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Estudo de caso dos Vinhos Bettú

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12 
1 APRESENTAÇÃO 
O presente trabalho apresenta o estudo de caso dos Vinhos Bettú, localizado no 
município de Garibaldi – Nordeste do Rio Grande do Sul. Através de pesquisas históricas e 
entrevista com Vilmar Bettú foi realizado este estudo, que certamente agregará ainda mais 
valor à história de nossa vitivinicultura. 
 Estes vinhos, de autoria de Vilmar Bettú, alcançaram notoriedade nacional por suas 
características singulares, principalmente em função da filosofia de trabalho deste 
vinhateiro, Professor e Engenheiro Mecânico. 
O engajamento deste enófilo e sua incessante busca em elaborar vinhos cada vez 
melhores, atrai a curiosidade e admiração de muitos, e este trabalho é uma pequena 
contribuição, como forma de testemunho, com o intuito de registrar esta história que é 
pioneira e que certamente ainda terá um longo trajeto a ser percorrido. 
As dificuldades físicas existentes se tornam minúsculas quando comparadas às 
mentais, principalmente no que diz respeito às mudanças de comportamento, e esta é uma 
das maiores dificuldades encontradas pelos que elaboram vinhos com uvas de terceiros. 
Os vinhos nacionais estão conquistando o reconhecimento merecido no cenário 
mundial e existe uma forte tendência de surgimento de vinícolas butiques, ou dos chamados 
vinhos de garagem, pois a quantidade não ocupa o mesmo posto de outrora, e é a qualidade 
que atrai os paladares mais apurados. 
E Vilmar Bettú está ciente disto. 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
2 INTRODUÇÃO 
O setor vitivinícola nacional, localizado no sul do país, tem como principal distinção 
histórica, a supremacia da produção e do provimento do mercado brasileiro de vinhos. 
Mesmo tendo se alicerçado em vinhos de mesa, produzidos a partir de cultivares 
americanas e híbridas, que ainda hoje representam cerca de 80% do volume total de vinhos 
produzidos no país, mais recentemente, especialmente a partir da década de 80, começaram a 
ocorrer investimentos no setor vitivinícola, com a implantação e a modernização das 
vinícolas, motivados por um mercado interno com potencial para o consumo de vinhos finos 
com padrão internacional e de maior valor agregado. Esse mercado, entretanto, seguindo uma 
tendência mundial, assimilou e passou a exigir novos referenciais de qualidade. A ampla 
oferta de produtos importados também contribuiu para esta nova postura do consumidor. 
O objetivo geral deste trabalho é abordar os aspectos da história da cultura vitivinícola 
no mundo e no Brasil, especialmente na região Nordeste do Rio Grande do Sul, onde se 
encontra nosso objeto de estudo: os Vinhos Bettú. O objetivo específico deste estudo de caso 
é descrever o trabalho singular de Vilmar Bettú em sua vinícola e em seus parreirais, 
contextualizando-o no cenário nacional. 
O presente estudo esta dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo tem como 
referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo, 
e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O segundo capítulo 
aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no 
Brasil. O terceiro capítulo, por sua vez, retrata a expansão da vitivinicultura no Rio Grande do 
Sul, enquanto que o último capítulo tem como objetivo principal do trabalho de pesquisa a 
história do surgimento dos Vinhos Bettú. 
 
 
 14 
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 
A metodologia, segundo Dencker (2004), é o estudo do método da pesquisa. Deste 
modo, utiliza-se o Método Histórico, partindo do princípio de que a forma de vida social 
atual, as instituições e os costumes têm origem no passado, logo, é de suma importância 
identificar suas raízes, para compreender sua natureza e função. 
Enquanto método é possível investigar os fatos, os acontecimentos, os processos e 
instituições do passado, facilitando a análise e compreensão destes fenômenos, principalmente 
acerca de seu desenvolvimento, possibilitando também averiguar modificações, variações e 
relações entre sociedades diferentes. Logo, o método histórico completa as lacunas dos fatos e 
acontecimentos, alicerçando-se em um tempo, e garantindo a percepção da continuidade e do 
entrelaçamento dos fenômenos passados e atuais (MARCONI; LAKATOS 2003). 
Enquanto técnica de pesquisa o presente trabalho fundamenta-se em obras de distintos 
autores, entrevista com o Sr. Vilmar Bettú e conhecimentos adquiridos no decorrer do curso 
de Enologia. 
O alicerce da metodologia histórica, de acordo com Fagherazzi (2007), é a própria 
reflexão dos acontecimentos históricos, com o intuito de compreendê-los e poder modificá-
los. Baseia-se nas obras humanas, no passado e nas suas relações com o presente. 
A presente pesquisa teve o propósito de obter informações em diferentes fontes, como 
a pesquisa em documentos oficiais, políticas de governo, dados estatísticos, documentos 
históricos, publicações em jornais, revistas, folhetos, sites, livros, fotografias, organizações 
privadas, organizações não governamentais, associações, entrevista, entre outros. Em suma, 
nas mais diferentes fontes de pesquisa que podem subsidiar a compreensão da trajetória da 
história da viticultura na região sul do Brasil e, especificamente na Vinhos Bettú. 
 15 
4 BREVE HISTÓRICO DA VITIVINICULTURA MUNDIAL 
Neste capítulo encontra-se a história da vitivinicultura, enfatizando o papel dos 
pioneiros no processo de disseminação da cultura da uva e do consumo do vinho pelo mundo. 
4.1 Origem da videira 
Inúmeras Eras se sucederam na formação do planeta Terra. Algumas delas têm ligação 
estreita com a história e surgimento da videira. Com a consolidação da crosta terrestre, na Era 
Arqueozóica, boa parte do solo brasileiro se formou. As temperaturas eram bastante elevadas, 
não possibilitando o desenvolvimento de seres vivo. Com o resfriamento gradual da crosta 
terrestre, várias Eras se passaram, como a Proterozóica, a Paleozóica, a Mesozóica, e por fim, 
a Cenozóica em que as condições já possibilitavam o surgimento da vida, pois já havia calor 
no Equador, frio nos pólos e as estações do ano já eram percebidas. A Era Cenozóica 
aconteceu há cerca de 100 milhões de anos atrás, e divide-se em dois períodos, o Terciário e o 
Quaternário. No período Terciário a vida já estava presente na terra, no mar e no ar. 
Segundo Manfrói (2004), a videira surgiu aproximadamente há cem milhões de anos. 
Portanto, quando o ser humano apareceu sobre a Terra, há três milhões de anos, a videira 
selvagem já dominava seu habitat, enfeitava as copas das árvores, crescia ao longo dos rios ou 
em pedras, com suas formas, troncos, folhas, cores e frutos. Sendo assim, a videira tem sua 
origem no Período Terciário da Era Cenozóica. 
O ser humano surgiu no Quaternário dessa mesma Era Cenozóica, e nos primeiros 
passos de sua evolução, utilizava o fruto da videira na sua alimentação. Este fato é 
comprovado por achados arqueológicos, onde sementes de uva apareciam junto com os 
vestígios de populações pré-históricas. 
Phillips (2005) e Giovannini (2005) afirmam que os fósseis mais antigos das ancestrais 
das videiras são provenientes da Groenlândia, de onde foram se alastrando para regiões mais 
meridionais, seguindo duas direções: uma Américo-Asiática e a outra Euro-Asiática. No 
roteiro Euro-asiático encontramos a Vitis sezannesnsis considerada como a Vitis tercearia 
mais importante, pois é a ancestral da evolução para a Vitis vinifera. 
 16 
No final do Período Quaternário, as vitis já estavam presentes em grande número com 
dois subgêneros: o Euvitis e o Muscadinea. Nessa época, sobreveio a glaciação, ou seja, o 
período Glacial em que a terra ficou quase totalmente coberta de gelo. As videiras foram 
atingidas por esse flagelo, restando apenas três focos de sobrevivência; um americano, um 
europeu e um asiático-ocidental. 
O focoamericano originou as atuais espécies Vitis labrusca, Vitis rupestris, Vitis 
berlandieri, entre outras. O foco europeu, abrangendo as áreas mediterrâneas francesas e 
italianas, até a península balcânica, originou uma única espécie: a Vitis vinifera silvestris. 
O foco asiático-ocidental, localizado entre o mar Cáspio e o mar Negro, deu origem às 
Vitis vinifera Caucásicas. Essa região corresponde exatamente à região citada na Bíblia onde 
Noé, após o dilúvio, plantou e cultivou a primeira videira. 
Videiras silvestres cresciam em várias regiões do Hemisfério Norte, especialmente na 
Eurásia, na América do Norte e na Ásia. Indícios arqueológicos e botânicos sugerem 
fortemente que as videiras foram cultivadas pela primeira vez no Oriente Médio antes de 4000 
a.C.. Outros estudos apontam a possibilidade de ter iniciado o cultivo até por volta de 6000 
a.C., tendo sido encontrados indícios na Geórgia. O homem só pode ter iniciado o cultivo de 
videiras no período neolítico, quando passou a criar animais, e não só caçar animais 
selvagens, e cultivar alimentos. 
 
Embora houvesse uvas silvestres em muitas partes da Europa e do oeste da Ásia, 
os primeiros vestígios surgiram numa região bem delimitada do Crescente Fértil: 
as encostas do Cáucaso entre o mar Negro e o mar Cáspio, as montanhas Tauros da 
Turquia e a parte norte das montanhas Zagros no oeste do Irã. (PHILLIPS, 2005, p. 
30). 
 
