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OBTENÇÃO DOS AÇOS Prof. Clésio Melo INTRODUÇÃO • Os metais encontrados no estado nativo são o ouro, a prata, a platina, o cobre, o arsênico e o bismuto. • Não há um registro preciso de quando o homem começou a produzir ferro pela redução de seus minérios. • Os povos antigos só dispunham de três fontes de ferro: ferro de meteoritos, ferro nativo (telúrico) e os minérios ferrosos reduzidos pelo homem. • As duas primeiras fontes são muito raras e indicam que a maioria dos artefatos antigos foi produzida pela extração do ferro a partir dos minérios de ferro. Ferro meteorítico • primeiros metais ferrosos usados pelo homem foram obtidos de fragmentos de meteoritos. Três fatos corroboram com esta evidência: • nomes antigos do ferro, quando traduzidos significam: “pedra (ou substância dura ou metal) do céu”, “metal das estrelas”, ou significados similares que indicam que o metal veio do espaço; • amostras arqueológicas demonstram que estas apresentam quantidades consideráveis de Ni (entre 7 e 15%, mas em alguns casos 30%) que é a composição típica de meteoritos de ferro. • artefatos produzidos pelo homem antigo apresentam Ni. Ferro nativo ou telúrico • O ferro encontrado na forma nativa (metálico) é muito raro. • no nordeste da Groenlândia, onde nódulos ou grãos de ferro ocorrem em basalto (uma rocha vulcânica que contem ferro) que passou por veios de carvão mineral. Adicionalmente, existem duas formas minerais de Fe e Ni, a awaruita (FeNi2) e a josephinita (Fe3Ni5). Minérios ferrosos reduzidos pelo homem • minérios de ferro misturados com carvão sob temperaturas elevadas são reduzidos para ferro metálico. • processos mais antigos eram conduzidos em diversas variedades de fornos, alguns deixados para receber um suprimento natural de ar e outros equipados com sopradores para a obtenção de temperaturas maiores. • algumas representações destes fornos e apresentada na figura 1. Fornos primitivos empregados na produção de ferro. • em fornos de temperaturas mais elevadas, os grânulos ficavam pastosos e aglomeravam-se em uma massa, conhecida como ferro-esponja. • a esponja, era martelada a quente com o objetivo de sinterizar os poros e expelir a maior parte da escória, até formar um pedaço sólido de ferro. • ferro reduzido mantido em contato com carvão em altas temperaturas e na ausência de ar, ocorre a difusão de carbono da atmosfera para o metal. • fornos do tipo chaminé continha teores de C de até 1% e possui propriedades muito superiores ao ferro puro produzido e capacidade deste material ser endurecido por processos similares à têmpera e ao revenimento. • quanto maior a temperatura em fornos do tipo chaminé, maior a quantidade de carbono no ferro e menor a temperatura de fusão da liga, sendo possível a obtenção de ferros fundidos no estado líquido com teores de carbono entre 3% e 4%. • atualmente, a maior parte das siderúrgicas do mundo segue o fluxograma de processo apresentado na figura 2. • materiais à base de ferro beneficiados (minério de ferro, pelotas e sinter) são reduzidos e transformados em ferro gusa no alto forno empregando o carbono do coque como agente redutor. • o ferro gusa apresenta de 3% a 4,5% de C e os aços modernos apresentam teores de C de até 1,5%. • excesso de carbono deve ser removido por um processo de conversão, cujos equipamentos mais comuns são os conversores LD e Bessemer. • a carga dos conversores é composta por uma mistura de ferro fusa, aço líquido e sucata de aço, é submetida a uma oxidação controlada para reduzir o teor de carbono e impurezas, produzindo os aços ao carbono. • elementos de liga como o Cr, Mn, Ni, Mo e etc. são adicionados ao aço líquido em uma panela após a conversão, processo denominado metalurgia de panela e produz aços ligados ou refinados. • aço líquido, de composição química especificada, é solidificado de duas maneiras: • fundição convencional de lingotes • fundição contínua de blocos, ou tarugos ou placas 5mm<Pelotas<18mm5mm<Pelotas<18mm 5mm<Sinter<50mm5mm<Sinter<50mm 6mm< Minério <40mm granulado 