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Teoria Geral do Direito e da Política

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Resumos Magistratura Federal | e-mail: resumos-magistratura-federal@yahoogrupos.com.br
Teoria Geral do Direito e da Política
2015
Resumo elaborado conforme o edital do XVI Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal Substituto do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital adotado pelo Tribunal Regional da 3ª Região.
Colaborador: Dany S. Park
Sumário
1	Ponto 1 - Direito Objetivo e Direito Subjetivo.	4
1.1	Direito Objetivo e Direito Subjetivo	4
1.2	Direito Subjetivo e Direito Potestativo	4
2	Ponto 2 - Fontes do Direito objetivo. Princípios Gerais do Direito. Jurisprudência. Súmula vinculante.	5
2.1	Fontes do Direito Objetivo	5
2.1.1	A Lei	6
2.1.2	Costume	6
2.1.3	Doutrina	7
2.1.4	Fonte negocial	7
2.2	Princípios Gerais de Direito	7
2.3	Jurisprudência	8
2.4	Súmula Vinculante	9
3	Ponto 3 - Eficácia da lei no tempo. Conflito de normas jurídicas no tempo e o Direito brasileiro: Direito Penal, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito do Trabalho.	9
3.1	Eficácia da lei no tempo.	9
3.2	3.2. Conflito de normas jurídicas no tempo e o Direito brasileiro: Direito Penal, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito do Trabalho.	12
4	Ponto 4 - O conceito de Política. Política e Direito.	13
4.1	Ciência Política: Alguns Conceitos Básicos	13
4.1.1	Pensamento Político de Kant	17
4.2	Relação Entre Política e Direito	17
5	Ponto 5 - Ideologias	18
6	Ponto 6 - A Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU).	21
6.1	Significado de Direitos Humanos	21
6.2	Fundamento Axiológio dos Direitos Humanos e sua Vigência Universal	22
6.3	Antecedente Histórico	22
6.4	Natureza Jurídica da Declaração Universal de 1948	23
6.5	Estrutura da Declaração	24
6.6	Análise sobre alguns artigos da declaração	24
6.7	Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais	30
6.7.1	Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos	30
6.7.2	Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais	31
Ponto 1 - Direito Objetivo e Direito Subjetivo.
Elaborado em 18/08/2014 (Resumo formulado com base no caderno atualizado do Curso ênfase e livro do Caio Mário da Silva Pereira- Instituições de Direito Civil- Volume I - 23a Edição).
Direito Objetivo e Direito Subjetivo 
Não há dicotomia entre direito subjetivo e direito objetivo. Esses institutos devem ser tratados conjuntamente. Para que a SUBJETIVIDADE possa se manifestar, é preciso que a pretensão esteja OBJETIVAMENTE prevista e garantida. 
Essa objetividade está relacionada à positividade, ou seja, o direito objetivo deve estar previsto em normas jurídicas. O direito objetivo é a norma ou o conjunto de normas de conduta positivadas. Subdivide-se em Direito público e Direito privado. 
Segundo Caio Mário, o direito objetivo traduz o “comando estatal, a norma de ação ditada pelo poder público, e é nesta acepção que se repete secularmente que ius est norma agendi”.
O direito subjetivo é o direito-poder ou direito-prerrogativa. É a permissão, conferida por meio de normas jurídicas válidas, para FAZER ou NÃO FAZER alguma coisa, para TER ou NÃO TER algo, ou, ainda, a AUTORIZAÇÃO para exigir, por meio dos órgãos competentes do Poder Público, através de processos legais, em caso de violação da norma, o cumprimento da norma violada ou a reparação do mal sofrido. Em suma, o direito subjetivo é a possibilidade de exigir determinado direito garantido (direito objetivo), por meio de mecanismos oficiais de satisfação do direito. 
Caio Mário explica que o direito subjetivo abrange “o poder de ação contido na norma, a faculdade de exercer em favor do indivíduo o comando emanado do Estado, definindo-se ius facultas agendi”.
Há requisitos para efetivação de um direito subjetivo, quais sejam, capacidade (de fato e de direito); legitimidade jurídica e; interesse de agir.
Direito Subjetivo e Direito Potestativo 	
Direito subjetivo é aquele cujo exercício enseja um dever imediato de outrem. 
Os direitos subjetivos se classificam em: 
A) Absolutos ou Relativos: Absoluto é aquele direito subjetivo que não admite exceção, enquanto que o relativo admite. 
Há doutrinadores que entendem que a vida é um direito subjetivo absoluto. Por outro lado, há entendimento que sustenta que não há direito absoluto, inclusive o direito à vida, pois, nos casos de guerra declarada, admite-se a pena de morte.
B) Reais e Pessoais: Reais são os direitos sobre a coisa (propriedade, posse, dentre outros) e pessoais são relacionados à personalidade (direito ao nome, à imagem, à honra, dentre outros). 
C) Principais ou Acessórios: Por exemplo, direito subjetivo principal é a entrega da coisa e o direito acessório são os juros correspondentes, o dano moral, dentre outros. O acessório segue o principal e, portanto, se o principal não mais existir, o acessório não será mais exigível, em regra. 
D) Transmissíveis e Intransmissíveis: A propriedade é um exemplo de direito subjetivo transmissível e os direitos trabalhistas são exemplos de direitos intransmissíveis. 
E) Públicos e Privados: Direitos subjetivos públicos são, por exemplo, os direitos políticos e possuem, em regra, alto grau de efetivação judicial. Exemplo: Mandado de Segurança, ações eleitorais, dentre outros. Por Direitos subjetivos privados, tem-se a defesa da propriedade, dentre outros. 
O direito potestativo também corresponde a um dever de outrem, entretanto, esse dever é um estado de sujeição e somente será exigível quando aquele que é titular do direito, manifestamente, apresentar seu desejo de exigibilidade. 
O direito potestativo não corresponde a um dever jurídico imediato e depende de provocação. 
O direito subjetivo é prescricional e, por outro lado, o direito potestativo é decadencial (art. 1.560, CC/02) ou não decadencial (art. 1.320, CC). 
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de: 
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; 
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; 
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; 
IV - quatro anos, se houver coação. 
[...]
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão. 
[...]
3. Direito Objetivo- Fontes do Direito
A) Fontes Materiais: Que determinam a formulação da norma jurídica (histórica, filosófica, sociológica);
B) Fontes Formais Principais (primárias): Determinam os modos de formação e revelação das normas jurídicas (lei e jurisprudência);
C) Formais Secundárias: Analogia, costumes, princípios gerais do Direito (Art. 4º LINDB) e equidade;
Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Analogia é aplicar a uma situação semelhante o raciocínio de uma outra situação. Não se utiliza a analogia para prejudicar o réu, cidadão ou contribuinte.
Princípios gerais do Direito são construções doutrinárias que orientam a produção normativa do direito, independente do ramo.
A equidade é utilizada quando há uma situação em que a aplicação da lei é entendida como injusta e, por isso, deixa-se de aplicá-la, recorrendo àquilo que se considera justo.
Costumes são práticas sociais que orientam as pessoas no seu dia a dia.
D) Fontes Controversas: Doutrina, convenções sociais, etc.
Atualmente, é pacífico que doutrina não é fonte do direito, pois o doutrinador não possui legitimidade estatal pra criar, modificar ou extinguir direitos.
Quanto às convenções sociais, ainda há controvérsia acerca da possibilidade de estas serem fonte do direito, visto que elas não são criadas pelo Estado.
Ponto 2 - Fontes do Direito objetivo. Princípios Gerais do Direito. Jurisprudência. Súmula vinculante.
Fontes do Direito Objetivo
A teoria das fontes tem seu começo a partir do momentoem que o direito passa a ser entendido mais como um produto cultural e menos como um dado da natureza ou sagrado. A expressão "fonte do direito" pretende significar origem, gênese, tanto no sentido de origem histórica e sociológica como no sentido de elaboração das normas e mesmo a busca do fundamento do direito, em uma análise filosófica. "A própria expressão direito, igualmente vaga e ambígua, confere à teoria uma dose de imprecisão, pois ora estamos a pensar nas normas (direito objetivo), ora nas situações (direito subjetivo) e até na própria ciência jurídica e sua produção teórica (as fontes da ciência do direito)". 
Dentro dessa exposição, é importante distinguir entre fonte de cognição (fonte formal) e fonte de produção jurídica (fonte material).
As fontes materiais estão relacionadas aos elementos políticos, econômicos, e ideológicos que perfazem dada realidade social, interferindo na produção, interpretação e aplicação da normatividade jurídica, visto que fornecem a matéria prima para a confecção normativa do sistema jurídico. Maria Helena Diniz afirma que as fontes materiais constituem o conjunto de valores e de circunstâncias sociais que, constituindo o antecedente natural do direito, contribuem para a formação do conteúdo das normas jurídicas. 