 
 
O mesmo autor destaca que não devemos confundir a origem da videira com a origem 
da viticultura. A videira é anterior ao homem. A viticultura é uma decorrência da evolução da 
civilização do homem. Muitos milhões de anos separaram uma da outra. 
 17 
4.2 Difusão da vitivinicultura no mundo 
Os primeiros produtores de vinho da Idade da Pedra podem ter colhido as uvas 
selvagens, as amassado, deixado o sumo e os resíduos da uva fermentar em pequenos sulcos 
nas rochas e bebido antes que o líquido azedasse. Com o passar do tempo, o ser humano foi 
evoluindo e a intervenção do homem para a elaboração do vinho aumentou progressivamente. 
As uvas eram cultivadas e as variedades mais adequadas eram selecionadas e fermentadas. 
(PHILLIPS, 2005). 
A influência humana sempre esteve muito ligada à cultura do vinho: 
A ação do homem está presente na elaboração do vinho que bebemos hoje como 
nunca esteve na história e a garrafa de vinho que compramos é o resultado de uma 
série de decisões. Muitas decisões dizem respeito à viticultura: onde plantar, que 
variedades de uva escolher, a distância entre as videiras, como deve ser guiadas e 
podadas, como podem ser irrigadas e adubadas, quando colher a uva, com máquina 
ou manual. Resumindo: cultivar uvas para vinho é um processo complexo no qual 
o viticultor deve pensar antes de tomar a decisão. (PHILLIPS, 2005, p.18). 
As origens do vinho são nebulosas como devem ter sido as primeiras safras. É muito 
difícil saber quem foi o primeiro que permitiu que o sumo fermentasse até se tornar vinho, 
também nunca saberemos quem foi o primeiro que colheu os grãos de trigo e assou o primeiro 
pão. (PACHECO, 2006; PHILLIPS, 2005). 
Vestígios de vinho foram encontrados em jarras de barro ou outros tipos de vasos que 
continham evidências de que foram usados para guardar vinho: restos de uvas - sementes, ou 
manchas e resíduos de vinho. Tais vestígios foram encontrados em vários lugares do Oriente 
Médio que datam do período neolítico, que se estendeu de 8500 a 4000 a.C. 
 A prova mais consistente da descoberta das origens do vinho foi obtida em vários 
sítios arqueológicos na montanha Zagros, no que é hoje o Irã. Os mais antigos achados desse 
período são seis jarras de nove litros enterradas no piso de uma construção de tijolos de 
barro que data de 5400 a 5000 a.C., a noroeste das montanhas Zagros. Os vasos não 
continham apenas resíduos de vinho, mas também sedimentos de resina, usada como 
conservante de vinho no passado por sua capacidade de matar algumas bactérias. Vários 
tampões de argila foram encontrados próximo às jarras, o que se entende que a bebida pode 
ter sido até protegida do contato do ar. 
 18 
 A teoria do vinho foi limitada a um só lugar, sendo muitas vezes chamada de 
“hipótese de Noé,” por causa do relato de Noé e o vinho presentes no primeiro livro do 
Antigo Testamento. O livro faz curiosa sugestão de que a viticultura e a produção de vinhos 
começaram no Monte Ararat, onde a Arca de Noé atracou depois que as águas do dilúvio 
refluíram. Segundo a descrição bíblica do gênese do vinho, Noé foi o primeiro viticultor e o 
pioneiro produtor da bebida. (PACHECO, 2006). 
 Da Ásia menor, a viticultura propagou-se para a Síria, Egito e Grécia. No 
Egito as uvas eram cultivadas por reis, sacerdotes e importantes autoridades. Raramente o 
cultivo se dava em vinhedos, pois eles preferiam os jardins maiores e as videiras eram 
plantadas normalmente no centro das plantações, com o propósito de ficarem protegidas do 
vento por outras árvores mais altas a sua volta. A viticultura ganha maior desenvolvimento 
no Egito, no período final da colonização grega, quando o cultivo da uva passou a cobrir 
uma extensão de terras bem maior. (PHILLIPS, 2005). 
Segundo Phillips (2005), o vinho também se tornou importante símbolo de conceitos 
fundamentais, como a morte e a ressurreição, e passou a representar o sangue de algumas 
divindades em religiões tão diversas quanto as do Antigo Egito e do cristianismo. As 
videiras também ficaram associadas a um grupo de crenças religiosas e, quando essas 
crenças se expandiram no mundo, se disseminou, inicialmente com propósitos religiosos e, 
mais tarde, para satisfazer o desejo do povo. 
Uma das mais freqüentes associações é ao mistério da morte e ressurreição - 
enigma que acabou sendo representado pela própria videira. As videiras parecem 
morrer no inverno, quando suas folhas caem e o tronco seca; o “renascimento” das 
videiras acontece [...] na primavera. Em muitas pinturas egípcias, a videira 
simboliza a ressurreição [...]. (PHILLIPS, 2005, p.52). 
 O mesmo autor cita que este povo relacionava também o vinho à fertilidade, uma 
causa talvez um pouco mais “cortesã”: 
O vinho tem a capacidade de relaxar as convenções e as travas sociais, facilitando 
a interação das pessoas, incluindo as relações sexuais. A ligação entre vinho e 
sexo, uma conexão tanto celebrada quanto deplorada há milênios, deu origem à 
associação do vinho com a fertilidade. (PHILLIPS, 2005, p.52). 
 
 19 
O vinho passa a ser um instrumento de várias religiões no mundo antigo, era usado 
freqüentemente em libações. Também foi muito usado em nome de um deus específico, 
derramando-o durante uma oração em agradecimento a um presente recebido por este. 
As técnicas de viticultura, segundo Phillips (2005), são transferidas do Egito para 
Creta, baseadas na lenda do deus do vinho para os gregos. Após o nascimento de Dionísio, 
Zeus decide salvar o filho, enviando-o ao Egito. É lá que Dionísio conhece a arte da 
vinicultura, com a qual se identifica. 
De acordo com Novakoski e Freitas (2003), foram os mais antigos habitantes da 
Península Ibérica, os tartessos, que iniciaram a cultura das videiras para fabricação, consumo 
e comercialização de vinhos, nos vales do rio Tejo e Sado, há aproximadamente 4.500 anos. 
Os tartessos, possuidores de um conhecimento tecnológico avançado para a época, realizavam 
negociações comerciais com outros povos, utilizando o vinho como moeda de troca. Muitos 
séculos depois, foram dominados pelos fenícios, que além de notáveis comerciantes, eram 
especialistas em técnicas de navegação. 
Conforme Johnson (1989), foi na Grécia que a viticultura ganhou desenvolvimento e 
passou a integrar os seus costumes, religião, história e tradições. Da Grécia foi levada para 
todos os cantos do mar Mediterrâneo pelos fenícios, mercadores e aventureiros, que 
difundindo os famososvinhos gregos, introduziram também a cultura da videira. 
A Itália foi a região que mais aceitou e cultivou a videira, há cerca de 2000 a.C. 
Entretanto, essa cultura só começou a ganhar proporções maiores em 400 a.C. Nesta época, 
Plínio já catalogava 91 variedades de videiras e 40 tipos de vinho. 
Johnson (1989) e Phillips (2005) descrevem que, em Roma, as uvas eram colhidas o 
mais tardar possível, por este motivo, inúmeras vezes eram deixadas secar ao sol para poder 
desidratar e concentrar o açúcar. Os romanos inventaram a prensa e utilizaram barricas de 
madeira para armazenar o vinho, e assim melhor conservá-lo. Também tornaram o vinho uma 
marca própria, uma forma de impor seus costumes e sua cultura. Expandiram o hábito de 
cultivar e beber vinho em todo o seu vasto império. Transformaram o vinho no principal 
produto do Império Romano e foram responsáveis pela fundação de grandes regiões vinícolas 
no mundo, até hoje famosas, principalmente na Itália, França e Alemanha. 
 20 
Da Itália, as legiões romanas, nas suas conquistas, disseminaram a videira pela 
Europa. Nessa época, em todo Continente, se bebia vinho romano que era trazido pelos toscos 
caminhos de terra ou pelo mar. O interesse pelo vinho, conseqüentemente, trouxe o cultivo da 
videira. Vinhedos foram sendo formados por toda a Europa. Variedades foram se adaptando 
aos climas mais frios, e assim, a arte de cultivar a uva se propaga e se fixa na França, Suíça, 
Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal, que foi o último a ser conquistado pela viticultura, 
cerca de 100 a. C.. A partir desta época, começou a ensaiar a sua viticultura, que mais tarde se 
caracterizou por desenvolver variedades e técnicas próprias de cultivo, elaborando vinhos e 
aguardentes. Quando Portugal começou a se projetar como país de grandes navegantes e 
colonizadores, levou com suas expedições a videira, disseminando-a pelas terras que 
conquistava, entre elas, a Ilha da Madeira, onde foi introduzida a viticultura e, rapidamente, aí 
se desenvolveu, produzindo vinhos que eram muito disputados na Inglaterra (JOHNSON, 
1989). 
Saindo da Idade das Trevas, que se seguiu à queda do Império Romana, entramos na 
Idade Média. De acordo com os autores Novakoski e Freitas (2003), foi a partir das 
expedições colonizadoras que as videiras européias chegaram a outros continentes. Na 
América, Cristóvão Colombo introduz as primeiras videiras na sua segunda viagem às 
Antilhas, em 1493, e mais tarde as videiras se espalham para o México e os Estados Unidos, 
chegando às colônias espanholas da América do Sul, em especial Chile e a Argentina. 
Na Europa, os padres desenvolveram os vinhedos e a técnica de elaborar os vinhos foi 
aprimorada. O vinho passa a ser símbolo da liturgia, uma bebida sagrada para os cristãos. Foi 
muito consumido em festas de casamento e esta forte relação entre a Igreja e o vinho mantém-
se até os dias atuais. 
Na Idade Moderna, além de inspirar grandes artistas, o vinho passa a acompanhar os 
alimentos, nascendo assim a enogastronomia. Surge a garrafa de vidro e a rolha de cortiça. 
Louis Pasteur torna-se o pai da Enologia. Nesta mesma época aparecem o espumante e os 
vinhos licorosos. Pertence ao século XVII a criação da maior parte dos vinhos que hoje 
consideramos clássicos (NOVAKOSKI; FREITAS, 2003). 
 21 
MacNeil (2003) cita que, no final do século XIX, a filoxera* espalhou-se por toda a 
Europa, destruindo todos os vinhedos. Da Europa, esta praga se deslocou por todo o mundo, 
matando vinhedos na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e América. Na década de 1860, 
videiras nativas da América foram enviadas para a França, a fim de serem utilizadas para 
experiências. A filoxera entrou neste país de carona nas raízes destas plantas. Em duas 
décadas, a maioria dos vinhedos da Europa fora destruídos. Existe um pequeno consolo nessa 
história, os vinhedos foram replantados com variedades, clones e bacelos adequados a cada 
local. 
No século XX, a difusão do vinho intensificou-se com a utilização de modernos 
equipamentos e novas tecnologias, como o cruzamento genético de diferentes cepas de uvas e 
o desenvolvimento de leveduras selecionadas geneticamente, controle de temperatura, entre 
outros, permitindo assim que se produzisse vinho em todos os continentes.. Para os 
produtores, o vinho é feito no vinhedo, o que significa que a qualidade do vinho vem da uva 
da qual ele é feito. 
De acordo com estatísticas fornecidas pelo Office Inernational de la Vigne et du Vin 
(Escritório Internacional da Uva e do Vinho - OIV), verificou-se que, nos últimos quinze 
anos, a produção e o consumo de vinhos reduziu. Segundo as autoridades internacionais 
ligadas ao setor vitivínicola, embora o consumo esteja em declínio, o consumidor está em 
busca de maior qualidade, pois o que reduziu foi a elaboração de vinhos comuns. Em 
compensação, aumentou a elaboração de vinhos finos. As mesmas estatísticas apontam os 
fatores que contribuíram para a diminuição do consumo de vinhos, se destacam, por exemplo: 
o desconhecimento da bebida pelos jovens, o alto preço do produto (altas taxas 
administrativas e alíquotas de impostos) e a falta de campanhas publicitárias e educativas 
sobre os benefícios da bebida. 
 
