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REVISÃO DIREITO PENAL IV Coação no curso do processo exercicio arbitrário das próprias razões

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REVISÃO DIREITO PENAL IV- AV1 
Wendell Sodré 
Bacharelando em Direito pela Universidade Estácio da Bahia
Denunciação caluniosa – Art. 339 CP
As verdadeiras convicções não se mostram, provam-se." 
Lamartine
O artigo 339 do Código Penal Brasileiro, que regula a Denunciação Caluniosa, estatui: "Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa." gn.
O artigo supracitado sofreu alteração em sua redação pela lei 10.028/2000, incluindo justamente "dar causa a instauração de ação de improbidade administrativa." gn
Por outro lado, o artigo 19 da Lei 8.429/92, que regula a representação por ato de improbidade administrativa, estatui: "Constitui crime a representação por ato de improbidade administrativa contra agente público ou terceiro beneficiário quando o autor da denúncia o sabe inocente. Pena: detenção de 6 (seis) a 10 (dez) meses e multa."
O ponto de partida para a exposição que pretendemos fazer nos obriga a penetrar em seara diferente do direito penal em busca de subsídios capazes de conduzir o leitor a um entendimento satisfatório sobre o tema proposto.
Nas palavras de San Tiago Dantas, "O comum, porém, é a norma jurídica só perder a sua eficácia quando uma outra norma vem revogá-la. A revogação pode ser expressa ou tácita. Diz-se expressa quando a lei nova declara literalmente que fica sem efeito a lei anterior, não, por ex., quando diz: revogam-se as disposições em contrário, mas quando diz: fica sem efeito a lei tal, nº tal, de tal data. A revogação tácita, essa ocorre, todas as vezes em que a lei nova dispõe sobre a mesma matéria da lei antiga, caso em que as duas disposições sendo incompatíveis, entra em vigor a nova e perde o vigor a lei anterior"
A interpretação dos dispositivos em comento (CP art. 339 e art 19 da Lei 8.429/92) ficou confusa em função de o legislador ter estatuído no art. 19 da lei especial um crime de denunciação caluniosa específico, quando alguém representar à autoridade administrativa para que seja instaurada investigação por ato de improbidade por parte do agente público ou de terceiro beneficiário, sabendo que a pessoa é inocente. A pena nesse caso é de detenção, de 6 a dez meses, e multa. Esse crime, entretanto, só se configurará se o ato de improbidade imputado ao agente não constituir crime, caso contrário teremos que aplicar o art. 339 do Código Penal.
Nessa linha de pensamento, buscamos apoio na Lei de Introdução ao Código Civil, art. 2º§ 2º, onde diz que "A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior."
Nesse sentido, sendo o Código Penal uma norma geral, em princípio, não revoga a norma especial e vice-versa.
A melhor exegese para a solução do problema é encontrada após a diferenciação entre os institutos, pois assim poderemos nos localizar em um e outro e aplicar a sanção para o caso concreto: na denunciação caluniosa (CP, art. 339), a pena é de reclusão, de 2(dois) a 8 (oito) anos, e multa; na representação ou denunciação caluniosa específica (art 19 da Lei 8.429/92), a pena é de 6 (seis) a 10(dez) meses e multa; na denunciação caluniosa (CP, art. 339), exige-se a instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa; na representação ou denunciação específica (art 19 da Lei 8.429/92), é suficiente a mera representação acompanhada do dolo para a consumação do crime.
Devemos, ainda, para melhor esclarecimento sobre o tema, analisar a natureza jurídica da ação de improbidade administrativa, cujas sanções são de natureza extrapenal, portanto, tem característica de sanção civil. Até aqui, não há qualquer divergência doutrinária. O equívoco ocorreu por parte do legislador quando intitulou o capítulo "Das penas" dando a entender que estaríamos diante da pratica de crimes. Muito embora, existam na lei algumas sanções de conteúdo penal, o que não faz qualquer alteração quanto à natureza civil da ação de improbidade administrativa.
