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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DISCIPLINA: Introdução ao Estudo do Direito DISCENTE: Robson Felipe de Lima Junior CAPÍTULO II - JUSTIÇA, VALIDADE E EFICÁCIA Sumário: 9. Três critérios de valoração - 10. Os três critérios são independentes - 11. Possíveis confusões sobre os três critérios - 12. O direito natural - 13. O positivismo jurídico - 14. O realismo jurídico. 9. TRÊS CRITÉRIOS DE VALORAÇÃO Toda norma jurídica pode ser submetida a três valorações diferentes, que são independentes entre si: 1) se é justa ou injusta; 2) se é válida ou inválida; 3) se é eficaz ou ineficaz. Ou seja, são três problemas distintos: a justiça, a validade e a eficácia de uma norma jurídica. Problema da justiça (problema deontológico do direito) [juízo de valor]: se um determinado ordenamento jurídico corresponde ou não aos valores finais que o inspiram. Equivale a perguntar se uma norma é apta ou não a realizar os valores históricos que inspiram certo ordenamento jurídico concreto e historicamente determinado. É um aspecto do contraste entre mundo ideal e mundo real, entre o dever ser e o ser: norma justa é aquele de deve ser, norma injusta é aquele que NÃO deveria ser. Problema da validade (problema ontológico do direito) [juízo de fato]: é o problema da existência da regra enquanto regra, independentemente do juízo de valor sobre ela ser justo ou não. Enquanto o problema da *justiça* se resolve com um *juízo de valor*, o problema da validade se resolve com um juízo de fato, ou seja, se uma norma jurídica existe ou não, se uma regra jurídica que é chamada como tal é realmente jurídica. Como verificar se uma norma é válida: 1) averiguar se a autoridade de quem essa norma veio tinha o poder legítimo para positivá-la; 2) averiguar se tal norma não foi revogada; 3) averiguar se não entra em conflito com outras normas do sistema (revogação implícita), seja com uma norma hierarquicamente superior ou com uma norma posterior Problema da eficácia (problema fenomenológico do direito): problema de uma norma ser ou não seguida pelas pessoas a quem é dirigida e, no caso de violação, ser imposta por meios coercitivos pela autoridade que a evocou. Há normas que são seguidas universalmente de modo espontâneo (as mais eficazes), há aquelas que são seguidas apenas quando há risco de sanção, outras que não são seguidas nem mesmo mediante coação e outras que são violadas sem que sequer seja aplicada a coação (as mais ineficazes) 10. OS TRÊS CRITÉRIOS SÃO INDEPENDENTES 1. Uma norma pode ser justa sem ser válida; 2. Uma norma pode ser válida sem ser justa; 3. Uma norma pode ser válida sem ser eficaz; 4. Uma norma pode ser eficaz sem ser válida; 5. Uma norma pode ser justa sem ser eficaz; 6. Uma norma pode ser eficaz sem ser justa. 11. POSSÍVEIS CONFUSÕES ENTRE OS TRÊS CRITÉRIOS O problema da justiça: visa elucidar os valores supremos a que tende o direito, em outras palavras, seus fins sociais. Nasce daí a filosofia do direito como teoria da justiça. O problema da validade: visa elucidar em que consiste o direito enquanto regra obrigatória e coativa, a norma jurídica como meio de realização da justiça. Nasce daí a Filosofia do Direito como Teoria Geral do Direito. O problema da eficácia: filosofia do direito como sociologia jurídica. Há teorias que, ao invés de distinguirem os três aspectos, tendem a reduzir ora um, ora outro aspecto. O direito natural, por exemplo, reduz a validade à justiça, afirmando que uma norma só é válida se é justa. O positivismo jurídico, no sentido mais restrito e limitado do termo, por outro lado, tende a reduzir a justiça à validade, dizendo que, somente pelo fato de uma norma ser válida, ela é justa. O realismo jurídico, finalmente, reduz a validade à eficácia, dizendo que uma norma é válida somente se ela for seguida, então o direito real não é aquele enunciado em uma Constituição, por exemplo, mas sim aquele que é efetivamente seguido nas relações humanas. 12. O DIREITO NATURAL [Jusnaturalismo] Tal concepção reduz a validade à justiça, afirmando que uma norma só é válida se e justa. Responderíamos a esse pensamento afirmando que a justiça é um ideal a alcançar no momento em que se cria uma lei, ideal que não deve ser desconhecido por ninguém, porém, ao afirmarmos que uma lei injusta não tem validade, temos que ter cuidado pois, sob uma dada situação histórica, deveríamos nos perguntar o que de fato é direito, e não aquilo que gostaríamos que fosse. Em outras palavras, devemos examinar o ser em detrimento do dever ser. Tal teoria pressupunha, assim como pensava Kant, grande jusnaturalista moderno, que a justiça é universalmente válida, como uma verdade matemática. Ora, se isso é verdade, a quem compete dizer o que é justo e o que é injusto? Há duas possíveis respostas: 1) A quem detém o poder. Esta afirmação é aberrante pois, ao afirmar que o detentor do poder pode dizer com legitimidade se uma norma é justa ou injusta, aplica-se a afirmação positivista de que uma norma é justa se é válida. 2) A todos os cidadãos. Neste caso, uma vez que os critérios de justiça são universais, se alguém desobedece a uma certa lei é porque a considera injusta, e sendo injusta é inválida, logo os governantes nada poderiam objetar, reinando o caos. 13. O POSITIVISMO JURÍDICO O positivismo jurídico, no sentido mais restrito e limitado do termo, por outro lado, tende a reduzir a justiça à validade, dizendo que, somente pelo fato de uma norma ser válida, ela é justa. Um dos mais famosos autores que defendem tal teoria é Thomas Hobbes, que afirma que em um estado de natureza em que reinava a barbárie, com a guerra de todos contra todos, não havia direito nem justiça e, a partir do momento em que há o Estado civil, no qual cada indivíduo abre mão de seu arbítrio e o passa para o soberano, há o direito e, consequentemente, a justiça, pois toda norma emanada pelo soberano é justa pelo simples fato de ser uma norma jurídica. Rousseau, jusnaturalista, rebate essa teoria afirmando que, já que é preciso o uso da força por parte do soberano, para a aplicação da lei, não há como a moralidade ser derivada dela. Ceder à força seria um ato de necessidade, não de vontade. 14. O REALISMO JURÍDICO O realismo jurídico, finalmente, reduz a validade à eficácia, dizendo que uma norma é válida somente se ela for seguida, então o direito real não é aquele enunciado em uma Constituição, por exemplo, mas sim aquele que é efetivamente seguido nas relações humanas. Critica tanto a visão jusnaturalista quanto a positivista, pois estas se preocupam com o que deve ser, e não com o que efetivamente é. Consideram o direito consuetudinário (common law) como fonte primária do direito pelo fato de ser a expressão genuína do sentimento jurídico popular em confronto com a lei imposta pela vontade do grupo dominante.
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