As fontes formais, por sua vez, correspondem aos modos de surgimento e de manifestação da normatividade jurídica, mediante os quais o jurista conhece e descreve o fenômeno jurídico, por meio da positivação institucional dos elementos econômicos, políticos e ideológicos que compõem a estrutura geral de uma sociedade e influenciam o sistema jurídico. Miguel Reale sustenta que as fontes formais do direito designam os processos ou meios através dos quais as normas jurídicas se positivam com força obrigatória, implicando a existência de uma estrutura de poder. As fontes formais podem, ainda, ser divididas em fontes jurídicas estatais, quando produzidas por órgãos do Estado (Lei e jurisprudência), ou fontes jurídicas não estatais, quando gestadas pelos agentes sociais (doutrina, costume, negócio jurídico e poder normativo de grupos sociais).
Como consequência da Revolução Francesa temos a necessidade de um direito único para toda a Nação, substituindo tanto os vários direitos locais como o direito de classes. Surge com força a codificação do direito, no qual todos são considerados iguais perante a lei (isonomia). O princípio da igualdade perante a lei traz em seu bojo outro, o de que deve existir um único sistema jurídico para todos que vivam num mesmo território. A codificação leva à sistematização, já que os códigos obedecem à uma lógica na sua construção, com base em princípios gerais.
As fontes estatais acabam por prevalecer em relação às de caráter puramente social, devido a sua formalidade e formulação revestida de autoridade geral e reconhecida institucionalmente. Em segundo plano aparecem as fontes menos objetivas, de menor grau de certeza e segurança, como os costumes. Por último vêm as fontes com maior grau de subjetividade, como a doutrina, os sentimentos de justiça, a equidade e as fontes negociais.
Por isso se afirma que a Teoria das fontes é "uma racionalização do fenômeno jurídico e uma justificação de uma conjuntura histórica, cujo expoente ideológico máximo é o liberalismo". É que se a dominação tem por fundamento a crença na tradição ou no carisma, a fonte não aparece como preocupação crucial.
A Lei 
Fundamental iniciar este item alertando para que não se confunda norma com lei, já que a norma é uma prescrição, que vale tanto para regras e princípios como para decisões judiciais. Já a lei é uma das formas de que se reveste a norma ou mesmo um conjunto de normas dentro do ordenamento. É este revestimento estrutural da norma que lhe dá a condição de norma jurídica. 
A Lei pode ser definida como um conjunto de normas de direito gerais, proclamado obrigatório pela vontade de uma autoridade competente e expresso mediante uma fórmula escrita. Dessa definição, podem ser retiradas as principais características da Lei: forma escrita, generalidade, abstração e complexidade, uma vez que sua edição depende da manifestação de vontade dos Poderes Legislativo e Executivo. No âmbito do sistema do “civil law”, a Lei assume o papel de principal fonte formal do direito. 
A Lei também é importante expressão do regime democrático. Quanto mais democrático o Estado, maior será a predominância do Poder Legislativo na elaboração das leis. O maior desafio da lei: conseguir, por meio da fonte normativa, "fornecer critérios materiais, de conteúdo ético determinado, para decisões de conflitos atuais ou que ainda estão para ocorrer". Embora a norma moral e a jurídica constituam normas de comportamento de conduta com base ética, apenas as jurídicas contam com emissor determinado e previamente qualificado; só elas possuem um modo formal, legal ou constitucional para serem criadas.
A "lei" só deve ser entendida como fonte se for constitutiva de direito, isto é, quando introduz algo de novo no sistema jurídico vigente. Na acepção do termo, não é possível considerar decretos e regulamentos como se leis fossem, já que não podem ir além dos limites colocados pela norma legal (lei) que lhe dão causa.
O processo legislativo federal comporta três tipos de procedimentos: procedimento ordinário ou comum, que se destina à criação de lei ordinária; procedimento sumário, que se diferencia do ordinário apenas pela imposição de prazo ao legislativo para deliberação da matéria; e o procedimento especial, apto à criação de leis complementares, leis delegadas, aprovação de medidas provisórias, decretos legislativos, resoluções e leis financeiras.
Acerca do procedimento legislativo (arts. 59 a 69 da CRFB), é possível verificar as seguintes etapas: fase introdutória, relativa ao exercício da iniciativa legislativa, nos termos dispostos no texto constitucional; fase constitutiva, em que se haverá a deliberação do Congresso Nacional; sanção ou veto do Presidente da República; e a fase complementar, caracterizada pela promulgação da lei, que atesta a existência válida da lei e sua executoriedade e publicação que dá permite que a coletividade conheça a norma em questão. 
Costume 
O costume, fonte mais antiga do direito, cria-se, forma-se, impõe-se sem que nesse processo seja possível localizar um ato sancionador. O que diferencia os costumes de outros hábitos sociais é a convicção de sua obrigatoriedade. Sílvio Venosa afirma que “para que um costume se converta em fonte do direito, dois requisitos são essenciais: um de ordem objetiva ou material (corpus), que expressa o uso continuado, a exterioridade, a percepção tangível de uma conduta humana; outro de ordem subjetiva ou imaterial (animus), que traduz a consciência coletiva da obrigatoriedade jurídica da prática social, o que diferencia o costume jurídico de outras práticas reiteradas, com as religiosas ou as morais”.
Apesar de possuir menor objetividade, tendo em vista o caráter difuso da formulação das normas, o costume enquanto fonte capacita as normas consuetudinárias de validade e eficácia, dando a elas impositividade. Como não há "publicação" quando se fala de costumes, é fundamental que aquele que o alega prove a sua existência (excetua-se aqui o sistema da Common Law), já que não é possível determinar o início de sua vigência. Os costumes normalmente são classificados pela doutrina da seguinte forma: contra legem, que são os que se opõem à lei; praeter legem, aqueles que suprem lacunas, disciplinando matérias que a lei não conhece; e secundum legem, quando oferecem suporte para a criação ou interpretação da lei. 
Doutrina 
Há divergências acerca da atribuição de caráter de fonte do direito à doutrina. No plano jurídico, podemos definir a doutrina como aquela fonte formal (para quem a admite como tal) e não estatal do direito que se forma pelo conjunto de obras e pareceres produzidos por conceituados juristas, facilitando e orientando a tarefa de aplicar o direito.
Devido ao fato de formalmente não haver obrigaçãode os tribunais acatarem o disposto na doutrina, mesmo que seja amplamente dominante, é ela considerada fonte mediata, havendo autores que não a consideram como fonte do direito. 
Miguel REALE entende que a doutrina não é fonte, pois não se desenvolve numa estrutura de poder, sendo este requisito essencial ao conceito de fonte. 
A doutrina, então, é fundamental antecedente lógico para o surgimento da fonte estatal principal, que é a lei. 
Fonte negocial
Ao admitirmos que o sistema jurídico não é composto apenas de normas de caráter abstrato e genérico, como a grande maioria das leis, mas também por normas específicas, particulares e individualizadas, fica mais fácil entender a grande presença e respectiva importância desta fonte do direito. 
Dentre as normas individuais destacam-se as fontes negociais, e dentro destas as normas contratuais (cláusulas contratuais). Analisando o papel normativo de atos de autonomia como fonte do direito, fica patente que o acordo de vontades, que não viole normas cogentes, deve ser respeitado, pois o ser humano é capaz de direitos e obrigações. 
Miguel Reale indica quatro itens que são necessários para a caracterização da fonte negocial, que para o autor é a convergência dos seguintes elementos: "a) manifestação de vontade de pessoas legitimadas a fazê-lo; b) forma de querer que não contrarie a exigida em lei; c) objeto lícito; d) quando não paridade, pelo menos uma devida proporção entre os partícipes da relação jurídica". 
Há inúmeros casos dos chamados atos negociais praeter legem, que são aqueles que, na ausência da lei, preenchem a lacuna e tornam-se verdadeiras regras gerais com caráter de norma. É o resultado da autonomia da vontade na busca do bem jurídico, respeitando-se o "poder de disposição de cada ser humano". 
Princípios Gerais de Direito
Previstos na LINDB (art. 4o), no CPC (art. 126) e na CLT (art. 8o), os princípios gerais de direito são as normas jurídicas mais gerais (fundamentais), que orientam todo o sistema jurídico. Decorrem do próprio fundamento da legislação positiva, já que, mesmo quando não são expressos, constituem os pressupostos lógicos necessários das normas legais, consistindo na manifestação máxima do espírito de uma legislação. 
Entendidos da mesma forma que os postulados de um sistema científico, é dos princípios que derivam tanto as normas jurídicas quanto a interpretação destas, dando ao ordenamento jurídico a condição de sistema, ou seja, uma totalidade formada por elementos coerentes entre si em seus interrelacionamentos. 
Princípio é, com efeito, toda norma jurídica considerada como determinante de uma ou muitas outras subordinadas, que a pressupõem, desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais particulares (menos gerais), sejam estas efetivamente postas, sejam apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém. 
Dentro da função sistematizadora dos princípios jurídicos, a doutrina elenca quatro características principais: (i) -não valem sem exceção, podendo entrar em oposição ou contradição entre si; (ii) -não são exclusivos, podendo-se utilizar um ou outro(s) para solucionar casos idênticos; (iii) -os princípios, isoladamente, não demonstram seu autêntico valor, sendo necessárias complementações e combinações para que possam ostentar sentidos próprios; (iv) -para um correto funcionamento é fundamental a associação a regras e subprincípios, momento em que ocorre a intermeação de novos valores autônomos, como os presentes no próprio intérprete. 