 
 
*
 Filoxera é um pequeno inseto altamente destrutivo que ataca as raízes das videiras destruindo-as aos poucos. 
Recentemente, este ataque está sendo observado em folhas de Vitis vinifera. Videiras americanas nativas, como 
as pertencentes às espécies Vitis labrusca ou Vitis riparia, toleram esse inseto, sem conseqüências adversas. No 
inicio, denominada Phylloxera vastatrix (a devastadora), hoje identificada como o inseto Dactylasphaera 
vitifoliae. 
 
 22 
5 A VITIVINICULTURA NO BRASIL 
De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), embora o Brasil tenha sido descoberto 
em 1500, somente em 1532, com a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, que 
trazia agricultores da Ilha da Madeira e dos Açores, homens com tradições vitícolas, é que a 
videira foi trazida ao Brasil. 
Com a intenção de colonizar a nova colônia, conhecida como Terra de Santa Cruz, 
formando povoados, surgiu a necessidade de desenvolver uma agricultura de subsistência. 
Assim davam-se condições à cultura da videira, que foi trazida junto a animais, sementes e 
outras árvores frutíferas. 
São Vicente é fundado nessa época e, conseqüentemente, a agricultura brasileira e, 
com ela, a introdução da videira. Quando chega Dom Martim Afonso de Souza, enviado por 
Dom João III, Rei de Portugal que traz da Ilha da Madeira as primeiras vinhas. Brás Cubas, 
donatário de vastas terras cultiváveis, mandou trazer do Porto (Portugal) seus irmãos e seu 
pai, em 1540, e nas terras infecundas de Jeribatiba, na serra de Piratininga, na modesta Vila de 
São Paulo dos Campos, cultivou seus vinhedos, que já estavam em franca produção em 1551, 
dando origem aos vinhos que supriam a falta do produto português, conforme comprova o 
Inventário dos Bens, documento guardado no Convento do Carmo na cidade de Santos no 
Estado de São Paulo. 
A vitivinicultura brasileira iniciou após 32 anos do descobrimento do Brasil. Podemos 
dizer que estes primeiros vinhos brasileiros foram elaborados brancos originários de uvas 
Malvasia, provenientes do Douro ou de Verdelho, uma das mais cultivadas na Ilha da Madeira 
ou ainda da Galego de Alentejo; os tintos com a casta Bastardo, Tinta e Alvaralho 
provenientes da Ilha Madeira e do Douro. As referências históricas enumeram ainda 
variedades como Ferraes, Boaes, Bastardo e Dedo de Dama, como as uvas mais destacadas. 
Também é de procedência portuguesa o registro de 1542, referente à plantação de 
vinhedos em Pernambuco, e de 1549, na Bahia, no litoral do Nordeste do Brasil, com castas 
Ferral, Moscatel e Dedo de Dama, muito usadas na elaboração de vinhos.23 
A descoberta de ouro, em Minas Gerais, foi um desastre para a agricultura em geral. A 
“febre do ouro” esvaziou a região agrícola. Todos queriam minerar e enriquecer rapidamente. 
Tempos mais tarde, com a decadência das minas, a agricultura começou a renascer, mas com 
outros objetivos. 
A cana-de-açúcar, algodão e o café eram as prioridades. Santos (1998) comenta sobre 
a facilidade de importar vinhos. Isso fez com que a viticultura não fosse importante e, no ano 
de 1785, Dona Maria I, por meio de um documento proibiu o cultivo da videira e a elaboração 
de vinhos no Brasil, para não prejudicar a produção vinícola portuguesa. Esse “alvará” só foi 
revogado em 1808 por Dom João VI. 
Mesmo depois dessa revogação, a viticultura não marcou presença entre as culturas 
agrícolas do Brasil. O fracasso das variedades viníferas não se limitou apenas ao Brasil. Na 
América do Norte também essas culturas não tiveram sucesso, então os Estados Unidos se 
voltaram para variedades nativas que produziam mais e com muito menos trabalho. Tal foi o 
sucesso das variedades americanas que o mundo inteiro passou a se interessar por elas. 
Reforçam Albuquerque, Souza e Oliveira (1987) que, tanto a Bahia quanto 
Pernambuco, apresentavam irretorquível documentação de existência da viticultura desde o 
Século XVI. Onde consta que o ponto de partida do cultivo das videiras foi introduzido pela 
expedição colonizadora vinda de Portugal e hábil para introduzir, nas novas terras, bacelos e 
povoadores pioneiros. A primeira expedição capacitada foi a de Duarte Coelho que deu inicio, 
em 1535, ao povoado de Pernambuco estabelecendo seu primeiro núcleo em Mirim, hoje 
Olinda, onde as primeiras vinhas foram plantadas no nordeste brasileiro (ALBUQUERQUE; 
SOUZA; OLIVEIRA, 1987). 
Os mesmos autores também reforçam que, em 1542, desembarcou na Ilha de 
Itamaracá o capitão João Gonçalves, com a incumbência de retomar a administração. 
Em sua atuação fomentou a lavoura, importou mudas e sementes e, acrescenta o 
autor, “o cultivo da cana, da vinha, do tabaco e do algodão generalizou-se na ilha e 
logo foi se estendendo pelo continente fronteiriço”. (ALBUQUERQUE; SOUZA; 
OLIVEIRA, 1987, p.01). 
Na Bahia, pode-se admitir o cultivo da parreira antes de 1549, como se verifica no 
exame das cartas escritas, mais precisamente na Carta V, Informações da Terra Brasil, escrita 
em 1549 na Bahia, por Nóbrega (1931, apud ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987), 
nas quais relata que a produção de uvas chega a duas vezes por ano, quando não atacadas 
 24 
pelas formigas. Souza (1938) confirma que a principal árvore é a videira, quanto mais a 
podam, mais fruto produz. 
O mesmo autor cita ainda, que na Bahia, em toda época do ano, há uvas que 
amadurecem e são muito doces, e é possível encontrar em uma só videira, braços com uvas 
maduras e outros com a fruta em flor. 
Os cultivares, plantados na Bahia e Pernambuco, eram todos de Vitis vinifera, as 
mesmas castas trazidas pelos primeiros portugueses, que fizeram vir da Ilha da Madeira ao 
tempo das primeiras viagens, vale destacar as Malvasias, Moscatéis, Dedo de Dama, entre 
outras. Estas variedades já davam celebridade ao vinho da Madeira ao tempo das viagens 
colonizadoras para o Brasil (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987). 
De acordo com Philips (2005), estudos arqueológicos atuais, realizados por Oldemar 
Blasi e Igor Chmyz, comprovam a existência de uma viticultura com raízes espanholas, nas 
margens do rio Paraná, mais precisamente na fundação da cidade Real de Guairá, no ano de 
1557. Esta cidade foi colonizada por espanhóis que entraram por Buenos Aires. 
Esta viticultura, em terras paranaenses, dura até 1631 quando sua população foi 
aniquilada por Raposo Tavares. O missionário jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, foi 
precursor e pioneiro da viticultura no extremo sul do Brasil no ano de 1626. Graças a sua ação 
de catequizar os autóctones, funda a Redução Cristã de São Nicolau, na margem esquerda do 
rio Uruguai, introduzindo ferramentas e mudas de videiras de origem espanholas, via Buenos 
Aires. Após a morte do jesuíta Roque Gonzáles, pelos índios Caparaós, os catequizadores da 
Companhia de Jesus prosseguem a obra de expansão, fundando os Sete Povos das Missões, 
onde cultivaram diversas lavouras, inclusive as videiras de origem européia, além de 
fabricarem doces, conservas, roupas, pão e vinho, como relata os escritos do padre Luiz 
Gonzaga Jaeges (1939). Os Sete Povos das Missões, considerados a cunha da viticultura sul-
rio-grandense, terminaram como ruínas históricas por obra de dominadores espanhóis e 
portugueses. 
Uma segunda introdução vitícola portuguesa no Nordeste do Brasil surge na Ilha de 
Itamaracá com vinhedos constituídos por castas Ferral, Moscatel e Dedo de Dama e, desde 
então, se difunde no continente, inclusive merecendo incentivos oficiais durante a dominação 
holandesa, iniciada em 1647. 
 25 
Vale relembrar que no período colonial a vitivinicultura não chegou a ter importância 
econômica, e a videira se manteve como uma planta de cultivo mais doméstico. 
A imigração italiana no Brasil se iniciou aos poucos, no ano de 1820, principalmente 
em São Paulo, crescendo até o final do século XIX. Muito ligados à viticultura, devido a 
tradição e vocação, os imigrantes italianos, trouxeram a videira para ser cultivada em suas 
terras. Provavelmente, trouxeram espécies de Vitis vinifera que, ou secaram, devido a 
travessia, ou não chegaram a crescer e se desenvolver como o esperado, devido às 
enfermidades e pragas já introduzidas anteriormente com as variedades americanas. 
Com o passar do tempo, os imigrantes italianos, e/ou seus descendentes, levaram as 
videiras para o Rio Grande do Sul e promoveram sua expansão geográfica rumo ao norte, 
