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CCJ0019-WL-B-PP-Ponto 01 – Teoria Geral do Estado e da Constituição - Sabrina Rocha

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1 
 
Curso completo de Direito Constitucional 
Profª. Sabrina Araújo Feitoza Fernandes Rocha 
Atualizada até a EC n° 71 de 29/11/12 
 
Esta apostila não é de autoria pessoal, pois foi produzida através das 
obras de doutrinadores constitucionalistas, dentre eles Ivo Dantas, J. 
J. Gomes Canotilho, José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Celso 
D. de Albuquerque Mello, Luís Roberto Barroso, Walber de Moura 
Agra, Reis Friede, Michel Temer, André Ramos Tavares, Sérgio 
Bermudes, Nelson Oscar de Souza, Alexandre de Moraes, Nelson 
Nery Costa/Geraldo Magela Alves, Nagib Slaibi Filho, Sylvio Motta & 
William Douglas, Henrique Savonitti Miranda e tomou por base a 
apostila do Prof. Marcos Flávio, com os devidos acréscimos 
pessoais. 
 
PONTO 1 – TEORIA GERAL DO ESTADO E DA CONSTITUIÇÃO 
 
 Faz-se premente ao estudioso deste ramo do direito, noções prévias 
do Estado e seus elementos indispensáveis, para uma boa apreensão dos 
conteúdos do Direito Constitucional. 
 
1 - Conceito de Estado 
 
1.1 -Corresponde à organização de um povo, localizado estavelmente sobre 
um território, sob o comando de um único poder. O Estado da idade 
contemporânea tem como principal característica o fato de ser um ente 
político com um governo institucionalizado, ou seja, politicamente 
organizado. 
 
1.2 - É uma sociedade política, organizada juridicamente, com o objetivo de 
alcançar o bem comum. 
 
 1.3 - O Estado é uma sociedade política, organizada juridicamente, com o 
objetivo de alcançar o bem comum. 
 
Costuma-se definir Estado como sociedade politicamente organizada. 
Fica mais fácil entender o Estado a partir do conhecimento dos elementos 
que o compõe. Desta forma, Estado é um ente constituído de um povo 
(elemento sociológico) organizado sobre um território (elemento físico), 
sob o comando de um governo soberano (elemento político – Poder), para 
fins de defesa, ordem e bem-estar. 
 
2 - Elementos constitutivos do Estado: Povo - Território - Governo 
Soberano ( a soberania é uma característica deste elemento, que se 
bifurca em dois tipos: soberania interna e soberania externa) 
 
 Há divergência entre autores sobre os elementos constitutivos do 
Estado. A maioria opta pelos três elementos acima. Quanto aos elementos 
povo e território há quase unanimidade. Existe alguma variação sobre o 
terceiro: é citada soberania, governo, poder soberano, poder estatal. Contudo 
optamos pelo governo soberano pois nada valeria se houvesse o Poder e ele 
2 
 
não pudesse se impor dentro da sua circunscrição. Assim, a soberania é uma 
característica indispensável do elemento Poder. 
 
. Povo: é oconjunto de pessoas unidas ao Estado pelo vínculo jurídico da 
nacionalidade. São, no caso do Brasil, os brasileiros natos e os brasileiros 
naturalizados, que estudaremos adiante. A força de um Estado se faz pelo 
número de seus integrantes. 
 
. Território: é o elemento físico, compreende o espaço terrestre, que 
estende-se ao subsolo; o mar territorial(doze milhas marítimas a partir da 
linha de baixa-mar do litoral continental, art. 1º e 2º da lei 8.617, de 4-1-1993); 
o espaço aéreo(coluna de ar sobrejacente aos espaços terrestre e mar 
territorial); a zona econômica exclusiva (faixa das 12 às 200 milhas 
marítimas, nesta o Brasil exerce direitos de soberania para fins de exploração e 
aproveitamento para fins econômicos, arts. 5º e 6º, lei 8.617/93); e as 
aeronaves e as embarcações brasileiras, de natureza pública ou a serviço 
do governo brasileiro, onde quer que se encontrem (art. 5º, §1º do Código 
Penal).Embaixadas, consulados e qualquer lugar onde as leis brasileiras 
devam ser observadas e aplicadas. Segundo Hans Kelsen o território 
corresponde ao âmbito de validez da ordem jurídica. 
 
. Governo Soberano: éo elemento político, caracterizado pelo poder que 
permite aos Estados conduzirem-se na escolha de seus destinos segundo 
a vontade de seu povode maneirasuprema na ordem interna e independente 
(em pé de igualdade) frente aos demais Estados. É derivada da 
autodeterminação dos povos. Há alguns autores que denominam este terceiro 
elemento de Soberania; outros Poder soberano, como já esclarecido acima, o 
que importa é a possibilidade de impor regras de condutas internas em prol do 
coletivo e ser respeitado pelos outros Estados soberanos. 
 
3 - O Estado e suas funções 
 
 O Poder é manifestação da soberania.Tem razão Michel Temer ao 
dizer que se equivocam os que utilizam a expressão "tripartição dos poderes". 
É que o poder tem por características a unidade, a indivisibilidade e a 
indelegalibilidade. A distinção que existe é entre funções e entre os órgãos 
que desempenham tais funções. 
 
 A vontade estatal ou governamental, segundo a teoria clássica 
sistematizadapor Montesquieu, manifesta-se através dos Poderes do Estado. 
O princípio da separação dos poderes foi inicialmente concretizado na 
Constituição dos Estados Unidos de 1787. Tornou-se com a Revolução 
Francesa um dogma constitucional, a ponto da Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão, em um de seus artigos, declarar que não teria 
constituição a sociedade que não assegurasse a separação de poderes e 
os Direitos do Cidadão. Montesquieu, pensador Francês, em sua obra “O 
Espírito das Leis” (em 1748) expõe a técnica da separação de poderes. O 
inovador princípio da separação dos poderes exerceu influência e ainda exerce 
sobre o moderno Estado de Direito, como princípio constitucional de maior 
importância em oposição ao antigo regime absolutista. OBS: Vale ressaltar que 
3 
 
a idéia não foi dele, pois desde Aristóteles e depois Look, que este pensamento 
vinha sendo amadurecido. Montesquieu apenas sistematizou e se consagrou 
pela obra já citada. 
 
Atualmente, essa teoria seria melhor denominada de separação das 
funções do Estado. As FUNÇÕES se constituem em especialização de 
tarefas governamentais à vista de sua natureza. Sua finalidade é limitar e 
controlar (uns pelos outros) o funcionamento do Poder. É o chamado 
mecanismo de freios e contrapesos (pode aparecer na prova: sistema de 
checks and balances). A partir da aplicação dos princípios gerais que regem a 
concepção do sistema de freios e contrapesos na Constituição da República, 
não é possível deduzir controles entre os poderes que não estejam expressos 
no texto constitucional. 
 
 Funções típicas (precípua) X Funções atípicas (secundária) 
 
Órgão/Funções TÌPICA ATÌPICA 
LEGISLATIVO 
 
LEGISLAR e 
FISCALIZAR 
JULGAR 
ADMINISTRAR 
EXECUTIVO 
 
 ADMINISTRAR 
 
JULGAR 
LEGISLAR 
JUDICIÁRIO 
 
JULGAR ADMINISTRAR 
LEGISLAR 
 
 
 Legislar e Fiscalizar constituem funções típicas do Poder 
Legislativo. A Constituição brasileira prevê detalhadamente a elaboração de 
leis através do processo legislativo (arts. 59 a 69)e de fiscalização contábil, 
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial (arts. 70 a 75). As funções 
atípicas do Poder Legislativo são administrar (art. 51, IV; 52, XIII) e julgar (art. 
52, I e II). 
 