Os princípios não só propiciam a limitação do poder de conformação do intérprete, como auxiliam na busca de decisões que tenham embutido em seus teores o ideal de justiça presente nas sociedades em que é o direito aplicado. 
São os princípios, portanto, não só a base do ordenamento, mas também ícones que atuam na manutenção da segurança jurídica, haja vista a necessidade de complementações e combinações para que possam ostentar sentidos próprios, destituindo de validade as "verdades absolutas", oriundas das interpretações metafísicas e positivistas, e atuando na realização do direito, de forma a permitir, por meio do sistema normativo, tanto a busca pelo justo como a renovação de valores nos momentos de mutabilidade social. 
Fases anteriores à "constitucionalização" dos princípios: (i) escola jusnaturalista, momento em que surge a denominação de princípios gerais de direito. Para seus seguidores, os princípios gerais identificam-se com o direito natural, sendo então os princípios de justiça formadores de um direito ideal. Os princípios habitam uma esfera abstrata, e sua normatividade tende a zero. O contraponto é a grande dimensão de sua característica ética relacionada à justiça, sendo um valor totalmente abstrato, mas inspirador do postulado desse ideal. Os princípios, tomados em sua característica jusnaturalista, tiveram forte influência até o advento da escola histórica do direito, no século XIX. 
(ii) Dentro da concepção positivista, os princípios gerais de direito são aqueles que servem de fundamento para a instituição da norma. Nessa fase juspositivista, são os princípios normatizados, porém mais para funcionar como válvulas de segurança para o sistema jurídico do que como algo que fosse superior às leis. Para Paulo BONAVIDES, o juspositivismo, "ao fazer dos princípios na ordem constitucional meras pautas programáticas supralegais, tem assinalado, via de regra, a sua carência de normatividade, estabelecendo, portanto, a sua irrelevância jurídica". 
(iii) É com o advento do pós-positivismo (DWORKIN e ALEXY) que os princípios tornam-se, como valores, a pedra de toque com que se aferem os conteúdos constitucionais em sua dimensão normativa mais elevada. É a transmutação para os denominados "princípios constitucionais", que trazem em seu bojo os valores maiores da Constituição, em torno dos quais estão os direitos, as garantias e as competências de uma sociedade democrática e constitucional. 
Os princípios gerais de direito são na realidade a fonte básica e primária do ordenamento jurídico. Já estão presentes na elaboração legislativa, possuindo supremacia em relação às regras e aos costumes, pois se têm força para gerá-los, também a possuem para invalidá-los. São normas que recepcionam valores, formando aspirações da sociedade que ordenam que se busque a melhor feitura possível. É a busca do ótimo. 
A normatividade dos princípios, após ser proclamada e reconhecida pela doutrina mais moderna, sofre uma transposição, caminhando dos códigos para as constituições, momento em que os princípios deixam de ter valor meramente supletório para tornar-se o fundamento de toda a ordem jurídica, ganhando inclusive a denominação de "princípios constitucionais", que são as normas supremas do ordenamento. Com o advento do pós-positivismo, um dos responsáveis por essa transmutação dos princípios, o que ocorreu foi a unificação dos princípios gerais de direito em torno dos princípios constitucionais, que passam a ocupar, como ensina Bonavides, "um espaço tão vasto que já se admite até falar (...) em Estado principial, nova fase caracterizadora das transformações por que passa o Estado de Direito". 
Jurisprudência
Embora parcela da doutrina entenda que a jurisprudência (também chamada de costume jurisprudencial) não pode ser considerada fonte do direito, sob o argumento de que consiste ela apenas em uma "fonte" interpretativa da lei, esta não parece a conclusão da maioria da doutrina. Ricardo Maurício Freire Soares define a jurisprudência como “aquela fonte formal e estatal do direito que expressa o conjunto das decisões reiteradas de juízes e tribunais, as quais formam um padrão interpretativo capaz de inspirar a realização de futuros julgamentos sobre casos similares”. 
Miguel REALE, por sua vez, define jurisprudência como "a forma de revelação do direito que se processa através do exercício da jurisdição, em virtude de uma sucessão harmônica de decisões dos tribunais". 
Nos regimes jurídicos que adotam o sistema do “common law”, o direitoé revelado pela utilização sucessiva dos precedentes pelo poder judiciário, ocupando papel de destaque como fonte do direito. Ainda no caso brasileiro, que adota o sistema do “civil law” (embora parte da doutrina já aponte para uma aproximação com o sistema do commom law”), considerando a importância crescente dos precedentes judiciais, não há como negar que a jurisprudência desponta como genuína fonte jurídica, suplementando e aperfeiçoando a própria legislação. 
Vale destacar o posicionamento de REALE, que parte da concepção de fonte do direito como estrutura normativa que implica a existência de alguém com poder de decidir. Entende, portanto, que são quatro as fontes do direito: (a) a legal, resultante do poder estatal de legislar; (b) a consuetudinária, expressão do poder social inerente à vida coletiva; (c) a jurisdicional, que se vincula ao Poder Judiciário; (d) a fonte negocial, ligada ao poder que tem a vontade humana de instaurar vínculos reguladores do pactuado com outrem. 
Afirma ainda o jurista que, "se uma regra é, no fundo, a sua interpretação, isto é, aquilo que se diz ser o seu significado, não há como negar à Jurisprudência a categoria de fonte do Direito, visto como ao juiz é dado armar de obrigatoriedade aquilo que se declara ser 'de direito' no caso concreto". 
Súmula Vinculante
Seu antecedente no direito brasileiro, sem abordar as súmulas dos tribunais, foi a Emenda Constitucional 3/93, que acrescentou o § 2º ao art. 102 da Constituição Federal, determinando que as decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, produziam eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e do Poder Executivo. 
A EC 45/2004 deu nova redação ao § 2º do art. 102 da CRFB e acrescentou o art. 103-A, que especifica a súmula vinculante, regulamentada pela Lei nº 11.417/2006. Com isso rompeu-se a tradição jurídica brasileira, pelo menos desde o início da República, de que o teor oriundo das súmulas tinha caráter persuasivo, e não vinculante.
Ao comparar a súmula vinculante com o stare decisis do Common Law, instituto próprio do direito anglo- saxônico, RAZUK afirma, e com razão, que "a doutrina do stare decisis não comporta a edição de súmulas que contenham proposições jurídicas genéricas. Encontrados os precedentes, faz-se o cotejo dos fatos relacionados aos casos anteriores com o fato objeto do caso em julgamento. É uma operação lógico-indutiva, em que a regra geral é extraída pelo aplicador do exame dos casos anteriores, mediante a comparação dos fatos, para aplicá-la ao caso concreto. Verifica-se então que o precedente vinculante da doutrina do stare decisis (...) nada tem a ver com a súmula vinculante do direito brasileiro, que constitui uma excrescência no sistema jurídico romano-germânico". 
É que o instituto do precedente vinculante (stare decisis) é a regra de direito aplicada aos fatos relevantes necessários para decidir a questão de mérito ou questões apresentadas à corte para decisão. Apenas após estabelecer o precedente do caso, a corte adere ao entendimento, aplicando-o a casos futuros, já que a decisão da corte que seja procedente se torna "lei" e vincula os tribunais subordinados à última instância. 
A maior diferença entre a súmula vinculante e o precedente vinculante está no fato de que aquela consiste de enunciado genérico a ser aplicado em um número indeterminado de casos. Já em relação ao precedente vinculante, o enfoque é prático e não teórico. Como sempre afirma o professor Eros GRAU, a súmula vinculante se dá em forma de texto, e o texto precisa ser interpretado... 
Ponto 3 - Eficácia da lei no tempo. Conflito de normas jurídicas no tempo e o Direito brasileiro: Direito Penal, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito do Trabalho.
Eficácia da lei no tempo.
Dispõe o art. 1.º da LINDB que: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada”. Acrescenta seu § 1.º: “Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três) meses depois de oficialmente publicada”. Contagem – prazo material (inclui dia começo e despreza-se o do fim). Adotado o sistema do prazo de vigência único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o qual a lei entra em vigor de uma só vez em todo o país. 
Vacatio legis: É o período que medeia entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor. Normalmente as leis entram em vigor na data da publicação, mas a CF/88 ressalva duas exceções de vacatio obrigatória: a) Lei que cria ou aumenta contribuição social para a Seguridade Social. Só pode entrar em vigor noventa dias após sua publicação (art. 195, § 6.º, da CF). b) Lei que cria ou aumenta tributo. Só pode entrar em vigor noventa dias da data que haja sido publicada, conforme art. 150, III, c, da CF, com redação determinada pela EC 42/2003. 
Existem ainda as hipóteses de vigência imediata, isto é, sem vacatio legis: a) Atos Administrativos. Salvo disposição em contrário, entram em vigor na data da publicação (art. 103, I, do CTN). b) Emendas constitucionais. No silêncio, como esclarece Oscar Tenório, entram em vigor no dia da sua publicação. c) Lei que cria ou altera o processo eleitoral. Tem vigência imediata, na data da sua publicação, todavia, não se aplica à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência (art. 16 da CF).
