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Resumo da Eneida de Virgílio

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18
“ENEIDA” DE VIRGÍLIO
 
(RESUMO)
Autoria: PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS
LIVRO I
 Proêmio da “Eneida”. O poeta dirige a invocação às Musas:
“As armas canto e o varão que, fugindo das plagas de Tróia por injunções do Destino , instalou-se na Itália primeiro e de Lavínio nas praias. A impulso dos deuses por muito tempo nos mares e em terras vagou sob as iras de Juno, guerras sem fim sustentou para as bases lançar da Cidade e ao Lácio os deuses trazer _ o começo da gente latina, dos pais albanos primevos e os muros de Roma Altanados.
Musa! recorda-me as causas da guerra, a deidade agravada; por qual ofensa a rainha dos deuses levou um guerreiro tão religioso a enfrentar sem descanso esses duros trabalhos?” (p.9)
 Assim tem início o canto sobre a saga do herói Enéias na “Eneida”. Primeiro o poeta Virgílio canta as glórias do pio Enéias, em seguida faz a invocação às Musas.
 A divindade inimiga do herói é a deusa Juno (esposa de Júpiter e mãe de Marte), dona das terras da Itália, além de protetora da cidade de Cartago, ao norte da África. Com efeito, para a deusa, Enéias é um invasor que deve ser combatido; apesar de Juno conhecer, desde o início da épica, as tramas que as Parcas já haviam tecido contra os inimigos do herói troiano: “Juno potente, a sangrar-lhe no peito a ferida, conversa consigo mesma: _ Aceitar o fracasso no início da empresa, sem conseguir afastar dessa Itália o caudilho troiano?...”
 Em meio a outros pensamentos contra o herói troiano, Juno “baixa até à pátria dos ventos furiosos, a Eólia chamada, dos Autros feros”, e súplice roga a Éolo, pai das tempestades, que impeça o avanço das frotas troianas sobre o território italiano. Prontamente a deidade é atendida por Éolo: os ventos reunidos tornam negro o dia e a tormenta desaba sobre o mar. Enéias aterrorizado com tal cenário, exclama: “_ Oh, três vezes e quatro felizes os que morreram à vista dos pais, sob os muros de Tróia!”, lamentando, desse modo, não ter também perecido na guerra de Tróia. A tormenta bate de frente na frota dos troianos e a poderosa tempestade os domina. No entanto, Netuno (deus do mar e irmão da rancorosa Juno), presenciando e não apreciando tais acontecimentos, invoca os ventos propícios, tornando o mar manso. Só assim, Enéias e seus sócios desembarcam nas costas da Líbia. Aproximam-se da morada das ninfas e ali descansam. Enéias pede ânimo aos companheiros, dizendo-lhes que já enfrentaram coisas piores; lembra, então, que já escaparam dos terríveis Cilas e Ciclopes. Avisa que a viagem terá continuidade rumo ao Lácio prometido pelos deuses: sinônimo de um futuro risonho. Enéias insufla ânimo na alma dos troianos.
 Enquanto isso, no Olimpo, a deusa Vênus, angustiada, roga ao pai dos deuses - Júpiter - que ponha fim aos trabalhos infindáveis e aos sofrimentos do povo troiano. Júpiter, tranqüilizando a filha Vênus, promete:
“Acalma-te, Citeréia: imutáveis encontram-se os Fados. Ainda verás a cidade e as muralhas da forte Lavínio, como te disse, e até aos astros o nome elevar-se de Enéias de alma sublime. Mudança não houve no meu pensamento. Mas, uma vez que tais cuidos te agitam, tomando de longe vou revolver o futuro e os arcanos do Fado mostrar-te. Guerras terríveis ele há de enfrentar...” (p.15)
 Dito isto, o pai dos deuses narra à filha Vênus toda a história gloriosa da futura Roma, citando seus heróis fundadores - do governo de Rômulo até a futura e gloriosa “Tróia” do imperador Júlio César. Após essas promessas, o pai dos deuses solicita a Mercúrio (mensageiro dos deuses) que vá até o reino de Cartago - administrado pela infeliz rainha Elisa (cujo epíteto era Dido) -, para que, lá, o pio Enéias fosse bem recebido. Em seguida, Vênus aparece para Enéias, narrando a ele toda a história da desventurada Dido. Pigmalião - o irmão de Dido - assassinou Siqueu, o esposo de Dido. Em sonhos, Siqueu apareceu a Dido, revelando-lhe a maneira como o irmão Pigmalião havia tirado a vida do esposo Siqueu. Além disso, alertou Dido para que abandonasse o reino, levando com ela todas as fortunas acumuladas. Esta aventura foi chefiada por Dido até atingir a sua destinação; isto é, o local no qual Dido deveria fundar a cidade de Cartago.
 Após narrar tal história, Vênus aconselha Enéias a procurar proteção junto a Dido. Enéias penetra no reino de Dido protegido por uma espessa neblina a cobrir todo o seu corpo. De tudo alí visto, Enéias admirava-se. A paisagem da cidade em construção, Enéias contemplava maravilhado. Fervia o trabalho por todos os cantos do burgo de Dido. Muros gigantescos erguiam-se no burgo nascente. 
 No templo de Juno, construído por Dido, Enéias contemplava e emocionava-se com as gravuras que registravam vários episódios da Guerra de Tróia. Enquanto Enéias admirava os sublimes quadros, a rainha Dido entra no palácio. Dido então passa a ditar os trabalhos dos operários responsáveis pela construção da cidade de Cartago. Um misto de medo e alegria apodera-se de Enéias e do seu fiel acompanhante Acates. Ilioneu, porta-voz da rainha, narra os infortúnios da tropa dos troianos que, há pouco, desembarcara nos domínios do seu reino. Então a rainha Fenícia, após ouvir a história, fala:
“Com os olhos baixos, em termos concisos lhe fala a Rainha: Bani, troianos , do peito o temor; expulsai os cuidados. As duras leis do começo de um reino, senão mesmo a própria necessidade me impõe rigor na patrulha da costa . Quem desconhece a ascendência de Enéias, a queda de Tróia, a proverbial resistência dos teucros, horrores da guerra? Nós, os fenícios , não somos tão bárbaros como pensastes...” (p.23)
e diz que muita feliz ficaria se ali estivesse presente o próprio Enéias. Com tal discurso, Enéias e Acates animam-se. De repente, a nuvem enviada por Vênus se desfaz e, à luz repentina, Enéias se mostra aos olhos de Dido. Apresenta-se, então, à rainha Dido, dizendo que era o teucro Enéias. A rainha fala: “És, pois, Enéias, aquele de Vênus divina, nascido nas margens claras do belo Simoente, e de Anquises troiano? (...)” E, logo aceitando a presença do estrangeiro no seu reino, a infeliz Dido fala: “Por ter passado por isso, aprendi a ser boa com todos.”