6mm< Minério <40mm granulado • Processos de redução de minério de ferro • Processos de conformação mecânica Óxidos de Ferro • os óxidos de ferro são as fontes minerais mais importantes de ferro, entre eles destacam-se: • Magnetita (Fe3O4) - estequiometricamente possui 72,36% de Fe e 27,64% de oxigênio. A coloração varia de cinza escura para a negra e a densidade de 5,16 a 5,18 g/cm3. É fortemente magnética que é importante nos processos de beneficiamento, pois possibilita sua separação da ganga. • Hematita (Fe2O3) - estequiometricamente possui 69,94 % de Fe e 30,06 de O. A coloração varia do cinza para vermelho e a densidade é de 5,26 g/cm3. A hematita é o óxido de ferro de maior importância comercial. • o beneficiamento dos minérios de ferro, envolve uma série de operações processamento do minério que melhoram suas características físicas e químicas, visando a produção de uma carga mais homogênea e eficiente para os fornos de redução. • operações desde a moagem, classificação, concentração e aglomeração. • altos-fornos atuais requer o minério de ferro em tamanhos menores que 50 mm e superiores a 6 mm. • os finos (partículas inferiores a 6 mm) produzidos na moagem requerem aglomeração que é realizada por meio da sinterização e da pelotização. • aspecto típico dos materiais à base de ferro alimentados no alto forno. Figura 3- Aspecto típico dos materiais à base de ferro alimentados no alto-forno. Coque • os carvões fósseis são os combustíveis sólidos mais importantes na siderurgia. • os carvões fósseis apresentam-se como turfa e linhito, cuja formação é a mais recente, as hulhas (betuminosas e sub-betuninosas) e o antracito. Um comparativo entre os tipos de carvões fósseis é apresentado na tabela 1: Tabela 1 – Comparativo entre os tipos de carvões minerais • aquecimento das hulhas em ambiente fechado, fora do contato do ar • carbonização ou decomposição térmica do carvão, faz com que ocorra o desprendimento das matérias voláteis, deixando um resíduo fixo ou o coque • conforme o produto desejado, a coqueificação do carvão se processa com carvões diferentes e em temperaturas finais diferentes, apesar do processo ser praticamente o mesmo. • produto final a ser obtido é o coque metalúrgico utilizado na siderurgia na redução do minério de ferro. • caracterizado por sua resistência a compressão e elevada porosidade. • o coque deve queimar com relativa facilidade, apresentar elevado poder calorífico e ter grande reatividade com o CO2 para a produção de CO, que é o responsável pela redução do óxido de ferro. • facilidade de combustão e a reatividade com o CO2 são melhoradas pela alta porosidade, enquanto que a resistência à compressão e o poder calorífico são diretamente proporcionais à densidade absoluta. • propriedades antagônicas (porosidade e densidade) que condicionam as características do coque, devendo-se determinar um equilíbrio entre elas para os maiores rendimentos do processo. • deve apresentar pouca umidade, pois sua presença reduz o poder calorífico, baixo teor de cinzas e baixos teores de P e S que são impurezas no processo de produção de aços. • carbonização é realizada em temperatura entre 1100ºC e 1300°C. O gás de coqueificação , produzido como sub-produto é empregado como combustível para os próprios fornos de coqueificação e para aquecimento do ar para o alto-forno. Figura –Detalhes construtivos de um forno de coqueificação fabricado pela Koppers-Becker. Fluxantes • minério de ferro e o coque metalúrgico apresentam impurezas não metálicas que devem ser separadas do metal reduzido. • fluxantes ou fundentes tem como objetivoa aglutinação destas impurezas para a forma de uma escória de baixo ponto de fusão e que ficará separada do metal líquido no alto-forno. • fluxantes, o calcário (CaCO3) e a dolomita (CaCO3.MgCO3). • algumas siderúrgicas empregam a cal (CaO) e a magnésia (MgO), como fluxantes principais. • As reações envolvidas na calcinação do calcário e da dolomita são: • CaCO3 → CaO + CO2 e • CaCO3.MgCO3 → MgO +CaO + CO2 • a relação entre os óxidos ácidos (SiO2) contida na ganga