Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CURSO DE FORMAÇÃO GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM GÊNERO E RAÇA (GPP-GER). POLO HUMBERTO DE CAMPOS ADOMAIR DA SILVA (ADOMAIR O. OGUNBIYI) RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso: pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas públicas em Gênero e Raça Humberto de Campos 2013 2 ADOMAIR DA SILVA (ADOMAIR O. OGUNBIYI) RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso: pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de Políticas Públicas em Gênero e Raça Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça da Universidade Federal do Maranhão, como requisito para obtenção do Grau de Especialista. Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira Humberto de Campos 2013 3 Silva, Adomair da (Ogunbiyi, Adomair O.) RACISMO, discriminação e preconceito raciais: definir é preciso: pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas públicas em gênero e raça/Adomair da Silva (Adomair O. Ogunbiyi). _ São Luís, 2013. 67 f. : Il. Impresso por computador (fotocópia) Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça), Universidade Federal do Maranhão, 2013. 1. Racismo 2. Discriminação Racial 3. Preconceito Racial 4. Políticas Públicas – Gênero e raça 5. Movimento negro I. Título CDU 323.1 : 305 4 ADOMAIR DA SILVA (ADOMAIR O. OGUNBIYI) RACISMO, DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO RACIAIS: definir é preciso: pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de Políticas Públicas em Gênero e Raça Trabalho de conclusão de curso apresentado a Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça da Universidade Federal do Maranhão, como requisito para obtenção do Grau de Especialista. Orientador: Prof. Ms. Paulo Sergio Castro Pereira Aprovado em / / BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Prof. Ms. Sergio Castro Pereira Universidade Federal do Maranhão _____________________________________ Profª. Ms. Raimunda Nonata da Silva Machado ______________________________________ Profª. Drª. Sirlene Mota Pinheiro 5 RESUMO Analise de políticas públicas de gênero e etnia, relativas à população afro-brasileira e a formação de lideranças multiplicadoras(es) sobre o significado de: Direitos Humanos, Movimento Negro (histórico), Questão Étnico-Racial (conceitos e definições sobre o que é racismo e suas manifestações: preconceito e discriminação raciais), Questão de Gênero e Questão Geracional. O empoderamento de lideranças quilombolas. Exercício da cidadania baseado nas ações previstas no Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PLANAPIR) e no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. Palavras-chave: Direitos Humanos. Movimento Negro. Questão étnico-racial. Racismo. Preconceito Racial. Discriminação Racial. Políticas Públicas. Gênero. Raça 6 ABSTRACT Public policy analysis of gender and ethnicity, relating to Afro-Brazilian population and leadership training multipliers about the meaning of Human Rights, the black movement (history), ethnic and Racial Issue (concepts and definitions about what is racism and its manifestations: prejudice and racial discrimination), gender and Generational Issue. The leadership empowerment quilombolas. Exercise of citizenship based on the actions foreseen in the National Plan for the promotion of Racial Equality (PLANAPIR) and the National Plan of policies for women. Keywords: Human Rights. The black movement. Ethnic and Racial Issue. Racism. Racial Prejudice. Racial Discrimination. Public Policies. Genus. Race 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................08 2 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS: base para a elaboração de políticas públicas em Gênero e Raça..................09 3 ATER QUILOMBOLA: uma experiência em gênero e raça.............................................................................16 3.1 Do planejado nas Ramadas......................................................17 4 NEGRITUDE COMO SUPORTE TEÓRICO....................................26 5 O QUE É RACISMO ? ................................................................28 5.1 Estudos de Casos......................................................................33 6 O QUE É DISCRIMINAÇÃO RACIAL?..........................................36 6.1 Estudo de Caso.........................................................................37 7 O QUE É PRECONCEITO RACIAL ...............................................39 7.1 Estudos de Casos......................................................................39 8 PODE O/A NEGRO/A E/OU AFRO-BRASILEIRO/A SER RACISTA? ...........................................................................44 8.1 Estudo de Casos........................................................................48 9 O(A) NEGRO(A) PODE TER PRECONCEITO E DISCRIMINAR RACIALMENTE OUTRO(A) DE SUA PRÓPRIA RAÇA/ETNIA...............................................................................50 9.1 Estudo de Casos.........................................................................51 10 SOBRE A LEI CAÓ – LEI Nº 7716/89...........................................57 11 O ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL (LEI Nº 12.188/10)........61 12 CONCLUSÃO..............................................................................62 REFERÊNCIAS..............................................................................64 8 1 INTRODUÇÃO Tendo em vista as políticas públicas, na seara Federal, específicas, através do Serviço de Assistência Técnica para Comunidades Quilombolas no Território da Cidadania Vale do Itapecuru urgem atividades que suscitem reflexões acerca dos direitos humanos, do movimento negro e das questões étnico-raciais. Por outro lado, as comunidades quilombolas carecem de conhecimentos sobre como acessar políticas públicas garantidas constitucionalmente para que se desenvolvam. Dentro dos fundamentos teóricos, orientações e procedimentos metodológicos contidos na construção de uma Pedagogia de ATER, a qual está consubstanciada na Política Nacional de ATER (Pnater), em conformidade com a Lei 12.188, de 11 de janeiro de 2010, o projeto propõe-se como uma ferramenta para propiciar um modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural. Para além de propiciar o exercício de direitos e difundir os princípios do Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) propõe-se, também, em fortalecer a cidadania, considerando diferenças de Gênero, Geração e Etnia e as orientações do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Lei 6.872, de 04/06/2009) do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. O presente trabalho, fruto do Plano de Ação do curso de Gestão de Política de Gênero e Raça, analisa as políticas públicas degênero e etnia, relativas à população afro-brasileira e a necessária formação de lideranças multiplicadoras(es) sobre o significado de: Direitos Humanos, Movimento Negro (histórico), Questão Étnico-Racial (conceitos e definições sobre o que é racismo e suas manifestações: preconceito e discriminação raciais), e Questão de Gênero. O empoderamento de lideranças quilombolas perpassa pelo exercício da cidadania baseado nas ações previstas no Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PLANAPIR) e no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres os quais carecem destes pressupostos epistemológicos como base na elaboração e implementação de políticas púbicas. 9 2 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS: base para a elaboração de políticas públicas em Gênero e Raça O Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural para Comunidade Quilombolas no Território da Cidadania do Vale do Itapecuru (ATER Quilombola) encontra-se no bojo da Política Nacional de Ater (Pnater). Cuja base teórica tem fulcro na Lei Federal de 11 de janeiros de 2000 – Lei nº 12.188, e, tem expresso em seus princípios e diretrizes conceitos de uma pedagogia dialógica e participativa (BRASIL, 2010, p. 07). Conforme o proposto pela Pnater, ou seja: um modelo de desenvolvimento sustentável para o meio rural, ancorado num conjunto de princípios que qualificam a ação extensionista e o serviço de assistência técnica e extensão rural prestado às(aos) agricultoras(es) familiares e suas formas de organização. Dentre eles, destaca-se o princípio norteador desta proposta: “Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da política pública” (Lei nº 12.188 de 11 de janeiro de 2010). Baseado em uma proposta de educação emancipadora onde o enfoque é deslocado do individual para o social, político e ideológico. A educação emancipadora é uma educação contra as outras concepções que, por adotarem a concepção liberal, focada no indivíduo, são promotoras das desigualdades, da dependência, da passividade, da impotência, da obediência (BRASIL, 2012, p. 19). Neste sentido, o presente