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FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 1 Márcia Regina Damaceno Silveira Esse material foi escrito com muito esforço para vocês. As frases e textos aqui utilizados são próprios e registrados. Caso queira compartilhá-los, por favor, atribua os devidos créditos. Os direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Obrigada! RAÇA E RACISMO “O saber é como um jardim: se não for cultivado, não pode ser colhido” (provérbio africano) Faz necessário compreender que o conceito de “raça e racismo” são conceitos amplos, complexos que será impossível abranger a totalidade de suas conceituações nesta apostila. Não existe um consenso entre os pesquisadores sobre a definição do significado da palavra raça, podendo ser tanto do latim radix, que significa raiz, ou do italiano razza, que significa linhagem ou criação. Segundo o Dicionário Aurélio: Raça: sf. 1.divisão tradicional e arbitrária dos grupos humanos, determinada pelo conjunto de caracteres físicos hereditários (cor da pele, formato da cabeça, tipo de cabelo etc.) [Etnologicamente, a noção de raça é rejeitada por se considerar a proximidade cultural de maior relevância do que o fator racial.].2.conjunto de indivíduos pertencentes a cada um desses grupos. Mas, o importante é que o conceito de “raça” foi sendo empregado dentro da história do conhecimento científicos ganhando diversas definições. Vejamos: No campo das ciências naturais como da Zoologia e da Botânica, o conceito de raça passou em classificar as espécies animais e vegetais. Foi através do naturalista sueco Carl Von Linné (1707-1778) utilizou-a para classificar as plantas. Depois nos séculos XVI-XVII, o conceito passou em definir as classes sociais na França, entre nobres e plebeus. No tempo do Iluminismo com o surgimento da Biologia e da Antropologia, o conceito passou a classificar grupos humanos diferenciados devido a questão do fator da melanina. Mais tarde, já no século XIX, os intelectuais, sobretudo do campo da antropologia, sociologia e criminologia passaram a hierarquizar, estabelecer escala de valores entre às chamada raças e com isso elaboraram teorias raciais para justificar a superioridade da raça branca (europeia) sobre as outras. Aproveitaram-se da teoria evolucionista de Darwin para legitimar sua hipótese de que o grupo branco teria sido o mais evoluído da espécie humana devido as suas características físicas tais como a cor clara da pele, o formato do crânio (dolicocefalia), a forma dos lábios, do nariz, do queixo, etc. Nasce aqui, o FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 2 darwinismo social que traz a ideia de que algumas sociedades e civilizações eram dotadas de valores que as colocavam em condição superior às demais (prática comum à eugenia). Na prática, essa afirmação estabelecida uma representação de que a cultura e a tecnologia dos europeus eram provas vivas de que seus integrantes ocupavam o topo da civilização e da evolução humana, dando a um pensamento que naturaliza a sua superioridade. Em contrapartida, povos de outros países como África e Ásia, não compartilhavam das mesmas capacidades e, por tal razão, estariam em uma situação inferior. Paul Broca (1824-1880), fundador da Sociedade Antropológica de Paris, definiu assim as diferenças biológicas entre negros e brancos: O rosto prognático (projetado para frente), a cor de pele mais ou menos negra, o cabelo crespo e a inferioridade intelectual e social estão frequentemente associados, enquanto a pele mais ou menos branca, o cabelo liso e o rosto ortognático (reto) constituem os atributos normais dos grupos mais elevados na escala humana. Um grupo de pele negra, cabelo crespo e rosto prognático jamais foi capaz de ascender à civilização (BROCA apud RODRIGUES, 2009, p. 85). Imagens das medidas dos rostos e crânios que visam aproximar os negros dos macacos e colocar o branco no topo da escala evolutiva. Fonte: Racismo científico. Disponível em: http://racismo-cientifico.weebly.com/teoacutericos-seacuteculo- Podemos observar que o conceito de raça neste cenário demonstra uma relação de poder, de dominação resultando numa prática social. Por isso, devemos estudar raça no campo da sociologia que trata da produção de privilégios de um grupo sobre outro grupo. Neste caso, Allen define que (1995), “raça é uma categoria que sustenta e é sustentada por mecanismo de controle social. Portanto é um signo vazio, preenchido apenas na experiência do racismo”. É o grupo branco que cria o racismo em sua prática social de manter seus privilégios