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THAÍS SIMÕES TAVEIRA RELATÓRIO PROCESSOS METALÚRGICOS DE FABRICAÇÃO LAVRAS – MG 2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS RELATÓRIO PROCESSOS METALÚRGICOS DE FABRICAÇÃO Disciplina GNE387: Processos metalúrgicos de Fabricação, administrado pelo professor Osmar de Sousa Santos LAVRAS – MG 2021 1. INTRODUÇÃO A humanidade, desde os primórdios, busca atender às suas necessidades conforme a disponibilidade de recursos e as condições adequadas para sobreviver e se adaptar, caracterizando-se inicialmente como grupos de caçadores-coletores nômades. No entanto, conforme os grupos humanos foram crescendo, surgiu a necessidade do desenvolvimento de artefatos bélicos, além dos artefatos domésticos já produzidos para caça e coleta de alimentos. Esse desenvolvimento foi sendo cada vez mais perceptível e primordial à medida que a humanidade foi evoluindo e tornando-se sedentária, levando ao surgimento da agricultura e a domesticação dos animais, o que de fato foi possível por meio dos conhecimentos adquiridos em relação aos materiais e aos seus processos. Neste contexto, uma das classes de materiais mais importantes surgiu por volta de 9000 a 3500 a.C., conhecida como Idade do Cobre, dando início a Idade dos Metais. A partir disso, uma extensa variedade de materiais metálicos foram sendo descobertos, juntamente com o surgimento de técnicas para sua utilização. Acredita-se que o ferro começou a ser utilizado por volta de 3000 a.C., depois disso, técnicas foram sendo aprimoradas até que se fundisse o minério para obtenção do mesmo [1]. No entanto, com a rápida evolução tecnológica e científica, atualmente, sabe-se que além das ligas ferrosas, aplicadas em ferros fundidos e na fabricação de aços, as ligas metálicas não-ferrosas são amplamente direcionadas às aplicações tecnológicas, sendo estes os principais metais utilizados: alumínio, cobre, titânio, magnésio, titânio e zinco. Portanto, neste presente trabalho, trataremos de processos metalúrgicos de fabricação relacionados às ligas ferrosas e não-ferrosas, levando em consideração o desenvolvimento técnico-científico atual e seus efeitos sobre a produção desses materiais. Trataremos, em especial, do processo de redução direta do minério de ferro e a produção do ferro gusa, das aplicações dos processos pneumáticos em aciarias, do processo Hall-Hérout, do processo Kroll para obtenção do titânio e por fim, do processo de obtenção do cobre. É importante salientar que o objetivo do mesmo é fixar o conteúdo abordado nas vídeo-aulas e auxiliar na compreensão de temas de extrema importância para a formação do Engenheiro de Materiais no que diz respeito aos materiais metálicos e seus processos de obtenção. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Processo de produção das ligas metálicas ferrosas O processo de produção das ligas metálicas envolve uma série de atividades antes do minério ser convertido em uma ferro liga. Até a chegada da matéria-prima no forno elétrico, o minério é entregue à indústria a granel e preparado em processos como trituração, triagem, lavagem, moagem e, algumas vezes, destinado a processo de beneficiamento, como flotação, fundição e refino. Geralmente, anterior a qualquer produção de ferro liga, realiza-se a sinterização, briquetagem ou peletização (minérios de óxidos ou concentrados) das matérias-primas através da pré-redução parcial e metalização parcial de ferro e alguns elementos de ligas tornando-se adequados para fundição final [2]. Dito isso, o que nos interessa neste contexto é compreender o primeiro processo de obtenção do ferro a partir do minério, a redução direta. 