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Hipoteses contemporaneas de pesquisa em comunicação

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lrrrcrrrir Mrrrhodo do Silvo
RÜDIGER, Francisco. comunicação e reoria crítica da soci«l,t
de. Porto Alegre: EDIPUCRS , 1999.
-. 
httrodução à teoria da comunicação. pofto Alegre: Edic«rrr,
I 998.
SFEZ, Lucien. critique de la communícatiort. paris: Seuil, 19tit{.
SIMMEL, Gcorg. Philosophie de la rnodernite. paris: payol,
I 989.
TOURAINE, Alain. Critique de la ntoderuite. paris: Fayard,,1992.
VIRILIO, Paul. La vitesse de liberation. paris: Galilée, 1995.
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L'insécuriíé du térritoire. Paris: Galilée,1993.
-. 
Esthetique de la disparition. Paris: Galilóe, 19g9.
-. 
La macltine de yision. Paris: Galilée, 1988.
-. 
L'horizon negatif. Paris: Galilée, 1984.
-. 
Vilesse et poliÍique. Paris: Galiló e, 1977 .
WJfIKIN, Yves (org.). La nouyelle conuntuticcttron. paris: Seuil,
l98t.
WOLTON, D.Internel, et apràs. Paris: Flammarion,2000.
-- 
L'eloge du grand public 
- 
trne rhéorie critique de la telévisio,.
Paris: Flammarion, I 990.
WOLF, Mauro. Teorias da comrnicação. Lisboa: Editorial pre_
scnça,1995.
Entre os anos 20 e 70, desenvolveram-se um sem-nume-
ro de teorias ligadas aos processos de comunicação, e que
ptlcletn ser agrufadas, genericalnente, em vários blocos, colllo
sugere Mauro Wotl: teoria hipodérrnica ou de manipulação'
tcíias empíricas de campo e experimentais, tambérn deno-
,rinadas dã persuasão, teoria funcionalista, teoria estmtura-
lista, teoria irítica 
- 
mais conhecida como a Escola de Frank-
Íurt, com todos os seus desdobramentos -, teorias culturoló-
gicas, cultural studies,teorias cornunicativas (a teoria mate-
Inática, a semiótica em sentido estrito, devida a Umberlo
Eco, e as lingüísticas), etc.
Havia, de modo geral, utrl enorfile fosso a separar esse
conjunto áe teorias em relação às suas fontes, os paradigmas
,ori"-uro.ricanos, essencialmente descritivistas e burocráti-
cos, e os paradigmas europeus, essencialmente sociologicos
mas excessivamente ideologicos, segundo seus críticos nor-
te-atttericattos.
Em ambos os casos, havia em comum o aspecto negativo
que caracte rizatodae qualquer teoria: por ser um sistema fe-
* Doutor crn lctras pcla PUCRS, profcssor c coordcnador do Programa dc Pós-Graduaçào
cm Comunicaçào Social da FAMECOS/PUCRS'
I. Mauro \',lolf . Teoritts dtt cotttuttictrçãrt' Lisboa, llditorial Prcscnça' 1992' p lTs'
HIPOTESES
PESQUISA
CONTEMPO
EM COMUN
DE
Antonio Hohlfeldt
RAN EAS
tcAçÃo
18ó r87
Antonio Hohlfeldt
chado, ela e excludente. Assim, assumiruma clctcr-rrrrrirrlir ll=
nha de pesquisa signiÍicava, por conseqüência, clirrri.;rr t,rln
e qualquer outra alternativa.
Foi então que, a paftir do final dos anos 60, cont.t.lrllrln
do-se nos anos 70, surgiram o que hoje se costuura tlr.rr'nll
nar de contnttm.ication researclr, nos Estados Uniclos, rr lr irvr:s
de diferentes pesquisadores que, não apenas se proprrrrrrrrrrI
atuar ern equipe, quanto buscavam o cruzamento rlirs rlrlt,
rentes teorias e, rnuito especialmente, de tnúltiplas rlrst.rplr
nas, a fiur de cornpreender o mais amplarnente possív,:l ,t
abrangôncia do processo cornunicacional.
1. A hipótese de agenda ou ugendu settíng
Foi o que aconteceu coltl o nofte-arnericano Mlxrvt.ll
McCo,-rbs ou a alernã Elisabetli Noclle-Neutnann, rcsp.rrsri
veis, respectivamcnte, por áreas de pesquisa hoje rnu,rli;rl
rnente conhecidas colno agenda setting e espiral do sil0ttt.ir,,
isso, paranão esquecennos olltros carniúos altemativos c.rrr.
o clramado newsntctking que, na vcrdade, sc não tem unr lrr
tor cspecífico respoltsável por seu clesenvolvimento, ,c,r
por isso possui menor iurporlância no conjunto cle estutkrs
etn torno da comunicação, tais colno hoje em dia se clescn
volvem ern todo o rnunclo.
Vamo-nos ater a linhas de pesquisa denotninacl as agentltt
setting, nev,sntalring c espü.ctl do silêncio que, no Brasil, são
as que têm encontrado maior repercussão, já alcançando al-
guns r:cgistros, quer em traduções, quer em obras que, basca-
das nesta pesquisa, buscam desenvolver rcflexõeJa respeilo
dos processos comunicacionais em nosso país.
A hipotese de agenda settirtg está bastante docurnentada
em língua poftugucsa. Encontrarno-la, alórn do livro já men_
cionado de Mauro Wolf, cuja prirneira edição é de 19g7,
tambérn na edição brasileira de Teorias da comunicação dc
nlossa) de Melvin L. De Fleur e Sandr-a Ball-Rokeach, refun-
dição de uma obra original escrita pelo prin-reiro autor ape-
IBB
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
,,,r r ilr iiltos anteriores2. Em pouco mais de utna página, De
I l, rrr rrrt'rrciona a hipótese do agendamenlo que a rnídia reali-
,r ;rrrrlo lro rcceptor, fonnuiada a partir do final dos anos 60,
l,' l,i, l,rolL'ssores Maxwell E. McCornbs e Donald L. Shaw.
( '( )rlrcccnlos por esclarecer por que falamo s em hipótese
r il.r,, ('nl lt:oria, sitnplesmente. ora, antes de rnais nada, por-
, l r r, il il rit tcoria, colno enfatizei anteriormente, é um paradig-
rn.r 1,,'lur(lo, utn tnodo acabado e, neste sentido, infenso a
, r,rrr1rf 1';;lg11tações ou conjugações, pela qual trttduzimos uma
rl ti rrrruurdâ realidadc segundo um ccrlo modelo.Uma hipó-
r, ,,, ir() contrário, é um sistenta abefio, sernpre inacabado, ad-
! r r 
"r 
) ir() conccito de erro caractcrístico de uma teoria. Assim,
,r unrir lripótese não se pode jamais agregar um adjetivo que
, .u,rt'tcl'izc uma falha: urna hipótese é setnpre uma experiên-
, r,r lrnr camiúo a ser comprovado e que, se eveutualmente
Í t, r t ) t I t' t' certo naquela situação específica, não invalida neces-
,,rr r;rrrrcnte aperspcctiva teorica. Pclo contrário, levanta, auto-
rrr,rlrt'rrnrctlte, o pressuposto alternativo de qur: uma outra va-
r r,rrlr', não presumida, cruzou pela hipótesc cmpírica, fazendo
r r r n (l uc, na experiência concrctizada, ela não se confinnasse.
\lr;is. pode-se tomar, na própria aplicação da hipótese do
,r,,t'n(lütnenlo, un1 estudo, hoje referencial, de Gladys Engel
I ,rrrri c Kurt Lang, quc buscararn aplicar o princípio do agen-
,l,rrtrlttlo à situação historica do cpisódio de Watergatc, nos
I :,trrrlus Unidos. A qucstão que os pesquisadores se coloca-
\;un cra esta: se a hipótese cle agendarnento é viável, col11o
i \l)licar que, apesar de todo o conjunto de denúncias desen-
r , rlvirlas por The Woshington Post, ao longo de 1972, o então
l'r t'sidcnte Richard Nixon chcgasse a se reeleger cotll percen-
trr:ris altarnente significativos para soÍi'er um processo de im-
l,t'(t('ltment pouco tetnpo depois, o que o levaria à retúncia, a
I rrrr rlc não ier demrbàdo c1o pocler pelo Congresso?3
' l\f elllrr L. Dc Flcur, Teorius de tonrwricuçtio dc rntssn, Rio dc Janciro, Zahu, l9T l.
t t ilrrLlvs Engcl Lang c Kurt Lang, "Watcrgatc 
- 
an cxploration of thc agcnda-building
t,r,tr'ess", irr: G.C. Wilhoit c H. dc []ock (ccls.),,41as.s Cornntunicoliott llevietv Yeurbook 2,
It, rerly llills, Sagc, 1981, p.447-468.
t89
Âritonio Hohlfeldt
Os pressupostos da hipotese cle agenclanrcnto sãovários.
mas destaquemos alguns principais:
a) o.fluxo contínuo de inforntaÇtio _ verifica_se quc oprocesso de informação e de comunicação não é, corno parc_
celn pressupor as antigas teorias, um processo fechadô. Nrr
verdade, as teorias clássicas como que fazem urn recortc,
fragrnentando a realidade, talvez com intuitos didáticos, quan
to aos processos cornunicacionais. Da rnanhã à noite, côntu-do, sofremos verdadeira avalanche inforrnacional q.r., n,
maioria das vezes, inclusive, nos leva ao conhecido p-.árrn
de 
.entropia,,ou seja, uln excesso de infonnaç0., qua, nãotrabalhadas dcvidamente pelo receptor, ," 1r.rá.. o, gLrun_,
situações inusitadas como aquelas-já flagradur ro .ni.ofr_
díssimo santba do criouro croido dL stanistaw ponte"preia.
