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MOACYR O ensino comum e as primeiras tentativas de nacionalização

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MOACYR, Primitivo. O ensino comum e as primeiras tentativas de sua nacionalização 
na Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul (1835-1889). Porto Alegre. Of. Graf. Da 
Livr. do Globo. 1940. 
 
Separata dos anais do III Congresso Sul-Riograndense de Historia e Geografia. Porto 
Alegre. 
 
Localização na BN: II – 288, 6.15n1 
 
Transcrição na integra: 
 
Primitivo Moacyr 
 
 
 Na Assembléia Constituinte de 1823, em agosto, a proposito de um 
requerimento da Camara municipal de Aquiraz (Ceará) pedindo uma providência para a 
instrução de seus habitantes, tornou-se geral e vivo o debate sobre a urgente necessidade 
de criação de escolas de primeiras letras. Representantes do Ceará, Alagôas, Bahia, 
S.Paulo, Santa Catarina, todos depunham sobre o estado de miseria do ensino local. O 
deputado bahiano A. Ferreira França depois de denunciar que “a sua própria patria, vila 
notavel e das mais antigas do Brasil, nunca teve um só professor público, e que no 
decurso de quase um seculo apenas se pode contar cinco naturais que tivessem educação 
literária, alem dos conhecimentos das primeiras letras...” diz em seguida: “Em todas as 
povoações da vasta, rica Provincia de S. Pedro (Rio Grande do Sul), que eu conheço, 
por mutio se sofreu do mesmo aml e ainda continua e fora de Porto Alegre, podendo-se 
em verdade dizer que em todo o Brasil com as mui poucas exceções das cidades 
maritimas, vai a educação pelo mesmo fio...” Dissolvida a Assembléia Constituinte, em 
1826, nas primeiras seções da primeira Assembléia Geral Legislativa voltam os 
clamores pela criação de escolas nas Provincias. È apresentado projéto de lei e discutido 
o assunto. Em 1827, 15 de outubro, promulga-se a primeira lei regulando a instrução 
elementar em todo o território nacional. “As escolas serão de ensino mutuo nas capitais 
das Provincias, e serão também nas cidades, vilas e lugares populosas delas em que for 
possivel estabelecerem-se. Escolas de meninas nas cidades, vilas e lugares populosos 
em que os presidentes de Provincia julgarem conveniente êste estabelecimento.” O 
programa destas escolas, minguadado como convinha a êste primeiro ensaio, consistia 
em aprender a ler, escrever, as quatro operações de aritmetica, pratica de quebrados, 
decimais e proporções, a gramatica da lingua nacional, os principios da moral cristã e de 
doutrina da religião catolica apostolica romana, proporcionados à compreensão dos 
meninos; preferindo para o ensino da leitura a Constituição do Imperio e a historia do 
Brasil. – Decretado o Ato Adicional em 1834, concedendo autonomia às Provincias, a 
instrução primária e secundária lhes é atribuida em sua plenitude. 
 Em 1835 o primeiro presidente da Provincia dando um balanço do que havia em 
realidade na execução da lei de 15 de outubro de 1827, diz à Assembléia legislativa: 
“Alem de diminuto número de escolas de primeiras letras em exercicio, acresce que a 
maioria dos professores ou por ineptos ou por omissão, não cumprem com as suas 
obrigações, como devem, e as Camaras municipais (que pela lei de outubro de viam ser 
ouvidas pelo presidente da Provincia sobre o número e as localidades das escolas) tem 
quase todas em abandono êste ponto importante de seus deveres. O metodo Lancaster 
não tem prosperado entre nós. A falta de conhecimento da maioria dos professores 
importa em nenhum proveito de sua lições, porque não se pode ensinar o que não se 
conhece bem... Em quanto não tivermos uma Escola normal de ensino mutuo em que os 
professores se habilitem, creio que a instrução primaria muito ganhará com o antigo 
metodo”. 
 Já no fragor da Revolução farroupilha, o poder legislativo da Provincia decreta a 
primeira lei traçando as linhas gerais da instrução pública. Era presidente Antonio 
Elseario de Miranda Brito. As escolas primárias compreendiam três classes. O programa 
da 1ª classe constava da leitura, escrita, as 4 operações, frações ordinárias, decimais e 
proporções, os principios da moral cristã, e a gramatica da lingua nacional; na 2ª classe: 
as noções geraes, geometria teorica e pratica: na 3ª: os elementos de geografia, francês e 
desenho. A matricula seria conforme as classes tendo a 2ª e 3ª um professor particular. 