implantando centros vitivinícolas em Santa Catarina, no Vale do Rio do Peixe; no Paraná, em 
União da Vitória, Curitiba e Londrina alcançando, recentemente, as regiões do sul - médio: 
São Francisco (Juazeiro, Irecê e Curaça/ Bahia e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Casa 
Nova/ Pernambuco), e do Centro-Oeste do Brasil. 
O século XIX foi importante na contribuição da viticultura do sul do Brasil, 
principalmente pela contribuição dos imigrantes europeus. A partir de 1824, os imigrantes 
alemães chegaram ao Rio Grande do Sul, sendo que muitos eram conhecedores e apreciadores 
de vinho e tornaram-se em propagadores do cultivo de videiras nos municípios de São 
Lourenço do Sul e São Leopoldo. 
Também se deve aos agricultores das colônias alemãs de São Francisco do Sul e 
Joinvile, em Santa Catarina, a expansão da viticultura entre 1850 e 1870, no Vale do Rio 
Negro e, mais tarde, para o norte, até Curitiba – Paraná, e para o sul, até Blumenau - Santa 
Catarina, com sarmentos de Isabel, procedente do Rio Grande do Sul. 
A imigração de origem francesa também esteve associada à expansão da viticultura 
sul-brasileira. Em 1865, se estabeleceram nos arredores de Curitiba cem agricultores franceses 
chegados da Argélia, formando os primeiros grupos de viticultores com interesses comerciais 
no Paraná. No Rio Grande do Sul os franceses foram notórios desde 1880, difundindo a 
viticultura em Pelotas onde foram formados vinhedos com 340 mil cepas de Isabel, Concord e 
Barbera na região de Santo Antônio. 
 26 
Com a segunda imigração italiana, em 1875, ao Rio Grande do Sul, iniciou uma nova 
realidade na história da vitivinicultura brasileira, com o cultivo da parreira na Encosta 
superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, denominada hoje Serra Gaúcha. 
Segundo dados da OIV, o Brasil tem se situado nos últimos anos entre os 20 maiores 
produtores de vinho do mundo. O consumo é ainda reduzido, cada brasileiro consome cerca 
de 2 litros de vinho por ano - bem pouco, se forem levadas em consideração a superfície e a 
população do país. Nos últimos anos tem havido um grandeavanço no consumo, devido 
principalmente à melhora da qualidade do vinho nacional. (MACNEIL, 2004). 
Com o aumento dos investimentos em pesquisa e a conquista do mercado externo fez 
do Brasil , em 1995, membro da Organização Mundial do Vinho (OMV), órgão que regula as 
normas internacionais de cultivo e produção do vinho. 
5.1 Variedades americanas chegam ao Brasil 
Na primeira metade do século XIX, com o fracasso da Vitis vinifera, inicia na América 
do Norte a formação de vinhedos com videiras nativas, rústicas e produtivas, em primeiro 
lugar com a Alexandre ou Cape, em 1801, seguida pela Isabella em 1861; pela “Catawba”, em 
1823, e por muitas outras que rapidamente se disseminaram pelo mundo. 
De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), no Brasil a primeira variedade 
americana introduzida foi a Isabella, uma Vitis labrusca, que aqui foi chamada de Isabel. 
No Rio Grande do Sul, graças à rápida aclimatação da Isabel e sua capacidade de 
produção e expansão, passa a ser conhecida como “uva nacional”. Mais tarde chegam outras 
Vitis labrusca, como a Concord, Catawba, Martha, Delaware e York Madeira; também 
algumas Vitis bourquina como Jacquez e Herbemont, e diversas Vitis aestivalis como Black 
July, Rulander, Clinton e Norton’s Virginia. Em 1894 Benedito Marengo introduz a Niágara 
Branca, que rapidamente se estendeu por todas as regiões brasileiras. Em 1933, no vinhedo do 
Sr. Antônio Carbonari, no município de Louveira, surge a Niágara Rosada, dada à cor rosada 
de suas bagas, sendo que, em menos de dez anos, é convertida na mais importante uva de 
mesa do Brasil. 
 27 
Entretanto, a falta de cultura vitivinícola de algumas regiões, ou a opção pelo cultivo 
de outras variedades agrícolas, tais como o café e a cana-de-açúcar, fez com que não tivesse 
êxito a produção de uvas no Brasil, cabendo ao Rio Grande do Sul o papel de desenvolver a 
cultura vitivinícola brasileira. 
Com o surgimento do míldio*, a história da viticultura brasileira sofre transformações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*
 Míldio: Doença causada pelo fungo Plasmopara viticola e que ataca a videira (frutas, ramos e folhas). 
 28 
6 A EXPANSÃO DA VITIVINICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL 
Sem dúvida, o nascimento da vitivinicultura na Província do Rio Grande de São Pedro 
(Rio Grande do Sul), ocorreu graças aos imigrantes açorianos que povoaram o litoral desde 
Rio Grande e Pelotas até Porto Alegre. No período compreendido entre 1732 e 1773, além das 
variedades de uvas já citadas anteriormente, introduzem as variedades Bastardo, Alvaralhão e 
Malvasia. Atribui-se a Manoel de Macedo Brum da Silveira, natural da Ilha do Pico, o título 
do primeiro vitivinicultor gaúcho, sendo que elaborou seus vinhos no município de Rio Pardo. 
Um decreto de D. João VI, datado de 11 de março de 1813, reconhece seu pioneirismo. 
(UBALDO, 1999). 
Em 1824 os imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul, muitos deles eram 
conhecedores e apreciadores de vinho que rapidamente difundem a vitivinicultura 
aproveitando as plantas existentes, ou melhor, a Isabel. 
A introdução de variedades americanas no Rio Grande do Sul, conforme Ubaldo 
(1999) deu-se em 1840, por José Marques Lisboa, que envia dos Estados Unidos da América 
mudas da variedade Isabel. As variedades Niágara e Concord são introduzidas na década 
seguinte por viticultores paulistas. 
O nascimento oficial da exploração vitivinícola, com caráter econômico-industrial, no 
Rio Grande do Sul, deu-se em 1870. Em 1890, o Liceu Riograndense de Agronomia e 
Veterinária de Pelotas, incluiu a cadeira de viticultura e enologia e, no mesmo ano, foi 
fundada a firma Scalzilli & Cia. Ltda, com adegas em Caxias do Sul e Bento Gonçalves e 
filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. (RODRIGUES, 1972). 
Uma publicação da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, no Jornal da 
Semana de 14/02/71, mostrava que no Estado existiam 1.120 estabelecimentos vinícolas e 329 
engarrafadores, representando 80% do total do vinho elaborado no país. 
Em 1873, a produção de vinho na província foi de 987 litros e, em 1880, já subia para 
63.160 litros elaborados com uvas híbridas, americanas e européias. (BRAMBATTI, 2002). 
 29 
Em 1889, no final do Império, ocorre a Primeira Exposição de Vinhos nacionais, 
juntamente com a Primeira Exposição Internacional do Açúcar, no Rio de janeiro. 
Concorreram ao certame, vinhos brancos e tintos, das províncias do Rio Grande do 
Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de Pernambuco, num 
total de 58 amostras. Todos foram analisados e comentados do ponto de vista organoléptico, 
sensorial. 
Como consta, a arte de elaborar bons vinhos no Rio Grande do Sul já era percebida 
no final do Brasil Império. A província do Rio Grande do Sul apresentou seis 
vinhos, um dos quais branco. Um deles tinto, Monte Bonito, 1882, de Pelotas, de 
uva “portuguesa”, mereceu a qualificação maior, com o comentário “não 
artificialmente adoçado” e considerado semelhante ao vinho da Borgonha. 
(SANTOS, 1998, p. 60). 
Em 21 de abril de 1899, foi inaugurada em Pelotas, pelo Governo do Rio Grande do 
Sul, a 1ª Exposição Agrícola do Estado, com uma presença expressiva de vinhos elaborados 
naquele município. 
Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País, com 54,2% do 
total, sendo que 90% da uva é transformada em vinhos, sucos e derivados. Isto mostra um 
aumento de área de cultivo em relação a 2006 em 12,09%, segundo levantamento do Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007). 
Segundo dados estatísticos da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA, 2010*), o 
Rio Grande do Sul vem aumentando a produção de uvas, e as viníferas, timidamente, 
conquistam seu espaço. (ANEXO 1) 
Um forte aliado que tem contribuído para o aumento do consumo do vinho é o seu 
benefício para a saúde. Além disto, muito se fala e se escreve sobre a harmonização dos 
vinhos com os cardápios da gastronomia. 
6.1 A vitivinicultura na Serra Gaúcha 
 O clima característico da Serra gaúcha é distinto do encontrado na maioria das outras 
regiões vitícolas mundiais, com verões temperados e úmidos, possibilitando o cultivo da 
 
*
 Disponível em www.uvibra.com.br. Acessado em 10/06/2010. 
 
