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MOACYR, Primitivo. O ensino comum e as primeiras tentativas de sua nacionalização na Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul (1835-1889). Porto Alegre. Of. Graf. Da Livr. do Globo. 1940. Separata dos anais do III Congresso Sul-Riograndense de Historia e Geografia. Porto Alegre. Localização na BN: II – 288, 6.15n1 Transcrição na integra: Primitivo Moacyr Na Assembléia Constituinte de 1823, em agosto, a proposito de um requerimento da Camara municipal de Aquiraz (Ceará) pedindo uma providência para a instrução de seus habitantes, tornou-se geral e vivo o debate sobre a urgente necessidade de criação de escolas de primeiras letras. Representantes do Ceará, Alagôas, Bahia, S.Paulo, Santa Catarina, todos depunham sobre o estado de miseria do ensino local. O deputado bahiano A. Ferreira França depois de denunciar que “a sua própria patria, vila notavel e das mais antigas do Brasil, nunca teve um só professor público, e que no decurso de quase um seculo apenas se pode contar cinco naturais que tivessem educação literária, alem dos conhecimentos das primeiras letras...” diz em seguida: “Em todas as povoações da vasta, rica Provincia de S. Pedro (Rio Grande do Sul), que eu conheço, por mutio se sofreu do mesmo aml e ainda continua e fora de Porto Alegre, podendo-se em verdade dizer que em todo o Brasil com as mui poucas exceções das cidades maritimas, vai a educação pelo mesmo fio...” Dissolvida a Assembléia Constituinte, em 1826, nas primeiras seções da primeira Assembléia Geral Legislativa voltam os clamores pela criação de escolas nas Provincias. È apresentado projéto de lei e discutido o assunto. Em 1827, 15 de outubro, promulga-se a primeira lei regulando a instrução elementar em todo o território nacional. “As escolas serão de ensino mutuo nas capitais das Provincias, e serão também nas cidades, vilas e lugares populosas delas em que for possivel estabelecerem-se. Escolas de meninas nas cidades, vilas e lugares populosos em que os presidentes de Provincia julgarem conveniente êste estabelecimento.” O programa destas escolas, minguadado como convinha a êste primeiro ensaio, consistia em aprender a ler, escrever, as quatro operações de aritmetica, pratica de quebrados, decimais e proporções, a gramatica da lingua nacional, os principios da moral cristã e de doutrina da religião catolica apostolica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para o ensino da leitura a Constituição do Imperio e a historia do Brasil. – Decretado o Ato Adicional em 1834, concedendo autonomia às Provincias, a instrução primária e secundária lhes é atribuida em sua plenitude. Em 1835 o primeiro presidente da Provincia dando um balanço do que havia em realidade na execução da lei de 15 de outubro de 1827, diz à Assembléia legislativa: “Alem de diminuto número de escolas de primeiras letras em exercicio, acresce que a maioria dos professores ou por ineptos ou por omissão, não cumprem com as suas obrigações, como devem, e as Camaras municipais (que pela lei de outubro de viam ser ouvidas pelo presidente da Provincia sobre o número e as localidades das escolas) tem quase todas em abandono êste ponto importante de seus deveres. O metodo Lancaster não tem prosperado entre nós. A falta de conhecimento da maioria dos professores importa em nenhum proveito de sua lições, porque não se pode ensinar o que não se conhece bem... Em quanto não tivermos uma Escola normal de ensino mutuo em que os professores se habilitem, creio que a instrução primaria muito ganhará com o antigo metodo”. Já no fragor da Revolução farroupilha, o poder legislativo da Provincia decreta a primeira lei traçando as linhas gerais da instrução pública. Era presidente Antonio Elseario de Miranda Brito. As escolas primárias compreendiam três classes. O programa da 1ª classe constava da leitura, escrita, as 4 operações, frações ordinárias, decimais e proporções, os principios da moral cristã, e a gramatica da lingua nacional; na 2ª classe: as noções geraes, geometria