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dislexia revisao.indd 1 05/04/2011 14:08:10 dislexia revisao.indd 2 05/04/2011 14:08:10 Rio de Janeiro 2011 dislexia revisao.indd 3 05/04/2011 14:08:10 © 2011 by Luciana Mendonça Alves, Renata Mousinho e Simone Aparecida Capellini Gerente Editorial: Alan Kardec Pereira Editor: Waldir Pedro Revisão Gramatical: Lucíola Medeiros Brasil Capa e Projeto Gráfico: 2ébom Design Capa: Eduardo Cardoso Diagramação: Flávio Lecorny Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D639 Dislexia: novos temas, novas perspectivas/ Luciana Mendonça Alves, Renata Mousinho, Simone Capellini (organizadoras) - Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. 344p ; 23cm Trabalhos apresentados no 3º Congresso Internacional de Dislexia (CID - 2011), realizado nos dias 20 e 21 de maio de 2011 em Belo Horizonte (MG) Inclui bibliografia ISBN 978-85-7854-142-2 1. Dislexia - Congressos. 2. Crianças com distúrbios de aprendizagem - Avaliação. 3. Crianças disléxicas - Educação. I. Alves, Luciana Mendonça. II. Mousinho, Renata. III. Capellini, Simone. 10-0911. CDD 616.8553 CDU 616.89-008.434.5 2011 Direitos desta edição reservados à Wak Editora Proibida a reprodução total e parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. WAK EDITORA Av. N. Sra. de Copacabana 945 – sala 107 – Copacabana Rio de Janeiro – CEP 22060-001 – RJ Tels.: (21) 3208-6095 e 3208-6113 Fax (21) 3208-3918 wakeditora@uol.com.br www.wakeditora.com.br dislexia revisao.indd 4 05/04/2011 14:08:10 Amanda Kirby Professora titular de Desordens Desenvolvimentais na Educa- ção. Diretora médica do “The Dyscovery Centre”. Universidade de Wales, Newport – Inglaterra. Ana Luiza Navas Fonoaudiologa. Doutora em Psicolinguística pela University of Connecticut, EUA. Pós-doutorado em Linguística pela UNI- CAMP. Professora adjunto do Curso de Fonoaudiologia da Facul- dade de Ciências Médicas, da Santa Casa de São Paulo. Diretora presidente do Instituto ABCD. Ângela Maria Vieira Pinheiro Professora titular do Departamento de Psicologia FAFICH/ UFMG. Cíntia Cristina Fadini Discente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Filo- sofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes- quita Filho” – FFC/UNESP – Marília – SP. Bolsista de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. AUTORES dislexia revisao.indd 5 05/04/2011 14:08:11 Clara Regina Brandão de Ávila Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Uni- versidade Federal de São Paulo – UNIFESP-EPM. Professora asso- ciada do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Fede- ral de São Paulo – UNIFESP-EPM. Cláudia Machado Siqueira Médica neuropediatra. Mestranda em Ciências da Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Minas Ge- rais. Preceptora da Residência em Neurologia Pediátrica, do Hos- pital das Clínicas. Coordenadora do Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Univer- sidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Daniele de Campos Refundini Discente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Filo- sofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mes- quita Filho” – FFC/UNESP – Marília – SP. Bolsista de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Débora Fraga Lodi Fonoaudióloga. Docente do Curso de Fonoaudiologia da Fa- culdade Fead – MG. Colaboradora do Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da UFMG. Fabiana Silva Ribeiro Psicóloga pela Universidade Estadual Paulista (FCL-UNESP/ Assis). Aluna de graduação em Educação Musical da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). dislexia revisao.indd 6 05/04/2011 14:08:11 Flávia Heloísa dos Santos Pós-Doutorado em Psicologia pela Universidad de Murcia, Espanha. Doutora em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) com período de intercâmbio acadêmico na University de Durham, Inglaterra. Especialista em Psicologia da Infância pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Do- cente de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista (UNESP, campus de Assis). Coordenadora do Laboratório de Neuropsicologia da UNESP/Assis. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e da Fundación Séneca. Giseli Donadon Germano Fonoaudióloga. Doutora em Educação da Faculdade de Filoso- fia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP – Marília (SP), Brasil. Laboratório de Investi- gação dos Desvios da Aprendizagem do Departamento de Fonoau- diologia da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Esta- dual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP – Marília. Guilherme Wood Psicólogo. Doutor em Psicologia pela Universidade Técnica da Renânia-Westfália em Aachen. Pós-doutorado no Departamento de Diagnóstico Psicológico e Neuropsicologia da Paris-London Universidade de Salzburgo. Helena V. Corso Doutoranda em Psicologia do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Mestre em Psicologia da Educação pelo Programa de Pós- Graduação da Faculdade de Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. dislexia revisao.indd 7 05/04/2011 14:08:11 Hugh W. Catts Professor titular do Departamento de “Speech-Language-Hea- ring: Sciences and Disorders” na Universidade do Kansas – Estados Unidos. Ian Smythe Doutor em Psicologia Cognitiva pela University of Surrey- UK. Professor visitante da University of Wales, Newport -UK. Jane Correa Psicóloga. Mestre em Psicologia Cognitiva pela Fundação Ge- túlio Vargas (FGV-RJ). Doutorado em Psicologia pela Universidade de Oxford. Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Fe- deral do Rio de Janeiro. Cientista do Nosso Estado – FAPERJ. Co- ordenadora das Oficinas de Leitura e Escrita (www.psicologia.ufrj. br/oficinasleituraescrita). Produtividade em Pesquisa – CNPq. Jerusa Fumagalli de Salles Doutora em Psicologia do Desenvolvimento. Professora ad- junta do Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade e do Programa de Pós-Gradu- ação em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Coordenadora no Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva (Neurocog). José Alexandre Bastos Responsável pelo Serviço de Neurologia Infantil da FAMERP. Professor e doutor em Ciências da Saúde. Membro titular da Acade- mia Brasileira de Neurologia. Título de Especialista em Neurologia Infantil pela AMB. Autor do Livro “O Cérebro e a Matemática”. dislexia revisao.indd 8 05/04/2011 14:08:11 Juliana Flores Mendonça Alves Terapeuta ocupacional graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais. Colaboradora do Laboratório de Estudo dos Trans- tornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da UFMG. Juliana Gurgel-Giannetti Médica neuropediatra. Professora adjunta de Pediatria da UFMG. Pós-Doutorado em Columbia University, em Nova Iorque. Coordenadora e preceptora da residência de Neurologia Pediátrica da UFMG. Karina Avelar Psicóloga Clínica. Neuropsicóloga. Pós-Graduação em Neuro- psicologia pela FUMEC. Colaboradora do Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da UFMG. Lara Cristina Antunes dos Santos Neurologista Infantil. Médica responsável pelo Ambulatório de Neurodesvios da Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Fa- culdade de Medicina – FM/UNESP – Botucatu – SP. Lívia de Castro Magalhães PhD, Terapeuta Ocupacional. Professora titular do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG. Luciana Mendonça Alves Fonoaudióloga. Pós-Doutoraem Linguística pelo Laboratoire Parole et Langage – França. Doutora em Estudos Linguísticos pela dislexia revisao.indd 9 05/04/2011 14:08:11 UFMG. Docente do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universi- tário Metodista Izabela Hendrix. Colaboradora do Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da UFMG. Maíra Anelli Martins Discente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Fi- losofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP – Marília – SP. Bolsista de Apoio Técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Maria Dalva Lourenceti Neuropsicóloga. Mestre em Biologia Oral pela Universidade do Sagrado Coração – USC/Bauru – SP. Neuropsicóloga do Labo- ratório de Investigação dos Desvios da Aprendizagem do Centro de Estudos da Saúde da Educação – CEES/FFC/UNESP – Marília – SP. Ambulatório de Neurodesvios da Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina – FM/UNESP – Botucatu – SP. Maria do Carmo Mangelli Ferreira Araújo Neuropsicóloga. Especialista em Psicologia Clínica. Mestre em Ciências da Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Fe- deral de Minas Gerais. Colaboradora do Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da UFMG. Maryse Tomoko Matsuzawa Fukuda Fonoaudióloga voluntária do Laboratório de Investigação dos Desvios da Aprendizagem do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulis- ta “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP – Marília – SP. dislexia revisao.indd 10 05/04/2011 14:08:11 Niura Ap. de Moura Ribeiro Padula Doutora em Ciências Médicas – Faculdade de Ciências Mé- dicas – FCM/UNICAMP – Campinas – SP. Docente do Depar- tamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia da Faculdade de Medicina – FM/UNESP – Botucatu – SP. Pedro Pinheiro-Chagas Psicólogo. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFMG. Renata Mousinho Fonoaudióloga. Pós-doutora em Psicologia pela UFRJ. Doutora e mestre em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora do Projeto ELO: leitura, escrita e oralidade, da UFRJ. Ricardo José de Moura Psicólogo. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Doutorando no Programa de Pós-graduação em Neurociên- cias da UFMG. Simone Aparecida Capellini Fonoaudióloga. Livre-docente em Linguagem Escrita. Do- cente do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciên- cias, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP – Marília – SP. Coordenadora do Laboratório de Investigação dos Desvios da Aprendizagem do Centro de Estu- dislexia revisao.indd 11 05/04/2011 14:08:11 dos da Saúde da Educação – CEES/FFC/UNESP – Marília – SP. Bolsista de Produtividade em Pesquisa – PQ2 do Conselho Na- cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Vitor Geraldi Haase Médico. Doutor em Psicologia Médica. Professor adjunto do Departamento de Psicologia da UFMG. dislexia revisao.indd 12 05/04/2011 14:08:11 AGRADECIMENTOS Para que o 3° Congresso Internacional de Dislexia – CID 2011 acontecesse, várias foram as colaborações e os apoios recebidos, sem os quais o evento não poderia se realizar com a magnitude aspirada. Agradecemos à equipe do LETRA (Laboratório de Estudos dos Transtornos da Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais), representada por Cláudia Macha- do Siqueira, Débora Lodi, Juliana Flores, Karina Avelar, Luciana Maria Rocha e Maria do Carmo Mangelli Ferreira Araujo, além da cooperação do designer Renato Serra, cujos empenho e compro- metimento na organização do evento em Belo Ho- rizonte foram fundamentais. O nosso reconhecimento ao Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix pela concessão do es- paço físico e de toda a estrutura de acolhimento ao evento. Somos profundamente gratos à Comissão Científica pela disponibilidade e competência na avaliação dos trabalhos científicos do CID 2011. dislexia revisao.indd 13 05/04/2011 14:08:11 Nossos agradecimentos especiais aos autores pela belíssima contribuição e partilha dos seus conheci- mentos científicos e da experiência na construção desta obra, que é fruto de um trabalho coletivo de cooperação entre profissionais de diversas áreas. Dra. Luciana Mendonça Alves Dra. Renata Mousinho Dra. Simone Aparecida Capellini dislexia revisao.indd 14 05/04/2011 14:08:11 Apresentação 19 – Capítulo 1 – Introdução à dislexia do desenvolvimento Luciana Mendonça Alves, Cláudia Machado Siqueira, Débora Fraga Lodi e Maria do Carmo Mangelli Ferreira Araújo 21 – Capítulo 2 – Por que prevenir é melhor que remediar quando se trata de dificuldades de aprendizagem Ana Luiza Navas 41 – Capítulo 3 – Identificação precoce da dislexia Hugh W. Catts 55 – Capítulo 4 – O desenvolvimento do processamento fonológico e da leitura do 1° ao 4° ano do ensino fundamental: implicações para a intervenção precoce Renata Mousinho e Jane Correa 71 SUMÁRIO dislexia revisao.indd 15 05/04/2011 14:08:11 – Capítulo 5 – Perfil de escolares com dislexia, transtornos e dificuldades de aprendizagem em instrumento de avaliação de habilidades metafonológicas (PROHFON) Giseli Donadon Germano e Simone Aparecida Capellini 95 – Capítulo 6 – Funções neuropsicológicas relacionadas ao desempenho em leitura em crianças Jerusa Fumagalli de Salles e Helena V. Corso 107 – Capítulo 7 – Transparência ortográfica e o efeito de retroalimentação fonológico grafêmica: implicações para a construção de provas de reconhecimento de palavras Ângela Maria Vieira Pinheiro 131 – Capítulo 8 – Avaliação on-line para dislexia Ian Smythe 153 – Capítulo 9 – Eficácia do programa de treinamento fonológico, correspondência fonema-grafema e treinamento fonológico associado à correspondência grafema-fonema em escolares de risco para dislexia Simone Aparecida Capellini, Maíra Anelli Martins, Cíntia Cristina Fadini, Daniele de Campos Refundini e Maryse Tomoko Matsuzawa Fukuda 167 – Capítulo 10 – Intervenção fonoaudiológica nos Transtornos da Leitura Clara Regina Brandão de Ávila 195 dislexia revisao.indd 16 05/04/2011 14:08:11 – Capítulo 11 – O desenvolvimento das habilidades em matemática José Alexandre Bastos 209 – Capítulo 12 – Avaliação neurocognitiva da discalculia do desenvolvimento Fabiana Silva Ribeiro e Flávia Heloísa dos Santos 239 – Capítulo 13 – Discalculia e dislexia: semelhança epidemiológica e diversidade de mecanismos neurocognitivos Vitor Geraldi Haase, Ricardo José de Moura, Pedro Pinheiro-Chagas e Guilherme Wood 257 – Capítulo 14 – Transtorno de Deficit de Atenção / Hiperatividade e Transtornos de Aprendizagem Cláudia Machado Siqueira, Juliana Gurgel-Giannetti, Maria do Carmo Mangelli Ferreira Araújo, Débora Fraga Lodi, Juliana Flores Mendonça Alves, Karina Avelar e Luciana Mendonça Alves 283 – Capítulo 15 – Dislexia e comorbidades na infância e adolescência Niura Ap. de Moura Ribeiro Padula, Lara Cristina Antunes dos Santos e Maria Dalva Lourenceti 303 – Capítulo 16 – O transtorno do desenvolvimento da coordenação: definição, avaliação e tratamento Lívia de Castro Magalhães 317 dislexia revisao.indd 17 05/04/2011 14:08:11 – Capítulo 17 – Transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC) e dislexia Amanda Kirby 327 dislexia revisao.indd 18 05/04/2011 14:08:11 19 É com grande satisfação que apresentamos à comunida- de científicaa obra “Dislexia: novos temas, novas perspectivas”. Este livro reúne 17 capítulos relacionados a apresentações pro- feridas no 3° Congresso Internacional de Dislexia (CID 2011), em Belo Horizonte. É o resultado da participação de profissio- nais de renome, de diferentes pontos do País e do mundo, que pesquisam e atuam com os problemas de aprendizagem e se reuniram para discutir esta temática tão importante para o pre- sente e futuro de nossos jovens. Como resultado tem-se uma amostra expressiva de reflexões que vêm sendo levantadas por pesquisadores de diferentes áreas. Estas valiosas contribuições, gentilmente fornecidas pelos palestrantes do CID 2011, nos fornecem rico material para aplicação clínica, educacional e científica voltadas para os profissionais tanto da área de saúde como da de educação. O objetivo da obra é contribuir para a compreensão dos processos envolvidos na aprendizagem, assim como as mudan- ças que vêm acontecendo neste cenário, no âmbito de estudos nas áreas da Neurologia, Psicologia, Fonoaudiologia e Educação, apontando os caminhos para o olhar multidisciplinar. As refle- xões críticas e a abordagem de novas teorias, técnicas e instru- mentos são elementos presentes nos capítulos, que trazem uma combinação de ricas fundamentações teórico-científicas com inovações igualmente fundamentadas. APRESENTAÇÃO dislexia revisao.indd 19 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas20 Almejamos que o leitor possa, a partir da leitura desta obra, desenvolver ainda mais o seu campo de conhecimento teórico, com possibilidades de aplicações práticas nesta temática tão importante para o futuro de nossos escolares. Dra. Luciana Mendonça Alves Dra. Renata Mousinho Dra. Simone Aparecida Capellini dislexia revisao.indd 20 05/04/2011 14:08:11 21 