Vacatio legis é a chamada “lei corretiva”. Pode ocorrer de a lei ser publicada com incorreções e erros materiais. Se a lei ainda não entrou em vigor, para corrigi-la, não é necessária nova lei, bastando a repetição da publicação, sanando-se os erros, reabrindo-se o prazo da vacatio legis em relação aos artigos republicados. Entretanto, se a lei já entrou em vigor, a edição de uma nova lei, denominada de lei corretiva, se faz necessária, cujo efeito, no silêncio, se dá após o decurso do prazo de 45 dias a contar da sua publicação. Enquanto não sobrevém essa lei corretiva, a lei continua em vigor, apesar de seus erros materiais, ressalvando-se, porém, ao juiz, conforme esclarece Washington de Barros Monteiro, o poder de corrigi-la, ainda que faça sentido o texto errado.
Lembre-se: o Presidente da República não pode acrescentar ou modificar os dispositivos aprovados pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a suprimi-los, pois, no Brasil, é vedado o veto aditivo ou translativo, admitindo-se apenas o veto supressivo. Não confundir essa hipótese com o controle de constitucionalidade feito pelo STF, onde é possível que a declaração de inconstitucionalidade parcial apenas sobre fração de artigo parágrafo, inciso ou alínea, até mesmo sobre uma única palavra de um desses dispositivos da lei ou ato normativo. 
Repristinação: É a restauração da vigência de uma lei anteriormente revogada em virtude da revogação da lei revogadora. Sobre o assunto, dispõe o § 3º do art. 2.º da LINDB: “salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Assim, o efeito repristinatório não é automático; só é possível mediante cláusula expressa.
Uma exceção: Lei 9.868/99, artigo 11, parágrafo 2º. A concessão de medida cautelar em ADI torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa disposição em contrário. É um efeito repristinatório automático. Se o STF não quiser essa repristinação, deve declarar expressamente. 
Revogação: É a cessação definitiva da vigência de uma lei em razão de uma nova lei. Só a lei revoga a lei, conforme o princípio da continuidade das leis. Saliente-se que o legislador não pode inserir na lei a proibição de sua revogação. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). A revogação ainda pode ser expressa, tácita ou global. 
A revogação expressa ou direta é aquela em que a lei indica os dispositivos que estão sendo por ela revogados. A propósito, dispõe o art. 9º da LC 107/2001: “A cláusula de revogação deverá enumerar,expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”, de modo que o legislador não deve mais se valer daquela vaga expressão “revogam-se as disposições em contrário”. A revogação tácita ou indireta ocorre quando a nova lei é incompatível com a lei anterior, contrariando-a de forma absoluta. A revogação tácita não se presume, pois é preciso demonstrar essa incompatibilidade. 
Importante entender o § 2º do art. 2º da LINDB, que diz: “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.” Assim, o princípio da conciliação ou das esferas autônomas consiste na possibilidade de convivência das normas gerais com as especiais que versem sobre o mesmo assunto. Esse princípio, porém, não é absoluto. De fato, a lei geral pode revogar a especial e vice-versa, quando houver incompatibilidade absoluta entre essas normas. Essa incompatibilidade não se presume. Na dúvida, se considerará uma norma conciliável com a outra, vale dizer, a lei posterior se ligará à anterior, coexistindo ambas. Então, muito cuidado com as afirmações já prontas, posto que “a lei posterior geral não revoga lei especial” e, igualmente, “a lei especial não revoga a geral”. 
A revogação global ocorre quando a lei revogadora disciplina inteiramente, no mesmo texto, a matéria da lei antiga. Nesse caso, os dispositivos legais não repetidos são revogados, ainda que compatíveis com a nova lei.
Princípio da Segurança e da estabilidade social: De acordo com esse princípio, previsto no art. 5º, inc. XXXVI da CF, a lei não pode retroagir para violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Devem ser respeitadas, portanto, as relações jurídicas constituídas sob a égide da lei revogada.
Direito Adquirido: é o que pode ser exercido desde já por já ter sido incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa. O §2º do art.6º da LINDB considera também adquirido: a) O direito sob termo. O art.131 do CC também reza que o termo, isto é, o fato futuro e certo, suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. b) o direito sob condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem (o que, a rigor, é também um “termo”, porque o fato é futuro e certo, porquanto inalterável pelo arbítrio de outrem. 
Coisa Julgada: é a sentença judicial de que já não caiba mais recurso. É, pois, a imutabilidade da sentença. Atente-se que a Magna Carta não impede a edição de leis retroativas; veda apenas a retroatividade que atinja o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A retroatividade, consistente na aplicação da lei a fatos ocorridos antes da sua vigência, conforme Min. Celso de Melo, é possível mediante dois requisitos: a) cláusula expressa de retroatividade; b) respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
Assim, a retroatividade não se presume, deve resultar de texto expresso em lei e desde que não viole o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Abre-se exceção à lei penal benéfica, cuja retroatividade é automática, vale dizer, independe de texto expresso, violando inclusive a coisa julgada (sentença com transito em julgado é afetada pela retroatividade da lei penal benéfica). 
Podemos então elencar três situações de retroatividade da lei: a) lei penal benéfica; b) lei com cláusula expressa de retroatividade, desde que não viole o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; c) lei interpretativa: é a que esclarece o conteúdo de outra lei, tornando obrigatória uma exegese, que já era plausível antes de sua edição. É a chamada interpretação autêntica ou legislativa. A lei interpretativa não cria situação nova; ela simplesmente torna obrigatória uma exegese que o juiz, antes mesmo de sua publicação, já podia adotar. Aludida lei retroage até a data de entrada em vigor da lei interpretada, aplicando-se, inclusive, aos casos pendentes de julgamento, respeitando apenas a coisa julgada. 
Existem alguns casos mais delicados no tocante a possibilidade de retroação das leis. A doutrina se debruça sobre algumas hipóteses excepcionais de violação dessas cláusulas. Veja abaixo as hipóteses mais discutidas: a) A Lei penal benéfica pode retroagir, conforme já vimos, para violar a coisa julgada (art.5º, XL, da CF). b) Princípio da relativização da coisa julgada: Atendendo a reclames de justiça, entendem alguns que essa mitigação preclusiva da coisa julgada se opere. Segundo o parágrafo único do artigo 741 do CPC, é inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. Vale ainda lembrar a inaplicabilidade da Súmula 343 do STF em casos de matéria constitucional. A Súmula 343 do STF diz: "Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais" o STF reconheceu que referida súmula não se aplica à matéria constitucional, pois ofende a força normativa da Constituição, o princípio da máxima efetividade da norma constitucional, bem como fortalece as decisões das instâncias ordinárias em detrimento das decisões do Supremo. c) Emenda Constitucional pode retroagir para violar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada? Embora a especulação seja grande, a verdade é que o STF não se decidiu sobre a questão. Às vésperas do julgamento da questão relativa à taxação dos inativos do serviço público, onde o STF se viu compelido a enfrentar a questão, sagrou-se outra tese para resolução do impasse. Não foi possível dizer se a emenda pode ou não violar direito adquirido, mas apenas foi dito que não existe direito adquirido a “não-tributação”. O Poder Constituinte Originário, obviamente, não deve limitações ao direito adquirido. 
Critérios para aplicabilidade do princípio da irretroatividade (Maria Helena Diniz) merecem destaque: a) leis interpretativas são retroativas; se as leis existem para dar interpretação à lei que foi editada antes dela, precisa ser considerada, numa espécie de ficção, que a lei interpretativa tem o mesmo momento de vigência da lei que ela visa a interpretar; b) o princípio vale tanto para o direito privado quanto para o direito público; c) no direito processual vigora a regra do tempus regit actum, ou seja, a legislação processual tem aplicação imediata; d) no direito penal e no direito tributário as leis mais favoráveis ao réu e ao contribuinte retroagem (art. 106, inc. II, do CTN; art. 5º, inc. XL, da CF/1988); e) as normas que se referem ao estado e à capacidade das pessoas aplicam-se imediatamente; f) os direitos obrigacionais regem-se pela lei do tempo em que se constituíram; g) os direitos dos herdeiros são regulados pela lei vigente à época da abertura da sucessão.
Ineficácia: Eficácia e vigência se dão em planos distintos. É possível a eficácia de uma lei revogada (lei revogada continua sendo aplicada aos casos em que há direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada). Também é possível a vigência de uma lei ineficaz. Veja as hipóteses aventadas pela doutrina: a) caducidade: ocorre pela superveniência de uma situação cronológica ou factual que torna a norma inválida, sem que ela precise ser revogada. Exemplo: leis de vigência temporária. b) desuso: é a cessação do pressuposto de aplicação da norma. Exemplo: a lei que proíbe a caça da baleia deixará de ser aplicada se porventura desaparecerem todas as baleias do planeta. c) costume negativo ou contra legem: é o que contraria a lei. O costume não pode revogar a lei, por força do princípio da continuidade das leis. Todavia, prevalece a opinião de que ele pode gerar a ineficácia da lei, desde que não se trate de lei de ordem pública. Como ensina Rubens Requião, verificada que a intenção das partes foi a de adotar certos costumes, o julgador deve aplicá-lo, sobrepondo-o à norma legalnão imperativa. De acordo com Serpa Lopes, a realidade, através de um costume reiterado, enraizado nos dados sociológicos, em harmonia com as necessidades econômicas e morais de um povo, é capaz de revogar a norma. Não se trata, data venia, de revogação, pois esta só é produzida pelo advento de uma nova lei; a hipótese é de ineficácia. Como exemplos de costumes contra legem, podemos citar: a emissão de cheque pré-datado; a expedição de triplicata pelo fato da duplicata não ter sido devolvida tornou-se praxe, embora a lei preveja para a hipótese o protesto por indicações, ao invés da triplicata; admissibilidade de prova testemunhal em contrato superior a dez salários mínimos, nos casos em que o costume dispensar a prova escrita exigida pela lei. d) resolução do Senado Federal suspendendo a eficácia de lei declarada incidentalmente inconstitucional pelo STF (controle por via de exceção ou difuso). e) princípio da anterioridade da lei tributária, pois, uma vez publicada, sua eficácia permanece suspensa até o exercício financeiro seguinte. f) a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na data de sua publicação, mas não tem eficácia em relação à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.