teorica e pratica: na 3ª: os elementos de geografia, francês e desenho. A matricula seria conforme as classes tendo a 2ª e 3ª um professor particular. Nenhum aluno seria admitido nas duas últimas classes sem estar pronto na 1ª Eram proibidos de frequentar as escolas públicas: a) pessoas que sofressem de molestias contagiosas; b) os escravos e pretos ainda que livres ou libertos. As camaras municipais eram obrigadas a emprestar aos professores casas suficientes, situadas dentro das povoações, para o estabelecimento de escolas. Ao govêrno cabia o fornecimento de moveis e utensilhos necessários, e compendios, translados de caligrafia, papel e penas, à vista do orçamento anual organizado pelos professores. Ao govêrno cabia ainda a designação das escolas existentes que seriam conservadas. A escola que, no decurso de um ano consecutivo, deixasse de reunir 15 alunos de frequência efetiva, seria tranaferida para lugar de maior número de discipulos. O emprego de professor era de serventia vitalicia, e só provido por pessoas que tivessem conhecimento das materias do programa escolar provado em concurso ou exame. O ordenado era de 600$000 anuais e mais uma gratificação de 5$000 por aluno pronto em cada uma das três classes. Só por sentença poderiam ser demitidos: a) condenação às galés, estupro, rapto, adulterio, roubo; b) abandono da escola por tempo de três meses consectuvos, e negligencia habitual e incorrigivel no cumprimento de seus deveres. Aos 25 anos de serviço efetivo seria jubilado; continuando, porem, a juizo do govêrno, por bons serviços, teria uma gratificação de 300$000 anuais. As escolas de meninas teria somente o programa de 1ª classe e mais trabalhos de agulja e outras artes próprias à economia domestica. O mesmo ordenado e gratificação cabiam às professoras. – Haveria na capital da Provincia um diretor de instrução pública vencendo a gratificação de ....1:200$000 anuais, compreendidas na quantia as despesas de expediente para desempenho de suas atribuições. A êste funcionário cabia: fiscalizar e inspecionar todas as escolas primárias, por si, e por intermedio de inspetores do municipio; regular o metodo pratico do ensino, e organizar compendios e modelos, e dar providências para uniformidade da instrução, tudo com a aprovação do presidente da Provincia; formar anualmente antes da abertura da Assembléia legislativa, uma relatório do estado da instrução primária, indicando os obstaculos que impecem o seu andamento e os meios que julgar conducentes para os remover; êste relatório por intermedio do govêrno seria, presente à Assembléia legislativa. – Cada municipio teria um inspetor que seria o promotor público. As suas atribuições eram: inspecionar as escolas do municipio; receber e transmitir os mapas dos alunos que os professores eram obrigados a dar, acompanhados de suas observações e sobre o que julgassem mais conveniente às escolas; informar as pretenções dos professores, passar atestações de frequência dos professores para o recebimento dos ordenados. – Os professores de escolas particulares eram obrigados a solicitar ao govêrno licença para abrir suas escolas, devendo no requerimento juntar as atestações de boa moral passada pelo paroco e inspetor. – Os professores poderiam castigar moderadamente os seus discipulos, si as penas morais não fossem suficientes. Promulgada esta lei, de cuja execução nada sabemos, devido a ausencia de relatórios presidenciais até 1845, fim da Revolução, foi assinalado no ano seguinte, ano da pacificação da Provincia que “a instrução primária não apresentava aspecto lisonjeiro, pelo abandono em que cairam todas as cousas nestes nove últimos anos”. Existiam apenas 51 escolaselementares com a frequência de 36 meninos e 16 meninas, apezar da verba avultada que se lhes dispensava: 94:800$000 em uma despesa geral de 886:800$000. – Em maio deste ano de 1846 ha esforços para melhorar o ensino, não o primário, mas o secundário. È criado o Liceu, na capital. – Em 1847 o presidente Manoel Antonio Galvão aponta, como medida de urgencia