 A Função Jurisdicional ou Jurisdição (dizer o direito) visa 
aplicar a lei ao caso concreto para solucionarlitígios (conflitos de interesse 
caracterizados por pretensão resistida), impondo a validade do ordenamento 
jurídico de forma coativa, mediante provocação da parte interessada, sempre 
que os interessados não cumpram a lei espontaneamente. Compete ao Poder 
Judiciário. As funções atípicas deste Poder são as de administrar (art. 96, I,c, 
f) e legislar (art. 96, I , a). 
 
 A Função Administrativa, típica do Poder Executivo, diz 
respeito à realização de atos concretos voltados a satisfação das 
necessidades coletivas, tais como a gestão ordinária dos serviços 
públicos de interesse da coletividade. Dito de forma mais completa por José 
Afonso da Silva (Curso. pág. 112) o Poder executivo exercea função 
executiva, que engloba as chefia de governo, de estado, de defesa e de 
assistência judiciária. A função de governo e a função administrativa está 
relacionada com atribuições políticas, co-legislativas, de decisão. as atividades 
de intervenção, fomento, polícia administrativa e serviço público. A função de 
chefia de Estado é desempenhada pelo Presidente da República sempre que 
4 
 
houver necessidade de relacionamento entre Estados Soberanos. A chefia de 
Defesa se estabelece por ser o Presidente o chefe supremo das Forças 
Armadas Nacionais. Quanto a última chefia, de Assistência Judiciária, só até a 
autonomia total das Defensorias Públicas, encarregadas de exercerem este 
trabalho. Legislar constitui funçãoatípica deste Poder (art. 62 e 68). Outra 
função atípica do Executivo é a jurisdicional, quando julga seus servidores nos 
processos administrativos disciplinares, por exemplo. 
 
Obs: fazer observação sobre o controle dos atos administrativos pelo 
Poder Judiciário. 
 
4 - Formas de Estado 
 
 Simples : ..................................... Estado Unitário 
 Compostos:..................................Confederação e Estado Federal 
 
 Os Estados, quanto a sua formação, classificam-se em simples e 
compostos, tal distinção surge “em função do grau de centralização e 
descentralização do poder político". 
 
 O Estado Unitário se caracteriza por não apresentar 
descentralização do poder político, que se concentra em uma única pessoa 
jurídica nacional. Por conseqüência, possui somente uma única ordem 
jurídica central, que se aplica em todo o território nacional. Possui um centro 
de poder que se estende por todo o território e sobre toda a população e 
controla todas as coletividades regionais e locais. São exemplos, entre outros: 
França, Inglaterra, Chile, Uruguai e Paraguai. 
 
 No Estado Unitário poderá haver descentralização (são os estados 
descentralizados ou regionais), no entanto, esta não se perfaz com autonomia 
política, através de uma repartição de competências estabelecida na 
Constituição, mas através de outorga legal e, portanto, por lei poderá ser 
revogada. 
 
RESUMINDO: Estado Unitário Centralizado, inexiste, em sua organização 
interna, qualquer tipo de repartição. Nos dias atuais está em extinção. Estado 
Unitário Descentralizado: há efetiva repartição de atribuições entre a parte 
centralizada e a descentralizada, realizada através da outorga das normas às 
comunas, departamentos etc. Ex: França e Itália. 
 
 O Estado Federal é, por definição, aquele onde estão asseguradas, 
pela Constituição, autonomia político-administrativa às partes descentralizadas 
(Estados-Membros, Províncias, Territórios etc). É reputada pela quase 
unanimidade dos autores, como a forma mais moderna de Estado. São 
exemplos atuais praticamente todos os Estados americanos, como, Estados 
Unidos, Brasil, entre outros, além de alguns europeus como Alemanha. 
OBS: a Federação Brasileira é a única nação que incluios Municípios e o 
Distrito Federalcomo entes federados. 
 
5 
 
 A origem do Estado Federal moderno, tal como o conhecemos na 
atualidade, é tipicamente norte-americana. Surgiu nos Estados Unidos, com a 
Constituição de 1787. 
 
 No Estado Federal há que se distinguir soberania de autonomia e 
seus respectivos titulares. O Estado Federal é o todo, dotado de 
personalidade jurídica de Direito Público Internacional, é o único titular da 
soberania como pessoa reconhecida pelo Direito Internacional. A União é 
a entidade federal formada pela reunião das partes componentes, 
constituindo pessoa jurídica de Direito Público interno. Os Estados-
membros são entidades federativas componentes, dotadas de autonomia e 
também de personalidade de Direito Público interno. Os Municípios e o 
Distrito Federal, também possuem autonomia e são também pessoas 
jurídicas de Direito Público interno. 
 
 O Brasil, após a proclamação da Independência (1822), adotou como 
forma de governo a monarquia e, enquanto forma de Estado, o Estado 
Unitário. O império do Brasil não possuía descentralização política, apenas 
descentralização administrativa, (Seu território foi dividido em províncias, cuja 
estrutura foi consolidada na Constituição de 1824). A realidade histórica da 
República e do Federalismo tem por origem a derrubada da monarquia, em 
15 de novembro de 1889. Adotou-se então como forma de governo a 
República e como forma de Estado o Estado Federal. Toda esta mudança 
de estrutura foi definitivamente consolidada com a Constituição de 1891. 
 
 A Confederação é formada através de diversos Estados 
Soberanos colocados uns ao lado de outros, decorrente de um tratado 
internacional. Na Confederação os Estados mantêm soberania. Talvez por 
isto, Michel Temer não considera a Confederação como forma de Estado, 
haja vista que se “assenta em tratado internacional entre Estados 
soberanos (que não abdicam de sua soberania) e não em Constituição”. 
As 13 colônias americanas, logo após a conquista da independência da 
Inglaterra em 1776, formaram uma Confederação, que não mais existe. Outro 
exemplo seria a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 
 
 
5 - Formas de governo 
 
Forma de governo diz respeito ao especial modo como se alcança o 
Poder e nele permanece.Pode ser definida como a maneira pela qual se dá a 
instituição do poderna sociedade e como se dá a relação entregovernantes e 
governados. Contemporaneamente, entretanto, deve-se ressaltar que a 
acepção básica das formas de governo é apenas um gênero a comportar como 
espécie o sistema e o regime de governo. 
 
Segundo Aristóteles, existem formas puras e impuras de governo 
FORMAS PURAS FORMAS IMPURAS 
MONARQUIA (Governo de um só) Tirania 
ARISTOCRACIA (Governo de um grupo) Oligarquia 
DEMOCRACIA (Governo de todos) Demagogia 
6 
 
 
Para os autores de forma geral, são divididas em: 
 
 Monarquia: hereditariedade (consangüinidade) Ex: Inglaterra, Espanha e Japão 
 vitaliciedade 
Natureza: governo de um só, de acordo com as leis que ele mesmo elabora; 
Princípio: sentimento de honra, amor às distinções e culto às prerrogativas. 
 
 República: eletividade (eleições livres)Ex:Brasil, Estados Unidos, Portugal 
 Temporariedade 
Natureza: soberania nas mãos do povo; 
Princípio: virtude traduzida em amor à Pátria, igualdade e compreensão dos 
direitos e deveres. 
 
5.1 - Sistemas de governo 
 
Sistema de governo diz respeito ao modo como serelacionam os poderes, 
especialmente os PoderesLegislativo e Executivo. 
 
 PARLAMENTARISMO: 
 
 chefia dual do Poder Executivo : há um chefe de Estado e há um chefe 
de Governo(primeiro ministro). 
 
 a permanência do chefe de governo depende da confiança do Poder 
Legislativo. 
 
 A esta segunda característica a doutrina denomina de 
responsabilidade política. No parlamentarismo a chefia de governo é 
exercida pelo primeiro Ministro. 
 