A nosso sentir, e com o pedido de venia aos mais estudiosos sobre a matéria, o melhor entendimento, s.m.j, fica com aqueles que se manifestam no sentido de que, quando a denunciação caluniosa se referir a crime, esteja ele onde estiver, na lei de improbidade administrativa ou no Código Penal, receberá a sanção do disposto no artigo 339 do Código Penal.
Afirmamos isso, com esteio nas letras do Professor César Roberto Bitencourt, quando em sua obra Tratado de Direito Penal, Parte Especial, página 522 assim se pronuncia:
		"Com efeito, nem todo ato de improbidade administrativa constitui crime, em razão do caráter fragmentário do direito penal, que exige tipicidade estrita. Assim, nada impede que alguém atribua, falsamente, a algum agente público a prática de ato de improbidade administrativa que, no entanto, não seja tipificado como crime. Nesse caso, esse alguém incorre na previsão do art. 19 da lei n. 8.429/92; contudo, quando a representação, de qualquer forma, imputar, falsamente, a prática de ato de improbidade administrativa que, ao mesmo tempo, seja definido como crime incorrerá na previsão do art. 339 do Código Penal, com a redação determinada pela lei n. 10.028/2000. em sentido semelhante é a orientação de Damásio de Jesus, ao manifestar-se contra a revogação do artigo 19, in verbis: "Cremos que não, pois as duas disposições podem coexistir pacificamente de acordo com duas regras: 1ª) quando o denunciante atribui falsamente à vítima ato de improbidade que configura infração administrativa, porém não configura crime, aplica-se o art. 19 da lei n. 8.429/92. Ex.: ato praticado com desvio de finalidade (art. 11, I, da lei n. 8.429/92); "quando a denunciação incide sobre ato que, além de atentar contra a probidade administrativa, constitui também delito, aplica-se o art. 339 do CP. Ex.: art. 10, VIII, da lei 8.429/92, em que a fraude em arrematação judicial, além de configurar ato de improbidade, encontra-se definida como crime (art. 358, CP). De observa-se que a denunciação é atípica quando seu objeto configura ato meramente infracional, não possuindo natureza ímproba nem criminosa".
Por fim, face o que nos propusemos esclarecer, se é que fomos capazes, deixamos a nossa conclusão, sem pretensão de ser a voz da verdade, no sentido de que o crime de denunciação caluniosa, independente de onde se extraia, se do Código Penal ou da Lei de Improbidade Administrativa, é sancionado na forma do artigo 339 do CP, restando as infrações administrativas da Lei de Improbidade Administrativa para a aplicação de sanção prevista no art. 19 da Lei n. 8.429/92, sem a necessidade de enfrentar o árduo caminho sob a ótica da revogação de uma lei especial por uma lei geral, o que com certeza será penoso, cansativo e inconclusivo.
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME – Art. 340 
Código Penal - Decreto -Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Comunicação falsa de crime ou de contravenção 
Comunicar a uma autoridade fato criminoso que não existiu é crime
A pessoa que faz a comunicação de um crime que não ocorreu, gerando a atuação de uma autoridade no intuito de investigar o falso crime, pode ser responsabilizada pelo crime de comunicação falsa de crime, previsto no artigo 340 do Código Penal, e está sujeita a uma pena de até 6 meses de detenção e multa.
O criminoso, por meio de uma mentira, movimenta vários órgãos do Estado, para investigar um crime que não existiu, como: delegacia, fórum, Ministério Público, entre outros.
Esse tipo de crime é diferente do crime de denunciação caluniosa que, para sua configuração, exige que seja atribuído crime a uma pessoa inocente, e que seja instaurado um processo ou investigação contra essa pessoa. No caso da comunicação falsa, basta que seja comunicado à autoridade um crime fictício,
sem indicar o suposto criminoso ou indicando pessoa que não existe.