para levantar a instrução comum, a criação de uma Escola normal para os mestres: “sujeite-os a um tirocinio, embora austero, quem quizer decente subsistencia e emprego honesto...” O ensino primário ainda se ressente de pessoas idoneas que se prestem ao magistério. No relatório do general Soares Andréa, presidente da Provincia se lê: “A instrução pública é, e tem sido em quase todas as provincias, objéto de grande solicitude, de muita despesa e pouco proveito. O primeiro e o mais geral defeito é entregar as escolas a pessoas carecidas de verdadeiras habilitações, só para se poder dizer que existe tantas escolas, e ostentar desvelos pelo bem da mocidade, como se um máu mestre não fosse peior que nenhum, e como se dar máu ensino não fosse antes estragar do que instruir. Para evitar a continuação deste mal, e a falta de mestres, é de urgencia a criação de uma Escola normal...” Em 1850 o mesmo general Andréa informa ao seu sucessor: “prevenirei que falto de meios para cohibir os abusos dos professores vitalicios, que a lei proteje excessivamente, fazendo depender de processos e decisões de juizes, a demissão dos inhabeis, máus e perversos, tomei a deliberação de não mais dar titulos de vitalicias a nenhum para ficar facil a sua expulsão, quando pelo seu proceder a mereçam. Tenho igualmente posto os embaraços possiveis e facilidade com que, por proteção aos donos se tomam casas improprias e por preços muito altos, para servirem de escolas”. O presidente Pimenta Bueno (futuro marquez de S. Vicente) lembrava, como medida de primeira necessidade a revisão da legislação e autorização ao govêrno para demitir os professores que não souberam cumprir com os seus deveres. O processo atual não proteje o ensino. Uma lei, em parte, dá solução a êste premente caso, determinando que a serventia vitalicia do emprego de professor só poderia ser feita, apuradas as seguintes condições: maioridade, bom comportamento moral e religioso, os conhecimentos do programa escolar, provados em concurso e não sofrer de molestia contagiosa. Havia diferença de ordenados para os professores vitalicios e os não vitalicios (êstes recebiam duas terças partes). Além, do diretor geral a lei criava uma inspeção especial. Ensino obrigatório. As escolas primárias que em 1846 eram 51 para ambos os sexos seis anos depois subia o número delas a 75, com uma matricula de 3.536, das quais 1.220 meninas. Apezar deste pequeno avanço o presidente da Provincia Pedro Ferreira de Oliveira (chefe de divisão da armada), sucessor do Conde de Caxias denunciava que “a instrução deixa muito a desejar, tanto a primária como a secundária. Os recursos financeiros, a limitada população, a extensão do território, o erro daqueles que desconhecendo os interêsses industriais, considerem a instrução menos uma necessidade moral do que simplesmente um comprimento do dever social, são as causas, alem de outras, que conspiram contra êste serviço público”. Em 1852, o presidente Oliveira Bello aponta, pela primeira vez, o perigo da desnacionalização do ensino nas zonas coloniais. “Ainda é escassa a instrução primária no idioma nacional na colonia de S. Leopoldo: os colonos preferem aprender em escola particular a lingua alemã. Si não for proibido a profusão dessas escolas e não for imposta multa aos pais antes de estarem instruidos os filhos na leitura, escrita da lingua nacional, os filhos dos colonos pouco fequentarão as nossas escolas e serão sempre estrangeiros em nosso país” – No ano seguinte apontava-se à legislatura local os males da instrução: falta de pessoal idoneo para o magistério e inspeção das aulas, e metodo de ensino. E que os mestres fossem instruidos na lingua nacional, leitura dos Evangelhos e noções de história sagrada, elementos da geografia, resumo de história nacional e música. No ano de 1855, o presidente Oliveira Bello é objetivo na sua fala à Assembléia legislativa: existem 120 escolas criadas por lei do sexo masculino e 41 do feminino: das primeiras estão providas vitaliciamente 45, interinas 15 e vagas 19; das segundas: 30, 6 e 5 respectivamente. No primeiro semestre foram frequentadas por ... 