 Enéias então convida toda a sua frota a entrar no reino de Dido. A rainha recebe da tripulação de troianos inúmeros presentes; eram objetos salvos das ruínas de Tróia.
 No Olimpo, Juno trama a paixão de Dido por Enéias. Cupido enfeitiça a rainha com um ardente amor por Enéias. Dido, consumida pelo amor, devora Enéias com os olhos. Aos poucos a imagem de Siqueu, o defunto marido, é apagada de sua memória.
 Dido invoca Júpiter, prometendo ao referido deus hospitalidade aos estrangeiros. Em seguida, roga ao estrangeiro Enéias que o próprio narre as suas aventuras:
“Hóspede_ fala-lhe_ conta-nos tudo por ordem, do início, as artimanhas dos dânaos, desditas dos teus companheiros, este vagar sem descanso nem termo por mais de sete anos em toda terra infinita, nas ondas inquietas, por tudo.” (p.28)
LIVRO II
 Então, todos se calaram na corte de Dido, e Enéias deu início à sua narrativa. 
 Contou a história do cavalo de Tróia e como os adivinhos troianos procuravam encontrar a razão para o surgimento repentino do gigantesco cavalo no reino de Tróia. Teria sido trabalho de quem? E com qual intuito teria sido enviado à Tróia? Dentre os adivinhos, apenas Laocoonte desvendou o segredo. Dirigiu-se aos troianos, dizendo o seguinte:
“Cidadãos infelizes, que insânia vos cega? Imaginais porventura que os gregos já foram de volta, ou que seus dons sejam limpos? A Ulisses, então, a tal ponto desconheceis? Ou esconde esta máquina muitos guerreiros, ou fabricada ela foi para dano de nossas muralhas, e devassar nossas casas ou do alto cair na cidade. Qualquer insídia contém. Não confieis no cavalo , troianos!” (p.30)
 No entanto, a multidão não deu atenção aos insistentes apelos e presságios do adivinho Laocoonte.
 Ao mesmo tempo,Torvo - rei mancebo de Argos -, sem armas, apresenta-se à multidão e vocifera um astucioso relato contra Ulisses; o herói grego é por ele considerado um falso, pois Ulisses havia assassinado Palamedes (protetor de Torvo) por inveja. Os troianos, sem suspeitarem até onde ia a perfídia e a maldade de um grego, permitiram que Torvo prosseguisse o seu falso relato. Compadecidos com a desdita do infeliz, os troianos ofereceram-lhe a liberdade. Por Sinão, o grande “sábio das tramóias”, mais uma vez os troianos foram alertados contra as artimanhas de Ulisses - de todo o mal inventor . Suas profecias também foram ignoradas. 
 Antes dos troianos permitirem a entrada do cavalo na cidade, Laocoonte teve uma terrível visão de todos os males que atingiriam Tróia por obra dos gregos. Cassandra, filha do troiano rei Príamo e irmã do príncipe Paris, também procurou avisar os troianos sobre todos os males que estavam por vir, mas foi calada pelo deus Apolo.
 Finalmente, a cidade recebe o cavalo, entoando hinos de júbilo. Após beberem, os troianos exaustos adormecem.
 Os heróis gregos, aproveitando-se deste fato, abandonam o interior do cavalo (ardiloso engenho) e invadem a cidade de Tróia. Pegos de surpresa, os troianos não resistem à força do exército grego.
 Enéias vê o chefe guerreiro troiano Heitor a chorar diante de Tróia destruída. Heitor assim fala a Enéias:
“_ Foge daqui , filho de uma deidade; do incêndio se livra. Dentro dos muros campeia o inimigo; hoje Tróia extinguiu-se. Muito já demos a Príamo e à pátria. Se a Pérgamo a destra de algo valesse, estas mãos se imporiam na sua defesa. Tróia te entrega os seus deuses e os sacros objetos do culto. Leva contigo esses sócios; procura morada para eles, grande cidade, depois de cortares o mar tormentoso...” (p.36)
 Ao ouvir isso da boca de Heitor, Enéias lamenta a distância de sua casa, temendo não conseguir lá chegar para salvar a esposa: Creúsa, o pai: Anquises, e o filho: Ascânio. 
 O fogo dominava a cidade de Tróia, tudo destruindo pela traição e pela perfídia dos gregos. Uma idéia dominou brevemente os pensamentos de Enéias: morrer pela pátria, pois o último dia chegara para os troianos.
“Todos os deuses, esteios da pátria, os santuários e altares já abandonaram. Correis em defesa de ruínas e escombros em labaredas. Morramos, então! Avancemos sem medo! Para os vencidos só há salvação na esperança perdida. (...) Quem poderia narrar os horrores, o atroz morticínio daquela noite, ou com o pranto igualar o trabalho dos teucros? Caiu por terra uma antiga cidade, rainha das outras.” (p.38)
 O palácio do rei Príamo ardia em chamas. Sem a ajuda dos deuses, uma chuva de dardos inunda a cidade ardente de Tróia. Tudo são ais nos interiores do Palácio Real. As autoridades troianas femininas: Andrômaca, Cassandra e Hécuba são raptadas. Príamo é morto por Pirro - temido guerreiro grego-, vingando, desse modo, a morte do filho do herói grego Aquiles, Neoptólemo.
 Enéias mantém o seu pensamento voltado para a família e, com a alma furiosa, só pensa em vingar a pátria destruída. Porém, Enéias é aconselhado pela deusa Vênus a abandonar a cólera que o devora, e imediatamente socorrer a família, saíndo em fuga da Tróia destruída. O pai, Anquises, num primeiro momento, recusa-se a fugir com o filho. Enéias tenta convencer o pai que Tróia não tem mais salvação. Então Anquises foi surpreendido por um augúrio feliz: repentinamente da cabeça do neto Ascânio alçava uma chama, lambendo-lhe os cabelos. Anquises, convencido do aviso dos deuses, põe-se em fuga junto à nora, ao neto e ao filho:
“Pronto! partamos! agora! depressa! para onde quiserdes! Ó pátrios deuses, guardai esta casa, salvai meu netinho. O agoiro é vosso; sob vossa potência está Tróia segura. Não mais resisto, meu filho, nem faço objeção em seguir-te.”
 A pequena família foge com alguns servidores. A travessia pela cidade tomada pelos gregos é arriscada. Subitamente, o velho Anquises avista os gregos bastante próximos. Nesse momento, a esposa Creúsa desaparece para sempre de Enéias. O pio herói fica inconformado diante da perda da esposa. Segue-o somente o pai e o filho em meio aos horrores da cidade destruída.
“Amontoada, a riqueza de Tróia se via, templos saqueados, as mesas dos deuses, as mais belas copas de ouro existentes, e vestes e adornos dos pobres cativos. Ao derredor, em fileiras, morrendo de medo, os meninos, mães desoladas.” (p.48)
 