Nenhum aluno seria admitido nas duas últimas classes sem estar pronto na 1ª Eram 
proibidos de frequentar as escolas públicas: a) pessoas que sofressem de molestias 
contagiosas; b) os escravos e pretos ainda que livres ou libertos. As camaras municipais 
eram obrigadas a emprestar aos professores casas suficientes, situadas dentro das 
povoações, para o estabelecimento de escolas. Ao govêrno cabia o fornecimento de 
moveis e utensilhos necessários, e compendios, translados de caligrafia, papel e penas, à 
vista do orçamento anual organizado pelos professores. Ao govêrno cabia ainda a 
designação das escolas existentes que seriam conservadas. A escola que, no decurso de 
um ano consecutivo, deixasse de reunir 15 alunos de frequência efetiva, seria tranaferida 
para lugar de maior número de discipulos. O emprego de professor era de serventia 
vitalicia, e só provido por pessoas que tivessem conhecimento das materias do programa 
escolar provado em concurso ou exame. O ordenado era de 600$000 anuais e mais uma 
gratificação de 5$000 por aluno pronto em cada uma das três classes. Só por sentença 
poderiam ser demitidos: a) condenação às galés, estupro, rapto, adulterio, roubo; b) 
abandono da escola por tempo de três meses consectuvos, e negligencia habitual e 
incorrigivel no cumprimento de seus deveres. Aos 25 anos de serviço efetivo seria 
jubilado; continuando, porem, a juizo do govêrno, por bons serviços, teria uma 
gratificação de 300$000 anuais. As escolas de meninas teria somente o programa de 1ª 
classe e mais trabalhos de agulja e outras artes próprias à economia domestica. O mesmo 
ordenado e gratificação cabiam às professoras. – Haveria na capital da Provincia um diretor de 
instrução pública vencendo a gratificação de ....1:200$000 anuais, compreendidas na quantia as 
despesas de expediente para desempenho de suas atribuições. A êste funcionário cabia: 
fiscalizar e inspecionar todas as escolas primárias, por si, e por intermedio de inspetores do 
municipio; regular o metodo pratico do ensino, e organizar compendios e modelos, e dar 
providências para uniformidade da instrução, tudo com a aprovação do presidente da Provincia; 
formar anualmente antes da abertura da Assembléia legislativa, uma relatório do estado da 
instrução primária, indicando os obstaculos que impecem o seu andamento e os meios que 
julgar conducentes para os remover; êste relatório por intermedio do govêrno seria, presente à 
Assembléia legislativa. – Cada municipio teria um inspetor que seria o promotor público. As 
suas atribuições eram: inspecionar as escolas do municipio; receber e transmitir os mapas dos 
alunos que os professores eram obrigados a dar, acompanhados de suas observações e sobre o 
que julgassem mais conveniente às escolas; informar as pretenções dos professores, passar 
atestações de frequência dos professores para o recebimento dos ordenados. – Os professores de 
escolas particulares eram obrigados a solicitar ao govêrno licença para abrir suas escolas, 
devendo no requerimento juntar as atestações de boa moral passada pelo paroco e inspetor. – Os 
professores poderiam castigar moderadamente os seus discipulos, si as penas morais não 
fossem suficientes. 
