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FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN 24. ANTIDEPRESSIVOS O tratamento farmacológico serve para depressão, crises de ansiedade isoladas e transtornos de ansiedade ( TAG – transtorno de ansiedade generalizado, transtorno do pânico, TOC – transtorno obsessivo compulsivo, fobias severas, transtorno disfórico menstrual). Sintomas psicológicos da depressão: baixo astral, perda de interesse nas coisas costumava apreciar, ansiedade, problemas de concentração e de memória, delírios, alucinações, impulsos suicidas. Sintomas físicos da depressão: problemas com sono, lentidão mental e física, aumento ou falta de apetite, aumento ou perda de peso, cansaço, perda de interesse sexual. Tipos de depressão: - LEVE: tratada apenas com mudanças de vida; - MODERADA: tratada com mudanças de vida + auxílio médico; - GRAVE: deve haver urgência no tratamento (sintomas físicos, delírios, alucinações e pensamentos suicidas). Teoria monoaminérgica da depressão: alteração no “turnover” de neurotransmissores monoaminérgicos e seus receptores – noradrenalina e serotonina, ou seja, há uma deficiência funcional de NOR e 5-HT. Outras teorias: receptores NMDA (glutamato), receptores σ₁: opipramol (ensaios clínicos). Evidências: tratamentos com Reserpina, um anti-hipertensivo que inibe o armazenamento da NOR nas vesículas para posterior liberação na fenda sináptica, causando assim uma depleção de noradrenalina, causa depressão. O fármaco Iproniazida, utilizado em pessoas com tuberculose, que causa bloqueio irreversível da MAO, melhora o humor. Como visto, a noradrenalina é sintetizada a partir do aminoácido tirosina, armazenada em vesículas e liberada na fenda sináptica através de estímulos. Na fenda ela se liga aos receptores adrenérgicos α e β e é inativada pela COMT, ou recaptada pela NET (transportador de noradrenalina) e, em meio intracelular, inativada pela MAO, que fica na superfície de mitocôndrias. O último mecanismo de inativação é o mais expressivo no sistema nervoso central. A serotonina, após liberada na fenda, possui os mesmos mecanismos de inativação da NOR, porém, a sua receptação é feita através do transportador de serotonina (SERT). Tratamento farmacológico da depressão: METAS: remissão completa dos sintomas; normalização do funcionamento. FASES: 1) Aguda (2 meses): remissão dos sintomas; 2) De continuação (aproximadamente 6 meses): prevenção das recaídas; 3) De manutenção (aproximadamente 2 anos): prevenção de recorrências. Antidepressivos: 1. Tricíclicos (ação mista: bloqueia receptação de NOR e 5-HT) 2. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS ou IRSS) 3. Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina (NOR) 4. Inibidores da MAO 5. Antidepressivos atípicos Mecanismo de ação: com exceção dos Inibidores da MAO, que bloqueia a degradação intracelular da NOR e 5-HT, os outros antidepressivos possuem como mesmo mecanismo de ação o bloqueio da receptação desses neurotransmissores. Os efeitos destes fármacos são mais expressivos após 2-4 semanas de tratamento. FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN Respostas adaptativas: também ocorre a dessensibilização de autorreceptores e heterorreceptores α2 e 5-HT1-7 pré-sinápticos e β2 pós-sinápticos. Isto se deve ao acúmulo de NOR e 5-HT na fenda, dessensibilizando esses receptores pré-sinápticos que agem como reguladores na liberação destes neurotransmissores, cessando assim seus efeitos inibitórios na pré-sinapse e aumentando a liberação dos mesmos na fenda, melhorando ainda