2.1.1 Redução direta do minério de ferro O processo de redução direta é uma alternativa ao uso do alto forno para a fabricação de um produto intermediário com as mesmas funções básicas do ferro gusa produzido pelo alto forno, pois este outro produto intermediário, denominado ferro esponja, também se destina ao uso na aciaria para a produção de aço. No entanto, o ferro esponja é fabricado com o gás natural e gera um menor volume de produção quando comparado com o alto forno, sendo indicado para situações onde justamente é desejável um menor volume de produção [3]. O ferro-esponja ou DRI (Direct Reduced Iron) é transformado em ferro metálico através de reações químicas envolvendo o estado sólido (minério) e o gasoso (gases redutores). Neste processo o minério de ferro não passa pelo estado líquido como ocorre com o ferro-gusa. Isto confere ao ferro-esponja algumas desvantagens que prejudicam o seu desempenho nas aciarias. Pode-se citar a redução no rendimento metálico e o maior consumo de energia elétrica como principais impactos de sua utilização intensiva. Além disso, o ferro-esponja apresenta menor quantidade de ferro total (maior quantidade de impurezas) do que o ferro-gusa e também apresenta óxidos de ferro remanescentes em sua estrutura (menor metalização). Por isso, para torná-lo mais competitivo, inúmeras melhorias no processo têm sido promovidas para aumento da metalização [4]. Dentre os processos de redução direta mais conhecidos, podemos citar: HyL (Hayata y Lamina) do México, Midrex do Canadá, Armco, H. iron, SL-RN e Purofer, sendo que é importante salientar que em todos esses processos, embora a temperatura seja elevada, é inferior à temperatura de fusão do material. No processo Midrex, uma mistura de gases contendo metano e gases reformados (a 1000 ºC num catalisador) é introduzida no forno junto com o minério de ferro (geralmente em pelotas), no qual a parte superior corresponde à zona de redução e a parte inferior à zona de resfriamento. A redução ocorre a 760 ºC com tempo de residência em torno de 6 horas. Na zona de resfriamento introduz-se gás frio e recolhe-se lateralmente finos e gases para a purificação, enquanto na parte inferior do forno retira-se o ferro esponja. Na purificação o metano (CH4) e o vapor d’água (H2O) são transformados em CO e H2, mistura gasosa que é efetivamente o agente redutor. Esta mistura gasosa redutora é adicionada ao metano na reforma que gera o gás novamente introduzido no forno para a redução [3]. No processo HyL também num forno de cuba e com tempo de residência de 6 horas, é realizado carregamento na parte superior do forno e logo abaixo está a zona inicial de redução (que utiliza gases reciclados). Mais abaixo a zona de redução final e mais abaixo ainda a zona de resfriamento, onde é realizada a retirada do ferro esponja. Logo, percebe-se que os processos Midrex e HyL são de redução a gás. Porém, outros processos de redução direta, como SL_RN, Allis-Chamers e Hoganas, entre outros, são de redução por sólido [3]. As reações envolvidas no processo são: 3Fe2O3 + H2 = 2Fe3O4 + H2O 3Fe2O3 + CO = 2Fe3O4 + CO2 Fe3O4 + H2 = 3FeO + H2O Fe3O4 + CO = 3FeO + CO2 FeO + H2 = Fe + H2O FeO + CO = Fe + CO2 Reforma: CH4 + H2O = CO + 3H2 e H2O + C (de Fe3C) = CO + H2 Resfriamento: CH4 → Fe3C O processo Midrex produz ferro esponja com 92-95 % Fe, 2-5 % C, S = 0,008 %. Na sequência: Fe2O3 → Fe3O4 → FeO → Fe. A mistura de pelotas e minério contém de 1 a 2,5 % de carbono. Além da composição do material de entrada, outros fatores importantes são: superfície específica, condutividades térmica e elétrica, mudança de estrutura cristalina (que influi nos três fatores anteriores) e a absorção ou repulsa de carbono. Dito isso, sabe-se que no gás reformado deve ser controlado o teor de carbono, já que se a temperatura do gás reformado subir muito, cai o teor de carbono no ferro. As reações químicas