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Belting Uma Visão Otorrinolaringológica

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INTRODUÇÃO
O belting é um padrão musical caracterizado pela qua-
lidade da sua projeção, clara e de alta energia. Podemos 
observar traços do belting em diferentes estilos: muitas das 
músicas étnicas ao redor do mundo, spirituals, blues, rock, 
gospel, jazz, teatro musical e mesmo no samba.
Mas é no teatro musical onde o estilo foi realmente con-
sagrado e ganhou algumas características próprias, fruto da 
demanda dos musicais, tornando-se popular em diferentes 
partes do mundo. 
No Brasil, com o aumento dos musicais, a procura por pro-
fessores de canto especializados no assunto cresceu muito, 
depertando o interesse de fonoaudiólogos e otorrinolaringo-
logistas que começaram a atender este grupo de cantores, 
com diversas queixas relacionadas à exigência que a técnica 
impõe às estruturas do aparelho fonador, agravadas pela 
demanda do número de apresentações semanais. 
É de conhecimento geral que a música não clássica sur-
giu como extensão da fala, na qual há um domínio maior do 
registro de peito. Se assumirmos que os escravos cantavam 
sons, provavelmente de sua terra natal, em campo aberto, 
e a qualidade vocal deveria ser tal que fosse ouvida a uma 
determinada distância teríamos a origem mais provável do 
belting1.
O primeiro nome descritivo foi o termo coon-shouting ou 
em português algo como grito do guaxinim. Nos anos 20 
por não existir amplificação adequada, era necessário que 
o canto fosse forte o bastante para encher o teatro, houve 
então uma popularização desta técnica de canto1. 
No dicionário Cambrige um dos significados do termo 
BELT é Hit Hard ou bater forte com violência, que é o que 
o cantor faz durante o canto com a técnica de belting, onde 
a laringe é submetida a uma grande pressão subglótica. 
Como o termo se adequava bem à forma do canto, pegou e 
acabou ficando1.
Luís Henrique Chechinato Costa1, André de Campos Duprat2
1) Mestre - doutorando pelo departamento de otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Professor auxiliar ORL FMJ
2) Doutor - Professor Instrutor do Departamento de Otorrinolaringologia da Santa Casa de São Paulo
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Endereço de correspondência: Luís Henrique Chechinato Costa, End: Rua do Retiro, 444 sl 41 tel 11-4586 0088 Jundiaí –SP - Brasil - CEP 13209-000 
e-mail: lhc.costa@uol.com.br
Artigo Original
Belting: an otolaryngologic approach
Artigo recebido em 07/10/2007
Aprovado em 11/11/2007
Belting: uma visão 
otorrinolaringológica 
ACTA ORL/Técnicas em Otorrinolaringologia - Vol. 26 (1: 13-14, 2008)
RESUMO
O belting é um padrão musical caracterizado pela qualidade 
da sua projeção, clara e de alta energia. Consagrado no teatro 
musical, tem despertado interesse de otorrinolaringologistas 
e fonoaudiólogas pelo aumento da demanda atual. É uma 
técnica descrita como uma extensão do registro de peito, a 
agudização é atingida às custas de ajustes do trato vocal e 
da laringe sem utilizar a mudança de registro. No belting há 
predomínio do funcionamento do músculo tireoaritenóideo 
aumentando o ciclo fechado da fonação, a laringe é alta, a 
faringe estreitada e a posição da língua é alta e larga. No exa-
me endoscópico é visto somente a região posterior das ari-
tenóideas e a região superior da cricóidea, as pregas vocais 
estão completamente escondidas. Todos os ressonadores 
são usados para o canto, mas para o belting há predomínio 
da cavidade nasal. Quando bem feito o resultado é um som 
claro e forte, o bastante não somente para ouvir, mas para 
sentir e nunca mais esquecer. 
Descritores: Belting, Laringe, Qualidade da Voz
ABSTRACT
Belting is a musical pattern with a typical projection quality, 
clear and with high energy. Consecrated in the musical theater, 
due to actual demand increment had awaked the interest of 
speech therapists and otolaryngologists. This technique is 
described as chest register extension, the high notes are 
produced by vocal tract and larynx adjusts without changing 
the register. There is a thyroarytenoid muscle predominance, 
increasing phonatory closed cycle, the larynx is high, the 
pharynx is narrow and the tongue position is high and wide. On 
endoscopic examination only the posterior arytenoid region 
and the cricoid superior region is seen, the vocal folds are 
completely hidden. All the resonators are used to sing, but 
for belting predominates the nasal cavity. The good belting 
results in a strong and clear sound, strong enough not only 
to hear, but to feel and never forget. 
Keywords: Belting, Larynx, Voice Quality
Tec Otorr v26 n 1_ 10 01 08_L8.i13 13Tec Otorr v26 n 1_ 10 01 08_L8.i13 13 10/1/2008 12:48:4110/1/2008 12:48:41
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Robert T. Sataloff, M.D., D.M.A., F.A.C.S.- comunicação pessoal, 2006.
2- Estill, J “ Belting and classic voice quality: some physiological differences”. In Medical 
problems of performing artists, Hanley & Belfus, Philadelphia, 1998,3(1): 36-43
3- Lawrence, V “Laryngological observations on belting” J. Res in Singing 1969;2; 26-8.
4- Sundberg J, Grammming P, Lovetri J “ Comparisons of pharynx, source, formant 