por meio da exploração, submissão e desumanização do grupo dominado, os negros. O racismo é um conjunto de ideias (ideologia), doutrinas e pensamentos que estabelece, justifica e legitima a dominação de um grupo racial sobre outro, pautado numa suposta superioridade do grupo dominante (brancas, arianas) em relação aos dominados ( semitas, negras, indígenas). É uma forma de FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 3 expressão do imperialismo, colonialismo e nacionalismo e neste regime onde prevalece a lógica racista, recursos diversos são distribuídos desigualmente e são preestabelecidos por fatores raciais. Podemos afirmar que existem “racismoS” (grifo meu),daí a importância de falar no plural, que variam de formas, de contextos e de atuação. Exemplo: o racismo da África do Sul que vigorou mais de quarenta foi o regime do “Apartheid”, que no Estados Unidos foi o sistema de “Segregação racial” extremamente declarada e violenta. Aqui no Brasil temos o chamado “racismo cordial”, velado, tendo como classificação hierarquizada de pessoas através da raça/cor, ou seja, pelas características fenotípicas/aparências. E ela que define o seu lugar social de poder, de privilégio ou da desigualdade. Foi através do estudo de pesquisa dos anos de 1950, pelo sociólogo Oracy Nogueira (1917- 1996) que demonstrou a diferenciação da discriminação racial que ocorria no Brasil e a dos Estados Unidos. Chegou-se aos seguintes termos de que o “preconceito de marca=aparência”é uma da característica da realidade brasileira. Aqui as pessoas são discriminadas pelos traços como a cor de pele, formato dos lábios, nariz e textura do cabelo que evidencia sua ascendência racial negra. O “preconceito de origem” é uma característica da realidade norte-americana, que discrimina a pessoa pela sua ancestralidade, ou seja, pelo fato de alguém possuir na família algum parente negro independente da pessoa “aparentar” ser negra. Neste caso, o que prevalece nesta classificação é a ascendência e não a aparência. No Brasil, se o indivíduo é mestiço claro, independente que os pais e avós sejam negros, ele sofrerá menos preconceito racial e ainda poderá atravessar a linha ou a fronteira de cor e se classificar na categoria branca. Nos Estados Unidos, a pessoa pode não revelar nenhum traços negroides na aparência, mas se sabe que em sua origem há pessoas negras, ela será considerada negra e sofrerá os mesmos preconceitos. Segundo Carlos Moore, (...) na América Latina, a sociedade está funcionalmente hierarquizada segundo critérios eminentemente raciológicos baseados na cor e no fenótipo (feições). Com efeito, em toda a América Latina encontramo-nos diante de uma realidade pigmentocrática sem castas, onde a classe social, a linhagem, a estirpe ou a raça – na sua definição sócio-histórica - se confundem com as diferenciações e gradações fenotípicas. A América Latina toda funciona segundo uma ordem sócio-racial pigmentocrática; um contexto social onde as diferenciações da cor da pele, da textura do cabelo, da forma dos lábios, da configuração do nariz, dentre outras características, determinam o status coletivo e individual das pessoas. (Moore,2007, p.202). FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 4 O racismo gera diversos preconceitos tais como: a ideia da inferioridade, da superioridade e legitima a hierarquização da humanidade segundo as características fenotípicas. O racismo aproximou de determinada narrativas bíblicas com justificativa teológica para legitimar a dominação e a escravidão dos povos africanos pela Coroa Portuguesa e pela Igreja Católica. Naquele tempo havia o pensando que era necessário ajudar os africanos a sair da ignorância, do seu estado animalesco em que viviam. Fazendo em converter para o cristianismo, garantindo assim, sua salvação e a sua entrada para o Reino do céu. O texto gerador foi o livro do Gênesis capítulo 9,18-27, onde fala sobre a Maldição da raça negra. A história fala de Cam, o filho de Noé, que foi amaldiçoado pelo pai, depois o ter visto nu e embriagado pelo fruto da videira. Noé diz: “Maldito seja Cam, que ele seja para seus irmãos o último dos escravos”. Essa narrativa alimentou a ideologia racista dos colonos brancos da África do Sul, que são os Afrikâners , os calvinistas descendentes de europeus, especialmente de holandeses, alemães e franceses e ingleses. Que estabeleceram entre 1948 a 1994 o sistema político o Apartheid ou separação, onde foi estabelecido oficialmente um conjunto de leis e atos visando separar os territórios específicos dos “brancos” e dos “negros”, sendo