envolvidas no processo são: CH4 + H2O = CO + 3H2 CH4 = C + 2H2 CH4 + CO2 = 2CO + 2H2O H2O + C = CO + H2 CO + H2O = CO2 + H2 CH4 + ½ O2 = 2H2 + CO Fe2O3 → Fe3O4 Fe3O4 → FeO FeO → Fe A temperatura máxima de precipitação do carbono é 800 ºC. Dependendo da temperatura, a precipitação do carbono ocorre na faixa de 30 a 40 % de CO e 35 a 70 % de CO2. No entanto, para temperaturas superiores a 800 ºC o H2 passa a ser o principal agente redutor, porém para temperaturasinferiores a 800ºC o principal agente redutor é o CO: 3Fe + 2CO = Fe3C + CO2 3Fe + CO + H2 = Fe3C +3H2 2.1.2. Produção do ferro gusa O ferro gusa, material metálico composto majoritariamente por ferro, contendo também altos teores de carbono (da ordem de 4,5 %) e altos teores de impurezas (enxofre, fósforo e outros elementos), é produzido a partir do minério de ferro aglomerado sob a forma de sínter ou pelotas (obtidos respectivamente nos processos de sinterização e pelotização), ao qual são adicionados fundentes (cal, sílica e substâncias semelhantes) e o chamado coque metalúrgico (basicamente o resultado da coqueificação do carvão mineral ou vegetal), a qual é sucedida pela conversão do ferro gusa em aço na chamada aciaria [5]. A obtenção de ferro gusa geralmente ocorre no chamado alto forno, onde o minério de ferro é introduzido sob a forma de sínter ou pelotas (o minério inicialmente contendo cerca de 99 % de Fe2O3, que após ser submetido à sinterização ou pelotização, que reduz o teor de Fe2O3 para cerca de 80 %), é transformado em ferro gusa líquido com teor de ferro da ordem de 95 %, contendo cerca de 4,5 % de carbono, 0,3 a 0,7 % de silício, 0,01 a 0,04 % de enxofre, no máximo 0,1 % de fósforo e cerca de 0,15 % de manganês. Além disso, produz escória contendo 30 a 40 % de SiO2, 5 a 15 % de Al2O3, 35 a 45 % de CaO, 5 a 15 % de MgO e 1 a 2 % de enxofre [5]. Em suma, o alto forno consiste em um reator de troca de massa e energia em contra corrente, sendo revestido internamente com material refratário e aço do lado externo, com uma alta de 10 andares. A alimentação é realizada por meio de um funil no topo do reator e a disposição do minério mais o calcário é feita de forma homogênea na vertical (em camadas alternadas com coque), esse funil também serve para conter os gases e poeiras provenientes do processo. O tempo de residência é de 8 horas aproximadamente. Além disso, o ar aquecido (O2) é inserido pelo fundo do reator (bocais) que ascendem rapidamente até o topo, sendo exaustos por respiros, com tempo de residência de apenas 20 segundos. Já na zona do coque ativo, próximo aos bocais, o coque e o ar que é injetado reagem fortemente produzindo muito calor e gases. Nesta região, o carbono se encontra em excesso, por isso o principal produto dessa queima é o CO, que é essencial para reações de formação do ferro metálico. A conversão do minério em metal acontece na zona de redução, onde o metal segue para a zona de fusão, percolando através do coque ativo e se acumulando no fundo do reator, de onde é retirado. O calcário é então decomposto em óxido de cálcio e dióxido de carbono, conforme passa através do forno, sendo que esse óxido se combina com os silicatos presentes no minério, produzindo a escória que é fundida na zona de fusão. Essa escória é fundamental no processo de limpeza das impurezas do ferro fundido [6]. 