Promulgada esta lei, de cuja execução nada sabemos, devido a ausencia de relatórios 
presidenciais até 1845, fim da Revolução, foi assinalado no ano seguinte, ano da pacificação da 
Provincia que “a instrução primária não apresentava aspecto lisonjeiro, pelo abandono em que 
cairam todas as cousas nestes nove últimos anos”. Existiam apenas 51 escolaselementares com 
a frequência de 36 meninos e 16 meninas, apezar da verba avultada que se lhes dispensava: 
94:800$000 em uma despesa geral de 886:800$000. – Em maio deste ano de 1846 ha esforços 
para melhorar o ensino, não o primário, mas o secundário. È criado o Liceu, na capital. – Em 
1847 o presidente Manoel Antonio Galvão aponta, como medida de urgencia para levantar a 
instrução comum, a criação de uma Escola normal para os mestres: “sujeite-os a um tirocinio, 
embora austero, quem quizer decente subsistencia e emprego honesto...” O ensino primário 
ainda se ressente de pessoas idoneas que se prestem ao magistério. No relatório do general 
Soares Andréa, presidente da Provincia se lê: “A instrução pública é, e tem sido em quase todas 
as provincias, objéto de grande solicitude, de muita despesa e pouco proveito. O primeiro e o 
mais geral defeito é entregar as escolas a pessoas carecidas de verdadeiras habilitações, só para 
se poder dizer que existe tantas escolas, e ostentar desvelos pelo bem da mocidade, como se um 
máu mestre não fosse peior que nenhum, e como se dar máu ensino não fosse antes estragar do 
que instruir. Para evitar a continuação deste mal, e a falta de mestres, é de urgencia a criação de 
uma Escola normal...” Em 1850 o mesmo general Andréa informa ao seu sucessor: “prevenirei 
que falto de meios para cohibir os abusos dos professores vitalicios, que a lei proteje 
excessivamente, fazendo depender de processos e decisões de juizes, a demissão dos inhabeis, 
máus e perversos, tomei a deliberação de não mais dar titulos de vitalicias a nenhum para ficar 
facil a sua expulsão, quando pelo seu proceder a mereçam. Tenho igualmente posto os 
embaraços possiveis e facilidade com que, por proteção aos donos se tomam casas improprias e 
por preços muito altos, para servirem de escolas”. 
O presidente Pimenta Bueno (futuro marquez de S. Vicente) lembrava, como medida de 
primeira necessidade a revisão da legislação e autorização ao govêrno para demitir os 
professores que não souberam cumprir com os seus deveres. O processo atual não proteje o 
ensino. Uma lei, em parte, dá solução a êste premente caso, determinando que a serventia 
vitalicia do emprego de professor só poderia ser feita, apuradas as seguintes condições: 
maioridade, bom comportamento moral e religioso, os conhecimentos do programa escolar, 
provados em concurso e não sofrer de molestia contagiosa. Havia diferença de ordenados para 
os professores vitalicios e os não vitalicios (êstes recebiam duas terças partes). Além, do diretor 
geral a lei criava uma inspeção especial. Ensino obrigatório. 
As escolas primárias que em 1846 eram 51 para ambos os sexos seis anos depois subia 
o número delas a 75, com uma matricula de 3.536, das quais 1.220 meninas. Apezar deste 
pequeno avanço o presidente da Provincia Pedro Ferreira de Oliveira (chefe de divisão da 
armada), sucessor do Conde de Caxias denunciava que “a instrução deixa muito a desejar, tanto 
a primária como a secundária. Os recursos financeiros, a limitada população, a extensão do 
território, o erro daqueles que desconhecendo os interêsses industriais, considerem a instrução 
menos uma necessidade moral do que simplesmente um comprimento do dever social, são as 
causas, alem de outras, que conspiram contra êste serviço público”. 