estes últimos subordinados e alijados de todas as instâncias de poder. Esse mesmo texto tem sido alimentado no século XXI pelo pensamento racista do Pastor Infeliciano (grifo meu) Vejam: FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 5 E importante reafirmar que o racismo aqui no Brasil teve várias formas de atuação dentro dos contextos históricos. Vejamos: a) Colonização: O racismo foi utilizado para sustentar o sistema de escravidão; b) No século XIX- (teorias raciais)- nascimento da indústria e da burguesia. O racismo atua para justificar a supremacia da elite branca capitalista e a sua exploração em cima das populações inferiores. Lembre- se a população negra vem trazendo o acúmulo de desvantagens na hierarquização de poder; c) Na sociedade pós-moderna, o racismo é “oculto”, setores conservadores da sociedade, que não querem que a sociedade mude, contestam de que não há racismo no Brasil. Constrói o mito da democracia racial e o mito do embranqueamento; a) d) Século XXI- com a crise do capitalismo, o racismo toma-se outra postura com a questão da xenofobia. E dentro deste processo de “globalização”, muitas pessoas acabam deslocando seus países para outros acabando sofrendo um outro formato do racismo. Em relação ao mito da democracia racial, se produz na cabeça do povo brasileiro que somos um povo mestiço devido à mistura entre as três raças- branca, indígenas e negra. Prega-se que o povo brasileiro resultado desta mestiçagem, sempre tiveram contato harmônico, todos tem-se igualdade no país e não há motivos para conflitos e tensões étnico- raciais. O pioneiro que criou- se o mito da mestiçagem foi o sociólogo Gilberto Freyre. Com esse mito encobre as violências, as injustiças, às desigualdades sociais e raciais cometidas para com o povo negro e para com os povos indígenas. Mas o mito não é algo abstrato e falso, fácil de ser combatido e descartado. Muitos brasileiros não admitem discursivamente que são racistas, mas praticam o racismo em palavras, gestos e atos. Violência Simbólica: a ideologia do embranquecimento Além disso, estão sendo construídos, historicamente, socialmente e culturalmente, no país, valores simbólicos: nos quais o ideal de branqueamento é quem determina a superioridade de uma classe social ou de um grupo racial nas relações de poder, de comandar, neste caso somente a classe dominante da elite branca. Portanto, o branco torna-se um valor, um ideal ético, estético, econômico e educacional. Configura como sinônimo de características positivas como belo, justo, verdadeiro, santidade, FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 6 limpo, honesto, riqueza, boa aparência, privilégio, ascensão social e enquanto a cor negra torna-se oposição. Segundo Clóvis Moura, Essa elite de poder que se auto- identifica como branca escolheu, como tipo ideal, representativo da superioridade étnica na nossa sociedade, o branco europeu e, em contrapartida, como tipo negativo, inferior, étnica e culturalmente, o negro. Em cima dessa dicotomiaétnica estabeleceu-se, uma escala de valores, sendo o individuo ou grupo mais reconhecido e aceito socialmente na medida em que se aproxima do tipo branco, e desvalorizado e socialmente repelido à medida que se aproxima do negro. (Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Ática, 1988, p.62). No processo de desenvolvimento humano, esses valores serão introjetados no universo psíquico, neste caso, do negro, “aliados à uma realidade social adversa” que serão transmitidos pela família, pela escola, pela igreja, pelo mercado de trabalho, e pela mídia, tendo como modelo de identificação do país o do fetiche da brancura. Veja e reflita sobre a pintura do artista Modesto Broccos y Gomes, de 1895 com a obra “Redenção de Cam". Essa ideologia do embraquecimento trouxe sérias conseqüências para o psicológico da população negra. Frequentemente, ouvimos certas expressões discriminatórias no cotidiano de que “negro não presta”; “a situação está preta”, para significar que a mesma está ruim. FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 7 Tomemos como exemplo a seguinte frase: “O inferno é concebido como negro e o céu lugar de almas brancas”; para a pessoa negra que não tem certa estrutura psicológica em relação a sua identidade negra, essa frase perpassa como fase de sofrimento, “inferiorização”, baixa estima e não aceitação 1” dos seus caracteres fenotípicos e de sua descendência africana. Para classificação racial no país são utilizados três modelos: a) O Governo Brasileiro por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, classifica