trabalho, denominado Racismo, Discriminação e Preconceito Raciais: definir é preciso – Pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas públicas de Gênero e Raça fundamentou-se em um referencial teórico composto de um conjunto de estudos sistematizados e formulados por especialistas, estudiosos(as) e teóricos(as) da educação e em torno da identidade étnico-racial (Negritude) pois, se coaduna com a educação emancipadora uma vez que pretendeu, através de oficinas “não [...] convencer a(o) educanda(o), mas de vencer com 10 ela(e), construir junto uma sociedade justa e igualitária, despida de desigualdades de gênero e raça. Vasto referencial teórico, marcos legal e eventos históricos respaldam o presente trabalho como exemplo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, instituída pela ONU em de 10 de dezembro de 1948, e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas através da Resolução, n. 217. Como Estado-Membro da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é signatário, desde 1948, dessa importante e histórica Declaração que contém 30 artigos, nos quais estão elencados o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de: Que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, em promover o respeito a esses direitos e liberdades e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, em assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS, 2001). Na Declaração Universal dos Direitos Humanos os Estados-Membros das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, “sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla”. Em seu artigo primeiro encontra-se o quanto segue: Artigo 1. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Localiza-se explicitado o ideário de igualdade no artigo 7 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que afirma: Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. 11 Seguindo, encontra-se no Artigo 23: 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. Fazem parte, ainda, do rol dos marcos legal a: - Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da qual o Brasil é signatário desde 20 de novembro de 1963 e, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 20 de dezembro de 1965 (DPI/858); - A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres – CEDAW, em 1979, O Estado brasileiro ratificou a Convenção da Mulher em 1984, a qual prevê nos artigos 1 e 2 , o que segue: Artículo 1 A los efectos de la presente Convención, la expresión "discriminación contra la mujer" denotará toda distinción, exclusión a restricción basada en el sexo que tenga por objeto o por resultado menoscabar o anular el reconocimiento, goce o ejercicio por la mujer, independientemente de su estado civil, sobre la base de la igualdad del hombre y la mujer, de los derechos humanos y las libertades fundamentales en las esferas política, económica, social, cultural y civil o en cualquier otra esfera. Artículo 2 Los Estados Partes condenan la discriminación contra la mujer en todas sus formas, convienen en seguir, por todos los medios apropiados y sin dilaciones, una política encaminada a eliminar la discriminación contra la mujer y, con tal objeto, se comprometen a: a) Consagrar, si aún no lo han hecho, en sus constituciones nacionales y en cualquier otra legislación apropiada el principio de la igualdad del hombre y de la mujer y asegurar por ley u otros medios apropiados la realización práctica de ese principio; 12 b) Adoptar medidas adecuadas, legislativas y de otro carácter, con las sanciones correspondientes, que prohíban toda discriminación contra la mujer; c) Establecer la protección jurídica de los derechos de la mujer sobre una base de igualdad con los del hombre y garantizar, por conducto de los tribunales nacionales o competentes y de otras instituciones públicas, la protección efectiva de la mujer contra todo acto de discriminación; d) Abstenerse de incurrir en todo acto a práctica de discriminación contra la mujer y velar porque las autoridades e instituciones públicas actúen de conformidad con esta obligación; e) Tomar todas las medidas apropiadas para eliminar la discriminación contra la mujer practicada por cualesquiera personas, organizaciones o empresas; f) Adaptar todos las medidas adecuadas, incluso de carácter legislativo, para modificar o derogarleyes, reglamentos, usos y prácticas que constituyan discriminación contra la mujer; g) Derogar todas las disposiciones penales nacionales que constituyan discriminación contra la mujer (CONVENCIÓN SOBRE LA ELIMINACIÓN DE TODAS LAS FORMAS DE DISCRIMINACIÓN CONTRA LA MUJER, 1979) - A Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, de 26 e 27 de agosto de 1986, em Brasília, elencava inúmeras reivindicações do Movimento Negro relativas aos direitos das populações negras nos mais diversos campos da atividade humana; - A Constituição Federal de 1988 em seu artigo Art. 5º prevê que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”; e no inciso XLII prevê que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (BRASIL, 1988) - A Lei Caó (Deputado Federal Carlos Alberto de Oliveira), Lei 7716/89, que pune os Crimes de Racismo, fruto das reivindicações históricas do Movimento Negro; - A Convenção 169 da OIT, de 7 de junho de 1989, que prevê: Que [...] em princípio sua abrangência é definida para os povos indígenas e quilombolas, ambos reconhecidos como minorias étnicas do Estado brasileiro na mesma Constituição Federal de 1988. Estes 13 aparentemente são os principais sujeitos de direito aos quais o Estado brasileiro reconhece a aplicação da Convenção OIT 169. Com relação ao reconhecimento de povos quilombolas como povos tribais, existe jurisprudência nacional reconhecendo a aplicação da Convenção 169 da OIT para quilombolas na sua qualidade de povos tribais: “não pode o Estado negligenciar a proteção constitucionalmente eleita como um dos objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil, qual seja, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, identidade e quaisquer formas de discriminação” (CF/88, art.3o, IV), incluindo, assim, as comunidades remanescentes de quilombos (…) conforme destacado pelo ilustre Representante Ministerial em seu Parecer, pelo Estado Brasileiro estou confirmando seu entendimento em estabelecer políticas públicas voltadas ao combate à discriminação dos modos de vida tradicionais dos povos indígenas e tribais, quando da edição do Decreto Legislativo No 143/2002, ratificando a Convenção nº 169 da OIT, que dispõe em seu art. 14 que “deverão ser reconhecidos os direitos de propriedade e posse dos povos em questão sobre as terras que tradicionalmente ocupam”. - A Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, de 20 de novembro de 1995, realizada em Brasília, na qual participaram organizações e/ou entidades do movimento negro, organizações não governamentais e congêneres ligadas às igrejas, partidos políticos, sindicatos, movimentos sindicais, núcleos de estudos de universidades públicas comprometidas com a questão étnico-racial; - A Lei 10.639/03 que obriga o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, o Parecer do Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno - CNE/CP 03/2004 e a Resolução CNE/CP 01/2004 são instrumentos legais que orientam as instituições educacionais quanto as suas atribuições; e, - O Estatuto da Igualdade Racial, Lei 12.288, de 20 de julho de 2010 em seu artigo 1º, prevê que esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. E, em seu parágrafo único, para efeito deste Estatuto, considera que: I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou 14 origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada; II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais; IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades (BRASIL, 2011). Inúmeros livros, estudos e artigos têm abordado o racismo e o que entendemos por sequelas emanadas do mesmo, ou seja, a discriminação e o preconceito raciais. E, salvo alguns/algumas poucos,(as) autores(as)1 que introduzem essa discussão conseguem demonstrar as causas e os efeitos e por vezes enfocam, acanhadamente, aquelas definições e/ou conceitos de maneira a dirimir questionamentos existentes nos mais variáveis níveis sobre o que é: a) Racismo; b) Discriminação Racial; e c) Preconceito Racial. Em consequência da ausência de trabalhos, com enfoque didático- pedagógico neste âmbito, temos nos deparado com interrogações e afirmações do tipo: “Pode o(a) negro(a) e/ou afro-brasileiro(a) ser racista” ou ainda, “o(a) negro(a) tem preconceito e discrimina racialmente outro(a) de sua própria raça/etnia. Numa tentativa de explicitar estes pontos e consequente elucidação do que compreendemos 1 Adota-se a preocupação com a dimensão de gênero da linguagem verbal para, criticamente, libertar nosso texto do “[...] monopólio masculino da língua e produção do conhecimento” conforme posição de Peter McLaren (1997) e Guacira Lopes Louro (1999), entre inúmeros(as) autores(as). 