3.650 alunos, e no segundo por 5.764. As 24 particulares (informações falhas) tiveram 4.802 alunos. – No ano seguinte pedia uma reforma de ensino modelada pelos principios adotados pela lei, e do ministro Pedreira do Couto Ferraz, na Côrte, com as modificações aconselhadas pelas circunstancias locais. Esta reforma veiu em 1857: escolas em dois graus; programa dilatado (principios de ciências físicas e naturais aplicaveis aos usos da vida, agrimensura, desenho linear, música, ginástica); melhores vencimentos aos professores; ensino obrigatório; professores adjuntos; inspeção nas escolas públicas e particulares; conselho diretor. Em 1858 o presidente Angelo Muniz da Silva Ferraz (futuro Barão de Uruguaiana), diria que a experiância tinha indicado a necessidade de modificações na lei. O circulo traçado para escolas do 2º graus (ensino primário superior) era amplo e requeria pessoal inexistente na provincia. E repetia a denuncia dada em 1852: necessidade de dotar as colonias com escolas primárias, embora fosse dificil encontrar nacionais que conhecessem a lingua alemã para tal mistér. E acrescentava: é evidente necessidade prover-se as escolas dessas colonias com estrangeiros profissionais que tenham conhecimento quer da lingua vernacula, quer da lingua alemã. Os próprios colonos e seus descendentes vão sentindo a necessidade de conhecerem a lingua nacional. E pedia uma cadeira de lingua alemã no Liceu. “Há necessidade de uma cadeira de lingua alemã em uma provincia de imigração alemã”. – A necessidade de uma Escola normal (não criada na reforma de 1857) não é mais objéto de discussão. A instrução partindo dessa Escola, sob a influencia da ciência pedagogica, com direção inteligente e uma severa inspeção e ativa em todas as localidades, uniformisada e obrigatória ha de difundir-se. Assim pensava o presidente Joaquim Antão Fernandes Leão em 1859. No ano seguinte, em documento oficial, se diria existirem na Provincia 152 escolas, 96 do sexo masculino e 56 de feminino. Destas são do 1º grau 127 e do 2º, 25. Estão providas de 131 do 1º grau e 23 do 2º. Todas do 2º grau estão providas, e de 1º estão interinamente preenchidas 6. Nestas escolas providas, a frequência foi: do 1º grau 3.654 alunos, nas do 2º: 1.915. Total 5.568. Houve um aumento na frequência de 767 alunos sobre o ano anterior. – Lê- se ainda nêsse documento que “a autorização dada para a criação de uma Escola normal não foi possivel dar-lhe execução”, devido a dificuldade de encontrar individuo que a dirija. – E em 1862, ante a mesma situação, sugeria o presidente a conveniencia “de mandar à Escola normal da Côrte até dois professores ou pessoas habeis que, mediante condições razoaveis, se obriguem depois de suficientemente habilitados vir servir na Escola de cuja criação se trata. E melhor ainda será que os poderes gerais, compenetrados da grande utilidade de uma educação geral e uniforme, estabeleçam em todas as Provincias, onde for necessário, uma Escola normal”. Sugestão do presidente Francisco de Assis Pereira Rocha. O presidente, em 1864, acha que os regulamentos de ensino em vigor, embora contenham uteis disposições do Reg. De 1854 da Côrte, “constituem, entretanto, indigesta compilação que embaraça o regular andamento do serviço”. É precisorefundi-los. A divisão do ensino primário em elementar e superior é de grande vantagem, convem, porem que se adapte um dêsses graus às circunstancias locais. O programa delas devem compreender menor número de materiais, ficando assim a instrução ao alcance da população e, portanto, mais aproveitavel. É preciso que a instrução se torne uma realidade e não uma bela promessa. O ensino obrigatório ainda não foi praticado: idéia nova e que a muitos parece vexatória, deve ser realizada quando a consciencia pública a aceitar sem sacrificios. Em 1870 anuncia-se a criação da Escola normal, tendo matriculados no 1º ano, 12 alunos de ambos os sexos, dos quais concluiram o curso 6 que se matricularam