mais os sintomas. Leva algumas semanas para que isso ocorra. * PIORA NO INÍCIO: nos dias iniciais do tratamento, ainda não houve a dessensibilização dos receptores α2 e 5-HT1-7 e o acúmulo de NOR e 5-HT na fenda acaba estimulando-os e, consequentemente, diminuindo a liberação destes neurotransmissores e levando a piora dos sintomas. Antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos de receptação da 5-HT e inibidores da MAO: apresentam biotransformação e eliminação em vários dias (7 a 10 dias) Causam tolerância, dependência física e também síndrome de abstinência em caso de retirada súbita. A associação de antidepressivos é contraindicada. Classes dos antidepressivos: 1) TRICÍCLICOS (ADTCs) - AMITRIPTILINA (Tryptanol® - Amyitril®) - CLOMIPRAMINA (Anafranil®) - DESIPRAMIDA - IMIPRAMINA (Tofranil®) - DOXEPINA (Sinequan®) - NORTRIPTILINA (Pamelor®) Mecanismo de ação: inibem a receptação de NOR e 5-HT. (Bloqueia NET e SERT) Outras propriedades farmacológicas: antagonismo de receptores muscarínicos, histaminérgicos (H₁) e adrenérgicos (α₁). Efeitos colaterais: - Efeitos anticolinérgicos: boca seca; constipação; retenção urinária; turvação visual. - Efeitos anti-histamínicos (H₁₁₁₁): sedação; aumento de apetite; fraqueza; fadiga. - Efeitos do antagonismo aos receptores α₁₁₁₁: vasodilatação, hipotensão (principalmente postural) e toxicidade cardíaca (por estimulação). Obs.: Em tese, todos tricíclicos tem efeito anticolinérgicos cardíacos (levando a taquicardia), aumento de peso e diminuição da libido (por aumentar a serotonina, o indivíduo sente-se saciado). Toxicidade: causa mania e convulsões. Tentativas de suicídio ou superdosagens causam delírios, convulsões, coma, depressão respiratótia e arritmia cardíaca. 2) INIBIDORES DA MAO (iMAO): - TRANILCIPROMINA (Parnate®) - FENELZINA (Nardil®) - MOCLOBEMIDA (Aurorix®) Mecanismo de ação: Inibem a monoaminoxidase (MAO), portando, inibem a degradação das catecolaminas. O Tranilcipromina e Fenelzina são inibidores não seletivos (inibindo MAO-A e MAO-B), já a Moclobemina é seletivo para MAO-A. Ao inibir a MAO eles aumentam as catecolaminas (NOR, 5-HT e DA). São as drogas de última escolha devido aos inúmeros efeitos colaterais, utilizadas quando os outros tratamentos são ineficazes. Propriedades farmacológicas: - Inibidores da MAO: aumento da disponibilidade de monoaminas nas terminações nervosas (aumento da atividade simpática). - Inibidores da recaptação de serotonina: aumento da neurotransmissão de serotonina. Efeitos colaterais: hipotensão postural, ganho de peso, efeitos anticolinérgicos, toxicidade hepática, estimulação central (tremores, excitação e insônia, devido ao aumento de DA). FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN Interações medicamentosas e com alimentos: - iMAO + tiramina (“efeito queijo”) – a tiramina, presente no vinho, leite e seus derivados, que seria metabolizada pela MAO (a qual estará inibida), adentra o neurônio e estimula liberação maciça de NOR, isto leva a crises hipertensivas e podendo causar, inclusive, hemorragia intracraniana. - iMAO + tricíclicos – nunca associar, pois causará excesso de NOR, levando também a crises hipertensivas. Quando trocar o medicamento de uma classe para outra, fazer após uma pausa na medicação por alguns dias. - iMAO + ISRS – Causa “Síndrome serotoninérgica”, caracterizada por distúrbios gastrointestinais, rigidez muscular, hipertermia, podendo levar inclusive ao coma. Na troca de classe, também realiza pausa. 3) INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS ou IRSS) - FLUOXETINA (Prozac®) - SERTRALINA (Zoloft® - Tolrest®) - PAROXETINA (Pondera® - Aropax®) - FLUVOXAMINA (Luvox®) - CITALOPRAM (Cipramil® - Denil® - Procimax®) - ESCITALOPRAM (Lexapro®) - VENLAFAXINA – também classificado como atípico. Mecanismo de ação: inibem receptação da 5-HT (bloqueio do SERT), aumentando a neurotransmissão serotoninérgica. Alguns também bloqueiam outros transportadores(NET). Os mais específicos para o SERT são: Citalopram e Escitalopram. São os fármacos mais indicados para quem tem doenças cardiovasculares. Efeitos colaterais: - Náuseas, vômitos e cefaleia (↑ 5-HT periférica): estes efeitos desaparecem em torno de 2 semanas.- Distúrbio do sono. - Disfunção sexual (retarda a ejaculação e diminui a libido) Vantagens sobre os iMAO ou ADTCs: menos efeitos colaterais. Ausência de efeitos anticolinérgicos (exceto com a PAROXETINA) e cardiovasculares (podendo, inclusive ser utilizada em cardiopatas), baixa toxicidade e não apresentam interações com alimentos como os iMAOS. Usos clínicos: depressão, TOC (grupo de escolha), bulimia nervosa, ejaculação precoce e transtornos da ansiedade grave (pânico, fobia social, TAG,...). 4) ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS - AMOXAPINA (Asendin®) - TRAZODONA (Desyrel®) - VENLAFAXINA (Efexor® - Venlift®) - DULOXETINA (Cymbalta®) - MAPROTILINA (Ludiomil®) - BUPROPIONA (Zyban® - Zetron® - Wellbutrin®) - MIRTAZAPINA (Remeron®) Mecanismo de ação: é um grupo heterogênio, cujo mecanismo de ação é pela inibição da receptação de NOR e/ou 5-HT e outros mecanismos adicionais, diferentes entre as drogas (alguns serão discutidos). As respostas também são demoradas como nos ADTs e iMAOs e os efeitos colaterais e toxicidade aguda variáveis, porém, menos que dos ADTs. � BUPROPIONA: inibe receptação de NOR e DA, aumentando transmissão dos mesmos. FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN Possui metabólitos semelhantes a anfetamina, podendo causar vertigem, insônia, anorexia, convulsões. É a droga que possui menores efeitos sexuais dentre as estudadas como antidepressivos e também é útil para tratamento de cessação de tabagismo, melhora sintomas da TDAH e usado off-label para emagrecimento. � DULOXETINA: inibe receptação de NOR e 5-HT. Também útil no tratamento da dor neuropática, fibromialgia, além da depressão e transtornos da ansiedade graves. � NEFRAZODONA / TRAZODONA: antagonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT2, envolvidos no aumento da ansiedade. Bloqueadores fracos da captação de 5-HT. Seus efeitos colaterais são: sedação, confusão mental, hipotensão (bloqueio de α1 e H1 receptores). 5) INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA - ATOMOXETINA - REBOXETINA (Prolift®) - NISOXETINA São drogas pouco utilizadas atualmente, o mecanismo de ação, como o nome diz, é através da inibição da proteína transportadora de noradrenalina, a NET, impedindo assim a receptação da NOR. USO TERAPÊUTICO DAS DROGAS: - Depressão: todas as classes→1ª ESCOLHA: inibidores seletivos da recaptação de serotonina ou atípicos. 2ª ESCOLHA: tricíclicos. 3ª ESCOLHA: Inibidores da MAO. - Desordens de ansiedade: inibidores seletivos da recaptação de serotonina, venlafaxina, duloxetina (Síndrome do pânico, fobia social). Hiperatividade, déficit de atenção: Imipramina, Desipramina, Atomexetina (tricíclicos) – são drogas de 2º escolha. - Outros distúrbios: bulimia nervosa: fluoxetina, inibidores seletivos da 5-HT; dor crônica: venlafaxina, antidepressivos atípicos. - Tabagismo: Bupropiona.
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