 O Parlamentarismo foi uma lenta criação da história política da 
Inglaterra, onde surgiu em 1688e, a partir desta data, passou a ser adotado por 
outros países da Europa. 
 Este sistema de governo, segundo muitos estudiosos, é o mais 
perfeito, pois baseia-se num sistema representativo, havendo paralelamente o 
exercício pleno da soberania nacional. Funda-se, assim, na existência de partidos 
compactamente organizados, tendo como representantes homens que lutam pela 
vontade soberana do povo. A vontade do povo se faz de forma tão presente, que 
tal sistema é denominado governo de opinião. O povo é valorizado e tem uma 
participação constante nos atos do governo. Apresenta os três poderes clássicos 
(Executivo, Legislativo e Judiciário) acrescido do Poder Moderador, representado 
pelo Rei (em caso de Estado Monárquico) ou pelo Presidente da República (em 
caso de Estado Republicano) 
 No Brasil, o Parlamentarismo foiempregado durante o Segundo 
reinado, sendo, posteriormente, abolido em 1889 pela Proclamação da 
República, através da qual o sistema presidencialista foi implantado. Em 1961, 
com a renúncia de Jânio Quadros, tivemos o regresso do Parlamentarismo, 
sendo que, em 1963, o Presidencialismo ressurge como sistema de governo. 
 
7 
 
Obs: A Constituinte de 88 deixou ao povo brasileiro a oportunidade de escolher 
a forma e o regime de governo, com a regra posta no ADCT, art. 2º, que reza: 
 
“No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a 
forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo 
(parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País”. 
 
 PRESIDENCIALISMO 
Características: 
- chefia singular do Poder Executivo: o Presidente é ao mesmo tempo chefe 
de Estado e chefe de Governo 
- permanência do Presidente independe da confiança do Poder 
Legislativo. 
 
 O Presidencialismo foi idealizado pelos norte-americanos na 
Convenção da Filadélfia, e passou a constar na Constituição Federal de 1787. 
No Brasil, no entanto, ele só passou a viger em 1889. 
 No presidencialismo o Presidente da República exercerá o cargo por período 
fixo, não necessita da maioria parlamentar para manter-se no cargo. O Poder 
Legislativo só poderá afastar um Presidente da República no caso do 
cometimento de crime de responsabilidade ou de crime comum. Para quem 
tiver interessado nas regras constitucionais para se afastar o Presidente poderá 
encontrá-las nos artigos 85 e 86; 51, I, e 52, I, parágrafo único. 
 
 
5.2 - Regime político: democrático e ditatorial (totalitário) 
 
 democrático – há participação do povo no processo político 
 ditatorial ou Totalitário– não há a livre participação do povo no 
processo político, as eleições não são livres, 
 
CF/88 Art. 1º ----------------------------------------------------------------- 
 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos oudiretamente, nos termos desta Constituição. 
 
 A nossa Constituição realça e traduz a democracia representativa sem 
desprezar os instrumentos da democracia direta pelo que origina uma forma 
de democracia denominada mista ou semi-direta. 
 
 Democracia direta é a forma inicial da democracia, tal como praticada na 
antiga Grécia. A participação dos cidadãos nas decisões políticas era exercida 
pessoalmente sem intermediários (em espaço público se reuniam, debatiam e 
decidiam o assunto em pauta). Atualmente, é de impossível realização, já que 
conta com o povo exercendo o poder diretamente, sem mandatário. 
 
Democracia Indireta pode ser: 
 
 - Democracia representativa, onde o povo elege seus representantes. 
 
8 
 
- Democracia Cesarista, onde o governo indica seus representantes, cabendo 
ao povo confirmá-los ou não no poder por referendum 
 
 A expressão “diretamente” deve ser entendida à luz do art. 14, incisos I a III, 
onde se encontra os instrumentos modernos da democracia direta, quais 
sejam: oplebiscito, o referendo e a iniciativa popular. 
 
Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que 
delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, 
legislativa ou administrativa (art. 2º, da lei 9.709/98). 
O plebiscito é a convocação prévia ao ato legislativo ou administrativo 
a ser realizado, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou rejeitar o que lhe 
tenha sido submetido (art. 2, §1º, da lei 9.709/98). 
O referendo é a convocação posteriorao ato legislativo ou 
administrativo que se tenha realizado, cumprindo ao povo a respectiva 
ratificação ou rejeição (art. 2º, §2º, da lei 9.709/98). 
A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à 
Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado 
nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três 
décimos (3/10 = 0,3) por cento dos eleitores de cada um deles (art. 13 da lei 
9.709/98 e CF, art. 61, § 2º). OBS: fazer um comentário sobre a iniciativa 
popular e a ação popular na perspectiva de democracia direta. 
 Em resumo, a nossa CF/88 consagra a democracia representativa 
sem desprezar os instrumentos da democracia direta (plebiscito, referendo, 
iniciativa popular) pelo que origina uma forma de democracia mista ou semi-
direta. 
 Todos estes conhecimentos prévios são basilares para compreensão 
do Estado Brasileiro que adotou o modelo federalista. 
 
6 - Características do Estado Federal 
 
 A doutrina aponta como características da existência de Estado 
Federal: 
 
a) Existência de uma Constituição como base jurídica do 
Estadoque assegure autonomia das entidades federadas através 
de uma repartição constitucional de competências a Lei 
Fundamental representa a aliança firmada pelas entidades 
integrantes do Estado Federal, o qual se origina da própria 
Constituição e lhe dá vida e existência soberana. 
 O Estado Federal surge de uma Constituição. A 
Constituição, como Lei Fundamental, representa, no Estado 
Federal, o pacto ou a aliança firmada pelas entidades que o 
integram. A Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, 
deu origem ao Estado Federal Brasileiro atual. Logo no preâmbulo 
consta: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em 
Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado 
Democrático (...)”. O artigo 1º, de forma definitiva sela o pacto ao 
afirmar: “A República Federativa do Brasil, é formada pela união 
9 
 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito”. 
 No Estado Federal, como união de coletividades políticas 
autônomas, existem vários centros decisórios. O artigo 18 da 
nossa Constituição afirma: “A organização político-administrativa da 
República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o 
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos 
desta Constituição”. 
 
b) Repartição Constitucional de Competências a essência do 
Estado Federal está na descentralização política, significando 
repartição da capacidade de edição de normas jurídicas, com cada 
esfera de poder controlando as condutas de seus agentes públicos 
e dos cidadãos de determinada comunidade. A Constituição 
confere à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios 
competências privativa, exclusiva, comum, concorrente, residual e 
delegada. 
A razão de ser do Estado Federal, como já vimos, reside na 
descentralização política, que significa repartição 
constitucional da capacidade de emissão de normas jurídicas, 
para que cada esfera de poder possa controlar as condutas dos 
agentes públicos e dos cidadãos em determinada comunidade 
jurídica. Assim, a Constituição distribui à União, aos Estados, ao 
Distrito Federal e aos Municípios, diversas competências que 
estudaremos nos artigos 21 ao 32. 
 
c) Autonomia das Entidades Federadas cada esfera, entre os 
diversos centros decisórios, conserva a capacidade suficiente para, 
mediante regras jurídicas próprias, autogerir seus negócios internos 
ou organizar os assuntos que lhes forem delegados., tudo 
conforme o Princípio hermenêutico da simetria constitucional. 
 
d) Participação da vontade dos Estados-membros nas decisões 
Nacionais reflete-se na existência de um Poder Legislativo 
bicameral, isto é, o Congresso Nacional é formado pela Câmara 
dos Deputados, composta pelos representantes do povo, e pelo 
Senado Federal, composto de representantes dos Estados e do 
Distrito Federal, estes enquanto pessoas jurídicas de direito público 
interno (3 Senadores para cada Estado e para o Distrito Federal). 
 