as pessoas pelo critério da cor da pele/raça. Em 1872, tivemos o primeiro recenseamento geral do país com quatro categorias entre branco, preto, pardo e caboclo. Entendendo que pardos como a união de brancos e pretos e caboclo como os indígenas e seus descendentes. Depois em 1890 houve a substituição do pardo pelo mestiço. Atualmente, os critérios utilizados são de cinco categorias: brancos, pretos, pardos, amarelos e indígenas; b) Meio popular: Para as pessoas que trazem em sua cabeça o mito da democracia racial e mais a ideologia do branqueamento, define-se a sua aparência a partir de uma variedade de tonalidades para corresponder às características que se convenceu a relacionar. Daí termos expressões como“ amorenada, , café com leite, cor de café, escurinha, morena jambo, marrom bombom, mestiças, pardos, queimada de sol e entre outros, dificultando a sua afirmação de identidade étnico racial de negro. Essa resposta apareceu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita em 1976 que detectou 135 variações de cores diferentes da população brasileira, uma vez que a pergunta as pessoas eram livres em definir a sua cor\raça; c) Movimento Negro (Militância): A partir de meados da década de 70, o movimento negro brasileiro passou a reivindicar o reconhecimento da categoria da “raça negra” como um embate político e ideológico no combate ao racismo e a desigualdades raciais. As categorias de pardos e negros são visto como uma única “raça” servindo como base para construção da políticas públicas de promoção da igualdade racial. Aqui existe somente duas categorias ou você define como negro ou branco. O slogan do movimento negro é “preto é cor, negro e raça”. Daí todos os esforços dos movimentos negro e do Movimento Negro de Diadema em desconstruir e ressignificar a terminologia “negro” por meio do trabalho da auto-estima e da consciência negra. Lembremos- nos de alguns slogans que nós do Movimento Negro utilizaram e 1 CHAGAS, Conceição Corrêa das. Negro uma identidade em construção. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 34 FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 8 ainda utilizamos em formato de bottons e/ou camisetas para valorização da cultura negra e da conscientização negra. São esses: “Negro é lindo!, “Negra Sim!”, “100% Negro!”. Em relação à atuação dos Movimentos Negros, teremos na década de 80, uma grande mobilização em torno do debate sobre a situação do negro no Brasil. Encontros municipais e estaduais serão organizados com as entidades negras para elaboração de um documento com uma redação de propostas vindas pelo movimento a ser entregue aos deputados comprometidos com a causa negra que iriam participar da nova Constituição. Com isso teremos a Constituição de 1988, em sua aprovação do art 5º- inc. XLII, que condena a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível. Outra ação dos Movimentos Negros Brasileiros, na década de 90, foi à campanha de sensibilização da população negra em responder o recenseamento com sua identidade negra. O Slogan era: “ Não deixe sua cor passar em branco”, fazendo uma reflexão as pessoas deixassem dentro de si a ideologia do branqueamento. Além do recenseamento, o movimento negro trouxe a luta da implementação do quesito cor/raça em todos os sistemas e formulários governamentais. Através da coleta de dados estatísticos pode obter informação, subsídios que demonstra a diferenças socioeconômicas e culturais entre a população negra e branca. A partir disso, é possível verificar a permanência das desigualdades de gênero, cor/ raça que foram edificada em nossa sociedade brasileira para construção de políticas públicas de ações afirmativas para reversão deste quadros. Imagem da cartilha “Orientações para a Qualificação do Quesito „Cor ou Raça‟ no Censo da Educação Superior”, lançada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial-SEPPIR, em 2015, pela ex-Ministra Luiza Helena de Bairros FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 9 Sabemos o Estado Brasileiro tem sua responsabilidade histórica pela escravidão e marginalização econômico-social dos descendentes de africanos, de negro e negra deste país e deve comprometer com a implementar as políticas públicas e a incentivar ações afirmativas reparatórias. Infelizmente em todas as instituições públicas e nos meios de comunicações, temos aqui, a chamada do Racismo Institucional que é o responsável pelo tratamento diferenciado entre negros e brancos empolíticas públicas. É um mecanismo social de exclusão seletiva de determinados lugares