2.1.3 Aplicações dos processos pneumáticos em aciarias Após a produção de ferro gusa ou do próprio ferro esponja, esses produtos são encaminhados para a aciaria, onde ocorre a produção de aço, que consiste na eliminação de grande parte do carbono e redução das impurezas presentes no material. O teor de carbono deve ser reduzido de 4,5 % para menos de 2 %, conferindo a maleabilidade característica do aço, além dos teores dos outros elementos tidos como impurezas (fósforo, enxofre, silício e manganês, eliminadas na escória), que também são reduzidos pela aplicação de um jato de oxigênio a temperaturas entre 1300 e 1600 ºC, de acordo com as especificações técnicas de composição química de cada aço. O carbono e os demais elementos são oxidados, sendo eliminados como gases (CO e CO2) ou na escória [7]. Diante disso, sabe-se que os processos pneumáticos são aqueles em que ar ou oxigênio puro é soprado sob pressão, através ou sobre a superfície do ferro gusa líquido para produção do aço, sendo amplamente utilizado conversores pneumáticos para tal objetivo. Assim, os principais tipos de conversores são LD, Q-BOP e Processos de Sopro Combinado. i) Conversor do tipo LD: trata-se de um processo de refino primário dos aços no qual as impurezas do ferro gusa (carga metálica líquida) provenientes dos altos-fornos e, eventualmente das sucatas (carga metálica sólida) parcialmente gerada dentro da própria usina e/ou comprada de fornecedores externos, são oxidadas, por oxigênio soprado em uma lança supersônica, incorporando-se à escória formada por compostos não metálicos (fundentes e escorificantes) adicionados durante o processo de sopro dentro destes reatores. O mecanismo consiste em realizar o carregamento das cargas metálicas no reator, inicialmente inclinado, e após o carregamento submeter o banho metálico (gusa e sucatas) a um sopro de oxigênio de alta vazão com uma lança especial para tal finalidade. Durante o sopro são adicionadas outras matérias-primas (fundentes e escorificantes) que formarão uma escória na qual as impurezas do gusa e sucata (Mn, P, S, etc) na forma de óxidos formados pela oxidação destes elementos pelo oxigênio soprado serão retidos. Além disso, o carbono será oxidado nas formas de CO e CO2 formando um gás que será captado pelo sistema de sucção do forno. Junto a este gás será arrastado particulados pelo sistema de despoeiramento, sendo importante salientar que todo este processo libera grande quantidade de energia na forma de calor [8]. ii) Conversor tipo Q-BOP: neste tipo de conversor tem-se ventanas refrigeradas e refratárias ainda mais resistentes e uma tecnologia de injeção de hidrocarbonetos por uma ventana concêntrica, externa à do oxigênio. Dito isso, temos como vantagens em relação ao conversor do tipo LD um melhor rendimento em função da menor oxidação da escória, uma melhor desfosforação e dessulfuração, em consequência de um menor desequilíbrio químico entre metal e escória, uma alta reprodutibilidade do processo e por fim, a possibilidade de produzir aço de carbono com menor oxidação. Todavia, o sopro submerso (por baixo), apresenta algumas desvantagens em relação ao sopro por cima do conversor LD, como a menor capacidade de fundir sucata, devido à elevada quantidade de CO não queimada dentro do forno, o alto desgaste do fundo do conversor (menor durabilidade) e o alto teor de hidrogênio, inimigo do aço devido ao fenômeno de fragilização [6]. iii) Conversor tipo Sopro Combinado ou misto: neste tipo de conversor temos a combinação de sopro por cima e sopro por baixo, resultando no melhor dos dois processos: melhor homogeneização do banho, promoção do equilíbrio metal escória, nucleação de bolhas e conseqüentemente abaixamento da pressão parcial de gases dissolvidos, facilidade de formar escória controlando as condições de sopro, melhor pós-combustão. Os resultados do processo de refino em conversores de sopro combinado invariavelmente se situam entre os resultados dos conversores de sopro somente por baixo ou somente por cima. Partindo de um conversor LD, quanto maior a vazão de gás injetada por baixo em um conversor de “sopro misto” tanto mais os resultados do processo se aproximarão dos resultados de um conversor de sopro por baixo. O custo do gás inerte é, freqüentemente, o parâmetro decisório para limitar a quantidade injetada nestes casos [9]. 