Luciana Mendonça Alves, Cláudia Machado Siqueira, Débora Fraga Lodi, Maria do Carmo Mangelli Ferreira Araújo Laboratório de Estudo dos Transtornos de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (LETRA – HC) Este capítulo introduzirá o tema dislexia do desenvolvimento, levantando alguns questionamentos acerca do senso comum deste quadro tão discutido atualmente. Sabe-se que a dislexia tem rece- bido a atenção de estudiosos de diversas áreas há muitas décadas, e muito se evoluiu desde as primeiras concepções acerca do tema, mas ainda há muito a se estudar, pensar e evoluir. As pesquisas em dislexia usualmente adotam uma perspecti- va médica, mas recentemente novas áreas têm sido focadas, como a educacional, a linguística e, até mesmo, a clínica, mas com enfo- que para novos aspectos. No entanto, enquanto não se desenvol- verem novos olhares, novas abordagens e a integração destas dife- rentes perspectivas, teremos recursos limitados para este quadro que pode comprometer várias esferas na vida de um indivíduo. Esta integração de informações é necessária para a troca de experi- ências entre os profissionais envolvidos e uma melhor abordagem de um quadro tão heterogêneo e complexo que pode ser a dislexia do desenvolvimento. INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO dislexia revisao.indd 21 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas22 O objetivo desde capítulo é fornecer conhecimentos basea- dos em evidência científica sobre a base neurobiológica da disle- xia do desenvolvimento. A partir destes dados, vislumbrar outras perspectivas e empregá-las no melhor entendimento, na compre- ensão e na abordagem prática deste tema. Para tentarmos alcançar este objetivo, levantaremos alguns questionamentos, pontos cen- trais de discussão. 1. Neurobiolologia da Dislexia do Desenvolvimento Como a leitura é processada pelo cérebro e por que algumas crianças apresentam dificuldades para aprender a ler? A leitura e a escrita representam “adquirir e difundir conhe- cimento”. Entre os seres humanos, “saber” é uma competência de inestimável valor. A leitura é uma atividade mental complexa e re- cente na humanidade, em contraste com a linguagem oral que é inata. O cérebro precisa aprender a ler no mundo moderno e, para que isto aconteça, diversas são as etapas e os circuitos ativados. A leitura proficiente depende da ativação integrada e simul- tânea de diversas redes cerebrais. Segundo os estudos funcionais, o reconhecimento das palavras tem bases neurobiológicas bem es- tabelecidas, representadas pela ativação da região temporal basal e bilateral. A integração das informações e o processamento fonológi- co levam à ativação do giro angular e dos giros temporais (médio e superior) esquerdos (Figura 1). A produção da leitura e a compreen- são dependem da ativação das regiões frontais.1 dislexia revisao.indd 22 05/04/2011 14:08:11 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 23 Figura 1: Ilustração das áreas cerebrais ativadas no reconhecimento das palavras durante a leitura Grandes avanços existiram na última década com o progresso da Neurociência Cognitiva, da Neuropsicologia e da Neuroimagem Estrutural e Funcional. Especificamente com o progresso tecnoló- gico da Neuroimagem Funcional, pode-se investigar a atividade me- tabólica que reflete a ativação cerebral de áreas específicas durante determinadas tarefas. Os exames de neuroimagem mais utilizados em estudos científicos sobre a dislexia são Tomografia com emissão de pósitrons (PET) e Ressonância Magnética de Encéfalo funcional (RMNf). Hoje é consenso que a Dislexia do Desenvolvimento tem origem Neurobiológica, com forte evidência de hereditariedade, mas moldada por fatores ambientais em uma complexa interação.1 Nos estudos estruturais (post mortem ou Neuroimagem Estru- tural), demonstra-se a presença de alterações cerebrais e cerebela- res variadas. As alterações mais consistentes estão relacionadas a dislexia revisao.indd 23 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas24 alterações perisylvianas esquerdas. Nos disléxicos, foram encontra- das simetrias inesperadas do plano temporal, além de alterações microscópicas da estrutura do córtex cerebral (ectopias, displasias e/ou placas fibromielínicas). Um novo método de neuroimagem estrutural (imagem de tensor de difusão) evidenciou menor desen- volvimento da substância branca no hemisfério especializado em linguagem em disléxicos.2, 3 Por meio de exames de neuroimagem funcional (PET e RMNf), os indivíduos disléxicos, durante o processo de identifica- ção das palavras, promovem a superativação das regiões posterio- res e, algumas vezes, a hiperatividade das regiões frontais. Tais di- ferenças de ativações podem refletir mecanismos compensatórios ou indicar outros fatores não linguísticos relacionados à dislexia. Podem-se encontrar resultados diferentes na literatura dependendo dos critérios de seleção da amostra e do tipo de tarefa de leitura estudada. Outra área de interesse é o giro angular esquerdo que, em alguns estudos de Neuroimagem Funcional, mostra-se precariamen- te conectado a outros circuitos relacionados à leitura. Atenção especial está sendo dada ao estudo por neuroima- gem antes e após a remediação (processo terapêutico com enfoque específico, a maioria com atenção à remediação fonológica) em disléxicos. Não há consenso na literatura, contudo, nas diversas pesquisas após a intervenção/remediação, demonstra-se que a base neural do reconhecimento de palavras é plástica, maleável e responsiva à remediação. Nos estudos de Shaywitz,4 houve norma- lização das regiões posteriores nos disléxicos. Simos e colaborado- res5 mostram em suas pesquisas que, com o aumento da acurácia de leitura em disléxicos pós-remediação, existe um aumento da ativação de áreas têmporo-parietais com padrões muito semelhan- tes ao de “leitores proficientes” (Figura 2). dislexia revisao.indd 24 05/04/2011 14:08:11INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 25 Figura 2: Neuroimagem de crianças com Dislexia do desenvolvimento antes e após oito semanas de remediação fonológica Criança disléxica antes da remediação Criança disléxica após a remediação com significativo aumento de acurácia de leitura Hemisfério Esquerdo Hemisfério Direito Mapas de ativação cerebral em uma criança com dislexia severa antes e depois de oito semanas de intervenção intensa na qual as habilidades de leitura de palavra evoluiram para a média esperada. A parte superior da figura mostra o mapa típico de ativação de neuroimagem funcional descrito na dislexia, com atividade predominante nas áreas temporal e parietal do hemisfério direito, mas pouca ativação em áreas homólogas do hemisfério esquerdo. Na parte inferior da figura, há um aumento significativo da ativação destas áreas têmporo-parietais esquerdas associadas com o aumento significativo da acurácia de leitura de palavras (paralelo com os padrões observados em leitores proficientes). Vellutino et al., 20043 baseado em Simos et al., 2002.5 Nos últimos anos, o cerebelo e suas funções cognitivas tem sido foco de interesse na dislexia por participar da aprendizagem e da automatização de habilidades linguísticas, desde a linguagem oral até a leitura e a escrita. Tal participação tem sido demonstrada nas tarefas de ativação de memória procedural e automatização de leitura e escrita, nos estudos de Neuroimagem Funcional.6,7 Este é um campo amplo de novidades que começa a ser desvendado e que talvez gere mudanças significativas na abordagem da dislexia. Sabemos que a dislexia ocorre em todas as línguas, sendo que algumas facilitam mais a sua expressão do que outras de acordo com as características linguísticas e ortográficas. Inúme- ros estudos demonstram as bases neurobiológicas universais da dislexia revisao.indd 25 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas26 Dislexia do Desenvolvimento, que consistem no processamento fonológico, e que as diferenças entre as línguas se devem à uti- lização de diferentes estruturas ortográficas, e não ao processa- mento fonológico.8, 9 Considerando-se este aspecto, estudos interlinguais feitos a partir de neuroimagens têm levantado questões importantes para o estudo da origem