15 ser um desvio e/ou uma visão equivocada quanto aos reais significados de racismo, discriminação e preconceito raciais, elaboramos o presente trabalho objetivando contribuir no processo do fortalecimento da consciência negra tão necessária para se reagir à violência racial, a qual ao longo dos séculos vem de forma genocida, massacrando negras(os), desde África até toda sua Diáspora. 16 3 ATER QUILOMBOLA: UMA EXPERIÊNCIA EM GÊNERO E RAÇA A ATER QUILOMBOLA é um projeto que prevê quatro etapas, a saber: - Diagnóstico participativo com as comunidades quilombolas; - Formação em políticas públicas; - Elaboração dos Planos de Desenvolvimento dos Serviços de ATER; - Monitoramento das atividades do projeto. Portanto, é uma construção, logo a formulação das políticas públicas que se apresentam como necessárias, foram formuladas pelas comunidades. Neste sentido, carece-se de permear a aplicação e ações com a definição de Racismo, Discriminação e Preconceito Raciais em todas as fases de pré-formulação em qualquer política pública junto as comunidade quilombolas. Tal constatação advém do diagnóstico preliminar efetuado junto às comunidades quilombolas no Território da Cidadania Vale do Itapecuru, onde se verificou a ausência da aplicabilidade das políticas públicas, tais como: Lei 10.639/03 que estabelece o ensino da História de África e da Cultura Afro-brasileira nos sistemasde ensino; do Programa Brasil Quilombola; da homologação e consequente implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola, como modalidade da educação básica; na Assistência Técnica e Extensão Rural para Comunidade Quilombolas – ATER QUILOMBOLA; e, por fim, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10). O enfoque propugnado entende-se, possibilitaria às comunidades uma visão mais ampla para a construção e formulação de propostas na elaboração um Plano de Inclusão das Famílias Quilombolas para o acesso as políticas públicas. As políticas públicas elencadas poderiam dar conta de demandas objetivas, contudo, como as comunidades são carentes de informações e conhecimentos para que elas compreendam as nuances subjetivas do racismo e suas manifestações e possam formular ações, cobrar políticas públicas estagnadas pela burocracia e a falta de vontade política estatal. Assim sendo, acredita-se que somente com um estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas se poderiam formular políticas públicas de gênero e raça para atender, não somente as populações que 17 compõem as comunidades quilombolas, como também aquelas que atentem para a diversidade étnico-racial, no Brasil. 3.1 Do planejado nas Ramadas2 Conforme previsto no projeto originário, procurou-se cumprir o cronograma. Realizaram-se oficinas nas Comunidades Quilombolas no Território do Vale Cidadania com todas as comunidades quilombolas e cumprindo o roteiro, foram executadas as seguintes atividades: - Formação em políticas públicas; - Elaboração dos planos de desenvolvimento dos serviços de ATER; - Monitoramento das atividades do projeto. As comunidades remanescentes de quilombos atendidas, inseridas no Território Rural do Vale do Itapecuru no estado do Maranhão, são: Tabela 1: Comunidades Remanescentes de Quilombos atendidas Municípios Comunidades Quantidade de famílias atendidas Anajatuba . Queluz . 30 Itapecuru Mirim . Ipiranga da Carmina . Juçaral / Santa Helena . Mata São Benedito . Pequi/ Santa Maria Pretos . Santa Maria dos Pinheiros . Santa Rosa . 52 . 30 . 35 . 352 . 21 . 175 Vargem Grande . São Francisco Malaquias . 30 Tabela 1: Comunidades Remanescentes de Quilombos atendidas Depreendeu-se, nas oficinas, que as demandas em termos de políticas públicas para as comunidades acima apresentadas eram semelhantes, ou seja: falta de 2 Casa de festa e de reuniões onde a comunidade costuma tomar decisões. 18 estradas e pontes em condições para acesso às comunidades; falta de água; falta de assessoria e assistência técnica e extensão rural; ausência de creches; falta de escolas3 para atender as crianças do ensino fundamental nas próprias comunidades; falta de transporte para alunas(os) que estudam fora da comunidade; onde existem escolas, as mesmas funcionam de modo precário, instalações precárias e sem condições higiênicas, falta de condições e materiais de trabalho; as(os) professoras(es) não tem formação em educação quilombola; falta de merenda e material escolar. Objetivando ilustrar melhor as condições de vida da maioria das comunidades quilombolas apresentamos a seguir, como exemplo, a Comunidade Juçaral/Santa Helena, titulada em 28 de novembro de 2006. Infraestrutura Física, Social e Econômica O conjunto de serviços da comunidade Juçaral/ Santa Helena apresenta-se com aquelas precariedades inerentes a ausência de políticas públicas. O mal estado das estradas e a ausência de pontes impedem o transito/comunicação com as demais comunidades, principalmente em período de chuvas, quando elas tornam-se intransitáveis, mesmo de motocicleta. Foto 1: A melhor parte da estrada Fonte: do autor 3 Somente uma comunidade, Santa Joana, no território de Santa Maria dos Pretos, contava com escola que oferecia condições ideias para receber condignamente alunas(os) e professoras(es). No entanto, nesta escola a água utilizada é salobra. 19 O abastecimento de água, na comunidade é realizado através de um único posto artesiano, o qual consegue dar conta das necessidades das(os) moradoras(os) e carece de qualidade pois é salobra. Foto 2: Poço artesiano e caixa d’água Fonte: do autor Através de convênio entre a Funasa e Prefeitura de Itapecuru a comunidade foi contemplada por “Kits Sanitários”. Foto 3: Kit sanitário Fonte: do autor 20 Tabela 2: Saúde e Saneamento Quantidade de postos de saúde Não existe posto na comunidade Atendimento .Como, quando, onde e quando. .Distância .Dias de Atendimento .Quantidade de vezes as pessoas visitam o médico por ano .O atendimento é realizado na Unidade de Saúde da comunidade de Bacabal, distante 2 quilômetros de Santa Helena, de difícil acesso. Os atendimentos em Leite (9 km) têm de ser marcados. Em Presidente Vargas (15 km). .Os atendimentos são realizados duas vezes por semana. .Os idosos são atendidos de 2 em 2 meses. As gestantes 1 vez por mês. Quando estão doentes quais os meios que utilizam para se curar e que tipo .Chás de: casca de laranja, Vik, Hortelã, Titoco, Cararuca. (Qualidade da água (qual a origem, existem caixas d’água, cacimbas, filtros). .Boa qualidade. Existem caixas d’água em todas as casas. A água é canalizada. Quantidade de pessoas que procuram o atendimento médico. Rezadeiras, parteiras, benzedeiras, uso de ervas). .Não existem rezadeiras e parteiras na comunidade, os partos são feitos somente em hospital. .O senhor Nemésio Silva Almeida, 60 anos de idade, é o benzedor da comunidade. Coleta de lixo (onde são destinados, os orgânicos e inorgânicos). .Recolhidos e queimados. Tabela 2: Saúde e Saneamento A Comunidade de Juçaral/Santa Helena tem na produção da farinha a principal fonte de recursos. Produzem-na para o consumo e parte dela é vendida. Foto 4: Casa de Farinha Fonte: do autor 21 A comunidade conta com 13 pessoas com 61 anos de idade; 30 crianças de 0 a 6 anos; 36 crianças de 7 a 14 anos, estas estão estudando o Ensino Fundamental (1º ao 9º ano). Os jovens estão no Ensino Médio. Adultos e idosas(os) perfazem 80% das pessoas que só sabem escrever o nome, poucas estudaram a “4ª Série”. Destas apenas 8 estudaram o ensino médio e encontram-se na faixa de 21 a 30 anos de idade. Entre analfabetas(os) existem 10 pessoas na faixa de idade de 41 a 61 anos de idade. Foto 5: Escola da Comunidade Fonte: do autor 22 A estrutura educacional da Comunidade de Juçaral/Santa Helena apresenta aspectos que são demonstrados nas tabelas abaixo: Tabela 3: Estrutura educacional Localização da escola* Na comunidade Acesso A pé Turnos de funcionamento 1 turno (matutino) Modalidades Educação Infantil Funciona atendendo 14 alunas(os) Ensino Fundamental** Até 5º ano (atendidas/os na comunidade) Ensino Médio 10 alunas(os) atendidos, também, na Comunidade de Leite. Quantidade de salas 1 (em taipa, chão de terra) Sistema de ensino Multisseriado atendendo Com que idade inicia as matrículas 3 anos Transporte Utilizado para chegar à escola Não há necessidade Disciplinas ministradas LP,MTM,Ciências, Geo, Hist, Ed. Física, Educação Religiosa e Filosofia. Existe uma disciplina específica para a realidade rural? Textos e projetos Existe uma disciplina específica para a realidade quilombola? Textos e projetos Condições detrabalho das(os) professoras(es) e alunas(os) Péssimas Qual é a formação das(os) professoras(es) Letras e pós graduação em LP e Literatura Onde residem: no município ou fora No quilombo de Santa Helena/Juçaral São concursadas(os) Contratada. Fez seletivo que é válido por três anos Que tipo de livros utilizam Didáticos e paradidáticos Merenda escolar É para 20 dias, mas só dá para 10 dias. Tabela 3: Estrutura educacional da comunidade (*) O projeto de Escola Quilombola foi aprovado pela Fundação Palmares, contudo, o mesmo, segundo informação das(os) membros da comunidade, encontra-se engavetado há 4 anos, pela prefeitura que tem problemas na documentação. (**) Da 6º a 9º ano, do ensino fundamental as(os) 17 alunas(os) são atendidas(os) na Escola Municipal Coronel José Firmino Gomes, situada no Povoado de Leite, (9k distante de Santa Helena). Transportadas(os) por uma Kombi alugada pela prefeitura. 