 
Código Penal - Decreto -Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Comunicação falsa de crime ou de contravenção
        Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
 
AUTOACUSAÇÃO FALSA -Art 341 
A pessoa que, de alguma forma, procura a autoridade policial e assume ter cometido crime que na verdade foi cometido por outra pessoa, ou assume crime que não existiu, incorre no crime previsto no artigo 341 do Código Penal, que prevê pena de detenção de três meses a dois anos e multa... 
A norma que prevê esse crime tem como objetivo proteger a administração da Justiça e garantir que os verdadeiros criminosos sejam punidos.  
 
Código Penal - Decreto-Lei nº  2.848, de 7 de dezembro de 1940.
Autoacusação falsa
        Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
        Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
CRIME DE FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA
Art-342
O Código Penal Brasileiro traz em seu artigo 342 o crime de falso testemunho ou falsa perícia. Trata-se de condutas contra a administração da justiça e somente pode ser cometido por testemunha, perito, tradutor, contador ou intérprete (pessoas essenciais para a atividade judiciária). Pois essas pessoas prestam informações que podem servir de fundamento para decisões em processos judiciais ou administrativos. 
As condutas criminosas consistem no ato de mentir ou deixar de falar a verdade quando as referidas pessoas estiverem em juízo, processo administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral.
Para que o crime seja considerado como consumado, basta a realização de qualquer das atividades referidas no artigo e não há necessidade de o ato ter produzido consequências.
Se o acusado de falso testemunho desistir da mentira e contar a verdade, no processo que ele mentiu e/ou omitiu, o crime deixa de existir. Mas a retratação deve ocorrer antes da sentença.
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
        Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.     (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)     (Vigência)
        § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
        § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Exercício arbitrário das próprias razões e o linchamento – Art. 345 
Prevê o artigo 345 do Código Penal:
Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
Tutela-se a administração da justiça, impedindo-se que o particular satisfaça sua pretensão, legítima ou ilegítima, fazendo valer sua vontade por meio de violência, ameaça, fraude, etc. Isso porque compete ao Judiciário dirimir conflitos de interesses, não se permitindo que qualquer pessoa crie embaraço à atuação regular da Justiça. No crime em tela o indivíduo revela desprezo pela Justiça, uma vez que usurpa uma prerrogativa que é inegavelmente própria do Poder Judiciário, que exerce o poder-dever da Jurisdição.
Em face da pena aplicada é crime de menor potencial ofensivo, podendo ser aplicado o benefício da transação penal (artigo 76 da Lei 9.099/95).
Tem-se a origem desse tipo penal no direito italiano (Código Penal, artigo 392), com precedentes históricos no Código sardo de 1859 (artigo 286) e ainda no código toscano de 1853 (artigo 146), de onde passou aos códigos Zanardelli (artigo 235) e Rocco (artigo 392 e 393).
A essência do delito está no direito-dever de aplicar e fazer valer o direito, tarefa do Estado, ao passo que o particular aplica e faz valer o direito do Estado, como se tem da lição de Piero Marsich (Esercizio arbitrario delle proprie ragioni nel diritto italiano vigente, Padova, 1926, pág. 69 e seguintes).
Sobre o assunto, confira-se a lição de Rui Stocco e Tatiana de O. Stocco:
“O ser humano evoluiu e desenvolveu-se no sentido de buscar estruturar-se através de um grupo social do qual faça parte e, nele inserido, acatar as regras e o modus vivendi que o próprio estrato social estabeleceu. Um dos pressupostos da vida em sociedade e da inserção da pessoa nessa sociedade é - obrigatoriamente - a submissão às regras estabelecidas e à legislação posta. Se as divergências entre pessoas devem ser dirimidas pelo Poder Judiciário - porque assim se estabeleceu -, que tem no juiz o árbitro das querelas, nada justifica que alguém queira fazer justiça pelas próprias mãos. Essa a razão pela qual a reprovação da sociedade a esse comportamento fez com que a conduta fosse considerada grave e erigida à condição de crime. (...)