 30 
videira. Esses fatores possibilitam a obtenção de vinhos brancos, tintos e espumantes, com 
uma tipicidade própria. 
A identidade cultural também se destaca a influência dos imigrantes italianos e seus 
descendentes. As casas centenárias de basalto ou de madeira fazem parte dessa identidade, 
bem como os capitéis, uma característica do apego religioso e o uso de plátanos e pedras para 
sustentação das videiras. 
Em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, conhecidas como “Pequena Itália” 
pode-se encontrar algumas das melhores vinícolas do Brasil, com bastante destaque para o 
Vale dos Vinhedos, situado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo 
do Sul e que em 2001, passa a ter a primeira Indicação Geográfica no Brasil, e que atualmente 
está em vias de conquistar a Denominação de Origem (D.O.). Este é um dos motivos que 
fazem com que a região do Vale dos Vinhedos seja considerada o maior pólo enoturístico do 
país. 
Assim, sendo a uva e o vinho produtos de atração turística em todos os lugares do 
mundo, o que não poderia ser diferente nesta região, esses autênticos produtos da cultura 
regional passaram a ser um dos principais ingredientes na atração dos turistas, que 
alavancaram a economia da região. 
Atualmente existem muitos outros municípios da Serra Gaúcha que produzem vinhos, 
como Antônio Prado, Cotiporã, Farroupilha, São Marcos, Guaporé, Nova Pádua, e outros 
mais. 
6.1.1 Bento GonçalvesA arte de elaborar vinhos inicia na metade da década de 1885, quando surgem uns dos 
primeiros estabelecimentos vinícolas na Colônia Dona Isabel. 
Augusto Pasquali & Irmãos- estabelecimento fundado em 1885, pelo imigrante 
italiano Alexandro Pasquali, elaborava vinhos e queijos, comercializados em todo o país. 
Chegou a produzir em 1925, 45.000 litros de vinho e 100.000 quilos de queijo. A indústria 
mantinha uma filial em São Paulo, denominada Nardon Cia. (DE PARIS, 2006, p. 112). 
 31 
A viticultura regional ganha grande impulso de desenvolvimento, iniciado na década 
de 1930, com Celeste Gobatto, técnico italiano, que ensina métodos de enxertia e traz para a 
região o enólogo “Paternó,” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas. 
Na Região Uva e Vinho a vitivinicultura moderniza-se com a fundação da Empresa 
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1972. Seu programa visa à geração de 
conhecimentos que permitam melhorias no processo de produção agropecuário. Trata-se de 
uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, possui autonomia 
administrativa e financeira. Sua unidade desenvolve pesquisa relacionada ao desenvolvimento 
da vitivinicultura através da implantação de novas tecnologias. Vem atuando de forma 
integrada e em parceria com produtores e instituições, tendo como meta viabilizar soluções 
tecnológicas para o desenvolvimento sustentável do agronegócio da vitivinicultura brasileira. 
 No ano de 1985 através da Deliberação 008/85, a EMBRAPA passa a se denominar 
Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho – CNPUV. É uma empresa pública, vinculada 
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e caracteriza-se por ser um dos 
centros de pesquisa mais modernos da América do Sul na área da vitivinicultura. Apresenta 
atualização constante e convênios de cooperação técnico-científica com a França. 
 No período de 1948 - 1955, Bento Gonçalves é muito bem representado na 
vitivinicultura, sendo que possuía uma das maiores áreas de parreiras do país, com uma 
produção anual de 25.900 toneladas de uvas. 
O desenvolvimento regional passa a se solidificar mais em 1959, quando o Ministério 
da Agricultura cria uma instituição de ensino profissionalizante, a Escola de Viticultura e 
Enologia de Bento Gonçalves. No entanto em 1967, a Escola passa a ser vinculada ao 
Ministério da Educação e Cultura – MEC. Em outubro de 1985, passa a denominar-se de 
Escola Agrotécnica Federal “Presidente Juscelino Kubitschek” de Bento Gonçalves. No ano 
de 2002, a Escola torna-se CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica, passando a ser 
uma pequena universidade federal, e atualmente é um IFRS – Instituto Federal de Educação, 
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul. 
Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste da Serra Gaúcha. Com 
altitude média de 618 metros, apresenta clima subtropical e quatro estações bem definidas. 
Possui uma área geográfica de 382,5 km² e uma população de 100.643 habitantes 
 32 
(PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES, 2007*). Esta situado a 115 km 
de Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de R$ 2.367.582,00 e sua Renda 
per capita de R$ 22.763,00 (dados de 2006). A base da economia é a indústria, com destaque 
ao setor moveleiro e vinícola. 
6.1.2 Caxias do Sul 
A ocupação por imigrantes italianos em sua maioria camponeses provenientes da 
região do Vêneto (Itália) deu-se a partir de 1875, localizando-se em Nova Milano. 
Embora tivessem ganhado auxílio do governo, através de ferramentas, alimentação e 
sementes, esse auxílio teve que ser reembolsado aos cofres públicos. 
Os Imigrantes eram agricultores, porém, muitos deles possuíam outras profissões. O 
cultivo da videira e a elaboração de vinho marcaram a evolução e a identidade de um povo 
que acreditou no trabalho. 
Num primeiro momento, este vinho era para consumo próprio e mais adiante para 
comercialização. A indústria vinícola na década de 60 chegou a ser a principal da região de 
colonização italiana. No interior nasciam as cantinas familiares e os parreirais ocupam os 
espaços destinados a outras culturas, na cidade expandiam-se as vinícolas. A qualidade do 
vinho era uma busca constante, surgiram as cooperativas, oferecendo alternativas 
protecionistas ao setor. Na década de 30, muitas cantinas coloniais foram incorporadas pelas 
grandes vinícolas, estas já possuíam um complexo de atividades: parreirais, tanoarias, 
vidraçarias e empalhamento de garrafões. Mesmo com dificuldades a produção de vinhos 
crescia significativamente. Nos anos 70, a vitivinicultura continuava a ocupar destaque na 
economia local, mas a tecnologia de produção permanecia estacionada e com poucos ou 
talvez sem recursos para novos investimentos, algumas vinícolas começam a enfraquecer e a 
mostrar sinais de falência. 
Na localidade de Vila Forqueta, no ano de 1929, foi fundada a primeira Cooperativa 
Vitivínicola da América Latina por um grupo de pequenas famílias em um momento de 
dificuldade em que o setor estava passando. Através da uva e do vinho, Caxias se notabilizou, 
 
*
 Disponível em www.bentogoncalves.rs.gov.br. Acessado em 16/05/2010. 
 33 
sendo o berço do turismo do Estado quando em 1931, lançava a maior festa do sul: a Festa da 
Uva. Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha e 
apresenta altitude média é de 760 a 800 metros. O clima é subtropical. Possui quatro estações 
bem definidas. Sua área geográfica é de 1.588,4 km² e conta com uma população de 412.053 
habitantes (2006). Esta situado a 130 km de Porto Alegre. Suas principais vias de acesso são 
a BR 116 e RST 122. Seu PIB é de 8,1 milhões (2004) e sua Renda per capita de R$ 
20.485,00 (2004). A base da economia é a indústria 50,01%; comércio e serviços, 38% e 
agropecuária 4,51%.* 
6.1.3 Flores da Cunha 
Segundo os historiadores, a colonização de Flores da Cunha começou em 1877, com a 
chegada das famílias vindas do Vêneto, Piemonte e Treviso.Em 1878, chegaram mais famílias 
de imigrante italianos vindos, principalmente, de Cremona e do Trento. 
Este município esta localizado na Encosta Superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A 
altitude média é de 710 metros, apresenta clima subtropical tipo serrano. Possui uma área 
geográfica de 253 km² e uma população de 23.678 habitantes (2000). Esta situado a 150 km 
de Porto Alegre. Sua economia é baseada na agricultura e indústria, atualmente detém o titulo 
de maior produtor de vinhos e de 2º maior produtor de uvas do país†. 
Em função da forte produção vitivinícola, é fundada, em 23 de janeiro de 2002, a 
Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes – APROMONTES, uma associação 
de doze vinícolas localizadas nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua. 
6.1.4 Garibaldi 
Em maio de 1870, o Presidente da Província do Rio Grande do Sul, Dr. João Sertório, 
desejando ampliar a área de colonização, criava as Colônias de Dona Isabel e Conde D’Eu, 
em terras devolutas do Planalto. 
 
*
 Dados do site www.caxiasdosul..rs.gov.br Acesso em 16/05/2010. 
†
 Dados do site www.floresdacunha.rs.gov.br . Acesso em 16/05/2010. 
 34 
Os imigrantes alemães, temendo os índios e feras, não chegaram a povoar estas terras. 
O mesmo aconteceu com os descendentes portugueses, estes não apreciavam esta região, 
devido ser pouco apropriada à criação de gado bovino. 
Em 1875, é aberta a Linha Colonial Figueira de Melo, ao longo da qual e da Estrada 
Geral estavam disseminadas 790 pessoas em 348 lotes demarcados. Destas pessoas, 48 eram 
francesas, sendo que o Presidente da Província, Dr. José Antônio de Azevedo Castro, 
anunciava terem sido mandadas para servirem de núcleo e 729 eram italianos que tinham 
vindo espontaneamente à Província,sem que seus nomes contassem nas listas de imigração. 
No fim de 1876, chegam novas levas de imigrantes italianos. 
Em 11 de outubro de 1890, o Governo do Estado desmembrava as colônias Conde 
D’Eu e Dona Isabel, do município de Montenegro, passando ambas a constituírem o 
município de Bento Gonçalves. 
Para desenvolver a vitivinicultura no município, Aurélio Porto*, promoveu a primeira 
Exposição de Uvas de Garibaldi, nos dias 24 a 26 de fevereiro de 1913, onde compareceram 
133 expositores de uvas, com 38 diferentes variedades, e 20 expositores de vinhos. Em 1914, 
realiza a segunda Exposição de Uvas, nos dias 12 a 15 de fevereiro, onde participaram 268 
expositores. (GIRONDI, 2007, p. 24; COSTA, 1999, p. 102). 
Pelo Decreto de 31 de Outubro de1900, foi desmembrado o território do Município e a 
ex-colônia Conde D’Eu passou à categoria de Município com a denominação de Garibaldi. 
“O sábio governo do Estado, sob a égide de um Júlio de Castilhos e de um Borges de 
Medeiros, ao declarar autônomo de Bento Gonçalves quis glorificar e imortalizar um se seus 
filhos na gloriosa epopéia de 1835, Garibaldi: ‘o herói dos dois mundos’.” (DE PARIS, 2005, 
p. 82). 
Os Irmãos Maristas fundaram a Vinícola Pindorama e plantaram parreirais de cepas 
européias e, em 1908, elaboram seus primeiros vinhos. No ano seguinte, seu primeiro 
 