no 2º ano. Atualmente, diz o presidente, acham-se matriculados 21 alunos de ambos os sexos. Na presidencia Pinto Lima é promulgada uma vasta reforma do ensino público: conselho diretor de seis membros, remunerados; o inspetor geral da instrução por um ano; visitadores extraordinários (membros do conselho); ensino particular livre; programa da Escola normal contendo, entre outras disciplinas, pedagogia, noções de ciências físicas e naturais, escrituração mercantil; diretor da Escola pessoa que reuna condições morais, ilustração e experiencia especiais; a conduta do normalista dentro e fora da Escola seria objéto de atenção e dos professores, e excluidos os que revelassem vicios improprios para o magistério. Nos núcleos coloniais onde existissem professores particulares contratados ficariam criadas cadeiras de 1º grau; postas a concurso as cadeiras, os professores nomeados deveriam mostrar-se também habilitados no idioma dominante no centro colonial. Foi também remodelado o Ateneu rio-grandense. No ano seguinte dizia um novo presidente (cons. Figueira de Mello), em março, 10 mêses depois, que não encontrava executada, nenhuma das duas leis anteriores, senão a nomeação dos seis diretores e a designação dos seis distritos que eles deviam percorrer em visitas extaordinárias. A Escola normal estava realizando as esperanças do legislador. E outro presidente (Costa Pereira Junior) informava ao seu sucessor que “as tradições do tempo das escolas coloniais não edificavam, e que era preciso vence-las”. – As reformas seguem-se umas a outras, e o que se faz hoje, continua a ser objéto de censuras, e causas de novos pedidos de reformas. Eis o estado atual da instrução, e para resolve-lo não se deve olhar tanto para a parte teorica do assunto, como das diferentes praticas que deviam ser vencidas. Existiam nêste ano de 1873, 252 escolas (162 de meninos e 90 de meninas); nelas estão matriculados 4.976 alunos e 2678 alunas. Vagas 85 cadeiras. Existiam 50 professores particulares contratados para o ensino de crianças pobres (1.552 alunos). A frequência das escolas particulares (dados incompletos) sobe a 4.417 alunos, os quais unidos aos das escolas públicas perfazem 12.224. Seria para desejar, diz o presidente Carvalho Morais, que as escolas funcionassem em prédios construidos expressamente para elas. Ao presidente, o inspetor geral da instrução observava que, “a multiplicidade de reformas realizadas nestes últimos tempos, no ensino, destruindo umas o que outras tinham estabelecido e começava a ser posta em execução, tem criado tal ponto a descrença em todos, e mais especialmente nos que se acham ebcarregados do ensino da infância, que não há quem possa dizer na Provincia qual será a lei que regula este serviço no dia de amanhã. Tudo é oscilação...” No mesmo ano uma lei regulava a administração das escolas: inspetor geral; conselho de instrução pública; inspetores de comarca (os promotores públicos), e inspetores de paroquia. O inspetor geral seria o diretor da Escola normal. – Reforma da Escola normal (1877): entre as materias do programa prescreviam-se gramatica filosofica nas suas aplicações à lingua portuguesa, pedagogia compreendendo a sua história, suas divisões e aplicações praticas, algebra, geometria plana com aplicações praticas, noções de física e quimica, elementos de história natural em suas aplicações praticas, estudo da lingua francesa, desenho linear, figurado, de paisagem, topografico, e de arquitetura. Aula de alemão anexa à Escola, devendo o ensino dessa lingua ser obrigatorio para os que pretendessem o cargo de professor da lingua nacional nas localidades habitadas por alemães. Escolas anexas para pratica do ensino primário, uma para cada sexo, anexas à Escola, sob a direção do professor de pedagogia. Os alunos aprovados no 1º ano do curso normal poderiam ser nomeados professores interinos, preferindo-se os que tivessem aprovação plena. O cargo de professor efetivo só poderia ser provido por professor normalista e que tivesse completado 20 anos de idade. As preferencias