Objeto material é a conduta justiceira daquele que despreza a legislação regente do inter-relacionamento das pessoas e que estabelece os mecanismos e procedimentos para dirimir conflitos e busca, individualmente, fazer a sua justiça, segundo a sua visão e entendimento, em desprezo às regras previamente estabelecidas”. (Código Penal e sua interpretação: doutrina e jurisprudência. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. P. 1685.)
Explica Heleno Cláudio Fragoso (Lições de direito penal, volume III, 5ª edição, pág. 523) que:
“a materialidade do fato consiste em fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão jurídica. Sendo assim a existência da pretensão é pressuposto indispensável do fato, sendo, porém, irrelevante, que ela corresponda efetivamente a um direito, desde que o agente suponha de boa-fé que o possui”.
É conhecida a lição de Nelson Hungria (Lições de direito penal, volume IX, pág. 492) no sentido de que para que se possa reconhecer a sinceridade da convicção (titularidade de um direito) deve existir pelo menos a aparência do direito, um fumus iuris, ou como entende Sabatini, uma pretensão que, se levada a juízo, não seria rebatida como lide temerária. Para Heleno Cláudio Fragoso (Lições de direito penal, volume II, 5ª edição, pág. 523) o essencial é que o agente pratique a ação de boa fé, não se podendo excluí-la a priori mesmo nos casos em que haveria lide temerária, devendo ser levada em conta, à luz do que disse Manzini, a educação, a cultura e a capacidade intelectual do agente.
Ao contrário do que ocorre com o direito italiano, a violência não é elemento constitutivo do crime, que pode ser praticado mediante fraude.
Esse crime não se confunde com a figura do esbulho possessório (artigo 161, § 1º, II), que tem como pressuposto a invasão de propriedade alheia com o fim de esbulho possessório (RT 380/173).
Paulo José da Costa (Comentários ao código penal, volume III, 1989, pág. 564), lembra a lição de Carrara quando ensinou que:
“o ato externo deve privar alguém contra a sua vontade de um bem que desfruta. Aquele que está fruindo de um bem e continua a fruí-lo apesar de quem não o queira, não delinque porque a lei protege o status quo que não poderá mudar a não ser por consentimento dos interessados, por decreto da autoridade judiciária”.
Sujeito ativo é qualquer pessoa que pratica a conduta inscrita no artigo 345 do Código Penal, de forma que se tratar de funcionário público poderá ser hipótese de abuso de autoridade. Por sua vez, o sujeito passivo do crime é o Estado
que exerce a administração da Justiça.
O crime se configura quando o agente faz justiça pelas próprias mãos, para satisfazer a uma pretensão. Ensina Magalhães Noronha (Direito Penal, 15ª edição, 1978, volume IV, pág. 505), que a pretensão se assenta em um direito que o agente tem ou julga ter, ou seja, pensa de boa-fé possuí-lo, o que deve ser apreciado não apenas quanto ao direito em si, mas também de acordo com as circunstâncias e as condições da pessoa. Assim a pretensão pode ser ilegítima, ocorrendo o ilícito em discussão desde que o agente se convença de ser o titular do direito.
Sendo assim será indispensável que a pretensão possa ser objeto de apreciação da Justiça, pois não ocorrerá o crime se houver carência de ação, como impossibilidade jurídica do pedido (cobrança de dívida de jogo ilegal), falta de interesse de agir (falta de necessidade ou utilidade em recorrer ao Judiciário diante de uma pretensão resistida ou a inadequação da via eleita), se a pretensão estiver sujeita a prescrição, que é uma forma de encobri-la. Considera-se indiferente a efetiva existência do direito.
Essa pretensão pode envolver um direito pessoal, um direito real, um direito de família.
Pode a pretensão ser do próprio agente ou de terceiro, se houver mandato ou gestão de negócios, por exemplo, como ensinou Nelson Hungria (Comentários ao Código Penal, volume IX, pág. 492).
