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~ ...--.---~~~--:-.---===== 1972 por McCombs e Shaw no artigo "The Agend(} Function of Mass Media". Nas decadas de 70 e 80, di autores como Cook, Tyler, Goetz, Gordon e outros vao zar pesquisas e aperfeiyoar os pressupostos da funyao agendamento dos meios de comunicayao. Ao longo de mais de 60 anos, portanto, a Corrente ricana dos Estudos sobre os Efeitos conheceu uma _ evoluyao em termos do aparato teorico a ser utilizado nos. tudos. De urn modele de maxima simplicidade, que urn processo linear partindo dos meios, onipotentes, a tores passivos e isolados, determinando efeitos diretos, gou-se a modelos que passaram a considerar a influencia. diversos outros fatores: as caracteristicas psico16gicas receptores, as formas de organizayao das mensagens, a de relac;oes interpessoais em que os individuos se inseren elementos extra media que atuam de forma concomitante meios de comunicayao, os usos que as pessoas fazem meios, e a natureza da ayao dos meios na sociedade. A evoluyao da pesquisa norte-americana e marcada, tanto, pela consolida<;ao de uma grande perspectiva formalizada pela Teoria Matematica e pela "ques ma" de Lasswell, e que se desenvolve em estudos mais racionais (voltados para os elementos intemos do pro"""" comunicativo e sua otimiza<;ao quantitativa), estudos cup ados com as fun<;oes da comunicayao (de orientac;ao ca, voltados para a compreensao do todo social a partir de modele organismico de inspirac;1io biologica) e, . preocupados com a questao dos efeitos, que tern origem modele hipodermico e alcanyam sua superayao. 13 a principalmente de con'entes de estudo exteriores a Communication Research que os estudos norte-amencanos vaG desconstruir 0 paradigma hipodemlico, reabilitando rentes de estudo com pressupostos diversos (tais como Escola de Chicago e a Escola de Palo Alto) e . novas frentes de estudo (como as fonnulayoes do setting e dos usos e gratificar;oes). 130 2. A ESCOlA DE FRANKFURT Francisco Rudiger* Chama-se de Escola de Frankfurt ao coletivo de pensa e cientistas sociais alemaes formado, sobretudo, por HWUVL Adorno, Max Horkheimer, Erich Fromm eHerbert e. Devemos aos dois primeiros a cria9ao de um con ito que se tomou central para os estudos culturais e as ana Uses de midia: 0 conceito de industria cultural. Walter Ben jamin e Siegfried Kracauer, embora situando-se na periferia daquele grupo, nao sao menos importantes, podendo ser con tados, junto com os demais, entre os criadores da pesquisa critica em comunicayao. Considerado atualmente como herdeiro espiritual dos fundadores e principal expoente da chamada segunda gera yao da Escola, Jiirgen Habermas tambem e autor que deve ser lembrado neste contexto nao so par seu estudo, hoje chis sico, sobre a esfera publica como por sua ambiciosa tentativa de eriar uma teoria geral da ayao comunicativa. Deixaremos de lado, no que segue, essa segunda fase de sua trajetoria de investigayao. Referindo-nos aos pioneiros, o primeiro ponto que devemos levar em conta, para bern en tende-los, eque nenhum deles pertenceu, de maneira autoc tone, ao campo da comunicayao. Todos eles foram pens ado res independentes, cujos interesses se estendiam por diver *Professor da PUCRS. 131 , " sos campos, do saber. Agmpando-os havia apenas 0 filos6fico e politico de elaborar uma ampla teoria critica sociedade. Os frankfurtianos trataram de urn leque de assuntos . compreendia desde os processos civilizadores modernos e destino do ser humano na era da tecnica ate a politic a, a a musica, a literatura e a vida cotidiana. Dentro desses e de forma original e que vieram a descobrir a crescente portancia dos fenomenos de midia e da cultura de na formayao do modo de vida contemporaneo. Destarte e facil entender por que des se negaram a tar 0 principio de que os fenomenos de comunicayao . ___, tuem objcto de ciencia especializada ou podem ser de maneira independente, defendido por muitos pesqu res da area. Segundo seu modo de ver, as comunicayoes adquirem sentido em relayao ao todo social, do qual sao tcs de mais nada uma mediayao e, por isso, precisam ser tudadas aluz do processo hist6rico global da sociedade. Partindo das teses de Marx, Freud e Nietzsche, res que provocaram uma profunda mudanya em nossa neira de ver 0 homcm, a cultura e a sociedade, a principal refa a que se dedicaram os frankfurtianos consistiu, almente, em reeriar suas id~ias de urn modo que fosse de esclarecer as novas realidades surgidas com 0 mento do capitalismo no seculo XX. A colaborayao por elas dada acomunicayao, como rido, surgiu neste contexto. 