para o provimento do cargo de professor seriam: a) o exercicio de adjunto; b) as melhores notas de aprovação no curso normal; c) para as aulas dos núcleos coloniais o conhecimento da lingua alemã. Professores adjuntos nas escolas de frequência superior a 60 alunos. – A direção e fiscalização da instrução seriam exercidas por um diretor geral, conselho de instrução, camaras municipais, delegados de distritos. Atribuições das camaras: exercer a fiscalização das aulas; inventariar os utensilios das escolas; contratar, por meio de concurrencia, o fornecimento de objéto de ensino, às escolas;aplicar penas de repreensão, multas, suspensão (8 dias) aos professores; nomear os examinadores; informar ao diretor geral acerca da idoneidade da pessoa indicada para professor substituto: indicar o local e escolher a casa para escolas; fazerem trimensalmente visitas às aulas por uma comissão de vereadores. O relatório do diretor geral Azambuja Vilanova contem êstes informes: a Provincia tem 408 escolas frequentadas por 9.464 alunos ou meno 639 do que no ano anterior. Es escolas e colégios de ensino particular são em número de 121 frequentadas po 2.856 meninos e 1824 meninas. Total da frequência 14.548. A população livre da Provincia é aproximadamente de 367.000 habitantes, e portanto a população escolar de 52.000, da qual só procura a escola menos de um terço. Dá o relatório as cifras de escolas, matriculas, receita e despesas públicas com a instrução pública de todas as Provincias do Imperio. O total é o seguinte: 4653 escolas, 155058 alunos; 21.939:900$000 receita das Provincias e 4.162:400$000 despesa com a instrução. Pelo confronto com outras Provincias, diz A. Villanova, o Rio Grande do Sul tem feito avanço apreciavel. – O atrazo da instrução elementar na Provincia tem por origem: a incapacidade do professor, desleixo dos pais de familia e deficiencia de inspeção. – “A invenção e vulgarização entre nós do sistema homeopatico trouxe sensiveis males à causa do ensino: raramente deixa o professor público de ser médico na localidade. Apenas de posse do titulo de preceptor, faz logo aquisição de uma caixa e de livros. Sobre a mesa de uma escola não se encontrará com certeza, o Regulamento do ensino ou outro qualquer livro de ensino, mas Cochrane e V. Martins, Mine, lá estarão atestando a incuria criminosa do mestre e a ousadia do charlatão. Outros tem decidida paixão pela advocacia, pela política, pelas corridas de cavalo. E assim em perpetuo folguedo, vive grande parte do nosso professorado com prejuizo manifesto dos discipulos a quem não poucas vezes tambem os mestres oferecem em espetaculo atos ofensivos à moral”. O diretor geral, declara, entretanto, que os professores públicos da capital e cidades populosas são, em geral, exemplo de bom procedimento civil, moral e profissional. – Uma lei de maio de 1877 acabou com o provimento de cadeiras por contrato. Resultado: cerca de 1.597 individuos ficaram privados de instrução,desaproveitadas não poucas aptidões criadas na pratica de muitos anos de ensino, e ainda perda de imenso material de cerca de 100 escolas distribuidas por longinquas paragens. – Nota ainda o A. Villanova: é demasiada sensível a falta de professores: mais de metade das cadeiras do sexo masculino está por prover; comarcas inteiras não possuem uma única escola. E lembrava como solução o provimento das escolas do 1ºgrau pelas professoras habilitadas pela Escola normal. É fato incontestavel a supremacia da mulher para as funções do magistério primário, não só para a infancia como para os adultos. A experiencia está feita na provincia do Ceará.