O que, na verdade, ocorre, é que este fluxo contínuo infor_
rnacional gera o que McCornbs denorninarácle e./bito de en_
cic.lopédia que pode ser inclusive concretarnente provocado
pela mídia, sertpre que isso interesse, através dà procedi_
mentos téc,icos colno o crramado box que revistas à lornaisrnuitas vczes cstarnparn junto a urna grirrdc ,.pofl.gá,;, ;i_
sando atualizar o lcitor ern to,ro dc dete,ninado lato.-Na
rnaioria dos casos, contudo, consciente ou inconscientemen_
te, guardamos de ,raneira imperceptível em nossa mernória
uma série de inforrnações de que, repentinarucute, la,çarnos
rnão. E assim que se pode exptifar, pà. .*.rrplo, a reação
p_rovocada pela série de episodios em io,ro cro áx-pre sidenteCollor de Melo, sem o quê, talvez, repetiríarno, 
" 
.*p..iÀr_
cia de Watergate, sem termos jarnais chegado à cassação clo
antigo mandatário nacional;
b) os nteios de conttuticaçtio, por cotlseqüência, influ_
enciant sobre o recepÍor não a curto prazo, como boa parte
das antigas teorias pressupunltnnr, iro, sint ct ntedio e lon_
go prozos. Ou seja, é mediante a observação de períodos de
tempo mais lo,gos do que os habituarmente até então co,fi-
gurados que podemos aquilatar, corn maior precisão, os efei_
tos provocados pelos meios de comunicação. Mais que
190
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
l rr rlr'\rc-Se levar em conta não apenas o lapso de tempo
,il,r,rrrl rrlt) por uma determinada cobeftura jornalística quan-
r, rrrrrlr) cspecialmente, o tempo decorrido entre esta pu-
l,lr, r,l.rrlc e a concrettzaçã'o de seus efeitos em termos de
rrrn.r ;rq'irr) conseqüente por parte do receptor. Tome-se, por
, r, nrl)l(), o exemplo ainda recente da criação do Plano Real
, ,r postcrior lançamento do cx-Ministro do Planejamento,
| , rn;rn(lo Henrique Cardoso, colllo candidato à Presidência
,l r l( r'pÍrblica, com o re sultado eleitoral que todos conhece-
rr.r; cnquauto que etn maio daquele ano eleitoral Luís Iná-
, r,, l.ula cla Silva era considerado virtual candidato prefe-
rr rrt'rirl, com tnais da metade das intenções de voto, em pou-
r o rrrtriS de cinco meses revertia-se a situação, com a vitoria
,l, licrnanclo Henrique, em outubro, ainda em prirneiro tur-
n{ !, () que significava, etn termos do sistema eleitoral brasi-
l, ro, ter alcançado mais que a tnetade dos votos válidos
1,,rrr aquela eleição. Ora, é evidente que houve un efeito de
, rr,'it:lopédia propositadamente buscado por parte dos res-
l)()nsáveis pela campanha de Fernando Henrique, vinculan-
,lo o candidato à nova moeda e a seu sucesso enquanto de-
l('uninadora do controle inflacionário brasileiro, num pro-
('('sso que, ern rnédio pÍazo (cinco meses), minou significa-
trrramente o discurso de oposição (independentemente de
(luc se analise os equívocos de avaliação que apostaratn no
tlcsastre do Plano ou na sua falência pos-eleitoral);
c) os nteios de comunicação, entbora não seiam capazes
,lc inrpor o quê pensar em relaçtio a um cleterminado tenta,
t'omo rle.sejava a teoria hipodérntica., stio copazes de, u mé-
tlio e longo prazos, irdluenciar sobre o qluê pensar efalar, o
tlrre nrotiva o batisrtto desta hipotese de trabolho- Ou seja,
rlcpendendo dos assuntos que venham a ser abordados - agen-
tlados 
- 
pela tnídia, o público tennina, a rnédio e longo pra-
zos, por incluí-1os igualmente em suas preocupações. Assim,
'a ctgenda cla rnídia defoto passa a se constituir tantbém na
rtgenda individual e mesnTo na agenda social.
r9t
Antonio Hohlfeldt
As bases teóricas desta hipotese de pesquisa são bastarrtr.
antigas. Podemos baseá-1as na obra de Gabriel Tarde sobrt' ;r
opinião públicaa, se quisennos cxpandir urn pouco nuris rr
pesquisa fora das fronteiras norte-americanas, onde clu st.
estruturou, ou no livro de Walter Lippmann sobre o t.ncsnlo
ternas. Para Lippmann, nossa relação coln a realidade não st.
dá de rnaneira direta. Ou rnelhor, ctlbora ela ocora de rnorLr
dircto, a percepção que dcla ternos não e direta, mas siut nr(.
diada por inutgens que./'orntcunos ent nos,ea mente. Desta lirr
ma, percebelros a realidade não cnquanto tal, rnas sinr crr
quanto a imaginamos.
Ora, desde o século passado, graças, dentre outros, a licr
dinand Tônnies6, conhecemos a cliferença entre as charlatlrrr
Gentein.schoften c as Gesellsc:haften, ou seja, sociedadcs co
munitárias e sociedadcs anônirnas. As prirneiras estão lig,;r
das às civilizaçõcs prirnitivas, cnt quc as relações se dcscrr
volvern de urancira dileta, eln que todos se conhecem entrc :rr
e ern que todo o flr"rxo inÍbrmacional é absolutamente pcrso
naltzado. Nas sociedadcs anônimas, contudo, fruto da urbrr
nização, os processos dc rnassificação sc tornam neccss:i
rios, uma vez qlle a rraioria dos integrantes dc tais socictlrr
des não podcm ter acesso direto aos acontecirnentos. Assirrr
é que surgern os chatnados nteios de comunicação de nlt.\.\(t
ou, colllo os americanos denominaln, os ntass media, consti
tuídos pelos jornais, revistas, eurissoras de rádios, cadeias rlt'
televisão e, a cada dia mais, outras redcs, dentre as qruris.
conternporanearnente, a lnternct.
Assirn, llur.na sociedade urbana cornplcxa, temos nccui
sidadc da rnediação dos n-rcios dc cornunicação: não potlt'
mos ser testcurunhas oculares das decisões c1o Palácio rkr
Planalto ou clo Congresso Nacional, ainda que, eventualnrcrr
4.Gabricl Tarclc. I rspinitioc írs/,rírss.r.r,Sàol)tulo.Martinsliontcs. 1992.
5. Waltcr Lipprnann, l'ublit: oltirtiort, Nova Iorcprc, N'ÍacMillan. 1922.
6. Ircrrlinand Tiirrnics, Contrrnitl,, unrl sotieÍ.r,,liast Lansilrg. Michigan Statc Univor,rtr
Prcss, 1957 (cdiçào alcnrir original dc l8E7).
192
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
lr nillltâ pequena comunidade, possalnos assistir a ulna reu-
r r;r( ) (lLre cuhnine em detenninada decisão por parte do prefe-
rt, r, t'lrcfe do Exe cutivo municipal daquela corruna (contudo,
, .nr () advento do telefone, inclusive dos celulares, as práti-
r ,r'; rlc lobbyng ganharaln outra dimensão inirnaginável até
1roll('oS anOS...).
l'urtanto, dependendo da mídia, sofremos sua influên-
( r;r. não a curto, lnas a médio e longo prazos, não nos im-
l',n(lo cletenninados conceitos, r'nas incluindo em nossas preo-
, rr;,;rç:õe s certos ternas que, de outro modo, não chegariam a
n,,',',o conhccilxcnto c, rluito rncnos, tornal-sc-iar-n tcrnas
rlr' ntrSSâ agenda.
l'rrra configurar essa hipotese, o professor Maxu,ell
l\1, ('ornbs, eln 1968, fcz urn acotnpanhatxcnto inicial da
, ,,,nprrnha clcitoral nacional dos Estados Unidos. Um estudo
, .,;rlor.rrtório foi desdobrado a partir da Universidade da Cali-
l,,ru:r, na localidadc dc Chapcll IIill, na Carolina do Nortc.
r , ,rrcr ctizâdo 11u111 curto prazo dc 24 dias (cntrc 12 dc setcrn-
l,r, r L' (r dc or"rtubro) que antecederaln as eleições nacionais, o
;r, ,r;rrisudor c sua cqr-ripc trabalhararn com cerca de 100
( , r n r) rlucstionários, selecionados na relação de eleitores, de
,rr,rrr,'inr a cobrir urn universo variado de posição econômi-
, ,, ! uurnceira, social e racial, dentre aqueles que se encontra-
, ,,'r ;rirrda indecisos quanto ao voto a scr dado, cntrc Ilubert
llrrrrrplrrcy e Richard Nixon. Para cotejar a agenda do púb1i-
r , , .ul a tla mídia, fcz-sc urla sclcção dc cinco jonrais, dois
rr.uri rracionais de televisão e duas revistas semanais (dos
t ,rr,u:r. cluatro eratn regionais'. Durhatn Morrtirtg ÍIerald,
! trtr lt,un ,Íun, Raleiglt l{ews cmcl Observer e Raleigh Tintes, e
,rr,, rr,rt'ional, o Ncrl York Time,s), as duas revistas nacionais
I,tt.1111 '!'i,,,o e Netysweelr, e os canais dc tclevisão forarn a
rlli( 'r'l (lBS, coln seus noticiários notunros nacionais.
( ):; lcuras forar-n codifrcados cm quinze diferentes cate-
', 
'il,r', :lgrupados, por seu lado, etn três grandes blocos, de-
,r'r nrnir(l()s Tenrcts, Ccunpan.ha c Canclidolos:
193
Antonio llohlfeldl
TEMAS CAMPANHA CANDIDA'I'0S
Política
lnternacional EIeiçõesHumphrey
Legislação Evcntos dc
campanha Muskie
Política fiscal Análise da campanha Nixon
Bem-estar pÍrbli-
CO Agnew
Direitos civis Wallacc
Outros Lemay
Igualmente tomou-se urn critério objetivo para a classiÍl_
cação das rnatérias divulgaclas, de rnareira a seter um padrã.
corlparativo entre os três tipos dc rnídia, classificandô-sc as
rnatérias cm ntaiores e menore\ entendenclo-sc como ntaio-
res aquelas que:
a) nos jomais, aparccesserll corno chamada de capa(incluindo o leacl, ou seja, todo o prirneiro parâgra_
fo da rnatéria, corn as questões iniciais clo rnodelo
tradic i onal d o j orn al i smo norle-arneri cano tr aduzi_
das nos conhecidos.five W), rraterias corn três colu_
nas nas páginas internas ou matérias em que pelo
lrenos um mínimo de cinco parágrafos estivessem
destinados ao tema elcitoral;
b) nas revistas, cobrissern pelo rnenos uma coluna de
informação ou qllc aparecesseln coln destaque no
lead ou abertura de algurna seção cla rcvista;
c) nas televisões, alcançassem o ternpo de pclo tnenos
45 scgundos ou estivessern entre as três lnaterias de
chamada da edição do noticiário daquela noite.
(E evidente que estes critérios foram tornaclos a partir
dos paradigrlas do jornalismo norte-arnericauo, ,rrr, ôorrro
o jornalisrno brasileiro, desde a década de 50, inspira-se
neste mesrno rrlodelo, pode-se estendê-lo iguahnente como
194
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoç00
l,.rrrrligma para um eventual estudo brasileiro, sem maio-
r, r, pr-oblemas.)
Vcrificou-se, então, que a mídia, de fato, havia provo-
{.r(lo Llrt forte impacto e influenciado significativamente o
, lt'rtor'. A novidade, contudo, é que, mais do que influenciar
,, ,'lcitor (ern princípio, o receptor que estava sendo pesqui-
'.;rrlu), verificou-se que a rnídia terminara por influenciar
t;rrrrbónt aos próprios candidatos, fazendo com que muitos
,lL'lcs incluísserl em suas agendas temas que, inicialmente,
illlo constavam das mesmas, mas que, ou por terem sido
,rlrrlrdados por seus concorrentes, ou porqlle foram agenda-
r los pela rnídia, tertninaram por ser considerados pelas agen-
,lrs dos candidatosT.
Persistiam, contudo, muitas dúvidas para os pesquisado-
r e:5, ds forma que eln 1972, qtando da nova catnpanha cleito-
nl, Maxwell McCornbs aliou-se a Donald L. Shaw, para
rrprofundar o estudo. Já então, os dois pesquisadores haviatn
lrublicado urn estudo prelitlinars. O novo trabalho pretendia
t'cfinar as hipoteses levantadas e, para tanto, escolheu cinco
lrontos de concentração: a) definição do conceito; b) fontes
rlr: informação para a agenda pessoal; c) desenvolvimento
tcmporal como variável tnaior; d) características pessoais do
clcitor; e) política e agendamento.
