrição à capacidade plena. Os dispositivos do Estatuto a seguir transcritos, in verbis, demonstram o primeiro dos segmentos acima indicados: Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. O art. 114 do EPD incorporou uma revogação parcial no Código Civil/2002 da seguinte forma: Código Civil/2002: Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Os menores de 16 (dezesseis) anos: critério etário (idade) devem ser representados por seus pais ou, na falta deles, por tutores. São chamados também de menores impúberes. O legislador entende que, devido a essa pouca idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento para distinguir o que pode ou não fazer. Dado o seu desenvolvimento intelectual incompleto, poderia ser facilmente influenciável por outrem. Alguém já viu uma criança de 10 anos comprando pães na mercearia do bairro? Pergunta-se: é um ato válido? Para alguns autores, rigorosamente, seria um ato nulo. No entanto, tem por fundamento o princípio da preservação ou manutenção, da boa-fé objetiva, bem como o pequeno valor, levando-se em consideração a sua vontade na situação concreta, torna-se socialmente aceita, sendo o ato válido com produção dos efeitos. A doutrina chama de “ato-fato jurídico”, salvo se o representante da criança proibir expressamente junto ao vendedor. Vale lembrar que, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a distinção é peculiar de criança e adolescente: DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 18 de 36 Art. 2º, ECA - Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. O EPD retirou da incapacidade absoluta as seguintes situações: 1) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil: as pessoas que, por motivo de ordem patológica ou acidental, congênita ou adquirida, não estavam em condições de reger sua própria pessoa ou administrar seus bens, com abrangência das pessoas que têm desequilíbrio mental (exemplo: demência, paranoia, psicopatas). A senilidade ou senectude (idade avançada, velhice), por si só, não é causa de restrição da capacidade de fato/exercício. Essas pessoas (em tese) poderão praticar todos os atos da vida civil. No entanto, poderá haver interdição (curatela) se a velhice originar de um estado patológico, como a arteriosclerose, hipótese em que a incapacidade resulta do estado psíquico e não da velhice propriamente dita, passando a ser relativamente incapaz, não mais poderá ser, em nenhuma hipótese, absolutamente incapaz por ausência de dispositivo legal. 2) Os que, mesmo por causa transitória, não puderam exprimir sua vontade: trata-se de uma expressão muito abrangente. Tratava-se da representação que supria a incapacidade da pessoa e os negócios podiam ser realizados normalmente. Era uma hipótese de incapacidade absoluta que passou a ser relativamente incapaz. Incluía o surdo-mudo que não pudesse manifestar sua vontade. RELATIVAMENTE INCAPAZES: Tais sujeitos de direito não são totalmente privados da capacidade de fato, em razão de não vigorarem as mesmas razões predominantes dos absolutamente incapazes, que, por circunstâncias pessoais ou de uma imperfeita razão psíquica, encontram-se num termo médio entre a incapacidade e o livre exercício de direitos, tornando-os incapazes relativamente à prática de certos atos ou modo de exercê-los (CAIO MÁRIO). A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos. O efeito da violação desta norma é gerar a anulabilidade do ato jurídico, dependendo da iniciativa do prejudicado. Há hipóteses em que, mesmo sendo praticado sem assistência, pode o ato ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. O que importa na análise é se teve ou não prejuízo ao relativamente incapaz. Com o EPD assim ficou estabelecida a INCAPACIDADE RELATIVA no CC/2002: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. (grifos) DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 19 de 36 Nesse diapasão, com as alterações realizadas somente restou uma situação jurídica de absolutamente incapaz (quando a pessoa não realiza o ato – representação), ou seja, quando a pessoa tiver menos de 16 (dezesseis) anos, com exclusão de qualquer outra situação. Em assim sendo, as pessoas com deficiência foram