1. DialHica do Iluminismo e industria cultural Horkheimer e Adorno criaram 0 conceito de i_____.__ " cultural e propuseram as linhas gerais de sua critica ao des~ cortinarem 0 que chamaram, no titulo de sua obra principal, de Dial6tica do Iluminismo. Era 1944, a 2a Guerra estava em 132 Aescola de . A revolu<;ao social em que acreditavam fracassara em as partes, e em todas as partes ja nao havia mais a figu do Estado liberal. Na Europa, a barbarie nazista ainda nao terminara, e 0 socialismo consumira-se no despotismo buro r.ratico. Refugiados nos Estados Unidos, os pensadores do puderam perceber porel11 que, nao obstante distintas, LllillU""m nos regimes formalmente democraticos havia ten dencias totalitarias. Nas sociedades capitalistas avan9adas, defenderam, a populayao e mobiIizada a se engajar nas tarefas necessarias a manutenyao do sistema economico e social atraves do con estetico massificados, articulado pela industria cultu ral. As tendencias acrise sistemica e deseryao individual sao combatidas, entre outros meios, atraves da explorayao mer cantil da cultura e dos processos de forma9ao da consciencia. Assim sendo, acontece porem que seu conteudo libertador se ve [reado e, ao inves do Conhecimento emancipador em rela . yao as van as formas de dominay3.o, as comuuicayoes se veem acorrentadas aordem social dominante. Visando entender melhor 0 ponto, convem explicar 0 que os autores da Escola entendiam por Dialetica do Ilumi-: nismo. Segundo eles, os tempos modemos criaram a ideia de que nao apenas somos seres livres e distintos como podemos construir uma sociedade capaz de permitir a todos uma vida justa e realiza9ao individual. Noutros termos, a modernidade concebeu UIn projeto coletivo cujo sentido original era liber tar 0 homem das autoridades miticase das opressoes sociais, ao postular sua capacidade de autodetennina<;ao. A historia do seculo passado mostrou porem que esse projeto era portador de contradic;oes intemas, carregava con sigo varios problemas, que estao na base de muitos conflitos politicos, crises economicas, angustias coletivas e sofrimell tos existenciais conhecidos desde entao pela humanidade. Isto e, 0 progresso economico, cientffico e tecnol6gico nao pode ser separado da criayao de novas sujeicoes e, portanto, , , FrQndsco Riidiger do apa.recimehto de uma serie de patologias cuit;urais, que timam amplas camadas da sociedade. o pressuposto do desenvolvimento de urn ser humane clarecido e autonomo, viram, era uma organiza<;ao econorruv e politica cujos interesses sistemicos acabaram sendo fortes e lograram predominar socialmente. A figura da . tria cultural e, segundo os pensadores, uma prova disso, como os meios do Iluminismo progressista podem, no .. se transformar em expressoes de barbarie tecnologica. [Hoje em dial 0 aumento da produtividade \;;l;UUUlHlvi que por um lado produz as condi<;oes para um mats justo, confere por outr~ lado ao aparelho tecnico aOs grupos sociais que 0 controlam uma superiorida< imensa sobre 0 resto da popula<;ao. 0 individuo se completamente anulado em face dos poderes et'f\nA cos. Ao mesmo tempo, estes elevam0 poder da :lu.... ,\..uc de sobre a natureza a um nivel jamais imaginado. parecendo diante do aparelho a que serve 0 individuo ve, ao mesmo tempo, melhor do que nunca provido ele. Numa situa<;ao injusta, a impotencia e a dirigi de da massa aumentam com a quanti dade de bens a destinados. A eleva<;ao do padrao de vida das classes feriores, materialmente consideravel e socialmente timavel, reflete-se na difusao hipocrita do espirito. verdadeira aspira<;ao e a hega<;ao da reifica<;ao. Mas necessariamente se esvai quando se ve concretizado um bem cultural e distribuido para fins de consumo. enxurrada de informayoes precis as e diversoes cas desperta e idiotiza as pessoas ao mesmo (Adorno e Horkheimer [1947], 1985, p. 14-15). 2. A obra de arte na era da tecnica Kracauer e Benjamin se inserem nesse contexte \.<V111\:.