Desta vez, escolheu-se a localidade de Charlotte Ville,
na Carolina do Nofte, cidade situada a meio caminho entre
Washington DC (a capital federal) e Atlanta, na Gcorgia,
com 354 rnil habitantes. Sc Chapcll Hill cra uma cidade pe-
cluenina, conscrvadora e isolada em si tnestna, Charlotte era
cxatamcntc o contrário: ninguén-r era dali originário, pois se
7. Pcsquisa intcrcssantc podc scr Í'cita a rcspcito cla carnpanha clcitoral ntutricipal dc Porto
Âlcgrc crr I99(r: alguns jomais cla capital atttccctlcratr, ct.tt tonlo dc nlaio. a campanha clci-
toral, indagando dos clcitorcs sobrc sctts principais tcmas clc prcocupaçào. Na ocasiào,
lut ultou a qucstão da slúdc. Vcrilícou-sc, postcriorrrcntc, quc a maioria dos cauditlatos tcr-
rlinou por agcndar cssc tcnril clu scus cliscursos dc campatlha.
{.|. Maxu,cll E. Mccombs c Donald L. Shaw, "Thc agcndl-sctting liurction of nrass tncclia",
in. Public Opinion Quartct'11,, vol. 36, u. 2, vcrio dc 1972, p. 176-187.
195
TAntonio Hohlfeldt
tratava dc uma cidade ern plena expansão, com verdaclcir.rr
explosão dernográfica. Os moradores isolavam-se na ntaio
ria dos casos eln apaftamentos, eranl oriundos dos mais var-irr
dos pontos do país e isso se tontou inclusive um problcnur
para o desenvolvimento da pesquisa, porque, a partir dos I 50
mil eleitores, escolheu-se uln conjunto de 380 deles para lr
pesquisa. No entanto, também o prazo dc acornpanhamcnttr
do trabalho foi ampliado, iniciando-se ern jur-rlto c terminarr
do apenas en-r outubro, cobrinclo, pois, quase cinco rreses, o
que resultou na perda de rnuitos clos prirneiros pesquisaclos,
chcgando-se ao núrnero rnáximo de apenas 230, porque boa
partc destes 39oÁ iniciais sirnplesmente foram-se mudanclo
c1a cidadc no decorrer dos mcses. Para equilibrar a questão
dos eleitores ncgros, que haviarn ficado em desvantagcrrr
ncste conjunto inicial de pesquisa, os cientistas agregaranr
4l novos pcsquisados, dos quais 24 for.anr postcriomrentc
considerados, fechanclo-se o rcsultado final com urn total dc
227 questionários convalidados, a pafiir do mcsmo critério:
apenas aqueles que de fato ainda sc mantinham indecisos
quanto ao cancliclato a scr escolhido, nulna campanha fortc
em que Richard Nixon, concorrendo à reeleição, tinha em
Georgc McGovern seu principal adversário.
Quanto à primeira questão, crn tonro da própria concei-
tuação da hipotese, verificou-se quc, na rnedida em que a
carnpanha avançava, a atenção dos eleitores amplia-sc; mais
que isso, os eleitores, através da rnídia, passanl a constituir
tttn conjunro de informações mais ou tnellos cornuns entre
esta audiência; esse conjunto de infonnaçõcs produz a base
para t.formação de unru aíitucle oLt uma ntuda.nça de atiÍucle
diante dos candidatos; por fim, esta atitude sociabiliza-se
entre os difercntes mernbros de uma tneslra cornunidade. É
evidente quc isso tem um forte reflexo para o resultado elei-
toral final.
Quanto à questão envolvendo a forrnação das agenclas
pessoais e as diferentes influências que elas sofrern (alérn da
influôncia da rnídia), verificou-se claramcnte a in-rpor1ârrcia
19ó
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
rlo clramado duplo.fluxo inforntacional,já conhecido desde
,r:r untigas teorias empíricas experimentais dos anos 30, se-
lrrrrdo as quais a rnaior parte das inforrnações não transita di-
rr'lunente de uma mídia para o receptor, mas é tatnbém me-
r lrrrda atravós dos chamados líderes de opinitío, com os quais
t's(ubelecemos relações ernocionais as mais variadas.
Il também evidente que há maneiras diversas de encarar
unra lnesma agenda, ou u[ra questão genérica pode reccber
t'onotações muito particularcs. Foi o que se descobriu, por
('\crnplo, quando, esmiuçando o tema Política inÍernacional,
(luc não tivera grande destaque tra pcsquisa antcrior, desdo-
lrrando-se o item ern várias questõcs mais particulares, de
rrrrcdiato a questão Guerra do Vietnã, quc cra então um tetla
rrromentoso (c do qual Nixon tratava de se livrar, urgente-
nlLrnte, qucr para evitar o de sastre de urla derrota, quer para
t'lrtralar votos, garantir-rdo urna paz honrosa, iniciada corn
;rtluela farnosa c inesperacla primeira visita de um Prcsidente
rrorte-americano à Cliina de Mao Tsé-Tung, amplamente co-
lrcrta pcla rnídia norte-anrcricana. pouco antes de iniciada a
t'urnpanha cleitoral) alcançou índices extrernarnentc signifi-
r:utivos, pelo simples fato dc que, como se vcrificava então, o
clcitor norte-arnericano não entendera a Guerra clo Víetnã
corro um terna da Política Intern.acional, até porque, para
cle, levando-se em conta que a rnaioria das famílias nor-
tc-arnericanas tinha alguém clr sua relação dircta ou de atni-
!los, corno soldado na guen"ú, quando não ferido ou mofto, o
lrroblerna era cliverso , talvez de Pctlítica interna, não rncnci-
orrada na primeira pesquisa. Assit-n, os estudiosos deram-se
conta de que a prccisão de um questionário pode evidenciar
particularidades da agenda do receptor que questões rlais
serais não deixan, perceber.
No que toca à qucstão da seqüência ternporal, levando-se
crrr conta que o agendantentose dá necessariarnente no tclr-
po, verificou-sc que se estabelece urla verdadeira corrclação
cntre a agenda da mídia e a do receptor, mas também a agen-
rla do receptor pode e acaba inÍluenciando a agenda da rní-
197
AniontoHohtreldt -!f
dia. Mais do que isso, descobriu-se que também havia unr irr
teragendamento entre os diferentes tipos de rnídia, cheg:rrr
do-se rnesmo a perceber que a lnídia irnpressa possui ccrtrr
hierarquia sobre a mídia eletrônica, tanto no que toca ao
agendamento do receptor em geral (pela sua rnaior penltll-
nência e poder de introjeção através da leitura) quanto sobrc
as demais mídias (que, por sua vez, evidenciam maior dina-
rnicidade e flexibilidadc para expandir a infonnação e conr-
plernentá-la). Estabelece-se, desta maneira, urna espécie dc
suíte sui generis, em que um tipo de mídia vai agendando o
outro (lembrelnos o episodio Collor de Melo, em que as rc-
vistas IstoE e Veja tenninaram por ogendar literalmente as
televisões e osjornais, ainda que tivessem apenas edições sc-
manais, graças às entrevistas que alcançararn, com o moto-
rista ou a secretária, capazes de trazer novos enfoques ao
terna. Por outro lado, não se pode esquecer, ainda no mesmo
episódio, que foi unânirne a avaliação de tantos quantos
acompanharam o caso que, não fosse a rnídia nacional e o
Congresso Nacional, jarnais teria chegado à decisão que to-
mou, tendo encerrado o caso bem antes de ter qualquer con-
clusão sobre o assunto. Pode-se ainda relernbrar episódio an-
terior que foi o agendarnento, pela opinião pública, da TV
Globo, quando da chamada Diretas Já, ern que aquela rede
tentou esquivar-se o quanto pôde à cobertura do evento, mas
acabou rendendo-se à pressão do receptor e do restante da
mídia, com destaque ao jornal Folha de S. Paulo e ao noti-
ciário notumo da TV Manchete).
Quanto às características pessoais do receptor e à for-
rnação de urna agenda, tudo depende dos graus de percep-
ção da relevância ou importância do tema, alérn dos dife-
rentes níveis de necessidade de orientação que, ern torno
daquele tema, observará o receptor. Assim, pode-se dizer
que a percepção de relevância poderá ser alta, rrédia ou bai-
xa. Sendo baixa, evidentemente o receptor não demonstrará
nenhum grau de interesse ern adquirir qualquer tipo de in-
fonnação em torno daquele tema. No entanto, se houver urn
t98
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçõo
rnvcl médio de relevância ao assunto, haverá, em conse-
,lrr..rrrcia, um interesse mínimo na aquisição de inforrnação
,,rlrrc tal acontecimento, ainda que seu reflexo ern termos
(l'' ilgendamento seja, ainda, mínimo. O agendamento so-
rrrcnte ocorrerá de maneira eficiente quando houver um alto
rrii,cl de percepção de relevância para o tema e, ao mesmo
t('nlpo, um grau de incerteza relativamente alto em relação
;ro clomínio do mestno, levando o receptor a buscar infor-
urirr-se corn maior intensidade a respeito daquele assunto.
l'.ncontramo-nos, pois, ao nível de uma cognição racionali-
zrrcla, considerada a mais alta hierarquia no clássico quadro
t'onstituído por Wilbur Schramm num estudo já gonliecido
(os demais são o nível instintivo e o etnocional)".
Enfirn, quanto à questão da política em si, no que toca ao
;rqendamento, verificou-se que o político é extremamente sen-
sível a tal processo e, assitlt, em sociedades em que, colro a
rrofte-arnericana, a atividade política é extremamente valori-
zadal0, a rnídia alcança uma impoftância superior na consti-
tuição das relações políticas. O estudo de McCombs e Shaw,
por exemplo, evidenciou que os eleitores aumentavatn a bus-
ca de inforrnações à medida que a campanha eleitoral se de-
senvolvia e aproximava-se a data da eleição, o que podemos
confirmar com absoluta facilidade acompanhando, por
cxernplo, no Brasil, a audiência aos chamados progrcunas
obrigatorios de nossas campanhas eleitorais; essa procura
por informações contribui eflcientemente para a definição
clo eleitor ern relação aos temas que o levam a decidir-se pelo
candidato a quem confiará seu voto e, conseqüentemente, in-
Íluencia o próprio resultado eleitoral; cada rnídia desenvolve
urn tipo diferenciado de influência, graças às especificidades
que apresenta, mas o qlle fica bastante claro é que, graças a
este envolvimento da rnídia, e seu posterior agendamento,
arnplia-se tarnbérn a comunicação fora do circuito estrito da
9. Wilbur Schratntn (cd,.), The proce,ss nntl Íhe e|làcts ofmoss conntLrtticatiott'Urbana'
Univcrsity of lllinois, 1954.
10. Robcrt E. Lanc c David Scars, A r;piniiio ptiblitzr, Rio dc Janciro, Zahar, 1966.
199
Àrtrrrrro Ilolrlfeldt
mídia, isto é, as pessoas aurnentaln, no conjunto de suas rr.lrr
ções sociais, as rnais variadas, do círculo familiar aos arrr ilq,e
do clube ou aos companheiros de trabalho ou escola, a rr'r'rl
de opiniões e infonnações, dinamizanclo o processo irrlirr
macional-comunicacional.