 Durante a fuga, a sombra da adorada esposa Creúsa apresenta-se ao herói troiano. Este procura agarrá-la, mas em vão. Então, Creúsa implora que Enéias aceite todas aquelas tragédias, pois sucessos futuros lhe são reservados: com a ajuda dos deuses fundará uma nova Tróia, em território italiano. Em seguida, diz o derradeiro adeus ao marido.
 Cedendo à sorte e carregando o pai nos ombros, o pio Enéias apressa sua fuga do território troiano. 
LIVRO III
 
 Toda Tróia é destruída. O herói Enéias encontra-se exilado em alto mar, em companhia do pai, do filho, dos sócios e dos deuses de Tróia.
 Aportam à praia das terras do feroz Licurgo. Enéias traça riscos no chão e passa a chamar a novata comunidade que o acompanhava de Enéadas; tudo sem os auspícios dos deuses. Às ninfas agrestes do local Enéias implora auxílio. De repente, ele é surpreendido pelo fantasma do guerreiro troiano Polidoro, outrora vencido naquelas terras. Polidoro, filho do rei Príamo, fôra morto no passado por um rei trácio; ele aconselha Enéias a abandonar imediatamente aquele lugar. Enéias presta honras fúnebres ao insepulto Polidoro e, logo em seguida, abandona as terras de Licurgo. A frota alcança o mar. Enéias desesperado pede ajuda a Apolo quanto a seu futuro incerto: “A quem seguimos? Aonde ir aconselhas? A sede assentarmos? Dá-nos agouro, Senhor! Ilumina estas mentes cansadas.”
 Então Enéias ouve vozes solicitando-lhe que busque as terras da “mãe primitiva” (a Itália), pois lá será o seu definitivo lar. Essas palavras a todos anima. A tropa chega, então, às praias dos Curetas. Lá os troianos descansam. No entanto, o pio Enéias encontra-se atormentado, solicitando novos auxílios a Apolo. Mais uma vez recebe o aviso de que a sua nova pátria encontra-se na Hespéria, em território italiano. Atarantado com tantas vozes e visões, Enéias acorda a toda a tripulação. Tendo Febo por guia, Enéias põe-se a caminho da terra prometida pelos deuses. Sempre obedientes aos destinos impostos pelos deuses, os troianos lançam-se em alto mar. Tempestades varrem o oceano. Após várias tormentas, avistam terras ao longe. Em breve, encontravam-se nas terras das Harpias; Celeno, a mais poderosa das fúrias, confirma os desígnios dos deuses: “com prósperos ventos heis de alcançar por sem dúvida a Itália longínqua. Mas, antes mesmo de vossa cidade querida dos deuses de muros altos cingirdes, haveis de roer até as mesas.”
 A frota troiana parte, então, daquelas terras. Logo aproximam-se de Ítaca. “De Ítaca reino de Laertes fugimos, de seus arrecifes, amaldiçoada por todos, a pátria de Ulisses nefando.” E prosseguem a viagem... Passam próximos à ilha dos Feáceos até alcançarem terras gregas, onde reinava Heleno - filho de Príamo -, por ter esposado a viúva do guerreiro grego Pirro. Lá também encontrava-se Andrômaca a esposa-viúva do herói troiano Heitor. 
 Andrômaca relata a Enéias toda a seqüência de infortúnios que sofrera após a guerra de Tróia; nesta ilha, Andrômaca vivia na condição de escrava. Andrômaca demonstra extrema preocupação com a família do pio Enéias. Heleno, o monarca da ilha, recebe Enéias com gentileza e hospitalidade.
 Em terras de Heleno, Enéias volta a consultar Apolo; o deus confirma-lhe, com precisão, o local onde deverá ser fundada a nova Tróia.
“Dou-te os sinais; na memória os retém, como é justo fazeres. Quando apreensivo estiveres nas margens de um rio sem nome, e deparares deitada na sombra de bela azinheira uma alva porca com trinta leitões ao seu lado, damesma cor da mãe branca, deitados no chão a mamar com sossego: esse será o local da cidade, o descanso almejado.” (p.61)
 Dentre outros conselhos, o deus Apolo antecipa ao pio Enéias os perigos que deverá enfrentar em relação a Cila e a Caribde, dois monstros que dominam a costa da bela Sicília. Por antecipação - também através de Apolo -, Enéias fica sabendo que visitará a cidade de Cumas, na qual encontrará a poderosa Sibila, que o encaminhará até os bosques do Averno (Mundo dos Mortos).
 Antes da partida, Andrômaca traz presentes ao menino Ascânio e antevê a fundação de uma Tróia reconstruída.
 A frota de Enéias encontra-se novamente em alto mar. Finalmente,
“ escorraçados os astros com a vinda do carro da Aurora, eis que avistamos ao longe os oiteiros modestos da Itália. Antes de todos, Itália! gritou para os sócios Anquises. Seus companheiros, Itália! a uma voz, despertados, exclamam.” (p.64) 
 Dentre muitas coisas oferecidas pelas paisagens do local, a tripulação avista o santuário da deusa Minerva, o templo de Juno; mas ferozes ventos os afastam do roteiro, levando-os até o Etna e lançando-os próximos ao rochedo de Caribde. Sem saída, tomam de assalto as praias dos ferozes Ciclopes. Nesse local, encontram um grego, perdido; ele implora auxílio aos troianos nos seguintes termos: “Sou natural da ilha de Ítaca e um dos soldados de Ulisses, o desgraçado. Chamo-me Aquemênides. Vim para Tróia com meu pai, pobre de bens. Oxalá continuasse assim sempre!” E então passa a narrar as cenas horrendas que presenciou: viu o Ciclope gigante devorando muitos de seus companheiros tomados como reféns pelo terrível monstro; diz que o nome do monstro de um olho só é Polifemo. De repente, Aquemênides interrompe a sua narrativa, pois o monstro Polifemo, com a vista vazada e rangendo os dentes de dor, reaparece. Apavorados, os troianos põem-se em fuga, acolhendo o suplicante itacense.
 Deixando as praias dos Ciclopes, procuram seguir o conselho de Heleno e evitam o caminho perigoso entre os monstros Cila e Caribde.
 Açoitados por terríveis tempestades, Anquises não resistiu, e morreu. Essa foi a mais cruel desventura - não predita por nenhum adivinho - enfrentada pelo pio Enéias.
 Finalmente, o pio Enéias dá por encerrada a narrativa de suas desventuras aos ouvintes da corte da rainha Elisa .
LIVRO IV
 A rainha Elisa está ferida de paixão, com as palavras e com os gestos do herói troiano Enéias gravadas no peito. Ferida de morte, Dido fala a irmã:
“Ana querida, suspensa me encontro por sonhos horríveis. Que hóspede novo transpôs de inopino a soleira da porta? Como é galhardo! Quão forte guerreiro, em verdade, e que braço! _ Creio _ e bem certa estou disso _ ser ele de origem divina (...) Ana, confesso-o; depois de Siqueu me ter sido roubado, meu caro esposo, e os penates manchados de cruel fatricídio, este, somente, os sentidos tocou-me e a vontade oscilante venceu de todo. O calor sinto agora da chama primeira.” (p.72)
 E Ana relembra a Dido que a rainha já havia rejeitado muitos pretendentes, inclusive Jarbas, o monarca da Líbia. Por que se opor, então, a um desejo tão grato? E Ana continua na sua obstinada aposta em relação ao futuro matrimônio de Dido com Enéias. Chega a convencer a infeliz rainha Dido quanto aos futuros triunfos que Cartago poderia alcançar, caso a união entre os dois se consumasse. Ana pede à Elisa que cuide dos deuses e a eles ofereça sacrifícios, para obter o auxílio no ambicionado projeto. Põe-se a vagar pela cidade a infeliz Dido, com o peito em chamas:
“Inacabadas, as torres pararam; não mais se exercitam moços esbeltos nos jogos da guerra, na faina dos portos; interrompidas as obras, o céu das ameaças descansa; por acabar as ameias, merlões, toda a fábrica altiva.”
 Diante desse quadro, a indignada Saturna dirige-se à Vênus, interrogando a última sobre o destino de tudo aquilo; ao mesmo tempo, propõe firmar uma pacto de paz eterna. Vênus, sentindo a malícia no discurso da deusa, retruca e faz à Saturna uma proposta cheia de artimanhas: promover uma caçada e, durante uma forte tempestade, encerrar Enéias e Dido numa caverna, promovendo, dessa forma, a união entre os dois.
 Tudo ocorre da forma como Vênus concebera o plano e, com grande estrondo nos céus, a união de Dido e Enéias foi consagrada. Relâmpagos brilhavam no céu e ninfas ululavam diante de tal consórcio.
 Corre a Fama (monstro horrendo) por todo o território da Líbia, espalhando a recente notícia do casamento entre Dido e Enéias. Os boatos aumentam até chegar aos ouvidos do fiel pretendente de Dido: Jarbas, o fundador de cem templos. Jarbas então diz:
“Essa mulher, aqui vinda sem rumo, comprou por vil preço faixa de terra para uma cidade pequena, onde arasse quanto quisesse; porém, repelindo as alianças propostas, como a senhor de seus reinos a Enéias agora se prende. E ora esse Páris, seguido de um bando de gente somenos, fronte cingida com mitra da Meônia, no mento enlaçada, de perfumados cabelos, do rapto se goza.” (p.76)
 Jarbas antevê as futuras derrotas de Dido.
 No reino de Dido, Enéias veste um belíssimo manto: presente valioso, tecido pela própria rainha Elisa. Porém, no Olimpo, Mercúrio é determinado pelos deuses a enviar um recado ao pio Enéias: que abandonasse todos os projetos contruídos juntamente com Dido. Mercúrio interpela Enéias e transmite-lhe a seguinte mensagem: abandonar os laços estabelecidos com a rainha e prosseguir viagem rumo à pátria prometida pelos deuses do Olimpo. A rainha pressente a tramóia engendrada pelos deuses e, fora de si , como uma bacante, percorre toda a cidade em delírio. De repente, depara-se com Enéias, que, naquele momento, alimentava pensamentos indecisos. Dido diz:
“Pérfido! Então esperavas de mim ocultar essa infâmia, e às escondidas deixares meus reinos sem nada dizer-me? Não te abalou nem a destra que outrora te dei, nem a morte que a Dido aguarda, inamável, tão próxima já do seu termo? Como se nada isso fora, teus barcos aprestas no inverno , quadra infeliz, pretendendo cortar os furiosos embates dos aquilões? Que crueldade!” (p.79)
 A colérica rainha continua a injuriar e a cobrar todos os favores que havia concedido ao pio Enéias; este já havia sido convencido pelos deuses quanto à necessidade da partida iminente, mas seu coração estava ferido por ter de abandonar a rainha apaixonada. Procura convencer Dido que não tomara parte na decisão, pois tratava-se dos desígnios dos deuses. 
“Fala-lhe afim por maneira sucinta: _ Jamais negaria tantos favores, Senhora, e outros muitos de que me recordas; em nunca a imagem de Elisa sairá do meu peito, por quanto tempo consciência tiver de mim mesmo e com vida eu mover-me. Quanto ao que ocorre, direi simplesmente: intenção nunca tive de retirar-me às ocultas _ apaga essa idéia _ nem menos planos forjei de casar ou de alianças contigo firmarmos.” (p.79)
 Enéias prossegue, então, dizendo que se apoiara na decisão do deus Apolo. Confessa à rainha Dido que não buscava a Itália por vontade própria, mas pela vontade dos deuses.
 Dido permanecia alheada a tudo aquilo que o pio Enéias dizia e, num impulso violento, expulsa o herói de suas terras.
 Apressadas as frotas de Enéias se preparam para deixar as terras da infeliz Dido. Enquanto isso, Dido recorre à irmã Ana, rogando-lhe socorro. Pede à Ana que procure Enéias e o convença a permanecer a seu lado. A rainha conhecia a capacidade de convencimento que a irmã possuía; assim, aos olhos de Dido somente Ana sabia falar com Enéias. Pede, então, à irmã que leve o recado ao herói.Todavia, Dido é atingida por um terrível presságio: o leite dos sacrifícios adquire uma tonalidade negra, transformando-se em sangue. Diante disso, conclui que o herói não a ouvirá; sua perda portanto é inexorável, e a morte iminente. A rainha, atormentada por sonhos terríveis, prepara o ritual a fim de executar o seu próprio suicídio.
 Lança a culpa de todo o seu infortúniosobre a sua irmã. Enquanto a rainha se consumia em ódios com relação a Enéias, este era advertido pelos deuses a afastar-se o mais rápido possível daquelas paragens, pois o herói seria alvo da vingança da rainha ou da volubilidade inerente a toda mulher.
 A infeliz Dido sente o peso de toda a sua desgraça e chega a planejar a morte de Enéias e do filho do troiano: Ascânio; logo em seguida, incendiaria toda a cidade e a nau dos troianos.
 Contudo, a idéia do auto-sacrifício prevalecera: a infeliz Dido lança-se nos braços da morte. A monstruosa Fama percorre a cidade, informando a todos o infortúnio da rainha. Juno, apiedada da agonia da rainha, envia do Olimpo a mensageira Íris, para por termo ao resto de vida da moribunda. Íris corta o cabelo de ouro da rainha e o espírito da infeliz logo se dilui, se evola. 
LIVRO V
 