e) Rigidez Constitucional refere-se à maior dificuldade para 
alteração do Texto Magno, exprimindo-se em limitações expressas 
e implícitas. Estabeleceu-se um procedimento mais rígido no 
processo deapreciação de emenda à Constituição do que de 
qualquer outra lei do país. Tomará por base os princípios 
hermenêuticos constitucionais que estudaremos adiante. 
 
f) Impossibilidade de desligamento (secessão)Exatamente em 
razão de a soberania ser atributo do Estado Federal e não dos 
Estados-membros é que estes não poderão se retirar do pacto 
10 
 
federativo, pois não possuem mais soberania que legitime uma 
decisão separatista. A Constituição prevê união indissolúvel logo 
em seuartigo 1º. Proíbe a extinção da Federação (art. 60, § 4º) ao 
afirmar que não será objeto de deliberação a proposta de 
emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de 
Estado, na primeira das cláusulas pétreas. Prevê como primeira 
hipótese de intervenção federal nos Estados e no Distrito 
Federal para “manter a integridade nacional”. (art. 34, inciso 
I)Resumindo: as partes não podem separar-se do todo. 
 
g) Existência de um orgão constitucional supremo incumbido 
também do controle da constitucionalidade das leis decorre da 
rigidez da Constituição e da Supremacia da Constituição em 
relação às demais leis. O controle se dará: 1) no exame de um 
caso concreto, em que todo juiz pode exercê-lo (controle difuso de 
constitucionalidade); 2) por declaração de inconstitucionalidade de 
lei em tese pelo STF (controle concentrado de constitucionalidade). 
 
7 - Constitucionalismo 
 
 O Direito Constitucional surgiu junto com a própria noção de Estado e 
particularmente quando este se organizou política e juridicamente através de 
uma Constituição, passando a sujeitar-se às próprias leis por ele editadas, 
transformando o poder arbitrário original em poder discricionário (que se 
caracteriza pela existência efetiva de ampla margem de escolha e opção para o 
governo) e vinculado (onde praticamente inexistem opções para o governo, em 
face da solução imposta pela lei). 
 Com o advento do Estado Contemporâneo, o binômio poder-dever 
passou a integrar a própria essência do Estado, ao lado do cidadão, titular de 
direitos, cabendo exatamente ao Direito Constitucional (e também ao Direito 
Administrativo) a busca do equilíbrio harmônico entre os deveres do Estado de 
um lado e os direitos do cidadão, do outro. 
 
A sua origem formal está ligada às Constituições escritas com dois traços 
marcantes: 
 
- organização do Estado 
- limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias 
fundamentais 
 
8 - Conceito de CONSTITUIÇÃO 
 
Lato sensu é o ato de constituir, de estabelecer, de firmar; ou, ainda, o modo 
pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; 
organização, formação. 
 
Juridicamente – deve ser entendida como lei fundamental e suprema de um 
Estado, que contém normas referentes à estrutura do Estado. 
 
Pode-se definir a Constituição como lei fundamental da sociedade. 
11 
 
 
Constituição, em termos efetivos, representa a organização jurídico-política 
fundamental do Estado concernente a um conjunto de regras relativas à forma 
de Estado (no caso brasileiro, o federalismo) à forma de governo, - incluindo 
o sistema de governo ( no nosso caso a república) e o regime de governo ( 
no caso brasileiro o presidencialismo) -, ao regime político (entre nós a 
democracia indireta representativa), à aquisição e ao exercício do poder, 
ao estabelecimento dos órgãos para o efetivo exercício do poder (Executivo, 
Legislativo e Judiciário) e aos limites de sua ação (competências e restrições 
ao exercício do poder estatal). 
 
9- Conceito de Direito Constitucional 
 
 “O direito Constitucional vem a ser um estudo fundamentalmente 
voltado para a compreensão do texto jurídico singularíssimo denominado 
Constituição” (Celso Ribeiro Bastos). Traçar um paralelo com TGE. 
 
 “Ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os 
princípios e normas fundamentais do Estado” (José Afonso da Silva). Para simplificar: 
ramo do Direito Público que estuda a Constituição. 
 
10- Objeto do Direito Constitucional 
 
 O objeto de estudo do Direito Constitucional “é constituído pelas 
normas fundamentais do Estado, isto é, pelas normas relativas à estrutura 
do Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício do poder, 
estabelecimento de seus órgãos, limites de sua atuação, direitos 
fundamentais do homem e respectivas garantias e regras básicas de 
ordem econômica e social” (José Afonso da Silva). 
 
 Simplificando: o objeto de estudo do Direito Constitucional é a 
Constituição. 
 
11 - Constituição: origens e perspectivas 
 
11.1 - ORIGENS DAS CONSTITUIÇÕES 
 
 O surgimento das constituições, como já demonstrado acima, está 
ligado ao constitucionalismo, movimento que se originou da luta pela 
liberdade diante de governos absolutistas e por um conjunto mínimo de 
preceitos asseguradores da tripartição das funções estatais (executiva, 
legislativa e judiciária) e dos direitos individuais a serem respeitados não só 
pelos governos, mas também pelos demais cidadãos. O marco histórico está 
ligado às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos, em 1787, 
após o curto período em que adotou a forma de Estado conhecida por 
Confederação, em seguida a independência obtida da Inglaterra pelas 13 
colônias. Bem como a Constituição da França, de 1791, após a Revolução 
Francesa. 
 
12 
 
11.2 - PERSPECTIVAS DOUTRINÁRIAS DE CONSTITUIÇÃO 
 
Sentido sociológico, sentido político e sentido jurídico 
 
 Sentido sociológico – construído por Ferdinand Lassale, em sua obra 
"Que é uma Constituição?", para ele a constituição deve ser a soma dos 
“fatores reais de poder que vigoram num país, sendo esta a 
constituição real e efetiva”. Esses fatores são de ordem econômica, 
política, militar, religiosa, sindical, etc. Quando a Constituição escrita se 
distancia da Constituição efetiva não passa de “uma folha de papel”. 
Neste caso prevalecerá sempre a vontade daqueles que titularizam o 
Poder, pois este não deriva da “folha de papel”, da Constituição escrita, 
mas dos fatores reais de poder vigentes na sociedade. 
 
 Sentido político – proposto por Carl Schmitt, em sua obra “Teoria da 
Constituição”, para ele a Constituição é fruto de uma decisão política 
fundamental. Assim é conteúdo próprio da Constituição o que diga 
respeito à forma de Estado, à forma de Governo, aos órgãos do 
Poder e à declaração dos direitos individuais. Tudo o mais, embora 
possa estar escrito na Constituição, é lei constitucional. Assim 
percebemos: o que para Carl Schmitt é conteúdo próprio da 
Constituição podemos chamar de norma materialmente 
constitucional, o mais que assumiu forma constitucional, porque 
inserido na Constituição, é norma formalmente constitucional, e 
poderia ser tratado na legislação infraconstitucional . 
 
 Sentido jurídico – defendido por Hans Kelsen, em seu livro "Teoria 
pura do Direito",a constituiçãoé considerada norma pura, puro dever-
ser,sem qualquer pretensão à fundamentação sociológica, política 
ou filosófica. Para Válber de Moura Agra “A Constituição é vista por 
Kelsen como o substrato validante de normas infraconstitucionais. Ela 
tem a função de estruturar um ordenamento de forma lógica e sistêmica, 
evitando antinomias que fragilizariam sua eficácia. Ele vê o ordenamento 
jurídico como um sistema hierarquizado, em que cada norma inferior é 
validada por uma norma superior, até chegar na norma básica que é a 
Constituição” (Fraudes à Constituição: um atentado ao poder reformador, Porto Alegre, Sérgio Antonio 
Fabris Editor, 2000, 1ª edição pág. 43). Todo o trabalho de Kelsen foi no sentido de 
mostrar que o Direito é uma ciência autônoma, que dispõe de métodos 
próprios, portanto, “pura”. Kelsen toma a palavra Constituição em dois 
sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. No sentido jurídico-
positivoequivale à norma positivasuprema, conjunto de normas que 
regula a criação de outras normas. No conceito lógico-jurídico a 
constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é 
servir de fundamento lógico transcendental da validade da constituição 
jurídico-positiva, e aí assume o papel de fechamento do sistema. 
 