- A Provincia tem despendido grossas somas para elevar o nivel intelectual de seus filhos, e entretanto, a estatística de nossa ignorancia é ainda enorme, segundo se vê dos quadros dos municipios e paroquias: de 1866 a 1876 despendeu-se com a instrução pública 1.967:734$000 sem auferir resultados correspondentes: 408 escolas com frequência de 9.362 alunos. Esta estatística é um corpo de delito de nosso atrazo. Dos 50 mil individuos aptos para ir à escola, e só 9.362 recebem instrução. Os inspetores, de paroquia e comarca, salvas exceções, não cumprem com os seus deveres. Dos 20 só 4 remeteram relatórios semestrais... Desde a sua criação a Escola normal tem preparado 88 alunos mestres, dos quais 40 tem sido nomeados, e 7 ocupam lugares de professores adjuntos nas escolas da capital. É digno de nota a frequência crescente das mulheres e decrescente de homens. – A lei de orçamento para o exercicio de 1878 designa a quantia de 456:400$000 para o ensino público (a despesa total era de 2.300 contos). O presidente Joaquim Pedro Salgado, em 1881, informava à Assembléia legislativa: é deploravel o atrazo da instrução pública. Não temos ainda sistema, não há ensino, não há escolas. Não é somente a adoção de boas instituições que são elementos de progresso nos paizes cultos; é sobretudo na escolha para a sua execução, a dar-lhes vida, a converte-las em realidades. Leis sem bons executores, instituições desvirtuadas na sua aplicação não são menos fatais que as más leis. É o mestre o principio ativo e a vida da escola. Bons mestres. Os nossos pecam por falta de conhecimentos, e ainda mais, pela falta de vocação. Sobre o ensino normal, assinala o presidente Salgado que a Escola está estabelecida sobre bases e principios importantes de estrangeiro, sem adaptação ao nosso país. Criando, nela um curso de preparatórios procurei habilitar o aluno a saber fazer alguma cousa, e não a saber repetir uma imensidade de cousas, e das quais ele nem entende. Os exames também foram modificados com o fim de obrigar-se os professores a entrar nas boas praticas do ensino. – Está aberto um inquerito sobre o ensino primário em todos os pontos da Provincia e aguardo o resultado dêsse estudo para regulamentar o serviço, fazendo-o e sujeitando a regras e principios que possam ter eficaz e real aplicação “Legislar sobre o desconhecido é legislar sobre o acaso”. – Decreta o presidente Salgado a reforma da Escola normal. Dois cursos: preparatório e normal. O programa deste, entre outras disciplinas, pedagogia e principios de direito natural, cosmografia e elementos de ciências naturais. Aulas de desenho de paisagem e noções de perspectiva. O lente de história consagrará algumas lições de economia politica e direito constitucional (explicação da Constituição). Os alunos são obrigados a aula de francês e alemão. Será ob rigatório, porém, o ensino de alemão para os que pretendem o cargo de professor nas circunscrições habitadas por população de origem alemã. Conferencias pedagogicas. – Ainda neste ano era decretado o Reg. Da instrução primária. Vasta reforma. Direção geral. Inspeção distribuida ao conselho de instrução, camaras municipais e inspetores escolares. O conselho dividido em três secções: a 1ª competia estudar relativos a metodos e sistemas de ensino, compendios, regimentos internos, transferencia, jubilação, vitalicidade e gratificação aos professores; a 2ª: programas para concurso e exames nas escolas; a 3ª infrações disciplinares, pareceres sobre bases de reforma. Ao inspetor, entre outras obrigações, cabe o arrolamento de meninos, afim de verificar quais os que estavam no caso de frequentar a escola. Cadeiras em todos os lugares em que a Camara Municipal ou qualquer particular oferecesse casa e mobilia apropriadas, uma vez que a população escolar fosse superior a 20 meninos. Ensino de adultos pelos professores públicos, mediante gratificação. Escolas de ensino preliminar (1º grau) elementar (2º), e de ensino complementar (3º). Estas funcionariam na capital, Rio Grande, Pelotas, Bagé e Jaguarão. No programa: lições de cousas, geometria pratica, noções de ciências naturais (com aplicação à agricultura nas escolas rurais). Assina êste regulamento em maio o diretor geral Adriano Nunes Ribeiro. – No ano seguinte o presidente L. Antunes Maciel, dizia que “despendendo a Provincia com a instrução, relativamente mais que as outras do Imperio, nenhum resultado, entretanto, pode assinalar, senão o mais negativo. A anarquia, os