 A frota troiana, em fuga, logo alcança o alto mar. Nas altas ondas tudo é trevas. Ao longe os troianos avistam as labaredas que incendeiam o castelo da infeliz rainha Elisa. De repente, as nuvens cobrem todo o céu, e a escuridão domina a nau. Palinuro temeroso da popa pressente os destinos que Netuno lhes prepara. Os ventos encontram-se trocados, confundindo toda a tripulação e extraindo-lhe a esperança de saltarem, a salvo, nas praias da Itália. Enéias então pede que se mudem os rumos, a fim de alcançar as terras de Acestes: local onde o herói deveria prestar as pompas fúnebres ao pai Anquises, e lá depositar suas cinzas. Tão logo chegaram àquelas paragens, Enéias executou aquilo que planejara; em seguida, reúne seus sócios para dar início aos jogos fúnebres em honra ao pai Anquises. 
 Os guerreiros então reunidos dão início a uma longa seqüência de modalidades esportivas. 
 Findo o certame, os prêmios são entregues aos respectivos vencedores.
 Ao deixarem as terras de Acestes, a nau do herói Enéias aproxima-se do promontório da duras Sereias. Repentinamente, Enéias nota que a nau está sem rumo, pois Palinuro confiara na bela aparência do mar. O pio herói assume, então, o comando da frota.
LIVRO VI
 
 Encontramos, agora, o pio Enéias nas paragens de Cumas, no interior dos bosques da deusa Diana, local onde Apolo é cultuado. Dédalo, Pasífaa, o Minotauro biforme, Ariadne, Teseu, Ícaro e outros personagens mitológicos são figuras gravadas na porta do Templo de Apolo. Enéias vai visitar a Sibila de Cumas, que predirá as guerras no Lácio, revelando, assim, as coisas do futuro. Enéias entra na pavorosa gruta da Sibila. Deífobe, vate de inspiração divinal, fala nos seguintes termos: “Não é o momento de vos entreterdes com tais espetáculos. Cumpre imolar sete touros perfeitos, de acordo com os ritos, e outras ovelhas de número igual, as mais belas do armento.” 
 Cumpridas as ordens do ritual, a Sibila convida Enéias a entrar no templo: “Eis o deus! Eis o deus!” exclama a Sibila de aspecto monstruoso: “Como! Demoras com os votos e as preces, Enéias de Tróia? Pois antes disso os portões deste templo famoso não se abrem .” 
 A Sibila prediz que Enéias deverá fixar os deuses errantes de Tróia no Lácio. Saúda Enéias como um herói, pois conseguira sobreviver aos perigos dos mares; diz, ainda, que, no Lácio, nascera um outro Aquiles. Prediz que a união de Enéias com a sua futura esposa (Lavínia) gerará intrigas entre os povos que habitam a Itália. Com fortes rugidos, a Sibila de Cumas vai, assim, revelando mistérios a Enéias.
 Entretanto, Enéias sentia uma avassalodora ansiedade em rever o pai Anquises no mundo dos mortos. Implora à deusa que apresse a atender o seu pedido: 
“Uma vez que o caminho do Inferno começa aqui, na lagoa do rio aqueronte convulso, leva-me logo à presença da sombra do pai extremado. Mostra-me a entrada a transpor, escancara-me as portas sagradas.(...) Por isso suplico-te, ó Virgem, apieda-te do pai, do filho aqui vindo.” (p.116)
 A deusa então fala a Enéias que descer ao Averno é muito fácil, porém o difícil é o regresso. A deusa instrui o pio Enéias a localizar um ramo de ouro que se encontra nas florestas que margeiam o Averno. Enéias prontamente atende a solicitação da deusa; porém, tem dificuldades para encontrar o protetor talismã, isto é, o ramo de ouro. Além disso, restava outra tarefa a ser cumprida por Enéias: enterrar o cadáver insepulto de Miseno, guerreiro morto de forma traiçoeira. Assim, os troianos prantearam o corpo de Miseno. Enéias vai em busca do ramo de ouro. “Se nesta selva tremenda eu achasse o áureo ramo predito, tal como tão verazmente saiu tudo quanto a Sibila profetizou contra ti, ó Mísero! o teu triste destino!”
 Enéias nota que duas pombas baixam dos céus; solicita às aves que lhe sirva de guia para a localização do ramo de ouro... Logo, entre as folhas de uma copa de árvore refulge o ramo.
 Obedecendo as instruções da Sibila, Enéias desce para o mundo subterrâneo (o reino de Plutão: em grego, Hades, a morada dos mortos). Contudo, o ramo de ouro asseguraria a Enéias uma travessia a salvo pelo reino dos Infernos. 
 Enéias ainda oferece um sacrifício à Prosérpina, esposa de Hades. A divindade se aproxima: “Afastai-vos do bosque, profanos! a profetiza exclamou; afastai-vos do bosque! Bem longe! E tu, Enéias, adianta-te! Saca de vez dessa espada com varonil destemor; ora cumpre mostrar quanto vales.”
 Enéias entra no Averno. Primeiro de tudo vê as pavorosas imagens de todas desgraças que atingem com freqüência a humanidade (fome, doenças, pobreza, mazelas...). Outros monstros e feras vão surgindo. Tomam então o caminho que leva ao tartáreo rio Aqueronte. O velho barqueiro Caronte - de aparência horrível - guarda o rio e os aguarda. Sombras percorrem o local. Enéias pergunta à Sibila por quais razões as sombras vagueiam naquele local. A Sibila revela que são as sombras dos mortos insepultos. Enéias vê as sombras dos insepultos heróis de Tróia. Encontra a sombra inconformada de Palinuro; Enéias promete a Palinuro um belo túmulo.
 Avançando ainda mais pelo interior do Averno, surge o escuro lago do Estige: região das sombras, do sono e da noite:
“...o teucro Enéias, varão mui piedoso e de braço invencível, desce à procura do pai, entre as sombras inanes do Inferno. (...) e, logo, de baixo das vestes o ramo oculto retira. De pronto acalmou-se-lhe a raiva. Nada mais disse a Sibila. Admirado Caronte ante o aspecto do dom fatal do áureo ramo, por ele não visto de muito...” (p.123)
 Em águas lodosas avistam Cérbero. Ouvem queixas lamentos, vagidos. Aí avistam, num bosque, as sombras de todos aqueles que foram infelizes em vida: Prócis, Fedra, Erífile, Pasífaa, Evadne... e, finalmente, a sombria Dido, com sua recente ferida. Enéias logo a reconheceu. Enéias procura explicar à sombra da infeliz Dido que não era o culpado por tanta infelicidade, pois fôra designado a cumprir os desejos dos deuses; disse, inclusive, que teria permanecido com Dido, caso não tivesse uma missão a cumprir. Porém, a sombra irritada da infeliz rainha se afasta sem emitir qualquer sinal.
 Dando prosseguimento à infernal visita, Enéias vê as sombras dos heróis de Tróia... avista Deífobo, filho de Príamo. Enéias dialoga com a sombra de Deífobo; ele procura mostrar a Enéias como todas as humilhações que sofrera em vida foram causadas por Helena e suas bacantes.
 Tendo por companhia a sombra de Deífofo, Enéias revê os heróis gregos: Menelau, Ulisses - o artista do crime: “Celestes deidades! se houver justiça, voltai contra os gregos seus próprios delitos...”, exclama Enéias.
 Ambos prosseguem a caminhada, entrando, agora, no antro dos criminosos; e, atravessando rotas obscuras entre monstros, Fúrias e seres poderosos... “avançaram de par pelas rotas obscuras e logo as portas do grande palácio de Pluto alcançaram. Bem no saguão pára Enéias; o corpo aspergiu de água pura recém-colhida, e de pronto pendura ao portal o áureo ramo...”
 Ambos encontram-se, agora, nas moradas das almas felizes. Nesse local está reunida toda a futuralinhagem do pio Enéias. Somente as almas bem-aventuradas aí permanecem. Em altas e risonhas campinas, Enéias avista o pai, Anquises. Logo que vê o filho, Anquises fala: “Enfim chegaste! Venceste o caminho com a tua piedade de filho amado, e me dás a ventura de ver-te de perto, ouvir-te a voz, e em colóquios passarmos alguns momentinhos.”
 As lágrimas banharam os rostos de ambos, pai e filho. Anquises diz a Enéias que vai curá-lo de toda a cegueira: aponta para as águas do rio Letes; alí as almas procuram beber de suas águas para alcançar o esquecimento total. O pai Anquises apresenta, então, a Enéias toda a sua futura geração. Toda uma seqüência de futuros governantes é apresentada ao pio herói. Contudo são as figuras dos imperadores ainda não nascidos César e Augusto que se destacam na descrição feita por Anquises.
 Enéias nota, ao lado de Marcelo - futuro imperador romano -, a presença de um belo mancebo. 
 Por fim, Enéias deixa o mundo subterrâneo. 
LIVRO VII
 Enéias deixa o Averno e, em seguida, prepara o sepultamento de Miseno; deposita o insepulto num túmulo. A tropa prossegue viagem costeando as paragens da deusa Circe - opulenta filha do Sol. Alí, ouvem-se uivos de animais ferozes, mas o deus Netuno insufla as velas das embarcações e, com ventos propícios, elas são afastadas da perigosa da ilha da feiticeira Circe.
 Subitamente, o pio Enéias avista ao longe uma densa floresta.
 