2.2 Processo de produção de ligas não-ferrosas 2.2.1 Processo Hall-Hérout O alumínio é um metal que possui excelentes propriedades visando aplicações tecnológicas e convencionais. É resistente, possui baixa densidade, é maleável, resistente à corrosão, reciclável, além de possuir uma alta condutividade térmica e elétrica. Além disso, é obtido a partir da exploração da bauxita, minério encontrado em três principais grupos climáticos: Mediterrâneo, Tropical e Subtropical, apresentando no mínimo 30% de óxido de alumínio (Al2O3) aproveitável para que a produção seja economicamente viável [10]. Após a etapa de mineração da bauxita, segue-se para a etapa de refino para obtenção da alumina, insumo para obtenção do alumínioprimário. Essa etapa é dividida em duas partes: processo Bayer e processo Hall-Hérout, sendo que a primeira resulta em um pó branco de alumina pura, que é enviada à etapa seguinte de redução eletrolítica, onde de fato ocorre o processo Hall-Hérout [6]. O processo Hall-Hérout pode ser definido como o sendo o processo de obtenção do alumínio pela redução da alumina calcinada em cubas eletrolíticas, a altas temperaturas, sendo que duas toneladas de alumina podem produzir uma tonelada de metal primário pelo processo de redução. Neste contexto, sabe-se que a alumina é dissolvida em um banho de criolita fundida e fluoreto de alumínio em baixa tensão, decompondo-se em oxigênio. Esse oxigênio então se combina com o anodo de carbono, desprendendo-se na forma de dióxido de carbono e em alumínio líquido, que se precipita no fundo da cuba eletrolítica. O metal líquido é então transferido para a refusão através de cadinhos, onde são produzidos os lingotes, as placas e os tarugos de metal primário [10]. 2.2.2. Processo Kroll para obtenção do titânio O titânio é um metal de transição considerado leve. Entre outras das suas características é possível salientar a sua resistência à corrosão e o seu amplo uso na indústria. Nesse caso, o titânio demonstra sua utilidade na produção de algumas ligas, entre elas estão a de vanádio, molibdênio, entre outros. Além disso, o titânio é bastante útil para dar mais ênfase para a resistência mecânica, sendo assim de notório valor para a indústria aeroespacial, que trabalha com a fabricação de artigos como motores, foguetes e mísseis [11]. Neste contexto, um dos processos para obtenção do titânio, mais utilizados, é o processo Kroll, que consiste basicamente na redução do tetracloreto de titânio (TiCl4) com magnésio metálico. O processo como um todo consiste de uma etapa de cloração, uma de purificação e uma de redução. No processo, o minério mais puro, ou o mais impuro (óxido de titânio ou a ilmenita), é combinado com coque e cloro num reator de leito fluidizado a 100 °C [12]. https://pt.wikipedia.org/wiki/Van%C3%A1dio https://brasilescola.uol.com.br/quimica/molibdenio.htm A reação tem como produto um material de aspecto esponjoso, impuro, contendo tetracloreto de titânio (TiCl4) , também conhecido como “tickle”, e outras impurezas no processo, como o cloreto de ferro [13]. 2 FeTiO3 (s) + 7 Cl2 (g) + 6 C(s) → 2 TiCl4 (l) + 2 FeCl3 (l) + 6 CO(g) O TiCl4 obtido é separado do ferro por meio de diversas destilações fracionadas. Nesse estágio de purificação, pode haver formação dos cloretos TiCl2 e TiCl3, devido à estabilidades de outros graus de oxidação do Ti, indesejáveis no processo. O TiCl4 gasoso é encaminhado para outro reator onde é reduzido por magnésio líquido, com cerca de 15 a 20 % de excesso, a uma temperatura de 800 °C a 850 °C [13]. 