*
 Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 – 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879, 
descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro. 
Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do 
Sul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e 
orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social, 
fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do 
Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25). 
 35 
espumante é elaborado. Vitório Espac, engenheiro prático, constrói as primeiras máquinas 
para auxiliar no processo dessa bebida, tanto na elaboração quanto no engarrafamento. 
A indústria vinícola, a partir de 1924, passa a formar a base da economia do 
município, com grandes vinícolas conhecidas em todo o país, tais como: a Cooperativa 
Garibaldi (a maior da América do Sul, no gênero, fundada em 1936), a Cooperativa 
Tamandaré, a Vinícola Armando Peterlongo (produtor do famoso champagne que leva seu 
nome), a Carraro - Brosina & Cia. (produtora dos vinhos Palácio), a Vinícola Riograndense e 
a Granja Santo Antônio (dos irmãos Maristas).* 
Garibaldi está localizada na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude 
média é de 613 metros. Apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas e possui 
uma área geográfica de 181,2 km² que abriga uma população de 29.709 habitantes. Seu PIB é 
de US$ 397 milhões (2006) e sua renda per capita de R$ 23.502,00 (2005). A base da 
economia é a indústria metalúrgica, moveleira, alimentícia e metalúrgica. (GARIBALDI, 
2008). 
6.1.5 Monte Belo 
O município de Monte Belo do Sul situa-se na região da Encosta Superior do Nordeste 
do Rio Grande do Sul, no contexto da Serra Gaúcha, a principal produtora de vinhos do 
Brasil. Seu território assim como o do município de Santa Tereza, integrou a área da Colônia 
Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves, sendo colonizado por imigrantes italianos, 
das regiões do Vêneto, Piemonte e da Lombardia, que chegaram a partir de 1876. 
O plantio de videiras iniciou-se por volta de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena 
produção de vinhos, elaborados nos porões das casas feitas de basalto. Nas primeiras três 
décadas do século XX, em toda a região de colonização italiana, a policultura vai 
desaparecendo gradativamente cedendo lugar à expansão da viticultura. Leis estaduais e 
federais promulgadas nas décadas de 1920/1930, especialmente relativas à higiene na 
elaboração de alimentos, centralizam a produção de vinhos em grandes vinícolas localizadas 
nas cidades, algumas das quais instalaram, posteriormente, centrais de recebimentos da 
colheita, o que dificultou o desenvolvimento de vinícolas locais. 
 
*
 Informações obtidas no Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi. 
 36 
O comércio local foi se desenvolvendo com o passar dos anos, como cita Razador 
(2005), a família Franzoni possuía casa de comércio, cantina de vinhos e licores (em 1913 já 
produzia 15.000 hl anuais), fábrica de queijos, salames e serraria e mulas para o transporte de 
mercadorias. Possuía filiais em Porto alegre e São Paulo. Em 1930, a família Scanzili 
construiu cantina de vinhos. 
O município, que serviu de cenário para gravação da novela da Globo Esperança 
(capítulos finais) e do filme Saneamento Básico, também é conhecido como o berço da 
vitivinicultura da Serra Gaúcha. Destacam-se na produção de cítricos, leite, 
hortifrutigranjeiros e agricultura de subsistência. 
Seguindo os passos do Vale dos Vinhedos e de Pinto Bandeira (distrito de Bento 
Gonçalves), Monte Belo do Sul busca a delimitação geográfica. Os avanços dos trabalhos 
desta futura Indicação Geográfica de seus vinhos e espumantes tendem a valorizar ainda mais 
a produção local de vinhos de qualidade, de origem controlada, que expressam a identidade da 
região. 
A área para a Indicação Geográfica Monte Belo do Sul, foi delimitada de modo a 
privilegiar a homogeneidade em termos de fatores como altitude, cuja média é de 691 metros, 
bem como a valorização da paisagem e a preservação ambiental, pela preservação da mata 
nativa que forma um cinturão em torno da área. Esta demarcação abrange parte dos 
municípios de Monte Belo do Sul (4.114,6 hectares), Santa Tereza (381,08 hectares) e Bento 
Gonçalves (553,48 hectares), totalizando 5.049,02 hectares. 
Onze vinícolas, reunidas desde 2003, fazem parte da área demarcada. São cultivados 
segundo dados do Cadastro Vitícola 2007, 2.450 hectares de videiras, sendo 800 delas de 
variedades de uvas finas. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2008). Este município esta localizado 
na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 691 metros, 
apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas. Apresenta uma área geográfica de 
70 km² e uma população de 2.879 habitantes (2007). Seu PIB é de R$ 64.497,00 e sua renda 
per capita de R$ 22.559,00. A base da economia é a agricultura, principalmente o cultivo da 
uva. A taxa de analfabetismo chega 0, 956% e a expectativa de vida aos 78 anos. (MONTE 
BELO DO SUL, 2007*). 
 
*
 Dados do site www.montebelodosul.rs.gov.br . Acesso em 16/05/2010. 
 37 
 
 
7 A HISTÓRIA DOS VINHOS BETTÚ 
Este capítulo aborda a história do surgimento dos Vinhos Bettú, desde a chegada da 
família Bettú ao Brasil, até os dias atuais. 
7.1 A chegada dos primeiros imigrantes 
De acordo com Bettú (2010) condições dos italianos que vieram para o Brasil no final 
do século XIX eram extremamente precárias. Eles não possuíam terras e por isto deviam 
pagar arrendamento das terras que cultivavam. O arrendamento era pago com parte da 
produção. As técnicas empregadas na agricultura na época e nesta região, norte da Itália, eram 
muito primitivas. Além disso, havia o esgotamento das terras. Essas condições tornavam a 
vida destes agricultores quase inviável. Era uma agricultura de subsistência que eliminava 
qualquer esperança de progresso. Moravam em construções rudimentares e na mesma 
construção era normal estarem acompanhados por animais domésticos para vencerem os 
rigores do inverno. Profissionalmente também tinham muitas restrições,pois a grande maioria 
eram agricultores. Uma das poucas condições que poderia ser considerada boa era morarem 
próximos de uma pequena vila. Além disso, tinham acesso ao vinho que eles próprios 
elaboravam. 
O problema social e econômico que estes agricultores eram para a Itália e a 
necessidade de colonizar regiões do Brasil. provocaram a emigração. 
Bettú (2010) afirma que a partida e a viajem foram dramáticas. O ato de deixar sua 
terra natal, seus amigos e parentes e pensar que talvez essa separação fosse definitiva, tudo 
isto somado à incerteza do que iriam encontrar na América, tornava o ato de partir um ato 
heróico. Este ato e a viajem foram uma seleção dos mais fortes. Só partiram os que tinham 
muita coragem e devido às péssimas condições da viagem, doentes e fracos pereceram. Antes 
de embarcar em Genova, este povo foi espoliado de todas as formas. Na época da emigração 
instalaram-se nas proximidades do porto de Genova toda sorte de exploradores, desde 
comerciantes que praticavam preços abusivos até os bandos de assaltantes que subornavam 
 38 
policiais para atuarem livremente. Esta situação fez com que quase ninguém chegasse ao 
Brasil com algum dinheiro obtido com a venda do pouco que possuíam na Itália. 
Os testes a que este povo foi submetido continuaram quando chegaram ao Brasil. 
Idioma diferente, falta de informações, dependência total dos outros, deslocamentos 
extremamente precários, alimentação e uma série de outros contratempos tornaram esta 
chegada não menos penosa do que a partida e a viagem, pelo contrário, os acontecimentos 
pareciam cada vez piores. 
Embora tivessem ocorrido mudanças extremas, entre a situação na Itália e a nova 
situação no Brasil, o sofrimento continuou. Os imigrantes receberam ajuda inicial do Estado 
brasileiro, mas tiveram que comprar a terra. O preço foi acessível e teve carência para iniciar 
o pagamento parcelado. Construíram, em mutirão, os primeiros casebres. Uma grande 
diferença foi o isolamento das famílias. Cada uma construiu sua casa na propriedade e por isto 
moravam longe uma das outras. Na Itália moravam num vilarejo todos próximos. Este 
isolamento e a saudade fez surgir a vontade de voltar. Isto era impossível, pois podiam 
receber passagem de volta somente viúvas e órfãos. 
Ao se estabelecerem em suas propriedades, obtiveram uma certa liberdade que não 
possuíam na Itália e com isto a esperança de novas conquistas nasceu intensa nas almas dos 
nossos antepassados. Tiveram que derrubar a mata, formar a primeiras roças, e também 
implantaram os primeiros parreirais. Foi muito trabalho. 
 Os primeiros anos foram de adaptação. O clima não era exatamente o mesmo. O 
trabalho duro e a cooperação permitiram o surgimento de pequenos núcleos. Alguns deles 
são as cidades que hoje conhecemos na região. A principal dificuldade existente junto aos 
imigrantes era a falta de infra-estrutura, incluindo: estradas, hospitais, e a precária formação 
de quem atuava como médico. Surgiram epidemias que causaram a morte de muitos 
imigrantes e de seus filhos brasileiros. Havia também muita dificuldade de comunicação 
entre os imigrantes e os brasileiros. Eram poucos os que falavam os dois idiomas. 
 Segundo Bettú (2010), não foi de maneira diferente que Pietro Bettú, acompanhado 
de uma mulher descrita como empregada no passaporte, e 4 filhos de outra mulher, que 
ficou na Itália, chegaram ao Brasil em 1886. Ele tinha 44 anos e seu único filho homem, avô 
de Vilmar Bettú, chamava-se Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú, e tinha então onze anos. 
 39 
Compraram a propriedade que ainda pertence ao Sr. Augusto Bettú, hoje com 94 anos de 
idade, um dos 14 filhos de Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú, sendo que 12 já estão mortos. 
 
 
 
Figura 1 – Deogini Rodolfo Ferdinando Bettú e família 
Fonte: Acervo da família Bettú. 
O registro da compra do lote está assinado por Manoel Peterlongo Filho, que era o 
topógrafo local em 1898. 
 40 
 
Figura 2 – Escritura do Lote 8 
Fonte: Acervo da família Bettú. 
7.2 Primeiras videiras cultivadas 
Bettú (2010) destaca que junto com os imigrantes vieram as cepas européias, as quais 
devido às condições não resistiam na região. Foi no contexto da descrição já feita que os 
Bettú implantaram os primeiros parreirais no município de Garibaldi, em um terreno cuja 
altitude média é de 500 metros . Um deles, com 117 anos de idade foi erguido em 1893 e está 
ainda produzindo com mais de 90 % das parreiras originais. A área deste parreiral é de 
aproximadamente 3000 metros quadrados com 15 fileiras (11 de Isabel e 4 eram de 
Peverella*). 
 