(· uma especie de proto-frankfurtianos, na medida em que puseram ser proprio do progresso tecnico uma capacidade revolucionar a arte. Os pensadores manifestaram ~""....{" 134 Aescola de Frankfurt -,! pela id6ia de cultura burguesa e simpatia pelas novas formas i..? de arte tecnologicas. Acreditavam que as condiyoes essen ~ ciais da maquina e do modo de vida urbano estavam criando uma est6tica em que se revelam urn novo tempo e urn novo horizonte cultural para a humanidade. As experiencias sovi6ticas feitas com 0 cinema, radio e artes gnificas em seguida arevoluyao, levaram-nos a enten .der que as tecnologias de comunicac;ao em surgimento esta yam promovendo uma transformac;ao no modo de produ<;ao e consumo da arte. Os privih~gios culturais que durante tanto a burguesia havia usufruido estavam em vias de ser derrubados, bastando apenas que as massas tomassem 0 con trole dos meios de produyao. Para ambos, 0 capitalismo criara sem quereras condi .. 90es para uma democratizayao da cultura, ao tomar os bens . culturais objeto de produc;ao industriaL A socializa<;ao dos meios de consumo estava virtualmente completada com a distribuic;ao em massa de discos, filmes e impressos. As ex periencias est6ticas assim postas em circulac;ao sem duvida eram pobres, devido aexplorac;ao desses meios pelo capital. Em ultima instancia, os pens adores confiavam porem que, isso mesmo, as massas fossem ainda mais longe em seu processo de conscientizayao e, ao fazer a revoluyao, pudes sem passar a dirigir os meios de produ<;ao desses bens de acordo com sua vontade e seu projeto de sociedade. Ninguem negaci que, na maior parte dos filmes atuais, tudo e um tanto irrealista. Eles dao urn tingimento cor-de-rosa aos mais negros cemirios. Porem, nao epor isso que eles deixam de refletir a sociedade. Ao contnirio, quanta mais incorreta ea fonna que des mostram it superficie das coi sas, mais corretos eles se tornam e mais claramente des espelbam 0 mecanismo secreto da sociedade. Na realida de nao e freqiiente 0 casamento de uma copeira com urn dono de Rolls Royce. Porem, nao efato que todo 0 dono de Rolls Royce sonha que as copeiras sonham em ter 0 seu status? As fantasias estupidas e irreais do cinema sao 00 devaneios da sociedade, principalmente porque os cam em primeiro plano como de fato 0 sao e porque, sim, dao fonna a desejos que, noutras ocasiOes, sao midos (Kracauer [1928], 1995, p. 292). Walter Benjamin descnvolveu parte dessas id6ias em ' ensaio muito citado na area de comunicayao: "A obra de na era de suas tecnicas de reproduyao" ([1935],1987). A mosa tese sobre a perda da aura da obra de arte encontra-: nele. Para Benjamin, as tecnologias de comunicayao depois da fotografia se caracterizam pela sua reprodutlb1l1C de. 0 cinema eo nidio, em seu tempo, como hoje os ap ..... VUJ de videocassete e as plataformas de videojogos, ensejam periencias esteticas geradas a partir de meios tecnicos tra-esteticos. Afinal,o filme, 0 video eo CD, ao contrario da . da musica ou uma peya teatral, nao sao em si mesmos de arte. Projetam numa forma superior urn processo que, temposmodemos, comeyou com a imprensa e que faz que a palavra, 0 som e a imagem, dotados ou nao de urn pecto estetico, passem a existir para 0 grande publico mente na medida em que sao processados e rpnrr., tecnicamente. As tecnicas de reproduyao destacam do dominio da diyao 0 objeto reproduzido. Na medida em que cam a reproduyao, substituem a existencia unica da 0 por uma existencia serial. E na medida em que essas nicas pemlitem it reproduyao vir ao encontro do dor, em todas as situiuioes, elas atualizam 0 objeto duzido. Esses dois processos resultam em urn . abalo da tradiyao, que constitui 0 reverse da crise a renova<;ao da humanidade. Eles se relacionam . mente com os movimentos de massa, em nossos Seu agente mais poderoso e0 cinema. Sua funyao nao e concebivel, mesmo em seus trayos mais positi e precisamente neles, sem seu lade destrutivo e catinii co: a liquida<;ao do valor tradicional do patrimonio da cultura (Benjamin [1935], 1987, p. 168-169). 