Antinomias de 1º e 2º graus: As antinomias dizem respeito aos possíveis conflitos entre as normas jurídicas e os seus meios de resolução. Maria Helena Diniz entende que antinomia é: [...] o conflito entre duas normas, dois princípios, ou de uma norma e um princípio geral de direito em sua aplicação prática a um caso particular. É a presença de duas normas conflitantes, sem que se possa saber qual delas deve ser aplicada ao caso singular” (DINIZ, 2003, p. 471). 
Existem duas espécies de antinomia, quais sejam: a) antinomia real ou de 2° grau; b) antinomia de 1° grau (ou aparente). A antinomia de 1° grau é considerada aparente, já que possui meios e critérios para solução. Se existe forma de autocomposição da norma, isso significa que a suposta incongruência não existe na verdade. A contradição entre as normas é apenas aparente. A hermenêutica clássica fornece pelo menos três critérios de solução para as antinomias: critério temporal (ou cronológico), critério da especialidade e critério hierárquico. Brocardos latinos que sintetizam os critérios: 1. Temporal (cronológica) - Lei posterior (LEX POSTERIOR DEROGAT LEX ANTERIORI) 2. Especialidade - Lei Especial (LEX SPECIALI DEROGAT LEX GENERALI) 3. Hierárquico - Lei Superior (LEX SUPERIOR DEROGAT LEX INFERIORI).
Já a antinomia real ou de 2° grau não conhece solução na aplicação de um único critério. É um conflito heterogêneo, uma vez que envolve a utilização de dois critérios distintos. Essa heterogenia impossibilita a aplicação dos clássicos brocardos latinos. É verdadeira antinomia. Como solucionar o impasse? 
O que existe são formas de integração legal, utilizando-se mecanismos alternativos para uma possível solução, como os já explicitados: analogia, equidade, e etc. Ferraz Júnior sugere em sua doutrina: O reconhecimento desta lacuna não exclui a possibilidade de uma solução efetiva, quer por meios ab-rogatórios (edita-se nova norma que opta por uma das normas antinômicas), quer por meio de interpretação equitativa, recurso ao costume, à doutrina, a princípios gerais do direito, entre outros. (FERRAZ JUNIOR, 1994, p. 42). 
Segundo Norberto Bobbio, conflitos de segundo grau são conflitos entre critérios (hierárquico, cronológico e especialidade). Ele sugere a seguinte solução: (i) Critério da especialidade x critério cronológico: prevalece especialidade. (ii) Critério hierárquico X critério cronológico: prevalece o critério hierárquico. (iii) Critério cronológico: mais fraco de todos eles. (iv) Conflito entre critério hierárquico e o critério da especialidade: deve ser analisado o caso concreto. E acrescenta: [...] no caso de um conflito no qual não se possa aplicar nenhum dos três critérios, a solução do conflito é confiada à liberdade do intérprete, poderíamos quase falar em um autêntico poder discricionário do interprete, ao qual cabe resolver o conflito segundo a oportunidade, valendo-se de todas as técnicas hermenêuticas usadas pelos juristas por uma longa e consolidada tradição e não se limitando a aplicar uma só regra. (BOBBIO, 1999, p. 100). 
É válido citar que a LINDB traz expressamente o critério cronológico, elencado em seu art. 2°, § 1°: A lei posterior revoga a lei anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior (BRASIL, 1942). 
Ha uma alerta: esses critérios são empregados para solução de regras, e não de princípios. Para Paulo Bonavides (1996, p. 253-254), se há conflito principiológico, antinomia de valores ou antinomia axiológica, uma clássica solução hermenêutica é a proporcionalidade.
3.2. Conflito de normas jurídicas no tempo e o Direito brasileiro: Direito Penal, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito do Trabalho.
ALERTA: Estudar todos os conflitos de norma no tempo, de varias disciplinas, em um só ponto, conforme sugere o item do edital, e impossível. O estudo deve ocorrer em cada uma das próprias matérias. Faz-se aqui, apenas, um singelo resumo
3.2.1. Direito Constitucional: Duas são as análises a serem feitas: confronto entre duas normas constitucionais e confronto entre normas infraconstitucionais e constituição.
Confronto entre duas normas constitucionais: O poder constituinte originário não deve obediência à ordem jurídica anterior, não lhe sendo imposto o respeito ao ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido. Em regra, qualquer norma jurídica só tem eficácia prospectiva. A norma constitucional, igualmente, ingressa no ordenamento jurídico com retroatividade mínima (STF), ou seja, atingido efeitos futuros de fatos passados (média – efeitos futuros de fatos pendentes; máxima – fatos consumados no passado). Se o fizer expressamente, a norma constitucional decorrente do poder constituinte originário pode ter retroatividade máxima ou media (mas tem que ser expressamente).
Já no tocante ao poder constituinte derivado, mesma possibilidade parece não ser possível. O STF, depois da promulgação da CF88, nunca se pronunciou se possível ou não a eficácia retroativa de emendas constitucionais, ou se elas devem reverência às clássicas formas de estabilidade jurídica (ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito adquirido). Na ordem jurídica anterior, o posicionamento do STF era favorável a possibilidade de retroação. Na vigência da presente carta, o tema não foi revisitado. A questão ficou prestes a ser discutida quando da promulgação da Emenda 41, quando se discutia sobre a taxação dos pensionistas e aposentados do regime próprio. Mas a tese consagrada foi bem outra, a de que não existia direito adquirido a “não-tributação”. O STF, então, não se manifestou sobre a questão da retroatividade das emendas.
 Embora pendente o posicionamento do STF com relação ao poder constituinte derivado, a Corte já se manifestou que as constituições estaduais (poder constituinte derivado decorrente) e também as emendas a essas constituições devem resguardar direito adquirido, preservar o ato jurídico perfeito e não ofender a coisa julgada. 
 Confronto entre normas constitucionais e lei (nova constituição e leis antigas): STF segue teoria da revogação. O surgimento de uma nova constituição revoga toda a legislação com ela incompatível. A resolução do problema se da com base no direito intertemporal (analise da vigência e eficácia geral da norma). A corte nega a tese da possibilidade da inconstitucionalidade superveniente (teoria da recepção – se resolve no plano de validade da norma).
Principio da contemporaneidade – para que uma lei seja recebida ela precisa preencher os seguintes aspectos: (i) Esta em vigor no momento do advento da nova constituição; (ii) Não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento anterior, ou seja, ter compatibilidade formal e material com a carta anterior; (iii)Ter compatibilidade material como a nova carta, pouco importando a compatibilidade formal com a nova constituição.
Repristinação constitucional – é possível, desde que expressa pelo novo texto constitucional (não confundir com a repristinação automática no controle de constitucionalidade e o deferimento de medida liminar);
Desconstitucionalização – parte do texto da constituição anterior e recebido expressamente pela nova constituição com outra hierarquia normativa
Recepção material de normas constitucionais – persistência temporária das normas constitucionais anteriores com mesma hierarquia constitucional (artigo 34 caput e parágrafo 1 da ADCT). Jorge Miranda.
3.2.2. Direito Penal: Irretroatividade da lei penal, salvo para beneficiar o réu (atinge até mesmo a coisa julgada).
S.711 do STF: a lei penal mais grave aplica ao crime continuado ou ao crime permanente se a sua vigência e anterior a cessação da continuidade ou da permanência.
S.611 do STF: transitada em julgado sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna
Leis excepcionais e temporárias: continuam sendo aplicadas para os fatos praticados durante a sua vigência – ultratividade. E como se aquelas condições de tempo e modo fossem integrantes do próprio tipo penal.
Ponto 4 - O conceito de Política. Política e Direito.
Ciência Política: Alguns Conceitos Básicos
Poder. O conceito de poder varia no tempo e em função da corrente de pensamento abraçada pelos diferentes autores:
Nicos Poulantzas, a partir de Marx e Lênin, e da teoria da luta de classes, chama de poder “a capacidade de uma classe social de realizar os seus interesses objetivos específicos”. É uma definição corrente entre os adeptos da teoria política marxista. 