Conclui-se, assin-r, quc a influência do agendamento por
parte da rnídia depende, ef'etivarnentc, clo grau cle exposii.ri,
a que o reccptor esteja cxposto, mas, rnais que isso, do lipo
de rnídia, do grau de relevâ,cia e interessc que este reccpl,r
venha a emprestar ao terra, a saliê,cia que ele lhe reconhcccr',
sua necessidade de orientação ou sua falta de infonnação,
ou, ainda, seu grall de incefteza, além dos diferentes nívcis
dc cornunicação interpessoal que dcsenvolver.
Por ser urna hipótese de trabalho, como salientei, e não
uma tcoria f'echada, diferentes experiências, extrernarnentc
ricas, têrn-sc desenvolvido ncste calnpo scmpre abefto a es_
peculaçõcs. A partir do livro que McCombs e Shaw publica_
rAnr", rnultiplicaraln-se os estuclos, quer por outros pesqui_
sadores, quer pelos próprios pionciros, col11o o eviclencia um
tcxto mais recente de Maxwell McCornbs etn que ele apro_
funda questões cotno a exploração c1a infonnação, scus iela-
tos, as irnagens provocadas pela mídia e, enfim, a criação da opi-
,ião pública''. Por outro l.do, novas hipoteses de irabalhose
desenvolveram complementannente a esta. por exemplo, a
antes rnencionada Elisabeth Noclle-Nerunann, ao constituir
sua hipótese da espiral de silêncio, refere explicitarnente a
lripótese de ngendartento,a introdução cle seu cstudo, aliás,
cujas pesqr-risas ir-riciararn conternporallealnente ao trabalho
de McCombsl3. No Brasil, Clovis cle Barros Filho tcrr-r siclo o
Hipóteses contempotôneos de pesquiso em comunicoçoo
t,ur, rl):rl divulgador desses esfttdos, iniciahnente em alguns
t,,tl,i t'\'isoladoi e agora em obra volutnosala, aluno que foi
,1,, pr.plio autor desta pesquisa.
llÍ alguns conceitos básicos etn tomo deste estudo quc,
p,u.r ('ncerrar, quero repassar para o leitor:
Ácuntulação 
- 
capacidade que a rnídia tetn de dar re-
lcvância a um deterrninado tetna, destacando-o do
imenso conjunto de acontecintcntos diários que sc-
rão transformados postcrionnente etn notícia c, por
conseqüôncia, cm informação;
Consoníincia 
- 
apesar de suas diferenças e cspecifici-
dades, os n-rídias possuem traços em colnum e se-
mclhanças na tlaneira pcla qual atuam na transfor-
mação do relato dc utn acontecitnento quc se torna
notícia. Conseqüentctlentc, algur-rs plincípios gerais
podem ser aplicados, independentelrente de suas
id ioss incras ias;
Onipre.sença 
- 
u111 acontecimento que, transforrnaclo
em notícia, ultrapassa os cspaços tradicionahrentc a
cle detcnninados sc toma onipresetltc. Por exemplo,
quando a página policial acaba por se ocupar de um
assunto desportivo (o rccentc episódio envolvendo a
comrpção de juízes por dirigentes de futebol);
Relevôncia- ela é avaliada pela consonância do tema
nos diferentes mídias, ou seja, se uln determinado
acontecitnento acaba scndo noticiado por todos os
difcrentes mídias, independentctnentc do enfoque
que the venha a ser dado, ele possuievidcr-rte rcle-
vância;
Frome temporal 
- 
quadro de infortnaçõe s que se for-
ma ao lot-rgo de um determinado período de ternpo
da pesquisa c que nos pennite a intctpretação con-
l.l. Clóvis l]arros liilho, Éilr,, uu r;onunicoç'ão - dtt inJi»ttação Qo reccplor, São Paulo,
Modcma. 1995.
ll. Donald L. Sharv c N4axucll E. Mccorrbs, 'l-hc en*gence o.f unrcr.i.on poliÍit.ul issues:
Tltc ugenit-satittgfirnttion of tlrc2r'r,s.r, Saint paul, Iuinncsotta, wcst publisiring C o.,1977.
12. Ivlaxr'"'cll N{cCornbs. Ildna llinsicilcl c David Wcavcr, Contentporura ltriliit: opirtion. ls.s*
a.sotrl tlrc n.'r,Hillsdrlc,NovaJcrscy.LarvrcnccrrrrbaunrÂssociatcs,Fublishórs. 1991.
13. Elisebcth Nocllc-Nctrnrann, "Rctum to thc col)cL.pt olpou,crful rnass mcdia',, comuni-
caçio aprcscntada no XX'l'l,tcnratio,al congrcss ofpsycliology, cm Tirquio, cm agosto dc
1972. Publicado postcrionncntc crn,Strrrlrcs of Broutlcustittst, 9 (1973).
200
AntonioHohtfetdr -!If
textualizada do acontecimento; ele cobre todo o pc
ríodo de levantamento de dados das duas ou lt.tiuri
agendas (isto é, a agenda da rnídia e a agencla thrn
receptores, por exernplo) ;
Tinte-lag- é o intervalo decorrente entre o períoclu rle
levantamento da agenda da mídia e a agenda do re
ceptor, isto é, como se pressupõe a existência dc urrr
efeito de influência da rnídia sobre o receptor, cltr
não se dá rnágica e imediatarnente, mas necessita rlc
um cerlo tempo para se efetivar e ser constatável. A
este interalo de tempo se denomina time_lag;
Centralidctde 
- 
capacidade que os mídias têm de co_
locar corno algo importante detenninado assunto,
dando-lhe não apenas relevância quanto hierarquilr
e significado. Há muitos assuntos que são noticia_
dos constantemente mas que não são conscientiza_
dos como centrais (isto é, decisivos) para a nossít
vida, enquanto que outros assirn se tornarn. por
exernplo, a questão do plano Real e a queda da in_
flação como um elernento altemativo de redistribui_
ção de riqueza,
Tenrutização 
- 
e oprocedimento implicitarnente liga_
do à centralidade, na medida em que se trata da ca_
pacidade de dar o destaque necessário (sua formu_
lação, a maneira pela qual o assunto é exposto), de
rnodo a chamar a ptenção. Um dos desdobrarnentos
da ternatização é a charnada ,cuíte d,e urna matéria,
ou seja, os rnúltiplos desdobrarnentos quc a infor-
rnação vai recebendo, de maneira a nranter presa a
atenção do receptor naquele assunto;
Saliência 
- 
valorização individual dada pelo recep_
tor a um determinado assunto noticiado, que se tra_
duz pela percepção que ele venha a emprestar à
opinião pública;
202
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
Focalização 
- 
a maneira pela qual a mídia aborda um
determinado assunto, apoiando-o, contextuahzan-
do-o, assutnindo detenninada linguagem, tomando
cuidaclos especiais para a sua editoração, inclusive
mediante a utilização de charnadas especiais, cha-
péus, logotiPias, etc.
Por outro lado, da mesma fonna com que a hipotese de
,r.r,.L,ndantenlo pode ser articulada com as mais diferentes teo-
r rils no campo da comunicação social ou mesmo de outras áreas
,lrsciplinares, ela pode ser tatlbém combinada com as demais
lrilroteses antes mencionadas. Por exemplo, se o agendantento
i,(' preocupa com a relação mídia-receptor e as interinfluôncias
,lcise processo, poderemos aprofundar um estudo, através do
rtL'rtt,sriaking, verificando quais as rotinas que as mídias de-
r;tnvolvem para alcançarem detetminado agendamento. Ou,
rrtrb perspectiva diversa, a partir de uma perspectiva de ctgen-
,lrtntenlo, buscar entender os tnecanismos pelos quais houve
rtr'ra espiral de silêncio sobre outros tantos tcmas que, apesar
rlc hipoteticatnente significativos, foram marginalizados pelas
rrrídias. Em síntese, as altemativas de trabalho são irifinita-
rrrcnte rnúltiplas e, tatnbém neste caminho, alguns de nossos
rlunos têm-se ensaiado, cotn bons resultados.
2. A hipótese de nerusmakíng
Outra perspectiva importante foi a do newsmaking, coÍTe-
lumente dôstaóado por Mauro Wolf como um estudo ligado à
sociologia das profissôes, no caso, o jomalismo. E, pofianto,
rnais uma teoria do jor-nalisrno do que propriamente da con-tu-
nicação, tnas tetn sido estudada genericamente sob a perspec-
tiva comunicacional, e va[Ios aqui manter esta tradição.
A hipotese de newsmokfug dâespecial ênfase à produção
de inforrnações, ou melhor, à potencial transfonnação dos
rucontecitnentos cotidianos em notícia. Deste rnodo, é especi-
ahnente sobre o etnissor, no caso o profissional da informa-
çiro, visto enquanto interrnediário entre o acontecimento e
203
l
llr
Antonio HohlÍeldt
sua namatividade, que é a notícia, que está centrada a atençào
destes estudos, que incluern sobremodo o relacionamenlrr
entre fontes prirneiras e jornalistas, bern como as diferentcs
etapas da produção infonnacional, seja ao nível da captação
da inÍ-ormação, seja erl seu tratarnento e edição c, enfim, crn
sua distribuição.
No horizonte do nenrmakíng se colocam, dentre os vii-
rios ternas possíveis, os conhecidos estudos sobre gatekec-
ping ouJiltragem da informação, que se distingue totalmentc
da censura, por sua perspectiva distinta da ideologia e mais
vinculadir às rotincts de produção da infonnação, veriflcá-
veis, assim, tanto entre a n-rídia capitalista quanto na socialis-
ta, por cxernplo.
Na verdade, os estudos er-n torno do newsntaking 
- 
quc
ern uma tradução livrc seria os.fazedores de noÍíci.ct ou rt
crioçã.o dn notícict 
- 
surgirant exatarnente em tomo dos pro-
cessos de gatekecpürg verifrcados por Kurt Lewin já em
1947''. Naqucla ocasião, estudando o fluxo infonnativo de
urn irnportante órgão de imprensa noftc-antericano, na rela-
ção entre a chegada dc notícias pelos lele_res da ópoca e a uti-
lização daquelas nteslnas infunnações na edição posterior dojornal, Ler.vin levantou a se guintc estatística: de 1333 negati-
vas de publicação:
- 
800 deixaram dc ser cditadas por alegada falta de es-
paÇo;
- 
300 por pretensa sobrcposição de tema ou falta de
interesse junto ao pÍrblico;
-200 por falta de qualidacle do matcrial cnviado;
- 
33 por constituírer-n infonnaçõcs situadas ern áreas
demasiadamente distantes dos calnpos de interesse
dos leitores rnais tradicior.rais do jomal.
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
I-ewin concluiu na época que, de cada dez notas de /e/er
, lrcqaclos àquela redação, apcnas ulxa era transformada efe-
I rvutnente ern notícia na edição se guinte.
Ilstabeleceu-se, assim, o conceito de que cxistem nortnas
l,rrrlissionais que superariarn distorções subjetivas na sele-
r, il() das ir-rfonnações, mas dcscobriu-se, ao rresmo tempo, que
;r scletividade informacional não acontecia apenas na reda-
t,'iro do jornal. Caberia, poffaltto, tentar veriÍicar onde mais
t'sta interÍ-erência 
- 
esta 
.filtrogent - se dava, bem como o
rrro,,lo pclo qual cla ocorria.
Algurnas pesquisas feitas entre profissionais indicavarn
( luc a recusa ou aceitação de urn acontccimento enquanto no-
tícia dependeria rnuito de urna espécie de conceito diflrso do
,lLrc seja a infonnação 
- 
entenda-se, a infonnação considera-
tkL de interesse jornalístico 
- 
vigente entre os profissionais.