neurobiológica da dislexia em diferentes línguas, no entanto alguns trabalhos apontaram que os disléxicos de dife- rentes comunidades ortográficas têm o mesmo padrão de alterações funcionais no cérebro,8, 9, 10 o que tem sido contestado por outros estudos11 e merece ampla investigação para uma abordagem cada vez mais focada na realidade de cada língua. Deve-se, desta forma, tomar cuidado antes de generalizar achados de outras línguas, seja de qual natureza for. Por exemplo, um estudo de neuroimagem por si só pode não ser esclarecedor, mas estudos interlinguais bem direcionados serão cada vez mais úteis para a aplicação prática de tais imagens, e devem ir além de uma noção simplista do cérebro disléxico, chegando a uma teoria unificada da Linguística, da Psicologia, da Pedagogia, enfim de todas as ciências que envolvam o estudo da leitura e seus transtor- nos, conciliando uma ampla gama de resultados comportamen- tais e de neuroimagem que poderiam ser aparentemente incom- patíveis, mas que, integrados, levam a uma melhor compreensão deste funcionamento tão complexo. dislexia revisao.indd 26 05/04/2011 14:08:11 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 27 2. As estatísticas relacionadas à dislexia e à leitura no Brasil e no mundo A dislexia ocorre na mesma proporção em todo o mundo? Como o Brasil se posiciona no cenário mundial quando se trata do tema letramento, aprendizagem e dislexia? De acordo com pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2009, 14,1 milhões de brasi- leiros com mais de 10 anos de idade eram analfabetos.12 Esses es- tudos também mostraram que a taxa de analfabetismo funcional era de 20,3% para pessoas com mais de 10 anos. Em uma análise sobre a frequência escolar, verifica-se que, no grupo de zero a seis anos de idade, apenas 44,5% fre- quentam a escola. No subgrupo de quatro a seis anos de idade, o percentual é de quase 78% e, no grupo de 15 a 17 anos, a taxa de frequência é aproximadamente de 82,1%.12 Ressalta-se que, do grupo de 15 a 17 anos, apenas 48% estavam cursando o ensino médio, demonstrando uma grande defasagem série/ idade. Essa taxa de distorção série/idade também atinge o en- sino fundamental, e, de acordo com os dados das pesquisas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb,13 59% dos alunos brasileiros chegam à 4ª série do ensino fun- damental sem terem desenvolvido competências e habilidades elementares de leitura. Atualmente, apesar da redução das taxas de analfabetismo e analfabetismo funcional, quando comparadas com os anos ante- riores, as estatísticas governamentais demonstram um quadro pre- ocupante: o número de alunos com baixo rendimento escolar vem aumentando com o passar dos anos. As crianças cada vez mais apre- sentam dificuldades para desenvolver as competências necessárias para aquisição da leitura e da escrita. Alguns autores afirmam que dislexia revisao.indd 27 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas28 cerca de 40% dos escolares apresentam problemas na aprendizagem manifestados por problemas diversos.14 Diversas pesquisas apresentam de formas diferentes estas esta- tísticas, de acordo com a peculiaridade do perfil de cada população estudada. Uma pesquisa realizada no Ambulatório LETRA/HC – UFMG,15 em que foram atendidas crianças com queixas de baixo rendimento escolar entre 2008 e 2009 (em 22 meses), aponta que, dentre as várias condições encontradas, o transtorno do deficit de atenção foi a mais frequente com 44%, 2% dos sujeitos avaliados apresentaram dislexia e 15% apresentaram apenas dificuldades es- colares (com causas pedagógicas, sociais ou psicológicas). Outro estudo realizado no Ambulatório Dificuldades de Neu- roaprendizagem do Hospital das Clínicas – UNICAMP caracteri- zou a demanda de encaminhamento das crianças e apontou que 46% são em razão das dificuldades de aprendizagem (leitura, escrita e matemática), sendo que, dentro desta amostra, após melhor in- vestigação dos casos, foi identificado que 57% das crianças apre- sentavam dificuldade na escola com diferentes origens (problemas neurológicos, psicológicos e educacionais), 30% tinham um trans- torno de aprendizagem e que 13% um quadro de deficit de atenção/ hiperatividade.16 Esta realidade educacional e clínica reforça a importância da identificação da origem do mau desempenho acadêmico, visto que as dificuldades apresentadas por estes escolares podem ser muito similares às de escolares com Dislexia. Com relação à prevalência da dislexia, é muito importante considerar que ela pode variar de acordo com o sistema de escrita,17, 18, 19 ou seja, sistemas ortográficos mais irregulares, como o inglês e o francês, podem dificultar ainda mais o processo de aprendizagem da língua escrita do que sistemas um pouco menos opacos, como o italiano e o espanhol. Há, portanto, uma variação de 6 a 17% na prevalência de dislexia na população mundial em idade escolar,19 sendo que a predominância é do sexo masculino, com uma propor- ção de 1.5:1 nas estimativas atuais.20, 21 No Brasil, não há estudos de dislexia revisao.indd 28 05/04/2011 14:08:11 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 29 prevalência no território nacional, estimando-se em torno de 10%. No entanto, tais dados são fundamentais para o desenvolvimento de políticas de saúde e educação. 3. Definições de dislexia O que é a dislexia? Quais são as manifestações destequadro? Historicamente, uma das primeiras descrições documenta- das de dislexia ocorreu em 1896. Era um menino inteligente de 14 anos que não conseguia aprender a ler apesar de uma instrução adequada e inúmeros esforços. Foi inicialmente designada como “cegueira verbal”.22 Em 1925, o neurologista americano, Dr. Orton, propôs o ter- mo “dislexia específica” ou “distúrbio específico de leitura”, para referir-se a crianças com distúrbio na aprendizagem da leitura em consequência de um envolvimento neurológico.23 Várias denomi- nações já foram utilizadas nas últimas décadas e caíram em desuso em virtude de sua falta de especificidade, como “dislexia congêni- ta”, “estrefossimbolia”, “alexia do desenvolvimento”, “disfunção ce- rebral mínima”, “dislexia constitucional”, “parte do contínuo das perturbações de linguagem, caracterizada por um deficit no proces- samento verbal dos sons”, entre outros.24 Todos os termos utilizados refletiam os conhecimentos vigentes em determinada época. Em resumo, temos um foco que se moveu da concepção da dislexia como consequência de anomalias sensoriais ou perceptivas no sistema visual, passando, a partir das décadas de 70 e 80, para um enfoque nos fatores cognitivos e linguísticos. A teoria do proces- samento fonológico é sustentada até os dias de hoje, sendo respon- sável pela maior parte dos estudos dedicados à dislexia. A partir da década de 90, este foco foi trazido de volta para os fatores sensoriais dislexia revisao.indd 29 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas30 e perceptivos, mas desta vez para o sistema auditivo,25 sem deixar, no entanto, de considerar os fatores fonológicos relevantes. Atualmente o conceito mais aceito de dislexia é um transtor- no específico da aquisição e do desenvolvimento da aprendizagem da leitura, caracterizado por um rendimento em leitura inferior ao esperado para a idade e que não se caracteriza como o resultado direto do comprometimento da inteligência geral, lesões neurológi- cas, problemas visuais ou auditivos, distúrbios emocionais ou esco- larização inadequada.26, 27 É importante destacar que tal transtorno deve ser diferen- ciado das variações normais na realização acadêmica e das difi- culdades escolares devido à falta de oportunidade, ao ensino ina- dequado ou a fatores culturais, ou seja, a definição de dislexia inclui duas pressuposições fundamentais: integridade geral e uma deficiência de aprendizagem da leitura e/ou da escrita.28 Fatores socioeconômicos, ambientais e familiares podem influenciar o desenvolvimento das habilidades de leitura, mas não podem se configurar como causa da dislexia.3 Os indivíduos com dislexia, conforme descrito no Quadro 1, embora tenham seus deficits primários na habilidade de leitura, também apresentam outros deficits em outras tarefas. DIFICULDADES APRESENTADAS PELAS