Como ensinou Júlio Fabbrini Mirabete (Manual de direito penal, volume III, 22ª edição, pág. 417) o crime de exercício arbitrário das próprias razões é de ação livre, podendo ser praticado por violência, fraude, ameaça. Assim o tipo penal exige uma pretensão legítima (ou supostamente tal) e de uma ação ou omissão que em outras circunstâncias iria constituir um fato delituoso autônomo: furto, dano, apropriação indébita, etc, de forma que justificada pelo propósito doloso e específico do agente.
Assim há o crime previsto no artigo 345 do Código Penal: se a intenção do agente, ao se apoderar da coisa alheia móvel, foi a de se pagar dívida que o dono se recusara a satisfazer (RT 522/439; 554/377; RF 145/346). Haverá tal crime se o médico vem a reter o paciente no hospital uma vez que não recebeu o pagamento atinente a internação e tratamento (RT 512/423). Já se decidiu ainda que havia esse crime previsto no artigo 345 do CP se o objetivo não era a subtração, mas a retenção do objeto até que fosse saldada a dívida (RT 486/326). Há ainda esse crime se há uma conduta que leve a dano da coisa se praticada para reaver coisa que o agente suponha lhe pertencer (RT 419/390). Há o crime do artigo 345 do CP se o agente, para conter a agressividade da vítima, depois de dominá-la fisicamente a amarrá- la a um mourão, se dirigiu a policia para informar o fato persuadido de haver exercido um direito (RT 182/319). Outro exemplo presente no artigo 345 do CP existe quando o agente acorrenta a vítima com o intuito de fazê-la trabalhar para si, a pretexto de se ressarcir de prejuízo causado por aquela (RJDTACRIM 5/95). Outros exemplos: derrubar muro divisório de sua propriedade erguido pelo confinante (RT 485/332); cortar água e luz do locatário, absorvendo-se a contravenção referente à economia popular (RT 429/430); o adquirente do imóvel arrematado em execução hipotecária, aproveitando-se da ausência do ocupante, muda o cilindro da fechadura para imitir-se na posse (RT 639/370).
No julgamento do RHC 33.166/RN, Relator Ministro Jorge Mussi, DJe de 5 de setembro de 2012, registra-se que foi narrado pelo órgão acusador que, embora não tenha utilizado a via correta, o recorrente, insatisfeito com o serviço anteriormente prestado pela empresa vítima em seu veículo, acompanhado de outra pessoa, impelido por um acerto de contas, resolveu se apropriar de alguns dos bens da empresa vítima como forma de ser ressarcido do suposto prejuízo. Era caso típico de aplicação do artigo 345 do Código Penal. O recurso foi provido para atribuir nova classificação à conduta dos recorrentes para o crime de exercício arbitrário das próprias razões, previsto no artigo 345 do Código Penal, anulando ação penal ajuizada, em razão da ilegitimidade ativa do Ministério Público, e declarar a extinção da punibilidade dos recorrentes pela decadência do exercício da ação penal privada pelo ofendido, nos termos dos artigos 103 e 107, inciso IV, do Código Penal.
Mas se exclui a antijuridicidade da ação nos casos em que a lei permite a violência privada: legítima defesa, estado de necessidade, cumprimento do dever legal, restituição de posse incontinenti, nos casos de turbação ou de esbulho.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo que se constitui não só pela vontade de empregar o meio, que pode ser a violência, a ameaça, a fraude, etc, como ainda pela finalidade de fazer justiça pelas próprias mãos, ou seja, satisfazer a uma pretensão real ou ainda supostamente legitima (RT 654/307-9). O dolo genérico acha-se representado pela vontade livre e consciente de fazer justiça enquanto que o dolo específico pela finalidade do agente de satisfazer pretensão jurídica legítima ou supostamente tal. Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 525) segue a linha de Manzini, para quem o agente deve limitar-se a pretender ainda que com meios ilícitos, o que supõe ser materialmente justo.