As referências irnplícitas dos profissionais pesquisados aos
ltrlrpos de colegas e ao sistema dc fbntcs foram dois dos ele-
rlrentos rnais presentes nestas pcsquisas, ultrapassando cm
rnuito qualquer preocupação ou referência ao público, ao lei-
tor que scria, em última instância, cnquanto receptor, o ver-
tladeiro motivo daquela atividade profissionai.
As primeiras conclusõcs admitirarr, então, quc os pro-
cessos cle comunicação tôrl cm si lneslllos utna função de
r:ottlrole social desenvolvido a partir do estabelecimento de;rráticas socializadas cntre seus proÍissionais, os jomalistas"
A função de gotekeeping, por seu lado, dependeria de uma
garna de perspectivas e inÍluôncias, dentre as quais ars rnais
comuns seriam:
- 
a autoridade institucional e suas eventuais sanções;
- 
sentitncntos de fidelidade c estitna para com os
superiores;
- 
aspirações à mobilidade social da parte do profis-
sional;
- 
ausôncia de fidelidade de grupo contrapostas;
I
l
15. Kurt Lcr.vin. "Fronticrs in groq; dynarnics II:channcls oÍ'group lilc socialplanning
andactionr!.sc{rrclt". in'. I{untun Rt'loÍiott.:,l9 7.r,ol. 1,n,,2.p. l4j-l53,citacloporMauró
Wolí. op. r'r1., p. 159.
?04 205
Anlonio Hohlfeldt
- 
carâter agradável do trabalho;
- 
o fato de a notícia ter-se transformado em vulot),,.
O gatelceeping constituir-se-ia, portanto, em uma clistor
ção involuntária - na rnedida em que não se trata de untir irr
tervenção consciente, sensorial 
- 
da informação, devicl. ir,
modo pelo qual se organiza, instituciornliza e desenvolvc ir
função j ornal í stica, as charnada s e s t rut u r a s infe r e n c i ai s, clne
não significam manipulação, pura e sirnplesmente, eis cltre
não são distorções deliberadas, mas involuntárias, inconsci-
entes, que podem chegar, por isso mesmo, a níveis bem n-rais
radicais e perigosos, na medida em que omitern ou margina-
lizam acontecimentos que, por vezes, poderiarn ser efetiva-
mente irnporlantes e significativos ao menos para determina-
das coletividades.
Tais distorções, por conseqüência, sornar-se-iarn a outras
motivações para que se buscasse compreender a influência
dos processos infonnacionais de largo ou longo prazo,eis que
a omissão constante, ou, ao contrário, a ênfase pennanente em
detenninados ternas, chegaria a interferir diretarnente na per-
cepção do rnundo externo por pafte dos receptores.
Considerar-se-ia, deste n'rodo, haver umct lógica especí-
.fica clos rueíos de comunicctção de nlassa, que escapa aos di-
tamcs e interesses do receptor, que se expressaln nas exigên-
cias de produção e expressão informacional, graças à criação
de urrra espccie de almosfcr'í7 e utn corrjunto de irrterexpecta-
tivas profissionais que predetenlina o contexto de interpre-
tação e valorização dos fatos.
Dc rnodo gcral, as pesquisas lro campo do newsntaking
exigern a charr-raclap esqttisa pcu.ticiltante, ou seja, o pesquisa-
dor junta-se à equipe pesquisada rnas não fazparte dela pro-
priamente, pois ali se encontra provisoriarnente, o tempo ne-
I6. Todos os profissionais dc imprcnsa conhcccm ainda as vclhas cxprcssõcs notíciu 500.
por cxcmplo, intlicando algurna daquclas rnatórias lcitas por cncorlcncla, cspccialmcntc do
Dcpartamcnto Conicrcial ou da dircçào da publicaçào...
206
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
, , r,:;;l|io para desenvolver seus estudos, sob pena cle também
, rrlolvcr-se coln os valores do grupo estudado. Os dados são
, ,,llritlos por observação sistemática e diretantente pelo pes-
, lu rjildor junto aos pesquisados, quer verbalizando e conscien-
lrz;urclo as práticas observadas já no momento etn que elas
,rt r)l'l-e111, levando pesquisador e pesquisado a um debate e a
un)a conscienÍizaçáo, quer apenas obselando e registrando
,,:; procedimentos, sem neles interferir diletamente.
O convívio com os pesquisados é fundarnental, porque
Ir'vir à farniliarização com o grupo e às rotinas ali desenvolvi-
tlls, numa perspectiva de naturalidade, até o motnento em que,
lcndo-se identificado plenamente cotn o grupo, deve distan-
ciar-se do mesmo para poder manter o espírito obserador e
crítico sobre tais práticas, descrevendo-as, analisando-as e
cventuahnente criticando-as, na constituição do que se pode-
lia denotninar de uma etnografia da conturticação-
Enr anos posteriores, os estudos sobre o newstnaking le-
varam ao agrupamento das diferentes rotinas e causas moti-
vacionais para as lrlesmas em dois grandes blocos: a) a cultu-
ra profissional dos jornalistas, genericatnente considerada e
b) a organizaçáo específica do trabalho e dos processos pro-
dutivos da informação, em suas lelações e conexões, consi-
deradas em cada veículo em especial.
De modo geral, admite-se que os meios de comunicação
de massa clevem: a) tomar possível o reconhecimento de um
fato desconhecido cotlo algo notável de ser noticiado, b) ela-
borar relatos capazes de retirar do acontecimento seu nível
de particularidade (idiossincrático), tornando-o generalizá-
vel (contextualizado); c) organizar temporal e espacialtr-ren-
te este conjunto de tarefas transfonnadoras, de modo que os
eventos noticiados fluam e poSSam ser explorados racional
e planificadamente.
A cttltura profissional,nesta perspectiva, é um emaranha-
do de retóricas e táticas, códigos, estereotipos e sírnbolos rela-
tivos aos meios de comunicação de massa, que criatn e lnan-
i
i
li
I
rl
I
I
207
AntonioHohrrerdr F
têrn paradigmas profissionais e auto-imagem. As conveltçirt.ri
de organização deste trabalho deter-minam e definem o (lu(.
seia notícia e legitimarl o processo produtivo das mesnrirs,
constituirrdo o conceito de noticiabilidade, ou seja, a aptitlrr,
potencial de um fato para se tornar notícia ou, dito de oulnr
rnodo, o conjunto de requisitos que se exige de um acontcci.
mento para que ele adquira existência enquanto notícia; ou
ainda, o conjunto de critérios que operacionalizam instrrr-
rnentos segundo os quais os meios de comunicação de lnassl
escolhem, dentre rnúltiplos fatos, aqueles que adquirirão o
statLts da noticiabilidade. Em irltima análise, pode-se dizcr,
com AltlreiderT, que as notícias são aquilo qui osiornalistu.s.
deJinem conto tol. O acontecirnento se transfonna em notícia
quando, trabalhado pelo órgão de informação, entra na agen-
da do ptlblico receptor. A noticiabilidade de um fato pode en-
tão ser analisada segundo sua possibiliclade de integrar-se ou
não ao fluxo normal e rotineiro da produção de infonnações.
Noticiar é urn processo organizado quc implica ümapers-
pectivct prática dos acontecimentos, urna sórie produtiva que
v at da p ra gtn atici da dets àfact ibit itla cle, nuntprocesso rnúiti-
plo de descontextualização e recontextualização de cada
fato, enquanto nanativa jornalística.
A noticiabilidade está rcgrad a por valores-notíci.a, con-junto de elernentos e princípios atravós dos quais os aconte-
cirnentos são avaliados pelos meios de cornunicação de mas-
sa e seus profissionais em sua potencialidade de produção de
resultados e novos evcntos, se transformados ern notícia. Os
valores-noÍícict (news value) não podenr nem clevern ser ana-
lisados isoladamente. Na verdade, eles se combinam sernpre
enquanto infinitos cornpostos, só verificáveis apos sua con-
cretização, ou seja, apenas depois quc um cvento se tornou
notícia, de rnodo retroativo, pode-se analisar a narrativa e re-
17. D. Altlrcidc, creutütg reality. llow h' ncvs (listorÍs events, Bcvcrly Hills, sagc, 1976.
18. Lcrrbrcrnos, ncstc scntido, a pcrspcctiva dc cHn pAR Ro, Manucl carlos. p ragrnátictt
do.ionnlisno, São Paulo, Surnmus, 1994.
208
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
, , rrrstituir os valores que influíram na decisão de torná-la en-
,lurrnto tal, a padir do acontecimento primeiro.
A. noÍiciabilidade é um conjunto de regras práticas que
;rlrtrrrge utn corpus de conhecitnento profissional que, irnplí-
t'r{a e explicitamente, justifica os procedirnentos operacionais
,' cclitoriais dos órgãos de comunicação em sua transfonna-
t,'iio dos acontecimentos em narrativas jornalísticas. ReÍtne o
t'onjunto de qualidades dos acontecimentos que pertnitettr
rttta, conslruçíto norrativa iornalística e que os recomendam
er rquanto informação j ornalística.
Tais valores-notícia, praticamente inÍinitos, são comu-
rrrente agrupados etn cincograndes categorias, por sua vez,
subdivididas ern outras tantas. A título de exemplo, vamos
indicar algurnas dclas:
l) categorias substantivas 
- 
ligam-se ao acontecimento em si
(por isso substantivos) e seus personagens. Subdividem-se eln
a. imporÍtincicr.:
I- grau e nível hierárquico dos indivídttos envolvidos no
ocontecimento 
- 
se personalidades famosas, há maior noticia-
bilidade;
II 
- 
intpacto sobre ct naçcio e o interesse nacional 
- 
im-
plica o grau de significação e imporlância, de proxirnidade
geográfica, de atingimento do irnaginário, etc.;
III- quantidade de pessoas envolvidas no aconÍecintenÍo
- 
quanto rnaior seu nútnero, naturalmente tnaior noticiabili-
dade apresenta: um acidente coltl ultl só tnofto tem betn me-
nor impacto do que se lnonerem trittta num meslno acidente;
IY 
- 
relevôncia e significaçíio do acontecintento quanto
à sua pcttencial evolução e conseqüência 
- 
fatos que aprc-
sentem conseqüências a se desdobrarem nuffl tempo futuro
sempre são rnaisTo rnalísticos do que aqueles que se esgotam
cm si mestnos;
Antonio HohlÍeldt
b. interesse:
Esta perspectiva apresenta situações lnenos claras e aplr
rentes, resultando quase sempre de situações complexas. A
avaliação e categorização depende rnuito da perspectiva c1rrr.
os jornalistas têm de seu público receptor e de seus interesscs,
ainda que, ern geral, verifica-se que os jomalistas confunclcrrr
os .sea.ç interesses e t alores cotllo sendo os do seu receptor:
I- capacidade de entretenintento 
- 
o inusitado, o inespc.
rado, sempre atrai. Assim, gcnte comuln ern situação insóli-
ta, destaque de algurn membro da clite social 
- 
seja ela políti-
ca, econômica, do slar systent, etc. 