do minério de ferro e os óxidos básicos (CaO e MgO) é cuidadosamente controlada para preservar a viscosidade ideal da escória e o seu poder dessulfurante. Alto-forno • é um reator do tipo chaminé no qual a carga sólida é descendente e os gases redutores ascendentes. • equipamento de funcionamento contínuo, é ininterrupto por anos. • materiais contendo ferro (minério de ferro, sinter, pelotas), o coque e os fundentes são continuamente alimentados pelo topo. • ar aquecido entre 900°C e 1350°C, muitas vezes com adições de combustíveis líquidos, sólidos ou gasosos, é insuflado pelas ventaneiras posicionadas na parte inferior do forno. • combustão do coque previamente carregado e/ou do combustível injetado pelas ventaneiras, fornece o calor necessário ao processo e o gás para a redução dos óxidos. • ferro reduzido absorve carbono é fundido e escorre para o cadinho na parte inferior do forno. • o fluxo combina-se com as impurezas do minério e com as cinzas do coque e forma uma escória que sobrenada o metal líquido do cadinho. • o metal líquido, chamado de ferro-gusa, e a escória do alto-forno são vazados do cadinho pela casa de corrida. • para produzir uma tonelada de ferro-gusa são necessários, em média, 1700 kg de minério de ferro (na forma de sinter, pelota ou do próprio minério),400 a 600 kg de coque ou outro combustível à base de C, 140 kg de cal (CaO) ou magnésia (MgO) e 1600 a 2000 kg de ar. Tabela 2- Composição química típica do ferro-gusa Tabela 3- Composição da escória de alto-forno Figura ilustra a representação esquemática de um alto-forno Equipamentos auxiliares do alto-forno Afigura ilustra uma representação esquemática dos equipamentos auxiliares do alto-forno • A - transportador de minério. D- casa de silos. E- Carro “skip”. F- recuperador de finos. I- sistema de elevação do carro. J- Alto-forno. K- pote de escória. L- casa de corrida. M- carro-torpedo. N- coletor de pó. P- duto dos gases do alto-forno. Q- duto com ar aquecido para as ventaneiras. R- sistema de resfriamento dos gases do alto-forno. O- coletor de poeira. U- regenerador (cowper). W- duto com o ar frio vindo do soprador. Casa de silos • estoque das matérias primas necessárias à produção de ferro-gusa. • sinter, minério de ferro bitolado, coque, pelotas, e fluxantes (dolomita, calcário ou CaO e MgO). Sistema de transporte ao topo do alto-forno • o tipo de sistema transportador depende da quantidade de matérias primas e,consequentemente, da produção de gusa. • são empregados três tipos: caçambas, carros (“skips cars”) ou correias transportadoras. • caçambas são empregadas em altos-fornos com produção diária de até 200 toneladas • carros (“skips”) são destinados aos altos-fornos com produção diária entre 200 e 3500 toneladas. • funciona com dois carros tracionados por cabos de aço. Figura - Sistema de alimentação do alto-forno por meio de carros (“skip cars”). • correias transportadoras são empregadas em altos-fornos cuja produção diária é superior a 3500 toneladas. • ângulo deste sistema é de 12º e implica em uma maior distancia entre a casa de silos e o alto-forno. Topo do alto-forno • função de permitir a entrada de matérias primas sem que o gás de alto- forno seja descarregado na atmosfera. Alto forno Aciaria • A composição do gusa está longe da composição típica dos aços devendo ser reduzido os teores de carbono enxofre fósforo manganês entre outros. • Processos ácidos ou básicos. • O princípio químico é a oxidação dos elementos envolvendo a injeção controlada de O2 ou de ar saindo na forma de gases ou passando para a escória. • Ferro gusa refinado, maior temperatura de fusão. • Conversores “Bessemer” (processos pneumáticos): ar ou O2 é soprado durante 15 a 20 min, através ou sobre 100 a 150 ton. de carga, sendo a fonte de calor a própria oxidação dos elementos das impurezas, carbono, silício e manganês (reações são exotérmicas) • Tipos de conversores: “Thomas” ar insuflado por baixo. Bessemer Ar insuflado por baixo, e LD O2 insuflado com lança ( em geral adiciona-se sucata junto para baixar a temperatura), (MAIS