136 Aescola de Frankfurt t;~i . ' 0 resultado desse processo, defendeu 0 pensador, e a ~dis~oluyao da aura que cercava a velha obra de arte no que ,0 -~ de experiencia do shock. As obras de arte possuiam §~ 7- t""dimensao de culto em virtude de seu caniterunico e ar- '!::'~ u;;"'uw..... A representayao teatral, ° recital, a pintura ou a es geravam mitologias porque estavam fora do alcance massas. A sociedade burguesa nao fez mais do que re essa dimensao, ao relaciona-Ia com 0 conceito de ge o individual. . , As tecnologias modemas promovem uma desmistifica dessas nOyoes, que apenas serviam para legitimar as rei HlulvayOeS de mando da burguesia. Reproduzindo em serie musica, a pintura e a palavra, para nao falar da criayao de artes visuais, elas tomam essas expressoes cotidianas~ sintese, estabelecem um relacionamento entre a arte e 0 ~h""'ULU. industrial, do qual passara a depender a sobreviven cia das massas e em conexao com 0 qual os meios tecnicos poderiam vir a constituir urn fator de melhoramento estetico e intelectual do conjunto da populayao. Theodor Adorno sustentou forte polemica com essas c outras id6ias de Benjamin e Kracauer. 0 pensador jamais ne gou que os meios tecnicos possuissem um potencial demo 'cnitico e progressista. A leitura critica a que submeteu essas levou-o porem a defender que nao era nessadire<;ao que se desenvolveriam. Segundo seu modo de ver, a pretendida democratizayao da cultura promovida pelos meios de comunicayao emotivo de embuste, porque esse processo tende a ser conti do pela ,sua explorayao com finalidadcs capitalisticas. A revoluyao . que Gonstituiria seu controle pelas massas pressupoe que as pessoas sejam dadas condi90es materiais e espirituais que, todavia, transcendem a capacidade dos meios e que, na situa ~ao atual, esses proprios meios obstaculizam, por terem sido colocados a servi90 de uma industria cultural que se conver teu em sistema. J{7 Fra~cis€O<Riirliger 3. A cultura como mercadoria Horkheimer, Adorno, Marcuse e outros referiram-se o termo industria cultural a conversao da cultura em doria, ao processo de subordinayao da consciencia a lidade capitalista, ocorrido nasprimeiras decadas do XX. Em essencia, 0 conceito nao se refere pois as produtoras, nem as tecnicas de comunicayao. A imprensa, os computadores, etc., em si mesmos nao sao dustria cultural: essa e, sobretudo, urn certo usa dessas nologias. Noutras palavras, a expressao designa uma social, atraves da qual a produyao cultural e intelectual a ser orientada em funyao de sua possibilidade de no mercado. No principio, 0 fen6meno consiste em produzir ou tar obras de arte segundo urn padrao de gosto bern e desenvolver as tecnicas para coloca-Ias no mercado.A . lonizayao pela publicidade pouco a pouco 0 tomou mo de mediayao estetica do conjunto da produyao momenta este em que a produyao cultural toda e passar pelo filtro da midia enquanto maquina de public Nessa fase, a pratica da industria cultural converte-se rem em sistema que a tudo abarca e em que todos os s se harmonizam reciprocamente. A produyao estetica gra-se a produyao mercantil em geral, permitindo 0 mento da ideia de que 0 que somos depende dos bens que demos comprar e dos modelos de conduta veiculados meios de comunicayao. ' Em sintese, aparecem poderosas empresas mUHU.J.mu conglomerados privados, que passam a conferir urn cada vez maior as tecnologias de reproduyao e difus bens culturais, encaixando-as na estrategia de utillzar mente a capacidade de produyao de bens e serviyos de do com 0 principio do consumo estetico massificado. o mercado dos bens culturais assume novas fun<;oes configura<;:ao mais ampla do mercado de lazer. Outru<.II, Aescola de Frankfurt os valores de troca nao alcan<;:avam nenhuma influencia sobre a qualidade dos proprios bens. A consciencia es pecifica desses setores so se mantem agora, no entanto, em certas reservas, pois as leis do mercado ja penetra ram na substancia das obras, tomando-se imanente a elas como leis estruturais. Nao mais apenas a difusao e a escolha, a apresenta<;:ao e a embalagem das obras, mas a propria cria<;:ao delas enquanto tais se orienta, nos seto res amp los da cultura de consumo, conforme os pontos de vista da estrategia de vend as no mercado. Sim, a cul tura de massa recebe 0 seu duvidoso nome exatamente por conformar-se as necessidades de distra<;:ao e diver sao de grupos de consumidores com urn nivel de forma <;:ao relativamente baixo, ao inves de, inversamente, for mar 0 publico mais amplo numa cultura intacta em sua substancia (Habermas [1962], 1984, p. 195). Dessa forma, os pensadores do grupo foram os primei /)s a ver que, em nosso seculo, a familia e a escola, depois religiao, estao perdendo sua influencia socializadora para empresas de comunicayao. 