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Apontamentos sobre o texto: O que é o iluminismo?- Kant

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O que é o Esclarecimento?
O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. Culpado porque a sua menoridade, e a incapacidade decorrente dela , se dá pela falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a orientação de outra pessoa. ( SAPERE AUDE – Ouse saber). Alguns homens, por preguiça e covardia, permanecem, de boa vontade, menores por toda a vida, o que facilita com que outros se assumam como seus tutores. Esses tutores desempenham funções que deveriam ser minhas, e por isso, não me esforço para pensar. E fixados nessa função, dificultam ainda mais uma saída da minoridade , pois envolvem o imaginário desses indivíduos domesticados com o perigo que os ameaça ao tentarem andar sozinhos. 
É pois, difícil para o homem desprender-se da menoridade quando a torna quase uma parte da sua natureza, tornando-o incapaz de se servir do próprio entendimento, porque nunca se permitiu fazer tal tentativa. Preceitos e fórmulas, instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes, do mau uso dos seus dons naturais são grilhões de uma menoridade perpétua. Muito poucos foram aqueles os que, mediante transformação do seu espírito , saíram da menoridade e iniciaram uma caminhada segura, a maioria, do contrário não estaria habituada a este movimento livre.
Mas a não submissão de um indivíduo à autoridade do pensamento de outrem não significa dizer que esclarecer-se seja uma recusa completa de opiniões alheias, ou mesmo da legitimidade que tem o pensamento alheio. Ou seja, se por um lado esclarecer-se implica a recusa da forma de pensar baseada em argumentos de autoridade, por outro, esclarecer-se não conduz a uma espécie de egoísmo lógico, de relativismo e ceticismo absoluto diante do outro.
Kant se declara desfavorável a uma revolução, pois ela nunca poderá levar a uma verdadeira reforma do modo de pensar. Novos preconceitos, juntamente com os antigos servirão de rédeas à grande massa destituída do pensamento. Nota-se que o esclarecimento não se refere tanto ao que se pensa, ou seja, não está em questão, o conteúdo do livro, os mandamentos morais, os conselhos do pastor, ou mesmo qual a dieta que se deve seguir , mas o modo através do qual se adotam essas crenças.
 Não se trata simplesmente de mudar as crenças, pois nesse caso se estaria simplesmente substituindo preconceitos antigos por alguns novos. Esclarecer-se é a tomada de uma posição, uma postura frente as suas próprias crenças. Antes de aceitar as crenças e opiniões alheias, tenho que fazer o esforço de avalia-las. Nesse sentido, esclarecer-se não é simplesmente saber de algo, estar de posse de uma crença verdadeira justificada, é preciso que essa justificação seja empreendida pelo próprio sujeito e não simplesmente acolhida a partir da autoridade da reflexão de outrem.
 Portanto, esclarecer-se implica uma atitude ativa e crítica por parte do sujeito. Assim, por meio da revolução, o público poderá alcançar a queda do despotismo pessoal e da opressão gananciosa e dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma no modo de pensar, pois os novos preconceitos , juntamente com os antigos, servirão de rédeas para a massa destituída de pensamento.
O uso público da razão é contraposto ao uso privado, sendo que somente o primeiro se apresenta como necessário para fomentar o esclarecimento, ou seja, o uso privado da razão pode ser restringido sem afetar o esclarecimento, seja dos indivíduos, seja da sociedade. O uso público da razão é definido como ‘aquele que qualquer um, enquanto erudito, dela faz perante o grande público do mundo letrado” Já o privado é aquele que ‘alguém pode fazer da sua razão num certo cargo público ou função a ele confiado’. 
Esse uso público da razão deve sempre ser livre, e só ele poderá conduzir ao esclarecimento. A obediência não sufocará o pensamento, pois é permitido que se possa avaliar, de posse de argumentos racionais, toda a realidade, mas isto não quer dizer que essa possibilidade crítica afete, por exemplo, a obediência civil, para que a própria sociedade não entre em colapso. 