Como ensinou Paulo José da Costa (obra citada, pág. 564) consuma-se o crime quando o agente, substituindo-se arbitrariamente à autoridade judiciária, a qual poderia recorrer, faça justiça por ele mesmo. Para Paulo José da Costa, assim, não se aperfeiçoa o crime com o mero uso de meio arbitrário, como disse Magalhães Noronha (obra citada, volume IV, pág. 378), fundado nas lições de Maggiore, para quem consuma-se o crime com o emprego ou uso do meio arbitrário, sendo indiferente que o agente consiga ou não a sua pretensão. Para Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 524) não parece ser este o melhor entendimento, já que o crime é fazer justiça pelas próprias mãos, e não se pode dizer que faz justiça quem apenas tenta fazê-la.
O núcleo do tipo é fazer justiça pelas próprias mãos de forma que o tipo penal se consuma com a satisfação da pretensão. Em não sendo obtido o resultado pretendido, no entender de Júlio Fabbrini Mirabete (obra citada, pág. 418), há tentativa, ao contrário do que ensina Magalhães Noronha (obra citada, pág. 506 e 507).
Responde o agente pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões em concurso com a violência, sendo que o dano é objeto de absorção (RT 485/332).
Consoante os termos do parágrafo único do artigo 345 do Código Penal, no parágrafo único, se não há emprego de violência, procede-se mediante queixa. É o caso do crime quando envolve ameaça, ainda que grave (RT 282/106). No ensinamento de Nelson Hungria (obra citada, volume IX, pág. 491), a ação penal é privada quando se tratar de violência contra a coisa, pois a lei ao falar em vis corporalis se refere à violência contra a pessoa (RT 503/333). No entanto, a ação penal será sempre pública se houver interesse da União, Estado e Município, a teor da Lei 8.699, de 27 de agosto de 1993. A propósito, transcreve-se a lição de Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 525):
“ Há grande divergência doutrinária e jurisprudencial, no que concerne ao sentido do vocábulo violência, no dispositivo que ora estudamos. Ao passo que alguns julgados (RF 115/581) e autores (Bento de Faria, “Código Penal”, 1943, vol. 5, 616; Jorge Severiano, “ Código Penal”, vol. 4, 441) entendem que a violência, para ensejar a ação pública, tanto pode ser feita a pessoa como a coisa, outras decisões (Fragoso, “ Jur. Crim.”, nº 225) e autores (Nelson Hungria, IX, 491) afirmam que só cabe ação pública quando se trata de violência a pessoa. Este último entendimento tem sido sufragado pelo STF e por outros tribunais (RF 181/305, 260/331; RT 503/333, 503/429).
Ousamos divergir dos que entendem que o dispositivo em exame contempla apenas a violência à pessoa, pois tal opinião, conquanto autorizada, não se ajusta a nosso direito positivo. Não hesitamos em defendê-la de lege ferenda.”.
Para tanto, Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 526), em defesa de sua tese, faz menção a lição de Nelson Hungria (Comentários ao código penal, volume VIII, 69) noutro caso em que fala em violência tout court (artigo 208, parágrafo único, CP) quando ensina que pode ela referir-se tanto à pessoa como à coisa.
Espécie do crime de exercício arbitrário das próprias razões é o delito de tirar (subrair), suprimir (extinguir, eliminar), destruir (arruinar, demolir) ou danificar (causar dano, estragar, danificar) a coisa própria na posse legal de terceiro, previsto no artigo 346 do CP, que somente poderá ser praticado pelo proprietário da coisa que é objeto do crime, nada impedindo a coautoria ou participação de terceiros. Na primeira conduta, subtração, será necessário o desapossamento e que a vítima perca a posse. São exemplos: a venda de bens seqüestrados por determinação judicial, ainda que não haja sido assinado o auto de depósito lavrado, desde que dele já tenha sido intimado o alienante que os tinha em seu poder (RF 219/343-344) ou mesmo que tenha sido realizado eventual acordo entre autor e réu em pendência civil que deu origem ao fato típico penal. O tipo é doloso, que se consubstancia na vontade de praticar uma das modalidades previstas no artigo 346 do CP, não se exigindo que o agente tenha a finalidade de satisfazer a uma pretensão de direito real ou suposto, consumando-se numa das hipóteses legais, admitindo-se a tentativa. Quando a coisa, objeto do crime pertence não só ao agente, como também a terceiros que não sejam os coautores ou partícipes, ocorrerá, se houver subtração o crime previsto no artigo 156 do CP, que se procede mediante representação. No caso do artigo 346 do CP, a ação penal será pública. Certo, então, que a ação delituosa deve recair sobre coisa própria, isto é, coisa que pertença ao próprio agente, e, salvo na hipótese de furto, tanto faz que seja móvel ou imóvel, como bem ensinou Heleno Cláudio Fragoso (obra citada, pág. 527).