2 Mg (l) + TiCl4 (g) → 2 MgCl2 (l) + Ti (s) Obtém-se assim Ti metálico esponjoso de boa qualidade. Conforme relatado acima, no processo, há a reação de redução dos cloretos de titânio até a forma de titânio metálico. No entanto um dos problemas que podem aparecer é quando ocorre a redução parcial dos cloretos de titânio o que resulta na presença dessas impurezas no titânio metálico final. Um diferencial do processo Kroll é que todo o cloreto de magnésio pode ser recuperado para magnésio metálico e gás cloro. O processo de destilação consiste em usar vácuo para succionar o cloreto de titânio para o tanque contendo magnésio metálico, causando, assim, a reação entre os dois [12]. 2.2.3. Processo de obtenção do cobre O minério de cobre, em sua forma metálica, possui propriedades como alta durabilidade, resistência à corrosão, elevada condutividade elétrica e térmica, facilidade de fabricação, ductilidade e maleabilidade, fazendo com que ele seja um excelente material para ser empregado em ligas metálicas e nas mais diversas aplicações possíveis. Por isso, ele é o terceiro elemento mais utilizado no mundo, perdendo apenas para os aços e para o alumínio e suas ligas [14]. Dessa forma, dependendo do tipo de minério de cobre encontrado na natureza, o beneficiamento e o seu tratamento metalúrgico terão rotas diferentes de processamento, sendo que existem dois principais meios para extração do cobre. O processo pirometalúrgico, aplicado para minerais sulfetados e o processo hidrometalúrgico, que pode ser utilizado para os minerais oxidados e também para os sulfetados, por exemplo, calcocita, Cu2S [15]. Na rota de processamento pirometalúrgica há produção de ácido sulfúrico, produzido a partir do gás SO2 gerado no processo de redução do sulfeto. Ouro e prata, associados ao minério são aproveitados como produtos secundários nas etapas de extração metalúrgica. O molibdênio associado a minérios porfiríticos pode ser aproveitado na etapa de flotação. Após a etapa de eletrólise/refino eletrolítico o cobre com 99,99% de pureza pode ser utilizado para a indústria de semi-acabados e ligas. Cerca de 80% do cobre primário (proveniente de minérios) é produzido através do beneficiamento de minérios sulfetados, redução e refino. Os restantes 20% são produzidos através de processos hidrometalúrgicos de lixiviação e (SX-EW) [15]. i) Hidrometalurgia [15]: também conhecida como lixiviação em pilhas, envolve como etapas principais: britagem (facilitar o manuseio até a pilha); aglomeração (recuperar os finos); lixiviação; extração por solventes; eletrorrecuperação. A lixiviação é feita com solução de ácido sulfúrico aspergida no topo das pilhas. O ácido percola pela pilha e reage com os minerais oxidados de acordo com a reação 1 a seguir. CuO + H2SO4 → Cu + SO4 + H2O (1) A reação com a calcocita, mineral sulfetado, ocorre de acordo com a reação 2 seguinte. No caso dos sulfetos a reação é acelerada pela presença de bactérias que agem como catalisador da reação. Cu2S + 5/2 O2 + H2SO4 → 2Cu + 2SO4 + H2O (2) A solução é estocada em bacias (ponds) para posteriormente alimentar a etapa de extração por solventes. A solução resultante da etapa de lixiviação carrega Cu, H2SO4 e outras impurezas. É necessário fazer a extração do cobre dissolvido, feita através de reagente orgânico específico (extratante) que captura o cobre dissolvido. Posteriormente ocorre a separação da fase orgânica da fase aquosa por diferença de densidade. O cobre dissolvido é então recuperado da solução orgânica através da solução de eletrólito contendo alta concentração de ácido sulfúrico. A reação 3 a seguir indica o equilíbrio entre a espécie de cobre dissolvida na solução aquosa e combinada com o extratante orgânico. Onde RH é o extratante orgânico e R2Cu representa o orgânico carregado. A equação 3 indica ainda a influência da quantidade de ácido no processo de carregamento do