0 capitalismo rompeu os li da economia e penetrou no campo da formayao da .a, convertendo os bens culturais em mercadoria. velhissima tensao entre cultura e barbarie, arte seria e leve, foi superada com a criayao de uma cultura de mer em que suas qualidades se misturam e vern a confor urn modo de vida nivelado pelo valor de troca das pes ~~ .-: e dos bens de consumo. o problema nao e apenas 0 fato de 0 conhecimento, a lite e a arte, senao os proprios seres humanos, se tomarem de consumo. No limite, acontece uma fusao entre es c()nceitos. As obras de arte e as proprias ideias, senao as 5soas, sao criadas, negociadas e consumidas como bens cada vez mais descartaveis, ao mesmo tempo em que estes sao produzidos e vendidos levando em conta principios de cons truyao e difusao estetica e intelectual que, antes, eram reserva dos apenas as artes, as pessoas e ao pensamento. 139 138 Francisco IUidiger o prejuizo, porem, e apenas desses ultimos, porque em mll caso como no outro predominam os criterios micos. A publicidade nao por acaso e 0 elixir da ir.",u~u. cultural, se entendennos que, por esse ultimo conceito, ta-se em ultima instancia de definir criticamente a de marketing e 0 uso que esse faz dos meios de 4. A coloniza(j:ao da esfera publica Os frankfurtianos da primeira gera<;ao ocuparam-se. bretudo com os fatores eeonomicos de formayao e 0 signifi, do sociol6gico da industria culturaL A percepyao de que a . tura de mercado, embora pretenda ser apolitica, [,"nrf'QPnt<l mesma uma forma de controle social ou mando nal nao eum dos pontos de menor interesse de seu pvll~<lm to, como fica patente nos primeiros escritos de Habennas. Este pensador entendeu bem que 0 diagn6stico sobre tuac;ao social e historica por ela criada e 0 ponto de para explicar a crise da vida politica que ocorre em nossas ciedades. Para de, de fato, a creseente apatia ou desinter~ da populayao para com a a9ao politica, senao pela prop"';" democratica, e correlata adestruiyao da cultura como so de fonna<;ao libertador e de liberayao de potenciais co vos que tem Lugar na era de sua conversao em Em Mudam;:a estrutural da esjera ptlblica, ele mostra uma parceia importante da$ conquistas e liberdades que frutamos hoje se deveu aformayao de uma esfera pu em que sujeitos em principio livres se reunem para deliberar sobre seus interesses comuns. A economia de cado criou em seus primordios um espa<;o publicQ do pela circulayao de midia impressa que pennititl ~ sia desenvolver uma conscienciacritica em relayao as dades tradieionais, encamadas no estado e na Igreja. Entretanto, a expansao do aparelho de estado e do economieo ocorrida no ultimo seeulo rompeu com 0 140 Aescolo de J;:;& librio em que se sustentava essa forma de sociabilidade, 08 ':?-u GJ -<:.manda 0 papel da midiaao mesmo tempo que sua 7:!:!tecnologica. <* -, Em comparayao com a imprensa da era liberal, os meios de comunicayao de massas alcanyaram, por urn lado, uma extensao e uma eficiicia incomparavelmente supe riares e, com isso, a propria esfera publica se expandiu. Por outro lado, assim,. eles tambem foram cada vez mais desalojados dessa esfera e reinseridos na esfera, outrora privada, do intercambio de mercadorias; quanto maior se tomou sua eiica.cia jomalistico-publicitaria, tantomais vulneravel eles se tomaram apressao de determinados interesses privados, sejam individuais, sejam coletivos (Habermas [1962], 1984, p. 221). Dessa fonna, a esfera publica passou a ser colonizada pelo 'l11Y>;C'm~ promovido pelos interesses mercantis e pela pro JaM"uua manipuladora dos partidos politicos e dos estados . como no caso do nazifascismo mas, tambem, dos regImes democraticos de massas (Estados Unidos). Segundo Habermas, 0 conteudo crftico que essa esfera principio possuia viu-se pois foryado a ceder terreno e a . 