Diverso é o linchamento ou linchagem.
Fala-se que o linchamento é o assassinato de uma ou mais pessoas, geralmente por uma multidão, como objetivo de punir um suposto transgressor ou para intimidar, controlar ou manipular um setor específico da população.
Em climas de tensão social ou econômica os estudiosos das ciências sociais encontram essas situações patológicas.
Como tal é delito que pode ser cometido por multidão.
Não há um crime de linchamento previsto pela lei penal. Pode-se falar em crime contra a vida, homicídio qualificado (artigo 121, § 2º, CP) e ainda na forma tentada (artigo 14, II, CP), crimes que devem ser objeto de competência de Júri Popular, por serem dolosos contra a vida (artigo 5º, alínea d, do inciso XXXVIII).
Afastada a hipótese de associação criminosa (quadrilha ou bando) é possível o cometimento de crime pela multidão delinquente, como se vê, nas hipóteses de linchamento, saques, depredações, etc. Responderão todos os agentes do homicídio, roubo, dano, nesses exemplos, mas terão as penas atenuadas aqueles que cometerem o crime sob a influência de multidão em tumulto se não o provocaram (artigo 65, III, ¨e¨). A pena, por sua vez, será agravada para os lideres, os que promoveram ou organizaram a cooperação no crime ou dirigiram a atividade dos demais agentes, como se lê do artigo 62, I, do Código Penal. Essa a melhor lição de Júlio Fabbrini Mirabete (Manual de direito penal, volume I, 21ª edição, pág. 242).
Por certo, há exemplos de linchamentos na Antiguidade, na Idade Média na Europa e, no século XIX, há exemplos na Irlanda e na Rússia.
Durante a guerra de independência dos Estados Unidos, muitos atribuíram a origem da palavra linchamento ao coronel Charles Lynch, que o praticava por volta de 1782, ao tratar dos pró-britânicos. Nos EUA, os negros foram perseguidos por comitês de vigilância que deram origem a Ku Klux Klan, dentro de uma ideia abominável de ódio racial.
Os estudiosos no Brasil entendem que o linchamento se dá diante da falta ou ineficiência da presença do Estado, de uma população que não acredita no poder de policia, resolvendo fazer “justiça com as próprias mãos”, como uma forma de expurgo social, tentando restabelecer uma ordem que julgam perdida.
No Brasil, tem-se notícia de um homem que foi amarrado nu a um poste no Rio de Janeiro, quando diziam: “Era bandido”. Em São Paulo, uma mulher foi linchada no Guarujá, e ali se pensava: “ Era sequestradora de crianças”.
No Brasil, já se constatou que os linchamentos são autodefensivos, uma vez que seriam supostamente praticados em defesa da sociedade e não contra ela. Tudo isso porque esses linchadores seriam levados à ação pelo medo, um medo social difuso, que vem a se dissipar, de forma momentânea, no ato de linchar quando se vê a multidão forte e invencível, sob a forma de um verdadeiro ritual.