Para Lasswell, poder é “o fato de participar da tomada das decisões”. Essa visão do poder tem sido corrente para todas as teorias de decision-making process e é criticada pelo fato de apresentar-se como uma concepção muito voluntarista do processo de tomada de decisões. 
Max Weber conceituou poder como sendo “a probabilidade de um certo comando com um conteúdo específico ser obedecido por um grupo determinado”. A concepção weberiana de poder parte da visão de uma sociedade-sujeito, resultado dos comportamentos normativos dos agentes sociais. Do conceito de Weber sobre o poder emergem as concepções de “probabilidade” e de “comando específico”. 
Talcot Parsons, partindo da concepção funcionalista e integracionista do sistema social, definiu o poder como “a capacidade de exercer certas funções em proveito do sistema social considerado no seu conjunto”.
Política. A palavra política é originária do grego pólis (politikós), e se refere ao que é urbano, civil, público, enfim, ao que é da cidade (da pólis). É uma forma de atividade humana relacionada ao exercício do poder. No dizer de Julien Freund, é “a atividade social que se propõe a garantir pela força, fundada geralmente no direito, a segurança externa e a concórdia interna de uma unidade política particular...”. Essa possibilidade de fazer uso da força distingue o poder político das outras formas de poder.
Ciência Política. Segundo Norberto Bobbio, entende-se por ciência política “qualquer estudo dos fenômenos e das estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais. Nesta acepção, o termo ‘ciência política’ é utilizado dentro do significado tradicional como oposto à ‘opinião’.
Gaetano Mosca a definiu como o estudo da formação e organização do poder. Ele entendia que a ciência política desenvolveu-se muito, a partir do século XIX, como resultado da evolução das ciências históricas. Em consequência, o método da ciência política era o de recolher o maior número possível de fatos históricos, a partir do estudo das várias civilizações. O cientista político, para Mosca, deveria conhecer muito bem a história de toda a humanidade. Sobre o objetivo da ciência política, Mosca afirmou que era estudar as tendências que determinam o ordenamento dos poderes políticos, examinar as leis reguladoras da organização social, descobrir e conhecer as leis reguladoras da natureza social do homem e do ordenamento político das diversas sociedades humanas. Quanto ao problema central a ser investigado pela ciência política, Mosca colocava o problema do poder.
Estado. A definição de Bluntschli, segundo a qual Estado é a nação politicamente organizada, tornou-se trivial. Para compreender essa assertiva, porém, é preciso discernir entre Estado, país, povo e nação. Por país entende-se o território que abriga uma coletividade. A população, elemento humano do Estado constitui o povo. Mas, como ensina Darcy Azambuja, em seu conhecido livro Teoria Geral do Estado, não é sempre que o povo constitui uma nação. Esta só aparece quando um grupo de indivíduos, tendo a mesma origem ou religião, ou os mesmos interesses econômicos e morais, mas principalmente um passado comum de tradições, unem-se em torno de ideais e aspirações comuns. A nação pode sobreviver mesmo sem o Estado. 
Governo. Conjunto de pessoas que governam o Estado. Historicamente, o governo existiu antes do Estado. Já na Antigüidade, assim como na Idade Média, é possível encontrar um governo das cidades-Estado e dos impérios feudais como formas pré-estatais de organização política. O Estado, propriamente dito, tem sua origem na Idade Moderna. Na interpretação que fez Darcy Azambuja do livro La Démocratie, de Rodolphe Laun, os governos podem ser classificados quanto à origem, quanto à organização e quanto ao exercício do poder. O quadro abaixo dá uma visão sintética dessa interpretação.
	Quanto à Origem
	Governos Democráticos ou Populares
	
	Governos de Dominação
	Quanto à Organização
	Governos de Fato
	
	
	Governos de Direito
	Hereditariedade
	
	
	Eleição
	Quanto ao Exercício
	Absolutos
	
	Constitucionais
Soberania. Poder de supremacia que o Estado tem sobre os indivíduos e grupos que formam sua população e de independência com relação aos demais Estados. Para alguns autores, a soberania não seria propriamente um poder, mas uma qualidade superior do poder do Estado. Normalmente, a soberania é entendida como tendo um caráter interno e outro externo. A soberania externa tem a ver com a independência e as relações de igualdade entre os Estados. A interna com o poder de normatizar as relações que se estabelecem entre os indivíduos e grupos que habitam o interior do Estado.
Das doutrinas sobre a soberania, destacam-se as teocráticas e as democráticas. As primeiras, oriundas da teoria do Direito divino sobrenatural, Deus é a origem do poder e por sua vontade é que existe uma hierarquia separando governantes e governados. 
Na Idade Moderna surgiram as doutrinas democráticas, que conferem ao povo ou à nação o poder soberano. Estas teorias tornaram-se conhecidas a partir das obras de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Para Thomas Hobbes, a humanidade, antes de criar a vida em sociedade, vivia em anarquia e violência, no chamado estado de natureza, no qual inexistia qualquer hierarquia entre os indivíduos (a guerra de todos contra todos). Essa vida “solitária, sórdida e brutal” terminou quando, por meio de um contrato, a soberania, que estava dispersa, passou a ser exercida pela autoridade criada, transição entre o estado de natureza e o estado de sociedade.
Hobbes entendia que o contrato que criou o Estado não poderá ser jamais revogado, sob pena de a humanidade retroceder ao estado de natureza. O Estado, tal como o representou Hobbes, é um monstro alado – Leviatã – que “abriga e prende para sempre o homem”. Na interpretação de Darcy Azambuja, “Hobbes partiu da doutrina da igualdade dos homens e terminou preconizando o absolutismo do poder e, nesse sentido, suas ideias se acham no extremo da concepção da soberania, que ele considera ilimitada, colocando a política por cima da moral e da religião”.
O ponto de partida deJohn Locke difere do de Hobbes. No estado de natureza não teria havido caos, mas ordem e razão. Ele concorda com Hobbes que um contrato entre os indivíduos criou a sociedade política, mas o Estado surgiu para assegurar a lei natural, bem como para manter a harmonia entre os homens. Neste sentido, diz Locke, inexiste qualquer cessão dos direitos naturais ao Estado. Por isso, este deve ser exercido pela maioria, bem como respeitar os naturais direitos à vida, à liberdade, à propriedade. 
Foi Locke quem primeiro mencionou os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário como três funções essenciais do Estado. Em termos de preferência, Locke defendia a democracia como forma de governo, aceitando como boa a monarquia na qual a o Poder Legislativo, órgão supremo do Estado, fosse independente do rei.
Jean Jacques Rousseau também partiu do princípio de que houve um estado de natureza. Este, porém, não era nem o caos de Hobbes e nem apenas ordeiro e racional, como queria Locke. Mais do que isso, no estado de natureza os homens eram livres e felizes. Foi o progresso da civilização, com a divisão do trabalho e da propriedade que criaram ricos e pobres, poderosos e fracos. Assim, a sociedade política surgiu como um mal necessário, para manter a ordem e evitar o recrudescimento das desigualdades. Ao criar o Estado, mediante um contrato social, o indivíduo cedeu parte de seus direitos naturais para que fosse criada uma entidade superior a todos, detentora de uma vontade geral. Ao participar das decisões tomadas pelo Estado, porém, o indivíduo recupera a parcela de soberania que transferiu por força do contrato social que formou a sociedade política. Para Rousseau, o titular do poder de Estado é o povo.
As teorias de Hobbes, Locke e Rousseau exerceram grande influência. Hobbes inspirou o poder absoluto dos reis. Locke teve suas ideias aplicadas nas declarações de independência e nas Constituições dos Estados Americanos, bem como na formação do pensamento democrático e individualista. Rousseau deu o fermento ideológico da fase radical da Revolução Francesa.
Finalidade do Estado. As discussões a respeito do Estado incluem o debate sobre se ele é um fim em si mesmo, se é o fim do homem e da sociedade, ou é um meio para que o homem alcance a felicidade. Darcy Azambuja concorda com Ataliba Nogueira ao dizer que o Estado “é um dos meios pelos quais o homem realiza o seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual, e isso é que justifica a existência do Estado”.
No plano jurídico, o fim do Estado é a promoção do bem público, entendendo-se por esta expressão os meios e elementos indispensáveis a que a população possa satisfazer suas legítimas necessidades.
Dentre as doutrinas que tratam da finalidade do Estado, a abstencionista, também conhecida como do laissez-faire, ligada à corrente de pensamento econômico dos fisiocratas, reserva ao Estado a função única de manter a ordem (interna e externa), deixando praticamente tudo à livre iniciativa. Nesse Estado de tipo gendarme, poucas devem ser as leis e normas regulamentadoras, e livre o direito de propriedade.
A doutrina socialista, ao contrário, quer o Estado não só como representante da coletividade, mas atuante em todos os ramos de atividade. Os mais radicais consideram que o Estado deve deter a propriedade de tudo o que interessa ao conjunto da população, distribuindo a cada um segundo critérios fixados a partir do Estado. O objetivo é o fim da propriedade privada e, no limite, do próprio Estado.