enquadradas como relativamente incapazes (pratica o ato acompanhada de seu assistente), quando por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade, não mais tendo a possibilidade de inserção como absolutamente incapazes. CURATELA: Para que seja declarada a incapacidade RELATIVA é necessário um processo de interdição: CURATELA, como medida excepcional, com afetação tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial (art. 85, do EPD). Isto é, mantém o portador de transtorno mental o controle sobre os aspectos existenciais da sua vida (direito ao próprio corpo, sexualidade, matrimônio, privacidade, educação, saúde), assim, a curatela é medida tomada em benefício do portador de transtorno mental, sem que lhe sejam impostas restrições indevidas. Estão sujeitos a curatela: aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; os ébrios habituais e os viciados em tóxico; e os pródigos. Considerandoque se tornou uma medida excepcional, o legislador restringiu quem poderá promover (via judicial) a curatela: a própria pessoa e o Ministério Público somente nos casos de deficiência mental ou intelectual (arts. 1768 e 1769, I, CC). O Código de Processo Civil/2015 apresenta parâmetros ao magistrado para que estabeleça os limites da curatela, especificamente em seus artigos 751 e 75310, os quais indicam que o mesmo, em seu convencimento, quanto à capacidade para os atos da vida civil, desse modo, permanece no sistema legal a necessidade de análise judicial quanto ao grau de discernimento. Esta expressão do discernimento era adotada no Código Civil nos artigos 3° e 4°, pois não mais viável classificar a pessoa com deficiência na condição de absolutamente incapaz, porém pela publicidade da decisão os efeitos dos atos podem ser restringidos, com base no art. 75511, deste diploma processual civil. 10 Art. 751. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as perguntas e respostas. Art. 753. Decorrido o prazo previsto no art. 752, o juiz determinará a produção de prova pericial para avaliação da capacidade do interditando para praticar atos da vida civil. 11 Art. 755. Na sentença que decretar a interdição, o juiz: [...] § 3o A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local, 1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que o interdito poderá praticar autonomamente. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 20 de 36 Percebe-se que a pessoa com deficiência poderá, como qualquer outra pessoa, praticar negócios jurídicos (contratar e casar), com destaque para a declaração de vontade e as suas qualidades descritas, bem como o agente capaz e legitimado para o ato, agora confirmado pelo EPD como regra, para que decorra a produção dos efeitos jurídicos esperado e desejados, assim como se deve atender aos princípios da preservação (manter o negócio jurídico) e da boa-fé objetiva (honestidade, lealdade) para que não decorra em prejuízos às partes envolvidas. É perceptível que a pessoa com deficiência possui plena capacidade para os atos da vida civil, dentre eles, a realização de negócios jurídicos (existência e validade12), com os mesmos direitos e limitações impostas para toda e qualquer pessoa indistintamente. Para enfatizar nosso estudo: são relativamente incapazes (art. 4º do CC): 1) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos: afirma a doutrina que a sua pouca experiência e insuficiente desenvolvimento intelectual não lhes possibilitam a plena participação na vida civil. Os menores, entre 16 e 18 anos, somente poderão praticar certos atos mediante assistência de seus responsáveis legais, sob pena de anulação. No entanto há atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistência: casar aos 16 anos, necessitando apenas de autorização de seus pais; fazer testamento; servir como testemunha em atos jurídicos, inclusive em testamento; requerer registro de seu nascimento. Importante: o menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente se declarou maior. Isto é previsto no artigo 180, do CC. Exemplo: num contrato um rapaz de 17 anos se passou por maior de 18 anos e assumiu determinada obrigação. Depois, para não cumprir esta obrigação, alegou ser menor e revelou sua idade verdadeira. Pelo Código Civil não poderá fugir desta obrigação, pois conscientemente declarou-se maior. Lembrem-se do brocardo (expressão): ninguém poderá, para se eximir de uma obrigação, alegar sua própria torpeza. 