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UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL I PROFESSORA: Alexsandra Gato Rodrigues Aula 2 DOS SUJEITOS DO PROCESSO TÍTULO I DAS PARTES E DOS PROCURADORES CAPÍTULO I DA CAPACIDADE PROCESSUAL (artigos 70 a 76 NCPC): De acordo com a doutrina, entende-se pelo vocábulo “parte” todo aquele que participa da lide, exercendo direitos e submetendo-se a ônus e deveres. Com efeito, juiz é sujeito processual, todavia não é parte. A depender do estágio e da natureza do processo, as partes recebem diferentes designações, a exemplo das seguintes: exeqüente/executado, autor/réu, credor/devedor, caucionante/caucionado etc. Para que um processo se desenvolva regularmente, dentre seus pressupostos de existência encontra-se a exigência de capacidade processual, bem como de seus consectários lógicos. Em relação às pessoas físicas, com efeito, o Código dispõe que os incapazes devem ser, em juízo, representados ou assistidos, a depender de ser a incapacidade absoluta ou relativa. Se o incapaz é menor órfão, para tais fins considerado aquele cujos pais já faleceram, ou foram destituídos do pátrio poder, será representado por um tutor, bem como quando os interesses dos pais colidirem com os interesses do menor. Tal representação, por meio de tutor, será obrigatória até que o menor atinja a maioridade, ou seja, quando estiver judicialmente emancipado. No caso de loucos e surdos-mudos, estes, a depender do grau de sua incapacidade, nos termos do Decreto n. 24.559/64, serão representados ou assistidos por um curador, bem como os pródigos que, em relação, exclusivamente, aos atos de disposição de patrimônio, porque possuidor de incapacidade relativa sui generis, serão assistidos também por um curador. Além da representação, como pressuposto de existência do processo, as partes devem estar em juízo por meio da atuação de advogados, técnicos especializados, que atuam de forma a melhor atender ao interesse das partes que patrocinam, e a princípios como o da eficiência. A procuração pode ser outorgada mediante instrumento particular, exigindo-se o público quando outorgar poderes não embutidos na cláusula ad judicia.. A capacidade para estar em juízo, segundo Daniel Mitidiero, é gênero de três espécies: capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo e capacidade postulatória. (MITIDIERO, Daniel Francisco. Comentários ao Código de Processo Civil, tomo I. São Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 137). A capacidade para ser parte (ou “interessado”, segundo DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2ª ed., São Paulo: Malheiros, 2002, p. 246.), é aquela atribuída ao sujeito que pode tornar-se titular de situação jurídica integrada em uma relação de direito processual, como é o exemplo do incapaz e do nascituro. Portanto, trata-se de instituto de direito material (legitimatio ad causam). Embora de um modo geral a capacidade de ser parte esteja relacionada com a personalidade jurídica, nem sempre com ela anda atrelada, pois a lei processual reconhece a entes desprovidos de personalidade jurídica a possibilidade de ocuparem a posição de parte no processo. Nessas hipóteses, trata a lei de conferir personalidade judiciária ou personalidade processual a aqueles entes que não possuem, de regra, aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. É o caso do espólio, da massa falida, órgãos públicos de defesa do consumidor, Ministério Público, Tribunal de Contas, entre outros. A capacidade para estar em juízo, stricto sensu, tem natureza processual (legitimatio ad processum), já que se refere estritamente à aptidão para a prática dos atos processuais. Trata-se, portanto, de capacidade para exercitar direitos processuais e não apenas para figurar como sujeito processual como ocorre na “capacidade para ser parte”. De acordo com o Código Civil, aos menores de 16 anos (absolutamente incapazes), bem como aos maiores de 16 e menores de 18 anos (relativamente incapazes), a lei não reconhece a capacidade para estar em juízo, sendo que aqueles devem ser assistidos e estes representados (art. 71 do novo CPC). A capacidade postulatória pode ser conceituada como a capacidade para procurar em juízo. Ostentam tal capacidade, de regra, aqueles que estiverem regularmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil ou forem membros do Ministério Público ou, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, os sujeitos especificados e não excetuados no art. 8º Lei 9.099/95 nas causas que não excedam 20 salários mínimos. Em relação ao artigo 72 do novo Código, com o objetivo de garantir a igualdade e isonomia entre os sujeitos processuais, a lei processual impôs a obrigatoriedade da nomeação de curador, no bojo processual, ao