23 A distribuição das alunas e alunos, por sexo, apresentou-se de acordo com a Tabela 4: Tabela 4: Distribuição das(os) alunas(os) por sexo Série Quantidade Feminino Masculino Anos Iniciais 7 3 Anos finais 10 7 Educação Infantil 4 9 Ensino Médio 6 4 Total 27 23 Tabela 4: Distribuição das(s) Alunas(os) por sexo . Obs.: dados relativos a 2011. Quanto a escolaridade das(os) moradoras(es) detectou-se o que consta na Tabela 5: Tabela 5: Escolaridade das (os) moradoras(es) Faixa Etária Analfabeto Escolaridade Ensino Médio Ensino Superior Total Ed. Infantil Ens. Fundamental Até 06 10 14 24 7 a 10 3 11 14 11 a 14 -- -- -- 10 10 15 a 17 -- 1 1 18 a 24 1 5 6 25 a 40 1 2 2 5 Mais de 40 4 4 Total 19 14 11 18 2 64 Tabela 5: Escolaridade das(os) moradoras(es) A demonstração apresentada é uma amostra da situação na qual se encontra a maioria das comunidades quilombolas, particularmente, no estado do Maranhão. A ausência de políticas públicas considerando como conceito aquele que e Freitas (2010) cunhou sendo Estado Social, ou seja: quando o Estado, instigado pela pressão das massas confere os direitos do trabalho, da previdência, da educação, de saúde, intervém na economia como distribuidor, dita o salário, manipula a moeda, regula os preços etc., em suma, estende sua influência a quase todos 24 os domínios que antes pertenciam, em grande parte, à área de iniciativa individual. Compreendendo-se, neste contexto, que o Estado Social pode representar “efetivamente uma transformação superestrutural do Estado liberal”, na busca de sobrepujar “a contradição entre a igualdade política e a desigualdade social” (FREITAS, 2010). A Constituição Brasileira de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, vai expressar o resultado da mobilização da sociedade organizada e das lutas populares na busca da cidadania ao estabelecer direitos sociais de caráter universal. De acordo com Silse Lemos (2010) “a promulgação da LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, a LOS – Lei Orgânica da Saúde e a nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, por exemplo, vislumbram a possibilidade de ampliar direitos antes negados” (DRAIBE, 1999 apud LEMOS, 2010). E, seguindo sua explanação, Silse Lemos (2010) revela que “para assegurar a afirmação dos direitos requer-se a participação da sociedade tanto na esfera reivindicatória quanto na de controle social”. Para isso, os instrumentos de participação popular como conferências, fóruns, conselhos devem, efetivamente, constituírem-se em espaços privilegiados de ações direcionadas às definições das políticas públicas (RAICHELIS; WANDERLEY, 2000, p.10 apud OGUNBIYI, 2010). Historicamente, no Brasil, as políticas públicas são orientadas pela ótica economicista, com destaque privilegiado das políticas econômicas em detrimento das políticas sociais situadas num plano secundário e subordinado. Mantém-se o aspecto fragmentado, localista, compensatório, ou seja, as políticas públicas não são resolutivas, não atuam na erradicação dos problemas sociais e não asseguram ganhos permanentes para a sociedade. O seu caráter preponderante é o de constituir resultados paliativos. Embora contabilizados os avanços na esfera das políticas públicas como conquistas da sociedade tem-se a considerar os desafios que se apresentam, pela via da reestruturação produtiva, da financeirização da economia, da internacionalização dos mercados, enfim, das sucessivas crises do capital. Em nome dos efeitos desses elementos na sociedade capitalista o Estado foi impelido a minimizar sua esfera de responsabilidades. Para se fazer frente a esse quadro é imperioso que gestoras(es), 25 profissionais e população invistam no conhecimento da configuração e das competências das políticas públicas, como meio de instrumentalização para fazer-se frente aos recuos/obstáculos no campo da disputa, orientando-se o fortalecimento da garantia de direitos (idem). No caso, específico das comunidades quilombolas, que herdaram historicamente, as mazelas oriundas do período escravagista, para além de sua participação tanto na esfera reivindicatória, quanto na de controle social requer-se adicionar aos pressupostos epistemológicos de base para a elaboração de políticas públicas em gênero e raça a emergência introduzir um trabalho com a identidade étnico- racial, a negritude, destas populações resgatando fatores históricos, sociológicos, antropológicos, econômicos, culturais, espirituais aliados ao desenvolvimento de fatores resilientes (autonomia, criatividade, autoestima e humor), da população alvo. Entende-se que não há como suscitar o envolvimento das populações negras existentes nestas comunidades quilombolas sem que estes aspectos sejam enfocados de maneira séria e responsável. Da experiência vivenciada, depreende-se que as iniciativas governamentais, quer sejam, federais e estaduais, quer sejam, municipais, devem prever a formação, capacitação e/ou nivelamento das equipes contratadas das cooperativas ou ONG’s que assumirem tais Chamadas Públicas. Aqueles (as) que irão trabalhar com as populações quilombolas necessitam ter explicito categorias, tais como: Identidade Étnico-Racial (Negritude), Racismo, Discriminação Racial, Preconceito Racial, Machismo, Homofobia, Desigualdade Étnico-Racial, Políticas Públicas, Ações Afirmativas, etc. 26 4 NEGRITUDE COMO SUPORTE TEÓRICO Foram utilizadas, no presente trabalho, questões referentes à identidade étnico/racial, baseada na Negritude: Tabela 7: Identidade Étnico-Racial – Negritude Definição Indicadores . É a valorização plena, com orgulho da condição do/a negro/a e/ou afro- brasileiro em dizer de cabeça erguida: Sou Negro/a. . É a capacidade de ser fiel numa ligação com a terra-mãe, África, cuja herança deve custe o que custar, demandar prioridade. . É a capacidade de ter um sentimento de solidariedade que liga secretamente a todos/as os/as irmãos/irmãs no mundo, que leva a ajudá- los/as a preservar nossa identidade comum. . É a capacidade de reverter o sentido pejorativo da palavra negro para dela extrair um sentido positivo. Reconhece-se como negro/a; Valoriza/gosta de seus traços fisionômicos, cabelo, etc. ligados à sua origem; Identifica-se com negros/as dos mais diversos tipos; Têm prazer de brincar com bonecas/os negros/as; Busca heróis/heroínas, ídolos negros/as; e, Aprecia, respeita ou participa de manifestações culturais e religiosas de origens africanas. Tabela 7: Quadro conceitual formulado, em 1998, por Adomair O. Ogunbiyi, com base no conceito de Negritude criado por Aimée Césaire, Léon Dumas e Léopold Senghor, e utilizado no Projeto Auto-Estima das Crianças Negras, parceira FUNAC/Bernard van leer Foundation, em Alcântara (Castelo)e Viana (S. Cristóvão), de 1998 a 2000. A utilização de identidade étnico-racial como marco conceitual/suporte perpassa por levar em consideração as especificidades das populações negras e/ou afro- brasileiras, ou seja: por sofrerem agudamente as mazelas provocadas pelo racismo e suas manifestações preconceituosas e discriminatórias. A negritude pressupõe a identidade, a fidelidade e a solidariedade, que segundo Aimée Césaire, requisitos estes solapados histórica e psicologicamente das populações negras. Historicamente é a educação formal, através da escola que, centrada em valores simbólicos e fatos étno- eurocêntricos, omite a participação, a contribuição, a luta e a resistência negra em todos os campos da atividade humana, uma vez que a historiografia oficial, também não as contempla. Assim com a educação informal, através da família, que massacrada por um processo de aculturação, assimila/introjeta como boa a história do outro em detrimento da sua que é sempre negada, deturpada e/ou estereotipada negativamente. E, 27 psicologicamente, por meio da alienação a qual foi e é submetida, a população negra, que esvaziada do seu “eu sou” procura e projeta-se em valores alheios assumindo, assim, um complexo de inferioridade. A negritude, enquanto identidade étnico-racial resgata estes valores espoliados (OGUNBIYI, 2004, p.10). Porém, a aplicação da Metodologia, mesmo sendo específica, levará em conta a transversalidade com temas recorrentes, tais como: Gênero, Resiliência 4 (autoestima, autonomia, criatividade e humor). O projeto realizou-se, quanto aos fins: de forma intervencionista, objetivando contribuir na transformação na realidade estudada; e, quanto aos meios: através de um estudo de caso, portanto, se enquadra no tipo descritivo - que possibilita observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos e apresentação de síntese dos resultados dela aferidos. 