2) Ébrios habituais, os viciados em tóxicos: deve haver também processo de interdição. Neste processo, se ficar constatado que a pessoa, em decorrência de seu problema (álcool, substâncias entorpecentes), não poder mais exprimir totalmente a sua vontade, poderá ser declarada a sua incapacidade relativa a certos atos da sua vida civil. Ou seja, a dependência por álcool ou drogas faz com que a pessoa seja considerada relativamente incapaz. No entanto se o grau de dependência atingir níveis excepcionais (alto grau), essa pessoa NÃO MAIS poderá ser considerada “absolutamente incapaz”, situação amparada antes do EPD e que ainda poderão advir consequências indesejadas para tais pessoas. 12 O Código Civil/2002 disciplinou em seu art. 104 os elementos de existência e os requisitos de validade quando à validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. Será estudado durante o semestre. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 21 de 36 3) Aqueles que, mesmo por causa transitória, não puderam exprimir sua vontade: trata-se de algo muito abrangente. Tratava-se da representação que supria a incapacidade absoluta da pessoa. Era uma hipótese de incapacidade absoluta e agora uma situação de incapacidade relativa. Ou seja, mudança significativa proporcionada pelo EPD. 4) Pródigos: são os que dilapidam, dissipam os seus bens ou seu patrimônio, fazendo gastos excessivos e anormais. Trata-se de um desvio de personalidade e não de alienação mental. Devem ser interditados e, em seguida, nomeia-se um curador para cuidar de seus bens. Ficam privados, exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimônio. O pródigo interditado não pode (sem assistência): emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, agir em juízo, etc. Todavia, pode: exercer atos de mera administração, exercer profissão, casar. No entanto se houver necessidade de pacto antenupcial haverá assistência do curador, pois o ato nupcial pode envolver disposição de bens. No seguinte exemplo de capacidade e incapacidade: uma pessoa plenamente capaz foi atropelada e levada para o hospital. Por causa do acidente teve traumatismo craniano e teve que ser realizada uma cirurgia. Com isso ficou vários meses no hospital, impossibilitada de praticar os atos da vida civil. Durante todo esse tempo tinha aluguéis para receber, contas para pagar, contratos para assinar, e vários outros procedimentos de ordem jurídica. Pergunta-se: quem irá fazer tudo isso? Requer-se ao Juiz (curatela por meio da interdição – medida excepcional) a incapacidade RELATIVA de forma temporária, até que esta pessoa se restabeleça e tenha capacidade para exercer os atos da vida civil em seu próprio nome. Enquanto não puder realizar os atos, o Juiz nomeia um curador para assisti-la, até que ela esteja plenamente restabelecida. Assim, ter-se-á uma pessoa relativamente incapaz sem realizar qualquer ato, pois está impossibilitado (critério de enfermidade) e o seu assistente realizará sozinho o ato jurídico. Quanto aos indígenas, o parágrafo únicodo art. 4°, CC, determina que sua capacidade será regulada por legislação especial. São regulados por lei especial (Lei 6.001/73 - Estatuto do Índio). O órgão que deve assisti-los é a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A lei estabelece que os negócios praticados entre um índio e uma pessoa estranha à comunidade, sem a assistência da FUNAI é nulo (e não anulável). No entanto prevê que o negócio pode ser considerado válido se o silvícola revelar consciência do ato praticado e o mesmo não for prejudicial. Para a emancipação do índio exige-se: idade mínima de 21 anos, conhecimento da língua portuguesa, habilitação para DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 22 de 36 o exercício de atividade útil, razoável conhecimento dos usos e costumes da comunhão nacional e liberação por decisão judicial. Confira o que dispõe o art. 8º do Estatuto do Índio: Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos. MAIORIDADE: O Código Civil estabelece que a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos: Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. É similar quando se afirma que: “a maioridade ocorre aos 18 (dezoito) anos de idade”. Por consequência, a pessoa fica habilitada para os atos da vida civil: capacidade de direito ou de gozo mais a capacidade de exercício ou de fato proporcionam a capacidade plena (geral) para os atos da vida civil. CAPACIDADE PLENA: cessa a incapacidade ao desaparecerem as causas que a determinaram. Assim, se uma pessoa é alcoólatra (ébrio habitual) ou viciado em tóxico, ou, se por uma causa transitória ela não puder exprimir sua vontade (art. 4°, II e III, CC: relativamente incapaz) e se essa causa desaparecer, cessará a incapacidade, voltando ela a ter capacidade plena pelo restabelecimento da capacidade de fato ou de exercício. Em relação à menoridade, a incapacidade cessa no exato dia em que a pessoa completa 18 anos (art. 5°, caput, CC). Neste momento o indivíduo passará a gerir sozinho todos os atos da sua vida civil, bem como, poderá ser responsabilizado civilmente pelos danos causados a alguém. Cessação da Incapacidade: a) maioridade (18 anos); b) cessação das causas de incapacidade; c) emancipação. EMANCIPAÇÃO: Emancipação ou antecipação dos efeitos da maioridade é a aquisição da capacidade plena antes dos 18 anos, habilitando o indivíduo aos atos da vida civil. O menor de idade (menor 18 anos), se for emancipado será considerado plenamente capaz para efeitos civis (embora continue a ser menor de idade). A emancipação é irrevogável e definitiva. A emancipação poderá ser: DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 23 de 36 a) Voluntária; b) Judicial; c) Legal. Emancipação voluntária ocorre pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o menor haja completado dezesseis anos (art. 5º., parágrafo único, I, primeira parte, CC). Mesmo com a emancipação os pais podem ser responsabilizados pelos danos causados pelo filho que emanciparam. Esse é o entendimento mais razoável, para que a vítima não fique sem qualquer ressarcimento. É um ato próprio dos pais, desnecessária a anuência do menor para o ato. Também não é necessário que o Ministério Público seja ouvido e nem que haja homologação judicial. A escritura de emancipação deve ser registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais (art. 9°, II, CC), sob pena de ineficácia perante terceiros. Emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, se o menor contar com dezesseis anos completos (art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte, CC). O TUTOR NÃO PODE EMANCIPAR O MENOR!!!!!!!!!!!!!!!!!! Temos ainda quando um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando a vontade do outro; há um conflito de vontade entre os pais quanto à emancipação do filho. Emancipação legal: 1ª hipótese “o casamento” (art. 5º, parágrafo único, II, CC): com o matrimônio, portanto, antecipam a plena capacidade jurídica, mesmo que venham a se separar ou a se divorciar depois. Um dado relevante a ser destacado é que, segundo o Código Civil, excepcionalmente, será permitida a convolação de núpcias por aquele que ainda não alcançou a idade mínima legal (art. 1.520, CC), em caso de gravidez ou para evitar a imposição ou o cumprimento de pena criminal. A idade núbil é de 16 anos para as pessoas (art. 1.517, CC). O divórcio, a viuvez e mesmo a anulação do casamento não implicam no retorno à incapacidade. O casamento nulo pode fazer com que se retorne à situação de incapaz. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 24 de 36 Mas ainda assim, se o casamento for contraído de boa-fé o ato produzirá efeitos de um casamento válido e a pessoa continuará emancipada para os efeitos civis. Somente em casos excepcionais admite-se o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (16 anos). Exemplo: gravidez (art. 1.520, CC). Digamos que uma jovem de 15 anos engravidou de seu namorado que tem 18 anos. Eles querem se casar. Mas a jovem ainda não tem a idade núbil. Neste caso exige-se uma sentença judicial de suprimento de idade. UNIÃO ESTÁVEL: consiste em (convivência pública, contínua e duradoura entre pessoas e estabelecida com o objetivo de constituição de família), apesar de ser reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar e merecer proteção do Estado e ser equiparada ao casamento em diversos diplomas legais, não é considerada hipótese de emancipação legal. No entanto, é uma questão polêmica desde o momento que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a igualdade entre casamento e união estável. A idade nupcial (ou idade núbil) do homem e da mulher é de 16 anos. Ou seja, com essa idade as pessoas já podem se casar. No entanto o art. 1.511 CC exige a autorização de ambos os pais, enquanto não atingida a maioridade. Caso os pais não consintam com o casamento, ou em havendo divergência entre eles, quando a razão para a negativa do casamento for injusta, a autorização poderá ser suprida pelo Juiz. Observa-se que não é plausível que a pessoa continue incapaz, mesmo depois de casada. QUESTIONAMENTO INTERESSANTE: Uma pessoa se casa com 16 anos. Um ano depois, acaba matando seu cônjuge. Ela vai responder criminalmente? Resposta – a emancipação só diz respeito aos efeitos civis. Portanto, para o Direito Penal essa pessoa continua menor (e, portanto, considerada inimputável), ficando sujeita não ao Código Penal, mas ao Estatuto da Criança e Adolescente. Outra questão: uma pessoa menor se casou. Tornou-se, portanto, capaz. Logo a seguir se divorcia. O divórcio faz com que a pessoa retorne ao estado de incapaz? Resposta – pela nossa Lei, NÃO! Isto é, uma vez alcançada a emancipação, esta não pode ser mais cancelada, a não ser em casos especialíssimos: casamento nulo. 2ª Hipótese “exercício de emprego público efetivo” (art. 5º, parágrafo único, III, CC), embora dificilmente a lei admita o provimento efetivo em cargo ou empregopúblico antes dos 18 anos. Na prática há pouca aplicação deste dispositivo, pois os editais de concursos públicos exigem que o candidato tenha, no mínimo, 18 anos completo e, nesse caso, ele já seria capaz pela idade. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 25 de 36 3ª Hipótese “colação de grau em curso de ensino superior” é causa legal de emancipação (art. 5º, parágrafo único, IV, CC). Situação também de dificílima ocorrência, para os menores de 18 anos. 4ª Hipótese “o estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria” (art. 5º, parágrafo único, V, CC). Interessante é a questão do menor com dezesseis anos completos emancipado por força de uma relação de emprego OU por si só. Nesse caso, entende-se que, ainda que venha a ser demitido, não retorna à situação de incapacidade, em respeito ao princípio da segurança jurídica. Na prática há uma grande dificuldade para se provar essa “economia própria”. Exemplo: pessoa que com 16 anos já é um artista, expondo obras em galerias mediante remuneração; jogador de futebol ou artista de televisão profissional, etc. Em razão da dificuldade prática os pais costumam simplesmente emancipar o menor, com base no inciso I, do art. 5°, CC. REGISTRO e AVERBAÇÃO (9° e 10, CC) O registro é o meio técnico de prova legal do estado da pessoa (registro das pessoas) ou da situação dos bens (registro imobiliário). O registro civil é a instituição que tem por objetivo imediato a publicidade dos fatos de interesse das pessoas e da sociedade. Sua função é dar autenticidade, segurança e eficácia aos fatos jurídicos de maior relevância para a vida e aos sujeitos de direito. Serve para preservar eventual direito de terceiros; para que estes saibam com quem estão se relacionando (se a pessoa é solteira ou casada; se está submetida à curatela, etc.). Na realidade, o registro das pessoas naturais é um resumo de toda nossa vida, espelhando os fatos jurídicos relativos à vida em sua dinâmica. Segundo o art. 9°, CC devem ser registrados no Registro Público: · Nascimentos, casamentos e óbitos. · Emancipação por outorga dos pais ou por sentença do Juiz. · Interdição por incapacidade absoluta ou relativa. · Sentença declaratória de ausência e de morte presumida. A lei também prevê a AVERBAÇÃO de outros fatos importantes no Registro Público. Trata-se do art. 10, CC. Lembrando que averbação, nestes casos, apenas esclarece alguma eventual modificação ou complemento no estado de uma pessoa. Vejamos as hipóteses: · Sentenças que decretam a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal. · Atos judiciais ou extrajudiciais que declaram ou reconhecem a filiação. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 26 de 36 Exemplo: Duas pessoas se casam. Pelo art. 9°, CC deve ser lavrado o registro, ou seja, a certidão de casamento. Posteriormente estas pessoas se divorciam. Pelo art. 10, CC esta situação deve ser averbada no próprio registro de casamento, pois modifica o registro anterior. Como regra o registro é o ato principal (INICIAL) e a averbação representa um ato secundário (POSTERIOR) que modificou o principal. EXTINÇÃO (FIM) DA PESSOA NATURAL: A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6º do CC). Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima (exemplo: dissolução do vínculo matrimonial, relação de parentesco). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial), como exceção são transmitidos aos seus sucessores. Exemplo: “A” contrai uma obrigação de pagar alguém por um serviço realizado; antes do pagamento da quantia “A” morre: esta obrigação será transmitida com a morte (deixa de ser sujeito de direitos), ou seja, os sucessores (herdeiros) de “A” devem saldar a dívida, se o falecido (de cujus) tiver deixado bens suficientes para quitar a dívida. Observação: o patrimônio da pessoa falecida (o conjunto de bens por ela deixado - casa, carro, dinheiro, ações, créditos, etc) que deverá suportar o pagamento das dívidas por eles deixadas, sem obrigação dos herdeiros de retirarem de seu próprio patrimônio (chama-se força da herança13), salvo se por vontade deles (obrigação natural/moral)14. Assim determina o Art. 1.792, do Código Civil: O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados. MARIA HELENA DINIZ observa que “a noção comum de morte tem sido a ocorrência de parada cardíaca prolongada e a ausência de respiração, ou seja, a cessação total e permanente das funções vitais, mas, para efeito de transplante, tem a lei considerado a morte encefálica, mesmo que os demais órgãos estejam em pleno funcionamento, ainda que ativados por drogas” (“O Estado Atual do Biodireito”, São Paulo: Saraiva, 2001, págs. 266-267). 13 Código de Processo Civil (CPC - Art. 796): O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube. 14 Consignação em folha de pagamento (crédito consignado): (Lei n. 1.46/50) - Art. 16. Ocorrido o falecimento do consignante, ficará extinta a dívida do empréstimo feito mediante simples garantia da consignação em fôlha. Contratos de financiamento: depende do contrato com ou sem previsão de seguro por morte. Obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros: art. 1.700, CC: Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694. DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL PROFESSOR Msc.: ERIVERTON RESENDE MONTE DATA: 06.03.2017 (2017.1) Página 27 de 36 ESPÉCIES/MODALIDADES: REAL / CIVIL / PRESUMIDA15 Morte Real – A personalidade termina com a morte física (real), deixando de ser sujeito de direitos e obrigações. A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural, com ou sem o corpo. A regra geral é que se prova a morte pela certidão extraída do assento de óbito, sendo que para isso é necessário um corpo. Conforme a Lei n. 9.434/97 (Lei de Transplantes) trata como requisito a morte encefálica: Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. A morte real direta ocorre com a comprovação do óbito, mediante exame do corpo e expedição de atestado de óbito de atribuição dos médicos. A Lei n. 6.015/73 prevê que, na falta de médico, pode ser lavrada a certidão de óbito se presenciado por duas testemunhas: Art. 78. Nenhum enterramento será feito sem certidão de oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado do médico, se houver no lugar, ou, em caso contrário, de duas pessoas qualificadas, que tiverem presenciado ou verificado a morte. Na falta do corpo, recorre-se aos meios indiretos de morte real (também chamada de justificação judicial de morte real). Isto está disciplinado no artigo 88 da
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