*
 Esta cultivar de origem italiana pertence ao grupo das Malvasias, e era também chamada de Malvasia di 
Vicenza, mas seu nome correto é Verdicchio. 
 41 
 
Figura 3 – Foto aérea do Lote 8 
Fonte: Acervo da família Bettú. 
Restaram apenas algumas variedades, como a Peverella por exemplo, das quais Vilmar 
Bettú teve a oportunidade de conhecer e que na década de 60 desapareceram. A uva era 
utilizada para elaborar vinho na propriedade, aonde também produziam a grappa. 
As principais viníferas trazidas pelos italianos foram: Barbera (bonarda), Peverella, 
Nebbiolo, Canaiolo, Moscato e Malvasia. 
A não adaptação das viníferas ao nosso solo e clima motivou a busca de cepas que 
melhor se adaptassem. A variedade que melhor se adaptou foi a Isabel, que foi encontrada 
entre os imigrantes alemães que vieram para o Brasil 50 anos antes. Esta variedade é nativa da 
Carolina do Sul, nos Estados Unidos e foi a principal responsável pelo desenvolvimento da 
vitivinicultura na Serra Gaúcha, em função de sua resistência às moléstias fúngicas e sua alta 
capacidade de produção (GIOVANNINI, 2005). 
Com o tempo foram surgindo as primeiras vinícolas. Antes disto os agricultores 
elaboravam seu próprio vinho. Em 1931 foi fundada a Cooperativa Vinícola Garibaldi Ltda. e 
Deonigi Rodolfo Ferdinando Bettú foi um dos sócios fundadores, passando a fornecer a maior 
parte de uva para ser vinificada pela cooperativa. 
 42 
Na década de 40 entra em cena Augusto Bettú, ampliando os parreirais e plantando 
viníferas, basicamente Malvasia e Trebbiano. Inicialmente fornecia as uvas para a Vinícola 
Armando Peterlongo e, mais tarde, associou-se à Cooperativa Garibaldi. Sempre, parte da uva 
era vinificada para o consumo familiar e outra parte destinada à comercialização. 
Segundo Bettú (2010), a produção individual das propriedades era pequena em função 
da falta de capital e condições materiais para a implantação de parreirais maiores. Ele 
menciona que no início, praticamente, não havia arame. As parreiras eram conduzidas pelo 
sistema latada, mas não com arame. O material de sustentação horizontal eram estacas obtidas 
da rachadura de grandes torras de pinheiro com aproximadamente cinco metros de 
comprimento e isentas de nós. Madeira perfeita que não existe mais. Com estas condições o 
preço pago pelas uvas era relativamente baixo. Concorria ainda para diminuir o preço a baixa 
qualidade de uva em função do excesso de uvas que as parreiras produziam devido à 
fertilidade do solo, inadequado para produção de uvas de melhor qualidade. 
Já com a implantação de um certo número de instalações vinícolas em boas condições, 
como a Peterlongo, Pindorama, Mônaco, Dreher, e diversas cooperativas como a Granja 
União, Antunes, Michelon e outras, Bettú (2010) destaca que houve um certo incremento das 
uvas viníferas, se destacando a Malvasia, a Peverella e a Barbera. 
Somente a Carraro Brosina, nos anos 50, elaborou 50 mil litros de Peverella e anos 
mais tarde a produção de Barbera era de aproximadamente 12 milhões de quilos. De acordo 
com Bettú (2010), a falta de mercado ocasionou a baixa dos preços das uvas viníferas e o 
conseqüente abandono de seu cultivo. Foi umperíodo de surgimento de grandes vinícolas em 
detrimento das pequenas. 
A própria legislação dificultava enormemente a criação de pequenas vinícolas. Esta 
situação levou o setor vitivinícola a uma certa decadência. O resultado foi a falência de várias 
delas e o comprometimento da maioria das cooperativas, provocando muitos prejuízos aos 
agricultores. Neste momento, houve o abandono desta atividade por muitos viticultores, 
buscando alternativas, tais como a criação de galinhas, de gado leiteiro, plantio de batatas e o 
cultivo de frutíferas. Outra mudança ocorrida com bastante significado foi a mudança para as 
cidades para estudar ou para exercer outra atividade. “O aumento das nossas cidades se deve 
muito às dificuldades enfrentadas pelos viticultores”(BETTÚ, 2010). 
 43 
Bettú (2010) destaca que foi nesta mesma época, pelos idos de 70, que se instalaram 
na Serra Gaúcha algumas das mais importantes empresas do mundo do ramo de bebidas. 
Estas multinacionais trouxeram novamente as viníferas, agora lideradas pelo Cabernet Franc, 
Merlot, Riesling Itálico e Semillón. Lona corrobora esta informação e acrescenta: 
[...],estas novas variedades que deram início aos primeiros vinhos “varietais”, ou 
seja, que declaram a uva no rótulo, exigiam novos sistemas de vinificação. Os 
vinhos brancos melhoraram muito devido ao fato de que, nesta época, se 
introduziram novos sistemas de prensagem de uvas, tais como prensas descontínuas 
Vaslin, da França, e as sofisticadas prensas pneumáticas Willmes, da Alemanha. 
(LONA, 1998, p.56). 
 Bettú (2010) prossegue, e lembra que houve uma retomada das atividades 
vitivinícolas. Os parreirais ficaram maiores, e as cantinas menores. Surgiram muitas pequenas 
vinícolas no interior com características familiares que se dedicaram exclusivamente na 
elaboração de vinhos de uvas americanas de péssima qualidade. 
Na década de 80 houve, através das multinacionais e cooperativas, a introdução de 
variedades com maior potencial, como as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling 
Renano, Gewurztraminer, e as tintas Cabernet Sauvignon, Tannat e Pinot Noir. Lona destaca 
que os vinhos tintos evoluíram mais em função das novas variedades do que pela tecnologia 
utilizada nos processos de elaboração, mas aos poucos foram ocorrendo mudanças nos 
sistemas de condução, na utilização dos porta-enxertos e tipos de poda. Somado a isto, os 
produtores perceberam que as madeiras locais utilizadas no envelhecimento dos vinhos tintos 
eram inadequadas, e decidiram investir em barricas de carvalho, que aportavam aos vinhos 
melhor qualidade. 
Bettú (2010) afirma que com o passar dos anos, várias multinacionais desistiram de 
seus projetos vitivinícolas, e isso somado ao fato da péssima qualidade dos vinhos em 
garrafão, fez ressurgir a crise no setor. Ele destaca que no final da década de 80, surgiram as 
pequenas vinícolas que se dedicaram à elaboração de vinhos a partir das uvas viníferas, e 
algumas delas, como por exemplo a Miolo, se destacaram no cenário nacional. Em 2010, esta 
vinícola comprou uma das últimas multinacionais que ainda estava instalada no Rio Grande 
do Sul, a Almadén. 
Na década de 90, com a invasão dos vinhos importados, os produtores perceberam que 
ficou muito difícil comercializar vinhos de qualidade inferior. Para Bettú (2010), este é o 
principal motivo de estarmos diante de safras cada vez melhores. 
 44 
7.3 A Bolsa de New York e os Bettú 
Bettú (2010) cita que um fato marcante relacionado às atividades vitivinícolas da 
família Bettú ocorreu em 1929/1930. Foi um ano de produção excessiva de uva e de péssima 
qualidade. O vinho elaborado com 40.000 kg de uva não apresentava as mínimas condições 
para ser bebido. Por isto não foi vendido e para não perdê-lo totalmente, foi destilado. A 
grappa obtida também não tinha comércio, eram os anos 30, de crise. Finalmente apareceu um 
negociante de cavalos que propôs a troca da grappa por um cavalo. A proposta foi aceita e três 
dias após o cavalo adoeceu e morreu. 
7.4 Nasce o Vinho Bettú 
 Uma nova fase teve início na década de 80, narra Bettú (2010). Um dos filhos de 
Augusto Bettú, Olavo Bettú, que havia se transferido para Porto Alegre, voltou a residir em 
Garibaldi, e junto com o irmão Orgalindo Bettú, plantou novas cepas, como a Cabernet 
Sauvignon, a Merlot, a Riesling, a Sauvignon Blanc e a Pinot Blanc. Aumentaram a área 
cultivada e se associaram à Cooperativa Aurora, sem nunca abandonar a elaboração de 
vinhos. Por este motivo, foram repreendidos severamente pelos dirigentes da cooperativa, 
Neste momento, aproximadamente 20 anos atrás, entra em cena Vilmar Bettú, inicialmente, 
para livrar os irmãos Orgalindo e o Olavo da enrascada com a Cooperativa Aurora, e nasce 
então o Vinho Bettú. 
Juntos, escolhem a razão social da empresa que passa a se chamar Orgalindo Bettú 
ME. Embora elaborassem vinhos finos, Bettú (2010) relata que a produção era em sua maior 
parte de vinho Isabel. Só no final da década de 90 a vinícola passa a elaborar vinhos finos, 
não mais como atividade comercial. No início da primeira década do século, os irmãos 
registram a Indústria e Comércio de Vinhos Reliquiae Vini Ltda., mas a projeção dos 
produtos ocorre com a marca Bettú, e por esta razão neste trabalho de conclusão a referida 
empresa é mencionada sempre como Vinhos Bettú. 
“Várias tentativas de elaborar vinhos Isabel de boa qualidade sempre esbarravam no 
preço aviltado dos vinhos de garrafão da época”, lamenta Bettú (2010). Os irmãos tentaram 
também vinhos viníferas bem elaborados, porém, sem o emprego dos conhecimentos técnicos 
aprofundados. Eram vinhos de boa qualidade, elaborados a partir de conhecimentos 
 45 
empíricos. Mesmo assim, eram vinhos que se destacaram entre os apreciadores de vinho. Mas 
o preço ainda era considerado um entrave. Não havia clientes dispostos a pagar o preço que os 
irmãos Bettú consideravam justo. 
As tentativas continuaram, até que Orgalindo iniciou o Curso Superior de Tecnologia 
em Viticultura e Enologia em Bento Gonçalves. Trabalhou na Cooperativa Aurora e se 
especializou na Borgonha e em Bordeaux, na França. A partir de toda uma história da família 
com mais derrotas do que vitórias, os irmãos Orgalindo e Vilmar decidiram juntar 
experiência, vontade, tecnologia e amor para elaborar vinhos somente a partir de uvas 
perfeitas, objetivando a melhor qualidade possível. Foi neste momento que Olavo desligou-se 
da parceria com os irmãos, e que Ivair Carraro, irmão da esposa de Vilmar, Salete Carraro 
Bettú uniu-se à sociedade dos Bettú. 
Os três sócios determinaram que o preço seria estipulado por eles e caso não 
encontrassem compradores, “não teriam suas vidas afetadas, a não ser o fígado, pois nenhum 
deles dependia da venda de Vinhos Bettú para viver”, brinca Bettú (2010). Orgalindo 
continuava trabalhando na Cooperativa Vinícola Aurora; Vilmar, que é Engenheiro Mecânico, 
atuava como professor de Física em Carlos Barbosa, enquanto Ivair trabalhava em outra 
vinícola no Vale dos Vinhedos, a Reserva da Cantina. Os três amigos decidiram que 
elaborariam menores quantidades, que já eram pequenas e seu destino seria para o próprio 
consumo. 
O texto do primeiro contra-rótulo que foi utilizado nos vinhos elaborados pelo trio era 
o seguinte: “Fazia muito frio na Serra Gaúcha, em 1990, no aconchego de uma velha casa 
construída por imigrantes italianos, três amigos: um era viticultor, um enólogo e o outro um 
enófilo, reunidos saboreavam pinhões acompanhados com ótimo vinho. No local, várias pipas 
centenárias sugeriam que fossem novamente ocupadas. O trio aceitou a sugestão e elaborou 
um vinho que impressionou a muitos por sua qualidade. A quantidade elaborada foi superior 
ao consumo, por isto, uma parte foi dedicada aos amantes do vinho, pois sabiam que neste 
fermentado de uva não havia conservantes, contudo, a dose de amore dedicação com que foi 
elaborado, o deixaram íntegro na sua constituição, transmitindo o caráter e a dedicação de 
quem o elaborou. É assim que deve ser; pois como já dizia Pasteur há muito tempo: “O vinho 
é a mais sã e higiênica de todas as bebidas” e, se através desta arte assim o for, o privilégio da 
degustação será exclusivo aos amantes do vinho.” 
 46 
 