[Neste trecho da “Eneida”, a narrativa poética é interrompida, e o poeta Virgílio solicita, novamente, inspiração à Musa:
“Érato, inspira-me! Os reis, qual o estado das coisas naquele tempo, os sucessos variados no Lácio de antanho, quando na Ausônia aportou de improviso uma esquadra estrangeira, vou relatar. Sem a ajuda de cima, de ti, Musa excelsa, nada farei.” (p.138) ]
 
 A tripulação avista a terra do rei Latino; o local designado pelos deuses para a fundação da futura Roma.
 Os fatos a serem enfrentados pelo pio Enéias – suas vitórias e seus infortúnios - nas terras do Lácio são revelados ao herói troiano.
 De outra parte, o rei Latino vai consultar o futuro junto ao pai fatídico: o Fauno. O monarca Latino ouve o seguinte:
“Deixa de lado, meu filho, essa idéia de esposo latino dar a Lavínia, nem creias nas bodas agora aprestadas. Genro estrangeiro virá que até aos astros o nome dos nossos se incumbirá de levar, cujos filhos e netos cem povos submeterão sob o império de leis rigorosas e sábias, em todo o curso do Sol, desde o oceano nascente ao do poente.” ( p.139) 
 Essa foi a resposta do Fauno ao monarca Latino.
 A frota de Enéias comemora a chegada na nova Tróia com um grande festim. Enéias então lembra que o pai profetizara que, quando chegassem a uma terra esfomeados e lá saciassem a fome, esta seria a sede da futura Tróia. Tudo ocorre conforme os prognósticos do pai Anquises. Enéias brada: “ Salve, terra que os Fados nos deram! Salve também , aqui mesmo, sagrados penates de Tróia! Eis nossa pátria, a morada (...) Eia, animai-vos...”
 Enéias risca no chão um mapa com os contornos da futura cidade romana. Dirigi-se, então, ao palácio do monarca local. Entra no templo de Latino. O primeiro contato com Latino é efetivado em tom cordial e amistoso, haja vista ambas as partes já conhecerem os desígnios dos deuses. Ilioneu, o sábio do local, intermedeia os diálogos que se estabelecem entre o monarca e os estrangeiros. Latino já nutria a certeza que Enéias seria seu futuro genro.
 Todavia, no Olimpo, as contendas entre os deuses quanto ao destino do herói troiano se chocavam. A fera esposa de Jove assim se refere aos estrangeiros:
“Ó geração aborrida! Ó destino da Frígia, contrário sempre ao meu Fado! Nos campos sigeus sucumbir não puderam? Presos, viver como escravos? No incêndio de Tróia abrasar-se? Livres se encontram. (...) Movi contra eles as forças do céu e do mar, impotentes. De que proveito me foram e Sirtes e Cila e Caribde desmesurada? Tranqüilos, a foz alcançaram do tibre, salvos do mar e de mim.” (p.144-145)
 A colérica deusa promete recorrer às potências do inferno, para não ser vencida pelo mortal Enéias. Entra em contato com a Juno infernal - divindade inimiga do pio Eneías - e solicita que as potências maléficas infestem a vida do herói Enéias. Amata, mãe de Lavínia (filha de Latino e futura esposa de Enéias), torna-se o alvo predileto das potências do mal. Inconformada por Latino ter consentido entregar a filha Lavínia como esposa ao pio Enéias, Amata, envenenada n’alma pela deusa cruel, interroga:
“Vais dar Lavínia, senhor, como esposa a esse teucro sem pátria? Não tens cuidado da sorte da filha, de ti não te apiedas, nem da mãe triste que ao vento primeiro o pirata abandona nestas paragens, levando consigo a donzela roubada? ” (p.146)
 Diante da indiferença de Latino, Amata é tomada de furor báquico. Invoca Baco e procura esconder a filha pelas matas e florestas, bradando: “Mães latinas, se acaso ainda tendes no coração uns resquícios de afeto para esta coitada, antes a Amata de todos; se o jus maternal vos importa, soltai as tranças e vinde comigo dançar nesta orgia...”
 Enfurecida, Amata vai até o feroz guerreiro Turno e relata a decisão do monarca Latino em tornar Lavínia esposa do herói estrangeiro, Enéias. Essas decisões deixam Turno colérico, pois este, além de perder o futuro trono, deixaria, também, de ser o futuro genro de Amata e de Latino. Amata prossegue, provocando-o, jogando veneno nos pensamentos do aturdido e inconformado Turno frente às alterações imprevistas do seu destino. 
 Irado Turno manda avisar Latino que a paz fora violada. A demoníaca Alecto voa sobre os teucros; eles ouvem os gritos da odiosa deusa e ficam apavorados.
 A guerra assim principia entre os pastores, e logo alcança cinco cidades: todas se esquecem da forte afeição e da estima outrora nutridas entre elas.
 [Neste trecho, a narrativa épica virgiliana é interrompida e o poeta proclama nova invocação às Musas:
“Musas divinas, abri-me o Helicão e inspirai meus cantares, para dos reis eu falar, implicados na grande aventura, dos seguidores dos seus estandartes, os novos guerreiros, do márcio ardor animados nos plainos fecundos da Itália, pois vós, ó deusas! sabeis tudo o que houve e podeis relatar-nos seguramente o que as auras somente ao de leve contaram.” (p.153) ]
 