Uma terceira doutrina, que poder-se-ia denominar eclética, busca um meio termo entre o laissez-faire e o socialismo. O lema dos ecléticos, segundo G. Sortais, seria: ao invés de fazer tudo, como defendem os socialistas, ou de fazer o mínimo, como pregam os abstencionistas, melhor é ajudar a fazer. Os ecléticos querem o Estado realizando competências de caráter supletivo, só fazendo aquilo que os indivíduos não podem fazer. 
 Dessas ideias, e da crítica ao Estado forte dos socialistas e ao Estado mínimo do laissez-faire, emerge a proposta do Estado regulador e fiscalizador.
Os Poderes do Estado. A História nos ensina que, nas sociedades primitivas, o poder de Estado concentrava-se em uma pessoa ou em um grupo. As atividades eram exercidas por intermédio de um só órgão supremo, que cuidava da defesa externa, da ordem interna, do controle dos bens e serviços de caráter coletivo, inclusive das funções religiosas. A extensão territorial e a diversificação crescente das atividades, dentre outros fatores, exigiu uma desconcentração do poder, cujo exercício começou a ser dividido entre várias pessoas.
Desde a antiguidade, a função de julgar foi sendo delegada a funcionários do rei. Ao longo da Idade Média, outras funções foram se especializando, e órgãos especiais surgiram para desempenhar essas funções. 
Aristóteles, discorrendo sobre a organização do Estado, ressaltou três funções principais: a deliberante, exercida pela assembléia dos cidadãos, que ele reputava como o verdadeiro poder soberano; a da magistratura, exercida por cidadãos designados pela assembléia para realizar determinadas tarefas; e a judiciária.
O tema passou despercebido por outros escritores, até que, no século XVIII, Locke o retomou, fornecendo os elementos de que se serviria Montesquieu, mais tarde, para elaborar sua famosa teoria que dividiu os Poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário.
	Teorias da Separação das Funções (Poderes)[1: Há várias outras teorias de separação das funções do Poder do Estado. Oliver Cromwell dizia que as funções eram o Protetor, O Conselho de Estado e o Parlamento; Romagnosi defendia o Poder Determinante (Legislativo), Poder Operante (Executivo), Poder Moderador, Poder Postulante (fiscal dos interesses públicos), Poder Judicante (Judiciário); Luigi Palma defendia o Poder Eleitoral, Poder Representativo (Câmara dos Deputados), Poder Moderador (Senado), Poder Governante (Ministérios), Poder Judiciário e Poder Real; Benjamin Constant considerava o Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário, Poder Real, Moderador ou Neutro, Poder Representativo da Assembleia Hereditária.]
	Aristóteles
	Deliberativo
	Assembleia que deliberaria sobre os negócios do Estado
	
	Executivo
	Teria prerrogativas e atribuições determináveis em cada caso
	
	Judiciário
	Administrador da Justiça
	John Locke
	Legislativo
	Elaborar as leis que disciplinariam o uso da força na comunidade civil
	
	Executivo
	Aplica as leis aos membros da comunidade, tanto na esfera judicial quanto na administrativa
	
	Federativo
	Função de relacionamento com outros Estados
	Montesquieu
	Legislativo
	Legislar
	
	Executivo
	Exercer atividades executivas
	
	Judiciário
	Exercício da jurisdição
Regime de Governo. As diferentes relações que se estabelecem entre os Poderes Executivo e Legislativo resultam em distintos regimes representativos, a saber: governo parlamentar, governo presidencial, governo diretorial.
O governo parlamentar resulta não propriamente de um equilíbrio entre os Poderes Legislativo e Executivo, mas da confiança de que este goza junto ao primeiro. Também conhecido como governo de gabinete ou parlamentarismo, este regime pressupõe que o gabinete (Executivo) seja formado com pessoas escolhidas entre o partido que tem a maioria no Parlamento. O modelo surgiu na Inglaterra, depois de uma longa evolução histórica. Na doutrina, Hauriou assim definiu o parlamentarismo: “é uma forma de governo, tendo por base o regime representativo, com separação atenuada de poderes, no qual se estabelece entre o Poder Executivo e o Parlamento composto de duas câmaras uma íntima colaboração e contato permanente por intermédio de um órgão executivo, que é o conselho de Ministros, o qual partilha com o chefe de Estado a direção do governo, mas que não governa sem ter a confiança contínua do Parlamento, perante o qual é politicamente responsável”. No parlamentarismo, o Chefe do Estado é o rei ou o presidente da República, enquanto que o Chefe do Governo é o Primeiro-Ministro.O presidencialismo, ou governo presidencial, surgiu nos Estados Unidos, em 1787. A teoria estabelece que é presidencialista o regime em que se verifica a independência do Executivo em relação ao Legislativo. Frise-se que por independência não se deve entender haver oposição entre os poderes. São independentes apenas dentro das atribuições que a constituição lhes outorga, mas colaboram e se limitam reciprocamente. O traço fundamental do sistema presidencial é que o Poder Executivo é exercido de maneira autônoma pelo Presidente da República, que é um órgao do Estado, também eleito pelo povo. É o presidente chefe de Estado e chefe do Executivo, traçando a política geral e dirigindo a Administração com interia autonomia em relação ao Legislativo. É por isso plenamente responsável pelos atos de governo e de administração.
Ao contrário do sistema presidencial, no Governo de assembléia ou diretorial há absoluta submissão do Executivo ao Legislativo. O Executivo é composto por uma comissão escolhida pelo Legislativo, cujo papel é o de mero representante do Legislativo, que efetivamente dirige o Estado. Atualmente, essa forma de governo só existe na Suíca.
Kant e a questão da liberdade – Os autores contemporâneos entendem a palavra liberdade em dois sentidos distintos. Do ponto de vista da doutrina liberal clássica, ser livre é poder agir sem qualquer impedimento por parte do Estado. Do ponto de vista da doutrina democrática, é a faculdade de obedecer tão-somente as normas impostas a si mesmo, pela auto-regulação. Em consequência, no Estado liberal a interferência do Poder Público é mínima, enquanto que, no Estado democrático, não são poucos os órgãos de autogoverno. A questão da liberdade é vista, na doutrina liberal, a partir do cidadão em sua individualidade, e na democrática, a partir do cidadão como membro de uma coletividade.
Ambos os sentidos dão, entretanto, à palavra liberdade, um significado comum, possível de ser compreendido por uma só palavra: autodeterminação. De fato, se cada um determina sua própria esfera de ação, livre das limitações do Estado, ou se o indivíduo (ou o grupo ao qual ele pertence) obedece somente as normas fixadas por ele mesmo (indivíduo ou grupo), nos dois casos o que ressalta é o aspecto comum da autodeterminação da própria conduta.
Em seu processo histórico de desenvolvimento, os Estados modernos se formaram a partir da integração, cada vez maior, das duas doutrinas. A ideia é a de que tudo o que o cidadão puder decidir por si deve ser determinado por sua própria vontade. E o que depender de regulação coletiva deve contar com a participação do cidadão, a fim de assegurar que a decisão tomada represente, em alguma medida, a expressão da vontade individual.
Pensamento Político de Kant
Em sua obra, Kant revisita os conceitos de liberdade de Montesquieu e Rousseau. Ao dizer que liberdade “é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”, Montesquieu evocou o ponto de vista que mais tarde denominou-se de liberal (vide introdução, acima), enquanto que Rousseau foi um dos ideólogos da doutrina democrática. No Contrato Social, obra que o consagrou, Rousseau afirmou que liberdade é “a obediência à lei que nos prescrevemos”, querendo significar que, no âmbito do Estado, os cidadãos, coletivamente, devem formular as leis.
Kant, ao utilizar a palavra liberdade, deixa de distinguir claramente qual dos dois sentidos do termo está querendo empregar. A considerar-se o ideal rousseauniano, o pensamento político de Kant é pouco democrático. Veja-se, a propósito, a seguinte passagem, extraída dos seus Escritos Políticos e de Filosofia da História e do Direito: “[o contrato originário...] é ...uma ideia simples da razão, mas que tem sua dúvida sua realidade (prática), a qual consiste em obrigar todo legislador a fazer leis como se devessem refletir a vontade comum de todo um povo e, em considerar cada súdito, enquanto cidadão, como se tivesse dado seu consentimento a tal vontade”. Logo, no Estado prescrito por Kant, a vontade coletiva não é, necessariamente, um fato institucional, mas uma ficção ideal.
Em termos de classificação das formas de governo em “boas” ou “más”, Kant chama de despotismo a má forma e de república a boa. “República”, na linguagem kantiana, é sinônimo de governo “não despótico”, podendo ser tanto uma república quanto uma monarquia. 
Kant não poderia ser considerado um democrata. Por suas ideias, ele pode ser considerado, no máximo, um liberal moderado. 
O pensamento kantiano trouxe à tona a teoria do antagonismo. O progresso da humanidade, para Kant, consistia no desenvolvimento das faculdades naturais dos indivíduos. A natureza promove esse desenvolvimento ao gerar no ser humano sentimentos de vaidade, inveja, emulação, poder. 
Essas inclinações naturais são incompatíveis com a convivência em sociedade, daí originando-se um antagonismo que jamais termina, porque se o homem quer a concórdia, a natureza prefere a discórdia, porque sabe o que é melhor para a espécie. E o melhor é o conflito.