interêsses pessoais, conveniencias partidarias anularam todos os intuitos dessa instituição, cujos defeitos só poderão ser removidos com perseverante direção do seu habil chefe”. O seu sucessor, no mesmo ano, notava que preferia a profundidade à extensão do ensino. Um professor que com o ensinamento do ler, escrever e contar, suscitasse no animo da infancia estimulos pelo trabalho, e lhe afeiçoasse o coração pelos bons sentimentos, que longe de armar as creanças desses livrinhos futeis ou transcendentes, que nada produzem, formasse o coração da mocidade pelo conhecimento das boas ações, faria mais obra de merecimento do que o professor erudito que conseguisse formar alguns laureados. E denunciava ainda as dificuldades da aplicação da lei sobre o ensino obrigatório. Em 1883 o ministro do Imperio Pedro Leão Veloso sugere a creação de um fundo especial para a instrução, cuja principal fonte de receita seria a taxa escolar, dividida em imposição local e provincial, consistindo a primeira em diminuta contribuição direta, paga pelos habitantes de cada municipio, e a segunda em porcentagem adicional a alguns impostos diretos. Em 1886, o presidente assinala os defeitos da reforma de 1881: a classificação das escolas só existe na lei e não na pratica. A fiscalização está longe de ser completa. Se algumas Camaras municipais se esforçam por bem cumprir os seus deveres, a maior parte assim não procede. O conselho de instrução sobrecarregado de trabalhos (os seus membros são lentes da Escola normal) não pode prestar conveniente auxilio à inspeção e fiscalização. O regulamento da Escola normal tornou-a um Estado no Estado. Foram suspensas 17 escolas por não terem a frequência legal. E um terço talvez das escolas da Provincia estão nas mesmas condições. – No ano seguinte o presidente Azambuja Villanova dava noticia de 361 escolas em função e 199 vacantes. A frequência 16.840 alunos (9.875 meninos e 6.967 meninas). Em estabelecimentos particulares 7.247 (4.921 meninos e 2.326 meninas). A Escola normal está em pleno funcionamento. Resta saber, diz o presidente A. Villanova (antigo e zeloso diretor geral do ensino) se as condições da instrução normal melhoraram com o advento da nova geração, temeridade seria nega-lo, tanto equivaleria a confissão pelo poder público de que em pura perda se despenderam até o presente 350 contos com o custeio de um estabelecimento em verdade mais aparatoso do que convinha. Entretanto, há ainda quem ouse afirmar que o presente só se avantaja do passado na criação de maior número de escolas, e na despesa correspondente paramante-las. “Os mestres antigos parcamente remunerados, regendo escolas miseravelmente organizadas, mas sempre frequentadas por consideravel número de alunos, sabiam pouco, simplesmente ler, contar e escrever, porem êsse pouco sabiam-no bem e melhor ainda o sabiam transmitir aos seus discipulos, ao passo que o professor moderno aprendendo muito, sabe pouco e nada ensina”. – O diretor geral da instrução nota sobre a classificação das escolas: não foi efetuada devido às dificuldades de semelhante inovação. O mesmo denuncia que diversos professores recusavam-se a matricular em suas escolas crianças de côr preta. Providencias foram tomadas para sanar estas irregularidades. E louva os cidadãos José Alvares de Souza Soares e Rheingantz, porque em seus estabelecimentos fabris nas cidades de Pelotas e Rio Grande, criaram e mantêm escolas, de ensino gratuito, para os filhos dos operarios. O adiantamento dos alunos, a ordem e o asseio dessas escolas dispensam elogios de que são dignos êsses benemeritos cidadãos. Em 1888 o relatório presidencial dava as seguintes cifras: 619 escolas primárias, das quais providas 377 e vagas 242. Existem na Provincia 372 professores primários. A matricula nas escolas subiu a 10.218 meninos e 7.815 meninas. – No ano anterior a despesa com a instrução pública foi 571:600$000; a despesa geral de 2.844 contos. Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1940.
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