CRIANÇAS DISLÉXICAS 29 expressar ideias coerentemente aprender o alfabeto expandir seu vocabulário (via oralidade ou leitura) identificar os sons que correspondem às letras entender questões e seguir instruções (ouvidas ou lidas) memorizar convenções de tempo lembrar de sequências numéricas dizer as horas entender e reter detalhes de uma estória desatenção e distração aprender rimas e seguir músicas desorganização e incoordenação motora distinguir direita de esquerda e letras de números leitura lenta e compreensão reduzida do material lido Quadro 1: Dificuldades apresentadas pelas crianças disléxicas de acordo com a ASHA29 dislexia revisao.indd 30 05/04/2011 14:08:11 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 31 Em suma, a Dislexia é um transtorno específico de aprendiza- gem da leitura comprovadamente de origem neurobiológica caracte- rizado pela dificuldade na habilidade de decodificação e soletração, fluência e interpretação. Essas dificuldades resultam tipicamente do deficit no componente fonológico da linguagem que é inespera- do em relação a outras habilidades cognitivas.30 A grande maioria dos autores aponta a teoria do deficit fonológico como causa da dislexia, relevando as dificuldades relacionadas ao processamento fonológico em tempo real, como dificuldades em tarefas que en- volvem repetição de palavras e não palavras, em reter informações verbais na memória de trabalho, na nomeação rápida e em tarefas metalinguísticas que envolvem a manipulação de fonemas. 31 Uppstad e Tonnessen32 alertam para o risco de pesquisas que focam unicamente o processamento fonológico no sentido restrito e subestimam outros aspectos linguísticos (aspectos fonéticos e pro- sódicos) e não linguísticos (perceptivos e motores) da dislexia. Já é bem estabelecido na literatura o importante papel do processamen- to fonológico na aquisição e no desenvolvimento da leitura, porém esta teoria única não explica toda a heterogeneidade de sintomas encontrados em disléxicos na prática clínica. Vários pesquisadores enfatizam a necessidade de explorarmos melhor esta sintomatologia para que se possa ampliar ainda mais os conhecimentos sobre disle- xia e desvendar certas peculiaridades observadas. Cada vez mais, é necessária a utilização de abordagens na prática diária dos profissio- nais baseadas em evidência científica para melhor atendimento dos disléxicos e obtenção de sucesso. As diferentes teorias sobre dislexia do desenvolvimento mos- tram esta tendência atual em valorizar todos os aspectos envolvidos e sua manifestação heterogênea. Na maioria dos disléxicos, uma única teoria não explica toda sintomatologia e atualmente é aceito que deficit do processamento fonológico pode coocorrer com outros deficits, como em nível fonético (velocidade de produção do gesto articulatório,33, 34, 35 prosódico36, 37, 38 e cognitivo (velocidade reduzi- da de processamento).39 dislexia revisao.indd 31 05/04/2011 14:08:11 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas32 Teorias recentes40, 41 apontam três pontos centrais ao se inves- tigarem os fatores e as causas da dislexia, conforme apresentado no Quadro 2. PRINCIPAIS TEORIAS CAUSAIS DA DISLEXIA 40 TEORIA PRINCIPAL PRESSUPOSTO Deficit fonológico as dificuldades no processamento fonológico levam aos problemas iniciais de leitura Deficit magnocelular problemas de processamento sensorial derivados de uma deficiência nos circuitos magnocelulares de visão e audição Deficit cerebelar a dislexia seria um problema na aprendizagem e na automatização baseado em deficits cerebelares Conforme já descrito, a teoria do deficit fonológico é aponta- da como a mais comum (90% dos casos),42 e Fawcett e Nicolson40 reforçam ainda que tanto a teoria do deficit magnocelular quanto a do cerebelar tentam explicar não apenas os problemas na leitura mas também no processamento fonológico, ou seja, as três teorias estariam interligadas. Alguns autores 43, 44, 45, 46 referem que a dislexia é um trans- torno do desenvolvimento que raramente se manifesta de forma isolada, sendo comum acontecerem comorbidades com outros quadros, ligados a fatores etiológicos comuns, como ao conjun- to de problemas de aprendizagem chamados de “síndrome dis” (disortografia, discalculia, dispraxia, disgrafia).43 Contrariando esta visão, diversos estudos40, 47, 48, 49 apontam que a aparente “co- morbidade” entre estas desordens são atribuídas, pelo menos em parte, aos problemas motores e de “timing”, sendo que todos os sintomas podem ser o reflexo de uma disfunção em diferen- tes componentes do mesmo sistema neural.50 Assim, quadros como distúrbio específico de linguagem (DEL), transtorno do Quadro 2: Principais teorias causais da dislexia dislexia revisao.indd 32 05/04/2011 14:08:12 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 33 desenvolvimento da coordenação (TDC), transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a dislexia podemapre- sentar como uma possível causa comum, como transtornos das habilidades motoras e/ou alterações cerebelares.40 É importante ainda ressaltar que cada indivíduo é único em suas manifestações, mesmo se tratando de um mesmo quadro pa- tológico. Cada caso deve receber um olhar abrangente, atento às várias formas de perceber o mesmo problema. A partir da busca ativa e da identificação do perfil sintomatológico de cada indiví- duo, poderemos traçar a melhor abordagem terapêutica, ou seja, é imprescindível uma análise mais profunda, mais inclusiva para se obter bons desempenhos clínicos e educacionais.40 4. Abordagem multidisciplinar (abordagem preventiva) Como podemos ajudar as crianças com dislexia? Qual é o profissional capacitado para estabelecer com segurança um diagnóstico? Sabe-se que certos grupos de crianças têm maior risco de apresentarem transtornos de aprendizagem, portanto uma abordagem preventiva se faz necessária para que, no futuro, esta criança venha a adquirir habilidades fundamentais à leitu- ra e à escrita. Um excelente começo é a divulgação de informação cientí- fica de forma clara e prática. Existe uma carência em nosso meio em relação ao acesso à informação científica. O ideal é que toda a sociedade e os profissionais envolvidos em saúde e educação se- jam informados e atualizados sobre a importância do letramento e da leitura e sejam capazes de identificar grupos de risco para seu transtorno. Tal atitude facilitaria a detecção e a estimulação dislexia revisao.indd 33 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas34 precoces das dificuldades e dos transtornos, extinguindo ou mi- nimizando os problemas escolares e sociais futuros.51 Apesar de a dislexia não ter “cura” do ponto de vista neu- robiológico, várias são as estratégias terapêuticas utilizadas para a aquisição e o desenvolvimento da leitura em nível proficiente. Uma minoria de crianças disléxicas, por causa da gravidade dos sintomas, não atinge a proficiência de leitura mesmo com instrução adequada e necessitarão de acomodações/adaptações ao longo da vida.1 Po- rém, a grande maioria dos disléxicos responde muito bem ao trata- mento, conforme revelado nos estudos de neuroimagem por meio da potencialização da plasticidade cerebral a partir de técnicas de remediação efetivas.4,5 Baseado em tudo que foi descrito neste capítulo, fica clara a necessidade de uma equipe de profissionais habilitados e integra- dos para o diagnóstico, o tratamento e as intervenções necessárias dos deficits apresentados. A equipe deve ser especializada e constar de médico (pe- diatra, neurologista ou psiquiatra), neuropsicólogo, psicólogo, psicopegagogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Cada profissional contribui para o diagnóstico e o tratamento das ne- cessidades individuais de cada criança. O médico tem o papel de descartar causas orgânicas, diagnosticar e tratar comorbida- des (TDA/H, ansiedade, depressão entre outras). O psicólogo, por meio da avaliação neuropsicológica, quantifica e qualifica o nível de inteligência e demais habilidades necessárias à apren- dizagem. O fonaudiólogo avalia as habilidades auditivas, o nível de desenvolvimento da linguagem oral, da leitura e da escrita. O psicopedagogo avalia o desempenho acadêmico. O terapeuta ocupacional