Em conclusão, Kant inspirou a doutrina liberal. Sua filosofia concebia a história como sendo a história do progresso do direito como garantia da máxima liberdade individual.
Relação Entre Política e Direito
A cidade faz parte do Homem porque ele é um ser de natureza social. O insocial ou está muito acima do Homem (Deus) ou muito abaixo (animais). O Homem é diferente dos animais que também vivem num determinado sítio em comunidade porque é capaz de comunicar muito mais do que apenas a dor e o prazer. Só ele tem o sentido do que é justo e do que é injusto, do que é bom e do que é mau.
A sociedade está na base da família e do indivíduo porque as pessoas só se constroem e se tornam autônomas na relação com os outros. As pessoas só surgem dentro da própria comunidade. O homem é um animal político porque é da sua natureza viver em sociedade. O que distingue a sociabilidade humana da sociabilidade animal é a linguagem, esta permite a identificação do bem e do mal, do justo e do injusto.
A sociedade e a política tem como função aplicar a ética. Portanto é óbvio que é essencial que se respeitem os valores éticos, visto que se isto não acontecer não será possível as pessoas serem felizes. Eles permitem aos indivíduos realizar-se e viver como pessoa
O Direito, por sua vez, é o conjunto de regras, normas ou leis que regulam a convivência social dentro do Estado; ele é, em suma, o ordenamento jurídico do Estado. E a sua existência justifica-se pela sua finalidade: dirimir e tentar resolver pacificamente os conflitos entre os indivíduos e os grupos sociais e promover o bem comum da sociedade. As normas jurídicas têm de possuir as seguintes características, que as diferem das normas sociais: racionalidade, reciprocidade, universalidade, publicidade, validade e coercibilidade.
A política é a ciência (porque exige o uso da inteligência e de um método, exige conhecimento) e a arte (porque requer sensibilidade e imaginação) da governação e direção dos Estados. Tem um caráter profundamente realista: o regime político (mais desejável) é aquele que, procurando servir a totalidade das áreas relacionadas com o ser humano e todo o homem, melhor se adapte, aqui e agora, às realidades de um povo ou de uma comunidade. A política deve ser parte integrante da realidade do dia-a-dia.
Por isso ela exige necessariamente uma reflexão filosófica, uma ética, visto que apenas ela pode indicar os princípios racionalmente válidos e universalizáveis susceptíveis de fundamentar a razão humana. Inclusive, os filósofos gregos não distinguiam ética de política.
É a política que cria o Direito e este deve ser justo: por isso exigimos regimes políticos legítimos, eticamente fundamentados e orientados. Apenas os regimes democráticos, e mais especificamente os regimes democráticos participativos, preenchem esta condição. A democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.
Ponto 5 - Ideologias
Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No sensocomum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em português), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
Desenvolvimento do termo: A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das ideias. Posteriormente, esta palavra ganharia um sentido pejorativo quando Napoleão chamou seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No entanto, os pensadores da antiguidade clássica e da Idade Média já entendiam ideologia como o conjunto de ideias e opiniões de uma sociedade. 
Karl Marx desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia na qual concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão entre o trabalho manual e o intelectual. Nessa divisão, surgiriam os ideólogos ou intelectuais que passariam a operar em favor da dominação ocorrida entre as classes sociais, por meio de ideias capazes de deformar a compreensão sobre o modo como se processam as relações de produção. Neste sentido, a ideologia (enquanto falsa consciência) geraria a inversão ou a camuflagem da realidade, para os ideais ou interesses da classe dominante. (Fonte: Marx, Karl e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 2002.) 
Entretanto, não é apenas em 'A Ideologia Alemã’ que Marx trata do tema ideologia e, devido às inconsistências entre seus escritos sobre o tema, não seria correto afirmar-se que Marx possui uma única e precisa definição sobre o significado do termo ideologia. O sociólogo John B. Thompson faz uma análise minuciosa sobre três desenvolvimentos encontrados ao longo da obra de Marx sobre o termo ideologia, com convergências e divergências entre si, batizados por Thompson como (1) polêmica, (2) epifenomênica e (3) latente.
Depois de Marx, vários outros pensadores abordaram a temática da ideologia. Muitos mantiveram a concepção original de Marx (Karl Korsch, Georg Lukács), outros passaram a abordar ideologia como sendo sinônimo de "visão de mundo" ou cosmovisão (concepção neutra), inclusive alguns pensadores marxistas, tal como Lênin. 
Concepção crítica: O uso crítico do termo ideologia pressupõe uma diferenciação implícita entre o que vem a ser um "conjunto qualquer de ideias sobre um determinado assunto" (concepção neutra sinônima de ideário), e o que vem a ser o "USO DE FERRAMENTAS SIMBÓLICAS VOLTADAS À CRIAÇÃO E/OU À MANUTENÇÃO DE RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO" (concepção crítica). A partir deste ponto-de-partida comum a todos os significados do termo ideologia que aderem à concepção crítica, o que se tem são variações sobre a forma e o objetivo da ideologia. Principal divergência: fenômeno ideológico necessariamente tem que ser ilusório? Principal convergência: fenômeno ideológico necessariamente deverá colaborar na criação e/ou na manutenção de relações de dominação.
Para que algo possa ser concebido como ideológico, deve necessariamente haver ilusão, mascaramento da realidade e falsa consciência? Marx responderia que sim. Thompson responderia que estas são características possíveis, mas não necessárias, para a existência de ideologia.
A única dominação à qual se refere a ideologia é aquela que ocorre entre classes sociais? Marx novamente diria que sim. Thompson complementaria com uma lista de outras formas de dominação também existentes na sociedade: entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre adultos e crianças, entre pais/mães e filhos(as), entre chefes e subordinados, entre nativos e estrangeiros. 
Ideologia, pela concepção crítica, não é algo disseminável como é uma ideia ou um conjunto de ideias; ideologia, neste sentido crítico, é algo voltado à criação/manutenção de relações de dominação por meio de quaisquer instrumentos simbólicos: seja uma frase, um texto, um artigo, uma notícia, uma reportagem, uma novela, um filme, uma peça publicitária ou um discurso. 
John B. Thompson em seu livro Ideologia e cultura moderna (Petrópolis: Vozes, 2007) procurou fazer uma análise crítica sobre as formulações para o termo ideologia propostas por diferentes autores, que ele classificou segundo duas concepções: neutras e críticas. Neste sentido, Thompson considerou as formulações propostas por Destutt de Tracy, Lênin, Georg Lukács e a "formulação geral da concepção total de Mannheim" como concepções neutras de ideologia; já as formulações de Napoleão, Marx (concepções polêmica, epifenomênica e latente) e a "concepção restrita de Mannheim" viriam a ser concepções críticas de ideologia. Ele próprio (Thompson), finalmente, ofereceu a seguinte formulação (crítica), apoiada na "concepção latente de Marx": "ideologia são as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação". (p. 75-76) Esta formulação proposta por Thompson é carregada de significados: 
a) Sentido: diz respeito a fenômenos simbólicos, que mobilizam a cognição, como uma imagem, um texto, uma música, um filme, uma narrativa; ao contrário de fenômenos materiais, que mobilizam recursos físicos, como a violência, a agressão, a guerra; 
b) Serve para: querendo significar que fenômenos ideológicos são fenômenos simbólicos significativos desde que (somente enquanto) eles sirvam para estabelecer e sustentar relações de dominação; 
c) Estabelecer: querendo significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação; 
d) Sustentar: querendo significar que o sentido pode servir para manter e reproduzir relações de dominação por meio de um contínuo processo de produção e recepção de formas simbólicas; 
e) Dominação: fenômeno que ocorre quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas, isto é, quando grupos particulares de agentes possuem poder de uma maneira permanente, e em grau significativo, permanecendo inacessível a outros agentes. 
Discurso: O discurso tem uma dimensão ideológica que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condições de produção, e que se insere na formação ideológica. E essa dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de dominação. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem, e as classes que estas relações criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma "falsa consciência" sobre a realidade que tem como objetivo suprir, morder, reforçar e perpetuar essa dominação. Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, mas constitui qualquer ideário de um grupo de indivíduos; em outras palavras, poder-se-ia dizer que Gramsci rejeita a concepção crítica e adere à concepção neutra de ideologia. Para Althusser, que recupera a ótica marxista, a ideologia é materializada nas práticas das instituições, e o discurso, como prática social, seria então “ideologia materializada”.
Ideologias Políticas Contenporâneas: O fato que marcou o início da Idade Contemporânea é também o que gerou a maior parte das ideologias: a Revolução Francesa, porque foi uma ruptura quase que completa com os valores e instituições anteriores – tanto na política, quanto na economia e na sociedade. Diz-se que ela foi uma “tripla revolução”: nos seus valores de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, ela traz imbutidas as raízes do Liberalismo, do Socialismo e do Nacionalismo. Além disso, a Revolução em si fomenta o aparecimento de ideologias contra-Revolucionárias (ou reacionárias), como foi o caso do Conservadorismo. Também o Anarquismo se inspirou na Revolução: afinal, se o povo pode derrubar o governo, qual a serventia de um governo?
Além da Revolução Francesa, a Revolução Americana (que é inclusive anterior à Francesa), a Revolução Industrial e a situação

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