Em 1852, o presidente Oliveira Bello aponta, pela primeira vez, o perigo da 
desnacionalização do ensino nas zonas coloniais. “Ainda é escassa a instrução primária no 
idioma nacional na colonia de S. Leopoldo: os colonos preferem aprender em escola particular a 
lingua alemã. Si não for proibido a profusão dessas escolas e não for imposta multa aos pais 
antes de estarem instruidos os filhos na leitura, escrita da lingua nacional, os filhos dos colonos 
pouco fequentarão as nossas escolas e serão sempre estrangeiros em nosso país” – No ano 
seguinte apontava-se à legislatura local os males da instrução: falta de pessoal idoneo para o 
magistério e inspeção das aulas, e metodo de ensino. E que os mestres fossem instruidos na 
lingua nacional, leitura dos Evangelhos e noções de história sagrada, elementos da geografia, 
resumo de história nacional e música. No ano de 1855, o presidente Oliveira Bello é objetivo na 
sua fala à Assembléia legislativa: existem 120 escolas criadas por lei do sexo masculino e 41 do 
feminino: das primeiras estão providas vitaliciamente 45, interinas 15 e vagas 19; das segundas: 
30, 6 e 5 respectivamente. No primeiro semestre foram frequentadas por ... 3.650 alunos, e no 
segundo por 5.764. As 24 particulares (informações falhas) tiveram 4.802 alunos. – No ano 
seguinte pedia uma reforma de ensino modelada pelos principios adotados pela lei, e do 
ministro Pedreira do Couto Ferraz, na Côrte, com as modificações aconselhadas pelas 
circunstancias locais. Esta reforma veiu em 1857: escolas em dois graus; programa dilatado 
(principios de ciências físicas e naturais aplicaveis aos usos da vida, agrimensura, desenho 
linear, música, ginástica); melhores vencimentos aos professores; ensino obrigatório; 
professores adjuntos; inspeção nas escolas públicas e particulares; conselho diretor. Em 1858 o 
presidente Angelo Muniz da Silva Ferraz (futuro Barão de Uruguaiana), diria que a experiância 
tinha indicado a necessidade de modificações na lei. O circulo traçado para escolas do 2º graus 
(ensino primário superior) era amplo e requeria pessoal inexistente na provincia. E repetia a 
denuncia dada em 1852: necessidade de dotar as colonias com escolas primárias, embora fosse 
dificil encontrar nacionais que conhecessem a lingua alemã para tal mistér. E acrescentava: é 
evidente necessidade prover-se as escolas dessas colonias com estrangeiros profissionais que 
tenham conhecimento quer da lingua vernacula, quer da lingua alemã. Os próprios colonos e 
seus descendentes vão sentindo a necessidade de conhecerem a lingua nacional. E pedia uma 
cadeira de lingua alemã no Liceu. “Há necessidade de uma cadeira de lingua alemã em uma 
provincia de imigração alemã”. – A necessidade de uma Escola normal (não criada na reforma 
de 1857) não é mais objéto de discussão. A instrução partindo dessa Escola, sob a influencia da 
ciência pedagogica, com direção inteligente e uma severa inspeção e ativa em todas as 
localidades, uniformisada e obrigatória ha de difundir-se. Assim pensava o presidente Joaquim 
Antão Fernandes Leão em 1859. 
No ano seguinte, em documento oficial, se diria existirem na Provincia 152 escolas, 96 
do sexo masculino e 56 de feminino. Destas são do 1º grau 127 e do 2º, 25. Estão providas de 
131 do 1º grau e 23 do 2º. Todas do 2º grau estão providas, e de 1º estão interinamente 
preenchidas 6. Nestas escolas providas, a frequência foi: do 1º grau 3.654 alunos, nas do 2º: 
1.915. Total 5.568. Houve um aumento na frequência de 767 alunos sobre o ano anterior. – Lê-
se ainda nêsse documento que “a autorização dada para a criação de uma Escola normal não foi 
possivel dar-lhe execução”, devido a dificuldade de encontrar individuo que a dirija. – E em 
1862, ante a mesma situação, sugeria o presidente a conveniencia “de mandar à Escola normal 
da Côrte até dois professores ou pessoas habeis que, mediante condições razoaveis, se obriguem 
depois de suficientemente habilitados vir servir na Escola de cuja criação se trata. E melhor 
ainda será que os poderes gerais, compenetrados da grande utilidade de uma educação geral e 
uniforme, estabeleçam em todas as Provincias, onde for necessário, uma Escola normal”. 
Sugestão do presidente Francisco de Assis Pereira Rocha. 
O presidente, em 1864, acha que os regulamentos de ensino em vigor, embora 
contenham uteis disposições do Reg. De 1854 da Côrte, “constituem, entretanto, indigesta 
compilação que embaraça o regular andamento do serviço”. É precisorefundi-los. A divisão do 
ensino primário em elementar e superior é de grande vantagem, convem, porem que se adapte 
um dêsses graus às circunstancias locais. O programa delas devem compreender menor número 
de materiais, ficando assim a instrução ao alcance da população e, portanto, mais aproveitavel. 
É preciso que a instrução se torne uma realidade e não uma bela promessa. O ensino 
obrigatório ainda não foi praticado: idéia nova e que a muitos parece vexatória, deve ser 
realizada quando a consciencia pública a aceitar sem sacrificios. Em 1870 anuncia-se a criação 
da Escola normal, tendo matriculados no 1º ano, 12 alunos de ambos os sexos, dos quais 
concluiram o curso 6 que se matricularam no 2º ano. Atualmente, diz o presidente, acham-se 
matriculados 21 alunos de ambos os sexos. 