Perspectiva da Constituição segundo Konrad Hesse 
 
 Força normativa da Constituição –. Para Konrad Hesse a 
Constituição não reproduz apenas o estado das coisas ela também é 
13 
 
capaz de modificar, de transformar a sociedade. É o próprio Konrad 
Hesse em sua obra “A força normativa da Constituição” que afirma: “A 
norma Constitucional não tem existência autônoma em face da 
realidade, (por isto precisa ter sintonia com a realidade social, 
econômica e política). A sua essência reside na sua vigência, ou seja, 
a situação por ela regulada pretende ser concretizada na realidade 
(sedimentando-se no dia a dia do comportamento dos cidadãos) Essa 
pretensão de eficácia não pode ser separada das condições históricas 
de sua realização, que estão, de diferentes formas numa relação de 
interdependência, criando regras próprias que não podem ser 
desconsideradas. Concluindo, pode-se afirmar que a Constituição 
converter-se-á em força ativa sefizerem-se presentes, na 
consciência geral – particularmente, na consciência dos principais 
responsáveis pela ordem constitucional – não só a vontade de poder, 
mas também a vontade da Constituição Federal”. (As explicações 
entre parênteses e os grifos não são do original). 
 
Konrad Hesse x Ferdinand Lassale: 
 
 Para Lassale a Constituição é escrava das forças sociais 
(fatores reais de poder), fora disso, ou seja, quando não espelhar 
a composição das forças sociais dominantes, não terá eficácia 
transformado-se em uma mera folha de papel. 
 Para konrad Hesse há uma relação de interdependência com 
os condicionantes resultantes dos fatores históricos políticos 
e sociais, mas a Constituição não é uma mera auxiliar das forças 
sociais, mas possuem componentes que uma vez vigentes 
poderão converter-se numa força ativa de transformação da 
sociedade. 
 
 
 
Perspectiva da Constituição segundo Karl Loewenstein 
 
Karl Loewenstein em sua obra Teoria de Constituição, doutrina que a 
função primeira da Constituição é traçar o cenário da disputa pelo 
poder, por meio de normas que tratem da limitação dos poderes através de 
uma repartição constitucional de competências, utilizando-se de 
mecanismos de equilíbrio por meio de um sistema de freios e contrapresos 
(Cheks and balances) originado do direito americano. 
 
Assim, Karl Loewenstein classifica as Constituições partindo da eficácia 
normativa reguladora do processo de disputa de poder em: 
 
 Constituições normativas – são aquelas que são efetivamente 
obedecidas pelos detentores do poder e por todas as parcelas da 
população, e que estabeleçam normas que regulem a atuação dos 
partidos políticos, a aquisição e o exercício dos poderes estabelecendo 
seus respectivos limites. Como exemplo de Constituição normativa 
temos a nossa Constituição de 1988. 
14 
 
 
 Constituições nominativas – são aquelas que não são efetivamente 
obedecidas. Não possuem força normativa, pois, representam textos 
que não são consentâneos com a realidade fática ou que tornaram-se 
obsoletos face as mudanças na sociedade; 
 
 Constituições semânticas – também conhecidas por “constituições 
de fachada” são aquelasconfeccionadas para legitimar os detentores 
do poder político. Estando longe de limitar a concentração de poder, ao 
contrário, estabelecem um procedimento que, ao invés da alternância, 
representam um instrumento de perpetuação das classes dominantes. 
Como exemplo de Constituição semântica tivemos a nossa Constituição 
de 1937. 
 
12 - Classificação das Constituições 
 
Quanto à forma: escrita e não escrita 
 
Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas 
 
Quanto à extensão e finalidade: analíticas e sintéticas 
 
Quanto à origem: promulgadas, outorgadas e cesaristas 
 
Quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, flexíveis e semi-rígidas 
 
Quanto ao conteúdo: materiais e formais 
 
 Vejamos cada uma delas para um melhor esclarecimento 
 
 Quanto à forma: 
 
Escrita– codificada e sistematizada em um único texto solenemente 
estabelecido e emanado de um Poder Constituinte. 
 
Não-escrita– conjunto de usos, costumes, jurisprudência documentos 
esparsos não codificados, reconhecidos pela sociedade como estruturadores 
Exemplo: Constituição da Inglaterra e a de Israel. Conhecida também como 
constituição costumeira o consuetudinária. 
 
 Quanto ao modo (processo) de elaboração: 
 
Dogmática – surge como resultado da aplicação racional, em certo 
momento, de determinados princípios políticos (dogmas). Constituições 
escritas, populares (promulgadas) ou outorgadas. 
 
Histórica– se forma lentamente no tempo através de vagarosa 
sedimentação na consciência popular. Resulta de lenta evolução histórica, 
do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam 
15 
 
como normas fundamentais da organização de determinado Estado. 
Conhecidas também como constituição costumeira, constituição não-escrita. 
 
 Quanto à extensão: 
 
Sintética- prevê somente princípios e normas que regulam a forma de 
Estado e de Governo, estruturação dos Poderes, limites aos Poderes por 
meio de direitos e garantias individuais fundamentais. É típica de países 
que possuam ampla estabilidade política e sócio-econômica. Conhecidas 
também como: constituição garantia, constituição material. 
 
Analítica– é abrangente regulando inúmeros aspectos que não constam de 
uma Constituição sintética. A exemplo de: orçamento; saúde, previdência e 
assistência social; educação, cultura e desporto; ciência e tecnologia; 
comunicação social; meio ambiente; família, criança, adolescente e idoso; 
índios etc. A intenção é dar estabilidade jurídica ao fazer constar na 
Constituição certos direitos que caso estivessem apenas na legislação 
infraconstitucional poderiam ser facilmente modificados. É típica de países 
com fortes instabilidades políticas e sócio-econômicas. Outros nomes: 
constituição formal, constituição dirigente. 
 
 Quanto à origem: 
 
Promulgada - surge através do trabalho de uma Assembléia Nacional 
Constituinte composta de representantes do povo eleitos com a finalidade 
de sua elaboração. Conhecidas como: democráticas ou populares. 
 
Outorgada - são impostas por um regime autoritário sem a participação 
popular. 
 
 Quanto ao processo de reforma, à estabilidade ou alterabilidade: 
 
Rígida– é a constituição que só pode ser alterada através de processo 
legislativo especial, dificultoso e solene (como a nossa), distinto do que é 
estabelecido para elaboração das leis ordinárias. 
 
Flexível– é a constituição que permite ser modificada pelo mesmo processo 
legislativo para a elaboração das leis ordinárias. Modifica-se a Constituição 
como se modifica qualquer outra lei. O mesmo que Constituição Plástica. 
 
Semi-rígida - Possui parte rígida e outra flexível. Para sofrer modificação, uma 
parte do seu texto exige processo dificultoso, enquanto outra parte pode ser 
modificada pelo processo legislativo ordinário. Serve de exemplo a 
Constituição brasileira de 1824, que em seu art. 178 dizia: “É só 
constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos 
Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e Individuais dos cidadãos; tudo o 
que não é constitucionalpode ser alterado, sem as formalidades referidas, 
pelas Legislaturas ordinárias”. Não esqueçam: a nossa Constituição de 
1824 foi a única semi-rígida. 
 