4 Este vocábulo tem origem, conforme o “Dicionário Básico Latín-Español/Español-Latín”, Barcelona, 1982, no termo resilio que significa voltar atrás, voltar de salto, ressaltar. O termo foi adaptado para as ciências sociais para caracterizar aquelas pessoas que, apesar de nascerem e viverem em situações de alto risco, se desenvolvem psicologicamente sãs e exitosas. (Rutter, 1993). Provavelmente a resiliência, enquanto realidade humana seja tão antiga como a própria humanidade. Afinal de contas, tem sido a única forma de sobrevivência para os pobres e oprimidos. Neste rol, logicamente, estão incluídas as populações não-brancas, às quais não foi dada outra alternativa senão dar prova de resiliência. A Resiliência tem como variáveis: Autoestima - É a valoração que as pessoas têm de si (sentimentos e idéias) a partir de seu auto conhecimento e com influência das relações pessoais/meio físico e sócio cultural. A auto-estima é um componente basicamente emocional e valorativo, muito importante na formação da personalidade e está diretamente ligada ao auto-conceito. Auto-Conceito é a imagem que a pessoa tem de si (como percebe suas capacidades, habilidades, qualidades e limitações) e a Auto-Estima é o valor que a pessoa faz desta imagem; Autonomia - É definida como a capacidade da pessoa (criança, adolescente, adulto/a) de decidir e realizar independentemente ações em consonância com suas intenções e possibilidades; Criatividade - É a capacidade para transformar/construir palavras, objetos e ações, em algo inovador e/ou da maneira de maneira inovadora em relação aos padrões de referência de seu grupo; e, Humor - É uma capacidade manifestada por palavras, expressões corporais e faciais que contém elementos incongruentes e hilariantes com efeito tranquilizador e prazeroso para si e os/as outras/os (Ogunbiyi, 2004, p. 11). 28 5 O QUE É RACISMO? [...] para se combater uma ideia é necessário que todos, ou larga maioria, compreendam como e porque a ideia é errada. SAMORA MACHEL O racismo na sociedade moderna tornou-se uma prática abrangente e diversificada “em formas de negar a dignidade, a igualdade e o respeito à pessoa humana”. “E para justificá-lo várias teses foram criadas com o objetivo de provar a inferioridade do negro”. Um dos iniciadores do racismo, Joseph Arthur de Gobineau, já se fundamentava na análise comparada do cérebro para afirmar que “o huroniano5 não poderia conter, nem mesmo em germe, um espírito parecido com o do europeu” (MEMMI, 1984, p. 12). Outros como, Paul Pierre Broca (1824-80), neurocientista; Linneu, nascido Karl von Linné (1707-78), considerado o pai da taxonomia moderna; Comte Buffon, naturalista francês nascido George Louis Leclerc (1707-88); e Francis Galton (1882- 1911), antropologista criador da Teoria da Eugenia, não estão isentos de preconceitos que preparam o caminho para o racismo pretensamente científico, que se apoia também na autoridade do darwinismo social (OLIVEIRA, 2003, p. 55-69). Segundo Alberto Memmi (1984), “no final do século XIX, a Europa culta está convencida de que o gênero humano se divide em raças superiores e raças inferiores”. As ideias daqueles cientistas influenciaram sobremaneira a intelligentsia brasileira a ponto de surgirem formulações tais como: Uma das soluções sugeridas para ser adotada foi definida pelo Dr. Renato Kehl, presidente da Comissão Central Brasileira de Eugenia e membro do Conselho Executivo da Liga Brasileira de Higiene Mental, foi baseada na tese de Galton: reduzir ou eliminar [...] os subnormais e anormais [...] promover a união conjugal dos eugenizados. Dentre as aberrações encontramos um modelo nazista de Ernani Lopes que reivindicava: a) Tribunais de eugenia, para estabelecer quem tem o direito a filhos. Polícia do sexo. O Estado determina quem pode e deve gerar descendência. b) Reforma eugênica dos salários. Os 5 Indivíduo dos huronianos, povo “indígena” que pertencia à confederação de etnias ligadas à família iroquesa, e que habitava a região entre os lagos Horun, Erié e Ontário. 29 brancos devem ganhar mais do que os negros e outras raças inferiores (AKCELRUD, 1984, p. 9; OLIVEIRA, 2003, p. 76-83). Entretanto, sabemos que “as teorias racistas não podem alicerçar-se em bases científicas” e para tanto a UNESCO organizou em Atenas, na primavera de 1981, um simpósio onde representantes de várias disciplinas puderam expor os mais recentes progressos alcançados pela ciência neste campo. Vinte e dois cientistas debateram em torno dos seguintes temas: Genética e Racismo; Psicologia, Neurobiologia e Racismo; Sociologia e Racismo; Antropologia; Etnologia e Racismo; História, Pré-História e Racismo. Aprovaram um documento reprovando aquelas teses criadas para justificar cientificamente o racismo (JACQUARD, p. 25, 1984). Todavia, apesar de sabermos que estas teses são, hoje, condenadas, ainda vivemos sobre seus espectros. Os efeitos do racismo criam controvérsias principalmente quando os setores afetados tentam dar uma resposta à opressão e exploração impostas. Por outro lado existe, também, a dificuldade destes segmentos formularem sua consciência racial dada a falta de elementos básicos que vão desde o conhecimento de sua história até a definição exata do que vem ser racismo, discriminação e preconceito raciais. Tal desconhecimento inibe a indignação necessária para o negro forjar a unificação na luta contra a opressão e exploração, pois os equívocos de interpretação nos deixam na dúvida de estarmos assumindo a postura do opressor, refreando assim nossa organização para por fim ao racismo considerado como Crime de Lesa Humanidade. Segundo a Declaração sobre a Raça e Preconceitos Raciais (UNESCO, Paris, setembro de 1967): “O racismo tem raízeshistóricas. Não se trata de um fenômeno universal. Em várias sociedades e culturas contemporâneas sua presença é inexpressiva e houve longos períodos históricos isentos de qualquer manifestação racista”. Muitas formas de racismo advieram das condições criadas pela conquista, da tentativa de justificar a escravidão, e, também, das relações coloniais. A sociedade brasileira tem uma conformação multirracial e pluricultural a partir das contribuições dos povos autóctones - os donos da terra -, dos “colonizadores” portugueses e concomitantemente dos povos africanos que, raptados, foram colocados na condição de escravizados neste país continente. http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/UNESCO-Organiza%C3%A7%C3%A3o-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-para-a-Educa%C3%A7%C3%A3o-Ci%C3%AAncia-e-Cultura/declaracao-sobre-a-raca-e-os-preconceitos-raciais.html 30 Essa história todos nós conhecemos e bem. Hoje, porém, havemos de entender que a sociedade brasileira é controlada por um sistema dominador dos meios de produção social, ou seja, da educação, da habitação, da saúde, da indústria, do comércio, dos latifúndios, dos meios de comunicação etc., com formas modernas, dentro da dominação capitalista, de dominar e justificar a opressão e a exploração. Este sistema é controlado pelas classes dominantes, - as elites – as quais pensam a sociedade brasileira dentro do ponto de vista étno-eurocêntrico, portanto, como branca, européia e cristã. Neste prisma, ignorando os demais segmentos, emana a afirmação da superioridade racial branca sobre os não-brancos. Pode-se concluir, em rápida análise, que a racialização, da sociedade brasileira, tem seu nascedouro nesta visão de mundo que permeia as classes dominantes, e não na “onda negra” contemporânea temida por uma insignificante parcela de “iluminadas/os” que pretendem a continuidade somente de políticas públicas universalistas que, vem atravessando séculos, e, em pleno século XXI, não conseguem retirar da situação de desigualdade grande parcela da população brasileira, onde negras/os são a maioria. Rafael Guerreiro Osório, em No Brasil: um balanço das teorias enfatiza que: É fato conhecido no panorama das desigualdades brasileiras que há uma desigualdade racial considerável no país. [...] negros, têm menos que a metade da renda domiciliar per capita de brancos. Trata-se de uma desigualdade particularmente detestável dado que, como tem sido destacado em inúmeros estudos, parte significativa dela não é atribuível a nenhuma medida de mérito ou esforço, sendo puramente resultado de discriminações passadas ou presentes. A pobreza é predominantemente negra e a riqueza é predominantemente branca (OSÓRIO apud THEODORO, 2008, p.124). Quanto às políticas universalistas, recorremos às assertivas de Osório que revela: [...] a força e o mérito dessas proposições de combate ao racismo institucional e, mais