0 surgimento de novas realidades. A figura do cida foi eclipsada pelas do consumidor e do contribuinte. A do consenso politico pelo livre uso da razao indivi teve de retroceder perante 0 emprego da midia a serviyo razao de estado e a conversao da atividade politica em ob de espetaeulo. Comunica~ao e sociedade A prop6sito, convem notar que os proc;essos acima refe nao se daD, segundo os pensadores da Escola, porque a ',!11idia teria 0 poder de passar idCias para nossa cabe<;a, como muitas vezes nos edito. A economia de mercado, a tecnolo e a cicncia estao criando urn sistema de vida cada vez mais 141 Francjsco. Rillliger Aescolo de racional e desiludido. As pessoas sabem sempre mais do aconteee it sua volta e, tornadas realistas pela disponibillUl de de infonna<;ao, creem cada vez menos nas id6ias. te, consideram como valor sobretudo 0 poder de decisao dispoem em relaC;ao ao manejo de suas vidas, entre a maioria, 0 exercicio do poder de compra. As comunicac;oes sao importantes nao porque ideologias, mas sim porque, se de um lade fornecem as ma<;oes que colaboram para seu esclarecimento, de outro porcionam 0 entretenimento que elas procuram com a scm 0 qual talvez nao pudessem suportar 0 crescente cantamento da existencia. A conscicncia dos consumidores esta cindida gracejo regulamentar, que Ihe prescreve a industria tural, e uma nem mesma muito oculta duvida de seus neficios. A ideia de que 0 mundo quer ser enganado nou-se mais verdadeira do que, sem duvida, jamais tendeu ser. Nao somente os homens eaem no como se diz, desde que i8S0 lhes de uma satisfayao, mais fugaz que seja, como tambem desejam essa tura que des proprios entreveem; esforyam-se por charem os olhos e aprovam, numa especie de prezo, aquilo que lhes ocorre edo qual sabem por fabricado. Sem 0 cOl1fess-ar, pressentem que suas se lhes tomam intoleniveis tao logo nao mais se a satisfayoes que, na realidade, nao 0 sao (Adorno [1 1986, p. 96). Tambem neste aspecto, porem, conviria observar principal nao esta no conteudo dos meios mas no fato pessoas estarem a eles ligados como bens de consumo. Adorno, os momentos de lazer do homem moderno sao mentos em que preenche sua consciencia de maneira cada. A preocupac;:ao com 0 que a televisao, 0 cinema, 0 dio e, agora, os computadores veiculam, deveria ser menor do que a preocupayao com 0 fato de que as pessoas sentem obrigadas a passar seu tempo livre em sua 142 0 ;tJ n1ii'a. A programa<;ao transmitida, muitas vezes avaliada cri Q ~;;.tic~mente, e bern menos importante do que suas fun<;oes de ~ 'eencher um ambiente, matar 0 tempo ou entreter 0 indivi com 0 equipamento. Diversos pens adores do assunto afirmam que os que con a midia manipulam a consciencia, e disso temos mui provas, ainda que nada assegure seu sucessonesse tipo de vll,preitada. Porem, a possibilidade s6 existe porque, embora objetivos distintos, os que controlam a midia nao sao, gera1, diferentes dos que a consomem. (Objetam-l1os] que superestimamos grandemente 0 po der de doutrinayiio dos meios de informayao e de que as pessoas sel1tiriam e satisfariam por si as necessidades que Ihes sao agora impostas. A objeyao foge ao amago da questao. 0 precondicionamento [para tanto] nao co~ melfa com a produyao em massa de radio e televisaoe com a cel1tralizayao de seu contrale. As criaturas entram l1essa fase ja sendo de ha muito recepticulos precondici onados; a diferenya decisiva [em relayao a eIe] esta no aplanamento do contraste (ou conflito) entre as necessi dades dadas e as possiveis, entre as satisfeitas e as insa tisfeitas (pOl' nossa atual sociedade] (Marcuse [1964], 1969, p. 29). A pratica da industria cultural segue a linha da menor . nao deseja mudar as pessoas: desenvolve-se com enos mecanismos de oferta e procura, explorando ne ~".:>sidades e predisposiyoes individuais que nao sao criadas eIa, mas, sim, pelo processo hist6rico global da socie capitalista. .6. Observa~oes finais purante varios anos, essas id6ias foram tratadas com vis .tag grossas por divers os escritores e intelectuais. Depois de terem gerado simpatia, par desmascararem a face light, riso 143 . Francisco nha edivert ida da domina9ao, passaram a ser lid'as como duto de urn enfoque totalmente pessimista sobre 0 UV1UI;;1I atual e, assim, de pouca serventia para os que desejavam dar a situayao vigente ou, ao eontrario, pragmaticamente seram-se de acordo com ela. Atualmente, verifiea-se urn processo de reavaliayao serio, baseado em estudos mais profundos, amp los e dos da teoria critiea. a entendimento simplista de suas como expressao de urn pensamellto apocaHptico vai pass do. As pessoas mais lucidas e critieas comeyam a