-, inversão de papéis so-
ciais ou feitos excepcionais ou heróicos são elementos de va-
lorização para o entrctenimento, que corresponde à quebr.l
de padrões e à capacidade de atrair e prender a atenção do rc-
ceptor;
lI 
- 
interesse hutnano 
- 
Lura das categorias mais valori-
zadas tradicionalmente no jomalismo, envolve tanto campa-
nhas benemeritas quanto pode descambar, facilmente, para o
sensacionalismo;
lll 
- 
contposição eqttilibrada do noticiário 
- 
um jornal
não pode apresentar apenas informações positivas e alegres,
ou exclusivamente infonr,ações negativas e tristes. O noti-
ciário sempre busca urn equilíbrio entre arnbos os elementos,
porque assim são osfatos da vida.
2) categorias relativas ao produto (notícia) 
- 
dizern respeito
à disponibilidade de rnateriais e características específicas do
produto infonr-rativo. Assim, depende da acessibilidade do
acontecimento, referindo-se à sua localização ou rapidez com
que uma equipe pode ser deslocada ate o local; tem a ver, ain-
da, corn a possibilidade de tratarnento jomalístico, ou seja, sua
potencial drannticidade e capacidade de entretenünento, alérn
das qualidades técnicas e organizativas do rnaterial enviado. É
evidente que pode o fato ern si ser tão importante que estas ca-
tegorias ficam absolutarnente marginalizadas:
2r0
Hipóteses conlemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
t) brevidade 
- 
o relato deve estar adequado aos limites
,lo rrcrticiário, seja a dimensão característica do jornal 
- 
start-
,lrrrrl aLLtobloicle- seja a duração do noticiário de rádio ou te-
It'r,isivo;
b) condição de desvio da informação, qlue se refere ao
lrrto de que notícia ruitn é sempre mais interessante do que
rrotícia boa; acontecimento raro é selnpre rnais noticiável que
;rcontecitlento cotnutn, etc.,
c) attralidade Qtovelty) - há uma relação tnecânica e nc-
,'cssária entre a disponibilidade da inforrnação por parte do
rrrcio de cornunicação de massa e a possibilidade de clivul-
rilr-la junto ao público receptor. Por exetnplo, o rlead-line
tlc rodagem do jornal, a edição a cada hora de um noticiário
rlc rádio, etc. A infortlação que chegar apos este limite orl
tltte extrapole as di.mensôc^s tradicionais de utn noticiário só
rnuito raramentc poderá ser cle fato aproveitada. A atuali-
,lude vinçrla-sc à continttidade ott sttíte, ou seja, a capaci-
rlade de o acontecitnento ter dcsdobramentos capazes dc se-
rcm acompanhados pelo rneio jornalístico de tlodo a scr
iu-rediatarnentc transferido, na forma de informação, ao re-
ccptor, que será pennanentetnente atualizado sobre o cles-
tlobramento daquele fato;
d) atualidade interna (inlernal novelty) 
- 
estc é outro
(ipo de atualidade e tem a ver exclusivatnentc cottt a organi-
r,açáo da empresa iornalística. Muitas vezes, o profissional
tlispõe da infonnação, por cxetnplo, fomecida etl n/f tnas
não pode usá-1a até aquele deterrninado tnomcnto etn que ela
cstá na irninência de se tornar pública e que sua revelação, al-
guns segundos antes, porque disponível pelo profissional ou
o órgão de comunicação, leva-o ao chamado furo ott, ao con-
trário, orienta-o para chegar até um outro conjunto de infor-
rnações iguahnente significativas. Este tipo de categoria futr-
ciona, especialueute, no chamado 7o rnalisnto investigalivo
crn que, muitas vezes, detenninadas fontes condicionaffI sllas
dcclarações à qualificação de oÍí ou ao desdobratnento de
Antonio Hohlfeldt
acontecimentos sobre os quais, de fato, nem o profissional
nem o órgão de comunicação tem efetivamente qualquer
controle;
e) qualidade 
- 
o material disponível deve ter um mínimo
de qualidade técnica compatível com o veículo em que será
transmitido. Isso vale quanto ao ritmo narrativo, ao equilí-
brio da ação dramática apresentada, àquele conjunto de in-
formações disponíveis, às características do som, da imagem,
do foco, àclarezade linguagem, etc.;
I equilíbrio (balance) * semelhantemente ao itern da ca-
tegoria anlerior. é rnais restritivo e tetn a ver apcnas cotn
aquela deterntinada ediçtio que deve ser igualmente equili-
brada ern relação ao conjunto de informações, mesclando
adequadamente diferentes temas, da política à economia, ao
lazer, ao cotidiano, ao internacional e ao local, etc.
3) categorias relativas aos meios de informação 
- 
têm a
ver corl a quctntidade de tempo usado para a veiculação da
informação. Depende menos do assunto e mais do como a in-
formação é veiculada:
a) bont ntaterial visual x texto verbal 
- 
deve haver um
equilíbrio entre ambos os aspectos, quer na irnprensa, quer
nos meios eletrônicos: um bom texto com imagens ruins tem
menor interesse do que se houver texto e imagens condizen-
tes, etc.;
b) fi'eqüfucia - a acessibilidade à fonte ou ao local do
acontecimento prcssupõe a possibilidade da continuidade
daquela cobcrtura e, por conseguinte, o planejamento da uti-
lizaçáo daquelas informações e sua distribuição pelos dife-
rentes espaços ou edições. No caso clas empresas que atuarn
como grandes redes, mantendo diferentes veículos como jor-
nais, revistas semanais, emissoras de rádio e canais de televi-
são, alern do noticiário on line da lnternet, hoje em dia, esta
categoria ganhou enorme importância;
212
Hipóteses contemporôneos de pesquiso em comunicoçõo
c).fbrmato 
- 
há uma formatação prévia a que deve aten-
rlcr a narrativa jornalística, cotn sua introdução, desdobra-
nrento e conclusão ou projeção de desdobramento. Cada veí-
culo estabelece características específicas para sua narrabili-
rlade, constantes quase sempre dos manuais de redação que
rlevem ser seguidos pelos profissionais e que pré-delimitarn
o modo pelo qual a informação será relatada.
4) categorias relativas ao público 
- 
referem-se à imagem
que o profissional ou o veículo possuem de seus receptores e
o modo pelo qual se preocupam em (bern) atendê-lo. Na ver-
dade, pesquisas evidenciam que o jornalista conhece muito
rnal o seu público. Mais que isso, o profissional ern geral se
sente auto-suficiente e irnagina que seu interesse éinfonnar,
indiferentemente ao interesse do público sobre o quê deseja
ser informado. Por isso, este aspecto é dos rnais polêmicos e
rlais desconhecidos ainda:
a) estrutura narrativo 
- 
a nanativa deve ter clareza pata
o receptor, de uodo a: 1) perrnitir a plena identificação dos
personagens envolvidos e do fato narrado, 2) atender ao inte-
resse de inforrnações de serviço (do tipo quais os serviços
que funcionam erl um feriado, etc.); 3) o conjunto de infor-
nrações defait divers que servem para distração e entreteni-
mento do receptor;
b) protetividade 
- 
evita-se noticiar o que pode criar trau-
mas, pânico ou ansiedade desnecessária ou inconseqüente,
colno, por exelnplo, acidentes serl detalhes, catástrofes na-
turais, pestes, etc.;
5) categorias relativas à concorrência 
- 
os rneios de cotnu-
nicação, enquanto empresas, concoffeln entrc si e buscanl
saber, antecipaclctnrcnte, qual a pauta de seu concorrente,
com a qual buscam competir ou à qual tentam neutralizar:
a) exclusittidade ou.furo 
- 
cada veículo busca ser o único
ou o primeiro a narrar determinado acontecimento ou, ao
menos, detalhes e desdobratnentos do mesmo;
213
Antonio Hohlfeldl
b) geração de expectativas recíprocas 
- 
ulna decisão irrr
porlante sobre a publicação ou não de deterrninado fato porlc
ser decidida sobre a expectativa de que o veículo concorrcrrlc
tarlbém irá (ou não) divulgar aquele mesrno fato;
c) desencorajantento sobre inovações 
- 
os veículos uuris
tradicionais relutam ern narrar acontecirnentos que venharrr rr
atingir ou contestar os valorcs pressupostos de seus leitorcs,
desenvolvendo-se, assim, ufil conservadorismo de contcÍrrk r
que tarnbém pode ser formal, quando os veículos relutam crrr
prolnover tnudanças substanciais em seus aspectos grálicos
gcrais;
d) estabelecinrcnto de padrões profissionais, ou de ttto
delos reJ'erenciais 
- 
os novos profissior-rais tendem a copiirr'
os comporlamentos dos rnais velhos, do rnesmo modo clrrt'
rlovos veículos tornarn colro referência os veículos mais trr
dicionais, ainda que seja para combatê-los.
A produção de inforrnação jorralística irnporta em lr'cs
diferentes fases, que podern ser assim caracterizadas:
a) recolha ou captaçcio de ir{'orntações, que dependcrii rlt'
fontes variadas, agências noticiosas ou agendas de serviço;
b) seleção de infornruções, derfirc aque las todas disponi
veis;
c) altresentoção ou edição (editfug);
a qLle eu acrescentaria uma outra:
d) distribuição, qtre irnplica no seleção tlaquilo quc vtti
ser rnais oLt nlenos distribuído, atingindo a toclos os veícttltt,s'
vinculados aunlo deterntinada agência otr só a alguns dclc,s.
A recolha ou captação de inforrnações sofreu fofte nro
dificação ao longo da história do jomalismo. Antigamcntc,
dizia-se qrre o jornalista soía à coça de informaçôes e a figrr
ra do enviado e.specia/ e, sobretudo, do con"espondenle rlr'
glterra contribuía para uma cefta visão niíica do jornalisrno,
214
Hipóteses contempotôneos de pesquiso em comunicoçoo
;rrronturesco e audacioso. Hoje em dia, de modo geral, a in-
Ior-mação chega à redação sem maior esforço do profissional
(luo deve, sobretudo, distinguir e selecionar do conjunto
;r(lr"rcle rol de informações a serem transfonnadas efetiva-
rrrcnte em noticiário. Tecnologias como o telefone ajudaram
rrruito a estas rnodificações. De modo geral, e por meio de
rrrrr telefone, efetivamente, e de urn telefone celular, hoje em
,lrr, que o jornalista constrói sua matéria. De outro lado, o
rlepaftamento de pesquisas de un'r jornal ganhou imporlân-
,'irr. O agendanrcnlo de um tema, a busca do efeito de enci-
,'lopedia depcndern fundamentalmente do departamento cle
lrcsquisa, que atualiza e, sobretudo, relaciona acontecimen-
l()s c temas.
A posse de utn conjunto significativo de informações,
;rlcrn do mais, pode ser trabalhado editorialtnente mediante a
Ittttntentação da informação, que permite a atração da aten-
r,'rlo do leitor diário através da manchete sensacionalista.