16 
 
 Quanto ao conteúdo, a essência ou ao objeto: 
 
Material– são as matérias que tratam da forma de organização política do 
Estado. Diz respeitoao conteúdo do próprio conceito de Constituição. É a 
essência do Estado com todos os seus traços marcantes. Alguns autores 
costumam alegar que as regras matérias seriam as cláusulas pétreas (art. 60, 
§4º). Contudo, a doutrina moderna especifica que todos os preceitos 
constitucionais que tenham pertinência temática com elas, também estariam 
abrangidas dentro desta realidade material. 
 
Formal– estariam elencadas dentro desta realidade todas as matérias que 
foram trazidas para dentro de Constituição, mas não fazem parte da essência 
Constitucional, como por exemplo o Desporto, a tecnologia etc. 
 
 
 
A nossa Constituição de 1988 é: ESCRITA; ANALÍTICA, DOGMÁTICA; PROMULGADA; RÍGIDA 
 
 
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES: Constituição Programática e Constituição 
Dirigente 
 
Programáticas: São aquelas que contêm numerosas normas definidoras 
de programas de ação e linhas de orientação. Tema atualmente bastante 
solicitado nos concursos é o que trata de norma programática. Pelo fato de a 
nossa Constituição estar incompleta, ou seja, com um excessivo número de 
normas de eficácia limitada é também classificada como Constituição 
programática. A partir do conceito de norma programática chega-se a 
conclusão de que a Constituição da República Federativa do Brasil é também 
uma Constituição Dirigente. 
 
Constituição Dirigente é aquela que, predominantemente, apresenta 
em seu corpo normas programáticas. 
 
Normas programáticas são aquelas que não podem ser aplicadas de 
imediato porque dependem de programas a serem desenvolvidos no futuro. 
Estas normas são dirigidas principalmente, mas não exclusivamente, aos 
legisladores. É citado como exemplo: 
 
 O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social 
(CF, art. 217, § 3º); 
 O Estado promoverá o desenvolvimento científico, a pesquisa e a 
capacitação tecnológicas (CF, art. 218, caput); 
 A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas de governo 
para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, 
constituindo-se a participação nos cursos um dos requisitos para a 
promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios 
ou contratos ente os entes federados (CF, art. 39, § 2º); 
 
 
 
17 
 
AS CONSTITUIÇÕES E SUAS CLASSIFICAÇÕES 
 Classificação quanto a 
Consti
tuiçõe
s 
Ano de 
Promul
gação 
Forma 
de 
Estado 
Forma de 
Governo 
Forma Modo de 
elaboração 
Extensão Origem Estabilidade 
ou 
alterabilidad
e 
1ª. 1824 Unitário Monarquia Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Semi-rígida 
2ª. 1891 Federal República Escrita Dogmática Sintética Promulg
ada 
Rígida 
3ª. 1934 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
4ª. 1937 Federal República Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Rígida 
5ª. 1946 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
6ª. 1967 Federal República Escrita Dogmática Analítica Outorgad
a 
Rígida 
7ª. 1988 Federal República Escrita Dogmática Analítica Promulg
ada 
Rígida 
 
 
13 - PODER CONSTITUINTE 
 
Aquele que cria, põe em vigor, altera, ou mesmo constitui normas 
jurídicas de valor constitucional. 
 
13.1 - FINS – participar da criação e distribuição das competências supremas 
do Estado, por meio do regramento constitucional. 
 
13.2 - PRODUTO – A Constituição é o produto ou resultado desse poder; quer 
seja no momento de sua elaboração, quer seja em sua reforma. 
 
13.3 - TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE – Nos Estados 
democráticos é o povo, através da soberania popular, pois somente o povo é 
legitimado para determinar, por si ou por seus representantes o 
18 
 
estabelecimento de uma constituição. Caso advenha de outra fonte (um 
ditador, por ex.) é porque ocorreu a usurpação. 
 Pela titularidade pertencer ao povo, o Poder Constituinte é permanente, 
não se esgota em um único ato do seu exercício, visto que o povo não perde o 
direito de querer e de mudar a sua vontade. Elaborada a Constituição pelo 
Poder Constituinte, permanece ele em estado de LATÊNCIA, no seu assento 
natural, que é o povo. 
 A teoria sobre o Poder Constituinte advém do pensador francês 
Sieyès, elaborada nos momentos que antecederam a Revolução Francesa,em 
sua obra "que é o Terceiro Estado". Deste doutrinador partiu também a 
“descoberta da distinção entre poder constituinte e poderes constituídos. 
 Discute-se, na doutrina, quem seja o titular do Poder Constituinte, 
para uns é o povo, para outros a nação. O que de fato importa é que o Poder 
Constituinte Originário se manifesta pela eleição de uma Assembléia 
Constituinte ou por uma revolução. Tem o poder de destituir o governo 
anterior e tem a capacidade de constituir um novo governo. Contém força 
normativa para editar normas jurídicas sem que nisto seja limitado pela 
normatividade anterior. Daí porque, para o positivismo jurídico, o poder 
constituinte originário não tem natureza jurídica, por ser um poder de 
fato, não de direito, embora traga em si o gérmen da ordem jurídica. 
 
13.4 - EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE 
 
Por Outorga – através de ato unilateral do governante 
Por Assembleia Nacional Constituinte- que é a forma típica do exercício do 
Poder Constituinte, em que o povo, seu legítimo titular, democraticamente, 
outorga poderes a seus representantes especialmente eleitos para elaboração 
da Constituição. 
 
13.5 - ESPÉCIESDE PODER CONSTITUINTE 
 
Poder Constituinte ORIGINÁRIO – também denominado genuíno, primário, 
ou de primeiro grau, cria inicialmente a ordem jurídica. 
 
CARACTERÍSTICAS – inicial, permanente, absoluto, soberano, ilimitado, 
incondicionado e inalienável. 
 
Poder Constituinte DERIVADO – também denominado reformador, 
secundário, instituído, constituído, de reforma, ou de segundo grau, se destina 
a modificar a Constituição Federal, segundo suas próprias regras. 
 
CARACTERÍSTICAS – derivado, subordinado, limitado ou condicionado. 
 
FINALIDADE – se adaptar as novas necessidades sociais 
 
 
19 
 
Poder Constituinte DECORRENTE – Atribuído aos Estados-Membros para se 
auto-organizarem, mediante a elaboração de suas constituições estaduais, 
desde que respeitadas as regras limitativas impostas pela Constituição Federal. 
 
 
13.6 - LIMITAÇÕES AO PODER REFORMADOR 
 
Materiais ou substanciais – Cláusulas Pétreas 
 Art. 60, § 4º,núcleo intangível 
EXPRESSAS 
Circunstanciais ou temporais - Art. 60, § 1º 
 
Formais ou procedimentais – Art. 60, I, II, III, 
 §§ 2º, 3º, 5º - referente ao Processo 
 Legislativo. 
 
OBS: O limite temporal já foi exercido através do art. 3º do ADCT, com as 
Emendas de Revisão, em número de 06 (seis). 
 
 - Suspensão do próprio processo de reforma, 
 ou seja das limitações expressas. 
 
 - A titularidade do poder Constituinte 
originário, pois uma reforma não pode mudar 
IMPLÍCITAS o titular do poder que criou o próprio poder de 
 reforma. 
 - A titularidade do poder derivado, seria um 
 despautério que o legislador ordinário 
 estabelecesse novo titular de um poder 
 derivado estabelecido pelo Poder Originário. 
 