especificamente, de ações afirmativas, não devem significar um deslocamento das ações universais como estratégia central da intervenção pública na vida social. Ao contrário, é necessário reconhecer seu papel como instrumento de importantes melhorias nas condições de vida da população brasileira, inclusive da 31 população negra. Contudo, dado os fatores históricos e os constrangimentos raciais que ainda hoje operam no país, as políticas universais têm se revelado insuficientes face ao objetivo de enfrentar a discriminação e desigualdade racial. A presença do racismo, do preconceito e da discriminação racial como práticas sociais, [...] representam um obstáculo à redução daquelas desigualdades, obstáculo este que só poderá ser vencido com a mobilização de esforços de cunho específico. Assim, a implementação de políticas públicas específicas, capazes de dar respostas mais eficientes frente ao grave quadro de desigualdades raciais existente em nossa sociedade, apresenta-se como uma exigência incontornável na construção de um país com maior justiça social (OSÓRIO apud THEODORO, 2008, p.138). Desta feita, se recorrer-se às definições sobre o significado do racismo constatar-se-á o que se segue: a) “Racismo é valorização generalizada e definitiva de diferenças reais e imaginárias, em proveito do acusador em detrimento de sua vítima, a fim de justificar uma agressão” (MEMMI, Alberto apud Encyclopedia Universalis/UNESCO); b) “Sistema que afirma a superioridade racial de um grupo sobre outros, pregando, em particular, o confinamento dos inferiores numa parte do país (segregação racial) [...]”(Dicionário Petit Larousse apud RUFINO, p. 10, 1991); c) “Doutrina que afirma a superioridade de certas raças” (Novo Dicionário - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 1989, p. 1443); d) “Toda teoria que leve a admitir, nos grupos raciais ou étnicos, qualquer superioridade ou inferioridade intrínseca capaz de atribuir a alguns o direito de dominar ou eliminar outros, pretensamente inferiores e que leve a fundamentar julgamentos de valor em alguma diferença racial” (DECLARAÇÃO SOBRE RAÇA E PRECONCEITOS RACIAIS / 1978, adotada na 20ª sessão da Conferência Geral da UNESCO). No ano 1986, com a criação do Setor de Relações do Trabalho, do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, em São Paulo, iniciou-se, embrionariamente, uma discussão acerca do Racismo Institucional entre as(os) membros do grupo juntamente com professores da PUC. Naquele período tentávamos, no Brasil, os primeiros passos de um esboço do conceito que hoje está consagrado como: http://www3.ucdb.br/mestrados/RevistaInteracoes/n6_elias_olveira.pdf 32 O Racismo Institucional é o fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem racial ou étnica. Manifesta-se em normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho resultantes da ignorância, da falta de atenção, do preconceito ou de estereótipos racistas. Em qualquer situação, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições organizadas (CASHMORE, 2000; PNUD, 2011). Outra modalidade de racismo vem sendo difundida, mais precisamente no século XXI, qual seja, o Racismo Ambiental: “racismo ambiental” se refere a qualquer política, prática ou diretiva que afete ou prejudique, de formas diferentes, voluntária ou involuntariamente, a pessoas, grupos ou comunidades por motivos de raça ou cor. Esta ideia se associa com políticas públicas e práticas industriais encaminhadas a favorecer as empresas impondo altos custos às pessoas de cor. As instituições governamentais, jurídicas, econômicas, políticas e militares reforçam o racismo ambiental e influem na utilização local da terra, na aplicação de normas ambientais no estabelecimento de instalações industriais e, de forma particular, os lugares onde moram, trabalham e têm o seu lazer as pessoas de cor (BULLARD, 2005; CASHMORE, 2000). Ao analisar as definições supracitadas poder-se-ia questionar, sem sombra de dúvidas aqueles que em delírio, quase paranoico, ousam verberar contra a reação e organização da população negra imbuída do intuito de combater sua opressão e exploração (socioeconômica e políticocultural). Michael W. Apple, em “Consumindo o outro: branquidade, educação e batatas fritas” assinala, baseando-se no que Antonio Gramsci lembrava, que “a dominação racial, de gênero e de classe é legitimada através da criação do senso comum, por meio do conhecimento” (APPLE, 2002, apud COSTA, p. 39, 2002, grifo nosso). E, ainda se levarmos em consideração que a população afro-brasileira, maioria populacional, contudo, não é representada nos espaços de poder, portanto, não é e nem controla o sistema. http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15560.pdfhttp://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/textos_educativos/etica_e_racismo_ambiental.html 33 “A teoria dos direitos humanos assegura àqueles que são vítimas de uma opressão o direito de liquidar com ela”, neste sentido, nada mais legitimo que a organização das populações negras no combate à sua exploração e opressão. 5.1 Estudos de Casos Uma das confusões geradas pelo desconhecimento do conceito de racismo causa os seguintes pronunciamentos de lideranças negras: a) “Nós não somos racistas, pois pode sair no bloco quem quiser. Existem blocos que não permitem que o branco participe”. João Jorge dos Santos Rodrigues, Presidente do Bloco Afro Olodum,6 no Programa “Clodovil Abre Jogo”, em 1993, na TV - Manchete - Canal 9. b) “O Ilê Aiye7 é o mais antigo e mais importante bloco. Criado em 74, conta com 400 pessoas negras na sua direção. Talvez por isso dizem que somos racistas”. Vovô, Antônio Carlos dos Santos, Presidente do Bloco Afro Ilê Aiye durante a programação do Carnaval de 1993, em entrevista ao Clodovil, na TV Manchete - Canal 9. No primeiro caso, observamos uma preocupação de defesa, pois parecer “racista” é prejudicial, individual e coletivamente, jogando inconsequentemente a pecha aos “Blocos que não permitem que o branco participe”. Quanto ao segundo caso, a fala, reflete uma justificativa através da “formação do bloco”, porém, sem rebater a insinuação do entrevistador. Esses dois pronunciamentos, num meio de comunicação, tão poderoso como a televisão, sem se explicar os fatores históricos causadores/propulsores da formação dos blocos afros, na Bahia, que criaram uma alternativa de lazer para a população negra excluída, também, no carnaval, deixam de contribuir para a 6 O Bloco Afro Olodum, foi criando em 25.04.1979, na cidade Salvador, Bahia. 7 Vovô (Antonio Carlos dos Santos) afirma “na Bahia, nós conseguimos que branco no Ilê Aiyê, só convidado”. Prática X Produção – Uma reflexão sobre os estudos da cultura negra no Brasil hoje. ASESP – Associação dos Sociólogos do Estado de São Paulo, p. 91, 1983. 34 conscientização da sociedade brasileira quanto as mazelas do racismo. Por outro lado, denotam um desconhecimento sobre o que é racismo. Em artigo intitulado “Um Farrakhan tupiniquim8”, na seção Opinião, caderno 1, página 2, da Folha de São Paulo, no dia 15 de novembro de 1995, o articulista Josias de Souza insinua que “Pelé está mais Farrakhan, o líder negro racista, do que para Luther King” devido manifestações, do então ministro dos esportes, sobre a questão da ausência do “voto negro” no negro e seu apoio à Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida. Para melhor entendermos o assunto, apresentamos algumas partes do teor do texto publicado: Yes, nós temos o nosso Louis Farrakhan. A pretexto de adular os organizadores de uma marcha de negros a Brasília, o ministro Pelé produziu ontem algumas das frases mais racistas de que se tem notícia. Ele comentava a ausência de negros no Congresso. Disse: “O negro no Brasil não vota no negro”. Em seguida, deu a entender que o Saara de crioulos9 no Parlamento não é de todo ruim. [...]. O articulista assumiu uma postura de “escrevinhador mequetrefe ao externar a subjetividade de sua ignorância sobre um assunto que domina10”. Insinuar que “Pelé está mais para Farrakhan, o líder negro racista do que Luther King” é ignorar o verdadeiro significado do conceito. Racismo é um sistema que afirma a superioridade de uma raça sobre outra, logo tal rótulo não cabe a Louis Farrakhan11 e muito menos a Pelé, uma vez que nem um nem outro compõe tal sistema. Um e outro estão sim, trabalhando em um princípio de isonomia, para derrubar ‘toda teoria que leve a admitir, nos grupos raciais ou étnicos, qualquer superioridade ou inferioridade intrínseca, capaz de atribuir a alguns o direito de dominar ou eliminar outros pretensamente inferiores’, segundo apregoa a Declaração Sobre Raça e Preconceitos Raciais, adotada na 20ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em 1978. Quanto à realização da ‘Marcha a Brasília’, 8 O direito de resposta foi concedido pelo Ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Leite, e publicado no Painel do Leitor, Caderno 1, página 3, no dia 19 de novembro de 1995. 