A questão do relacionarnento dafonte, institucional ou in-
,lrvidual, com o profissional da infomação, tem sido constan-
l('nrcnte questionada. A, agenda de um jornalista é extrema-
rncntc valorizada 
- 
aliás, o seu acesso a detenninadas fontes
,lt'tcnnina sua contratação. Hoje, veículos exigern que a agell-
,lrr scjapropriedade do veículo e não do profissional... O aces-
rro ri fonte detenlina a infonnação cn olf e a possibilidade de
,, grrofissional ou o orgão de comunicação antecipar infoma-
r, ocS COln Uma Cefta margem de segurança aos infonlantes e
,r,rs próprios profissionais e veículos. No entanto, esta prática
l,'rrr sido questionada sob a perspectiva da ótica jornalística,
l)()r'(lLre assim corno um profissional desenvolve uma prática
,1,' infomação em off dependendo da confiabilidade que te-
rrlur cla fonte, uma fonte poderá ntanipular o profissional,
ltltrttlundo detenninada infonnação que lhe interesse, através
,lt ofl. cm situações-limite como disputas político-partidárias,
rrrt'r'cadoS de capital, etc. Além do mais, o jomalista fica de-
1,,'trtlcnte da fontc, de modo que passa a haver uma relativida-
tlt'cnr toda a informação que veúa a serpor ele dir.ulgada,
215
Antonio Hohlfeldt
sendo dificil distinguir entre aquelas que interessam, clc lirlo,
ao receptor ou, ao contrário, ao jomalista ou ao público. lssr r
se aplica, especialmente, aos colunistas, como se deprccttrlt'
da lóitura cotidiana destes profissionaisle.
Seja como for, costuma-se distinguir entre fontes irr,sti
tttcionais e oJiciosas, no que tange ao relacionamento cottt
as instituições de adrninistração pública ou empresarial. A
fonte ou agência institucional é aquela que fala formal c lc
galmente en7 nome de alguem ou alguma instituição, crr
quanto que a fonte oficiosa em geral é aquela que não goslrt
ria de ser identiÍlcacla e que, embora integrante da estrtttttt'rt
adrninistrativa, dela pode vir a discordar, fazendo vazar ulnrit
infonnação que pode chegar a gerar coustrangitnento junttr
à autoridade.
Quanto à prática de fornecitnento de informações, as firtr
tes podem ser ati.vas ot passivas. As aÍivas são aquelas cltte
tomam a iniciativa da infonnação, e aí se distinguem, dcttlt'c
outras, as chamadas ONGs. Há, aliás, estudos interessantcs lt
rcspeito destc tipo de organização que, etnbora considclc
preconceituosamente os profissionais da comunicação, trão
deixarn de buscá-los em sua tentativa de tornar públicos suits
avaliações, seus posicionamentos e suas ações. As foltlcs
passivas são aquclas que se manifestam apcnas quando pro-
curadas ou provocadas.
Quanto à continuidade de suas atividades, as fontes po-
dern ainda ser classificadas enquanto provisorias e estávei.s.
F-ontes provisórias são aquelas que se constituem diante clc
um fato ou acontecimento isolaclo. Por exetnplo, um incên-
dio ern unr prédio pode transfonrar o porleiro emumafonlt
provisoria. A fonte perntanente, contudo, é aquela a que rc-
corre o profissional ou o órgão de comunicação, sempre quc
necessite, segundo detenninado tipo de inforrnação ou tema.
19. Vcr, a propósito. John L. I{r:ltcng, Os dcsríios du rnnuuticoçiio: prohlcnns éticos,Florilt
nópolis, EDUFSC, 1 978, cm cspccial o capítulo 6, intitulado: "Os rcpórtcrcs c suas fontcs".
216
Hipóteses conlemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
linfim, quanto à localização espacial, que interfere em
',,'u luncionarnento e no peso e irnportância de suas informa-
(,r)r's, telros as fbntes centrois, constituídas por aqueles que
rrrlcgram os grandes centros de decisão ou as agências situa-
,l;rs nos grandes centros globalizados de hoje ern dia; as fon-
tcs territoriars ou regionais, que se situam em territórios pro-
v r:;oriamente irnportantes diante do desdobramento de deter-
rrrirrados acontecimentos: por exernplo,o Mercosul, ou o
N'lcrcado Europeu, etc. E, enfirn, as fontes de base, que são
,r,;rrelas particulares, ou relativas a eventos e episódios, por
('\crnplo, boa parle das ONGs que ahrarn em cerlos canlpos
r'sl)ecíficos de inforrnação, como a rcsistência ecológica do
t ircen Peace, etc.
[]á um evidcntc e pcrigoso rclacionamento entre fontes e
lolnalistas que tem sido rnotivo constante de debates, sobre-
lrrtlo no campo da etica profissior-ral. Ncrn por isso tem sido
,luninuída a relação entre tais profissionais ou organismos e
lris fontes, até porque é através delas, sobletudo, que flui o
rrutior conjunto e inÍbrmações do jornalismo intemacional.
t ) risco dc se dar vazão ao boato ou à inJ'orntação plantada e
('n()rme, rnas tais riscos fàzern pafte, naluralntente, do pró-
lrlio fluxo inforrnacional característico do processo da infor-
r r urção jomal ística:0.
Por fim, ecoando alguns estudos que a hipótese de agen-
tllnrento tern esboçado, podc-se sugerir urna espécie de hie-
r.rlcluia cntrc os mcios c1e comunicação. De modo geral, a te-
le visão e o jornal ouvcrr o rádio; lnas a televisão e o rádio
l['cn-r o jor-nal. Ou seja, há urn relacionarncnto pcnnancnte e
;rltcrnativo entre os diferentes veículos, dc rnodo que o fluxo
rrrlirnnacional é, ao mesrno tempo, constante, e alternada-
.'(1. l: (lc sc obscrvar, por outro lado, quc ncrr scrnprc as rclaçõcs cntrcjomalistas c íbntcs
1,r rrririns, como as ONGs. sio ncccssariarncntc tranqtiilas. N'Íais quc isso, unra pcsquisa
, r rrlcnci:r quc tanto cstas fontcs quanto os jonralistas clcsconfiam uns dos outros c os.iul-
,',rrr ncgittivarlcntc, scgturtlo scus prriprios pariiurctros, airrda quc ncccssitcrn mantcr cstc
r, l,rcionarncuto. Vcja-sc Waltcr Gicbcr, "Trvo cornmunicators of thc ncrvs: a study olthc
r,,les ofsourccs and rcpoícrs". in'. Sociul ltbrce-s, vol.39, outubro dc 1960, p.76-83.
21t
Antonio Hohlfeldt
mente qualificado de modo diverso, conforme as car.rrt.rg lx
ticas de cada veículo e suas potencialidades de atualizirçr1rr
informativa.
Há, por certo, outras categorias de seleção de captirr,.rln
informacional, do rnesrno modo que há outras categori.s j*r
tenciais quanto às fontes de infonnação. Enfim, podcr-sc: in
ainda aprofundar as questões vinculadas à ediioraçã. c rl
distribuição informacionais, mas elas serão sempre ,rcr(l
res que as de captação, até porque, dependendo do ponto rle
vista do debate, elas podem ser deslocadas para aquela 1lr.i.
meira categoria que é, por isso mesrno, a mais discirtida, cs_
tudada evalorizada.
Um carnpo ainda ern construção, enfim, mas de extrcrrrir
importância na area, é o da editoração ol editing, porquc
abrange a descontextualização e recontextualização-da i,-
fonnação, tema que tern sido crescentemente questionackl.
Nesta perspectiva, questiona-se tanto a chamada crrantatizct-
ção da notícia quanto a highlightirg, ou seja, a iluntinação
ou processo de seleçtio informacional, que leva em conta to_
das aquelas categorias de noticiabilidade antes exarninadas.
Por fim, vale ainda relembrar a intagent que o profissional
tem do próprio receptor ou de si próprio. É interessante ob_
servar como os profissionais da comunicação distinguem_se
dos dernais trabalhadores, enquanto uma categoria à parte,
superior e diferenciada, por exemplo, em uma greve.
Por outro lado, ojornalista às vezes sente-se tutor e peda_
gogo, collo em lnomentos ern que uma sociedade enfrente
urna ditadura 
- 
caso do Brasil dos anos 70, por exemplo _ ou
situações eln que os meios de comunicação têm, não apenas
denunciado, mas prolnovido e julgado o processo. Agmao
dessa fonna, ele tem quase sempre condenado as persõnali_
clades públicas eventualmente envolvidas em questões polê-
micas da adrninistração, em flagrante desacordo com as de_
cisões judiciais posteriores; casos em que autoridades con-
denadas pela Imprensa foram posteriormente absolvidas pelo
218
Hipóleses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
lrrrlr, ririo porque, contra elas, não se levantaram quaisquer
,l,r,l,,r; ct)ncretos, a não ser ilações e suposições de responsa-
l,rlr,lrrtlo. E evidente que, neste caso, o jomalista dependerá
nrrrrto tlc sua credibilidade, valendo então lembrar conheci-
,1,, L'strtdo sobre o terna2l.
lrrrr síntese, a perspectivado newsmaking evidencia uma
, 
.,1r['cie de auto-suficiência do jornalismo, em que o proces-
,,r ) c()lnunicacional se coloca com absoluta autonomia em re-
lrrr,'rlo às demais categorias sociais, o que, sabidamente, é
{'( luivocado. Por outro lado, do ponto de vista da teoria da co-
rrrrrnicação, a hipótese de estudo é irnportante porque ajuda a
t'ntcndemos o modo pelo qual a inÍbrn"ração flui, neste caso,
r lc uma fonte prirneira para o intermediário ou mediador, que
c o jornalista 
- 
profissional da inforrnação 
- 
e deste até o re-
t'r:ptor f,rnal. A perspectiva das chamadas teorias empíricas,
cm especial aquelas de campo, já levavam etn conta, de cefto
ruodo, tais perspectivas, ao chamaretn a atenção para o fato
tlc que o processo informacional, mais do que uma relação
cquilibrada entre emissor e receptor, ampliava-se, a paftir do
cmissor primeiro, em uÍ1a série de receptores transfotma-
clos, por seu lado, em tantos mais emissores segundos e ter-
ceiros, e assim sucessivamente. Mais que isso, ao charnar a
atenção para o fato de que um receptor não dispõe unicamen-
te de uma só fonte, sublinhava-se o papel dos diferentes veí-
culos de comunicação e sua evidente e lógica cornpetição
por chamar a atenção e o consumo do receptor, na rnedida
eln que, constituídos enquanto e[lpresas, dependem desta
consumação para sobreviverem no mercado comunicacio-
nal. Vale a pena, por isso mesmo, a leitura de um recente li-
vro de Alfràdo Eurico Vizeu Pereira Jr.22.
21. Carl Hovlarr<l, Irving L. Joncs c Harold H. Kclly, Contnnuicoliort rutd persuasiort,Ncw
Havcn, Yalc Univcrsiry, I953, cap. 2: "Crcdibility of thc cotltt.nunicatoC', p. l9-55'
22. Alfrc<lo Eurico Vizcu Pcrcira Jr., Decitlindo o que é notíciu, Porto Alcgrc, EDIPUCRS,
2000.
219
Antonio HohlÍeldi
3. A perspectiva da espiral de silêncio
uma das mais importantes e curiosas li,has do clr:rrr'rrl.
carnpo das pesquisas e,r1 comunicação tem siclo clcscrrv.lvr
da, desde L972, pelaalemã Elisabeth Noelle-Neurrarr. N;r:i
cida ern 1916, Noelle-Ncuman, especializou-se enr tlcrrrr,
copia, ern 1940. A demoscopia é um termo ai,da não rlit.r,
narizado, salvo em obras especializadas. Trata-se de ur.rr P;rlavra composta: dentos (povo) * copia (translado litcr.irlj. ,,
que significa pesquisar a opinião do público para tomá_lu t.o
,hecida. Dito de out.a fonna, a dernoscopií é a pesquis, rlt.
opinião pÍrblica sob organização científica.