Nesta época, a marca utilizada era Dal Castel, sobrenome da esposa de Ivair Carraro. 
Bettú (2010) afirma que escolheram este nome porque acreditaram ser forte, mas depois 
optaram por utilizar esta marca apenas no vinho Isabel, e passaram a adotar a marca Bettú 
para os demais vinhos. 
Mais adiante, também o contra-rótulo foi modificado, e passou a receber a assinatura 
de Vilmar Bettú, além de informações sobre a quantidade de garrafas disponíveis, graduação 
alcoólica, safra e tipo de vinho. A impressão destes novos contra-rótulos foi feita com base 
em um rótulo manuscrito, o que encanta os clientes pela simplicidade e originalidade. Bettú 
pretendeu com isto transmitir a idéia de vinho artesanal inclusive à embalagem. 
 
. 
Figura 4 – Rótulo dos Vinhos Bettú 
Fonte: Vinhos Bettú. 
Preocupado mais com o líquido que ocupa a garrafa do que com a garrafa em si, 
Vilmar utiliza para seus vinhos apenas um modelo de garrafa: a bordalesa. 
 47 
Atualmente Vilmar é quem cuida da elaboração dos Vinhos Bettú, mantendo a idéia 
original de preservar a qualidade dos vinhos com alto valor agregado. Orgalindo e Ivair 
optaram por dedicar-se ao trabalho em outras vinícolas, e não participam mais da sociedade. 
7.5 Vinhos diferenciados 
Mais recentemente iniciou o surgimento daquilo que chamamos de vinhos de butique 
ou vinhos de garagem. Bettú (2010) acredita que com a presença de grande número de 
pequenas e médias cantinas elaborando produtos satisfatórios e a presença de mini-vinícolas, 
tal como a Vinhos Bettú, que é pioneira, será possível a identificação de uma região vinícola. 
Vilmar é enfático ao afirmar que não faz questão de ter seus vinhos associados à idéia 
de vinhos de butique, ou de garagem. Ele prefere ser visto como um elaborador de vinhos sem 
modismos. 
7.6 A propriedade 
A vinícola, localizada no município de Garibaldi, foi mantida no porão da casa do pai 
de Vilmar, com o intuito de preservar as raízes da família. Divide-se em seis ambientes, sendo 
uma delas um local onde são armazenados os tanques de aço inoxidável, que é também onde 
são recebidas e pisadas as uvas; uma sala de degustações para 12 pessoas, uma sala para 
degustações para até seis pessoas, em meio às antigas pipas que hoje servem apenas de 
decoração; e um espaço para estocagem de vinhos envasados. 
Vilmar possui aproximadamente 1 hectare de videiras, importadas, na sua maioria, da 
África do Sul, França e Itália, com mais de 20 variedades cultivadas. Embora faça parcerias 
com produtores de uvas de outros locais, como Encruzilhada do Sul, Porto Alegre, Mariana 
Pimentel e Ipê, anualmente elabora aproximadamente cinco mil garrafas de vinho de 750mL, 
e dependendo da qualidade das uvas, a produção fica bem abaixo desta quantidade, como 
ocorreu neste ano. 
A utilização de diversas variedades teve a finalidade de descobrir as que melhor se 
adaptariam nas terras. Paralelo a isso, os enófilos adoram provar, e ele promete aos seus 
 48 
clientes um novo vinho a cada nova visita, criando assim o desejo nesses clientes de retornar à 
propriedade e degustar diferentes vinhos. Bettú comenta que um de seus clientes fez a 
seguinte declaração: “Conheço todas as regiões vinícolas importantes do mundo, já tomei 
muitos bons vinhos, mas nunca tantos no mesmo lugar” (BETTÚ, 2010). 
Variedades que, segundo Vilmar (2010), se adaptaram bem na propriedade: Merlot, 
Riesling, Tannat, Malbec, Nebbiolo e Cabernet Franc. As cultivares Pinot Noir, 
Gewurztraminer e Chardonnay são muito dependentes da podridão. 
Mas Vilmar destaca que não basta ter muitas variedades: é preciso muita dedicação 
para poder colher bons frutos. E é por isso que ele realiza a poda seca e, posteriormente, a 
verde, removendo o excesso de folhas que obstruem a passagem do sol. Além disto, remove 
também os ramos ladrões e suprime as extremidades dos ramos, no caso das videiras muito 
vigorosas. Outra prática adotada por Vilmar é o raleio de brotos e de cachos. O primeiro, visa 
o descarte dos ramos mal posicionados e ao mesmo tempo abre o dossel vegetativo. O 
segundo é praticado no momento da pinta, com o intuito de favorecer os cachos 
remanescentes.Vilmar mantém parreirais conduzidos em sistema latada e espaldeira, além de 
testar novos sistemas, na esperança de descobrir algo que melhor se adapte às uvas por ele 
cultivadas. A última experiência foi realizada em 2009, quando o inquieto vitivinicultor 
conduziu algumas fileiras de Sangiovese, numa espécie de cortina simples, mas sem 
entrelaçar os galhos da videira. Os resultados têm sido satisfatórios, mesmo que as duas 
últimas safras tenham sido bastante prejudicadas pelo excesso hídrico. 
 49 
 
Figura 5 – Parreiral de Sangiovese em sistema experimental 
Fonte: Vinhos Bettú. 
A vinícola possui tanques de aço inoxidável, barricas de carvalho novas e barricas de 
carvalho de diversos usos. Bettú (2010) utiliza um lagar de madeira para fazer a pisa das uvas, 
e para esta atividade conta com o auxílio da esposa e de suas duas filhas. 
 50 
 
Figura 6 – Lagar para pisagem das uvas 
Fonte: Vinhos Bettú. 
 
Este sistema é mantido principalmente porque tem apresentado bons resultados, e 
também porque a quantidade de uvas recebidas em uma safra é pequena, e permite que o 
processo seja realizado de forma suficientemente rápida, evitando a oxidação, e 
concomitantemente suave, não esmagando demais os engaços. 
A uva é sempre colhida na parte da manhã, e é transportada em caixas plásticas 
adequadas para este fim, com no máximo 13 kg, embora a capacidade de cada caixa seja de 
até 25 kg. Este padrão foi adotado por Vilmar (2010), a fim de garantir a integridade das 
bagas. Em seguida a uva é esmagada através da pisa, conforme foi detalhado acima, sendo os 
engaços separados posteriormente manualmente com o auxílio de uma peneira. Após as uvas 
são transportadas para os tanques de fermentação que possuem sistema de refrigeração, a fim 
de melhor controlar a temperatura nesta fase. O transporte de quantidades pequenas de vinho 
é realizado através de baldes, evitando oxigenar demais os vinhos. No caso de quantidades 
acima de 500 litros é utilizada uma bomba. Terminada a fermentação alcoólica o vinho é 
transportado para os tanques de aço inoxidável ou barricas de carvalho onde acontecerá a 
fermentação malolática. Após esta etapa o vinho é estocado em garrafões de 4,6 litros para 
 51 
envelhecer, e cada vinho é avaliado de tempos em tempos, a fim de decidir o momento ideal 
para ser comercializado. Também são feitas análises no decorrer das etapas, visando evitar 
qualquer falha. 
Os resíduos industriais, que são mínimos devido à pequena produção, são conduzidos 
a uma fossa, para compostagem, e posterior utilização como adubo nos parreirais. 
7.7 A filosofia 
A filosofia de Vilmar é manter a elaboração de pequenas quantidades de vinhos, 
utilizado somente uvas perfeitas, em recipientes de inox, de madeira perfeita ou de vidro, 
reduzindo ao máximo a possibilidade de haver qualquer tipo de contaminação. Ele elabora 
vinhos varietais e, somente quando estiverem maduros, faz os cortes entre eles. Aconselha a 
nunca por no mercado vinhos com defeito, pois é mais aconselhável fazer vinagre. E ele 
enfatiza: “Pode-se também dormir durante a safra, mas não normalmente. Fazer tudo na hora 
certa e bem feito e nunca tentar aproveitar uva ou vinho que possa estar comprometido por 
pequenos acidentes” (BETTÚ, 2010). 
O desafio de Vilmar é tentar elaborar

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