and pressure characteristics in operatic and musical theatre singing” J Voice, 
1993;6(4): 301-10.
5- Philips, P S “Singing for dummies”. Wiley Publishing, New York, 2003.
6- Titze, I. R. “Principle of voice production”. National Center for voice and speech, 
Iowa City, 2000.
ACTA ORL/Técnicas em Otorrinolaringologia - Vol. 26 (1: 13-14, 2008)
Técnicas em Otorrinolaringologia
Acta ORL
Esta técnica de canto produz um som de alta energia. 
Mesmo no canto lírico, alguns tenores utilizam esta técnica 
na emissão de notas altas2. A sonoridade por ser muito forte, 
é pouco tolerada em locais pequenos, ficando restrita sua 
utilização em grandes teatros. 
O Belting é uma técnica descrita como uma extensão do 
registro de peito, a agudização é atingida às custas de ajustes 
do trato vocal e da laringe sem utilizar a mudança de registro. 
Não é sobre fazer tons bonitos, a qualidade do som produzi-
do é forte, metálica e algumas vezes anasalada. Soa como 
grito, porém modelado pela organização de suas frequências 
e pelo seu andamento em forma de música5.
Um belting eficaz significa usar um fluxo consistente de 
ar, ressonância nasal e uma forte voz falada que sustente os 
sons cantados. Se o fluxo de ar não for rápido o suficiente, 
o som pode parecer espremido ou tenso5. 
Esta técnica requer uma laringe mais alta, a faringe é 
estreitada e a posição da língua é alta e larga. O som me-
tálico é obtido pela constrição do esfíncter ariepiglótico e o 
encurtamento do trato vocal, o que resulta em uma supraglote 
mais estreita3.
Possivelmente a diferença do belting e outros tipos de 
canto reside nas forças longitudinais sobre a laringe. Em 
teoria quanto mais longo o tubo mais escuro é o som, e 
quanto mais curto o tubo mais claro é o som4. O Som claro 
do belting seria devido a contração dos músculos infrahi-
óideos, usados para estabilizar a cartilagem tireóidea em 
posição vertical e permitir que a cartilagem cricóidea incline 
dorso-cranialmente. 
Há um predominínio do funcionamento do músculo tireoarite-
nóideo, as pregas vocais ganham massa aumentando o ciclo 
fechado da fonação em quase 70% e conseqüente aumento 
da pressão subglótica2. 
As características acústicas e fonatórias dos estilos de can-
to dependem da fonte sonora e da frequência característica dos 
formantes. São controladas pela pressão subglótica, ajustes 
laríngeos e formato da faringe4. Quando a laringe é elevada 
e a faringe estreitada, o resultado acústico é o aumento das 
frequências de todas os formantes6. Na voz de belting o pri-
meiro formante é elevado a frequência do segundo harmônico, 
somandoas ondas e aumentando a intensidade3.
Em ordem para evitar a sobrecarga das pregas vocais, a 
parte da boca do trato vocal deve ser gradualmente alargada 
conforme o pitch aumenta.
É importante enfatizar que o belting não é puramente voz 
de peito. A voz de peito é vista com a laringe baixa, faringe 
ampla, posição alongada da boca, e vibração de peito har-
moniosa4.
No exame endoscópico é visto somente a região posterior 
das aritenóideas e a região superior da cricóidea, as pregas 
vocais estão completamente escondidas. A aparência disto 
é devida a cartilagem cricóidea inclinar anteriormente3.
Para mulher o belting é mais uma voz mista, peito e mé-
dio, que só peito. A sensação não deve ser de tensão, mas 
o som pode ser intenso devido ao aumento das vibrações ao 
redor da face pela ressonância nasal. Quando está correto os 
cantores de belting dizem que a sensação é como de registro 
médio, mas soa como peito5.
Para os homens é mais simples, para criar um som de 
belting deve-se procurar um som com ressonância anterior 
e tom cheio, este tom pode ser atingido com o aumento da 
ressonância nasal. 
A ressonância nasal é um excelente caminho para agu-
dizar sem levar o registro para a cabeça, a voz é tirada da 
máscara. Esta seria outra diferenças do lírico. O problema 
é que a ressonância nasal tira a projeção, que precisa ser 
compensada com a abertura da boca5. 
Todos os ressonadores são usados para o canto, mas 
para o belting o ressonador proeminente é a cavidade nasal. 
Quando o som muda para ressonância posterior é chamado 
cobertura, isto é, usa mais ressonância posterior. 
A voz com ressonância nasal é mais leve para o agudo. O 
misto de ressonância posterior com nariz suaviza os efeitos 
caricatos da ressonância puramente nasal, dando um som 
mais agradável para a voz5.
É postulado que o belting utiliza o uso o modo de fala 
da laringe com ambos o pitch e o loudness aumentados e 
nos extremos de esforço. As doenças encontradas nestes 
profissionais são pouco diferentes das vistas em indivíduos 
não profissionais, que apresentam hiperfunção vocal no seu 
comportamento vocal3 .
O belting é controverso entre cantores e professores 
de canto, pois se tem a idéia que é uma técnica que pode 
arruinar a voz, mas na verdade qualquer tipo de técnica mal 
feita pode arruinar a voz , incluindo uma técnica ruim para 
o belting. Quando bem feito o resultado é um som claro e 
forte, o bastante não somente para ouvir, mas para sentir e 
nunca mais esquecer. 
 
Tec Otorr v26 n 1_ 10 01 08_L8.i14 14Tec Otorr v26 n 1_ 10 01 08_L8.i14 14 10/1/2008 12:48:4210/1/2008 12:48:42

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