 Na presidencia Pinto Lima é promulgada uma vasta reforma do ensino público: 
conselho diretor de seis membros, remunerados; o inspetor geral da instrução por um ano; 
visitadores extraordinários (membros do conselho); ensino particular livre; programa da Escola 
normal contendo, entre outras disciplinas, pedagogia, noções de ciências físicas e naturais, 
escrituração mercantil; diretor da Escola pessoa que reuna condições morais, ilustração e 
experiencia especiais; a conduta do normalista dentro e fora da Escola seria objéto de atenção 
e dos professores, e excluidos os que revelassem vicios improprios para o magistério. Nos 
núcleos coloniais onde existissem professores particulares contratados ficariam criadas cadeiras 
de 1º grau; postas a concurso as cadeiras, os professores nomeados deveriam mostrar-se 
também habilitados no idioma dominante no centro colonial. Foi também remodelado o Ateneu 
rio-grandense. No ano seguinte dizia um novo presidente (cons. Figueira de Mello), em março, 
10 mêses depois, que não encontrava executada, nenhuma das duas leis anteriores, senão a 
nomeação dos seis diretores e a designação dos seis distritos que eles deviam percorrer em 
visitas extaordinárias. A Escola normal estava realizando as esperanças do legislador. E outro 
presidente (Costa Pereira Junior) informava ao seu sucessor que “as tradições do tempo das 
escolas coloniais não edificavam, e que era preciso vence-las”. – As reformas seguem-se umas a 
outras, e o que se faz hoje, continua a ser objéto de censuras, e causas de novos pedidos de 
reformas. Eis o estado atual da instrução, e para resolve-lo não se deve olhar tanto para a parte 
teorica do assunto, como das diferentes praticas que deviam ser vencidas. Existiam nêste ano de 
1873, 252 escolas (162 de meninos e 90 de meninas); nelas estão matriculados 4.976 alunos e 
2678 alunas. Vagas 85 cadeiras. Existiam 50 professores particulares contratados para o ensino 
de crianças pobres (1.552 alunos). A frequência das escolas particulares (dados incompletos) 
sobe a 4.417 alunos, os quais unidos aos das escolas públicas perfazem 12.224. Seria para 
desejar, diz o presidente Carvalho Morais, que as escolas funcionassem em prédios 
construidos expressamente para elas. Ao presidente, o inspetor geral da instrução 
observava que, “a multiplicidade de reformas realizadas nestes últimos tempos, no 
ensino, destruindo umas o que outras tinham estabelecido e começava a ser posta em 
execução, tem criado tal ponto a descrença em todos, e mais especialmente nos que se 
acham ebcarregados do ensino da infância, que não há quem possa dizer na Provincia 
qual será a lei que regula este serviço no dia de amanhã. Tudo é oscilação...” 
 No mesmo ano uma lei regulava a administração das escolas: inspetor geral; 
conselho de instrução pública; inspetores de comarca (os promotores públicos), e 
inspetores de paroquia. O inspetor geral seria o diretor da Escola normal. – Reforma da 
Escola normal (1877): entre as materias do programa prescreviam-se gramatica 
filosofica nas suas aplicações à lingua portuguesa, pedagogia compreendendo a sua 
história, suas divisões e aplicações praticas, algebra, geometria plana com aplicações 
praticas, noções de física e quimica, elementos de história natural em suas aplicações 
praticas, estudo da lingua francesa, desenho linear, figurado, de paisagem, topografico, 
e de arquitetura. Aula de alemão anexa à Escola, devendo o ensino dessa lingua ser 
obrigatorio para os que pretendessem o cargo de professor da lingua nacional nas 
localidades habitadas por alemães. Escolas anexas para pratica do ensino primário, 
uma para cada sexo, anexas à Escola, sob a direção do professor de pedagogia. Os 
alunos aprovados no 1º ano do curso normal poderiam ser nomeados professores 
interinos, preferindo-se os que tivessem aprovação plena. O cargo de professor efetivo 
só poderia ser provido por professor normalista e que tivesse completado 20 anos de 
idade. As preferencias para o provimento do cargo de professor seriam: a) o exercicio 
de adjunto; b) as melhores notas de aprovação no curso normal; c) para as aulas dos 
núcleos coloniais o conhecimento da lingua alemã. Professores adjuntos nas escolas de 
frequência superior a 60 alunos. – A direção e fiscalização da instrução seriam exercidas 
por um diretor geral, conselho de instrução, camaras municipais, delegados de distritos. 