 Mezêncio - o desprezador dos deuses do Olimpo - e seu filho Lauso foram os primeiros guerreiros a entrar na contenda. Uma série de outros monarcas segue a ambos. Dentre eles, destaca-se o terrível Messapo - o domador de cavalos. Uma multidão de tropas começa a se alinhar para combater o herói estrangeiro e invasor Enéias. 
 Turno era o primeiro dentre os guerreiros. Uma guerreira também se destacava: era Camila - da raça dos volscos.
LIVRO VIII
 O ódio de Mezêncio aumentava na mesma proporção que o nome do herói Enéias ganhava prestígio no Lácio. O peito de Enéias se agitava, já pressentindo os horrores que teria de enfrentar. Porém, em sonhos, a Enéias é revelada a seguinte profecia: 
“Ó descendentes dos deuses, que as sacras muralhas de Tróia nos restituis (...) Morada certa encontrastes, segura mansão dos penates. Não temas esses aprestos de guerra; a ojeriza dos deuses já se acalmou.
E para que não presumas que tudo não passa de sonho, num azinhal desta fresca ribeira hás de achar uma porca branca de leite, com trinta leitões tão branquinhos quanto ela, recém-nascidos, e agora em descanso do parto recente. Este é o local da cidade, o remate de tantas fadigas.” (p.160)
 A dividindade diz, então, a Enéias, o mais curto caminho para a sua vitória.
 Enéias dirige-se imediatamente à Palantéia, firmando aliança com o monarca local chamado Evandro, pai do jovem Palantes.
 Enéias, ainda temeroso, pede auxílio às ninfas. Com o auxílio das ninfas, Enéias encontra na margem de um rio a ninhada com trinta leitõezinhos. Assim, está confirmadoo local do futuro reino de Enéias. Roma, naquele tempo, era dominada por Evandro e por seu filho, Palantes.
 O pio Enéias dirige-se à presença de Evandro, e fala: “A Evandro viemos buscar. Anunciai-lhe que chefes troianos de alto valor vêm pedir-vos aliança e trazer-vos reforços...”. E o pacto de paz entre o pio Enéias e o magnânimo monarca Evandro é consagrado: “Ó dos teucros o mais valoroso, com que alegria te escuto e agasalho, e de quanto me lembro do grande Anquises ao ver-te, esse timbre da voz, a aparência!...”
 Evandro convida Enéias a participar das festas anuais, oferecendo a mesa aos recentes aliados. Evandro narra a Enéias o motivo das festas anuais: elas eram promovidas para celebrar a vitória dos deuses sobre Caco - o maldoso e astucioso que furtava os touros dos deuses. O festival era dedicado em louvor ao deus vencedor Hércules. Nessas festividades toda a comunidade comemorava e cantava os feitos divinos do deus etrusco.
 Em seguida, Evandro narra a Enéias a história da fundação da cidade. Saem ambos a visitar Palantéia. Saturno era o deus fundador. Toda a história de Palantéia é narrada até que ambos chegam à pobre moradia de Evandro, o monarca desprezador dos bens materiais, pois o monarca aceita a pobreza como desígnios dos deuses.
 Enquanto isso, no Olimpo, Vênus e Vulcano preparam um poderoso instrumento de guerra para Enéias. Os deuses recorrem a três fortes Ciclopes, solicitando-lhes que forjem para Enéias um escudo que o herói troiano deveria usar nos futuros combates. E assim o imenso escudo preparado pelos filhos do Etna foi crivado de fatos passados e futuros: no referido escudo, toda a gloriosa história de Roma aparece inscrita.
 Evandro, reconhecendo a própria velhice, aconselha o pio Enéias e o filho Palantes sobre os cuidados que ambos deveriam tomar em relação aos perigos das futuras guerras. 
 Rapidamente os pactos são rompidos e a guerra generaliza-se por todo o Lácio. Evandro roga aos deuses que Palantes volte vencedor. Pede que os deuses ouçam as preces de um pai desesperado pela vida do filho. 
 Pávidas mães debruçam-se sobre os muros em lamentações, ao saberem dos dos destinos dos filhos lançados na guerra. A mãe divinal do guerreiro Enéias aproveita a oportunidade para aconselhá-lo a não temer a guerra, oferecendo-lhe um presente: “Eis o presente que te prometi, prenda excelsa do gênio do meu marido! De agora em diante, meu filho, não temas aos laurentinos opor-te ou a turno enfrentar nos combates.”
 Enéias não se cansa de contemplar os presentes enviados pelos deuses: o capacete, a mortífera espada e o escudo coberto de estranhas pinturas - o sabedor dos grandes feitos da Itália e da longa série de conquistas e batalhas; o espelho da história primitiva do povo romano até as épocas imperiais: dos dois gêmeos, Rômulo e Remo, das Sabinas até César no Senado. Exulta maravilhado Enéias a vista de tão belo Escudo, que joga com o seu destino e honra a glória de todos os seus descendentes.
LIVRO IX
 
 Do Olimpo, Juno Satúrnia, a protetora de Turno, envia ao feroz guerreiro recados sobre os novos acontecimentos. A mensageira é a celeste Íris.
 O impetuoso Turno prontamente aceita o desafio enviado pela mãe divina: “Pouco importa quem sejas; acato teu chamamento: eis a guerra!” E a luta tem seu começo. Turno passa a recrutar vários chefes guerreiros, e junto a eles trama as alianças: “Vamos, rapazes! Quem quer ser comigo o primeiro a atacá-los? Pronto! exclamou . _ E volteando seu dardo, jogou-o para o alto, como a indicar o começo da pugna.”
 
 [Neste trecho da “Eneida”, novamente Virgílio interrompe a narrativa, conclamando outra invocação às Musas:
“Musas! Que deus apartou dos troianos o incêndio horroroso e repeliu para longe as naus a voragem do fogo? Dizei-nos! _ É tradição muito antiga, perene lembrança...” ]
 
 As tropas de ambos os lados organizam-se para a guerra. As divindades do Olimpo se igualam e se preparam para proteger seus filhos prediletos, ou destruir a vida dos guerreiros inimigos. Potências diabólicas (as Parcas) lançam seus agouros sobre Turno.
 As tropas aguardam o próximo combate. Enéias, encontrando-se distante das linhas de combate, desconhecia, na verdade, o que se passava. Niso e Euríalo, unidos por profunda amizade, incumbem-se de atravessar o exército inimigo a fim de levar notícias das tropas para o povo em geral, sobretudo para o pio Enéias. Os dois partem assumindo o papel de mensageiros do herói troiano. Entretanto, ao atravessarem o campo dos inimigos foram descobertos e ambos foram mortos pelos ferozes rútulos.
 
[Neste trecho, o poeta mantuano interrompe a narrativa com a finalidade de lamentar a morte dos dois jovens guerreiros:
“Felizes ambos! Se alguma valia tiverem os meus versos, alcançareis vida eterna na grata memória dos homens, enquanto os filhos de Enéias ficarem no duro penhasco do Capitólio, com o Pai dos Romanos no império do mundo.” (p.190) ]
 
 O exército dos rútulos destroça os corpos dos infelizes rapazes e, em lanças erguidas, suas sujas cabeças foram expostas ao público.
 A alada Fama dá a notícia a todos. A mãe do jovem Euríalo, num ato desesperador, arrancando os cabelos e lançando gritos lancinantes, chora a morte do amado filho, expressando do seguinte modo: “Assim te vejo, meu filho, meu único amparo da vida... Como pudeste deixar-me sozinha no meu abandono? Sem coração! Nem ao menos lembrou-te ao partir para essa tão perigosa missão despedir-te de tua mãezinha?”
 Cessados os lamentos, os teucros amparam a mãe de Euríalo e levam-na até a sua morada.
 A partir daí, a guerra recomeça. 
 
 [O poeta Virgílio, aqui, interrompe mais uma vez a narrativa, dirigindo outra invocação às Musas nos seguintes termos:
“Musas! Calíope, a voz sustentai-me e dizei-me sem falta do morticínio espantoso causado por Turno, os estragos da sua espada e os guerreiros que os volscos enviaram para o Orco. Contai-me tudo; os sucessos incríveis da ingente peleja, pois em verdade o sabeis e podeis referi-lo a contento.” (p.192) ]
 
 O feroz guerreiro Turno, auxiliado pelo deus Jove, põe-se a liqüidar as suas vítimas numa escalada vertiginosa de crueldades. Pelas suas mãos morrem os guerreiros Helenor, Lico, Prômulo, Clônio, Dioxipo, Ságaris, Idante e outros troianos; todos os que lutavam junto a Enéias... Turno então se expressa da seguinte forma:
“Pejo não tendes, ó frígios! de mais uma vez vos cercardes de um valo fundo e de opordes à Morte barreira tão frágil? Com armas tais pretendeis disputar nossas belas esposas? Que divindade ou delírio vos trouxe às paragens da Itália? Não achareis entre nós nem Atridas nem falsos Ulisses. Somos de estirpe robusta...” (p.194)
 Ascânio, sentindo-se humilhado, roga ao deus Jove: “Júpiter onipotente! reforça esta audácia nascida do desespero! Magníficos dons deporei no teu templo...”
“O pai dos deuses o ouviu; e a sinistra, no céu descampado, forte trovão retumbou, no momento preciso em que soa o arco letal e uma seta ligeira foi no alvo encravar-se, as duas fontes de Rêmulo unindo por dentro do crânio.”
 O vitorioso Ascânio é louvado pelo deus Apolo; o deus dirige-lhe as seguintes palavras: 
“Cresce em valor, meu menino; é assim mesmo que aos astros chegamos. Filho de deuses, fadado também a ser pai de outros deuses, dia virá em que belo remate os nascidos de Assáraco porão nas lutas dos homens. É certo; não cabes em Tróia.” (p.195)
 Apolo consente, assim, ao filho de Enéias, uma bela vitória sobre o guerreiro Numano. Logo após, Ascânio é aconselhado pelo deus Apolo a afastar-se definitivamente da pugna.
 Recresce a fúria das lutas e batalhas sangrentas se instauram. Deuses e mortais encontram-se numa luta insana. Os rútulos lutam com toda a ferocidade sob as benéficas influências e ordens do deus Marte. Então, subitamente, Turno é encurralado pelo exército inimigo: “Calmo, senão sorridente,responde-lhe Turno impetuoso: Bem; principia, se tens gosto nisso; meçamos as forças. Prestes a Príamo irás anunciar que encontraste outro Aquiles.”
 Em seguida, Turno mata Pândaro, que desafiara o guerreiro rútulo ao vê-lo encurralado. Turno colérico prossegue suas matanças. Porém, sentindo-se cada vez mais acuado, busca defender-se, procurando a barreira do rio que circunda o burgo. Os deuses estavam prontos a liquidá-lo. Entretanto, a largos movimentos alcançou as margens do rio e, num rápido salto, pulou nas águas com todas as suas armas, fugindo do encalço do exército inimigo. 
LIVRO X
 Os deuses encontram-se reunidos em Assembléia, no Olimpo. O pai dos deuses pergunta como pode a Discórdia se negar a obedecer seus mandatos. Pede que os excessos de guerra sejam extintos e solicita que novos pactos de paz sejam firmados.
 Vênus dirige a Júpiter uma resposta. Diz que Turno insiste na luta, pois essa é a vontade do deus Marte, protetor de feroz guerreiro rútulo. Relata que Enéias está distante do local das lutas, ignorando tudo aquilo que se passa com os seus aliados. Ao pai dos deuses, Vênus procura demonstrar todo o seu temor em relação àqueles que ameaçam o surgimento da Tróia nascente.
 O inferno entra na nova Tróia por intermédio da furiosa Alecto - alerta Vênus.
 Logo em seguida, a deusa Vênus pede a Júpiter que a auxilie no salvamento de Ascânio contra as armas cegas. Mas a cólera de Juno interfere no diálogo dos deuses. E entre inúmeras queixas contra os estrangeiros troianos, colérica e indignada Juno dirige-se ao pai dos deuses com as seguintes palavras:
 