14- Mutação Constitucional 
 
Tem sido tema de algumas questões o conceito de mutação constitucional. 
Trata-se de mecanismo de mudança da Constituição sem necessidade de 
utilização de emendas ou revisão, tudo, diga-se de passagem, sem ferir a 
forma consagrada pelo Poder Constituinte. Em verdade mutação 
constitucional éum método de interpretação da Constituição também 
conhecido por método evolutivo. Ocorre pelo fato de que algumas palavras 
na Constituição dão margem a vários significados, em razão de mudanças 
históricas, políticas e sociais comportam novos sentidos e significados a 
exemplo de “notável saber jurídico”, “reputação ilibada”, “costumes”. Percebam 
que são termos ambíguos e que comportam vários e mutáveis significados. 
Significados que evoluem com o correr dos tempos. Assim ao adotar este 
método o intérprete da Constituição (o intérprete pode ser o Juiz, o doutrinador, 
o aplicador da lei ou o próprio legislador), usará o significado não apenas da 
época em que foi elaborada (1987 a 1988), bem como o dos dias de hoje em 
que estiver sendo aplicada. 
 
 
20 
 
15- Princípio da hierarquia das normas jurídicas 
 
 O princípio hierárquico das normas jurídicasensina que as normas 
legais se sobrelevam umas às outras, formando uma figura cujo formato 
assemelha-se ao de uma pirâmide. O que significa dizer que a criação de 
uma norma jurídica é determinada por outra. A Constituição se encontra 
nopico da pirâmide, representa o ápice do ordenamento jurídico de maneira 
que o conteúdo de todas as leis lhe deve obediência material e formal. 
Deriva daí o Princípio da Supremacia Constitucional. 
 
 Uma coisa é bom que fique logo clara:não existe hierarquia entre 
leis federais, leis estaduais e, no caso do Brasil, leis municipais e lei do 
Distrito Federal, o que de fato existe são campos específicos de atuação, 
que iremos tratar ao estudarmos o capítulo relativo a repartição 
constitucional de competências. 
 
 
16 - HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL – o objetivo cinge-se ao estudo e a 
sistematização dos processos aplicáveis no âmbito da Constituição para 
determinar, sobretudo, o sentido e o real alcance das normas constitucionais 
de conteúdo político-jurídico. A hermenêutica é a ciência que fornece a técnica 
e, acima de tudo, os princípios basilares segundo os quais o operador do 
Direito poderá apreender o verdadeiro sentido (jurídico-político) da norma 
constitucional sub examen. 
 
Para se interpretar corretamente os preceitos constitucionais deve-se 
considerar os princípios hermenêuticos norteadores: 
 
16.1 Princípio da Supremacia Constitucional – A Constituição está no 
ápice do ordenamento jurídico nacional e nenhuma norma jurídica pode 
contrariá-la material ou formalmente, sob pena de advir uma 
inconstitucionalidade (ineficácia jurídica extrínseca); 
16.2 Princípio da Imperatividade da Norma Constitucional – A norma 
Constitucional é imperativa, de ordempública e emana da vontade 
popular. 
16.3 Princípio da Taxatividade da Norma Constitucional – Uma norma 
constitucional deve sempre ser interpretada taxativamente não se 
admitindo uma interpretação extensiva e análoga (fora do contexto 
constitucional). Limita o âmbito de incidência da norma constitucional à 
vontade expressa do legislador constituinte. 
16.4 Princípio da Simetria Constitucional – É o princípio federativo que 
exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicos postos na 
Constituição Federal, com as Constituições dos Estados-Membros e Leis 
Orgânicas Municipais e Distrital. Este exercício será realizado através do 
Poder Deriva Decorrente posto no art. 11 e seus parágrafo único do 
ADCT. 
16.5 Princípio da Presunção da Constitucionalidade das normas 
infraconstitucionais – Há uma presunção iuris tantum (relativa) de que 
toda lei é constitucional até prova em contrário, ou seja, até que o Poder 
21 
 
Judiciário, exercendo o controle típico constitucional (eficácia jurídica), a 
declare expressamente inconstitucional (ineficaz juridicamente). 
 
TIPOS DE INTERPRETAÇÕES: autêntica (legal), judicial, doutrinária, 
gramatical (literal ou filológica), racional (lógica), sistemática ou holística, 
histórica, teleológica(sociológica). 
 
17 - APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL NO TEMPO 
Recepção, Repristinação e a Desconstitucionalização 
 
17.1- Teoria da desconstitucionalização 
 
Antes de qualquer coisa, cumpre esclarecer que a teoria da 
desconstitucionalização não é aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro. De 
acordo com esta teoria as normas da Constituição anterior, compatíveis 
com a nova Constituição, continuam válidas e em vigor, embora com 
status infraconstitucional (perdem o status de Constituição e passam a 
valer como leis ordinárias). 
OBS: alguns doutrinadores retratam o fenômeno da desconstitucionalização 
no sentido sociológico, ou seja, se as normas constitucionais não são 
efetivadas, elas se desconstitucionalizam por perderem a sua força 
determinante. Professor Dr. Ivo Dantas, dentre outros, adotam esta teoria e dão 
como exemplo o art. 192 da Constituição Federal que teve seus caput 
modificado e seus incisos, alíneas e parágrafos revogados. 
 
17.2- Princípio ou teoria da recepção 
 
 Dificilmente uma nova ordem constitucional significará um rompimento 
integral e absoluto com o passado. Desta maneira, toda a legislação ordinária, 
federal, estadual e municipal que não seja incompatível com a nova Carta 
conserva sua eficácia, é o que nos demonstra o princípio da continuidade da 
ordem jurídica. Se fosse diferente, haveria um enorme vazio infraconstitucional 
até que o legislador pudesse recriar inteiramente todas as leis anteriores. 
 
 A TEORIA DA RECEPÇÃO é um processo pelo qual a nova Constituição 
recebe as leis já existentesoriundas da ordem jurídica anterior, se o 
conteúdo das mesmas forem com ela compatíveis(compatibilidade 
material), evitando o trabalho quase impossível de se elaborar toda a 
legislação infraconstitucional novamente. 
Toda a legislação infraconstitucional, produzida anteriormente ao 
advento de uma nova ordem constitucional (e que seja perfeitamente 
compatível com a mesma), é recepcionada pela nova Constituição, 
continuando, por princípio de economia e segurança, a viger no âmbito próprio 
de sua atuação ordinária. Ocorre, contudo, que excepcionalmente, a lei anterior 
pode ganhar nova roupagem normativa. 
 
 Com o advento de nova constituição, todas as leis anteriores perdem seu 
antigo fundamento de validade (a antiga Constituição) para ganhar novo 
fundamento (a nova Constituição). Ao serem recebidas, as leis ganham a 
22 
 
forma que a nova Constituição atribuir as matérias de que elas tratam. Apenas 
materialmente elas pertencem ao velho ordenamento jurídico; formalmente são 
todas do novo ordenamento jurídico. Assim, leis anteriores tidas por 
formalmente ordinárias podem passar a ter conteúdo e eficácia de leis 
complementares; decretos-lei podem passar a ter natureza deleis 
ordinárias. 
 
17.2.1 - Estudo de um caso de teoria da recepção: O Código Tributário 
Nacional 
 
 A lei 5.172, de 25 de outubro de 1966, dispõe sobre o Sistema 
Tributário Nacional e institui normas gerais de Direito Tributário aplicáveis 
a União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Na realidade, a referida lei 
tramitou e foi aprovada como lei ordinária porque a Constituição de 1946 
não contemplava a espécie normativa lei complementar. A Constituição de 
1988 fixa a competência da lei complementar para estabelecer normas gerais 
em matéria tributária (CF/88, art. 146, III). O princípio ou teoria da recepção fez 
com que a lei 5.172/66 fosse recepcionada no que o seu conteúdo for 
compatível com a CF/88 e teve o condão de lhe proporcionar nova 
roupagem 
 
Em resumo: O Código Tributário Nacional, lei n. 5.172/66, é lei 
formalmente ordinária no nascedouro, entretanto, face à teoria da recepção, 
tem “eficácia de Lei Complementar”. Assim, só por Lei complementar 
poderá ser modificada, a partir de 1988. 
 