Atribuições das camaras: exercer a fiscalização das aulas; inventariar os utensilios das 
escolas; contratar, por meio de concurrencia, o fornecimento de objéto de ensino, às 
escolas;aplicar penas de repreensão, multas, suspensão (8 dias) aos professores; nomear 
os examinadores; informar ao diretor geral acerca da idoneidade da pessoa indicada para 
professor substituto: indicar o local e escolher a casa para escolas; fazerem 
trimensalmente visitas às aulas por uma comissão de vereadores. 
 O relatório do diretor geral Azambuja Vilanova contem êstes informes: a 
Provincia tem 408 escolas frequentadas por 9.464 alunos ou meno 639 do que no ano 
anterior. Es escolas e colégios de ensino particular são em número de 121 frequentadas 
po 2.856 meninos e 1824 meninas. Total da frequência 14.548. A população livre da 
Provincia é aproximadamente de 367.000 habitantes, e portanto a população escolar de 
52.000, da qual só procura a escola menos de um terço. Dá o relatório as cifras de 
escolas, matriculas, receita e despesas públicas com a instrução pública de todas as 
Provincias do Imperio. O total é o seguinte: 4653 escolas, 155058 alunos; 
21.939:900$000 receita das Provincias e 4.162:400$000 despesa com a instrução. Pelo 
confronto com outras Provincias, diz A. Villanova, o Rio Grande do Sul tem feito 
avanço apreciavel. – O atrazo da instrução elementar na Provincia tem por origem: a 
incapacidade do professor, desleixo dos pais de familia e deficiencia de inspeção. – “A 
invenção e vulgarização entre nós do sistema homeopatico trouxe sensiveis males à 
causa do ensino: raramente deixa o professor público de ser médico na localidade. 
Apenas de posse do titulo de preceptor, faz logo aquisição de uma caixa e de livros. 
Sobre a mesa de uma escola não se encontrará com certeza, o Regulamento do ensino 
ou outro qualquer livro de ensino, mas Cochrane e V. Martins, Mine, lá estarão 
atestando a incuria criminosa do mestre e a ousadia do charlatão. Outros tem decidida 
paixão pela advocacia, pela política, pelas corridas de cavalo. E assim em perpetuo 
folguedo, vive grande parte do nosso professorado com prejuizo manifesto dos 
discipulos a quem não poucas vezes tambem os mestres oferecem em espetaculo atos 
ofensivos à moral”. O diretor geral, declara, entretanto, que os professores públicos da 
capital e cidades populosas são, em geral, exemplo de bom procedimento civil, moral e 
profissional. – Uma lei de maio de 1877 acabou com o provimento de cadeiras por 
contrato. Resultado: cerca de 1.597 individuos ficaram privados de instrução,desaproveitadas não poucas aptidões criadas na pratica de muitos anos de ensino, e 
ainda perda de imenso material de cerca de 100 escolas distribuidas por longinquas 
paragens. – Nota ainda o A. Villanova: é demasiada sensível a falta de professores: mais 
de metade das cadeiras do sexo masculino está por prover; comarcas inteiras não 
possuem uma única escola. E lembrava como solução o provimento das escolas do 
1ºgrau pelas professoras habilitadas pela Escola normal. É fato incontestavel a 
supremacia da mulher para as funções do magistério primário, não só para a infancia 
como para os adultos. A experiencia está feita na provincia do Ceará.- A Provincia tem 
despendido grossas somas para elevar o nivel intelectual de seus filhos, e entretanto, a 
estatística de nossa ignorancia é ainda enorme, segundo se vê dos quadros dos 
municipios e paroquias: de 1866 a 1876 despendeu-se com a instrução pública 
1.967:734$000 sem auferir resultados correspondentes: 408 escolas com frequência de 
9.362 alunos. Esta estatística é um corpo de delito de nosso atrazo. Dos 50 mil 
individuos aptos para ir à escola, e só 9.362 recebem instrução. Os inspetores, de 
paroquia e comarca, salvas exceções, não cumprem com os seus deveres. Dos 20 só 4 
remeteram relatórios semestrais... Desde a sua criação a Escola normal tem preparado 
88 alunos mestres, dos quais 40 tem sido nomeados, e 7 ocupam lugares de professores 
adjuntos nas escolas da capital. É digno de nota a frequência crescente das mulheres e 
decrescente de homens. – A lei de orçamento para o exercicio de 1878 designa a quantia 
de 456:400$000 para o ensino público (a despesa total era de 2.300 contos). 