USADO) • Fornos elétricos: Utiliza arco elétrico entre 3 eletrodos de grafite e a carga. Em geral utiliza sucata como carga, tempo de corrida 2 horas (em geral usado para aços especiais). Produção do Aço Líquido-métodos mais usados atualmente A produção do aço líquido se dá através da oxidação controlada das impurezas presentes no gusa líquido e na sucata. Este processo é denominado refino do aço e é realizado em uma instalação conhecida como aciaria. O refino do aço normalmente é realizado em batelada pelos seguintes processos: - Aciaria a oxigênio – Conversor LD (carga predominantemente líquida). - Aciaria elétrica – Forno elétrico a arco – FEA (carga predominantemente sólida). Conversor LD Responsável por cerca 60% (540 milhões ton/ano) da produção de aço líquido mundial, a tecnologia continua a ser a mais importante rota para a produção de aço, particularmente, chapas de aço de alta qualidade. Processo industrial teve início em 1952, quando o oxigênio tornou-se industrialmente barato. A partir daí o crescimento foi explosivo. Permite elaborar uma enorme gama de tipos de aços, desde o baixo carbono aos média-liga. Conversor LD Metalurgia de Panela Após o refino, o aço ainda não se encontra em condições de ser lingotado. O tratamento a ser feito visa os acertos finais na composição química e na temperatura. Portanto, situa-se entre o refino e o lingotamento contínuo na cadeia de produção de aço carbono. Desta forma o FEA ou o conversor LD pode ser liberado, maximizando a produção de aço. - Forno de panela - Desgaseificação Forno de Panela Forno na metalurgia de panela Toda a etapa de refino do aço se dá no estado líquido. É necessário, pois, solidificá-lo de forma adequada em função da sua utilização posterior. O lingotamento do aço pode ser realizado de três maneiras distintas: - DIRETO: o aço é vazado diretamente na lingoteira; - INDIRETO: o aço é vazado num conduto vertical penetrando na lingoteira pela sua base; - CONTÍNUO: o aço é vazado continuamente para um molde de cobre refrigerado à água. Lingotamento Lingotamento Contínuo O lingotamento contínuo é um processo pelo qual o aço fundido é solidificado em um produto semi- acabado, tarugo, perfis ou placas para subseqüente laminação. Antes da introdução do lingotamento contínuo, nos anos 50, o aço era vazado em moldes estacionário (lingoteiras). Lingotamento Contínuo Seções possíveis no lingotamento contínuo (mm) Conformação A grande importância dos metais na tecnologia moderna deve-se, em grande parte, à facilidade com que eles podem ser produzidos nas mais variadas formas, para atender a diferentes usos. Os processos de fabricação de peças a partir dos metais no estado sólido podem ser classificados em: - Conformação Mecânica: volume e massa são conservados; - Remoção Metálica ou Usinagem: retira-se material para se obter a forma desejada; Os processos de conformação mecânica podem ser classificados de acordo com o tipo de força aplicada ao material: - Compressãodireta: Forjamento, Laminação; - Compressão indireta: Trefilação, Extrusão, Embutimento; - Trativo: Estiramento; - Dobramento: Dobramento; - Cisalhamento: Corte. Conformação Extrusão: Processo no qual um bloco de metal tem reduzida sua seção transversal pela aplicação de pressões elevadas, forçando-o a escoar através do orifício de uma matriz. Trefilação: Processo que consiste em puxar o metal através de uma matriz, por meio de uma força de tração a ele aplicada na saída dessa mesma matriz. Tipos de Conformação Forjamento: Processo de transformação de metais por prensagem ou martelamento (é a mais antiga forma de conformação existente). Laminação: Processo de deformação plástica no qual o metal tem sua forma alterada ao passar entre rolos e rotação. É o de maior uso em função de sua alta produtividade e precisão dimensional. Pode ser a quente ou a frio. Tipos de Conformação Dobramento Forjamento Laminação Trefilação Embutimento ProfundoEstiramento Matriz Cisalhamento ExtrusãoExtrusão Tipos de Conformação Lingotamento e Laminação
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