avalia de forma integrada as habilidades motoras e sensoriais. Lembrando que, como equipe, os dados fornecidos por todos os profissionais devem ser discutidos em conjunto, o que possibilita integrá-los e, assim, traçar estratégias adequadas ao direcionamento das intervenções necessárias. dislexia revisao.indd 34 05/04/2011 14:08:12 INTRODUÇÃO À DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO 35 É fundamental que a equipe trabalhe em conjunto com o apoio da família e da escola, e todos devem ser capazes de rea- valiar o resultado de suas intervenções e tratamentos. A equipe tem de identificar a falha na remediação e ser capaz de corrigir ou redirecionar o tratamento. Os pais e os responsáveis devem ser alertados da complexi- dade do diagnóstico e do tratamento e não serem incentivados a tratamentos “mágicos” e sem embasamento científico. Geralmen- te o investimento é alto e a longo prazo, porém seus benefícios serão observados ao longo da vida acadêmica e pessoal de cada criança e sua família.52 5. Considerações finais A ciência tem proporcionado diversos avanços de aplicação clínica e educacional voltados ao diagnóstico e à intervenção tera- pêutica para os sujeitos disléxicos. No entanto, há ainda um longo caminho a se percorrer, há muito a se descobrir e evoluir, sobretudo no Brasil, em relação a instrumentos diagnósticos e técnicas tera- pêuticas. É de extrema importância que tanto para os profissionais da área de saúde quanto os da educação estejam continuamente atentos às novas descobertas, sempre com um olhar crítico e pauta- do em conhecimento científico. Grandes investimentos devem receber as pesquisas na área de prevenção, pois estratégias de detecção precoce e acompanha- mento clínico e educacional desde os primeiros anos de escolari- zação ou, mais precoce ainda, desde as primeiras manifestações linguísticas são fatores essenciais para uma abordagem precoce e eficaz direcionada aos escolares com dislexia, proporcionando a estas crianças um nível funcional de leitura, com um mínimo de interferência psicossocial. dislexia revisao.indd 35 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas36 Referências 1. Fletcher JM. Dyslexia: The evolution of a scientific concept. Jour- nal of the International Neuropsychological Society. 2009;15(04):501-8. 2. Lozano A, Ramírez M, Ostrosky-Solís F. Neurobiología de la dis- lexia del desarrollo: una revisión. Rev Neurol. 2003;36(11):1077-82. 3. Vellutino FR, Fletcher JM, Snowling MJ, Scanlon D. Specific re- ading disability (dyslexia): what have we learned in the past four decades? 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Esse processo não se de- senvolve apenas no ambiente escolar, pois, antes de chegar à escola, a criança já experimentou vários momentos de imersão no mundo Ana Luiza Navas POR qUE PREVENIR é MELhOR qUE REMEDIAR qUANDO SE TRATA DE DIfICULDADES DE APRENDIzAGEM dislexia revisao.indd 41 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas42 da escrita. A leitura, portanto, favorece o desenvolvimento cogniti- vo do indivíduoe sua inserção social nas sociedades letradas. Contudo, o caminho para alcançar a competência de leitura e escrita nem sempre é trilhado com facilidade por nossas crianças. Dados sobre a Educação no Brasil em 2009 apontam que há 13% de crianças entre 10 e 14 anos que se encontram com mais de dois anos de atraso escolar, com grande variação entre as regiões do País (PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios /Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2009)2 como ilustra a Ta- bela 1. Esses resultados confirmam que a maioria de nossas crianças consegue atingir níveis de competência em leitura, mas uma parcela importante da população que cursa o ensino fundamental no Brasil ainda não alcançou níveis recomendáveis. Região do Brasil Porcentagem Norte 19,7% Nordeste 20,7% Sudeste 8,3% Sul 6,1% Centro-Oeste 9,3% Média 13,0% Fonte: PNAD, IBGE TABELA 1: Porcentagem de estudantes entre 10 e 14 anos com mais de dois anos de defasagem escolar em 2009, por região dislexia revisao.indd 42 05/04/2011 14:08:12 POR qUE PREVENIR é MELHOR qUE REMEDIAR qUANDO ... 43 A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvi- mento (OECD) coordena o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – PISA*1 que avalia o desempenho de certas áreas, como leitura e matemática em jovens de 15 anos, nos 34 países- membros e outros 41 países parceiros. A cada três anos, são ava- liados de 4.500 a 10.000 estudantes por país, com instrumentos padronizados e desenvolvidos em cooperação. Na última pesquisa realizada em 2009 pelo PISA,3 o Brasil ocupa uma posição abaixo da média do países participantes do estudo realizado com jovens de 15 anos, em relação ao desempe- nho de leitura. A Figura 1 ilustra a comparação com países com desempenho significativamente acima da média como a China, e outros países da America Latina, como Chile e Colômbia, que, como o Brasil, encontram-se com desempenho significativamente abaixo da média. 1 * PISA – Programme for International Student Assessment (www.pisa. oecd.org) FIGURA 1: Média do desempenho de jovens de 15 anos em países participantes do PISA 2009 na escala total de leitura dislexia revisao.indd 43 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas44 É evidente que o ensino de leitura no País ainda tem muito de melhorar, e, muitas vezes, este desempenho ruim em jovens de 15 anos reflete um acúmulo de dificuldades que datam desde a épo- ca da alfabetização. Quando uma criança falha no processo inicial de aprendizagem de leitura e escrita, tem dificuldades de avançar para as outras etapas na busca por conhecimentos. Prevenir que es- tas dificuldades causem maiores consequências é muito melhor do que aguardar e somente intervir e/ou remediar quando o problema já está instalado. São várias as razões para que uma criança tenha dificuldades iniciais no processo de alfabetização e, dentre estas, há razões físi- cas, culturais, sociais, econômicas, pedagógicas e/ou emocionais. No entanto, não se pode negar que há também uma parcela de crianças que falha no processo de aprendizagem porque tem uma condição de ordem funcional, como é o caso, por exemplo, do dis- túrbio específico de leitura, a dislexia.4 A dislexia é um transtorno específico e persistente da leitura e da escrita, de origem neurofuncional, caracterizado por um inesperado e substancial baixo desempenho da capacidade de ler e escrever, apesar da adequada instrução formal recebida, da normalidade do nível intelectual, e da ausência de deficits sensoriais. O disléxico responde lentamente às intervenções te- rapêuticas e educacionais específicas. Porém, somente com estas intervenções adequadas podem melhorar seu desempenho em leitura e escrita. O prognóstico depende ainda de diversos fato- res facilitadores como a precocidade do diagnóstico, o ambiente familiar e escolar.5 A dislexia é uma condição amplamente reconhecida no meio educacional nacional e internacional, com sintomas bem definidos, com vasto embasamento teórico-científico e que afeta de 4 a 8% da população mundial segundo recentes estimativas.6 Ainda não temos no Brasil um estudo epidemiológico padronizado para uma dislexia revisao.indd 44 05/04/2011 14:08:12 POR qUE PREVENIR é MELHOR qUE REMEDIAR qUANDO ... 