cobre pelo reagente orgânico e o processo contrário (liberação do cobre). Cu + 2RH → R2Cu + 2H (3) A solução rica em cobre e em ácido segue para etapa de eletrorrecuperação onde ocorre a deposição do cobre metálico nos catodos de aço inox. No anodo ocorre a formação de oxigênio. A solução exaurida retorna ao processo de extração por solventes. As placas de cobre formadas nos catodos são extraídas e encaminhadas aos processos de conformação para produção de semi-acabados. ii) Pirometalurgia [15]: as plantas pirometalúrgicas também conhecidas como Smelters produzem cobre metálico através de várias etapas com transformações químicas. A primeira etapa é chamada de redução e tem por objetivo oxidar o enxofre e o ferro presentes no concentrado para formar uma fase fundida rica em cobre, chamada mate e outra fase fundida, pobre em cobre chamada de escória. A redução é realizada em fornos específicos com injeção de ar enriquecido com oxigênio. As reações 4 e 5 representam as reações que ocorrem na etapa de redução. 2CuFeS2 + 13/4 O2 → Cu2S.1/2FeS + 3/2FeO + 5/2SO2 (4) 2FeO + SlO2 → 2FeO.SlO2 (5) Como produtos da redução são obtidos o mate, liga com o máximo possível de cobre (45-75% de Cu), a escória com o mínimo possívelde cobre e o gás SO2 que na maioria dos casos é aproveitado para a produção de ácido sulfúrico. O mate segue para a etapa de conversão e a escória é tratada para a recuperação de cobre, sendo depois reaproveitada ou descartada. A conversão é feita em um vaso específico com adição de oxigênio e SiO2 (fundente) para capturar o ferro. O resultado é o blister com 99% de Cu. A escória resultante contém 4-8% de cobre que é recuperado por sedimentação (na fase fundida). Pode também ser solidificada e a recuperação do cobre ser feita através da flotação. As reações 6 e 7 representam as reações que ocorrem na etapa de conversão. 2FeS + 3O2 + SlO2 → 2FeO.SlO2 + 2SO2 + calor (6) Cu2S + O2 → 2Cu + 2SO2 + calor (7) O blister (cobre metálico) segue então para a etapa de refino a fogo e posteriormente para o refino eletrolítico. Em seguida, o cobre segue para as etapas de conformação para produção dos semi-acabados. 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Peixoto, D. et al. Fabricação do ferro gusa e do aço: química, fabricação, ecologia e política do meio ambiente. Instituto Federal da Bahia. Disponível em: <http://www.ifba.edu.br/metalografia/arq/gusa.pdf>. Acesso em 17 de Setembro de 2021. [2] GASIK, M. M. (2013). Handbook of ferraloys: Theory and Technology. 1ª edição, Elsevier Inc., 536 p. [3] Infomet: processos de fabricação de aço por redução direta. Disponível em: <https://www.infomet.com.br/site/acos-e-ligas-conteudo-ler.php?codConteudo=235>. Acesso em 17 de setembro de 2021. [4] Kempka, Anderson. (2008). Auto-redução do ferro-esponja: uma nova técnica para o aumento de sua qualidade. Dissertação para obtenção de título de mestre em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais, UFRGS. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/13864#:~:text=O%20ferro%2Desponja%20ou%20 DRI,o%20gasoso%20(gases%20redutores)>. Acesso em 17 de setembro de 2021. [7] Metalurgia Industrial (2019). Os processos pneumáticos de produção de aço. Disponível em: <http://www.metalurgistaindustrial.com.br/adm/upload/TecProc/2019612053o.pdf>. Acesso em 17 de setembro de 2021. [8] Araújo, L. A. Manual de Siderurgia. 2ª Edição, Brasil: Editora Arte e Ciência, 2009. Vol.1. [6] Santos, S. O. (2021). Notas de aula da Disciplina de Processos Metalúrgicos de Fabricação. [9] Equilibrium Trix: Refino de Aços. Os processos de conversão (MINUTA). Disponível em: <https://www.equilibriumtrix.net/refino/capitulos_acs_refino/Os%20Processos%20de%20co nversao%20minuta.pdf>. 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