 O presidente Joaquim Pedro Salgado, em 1881, informava à Assembléia 
legislativa: é deploravel o atrazo da instrução pública. Não temos ainda sistema, não há 
ensino, não há escolas. Não é somente a adoção de boas instituições que são elementos 
de progresso nos paizes cultos; é sobretudo na escolha para a sua execução, a dar-lhes 
vida, a converte-las em realidades. Leis sem bons executores, instituições desvirtuadas 
na sua aplicação não são menos fatais que as más leis. É o mestre o principio ativo e a 
vida da escola. Bons mestres. Os nossos pecam por falta de conhecimentos, e ainda 
mais, pela falta de vocação. Sobre o ensino normal, assinala o presidente Salgado que a 
Escola está estabelecida sobre bases e principios importantes de estrangeiro, sem adaptação ao 
nosso país. Criando, nela um curso de preparatórios procurei habilitar o aluno a saber fazer 
alguma cousa, e não a saber repetir uma imensidade de cousas, e das quais ele nem entende. Os 
exames também foram modificados com o fim de obrigar-se os professores a entrar nas boas 
praticas do ensino. – Está aberto um inquerito sobre o ensino primário em todos os pontos da 
Provincia e aguardo o resultado dêsse estudo para regulamentar o serviço, fazendo-o e 
sujeitando a regras e principios que possam ter eficaz e real aplicação “Legislar sobre o 
desconhecido é legislar sobre o acaso”. – Decreta o presidente Salgado a reforma da Escola 
normal. Dois cursos: preparatório e normal. O programa deste, entre outras disciplinas, 
pedagogia e principios de direito natural, cosmografia e elementos de ciências naturais. Aulas 
de desenho de paisagem e noções de perspectiva. O lente de história consagrará algumas lições 
de economia politica e direito constitucional (explicação da Constituição). Os alunos são 
obrigados a aula de francês e alemão. Será ob rigatório, porém, o ensino de alemão para os que 
pretendem o cargo de professor nas circunscrições habitadas por população de origem alemã. 
Conferencias pedagogicas. – Ainda neste ano era decretado o Reg. Da instrução primária. Vasta 
reforma. Direção geral. Inspeção distribuida ao conselho de instrução, camaras municipais e 
inspetores escolares. O conselho dividido em três secções: a 1ª competia estudar relativos a 
metodos e sistemas de ensino, compendios, regimentos internos, transferencia, 
jubilação, vitalicidade e gratificação aos professores; a 2ª: programas para concurso e 
exames nas escolas; a 3ª infrações disciplinares, pareceres sobre bases de reforma. Ao 
inspetor, entre outras obrigações, cabe o arrolamento de meninos, afim de verificar 
quais os que estavam no caso de frequentar a escola. Cadeiras em todos os lugares em 
que a Camara Municipal ou qualquer particular oferecesse casa e mobilia apropriadas, 
uma vez que a população escolar fosse superior a 20 meninos. Ensino de adultos pelos 
professores públicos, mediante gratificação. Escolas de ensino preliminar (1º grau) 
elementar (2º), e de ensino complementar (3º). Estas funcionariam na capital, Rio 
Grande, Pelotas, Bagé e Jaguarão. No programa: lições de cousas, geometria pratica, 
noções de ciências naturais (com aplicação à agricultura nas escolas rurais). Assina 
êste regulamento em maio o diretor geral Adriano Nunes Ribeiro. – No ano seguinte o 
presidente L. Antunes Maciel, dizia que “despendendo a Provincia com a instrução, 
relativamente mais que as outras do Imperio, nenhum resultado, entretanto, pode 
assinalar, senão o mais negativo. A anarquia, os interêsses pessoais, conveniencias 
partidarias anularam todos os intuitos dessa instituição, cujos defeitos só poderão ser 
removidos com perseverante direção do seu habil chefe”. O seu sucessor, no mesmo 
ano, notava que preferia a profundidade à extensão do ensino. Um professor que com o 
ensinamento do ler, escrever e contar, suscitasse no animo da infancia estimulos pelo 
trabalho, e lhe afeiçoasse o coração pelos bons sentimentos, que longe de armar as 
creanças desses livrinhos futeis ou transcendentes, que nada produzem, formasse o 
coração da mocidade pelo conhecimento das boas ações, faria mais obra de 
merecimento do que o professor erudito que conseguisse formar alguns laureados. E 
denunciava ainda as dificuldades da aplicação da lei sobre o ensino obrigatório. Em 
1883 o ministro do Imperio Pedro Leão Veloso sugere a creação de um fundo especial 
para a instrução, cuja principal fonte de receita seria a taxa escolar, dividida em 
imposição local e provincial, consistindo a primeira em diminuta contribuição direta, 
paga pelos habitantes de cada municipio, e a segunda em porcentagem adicional a 
alguns impostos diretos. 