45 estimativa real da prevalência da dislexia em nosso meio, contudo um estudo recente em Portugal apresenta a prevalência de 5 a 4% em crianças falantes do português europeu.7 De acordo com os dados publicados pelo IBGE (2010),8 o Brasil tem cerca de 190 milhões de habitantes, dos quais quase 45 milhões de crianças e adolescentes estão matriculados no en- sino regular. Se considerarmos a prevalência reservada de 4% de alunos disléxicos, ainda assim estaremos diante de 1,8 milhões de brasileiros nessa condição. É importante ressaltar que toda criança com dislexia tem seu quadro inicialmente identificado como uma dificuldade escolar. Em geral, se esta dificuldade inicial for atendida pelo professor, com o apoio de recursos pedagógicos e a estimulação das habilidades de linguagem e processamento fonológico, ela poderia ser sanada na grande maioria dos casos. Diferentemente, se realmente a criança tem o diagnóstico de dislexia, a dificuldade inicial em leitura e es- crita pode não ser superada com esta estimulação na escola, e esta criança necessitará de atenção especializada.3 Será possível e razoável, portanto, identificar quem são estas crianças que podem necessitar de recursos pedagógicos especiali- zados? O desenvolvimento do conhecimento científico em todo o mundo sobre este tema tem nos brindado com fortes evidências de que é possível identificar essas crianças e intervir precocemente para prevenir que as dificuldades se agravem.9 Alguns sinais de dificuldades mais amplas de linguagem po- dem aparecer já nos anos pré-escolares, como vocabulário pobre, uso inadequado da gramática e problemas no processamento fo- nológico. Essas habilidades consideradas como parte do processa- mento fonológico são, entre outras, a nomeação automática rápida, a memória fonológica e as habilidades de consciência fonológica. Diversas pesquisas apontam que indivíduos que apresentam distúr- bios específicos de leitura apresentam um deficit de processamento fonológico.10 Quando a representação fonológica é estabelecida de forma incompleta e imprecisa, pode haver falhas no processamento dislexia revisao.indd 45 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas46 fonológico, ou ainda, pode haver uma falha no acesso fonológico, ou seja, todos os mecanismos de acesso às representações fonológi- cas (lexicais ou sublexicais) estariam prejudicados.11 Uma vez que a dificuldade é identificada, inúmeros estudos comprovam que a intervenção precoce melhora sobremaneira o prognóstico de crianças que apresentam desempenho em habilida- des de leitura e escrita abaixo do esperado em relação ao seu grupo- classe, durante a fase pré-escolar e nos primeiros anos de alfabeti- zação.12 Além disso, o reconhecimento da existência de distúrbios mais severos e o encaminhamento o mais precoce possível para uma avaliação diagnóstica podem evitar o surgimento de reações emo- cionais negativas em relação à escola e de baixa autoestima.13 Programas de identificação precoce No Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, programas de identificação precoce auxiliam a escola a desenvolver com as famílias e as crianças estratégias de ensino para potencializar a aprendizagem que depende do código escrito. Instrumentos cada vez mais sensíveis e padronizados têm sido elaborados com o intuito de auxiliar educadores e profissionais especializados na tarefa de melhor atender aqueles que possuem necessidades pedagógicas especiais. Na Inglaterra, o projeto nacional quefoi denominado “Não ao fracasso” (“No To Failure”) demonstrou a importância da identifi- cação precoce com o auxílio de instrumentos de triagem para a dis- lexia. Neste projeto, participaram 20 escolas nas quais 1.341 crian- ças foram submetidas a uma triagem com provas de leitura, escrita e ortografia. As crianças que tiveram um desempenho abaixo de 85% nestas medidas realizaram, adicionalmente, uma avaliação de habi- lidades cognitivas. Estes dados foram utilizados para identificar as crianças classificadas como de risco para dislexia. Somente 21% das crianças foram classificadas no grupo de risco que foi submetido a dislexia revisao.indd 46 05/04/2011 14:08:12 POR qUE PREVENIR é MELHOR qUE REMEDIAR qUANDO ... 47 um programa de intervenção, baseado na estimulação de habilida- des de processamento fonológico e linguagem oral. O relatório final reconhece a necessidade de promover orientações efetivas às escolas e às famílias sobre as melhores formas de intervenção para as crian- ças que foram identificadas como de risco para a dislexia.14 O ponto-chave no processo de identificação e intervenção precoce é o desenvolvimento de um instrumento de rastreio, a triagem, que permite a determinação de quais crianças em uma sala de aula devem receber atenção especial como um programa de estimulação. A triagem deve ser um procedimento rápido de fá- cil aplicação, de baixo custo e que seja eficiente, ter especificidade e sensitividade comprovada para não haver falsos positivos, ou fal- sos negativos.15 O termo “sensitividade” refere-se à medida capaz de identificar corretamente as crianças de risco para determinada condição, ou seja, os casos verdadeiros positivos. Já a “especifici- dade” é a medida que identifica os casos onde a condição investi- gada está ausente, ou seja, os verdadeiros negativos. O Quadro 1, abaixo, resume estes conceitos: QUADRO 1: Descrição dos conceitos de sensitividade e especificidade dislexia revisao.indd 47 05/04/2011 14:08:12 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas48 A busca por melhorar os padrões de eficiência dos instrumen- tos de triagem frequentemente utilizados para o acompanhamento de escolares motivou a realização de um estudo criterioso sobre o tema. Foram analisadas quais as medidas que, quando adicionadas a uma triagem de 1ª série, ajudam a eliminar os casos falsos positivos. As medidas inicialmente previstas na triagem eram consciência fono- lógica, vocabulário oral, fluência de reconhecimento de palavras. Os autores investigaram o ganho em eficiência quando o procedimento de triagem envolve dois estágios, ou dois passos. Nesta abordagem, todas as crianças são submetidas inicialmente a uma triagem breve e simples, e somente aquelas que têm o desempenho compatível com a faixa de risco para dislexia são avaliadas, em um segundo momento, com um instrumento de triagem mais completo.16 Nota-se que a cautela de se encontrarem instrumentos preci- sos para este rastreio é de extrema importância. O erro na identifi- cação da criança de risco pode ter consequências mínimas quando a criança fez parte do grupo de estimulação sem precisar (falso posi- tivo). No entanto, o erro mais grave é privar de estimulação preco- ce, e comprovadamente benéfica, aqueles que realmente necessitam (falso negativo). Programas de intervenção precoce No Brasil, há vários estudos que demonstram o impacto da aplicação de programas de intervenção precoce no desempenho de leitura e escrita de crianças.17,18 A intervenção em processamen- to fonológico e habilidades linguísticas também é importante para diferenciar aqueles casos que necessitam de um atendimento espe- cializado mais explícito e intenso como é o caso das crianças com dislexia que apresentam dificuldades mais severas. Em um estudo publicado em 2010, após a realização de um programa de intervenção com foco em habilidades de pro- cessamento fonológico e de correspondência grafema-fonema, dislexia revisao.indd 48 05/04/2011 14:08:12 POR qUE PREVENIR é MELHOR qUE REMEDIAR qUANDO ... 49 das 15 crianças consideradas inicialmente de risco para a disle- xia, apenas uma não apresentou melhora no desempenho após a avaliação final.19 Sendo assim, este estudo confirma o que a li- teratura nacional e internacional vem apontando como diretriz para a determinação do diagnóstico de dislexia que deve incor- porar uma fase de intervenção. A grande maioria de crianças que apresenta dificuldades iniciais no processo de apropriação da escrita não apresentou mais nenhuma defasagem em relação ao seu grupo escolar após a estimulação e, portanto, não se en- quadrava no critério para o diagnóstico de dislexia. Nos Estados Unidos, o paradigma de “Resposta à Interven- ção” está sendo utilizado como política de acompanhamento de crianças com distúrbios de aprendizagem a partir da revisão das Diretrizes para Educação de Pessoas com Deficiências em 2004 (Individuals with Disabilities Education Act, IDEA).20 Essas diretrizes determinam como os estados e as organizações públicas america- nos devem promover ações de intervenção precoce e atendimento especializado para crianças com necessidades especiais. São consi- deradas nessa condição crianças com Retardo mental, Deficiência auditiva e Surdez, Distúrbios de fala e de linguagem, Deficiência visual e Cegueira, Distúrbios emocionais, Deficiência física, Autis- mo, Sequelas de traumatismo craniano, Transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, discalculia). A abordagem de “Resposta à Intervenção” pressupõe a identi- ficação precoce a partir de triagem do desempenho de leitura, escri- ta e habilidades envolvidas, seguido de um programa estratificado