tradicionalmente ocupados pelas “elites brancas”. Diversas instituições criam mecanismo de favorecimento o acesso aos brancos e dificultando ou proibindo a presença dos negros em determinados espaços sociais. Considerações finais Caro (a) participantes, a conclusão retirada desta apresentação e que as pessoas autodeclaram em relação a sua cor ou raça no Brasil. Cada pessoa define a qual grupo queira pertencer. Geralmente a identidade da pessoa está mais relacionada com aquilo que a sociedade dita, o “fetiche da brancura”, sinônimo de ascensão social. Muitos sentem constrangimento em ser relacionado com a palavra “negro” devido a uma carga pejorativa construída no país. É comum filhos de casamentos inter-raciais que tenha a pele mais clara, se declare branco ou pardo. Mas por outro lado temos pessoas que sentem orgulhos e conhecem seus direitos de cidadãos e cidadãs. Como afirma o pensamento de Souza (1983, p.77) “ Ser negro não é uma condição dada a priori. É um vir-se a-ser. Ser negro é tornar negro”. Portanto ser negro e negra no Brasil não se limita às características físicas, mas sim, trata de uma escolha política. Trata de assumir a identidade negra e cultural, e adquirindo, no grupo, uma consciência negra, ancorada na cultura e na história de lutas travadas pelos nossos ancestrais contra a escravidão, o racismo e a opressão. E entender que essa consciência negra, exige de nós uma atitude eficaz de desconstrução e de construção, hoje, de “Palmares, Canudos, Chiapas” como verdadeiros espaços de resistência e de construção da dignidade e afirmação das políticas para conosco, negros e negras. Para finalizar, entendo que a luta de combate ao racismo deva ser encampada por todos nós, brancos e negros para a promoção da igualdade racial. FÓRUM DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL DE DIADEMA - “BENEDITA DA SILVA” Documento elaborado por Márcia Regina Damaceno Silveira, formada pela Faculdade Nossa Srª da Assunção, Socióloga pelo Centro Universitário da Fundação Santo André, Especialista em Ciências da Religião PUC/SP. Graduanda em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela UNIFESP e coordenadora do Fórum de Promoção da Igualdade Racial “Benedita da Silva”. Direitos autorais são protegidos pela lei n°9610/98, violá-los é crime. Se for copiar, cite os créditos! Página 10 Referência bibliográfica: CHAGAS, Conceição Corrêa das. Negro uma identidade em construção. Petrópolis: Vozes, 1996. FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª.ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FIGUEIREDO, Janaína: ALBURQUERQUE, José Lindomar C. Educação, Racismo e Antirracismo. Apostila do curso de Especialização de Promoção da Igualdade Racial na Escola. São Paulo, UNIFESP, 2016. MOORE, Carlos. O Racismo e a Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. 2ª ed., Belo Horizonte: Nandyala, 2012. MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Ática, 1988. NOGUEIRA, Oracy. Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo: EDUSP, 1998. RODRIGUES, Elisa. Raça e controle social no pensamento de Nina Rodrigues. Revista Múltiplas Leituras, n. 2, vol. 2, 2009, p. 81-107. Disponível em: https://goo.gl/D8CGUi, acesso em 10 de março de 2017. SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro ou as vicissuitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983. Para saber mais leiam: MUNANGA Kabengele, Org. Superando o Racismo na Escola. Brasília, 2005. Disponível http:// portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/racismo_escola.pdf, Indicação de Filme que aborda Racismo 1- Ao mestre com carinho, James Clavell, 1967/ EUA 2- Olhos azuis, Jane Elliot- 1968/EUA 3- Mississipi em chamas /1988/EUA 4- Separados mas iguais, George Stevens Jr – 1991/ EUA 5- Sarafina – o som da liberdade, Darrell Roodt – 1992/África do Sul 6- Mentes Perigosas, John N. Smith -1995/EUA 7- A Negação do Brasil- 2000/BRA 8- Alguém falou de racismo, Daniel Caetano – 2002/BRA 9- Vista a minha pele, Joel Zito Araújo & Dandara – BRA/2004 10- Escritores da Liberdade, Richard LaGravenese – EUA/ 2007 11- Mãos talentosas, Thomas Carter-2009/EUA 12- Preciosa, Lee Daniels – 2009/EUA 13- 12 Anos de Escravidão -2014/EUA 14- Youtube: Racismo desde criança. Comparando as bonecas. 15- Letra de músicas: a) Racismo é burrice- Gabriel Pensador; b) Voz ativa- Racionais MC”S; Maiores informação: mreginadamacenosilveira@yahoo.com.br ou facebook- Márcia R Damaceno Silveira ou ainda facebook: fórum de promoção da igualdade racial Benedita da Silva
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