De acordo com o sociólogo Jose de Souza Martins (mestre em História Social e doutor em Educação Popular), quando estudou o fenômeno, “ há três anos eram três ou quatro por semana. Hoje estamos a mais de uma tentativa de linchamento diária”. Isso é preocupante para os estudiosos da matéria e para as autoridades e somente fará aguçar a chamada “ cultura do medo”, em que se nota que a causalidade da violência se deve a um conjunto de fatores em contextos precisos, como a que nasce da desigualdade social, étnica, e tem na pobreza sua mais estreita relação. É o retrato da miséria humana.
Realmente, no Brasil, os indícios de linchamento e tentativas vem crescendo: de quatro por semana antes das manifestações de rua de junho de 2003, que alguns têm como manifestação apartidária de democracia comunicativa, para um por dia depois dessas manifestações e, segundo se relata, chegaria a dois casos diários nos últimos dias. É o retrato do descontrole da sociedade, expressão de falta de confiança nas instituições, medo e insegurança.
Disse José de Souza Martins, sociólogo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, em artigo para o Jornal Estado de São Paulo, com o título “Seres sem rumo”, criada a circunstância do medo e a matéria-prima do estereótipo, a população entra de prontidão para identificar sinais do estigma da bruxa, como se fazia na Idade Média e no Brasil Colônia, na época da Inquisição, onde a vítima sempre terminava queimada viva na fogueira punitiva, de modo a lhe destruir o corpo e a alma.
O linchamento ocorre ás margens do sistema legal vigente, em que o acusado não tem condições de se defender.
É o linchamento a “justiça feita pelas próprias mãos”. Como tal não se justifica em pleno Estado Democrático de Direito que vivemos.
Afrontam esses “tribunais de rua” os direitos e garantias constitucionais que trazem a previsão do direito de defesa e da tutela do Estado. Não há um juiz ou um tribunal de apelação.
Concorda-se com a opinião de Virgílio Afonso da Silva (Folha de São Paulo, 16 de maio de 2014) para quem “nos casos de linchamento, não há polarização entre direita e esquerda. A contraposição é entre civilização e barbárie.”
Em verdade, como apontam os estudiosos, a conquista da civilização de não ser julgado pelo seu vizinho, de não ser apedrejado na rua, de não ser amarrado a um tronco não pode ser destruída porque o Estado em alguma medida vem a falhar na sua tarefa de garantir segurança pública e julgar.
Necessário ainda cuidado com o chamado “efeito copycat”, quando linchamentos são filmados e exibidos na imprensa ou na internet, causando um aumento do número de casos desse tipo.
Observa-se em tudo isso o poder da internet para provocar o comportamento irracional da turba, de forma que, às vezes, tem tido um papel decisivo na mobilização de multidões e na manifestação da loucura que se apossa dela. Será que as autoridades ainda não chegaram a conclusão de que a Internet está cheia de lixo, pois ela pode difundir inverdades?
É a cibernética com a Internet, obra do futuro, contribuindo para uma conduta primitiva, que leva à barbárie, onde os seres humanos estão sem rumo.
Fonte: http://www.jfrn.jus.br/institucional/biblioteca/doutrina/Doutrina417_EXERCICIO_ARBITRARIO_DAS_PROPRI...
O que caracteriza o exercicio arbitrario da razão ?
Exercício arbitrário das próprias razões é um termo jurídico. Significa que, no Brasil, não é permitida a autotutela, ou seja, se a pessoa sente ameaçada em seus direitos ela não pode resolver da forma que acha correta (por exemplo, agindo com vingança). Se a pessoa se sente ameaçada, ou tem um direito violado, ela deve buscar o Poder Judiciário, para que, através da justiça, seus direitos sejam resguardados. 
Quanto à segunda pergunta, depende qual foi a acusação. No Direito penal existem os crimes de calúnia, injúria e difamação. Tem que ver qual foi a acusação feita para, assim, saber qual a pena prevista para o crime (se ficar comprovada a existência de crime). 
De todo modo, são crimes de baixo potencial ofensivo, em que será possível fazer termo circunstanciado, trocando as penas de prisão ou multa por penas alternativas (por exemplo, serviços à comunidade, pagar cestas básicas).

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