incapaz, que não possua representante legal ou quando os interesses daquele colidirem com os deste. Do mesmo modo, deve ser nomeado curador quando o réu, nos casos em que preso ou citado de forma ficta, for revel. No novo Código, o curador especial nomeado pelo juízo exercerá suas funções até o instante em que for constituído ao curatelado competente advogado. Portanto, o legislador delimitou o aspecto temporal do exercício da representação por curador especial. A defensoria pública, que é consagrada no art. 134 da Constituição Federal como instituição essencial à função jurisdicional do Estado, é quem exercerá a aludida curatela especial. À análise dos artigos 73 e 74 do novo Código de Processo Civil, verifica-se a inovação, em relação ao antigo Código de 1973, no que diz respeito à exigência de mútuo consentimento dos cônjuges, na hipótese de propositura por tão somente um deles de ação que verse sobre direito real imobiliário, ao excetuá-la àqueles que forem casados sob o regime de separação absoluta de bens (o regime da separação total – absoluta – de bens consiste na incomunicabilidade dos bens e dívidas anteriores e posteriores ao casamento). Trata-se, portanto, de hipótese de integração de capacidade para estar em juízo, stricto sensu, bastando apenas o consentimento do cônjuge, que, por sua vez, poderá ser suprido por ordem judicial (art. 74 do novo CPC). Caso constatada a falta de consentimento, quando necessário, o processo será invalidado (parágrafo único do art. 74 do novo CPC), a lembrar, mutatis mutandis, violação ao instituto do litisconsórcio passivo necessário. O novo Código, ainda que rechace o intento patriarcal e de tradição machista que estava esculpido no antigo Código de 1973, mantém a regra, estendendo-a à união estável comprovada nos autos e excetuando-a ao regime de separação absoluta de bens no que refere às ações que versem sobre direito real imobiliário, no sentido de que “nas ações possessórias, porém, não se faz necessário o consentimento ou a citação de ambos os cônjuges, a não ser que haja composse ou quando a demanda se relacionar a fato praticado por ambos. É que as ações possessórias não dizem respeito a direitos reais imobiliários, uma vez que posse é fato.” Em comparação ao antigo CPC de 1973, verifica-se que o novo CPC dispõe, em verdadeira inovação, que a União pode ser representada por órgão vinculado pela Advocacia-Geral da União, bem como que a autarquia e a fundação de direito público pode ser (re) presentada por quem a lei do ente federado designar. Além do mais, em linhas gerais, o novo Código aprimorou a linguagem técnica disposta nos competentes artigos (ex.: no novo código, o representante da massa falida é o “administrador judicial” e não mais o “síndico” referido no antigo CPC). A fim de facilitar o exercício da (re)presentação processual, o novo CPC, ademais, autorizou (§4º do art. 75) que os Estados e o DistritoFederal ajustem compromissos recíprocos para a prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelos respectivo procuradores. No tocante ao vício da representação, a fim de evitar eventual “decisão surpresa”, o novo Código dispõe que os sujeitos processuais serão intimados, inclusive (a acrescer à redação do Código anterior) em grau recursal, para proceder na sua regularização. Entretanto, no caso de não atendimento ao comando judicial, os consectários traçados no art. 76 deverão ser aplicados pelo julgador. De fácil constatação, portanto, que o novo Código ressalta a utilização do contraditório como uma garantia de aproveitamento da atividade processual, caso a parte prejudicada tenha obtido a potencialidade de se valer do contraditório dinâmico, como faculdade que é, e ainda não tenha se manifestado. Todo o sistema de nulidades, portanto, cooperação entre juiz e as partes, endereçados a salvaguardar e facilitar o julgamento definitivo do mérito da causa, em lugar da invalidação (evitável) do processo, a qual, em regra, atrita com a efetividade esperada da tutela jurisdicional. Evita-se, assim, que o formalismo exacerbado impere no novo ordenamento processual civil brasileiro (“pode acontecer, contudo, e esse é o âmago do problema, que o poder organizador, ordenador e disciplinador do formalismo, em vez de concorrer para a realização do direito, aniquile o próprio direito ou determine um retardamento irrazoável da solução do litígio. Neste caso o formalismo se transforma no seu contrário: em vez de colaborar para a realização da justiça material, passa a ser o seu algoz, em vez de propiciar uma solução rápida e eficaz do processo, contribui para a extinção deste sem julgamento do mérito, obstando a que o instrumento atinja a sua finalidade essencial.)”
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