17.3 – Teoria da repristinação 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, uma norma revogada não volta a ter 
vigência automática com a posterior revogação da normaque a revogou 
(repristinação tácita), salvo se houver expressa previsão neste sentido 
(repristinação expressa), conforme determina a Lei de introdução ao Código 
Civil. 
Todavia, há casos em que ocorre um fenômeno semelhante, denominado 
de efeito repristinatório tácito. Por exemplo: a lei 9.868/99, no seu artigo 11, 
§2º, determina que a concessão de medida cautelar em sede de ADIn, por 
suspender a vigência da lei questionada, “torna aplicável a legislação anterior 
acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário”. 
O mesmo ocorre quando o STF profere uma decisão definitiva de mérito 
declarando, com eficácia vinculante e efeito retroativo (ex tunc), a 
inconstitucionalidade de uma lei. Nesta hipótese, a lei anterior que havia sido 
revogada pela lei declarada inconstitucional poderá voltar a ser aplicada, caso 
esta seja a solução mais razoável. 
 
18 - Classificação das normas constitucionais quanto à 
Eficácia 
 
 No Brasil a classificação mais aceita pela doutrina e pela 
Jurisprudência, inclusive adotada pelo Supremo Tribunal Federal-STF, 
pertence a José Afonso da Silva. Este autor classifica as normas 
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constitucionais em: normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e 
normas de eficácia limitada. 
 
 Normas de eficácia plena - são aquelas que têm aplicabilidade 
imediata e integral. Produzem efeitos diretos, dispensando 
legislação complementar que lhes dê efetividade. São bastante em 
si, não necessitam da intermediação do legislador infraconstitucional. 
Ex: O artigo 37, III da CF/88 : “o prazo de validade do concurso público 
será de até dois anos, prorrogável uma vez por igual período”. Todos os 
remédios constitucionais. 
 
 Normas de eficácia contida - são aquelas que têm aplicabilidade 
imediata e integral, mas estão sujeitas a restrições por parte do 
legislador infraconstitucional. São normas em que o legislador 
constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a 
determinada matéria mas deixou margem à atuação restritiva por parte 
da competência discricionária do Poder Púbico, nos termos que a lei 
estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados. Por 
exemplo: CF/88,art. 5º, XIII - “é livre o exercício de qualquer 
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações 
profissionais que a lei estabelecer”. Art. 5º, LVIII, “o civilmente 
identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas 
hipóteses previstas em lei”. O raciocínio é o seguinte: enquanto as 
leis não forem produzidas é totalmente livre o exercício de qualquer 
trabalho ofício ou profissão; bem como não será permitida a 
identificação criminal daquele que tiver identificação civil. Ao ser 
editada tal lei, ela poderá conter, reduzir, restringir a eficácia deste 
dispositivo. Normas de eficácia contida estão presentes no art. 5º, 
incisos VII, XXXII, entre outras, etc. 
 
 Normas de eficácia limitada- são aquelas que não têm aplicabilidade 
imediata. Sua aplicabilidade é mediata ou indireta porque dependentes 
de legislação ou outra providência para poderem produzir efeitos. José 
Afonso da Silva entende que há dois tipos de normas de eficácia 
limitada, são elas as de princípio institutivo e as de caráter programático: 
a) as de princípio institutivo ou organizativo. Estas normas contém o 
início ou esquema de determinado órgão, entidade ou instituição, 
deixando a efetiva criação, estruturação ou formação para a lei 
complementar ou ordinária. Exemplo: “Lei complementar organizará a 
Defensoria Pública da União (CF, art. 134, parágrafo único).b) as de 
princípio programático (que são as tais normas programáticas). Estas 
são normas através das quais o constituinte, em vez de regular direta e 
imediatamente determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os 
princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, 
executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das 
respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado. 
Exemplo: “proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante 
incentivos específicos, nos termos da lei” (CF, art. 7º, XX)”; “a lei 
reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos 
mercados...” (CF, art.173, §4º); “A lei estabelecerá incentivos para a 
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produção e o conhecimento de bens e valores culturais” (CF, art. 215, 
§3º); “ O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais 
e o acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a 
valorização e a difusão das manifestações culturais” (CF, art. 215).; “o 
direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei 
específica” (CF, art. 37, VII). Não pensem que as normas 
programáticas são um “fogo morto” ou “mera carta de intenções”. 
Ao contrário, elas são dotadas de eficácia jurídica e exigem a 
vinculação dos poderes públicos à sua realização. O que podemos, com 
certeza, afirmar é que a norma programática não dispõe de 
aplicabilidade imediata. Na verdade, se trata de um indicativo, um 
programa de ação política, ao qual se encontra adstrito o legislador 
infraconstitucional. Este, no entanto, não pode dispor de forma 
contrária ao espírito da norma programática. 
 
 Chamo atenção para esclarecer que apesar da doutrina determinar 
esta classificação nos moldes acima dispostos, não concordo e 
passo a explicar: 
 Norma Constitucional de eficácia absoluta - são aquelas quem além 
de possuírem eficácia imediata, sem depender de regulamentação para 
produção dos seus efeitos, fazem parte das cláusulas pétreas; 
 Norma Constitucional de eficácia plena – são as normas que 
produzem efeitos sem a necessidade de regulamentação por parte do 
legislador infraconstitucional, sendo consideradas auto-executáveis. Ex: 
art.5º, XVII, da CF. 
 Norma Constitucional de eficácia limitada – são as que só terão 
eficácia imediata quando forem regulamentadas. Ex: art. 153, VII, da CF. 
Enquanto não for editada a lei complementar que estabeleça como será 
cobrado o imposto sobre grandes fortunas, não será permitida à União a 
cobrança do respectivo tributo. 
 Norma Constitucional de eficácia programática – são aquelas que 
estabelecem planos, metas, objetivos, que devem ser alcançados. Para 
que estas normas tenham eficácia urge que os Poderes Estatais tomem 
atitudes que possam concretizá-las, realizando, assim, os fins de 
interesse público consagrados na Carta Magna. Ex: todo artigo 3º da 
CF. 
CRÍTICA: não concordo como os autores que colocam as regras 
programáticas dentro da classificação de eficácia limitada, pois estas 
necessitam de uma normatização posterior para serem usufruídas, 
enquanto que as programáticas só precisam de programas de governo para 
serem alcançadas. 
 
Resumindo: 
Normas de EFICÁCIA PLENA ou ABSOLUTA são aquelas que, independente 
de qualquer condição, por serem completas e definidas quanto à hipótese e à 
disposição, são auto-aplicáveis. Desde a entrada em vigor da Constituição, 
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produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais. (Ex: 
Art. 5º, LXXII CF) 
 
Normas de EFICÁCIA LIMITADA são aquelas que não são auto-aplicáveis 
considerando a necessidade de posterior regulamentação (por serem 
incompletas). Têm aplicabilidade indireta, mediata e reduzida, porque 
somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma normatividade 
ulterior que lhes desenvolva a aplicabilidade. (Ex: Art. 7º, I CF) 
 
Normas de EFICÁCIA CONTIDA são aquelas que o legislador constituinte 
regulou suficientemente os interesses relativos à determinada matéria, mas 
deixou margem à atuação restritiva por parte da competência do poder público 
ou órgãos regulamentares. (Ex: Art. 5º, XIII CF) 
 
Norma de EFEICÁCIA PROGRAMÁTICA são aquelas que estabelecem 
planos, metas, objetivos, que devem ser alcançados. Para que estas normastenham eficácia urge que os Poderes Estatais tomem atitudes que possam 
concretizá-las, realizando, assim, os fins de interesse público consagrados na 
Carta Magna. Ex: todo artigo 3º da CF.

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