de intervenção e acompanhamento em diversos níveis de acordo com a severidade das dificuldades e a persistência da defasagem.21 Outra abordagem para melhorar o desempenho acadêmico de crianças e jovens cursando o ensino fundamental utilizada nos Estados Unidos é complementar o ensino de leitura com o acom- panhamento de tutores voluntários. O aumento da ação destes tutores motivou um grupo de pesquisadores a realizar um estudo de meta-análise sobre o tema. Para investigar a efetividade destes dislexia revisao.indd 49 05/04/2011 14:08:13 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas50 programas de tutoria voluntária, não especializada, nas escolas, os autores analisaram 21 estudos. Em geral, os autores confirmam o impacto positivo nos estudantes e específicamente em relação a ha- bilidades de leitura como fluência. Houve em todos os estudos ana- lisados uma melhora significativa nos grupos de crianças que eram acompanhadas por estes tutores voluntários.22 Cabe ressaltar que o programa de acompanhamento investe na formação destes tutores com orientações e treinamentos feitos por profissionais especializa- dos em desenvolvimento de linguagem, oral e escrita. Considerações finais No Brasil, as medidas de identificação precoce que possam descrever o desempenho em leitura e escrita, que sejam rápidas, válidas e padronizadas, estão em pleno desenvolvimento. Há alguns projetos de investigação que avançam nesse sentido e, em breve, poderemos acessar estes instrumentos. A implementação de progra- mas de promoção e de estimulação do processamento fonológico em sala de aula, baseada em evidências científicas, tem sido empre- gada apenas em alguns núcleos.17,19 É preciso diminuir a distância entre a teoria e a prática, entre os pesquisadores e os políticos, para que educadores, profissionais de saúde e demais envolvidos no pro- cesso de aprendizagem possam ajudar todas as crianças e os jovens a aprender melhor, especialmente as crianças com dislexia.23 dislexia revisao.indd 50 05/04/2011 14:08:13 POR qUE PREVENIR é MELHOR qUE REMEDIAR qUANDO ... 51 Referências 1. Snowling MJ. From language to readingand dyslexia. Dyslexia. 2001; 7:37-46. 2. PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios /Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2009. [acesso em 10/01/2010] 3. OCDE. PISA 2009. Technical Report. 2010. Versão eletrônica. http://www.pisa.oecd.org/dataoecd/ [acesso em 10/01/2010]. 4. Navas ALGP & Weinstein MCA. Editorial II. Distúrbio especí- fico de leitura (dislexia): debates necessários. Rev. CEFAC, 2009; 11(4): 552-553. 5. Relatório Técnico do Comitê de Especialistas. IDIS, 2008. Defi- nição da Dislexia. 6. Brunswick N, McDougall S & de Mornay Davies P. (Eds) (2010). Reading and dyslexia in different orthographies. Hove: Psychology Press. 7. Vale AP, Sucena A, Viana F. Prevalência da Dislexia entre crian- ças do 1º. ciclo do Ensino Básico Falantes do Português Europeu. Revista Lusófona de Educação. No prelo. 8. PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios /Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2010. [acesso em 10/01/2010] 9. Blachman, B. A., Schatschneider, C., Fletcher, J. M., & Clonan, S. M. (2003). Early reading intervention: A classroom prevention study and a remediation study. In B. Foorman (Ed.), Preventing and remedia- ting reading difficulties: Bringing science to scale (pp. 253–271). Timo- nium, MD: York Press. 10. Caylak E. The Studies about Phonological Deficit Theory in Children with Developmental Dyslexia: Review. American Journal of Neuroscience. 2010; 6(1): 1-12. dislexia revisao.indd 51 05/04/2011 14:08:13 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas52 11. Ramus F, Szenkovits G. What phonological deficit? Q J Exp Psychol (Colchester). 2008; 61(1):129-41. 12. Simmons DC, Coyne MD, McDonagh S, Harn BA, Kame’enui EJ. Indexing response to intervention: a longitudinal study of reading risk from Kindergarten through third grade. J Learn Disabil. 2008; 41(2): 158-73. 13. Glazzard J. The impact of dyslexia on pupils’ self-esteem. Support for Learning, 2010; 25: 63–69. 14. Rose J. The Rose Report 2009 Identifying and Teaching of Chil- dren and Young People with Dyslexia and Literacy Difficulties. http:// www.education.gov.uk/publications//eOrderingDownload/00659-2009- DOM-EN.pdf 15. Mellard DF, McKnight M & Woods K. Response to Intervention Screening and Progress-Monitoring Practices in 41 Local Schools. 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Catts Y-Chih Chan University of Kansas IDENTIfICAÇÃO PRECOCE DA DISLEXIA A dislexia é um transtorno neurobiológico do desenvolvimen- to que envolve dificuldades no aprendizado da leitura (e soletração) de palavras, apesar da instrução adequada e da inteligência dentro da média.1-2 Devido ao papel fundamental da leitura na educação, a dislexia pode impactar significativamente o sucesso acadêmico e o desempenho de um indivíduo. Nos últimos anos, tem sido dedi- cada considerável atenção à identificação precoce da dislexia.3-6 O principal impulso para este trabalho tem sido um crescente número de pesquisas que mostraram que os resultados de leitura de crian- ças com dislexia podem ser significativamente melhorados se estas crianças forem identificadas precocemente e passarem por uma in- tervenção adequada.7-9 Neste capítulo, discutiremos os conhecimen- tos e as práticas na identificação precoce da dislexia. Os interessados na identificação precoce da dislexia enfren- tam um desafio significativo. Como o principal sintoma da dislexia é a dificuldade em aprender a ler palavras, os profissionais e os edu- cadores em geral têm de esperar até que a instrução adequada da dislexia revisao.indd 55 05/04/2011 14:08:13 DISLEXIA - Novos temas, novas perspectivas56 leitura da palavra seja dada, antes de ser realizado o diagnóstico de dislexia. Esta prática, muitas vezes, adia a identificação para depois da 2a ou 3a série. Felizmente, uma pesquisa recente revelou “sinais clínicos” e práticas educativas que permitem que os profissionais e os educadores identifiquem crianças com dislexia, antes, ou logo no início da instrução formal de leitura. Histórico Familial Um dos primeiros sinais clínicos da dislexia é a história fami- lial de dificuldade de leitura. Pesquisas demonstram que a dislexia, muitas vezes, é hereditária e, desta forma, ocorre na família.10-12 Estas pesquisas mostram que, se um irmão ou pai da criança tem o histó- rico de dislexia, a criança tem cerca de 40% de chance de ter dislexia também. Alguns estudos sugerem que o risco familial para a dislexia é contínuo ao invés de discreto,13-14 isto é, não só muitas crianças com histórico familial têm dislexia, mas muitos daqueles que não desen- volvem a dislexia, contudo, apresentam algum deficit menos grave de leitura e em habilidades relacionadas à leitura. Pesquisas comporta- mentais e de investigação genético-molecular também começam a identificar os genes múltiplos ou os locais associados com a dislexia.15- 17 Embora este trabalho esteja progredindo rapidamente, a complexi- dade dos resultados sugere que ele vai levar algum tempo antes que os “testes genéticos” possam ser usados de uma maneira confiável para identificar crianças de risco para a dislexia.18 Aquisição da Linguagem e Desenvolvimento da Alfabetização A dislexia tem sido, muitas vezes, classificada como um trans- torno do desenvolvimento da linguagem.1-2 Uma extensão desta vi- são sugere que os atrasos ou os distúrbios no desenvolvimento da dislexia revisao.indd 56 05/04/2011 14:08:13 IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DA DISLEXIA 57 linguagem nos anos pré-escolares podem ser os primeiros sinais da dislexia. Numerosos estudos têm demonstrado que crianças com dislexia geralmente têm uma história de dificuldades de linguagem oral. Em nosso estudo longitudinal de linguagem e transtornos de leitura,1-2,19-20 pesquisadores descobriram que as crianças identificadas com dislexia na 2a série apresentaram um desempenho significativa- mente menor do que as crianças típicas em medidas de vocabulário, gramática e narrativa no jardim de infância (cinco anos). Embora as crianças
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