Não obstante, um contrato em que excluiria para sempre toda ulterior ilustração do gênero humano, é absolutamente nulo e sem validade, mesmo que fosse confirmado pela autoridade suprema de parlamentos e pelos mais solenes tratados de paz, uma vez que configuraria um atentado contra à própria natureza humana, prejudicando o progresso, e que os vindouros, as gerações futuras, estão legitimadas a recusar essas resoluções incompetentes e criminosas.
Ainda que um homem para a sua pessoa e provisoriamente, pode adiar essa ilustração, mas não renunciar a ela, mesmo que para si, pois isto significa lesar o sagrado direito da humanidade. Mas o que não é lícito para um povo decidir sobre si mesmo (a renúncia á ilustração) , menos o pode ainda um monarca decidir sobre o povo, pois a sua autoridade legislativa reside no fato de que representar na sua vontade, uma vontade unida do seu povo. O monarca não pode, assim, censurar os objetos que possibilitem ao povo uma forma de buscar o esclarecimento, pelo contrário, ele deve é garantir que não se sobreponham autoridades sobre essa busca, nem mesmo a sua, sob o risco de comparar-se a um tirano. Deve-se , portanto, fazer um governo onde dá a cada qual a liberdade de servir-se da própria razão em todos os assuntos da consciência: os homens libertam-se pouco a pouco da brutalidade, quando de nenhum modo se procura intencionalmente nela conservá-los.
Fala, sobretudo, da tutela religiosa, que muitos governantes exercem sobre seus súditos (já que em relação às artes e ciências não há mais este interesse), e que se mostra a mais prejudicial e desonrosa de todas.
É importante perceber que o uso público da razão supõe tacitamente que, num certo contexto, exista uma comunidade de iguais em que os diálogos sejam mediados através da argumentação racional. Se só poderia fazer um uso público da razão aquele indivíduo erudito no assunto em questão, essa restrição não tem intenção de estabelece uma espécie de tecnocracia ou meritocracia sustentada na erudição... mas tende a evitar que o uso público da razão descambe para uma mera exposição de opiniões sem sentido. O uso público da razão precisa considerar tanto os princípios de um debate racional quanto os conhecimentos acumulados e as perspectivas adotadas pela comunidade em questão. – No Conflito das faculdades ele chama isso de conflito ilegal entre faculdades, pois essa ilegalidade é decorrente do apelo de uma das faculdades a argumentos de autoridade ou aos preconceitos e aos sentimentos da massa que ignora o assunto em questão. Nesse sentido, o conflito deixa de ser um debate e se transforma numa disputa ou mera discussão, onde o que importa é impor a sua posição a todo custo, abdicando dos verdadeiros critérios de avaliação, que são a validade e a coerência da argumentação. 
Quando, em A paz perpetua, Kant escreve sobre a publicidade das máximas como critério para se avaliar os procedimentos do direito e da política, ele está pressupondo que a publicidade encontre um âmbito onde ela possa ser ponderada pelo uso público da razão, ou seja, a publicidade só faz sentido se existe um âmbito em que uma determinada comunidade de indivíduos se coloque numa postura de uma comunidade de eruditos, onde o único critério para que se assuma uma determinada posição seja: bons argumentos. Sem apelos a sentimentos.
O uso público da razão é interseção entre o esclarecimento individual e o esclarecimento de uma comunidade, e por conseguinte, de uma época.
 Se o processo de moralização da sociedade fundamentada na razão deve ser visto como o mais nobre do que toda cultura e civilização do homem, acredita-se que o esclarecimento seja o meio mais eficaz e viável para que esse processo ocorra sob uma ideia de humanidade em geral. 
Com a época do iluminismo não se tem ainda esse esclarecimento, mas tem-se apenas claros indícios de que se lhes abre agora um campo em que os homens podem atuar livremente, diminuindo pouco a pouco os obstáculos da ilustraçãogeral, ou a saída da minoridade de que são culpados.
Um grau maior da liberdade civil parece vantajosa para a liberdade do espírito do povo

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