Forçada a exilar-se da Alemanha pelos nazistas, Nocl
le-Neurnann rctornaria depois cla guerra e, corn o maritkr
Erich Peter Ncurra.n, fundou o L-rstituto de Demosc.pi;r
Allensbach, que dirige até hoje, coln a Dra. Renate Kochcir,.
O Instituto possui, atuahnente, 90 empregados, te,do rcali
zado, no correr dos anos, cerca de oitenta rnil cntrevistas par.rr
mais de cern difererrtes pesquisas. Suas principais teoriai cs
tão desenvolvidas no livro A e.spiral do silêncio 
- 
opiniti,
pública: lTossa pele sociol, publicado nos Estados Uniclos
em 198424.
A prirncira vez crlt que se falou a respcito foi em 1972.
Noellc-Nculnanll participava do XX'h Litcrnational Con_
gress of Psyclrology, ern Tóquio, apresentan do um paper dc_
norninado Relurn to lhe concept of powerful ,rrrrr, ,rurliort. A
pcsquisadora começava a charnar a atenção para o pocler quc
a rr-rídia possuía, rnuito cspcciahnente a têlevlsão, pàra influir
sobrc o conteúdo do pensarnento dos receptorcs. Revisava
ela, desta tnaneira, as tcses então correntes de que a rnídia afe_
23. Janct Schayan. "Elisabcth Nocllc-Ncumann: a Uniào Europóiaó urn caso dc sortc para
a Alcnranlra", in Httnboldt. Í)crlint.
24. t:lisabctlr Nocllc-Ncumanrt, LtL espirul tlel silencio - opinión ptiblittt: Nucsrru picl so-
r:lrrl, Barcclotra, Paidós, 1995.
25. Elisabcth Nocllc-Ncumann, "Rctum to thc conccpt of pou,crlirl r.nass rrctlia,', itt: Shrli-
es of R roudca.sÍ in g 9 (197 3), p. 67 -l 12.
220
Hipóteses contempotôneos de pesquiso em contuttiroÇrto
r,r\';r ll)cuas parcialmente o público, contrapondo que, lla
' 
, r t lrrrlc, haveria utna tendência dos jornalistas em produzi-
r( nr o clLlc eia denourinava então cle uma consonância irreal
, | ilt t il(lo relalottt os ctcontecitnenlos.
I'artindo clo conceito de percepção seletiva e retomanclo
,, dc ttcunutlação provocada pela rnídia, conceito aliás que a
.rrl:itr ainda recente liipotese de agenda seítinghavia coloca-
r lo cnr circulação, Noelle-NcumanÍl destacava t ottipt'e'settça
,l:r rnídia colr1o cficiente modificadora c fonnadora de opinião
,r rcspeito da realidadc.
Sua atenção para o fato fora provocada u1x pouco casual-
rrrcntc, ao obscrvar difcrentcs pesquisas quc se acumulavatn
rros arquivos do Instituto Allensbach. Ela se dava conta de
(lllc, a uma rresrra indagação periodicamente feita aos ale-
rnãcs sobre si tlest-nos c stta auto-itnagetn, as respostas vi-
rrlrar-n se deteriorando de atlo para ano. Objetivarnente, a per-
rlrrnta era'. De ntodo geral, que qua.lidade't positivas você di-
t-irt seretn as dos alemães? Pesquisas iniciadas em julho dc
1952 e que cultninaratn em junlro de 1976 evidenciavatn que
rr resposta Não conheço bocts qualídacles nos alentães cres-
ccra assustadoramente, evidcnciando uura auto-itnagetlt e,
conseqiientemente, utlla auto-estima clecrescentc entre os ger-
riiânicos: de96'Á dos pesquisados que reconheciatn terem os
alcrnães boas qualidades, etn jr'rlho de 1952, caíra-se para
80% crn maio de 1972 c chegara-sc a86uÁ ern junho de 1976.
I'aralelamente, a tnestna pergunta feita a jomalistas alemães,
por arnostragelr, no verão de 1976, atingira a rnédia de78%
cle respostas positivas, apenas. Quanto à visão negativa, su-
bira de 4'%, erl julho de 1952, para 20oÁ em n.raio de 1972 e
baixara para 14% ern junho dc 1976, Í-rcando em22oÁ no ve-
rão do lnesmo ano, a rnédia da tlesma resposta quando entre
os jornalistas.
Noclle-Neuffrann buscott então pesquisar os programas
televisivos deste mesmo períoclo, c descobriu algo surpreen-
clente: das 39 tnenções ao carátcr alemão feitas gencrahzada-
221
Antonio Hohlfeldt
mente nos diferentes plogramas,32 eram negativas; da rtrcs
rna fonna, ampliando a pesquisa a toda a rnidia alemã, clrr
chegou a um total de 82 referências, sendo 51 delas ncgalr
vas c apenas 3l positivas.
A pesquisadora passou a intuir que a influência da rnítlirr
sobre o receptor não seria, portanto, assim tão tênue. Irclo
contrário, o efeito de acunuilctção,levantado pela hipotcsc
de agenda setting,poderia ter outros resultados: era bem nxris
forte a influência da rnídia sobre o público do que se poclcr.i:r
irnaginar, ainda que não se quisesse cair na antiga perspccli
va da teoria ltipoclerntico'o. F.sta ir-rfluência, aoiont.áiio,1,,
que se dissera nas irltirnas décadas, não se lirnitava apenas r(,
sobre o qtrê pensor ou opinar, como afirmava a hipótesc tlr.
agenda, mas tarnbérn atingiria o quê pensar ou dizer.
Elisabeth Noelle-Neumallll, contudo, não estava intercs
sada em apenas evidenciar os resultados. Ela queria, na vcr..
dadc, saber conn se chegava a tais resultados que as pescltri.
sas rnostravam. Assim, se ela chamava a atenção para o llttr
de uma possível conexão enÍre a mídia e a ntudança de olti
nião,na verdade queria entender como r:sse processo se davu,
e para isso retomou boa parte dos estudos que giravam crrr
torno da opinião pública, e passou a desenvolver um sem-nÍr-
rncro de pesquisas sobre temas os rnais variados2T.
Entre 1966 c 1967 , por exemplo, prolnoveu urna pesqui
sa err torno da influência que a aquisição e entronização tlrr
26. A tcoria hipoclórmica clos anos 20 aÍlrnravu o tbsoluto podcr da midia sobrc o rcccl)lor,
conccbido coltto vítiura indcÍ.:sa clc toda c clualqucr nlcltsagcÍn cmitida por al_qunra Íirrrtc
llsta tcoria cottsitlcrava o conccito dc llassc inÍbrn.rc c indcÍ'csl, oriuuda sobrctudo clas ex
pcriôncias da l " Grandc Cucrra c tlos sistcrnas politicos autoritários cntiro vigcntcs. Esr;Lrr.r
da c dircita visualizlvam csta pcrspcctiva, aincla quc sob ângulos c motivos divcrsos: pirr;r :r
csqucrda, cra itlportantc acrcditlr no potlcr absoluto das Íbntcs, diantc da tcoria clo papcl rle
vanguarda quc as lidcranças partidririas clcvcrilr.n clcscnvolvcr pclantc a nrassa. Qu111r i
dircita, cra urtta boa dcsculpa para dcsqualilicar o pirblico, consiclcrado anonimtrmcntc. jr r:;
tificanclo os sistcmas ditatoriais c as práticas scnsoriais.
27. illisabcth Nocllc-Ncunrann, "Mass mcdia autl social changc in dcvclopccl socictics",
in: Il. Katz c T. Szccsko (org.), M«ss nrcdiu ttnd sot:iol t:hange , Uo,crly Hills, Sagc, l9S l,
p.137-16s.
2?2
Hipóleses contemporôneos de pesquiso em comunicoçoo
tr'lcvisão, em lares em que até então esta mídia não estivera
, I r sponível, provocara.
Ela notou, por exemplo, que o interesse pela política cres-
( clA de 36Yopara44oÁ entre aqueles que haviam adquirido a
It'lcvisão, mas, eln compensação, as conversas entre marido
,' nrulher, em casa, a respeito do emprego daquele, haviam se
rrrrluTids, a despeito da diferente percepção de tal fenômeno,
t'rrtre os mariclos e as esposas. Iinquanto os maridos mostra-
virnr não ter-se apercebido disso (40% antes de possuírem a
te lcvisão e 39oÁ após), as rnulheres indicaram percentuais de
5-1(% antes da televisão e 46yo após a presença da mídia ern
:tUlls casas.
Ilntre aquele primeiro enfoque de 1972 e o de 1979,
Noclle-Neumalrl enfatizava algurnas questões: a discussão so-
lrc oS rnétodos de pesquisa em torno da influência da rnídia
sobre os receptores precisava ser reaberta; mais do que traba-
llrrrr a questáo da percepção seletiva que ate então se desen-
volvera, Noelle-Neulnann dava-sc conta de que, na verdade,
;r influência da rnídia dependia sobretudo da caracÍerística
,lrr audiência ou do receptor, na medida em que a consonân-
, irr provocacla, cor-rsciente ou inconscientemente, pela mídia,
;rcnbava por dificultar a prática de tal seleção. A pesquisado-
rr terrlinava, então, por relativizar o conceito mais clássico
J,: ctpinião ptiblica enquanto a rnédia de opiniões veiculadas
rrrrn determinado grupo social, buscando historiar a evolu-
q'ro desse conccito e re-situá-lo diante de suas pesquisas.
A noção de opinião é extremamcnte antiga e se iniciou
t'rrrir Platão 
- 
para queln a dóxa era a rnaneira primária de co-
nlrccimento. Mas, a partir dcsta, Clóvis de Barros Filho clas-
:;iÍlca como indiretas e diretas as diferentes fontes levanta-
r lrrs por Noelle-Neurrann para a sua conceituação revisionis-
n tle opinião públicct2\.
.'s. ('la)\,is Uarros Filho. Etica nu cornunicuçiio 
- 
du iufbrnoçãt) uo re(:epÍor, São Paulo,
\ lrrtlertta, 1995, p. 201 -221.
223
Entrc as í'ontcs inclir.ctlrs, clc colocit llclrs;rrk)trir r!i
L".::::*:""*i:l]lli: . r,,.ri,,,,, ii..i;, fi:;i'. i,,, : : ,:,::li:
l lrprilc:,rL «rrr[rrrrpuriirrcul rlc ltoitluivr clr torrrurritoçrro
nrr nri :i(' uncr)r cnr socicdaclcs politicas, ainda que entre_
1,u('rr l() ;lírblico a clisposição sobrc toda a sua força, de
rrrot 11r 111;ç ruio ltossanr cmpregá_la contra nenhum conci_
,l.r,l;r, .ló1, clo quc pc,,ita a lei dc seu país, conscfvarn
,,r.rrr tl[rvirla o podcr dc pcnsar bcm ou mal, de aprovar ou
r ( nsur.llt' :rs açõcs dos que vivem c mantôrn alguma rela_(,;r() coln clcsSI.
( lr)\'rs tlc lJarros Filho destaca, pot slla vez, Luna outra
,,,r!', ril siqnificativa:
(.)tranto aos castigos conseqiientes das lcis do Estado,
criarn-se ilusões