ver que tas das teses frankfurtianas valem hoje em dia muito mais que no tempo em que foram fonuuladas, embora precisem revisadas e atualizadas em varios aspectos. A leitura apressada desses autores pretende que eles ram contra a cultura popular, a midia e a tecnologia. tanto, convem notar que entre ser contra e ser critico ha enonne diferenya. A primeira atitude se baseia na f6 e vontade, muitas vezes justa, de alterar uma situayao e urn novo estado de coisas. A reflexao critica, ao nao tern por objetivo primeiro provar alguma tese mas, nos fazer pensar e, por ai, nos tomar mais conscientes mesmo tempo dos limites e potenciais de mudanya tes na realidade. Os pensadores frankfurtianos criticaram a cultura massa nao porque ela e popular mas, sim, porque boa p dessa cultura conserva as m?-rcas das violencias e da exp rayaO a que as massas tern sido submetidas desde as . da historia. A linguagelu rebaixada, 0 menosprezo da gencia e a promov3.o de 110SS0S piores instintos, senao brutalidade e estupidez, que encontramos em tantaS soes da midia, sem duvida se devem ao fato de que ha tas pessoas sensiveis a esse tipo de estimulo mas, e isso e que importa, tal fato nao ealgo natural nem, tambem, criado pela comunica<;ao. 144 Aescola de Frankfurt JI <;- / ..... .. A explicayao para tanto deve ser buscada nos seculos de 1 g . dominayao a que elas tern sido submetidas e nas profundas .~ ~ desigualdades na divisao (economica e cultural) da riqueza Z ~ que caracterizam a historia da humanidade. A pnitica da in dustria cultural, via de regra, nao mais faz do que explorar . esse fundo de cultura com objetivos economicos.e, assim, re fory3.-10, ao conferir-lhe uma legitimayao social e estetica que, ate pouco tempo, era impensavel. a primarismo artistico, moral e intelectual que, hegemo nicamente, rege as ayoes da midia tern raiz na forma como se organiza a sociedade. Partindo dessa premissa, toma--se mais facil entender tambem por que os pensadores em foco nao fo ram contra a tecnologia: criticaram, sim, 0 seu uso, pelo fato de que, ao inves do bern comum, esta a serviyo do 111iIitarismo, da razao de estado e do poder economico organizado. De resto, convem notar que suas critic as se pretendcm dialeticas. as frankfurtianos se opuseram apnitica de pesqui sa orientada para servir aos interesses do poder estatal e das eropresas de comunicayao. A preocupayao central dos pcnsa dores nao era melhorar 0 conhecimento dos processos com que se envolvem os meios e, assim, facilitar seu uso e explora yao. Desejavam, antes de mais nada, problematizar a.sua ex is tencia e seu significado do ponto de vista critieo e utopico. as progressos tecnicos com os quais a conversao da in dustria cultural em sistema se tomou possivel e a liberayao de energias esteticas que essa ultima provoca contem urn potencial transfOlmador que jamais pretenderam negar e que, apesar de tudo, irrompe ate mesmo nas suas expres soes mais primarias. Por isso tudo, a critica aind"6stria cul . tural e uma pnitica que, para eles, visava levar-nos a pensar sOQre seu carater predominantemente regressivo na socieda de atual, tendo em mente 0 potencial criativo e inovador que os meios de que eia se utiliza podem vir a ter em uma forma mais avallyada de sociedade. 145 FrancisC9 Aescola de Refed~ncias bibliognificas . . Jf\.:, Martin. La imaginaccion dia/ectica. Madri: Taurus, 1978. Historia do Instituto de Pesquisa Social, das origens ate 1950. a) .Fontes primarias MATOS, Olgaria. A Escola de FrankJurt. Sao Paulo: Modema, ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max. DiaIetica do 1996. recimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. Introdur;iio acessivel, mas seria, as principais teses deJendidas ClQssico da teo ria social e obra de leitura exigente, contem 0 pela Escola de Frankfurt. moso capitulo sobre industria cultural ("0 Iluminismo WIGGERHAUS, Rolf The Frankfurt School. Cambridge (MA): mistificac;ao das massas "). MIT Press, 1997. o BENJAMIN, Walter. Magia e tecnica, arte e politica. Sao Pesquisa extensa e cuidadosa sobre a trajetoria historica e signiBrasiliense, 1987. ficado intelectual da Escola de Frankfurt: a melhor escrtta ate 0 Coletdnea reunindo, como diz 0 titulo, os principals ensaios momento. arte e tecnologia escritos pelo pensador na decada de 