“É coisa indigna cercarem latinos de chamas a Tróia no nascedoiro? que Turno defenda o torrão seu paterno, ele que vem de Pilumno e por mãe teve a deusa Vanília? Muito pior será a guerra os troianos ao Lácio levarem , o jugo impor numa terra estrangeira, roubar todo o gado, eleger os sogros, e noivas roubar do regaço materno...” (p.203)
 Juno assim falou. Júpiter então decreta que não tomará nenhum partido, dando por encerrada a Assembléia dos deuses.
 Enquanto isso, Turno dava prosseguimento à guerra. Enéias tudo ignorava, pois ainda mal saíra das terras de Evandro e em companhia de Palantes. Ambos ainda se encontravam em alto mar, a caminho do campo de batalha.
[Virgílio interrompe mais uma vez a narrativa, fazendo a seguinte invocação às Musas: 
 “ Agora, Musas, abri-me o Helicão; inspirai o meu canto, para dizer-me que povos toscanos a Enéias seguiram, naus emprestaram e as ondas revoltas cortaram com ele.” ]
 
 O pio Enéias passa a recrutar chefes guerreiros para a batalha. Percorre várias regiões do Lácio, firmando inúmeros pactos com monarcas e respectivas populações. Enéias refere-se a Mântua [terra natal do poeta Virgílio] nestes termos: 
“Ocno também traz das praias nativas seus homens, nascido de Manto, sábia adivinha, e do Rio toscano, que o nome da própria mãe te legou, das muralhas, ó Mântua! que te ornam, Mântua mui rica de avós, mas nem todos da mesma linhagem.” (p.206)
 O canto do herói prossegue enaltecendo outras cidades próximas a Mântua.
 Enéias continua a viagem por mares. Repentinamente um grupo de ninfas se aproxima. A mais falante, a ninfa Cimódece, assim se dirige ao pio herói:
“Dormes, Enéias, progênie dos deuses, e rasgas os mares à toda vela? Pinheiros já fomos do monte sagrado do Ida; depois, tua esquadra; ora, ninfas marinhas, desde o momento em que o rútulo fero tentava assolar-nos com suas armas potentes, as chamas do incêndio furioso...” (p.207)
 
 As ninfas dizem a Enéias que se apresse, pois o filho Ascânio corre grande perigo: o colérico Turno avança. Anda, é hora de apressar-te – as ninfas impõem ao pio Enéias.
 Turno procura alcançar a praia, para impedir que os troianos ali desembarquem. O feroz guerreiro evoca a memória - fatos passados - para atiçar ainda mais os companheiros.
 Enéias e sua embarcação se aproximam. Turno atira seus homens até a praia em sentido de defesa contra a frota do herói troiano.
 O choque entre as tropas é inevitável. Então, a um fiel companheiro troiano Enéias fala: “Dai-me outras lanças, daquelas que em Tróia ficaram cravadas em corpos gregos; nenhuma há de frustrar passar pelos rútulos sem atingi-los.”
 A partir daí, toda Ausônia transforma-se num campo de batalha.
 Por fim, o cenário é composto por uma tremenda batalha. As tropas de Enéias recuam diante das forças inimigas. Palantes implora para os companheiros de batalha que não recuem, mesmo porque já não têm para onde fugir. Todo Lácio é um campo de batalha. Em meio à pugna, Palantes, sempre a suplicar, roga proteção e auxílio aos deuses: “Pai Tibre! ao dardo possante que neste momento eu disparo, dá que a Fortuna o dirija até ao peito de Haleso! Um carvalho de tuas margens suas armas terá como honroso troféu.”
 Caem os filhos da Arcádia e os etruscos. “Morrem os filhos da Arcádia, os valentes e fortes etruscos, e vós também , teucros belos, escapos da fúria dos gregos! Chocam-se iguais contingentes, com cabos de guerra esforçados.”
 Turno, auxiliado pela irmã divinal Juturna, planeja algo mais surpreendente ao lançar o seguinte desafio: “_ Cesse a pugna! Eu, somente, a Palantes devo enfrentar! Essa vítima a mim é devida. Quem dera que aqui também estivesse seu pai, para ver esse encontro!”
 Dito isto, Palantes imediatamente aceitou o desafio proposto por Turno. Numa luta cruel, Palantes é, então, mortalmente ferido pelo cruel rútulo. Turno pede que o filho seja devolvido a Evandro tal como o merece: morto.
 Ao saber da morte de Palantes, o pio Enéias é tomado de fúria e desejo de vingança:
“.... assim Enéias no campo da guerra semeava destroços desde que o gládio tingiu na matança (...) Desorientados ao vê-lo avançar com passadas gigantes, ameaçador, espantaram-se os brutos e logo, sem tino, por terra o dono jogaram e à praia, sem mais, se acolheram.” (p.215) 
 Enéias prossegue lutando e promovendo mortes sucessivas. O Olimpo se agita. O pai dos deuses pede a Juno que retire Turno do campo de batalha. Uma luta encarniçada entre Enéias e Turno é prevista. No entanto, Turno (a humilhada Juno já conhecia seu destino!), começa a perceber que perde suas forças divinais, e lamenta sua desdita:
“Onipotente Senhor! de que crime impustate-me a culpa, para punir-me e me impor uma pena de tal gravidade? Para onde vou? De onde vim? De que modo fugir de tão grande humilhação, para os campos laurentes voltar e aos combates?” (p.218)
 Flutua pela mente de Turno o desejo de suicidar-se. Mas a deusa Satúrnia o impede de realizar tal ato. Por outro lado, Júpiter inspira o cruel guerreiro Mezêncio a tomar o lugar do, agora, pusilânime Turno. Assim, o temível Mezêncio passa a matar inúmeros guerreiros das tropas inimigas. Messapo, outro terrível guerreiro, junta-se a Mezêncio na matança. Entretanto, o deus Marte a guerra equilibra e impõe entre os homens um infinito luto.
 A luta agora travada envolve Enéias contra Lauso e Mezêncio. A lança de Enéias atinge mortalmente o guerreiro Lauso - filho de Mezêncio -, mandando-lhe para a morada dos Manes. 
 Surpreendente para a condição de um guerreiro, Enéias demonstra seus sentimentos de compaixão diante do corpo morto do inimigo:
“Ao ver Enéias no extremo da vida o inditoso guerreiro, de palidez assombrosa coberto, sentiu-se tomado de compaixão. À sua mente ocorreu-lhe a imagem do filho: a destra estende-lhe presto e lhe diz as seguintes palavras: Desventurado mancebo, o que pode fazer-te nesta hora minha piedade, em louvor de ti próprio e da minha coragem? Conserva as armas que tanto estimavas. Prometo entregar-te _ Sirva também de consolo e motivo de orgulho saberes que às mãos caíste de Enéias.” (p.221)
 Mezêncio chora sobre o cadáver do filho Lauso e, sem demonstrar vontade de continuar vivendo, resolve desafiar Enéias. Enéias vai ao encontro de Mezêncio e, com o auxílio doseu divino Escudo protetor, mata o inimigo. Mezêncio rende-se às forças de Enéias, e moribundo implora:
“Por que me ameaças com a morte, inimigo cruel? Sem desdouro podes matar-me; não vim combater-te pensando na fuga; nem o meu Lauso contigo firmou esse pacto humilhante. Mas, se ao vencido uma graça concedes, apenas te peço: dá sepultura ao meu corpo. Conheço que um ódio implacável os meus me votam; à fúria me poupa de suas desforras. Que lado a lado a meu filho, debaixo da terra eu repouse. Assim dizendo, esperou pelo golpe da espada inimiga. Aos borbotões a alma perde, no sangue que as armas lhe banham.” (p.223)
 