9 Termo pejorativo utilizado a princípio para designar espanhóis que não pertenciam à corte, particularmente, nascidos nas Américas. Posteriormente, o termo foi repassado aos portugueses e, finalmente, foi impingido aos povos negros, no Brasil. 10 Enunciado parcial do Direito de Resposta. Texto disponível em: http://quexting.di.fc.ul.pt/teste/folha95/FSP.951119.txt - 250k 11 Louis Farrakhan é o atual líder do grupo negro estadunidense Nation of Islam. 35 tem-se o fato concreto da quebra-de-braço encetada pelo movimento negro e outras formas organizativas para reivindicar modificações na situação da população negra e/ou afro-brasileira, base da construção do país, porém alijada e marginalizada dos benefícios socioeconômicos e político-culturais (OGUNBIYI, 2011, p. 25-37). Um outro aspecto interessante neste mar de confusões surge de leituras, onde renomados escritores podem nos induzir a erros de análise, como o que se segue: c) Embora acredite numa unidade final, que juntaria todos os oprimidos no mesmo combate, Sartre pensa que ela deveria ser precedida por um momento de separação ou de negatividade, que seria o racismo anti-racista contido na negritude (MUNANGA, p. 53, 1986). Quando Sartre 12 dizia “racismo anti-racista” subliminarmente estava afirmando a criação de um racismo para se combater outro. Esta assertiva é consciente/ inconscientemente uma excrescência, haja vista que ignora o conceito de racismo. E, ao mesmo tempo, poder ser considerada uma assertiva quase criminosa, pois reproduz um pensamento errado e politicamente incorreto. Racismo é um “sistema que afirma superioridade de uma raça sobre outra”, e na negritude13 está expressa um resgate de identidade/consciência/dignidade suprimidos ao povo negro/africano, desde África até toda a sua Diáspora. 12 Jean-Paul Sartre (1905-1980) filósofo francês, autor do livro Reflexões sobre o Racismo. 13 Em 1936, Aimé Césaire define-a “como uma revolução na linguagem, na literatura que permitia reverter o sentido pejorativo da palavra negro para dele extrair um sentido positivo” (BERND, 1984, p. 14). 36 6 O QUE É DISCRIMINAÇÃO RACIAL? Compilando dados acerca do significado de discriminação racial encontramos na “Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial”, adotada pelo Brasil, em 21/12/1965, o que se segue: Discriminação Racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem étnica, que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano (em igualdade de condições) de direitos humanos e liberdade fundamentais no domínio político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública. Consta da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, conforme a Resolução 2106 (xx) da Assembléia das Nações Unidas, Parte I, Artigo I, Item 4 de 21/12/1965, aprovada pelo Decreto Legislativo nº. 23, de 21/06/1967, o que se segue: Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos, ou de indivíduos que necessitem da aprovação que possa ser necessáriapara proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos (Convenção promulgada pelo Decreto nº 65.810, em 08/12/69 - D.O. 10/12/69, p. 237). Quem controla os meios de produção social como a comunicação, educação, grandes bancos, grandes indústrias, grandes comércios, agricultura, grandes redes prestadoras de serviços, a indústria da habitação, entre outros, detém o poder e tem a possibilidade de distinguir, excluir, restringir e/ou ter preferências. No Brasil, o poder é controlado por uma classe dominante composta por brancos e é quem pode discriminar racialmente o negro. http://www.pge.sp.gov.br/favicon.ico http://www.pge.sp.gov.br/favicon.ico 37 6.1 Estudo de Caso14: Oscar Amaral Neto15, 17 anos, negro, bem despigmentado, adotado por uma família de “brancos” desde seu nascimento, constantemente, era ofendido por adultos e crianças (incitadas pelos pais), inconformados com sua presença num conjunto de prédios residenciais, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo do Campo. O casal que o adotou, ainda nos primeiros dias de vida, não conseguia ter filhos, e não percebeu que Oscar era negro, dada sua despigmentação nos primeiros dias de vida. Contudo, o casal criou-o de maneira igual ao irmão e a irmã que nasceram anos após sua adoção. Os/as discriminadores/as, terroristamente, faziam direta e indiretamente ameaças por telefone e chegaram ao absurdo de enviar carta anônima com letras recortadas de jornais, onde havia os seguintes dizeres: “Mulher branca continua com a fera negra: Não perca tempo para retirada ou vai agora aprender! ou viva tempos de terror. Até”. Neste caso localizamos os elementos basilares da discriminação racial, ou seja: o jovem é distinguido e restringido por sua origem étnico/racial, pois é negro e vive em um espaço “branco”. Antonio Sérgio A. Guimarães (2008) recorrendo a Gordon Allport (1954) diz que a discriminação – sem dar-lhe a conotação étnico-racial – é um “comportamento que procura impedir os membros de um determinado grupo usufruir certos tipos de empregos, área residenciais, direitos políticos, oportunidades educacionais ou recreativas, igrejas, hospitais, ou algum tipo de privilégio social” (GUIMARÃES, 2008, p. 49). 14 Os estudos de Caso apresentados são retratos de fatos vivenciados/presenciados/compilados pelo autor para demonstrar como se dão as relações étnico-raciais, no Brasil, e, tem como objetivo demonstrar como são extemporâneos. 15 Caso registrado através do Boletim de Ocorrência nº. 993/93, no 1º Distrito Policial de São Bernardo do Campo, São Paulo, no dia 10/02/93, apresentado e acompanhado pelo MNU/SBC. Publicado no Diário do Grande ABC nos dias 11 e 12 de Fevereiro de 1993; noticiado na Rádio CBN, no dia 12/02/93 e no Jornal Record / Regional, em 13/02/93. 38 Tais restrições têm como finalidade a anulação do exercício (em igualdade de condições) de direitos humanos e liberdades fundamentais (de habitação e de ir e vir) no domínio social e público. Isto sem aprofundarmos nos direitos previstos no Estatuto da Criança, do Jovem e Adolescente. Outra análise, que cabe ao ocorrido é a ausência de preocupação da mãe e do pai adotivos de André em prepará-lo para “sobreviver” numa sociedade hostil a “negros que não sabem o seu lugar”. Acreditaram que o carinho, as mesmas oportunidades proporcionadas aos demais, o filho e a filha biológicos que tiveram, após a adoção de André, assim com o aconchego familiar bastavam. A dura e cruel lição mostrou que não. 39 7 O QUE É PRECONCEITO RACIAL ? Dentre as definições sobre o que é preconceito racial encontramos as seguintes: Uma atitude negativa adotada por um grupo ou por uma pessoa, em relação a um grupo ou outra pessoa, baseada num processo de comparação social, segundo o qual o grupo de indivíduos julgador é considerado como ponto positivo de referência. James M. Jones Preconceito racial é uma atitude social propagada entre o público por uma classe exploradora com o propósito de estigmatizar algum grupo como inferior, de maneira que a exploração do grupo ou mesmo seus recursos possa justificar. Oliver Cromwell Cox Com base nas conceituações acerca do que é preconceito racial acima visualiza-se que no Brasil o grupo de indivíduos julgador e que se considera e é considerado como ponto positivo de referência é não-negro. E, em outras palavras, é “o branco, como povo, proprietário exclusivo do lugar de referência, a partir do qual o negro será definido e se autodefinirá” (SANTOS, 1983, p. 26). Portanto, as atitudes negativas e sociais adotadas e propagadas entre o público provêm deste grupo ou de pessoas que têm seus interesses aliados a essa classe exploradora - por conseguinte – composta por brancos. 7.1 Estudos de Casos A partir de dísticos tais como: “um branco correndo é atleta, um negro correndo é ladrão”, detectamos o preconceito racial. Passando pelo que ainda existe nos conteúdos dos livros didáticos onde os personagens negros não têm nomes e sim apelidos, caracterizados sempre com lábios carnudos e avermelhados, cabelos crespos e frequentemente em funções/ocupações vistas como “subalternas”, “submissas” etc. - se homens. Ou, com lenços na cabeça, como babá, faxineira ou cozinheira, tendo, além daqueles traços reservados aos homens negros, saliências calipígias e seios 40 proeminentes, para as mulheres negras. Essas imagens são reproduzidas, também, nos meios de comunicação (TV, Cinema, Revistas e Jornais) que procuram mostrar o negro como sinônimo de: “trombadão”, bêbado, indolente e “macumbeiro”, etc. A utilização desses e outros estereótipos estabelecem a “atitude negativa adotada por uma pessoa ou um grupo de indivíduos” que se consideram como ponto positivo de comparação visando inferiorizar-nos para justificar a exploração e opressão. Ilustrando, apresentamos alguns casos: 1) Em 12/01/1989, O Jornal Notícias Populares, em sua página de número 7, registrava, através de uma matéria assinada por Sônia Abrão, o seguinte: Foto. 6 Fonte: do autor “Xuxa chama negro de macaquinho e ameaça levar pito”. “A apresentadora Xuxa pisou feio na bola ao chamar um garoto negro de “macaquinho” e isto irritou profundamente líderes de movimentos contra o racismo em várias cidades do país. Em Brasília, a indignação chegou a tal ponto que a coordenadora do Movimento Negro Unificado - MNU, Jacira da Silva, ameaça processar a “Rainha dos Baixinhos”. 