3O. HABERMAS, Jiirgen. Mudanc;a estrutural da esfera pttblica. Comunicar;ao e industria cultural de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. COOK, Deborah. The Culture Industry revisited. Lanham (NG): Referencia obrigatoriapara todos as que desejam en tender Rowman & Littlefied, 1996. mac;ao historica e Jum;:lio politica da midia no mundo contemnc Resume os debates anglo-saxoes mats recentes e argumenta posi rdneo. tivamenteem relac;iio a teoria da industria cultural adorniana. KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler. Rio de Janeiro: RUDIGER, Francisco. Comuniea9iio e teo ria erfttea da sociedahar,1995. de. Porto Alegre: PUCRS, 1999. Histaria cultural do cinema alemao durante a Republica de . Esforr;o de reeonstrur;ao dos Jundamentos da critica a industria mar; nao tem relac;iia com 0 primeiro pensamento learico cultural proposta por Adorno e a Escola de Frankfurt; des en autor. volve os topicos aqui assinalados e traz ampla bibliografia. MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial. Rio Janeiro: Zahar, 1969. Documento de protesto da gerac;ii.o de 60, talvez se aplique ao que ocorre hoje do que 0 que acontecia no tempo em que escrito. b) Escola de Frankfurt FREITAG, Barbara. A teo ria critiea: ontem e hoje. Sao P Brasiliensc, 1986. Panorama injormativo sobre a evoluc;iio da tearia eritica, das gens ate a atualidade. 146 147 - Francj.sco HERBERT MARCUSE , Cultura e ideologia no capitalismo avanr;ado (Excertos para reflexao) A cu/tura industrial avanr;ada emais ide%gica que sua predecessora [burguesa}, visto que, a mente, a ideologia esta no proprio processo produr;ao. 0 aparato produtivo e as mercado que e/e produz vendem ou impoem 0 sistema cial como um todD. Os meios de transporte e municar;ao em massas, as mercadorias casa, mento e roupa, a produr;ao irresistfve/ da de diversoes e informar;8.0 trazem consigo e habitos prescritos, certas rear;oes inte/t: emocionais que prendem os consumidores ou menDs agradavelmente aos produtores e, a ves deles, aD todo. Os produtos doutrinam e pulam; promovem uma fa/sa consciencia imune it sua fa/sidade ( ... ) aD se tornar um esti/o vida (A ideologia da sociedade industrial, p. 32) Em troca dos artigos que enriquecem a vida os indivfduos vendem nao so 0 seu traba/ho, tambem seu tempo livre. A vida me/hor econt lanr;ada pe/ocontro/e total sobre a vida. As soas residem em concentrar;oes habitacionais possuem automoveis particulares com os porem ja nao podem escapar para um mundo rente. Possuem gigantescas geladeiras de alimentos conge/ados. Tem duzias de revistas que esposam os mesmos ideais. de inumeras opr;oes e inventos que sao todos mesma especie, que as mantem ocupadas e traem sua aten9ao do verdadeiro problema - que a consciencia de que poderiam trabalhar . determinar suas proprias necessidades e .. . r;oes. A ide%gia atua/ reside em que a produr;fio o consumo reproduzem e justificam a rinminAd (Eros e civiliza9ao, p. 99). 148 Aes(olo de .Alguns dados a mais sobre este tema -< ::':"! r:: {:~ ,-!'.1. Instituto de Pesquisas Sociais (Frankfurt, 1930) Fundado em 1923, 0 Instituto tornou-se, de 1930 em di centro de reuniao dos pensadores que viriam a rece mais tarde, 0 nome de Escola de Frankfurt. Fechado nazistas em 1933, estabeleceu-se' quatro anos mais nos Estados Unidos. 0 primeiro edificio construido a/berga-/o foi destruido pelos bombardeios a/iados du a 2fl Guerra Mundia/. Walter Benjamin (1892-1940) A fascinar;ao de sua pessoa e obra so deixou a al temativa da magnetica atrar;ao ou da rejeir;ao hor:' rorizada. Sob 0 o/har de suas palavras, tudo se metamorfoseava, como se tivesse se tomado radio ativo (Theodor Adorno). Siegfried Kracauer (1889-1966) Relacionou-se com os mass media de uma forma que jamais foi tao severa quanto sua reflexao so bre seus efeitos poderia nos levar a esperar (. . .) pois (. . .) possufa a/go do cinemeiro ing{muo, que se satisfaz apenas com 0 ate de ver as imagens na tela (Theodor Adorno). 4. Theodor Adorno (1903-1969) Adorno foi um dos poucos que levaram adiante a teoria marxista em suas mais profundas intenr;oes. Atraves de sua obra, tornou visiveis, em todos os domlnios da cultura, a dinamica da sociedade ca pitalista e sua negar;iio (Herbert Marcuse).
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