 Em 1886, o presidente assinala os defeitos da reforma de 1881: a classificação 
das escolas só existe na lei e não na pratica. A fiscalização está longe de ser completa. 
Se algumas Camaras municipais se esforçam por bem cumprir os seus deveres, a maior 
parte assim não procede. O conselho de instrução sobrecarregado de trabalhos (os seus 
membros são lentes da Escola normal) não pode prestar conveniente auxilio à inspeção 
e fiscalização. O regulamento da Escola normal tornou-a um Estado no Estado. Foram 
suspensas 17 escolas por não terem a frequência legal. E um terço talvez das escolas da 
Provincia estão nas mesmas condições. – No ano seguinte o presidente Azambuja 
Villanova dava noticia de 361 escolas em função e 199 vacantes. A frequência 16.840 
alunos (9.875 meninos e 6.967 meninas). Em estabelecimentos particulares 7.247 (4.921 
meninos e 2.326 meninas). A Escola normal está em pleno funcionamento. Resta saber, 
diz o presidente A. Villanova (antigo e zeloso diretor geral do ensino) se as condições 
da instrução normal melhoraram com o advento da nova geração, temeridade seria 
nega-lo, tanto equivaleria a confissão pelo poder público de que em pura perda se 
despenderam até o presente 350 contos com o custeio de um estabelecimento em 
verdade mais aparatoso do que convinha. Entretanto, há ainda quem ouse afirmar que o 
presente só se avantaja do passado na criação de maior número de escolas, e na despesa 
correspondente paramante-las. “Os mestres antigos parcamente remunerados, regendo 
escolas miseravelmente organizadas, mas sempre frequentadas por consideravel número 
de alunos, sabiam pouco, simplesmente ler, contar e escrever, porem êsse pouco 
sabiam-no bem e melhor ainda o sabiam transmitir aos seus discipulos, ao passo que o 
professor moderno aprendendo muito, sabe pouco e nada ensina”. – O diretor geral da 
instrução nota sobre a classificação das escolas: não foi efetuada devido às dificuldades 
de semelhante inovação. O mesmo denuncia que diversos professores recusavam-se a 
matricular em suas escolas crianças de côr preta. Providencias foram tomadas para 
sanar estas irregularidades. E louva os cidadãos José Alvares de Souza Soares e 
Rheingantz, porque em seus estabelecimentos fabris nas cidades de Pelotas e Rio 
Grande, criaram e mantêm escolas, de ensino gratuito, para os filhos dos operarios. O 
adiantamento dos alunos, a ordem e o asseio dessas escolas dispensam elogios de que 
são dignos êsses benemeritos cidadãos. 
 Em 1888 o relatório presidencial dava as seguintes cifras: 619 escolas primárias, 
das quais providas 377 e vagas 242. Existem na Provincia 372 professores primários. A 
matricula nas escolas subiu a 10.218 meninos e 7.815 meninas. – No ano anterior a 
despesa com a instrução pública foi 571:600$000; a despesa geral de 2.844 contos. 
 
 Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1940.

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