LIVRO XI
 Enéias assume como tarefa imediata dedicar louvores aos deuses pela vitória alcançada e enterrar os mortos, dando-lhes sepulturas dignas.
 O burgo enlutado de Evandro chorava a morte de Palantes. Vendo o corpo morto de Palantes, Enéias explode em lamentos. Pede, então, aos guerreiros que preparem o leito de morte para Palantes. O cadáver coberto de belos adornos (tecidos com fios de ouro) é destinado ao cortejo fúnebre. Evandro, vendo o filho morto, desaba em lamentos e desconsolado promete não mais mover guerras a ninguém. Um período de trégua foi firmado por doze dias. Durante este período, a população, junto o velho monarca Leandro, lamentava a morte do jovem guerreiro. Outros cadáveres de jovens guerreiros juntaram-se ao do jovem Palantes. 
“Era porém na cidade opulenta do velho Latino onde se via maior alvoroço, mais dores e luto. Míseras mães, desoladas esposas, irmãs sem consolo, órfãos pequenos privados do amparo mui cedo na vida, amaldiçoavam a guerra lutuosa e o noivado de Turno.Ele, sozinho, dispute Lavínia com armas e braço, visto aspirar ao domínio da Itália e a mais alta honraria.” (p.230)
 Para piorar o tumulto, as fortes alianças existentes anteriormente com Turno começam a se desfazer. O rei Latino convoca, então, a Assembléia, para discutir os rumos da guerra. Ali, a guerra de Tróia e seus heróis é narrada à população, elevando o nome de Enéias. Devido à sua coragem e a de Heitor, a guerra de Tróia fôra adiada por um período de dez anos. O rei Latino, insistindo em salvar a pátria arruinada, expõe à população o seu plano para por termo à guerra no Lácio: pretendia doar um vasto terreno perto do rio toscano para o estabelecimento dos troianos. 
 Drances, inimigo mortal de Turno, levanta-se e traz a lume a sua proposta na Assembléia. A proposta de Drances pretendia firmar a paz com Turno e expulsar Enéias do Lácio. Entretanto, Turno, ao conhecer os planos de Drances, assim reage:
“ Drances , és pródigo em belos discursos em tempo de guerra, quando se exige trabalho; o primeiro a chegar ao Conselho, sempre que os homens de bem são chamados. Porém não é hora de belas frases, enquanto as muralhas detêm os ataques dos inimigos e o sangue lá fora nos fossos referve. Troveja, então; é o teu hábito. Assascas-me, Drances, a pecha de covardia? ” (p.234)
 Turno então pede que o idiota não se preocupe. E diz não às propostas apresentadas. O feroz guerreiro rútulo então convoca a guerreira Camila - da nação vitoriosa dos volscos - para ajudá-lo a combater Enéias. Turno diz colérico: “Contra ele, sim, partirei, ainda mesmo que seja outro Aquiles e, tal como este, se vista com armas do forte Vulcano.”
 O Conselho então se reuni e Turno decreta pela continuidade da guerra. Arma-se furioso juntamente com Camila, e reabre a peleja. Camila, dotada de uma coragem invulgar, solicita a Turno que ela seja a primeira a enfrentar os perigos da batalha prestes a começar. Turno, fixando-se na terrível virgem donzela, diz:
“Ó virgem, glória da Itália! Como hei de pagar-te, como hei de agradecer teu auxílio valioso em tamanha apertura? Teu brio a tudo supera; vem, pois, tomar parte na luta. Se for verdade o que os meus batedores há pouco informaram, o astuto Enéias os campos em torno devasta com a sua cavalaria ligeira, e ele próprio, galgando estes montes abandonados, tenciona alcançar a cidade hoje mesmo.” (p.238)
 Camila, afeiçoada de Diana, tem a deusa como sua protetora. A deusa prepara a virgem para entrar nos combates cruentos contra os troianos. Ao lado de Camila lutará o temível guerreiro Messapo. A luta tem seu início e Camila com o peito nú destaca-se no meio da indescritível batalha. Muitos na dor se contorceram frente à ferocidade assassina de Camila. Ela mata possantes guerreiros com velocidade e força descomunais. Sem precaver-se, desejando logo liquidar os troianos, Camila vai ao encalço de Arrunte. Este gira seu dardo ao redor de Camila. Num golpe, o dardo cravou-se no peito direito sem mama de Camila. Morta Camila, a emissária de Diana, Ópis, geme de dor. Logo em seguida, o matador de Camila é perseguido e morto por uma ninfa trácia.
 Turno ao receber a notícia da morte de Camila encontra-se emboscado numa selva. Ao afastar-se da selva, Turno avista Enéias, e este a Turno.
LIVRO XII 
 
 Perdida a altivez pelas derrotas sucessivas, Turno, ao monarca Latino, expõe o seu desejo em duelar corpo-a-corpo com Enéias. Latino aconselha Turno a desistir de tal confronto, mostrando a ele tudo aquilo que possui em abundância. Mas Turno resiste aos conselhos do velho monarca. Amata interfere dizendo que Turno é o único arrimo dos Latinos; portanto, deveria desistir do confronto. Belicoso, Turno dirige-se a Amata com as seguintes palavras: “Mãe, não me aflijas com lágrimas e esses terríveis agouros, para não me deprimirem no instante de entrar em combate.” E termina dizendo que o vencedor da peleja será o esposo de Lavínia. Por outro lado, não menos colérico encontra-se Enéias, que aceita o duelo proposto por Turno. Enquanto isso, a deusa Juno dizia a uma ninfa protetora de Turno que o fatal dia das Parcas aproximava-se do cruel guerreiro.
 Enéias invoca os deuses, prometendo-lhes que, caso Turno fosse o vencedor, rumo à cidade de Evandro os vencidos se recolheriam. Caso contrário, se Enéias fosse o vencedor, o pio herói promete, então, um pacto de paz com todos os povos da Itália. Latino jurou que seguiria as palavras de Enéias, e assim firmaram um novo pacto. 
 Enquanto isso, Juturna, a deusa protetora de Turno, juntamente com seu povo, lamenta a desdita do feroz guerreiro. Mas o furor bélico a todos arrasta até o local da dura peleja. Enéias, ferido na perna, dá início ao combate. Ambos se encontram no campo de batalha. A rainha Amata, imaginando Turno vencido na peleja, suicida-se.
 Os dois guerreiros concordaram em lutarem sós. Então, os belos escudos se chocam. Durante a sangrenta luta, Turno pede auxílio a Fauno. Uma ninfa auxilia Turno durante a luta. Vênus indignada livrou a espada do teucro, pronta para atingir mortalmente Turno. O pai dos deuses indignado com tudo aquilo pede à deusa Vênus um basta. Vênus diz ao pai dos deuses que desiste de tudo aquilo, implorando a Júpiter que estabeleça a paz entre os povos da Itália. Que todos os povos do Lácio se unissem em doce aliança: “Cresça a potência romana com base nos ítalos fortes. Tróia acabou; deixa então que com ela seu nome pereça.” Que exista doravante um só povo com nome de latino. Esta era a vontade da deusa.
 O Olimpo então enviou Juturna até o campo de batalha, onde os dois guerreiros lutavam. Ali transformou-se em ave negra agourenta, para o assombro e horror de Turno. Diante desse agouro, o guerreiro rútulo previu a própria morte iminente. A ninfa Juturna demonstrava tristeza profunda pelo fim do querido irmão.
 Finalmente, embora demonstrando forte indecisão na hora fatal, Enéias mata Turno. “A alma indignada a gemer fundamente fugiu para as sombras.”
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AS CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS FORAM EXTRAÍDAS DO SEGUINTE VOLUME:
VERGÍLIO. Eneida. Tradução Tassilo Orpheu Spalding. 3 a 9 ed. São Paulo: Cultrix, 1990-92. 
CAMPINAS
verão de 2005

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