2) O Diário Popular, de 13/10/1992, na página 9, registra, através da coluna do jornalista Mauro Santayana, intitulada “Preto e Branca”, um desagravo à população negra pela infeliz frase de Xuxa que ao ser homenageada por sua terra natal, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, quando afirma que graças a ela “o mundo pode deixar de pensar que o Brasil é um país só de negros e “mulatos”16. Na ocasião o constrangimento foi visível entre os 16 Termo extremamente pejorativo que significa “cruzamento de mula com cavalo ou jumento com égua” que traduzimos em cruzamento de raça superior com raça inferior, logo a origem etimológica da palavra é racista e ofende negras(os) menos pigmentadas(os) conscientes de sua negritude (JESUS, 1993). 41 que se encontravam a seu lado, como Renato Aragão, e mais ainda ao seu companheiro, Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum (1941 - 1994). 3)O jornalista Antônio Stélio, em sua coluna na Gazeta Ilustrada, do Rio Branco, Acre, no dia 23/08/1991, teve, conforme têm inúmeros racistas de plantão, a infeliz idéia de em matéria denominada “Aperto anti-racista - O Preto”, reproduzir frases e dísticos que denotavam e conotavam preconceito racial, como: “Qual a diferença entre o preto e o câncer? - O câncer evolui". O Movimento Negro Unificado – MNU, de Brasília e Movimento dos Direitos Humanos de Rio Branco entraram com um processo contra o jornalista. 4) Na folha de São Paulo, de 17.10.94, Folhateen, caderno 6, página 4, encontramos outra pérola do preconceito racial nos quadrinhos “Los 3 Amigos”- Banco Nacional de Mulheres de Marisales, assinado por Angeli, Laerte, Glauco e Adão. Alguns dos chargistas citados são notórios por suas posições de vanguarda, no período da ditadura militar, contudo, escorregam quando a questão do “humor” deprecia a raça negra. Aqui localizamos a “indignação narcísica” termo cunhado pela doutora em psicologia social Maria Aparecida Silva Bento (2002, p. 29). Este tipo de “humor” é desqualificado, também, pela Resiliência que entende como indicador de humor “a capacidade manifestada por palavras, expressões corporais e faciais, entre outras, que contém elementos incongruentes e hilariantes com efeito tranquilizador e prazeroso para si e os/as outras/os” (OGUNBIYI, 2004, grifo nosso). 42 Foto: 7 Fonte: do autor Na sequência: um dos “3 Amigos”, o primeiro da fila de um caixa automático, digita um botão e, no quadro seguinte, salta sobre suas mãos uma mulher branca e nua; o segundo faz sua operação e mergulha sobre seus braços uma mulher, também branca, também nua. O terceiro faz a mesma operação e cai-lhe sobre os braços um negro, maior do que ele, dizendo a seguinte frase: “Saldo Negativo, bêibe [...]”. No primeiro caso o preconceito racial se caracteriza pela frase “macaquinho” uma das muitas formas de tentar inferiorizar o negro. No segundo caso sobressai à preocupação preconceituosa em relação ao modo da raça negra ser, pois acha que o Brasil é visto lá fora como sendo um país “só de negros [...]”. Isto quando a mídia pensa-se branca para brancos, haja vista que as “paquitas” da tal apresentadora, no período, eram sempre todas brancas (louras ou alouradas). O caso número 3, assim como o número 4, ratificam a pobreza de espírito profissional que permeia o anedotário, as piadas, chiste etc., quer seja nos programas humorísticos de rádio e televisões brasileiras, quer seja na mídia impressa em geral, os quais produzem e reproduzem o discurso viciado “adotado pela grande imprensa” escrita, falada, televisiva etc. que não vêem mal na propagação destas “atitudes negativas entre o público”. Alguns setores reclamam “o direito da liberdade de imprensa” e/ou “direito de expressão” para continuar afetando a dignidade humana. 43 Os estragos psicológicos causados a gerações e gerações de crianças, jovens, adolescentes e adultos negros pela propagação deste tipo de “humor” são incomensuráveis. Por outro lado, não contribui em nada para relações interpessoais sadias, humanizadas e respeitosas entre negras/os e não-negras/os. Entrementes, encontramos a organização de outros segmentos aliados atuando contra tais desmandos. A “Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania” em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, em Brasília, divulgou recentemente a 16ª Lista dos programas de TV que ferem a dignidade humana, nela estavam relacionadas 874 denúncias17. 17 Foram apuradas 874 denúncias dos telespectadores desde outubro do ano de 2008, seja pelo site www.eticanatv.org.br, ou pelo Disque Câmara (0800 619 619). http://www.eticanatv.org.br/ 44 8 PODE O/A NEGRO/A E/OU AFRO-BRASILEIRO/A SER RACISTA? Se ao esmurrarmos uma rocha e, em consequência disto, quebramos a mão, a agressora não será a rocha. Baba Agba É pensamento comum a afirmação de que o negro e/ou afro-brasileiro pode ser racista. E na sociedade brasileira obtemos esse tipo de ideia através da absorção de comentários que formam a opinião da maioria de um grupo, por tradição e emitimos julgamentos superficiais supondo que conhecemos a verdade. Perdoável seria se tal pensamento permeasse uma minoria desinformada, no entanto, ele alcança áreas que envolvem escritores/as famosos/as, historiadores/as, sociólogos/as, antropólogos/as, advogados/as, juristas, jornalistas, sindicalistas etc., o que agrava a questão. Ellis Cashmore (2000), diz que: A reação negra ao racismo [...] assume várias formas; aceitar as categorias raciais e articulá-las de modo imitar [...] o branco é apenas uma delas. Chamar isso de racismo invertido não parece servir às aspirações analíticas. O termo sugere erroneamente que o racismo, nos dias atuais, pode ser estudado por meio da avaliação de crenças, sem a cuidadosa consideração das experiências históricas amplamente diferentes dos grupos envolvidos (CASHMORE, 2000, p. 475). Nas divagações científicas (filosóficas, sociológicas e antropológicas) existentes assim como, em entrevistas, reportagens escritas, radiofônicas e televisivas observamos, constantemente, aberrações quando tocam na definição sobre o racismo causando dúvidas e em consequência gerando interpretações, esdrúxulas, as quais se desviam do seu real significado. Entendemos que estas análises partem sempre do viés étno-eurocêntrico, portanto, por mais avançadas que aparentem carecem da “neutralidade científica” tão propagada. Logo, tendem a não expor tanto os opressores, minimizando-lhes a culpa e, por vezes, jogando-a sobre os ombros dos povos oprimidos quando estes reagem ao ônus de um racismo que o negro não inventou. James M. Lawler, em “Inteligência, Hereditariedade e Racismo”, afirma que: 45 O racismo é com excessiva frequência visto como pura questão de psicologia e de atitudes individuais, ao mesmo tempo que se passa por alto a discriminação na vida real que origina essa psicologia. Quando os negros lutam contra este sistema de exploração especial diz-se que se trata de discriminação ao contrário. Ver as coisas a esta luz é um efeito da visão distorcida causada pelo racismo. O racismo é uma instituição socioeconômica e, ao mesmo tempo, um sistema de idéias que justifica esta instituição e impede as pessoas de ver a sua verdadeira natureza. A ideologia racista, [...] consiste em lançar as culpas para a vítima (LAWLER, p.225, 1981). Como exemplo desta visão distorcida encontramos as ilações de Pierre- André Taguieff, filósofo e cientista político francês do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), um dos mais respeitados da atualidade, que afirma: Nos Estados Unidos, a questão negra está integrada na realidade americana, quer dizer, existe uma tradição organizada de autodefesa do afro-americano e uma ideologia de identidade chamada negritude. O racismo branco se afronta com organizações racistas anti-brancos, que pregam um apartheid (TAGUIEFF, p. 67, 1983). Ora, sabemos de quem parte tais elucubrações e têm em geral um perfil identificável: ou são aqueles(as) “aliados(as)” preocupados em conter a reação dos setores oprimidos; ou daqueles “negros(as)”, que devido a tendência ao alacroismo18 ou não, que tentam justificar, consciente/inconscientemente, seu “rabo preso”; e, ainda daqueles(as) comprometidos(as) com o sistema. Como exemplos mais recentes, encontramos, no Brasil, as(os) intituladas(os) “113 Cidadãos Anti-Racistas Contra as Leis Raciais”. Composto por um grupo de intelectuais, sindicalistas, empresários(as) e ativistas
Compartilhar